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Design de gestão para o parque botânico do ceará inspirado nos princípios da educação biocêntrica e da permacultura/Management design for the ceará botanical park inspired by the principles of biocentric education and permaculture

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 54267- 54286 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Design de gestão para o parque botânico do ceará inspirado nos princípios da

educação biocêntrica e da permacultura

Management design for the ceará botanical park inspired by the principles

of biocentric education and permaculture

DOI:10.34117/bjdv6n8-006

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:04/ 08/2020

Roberta Moriconi Freire Schardong

Dra. em Ciências Marinhas Tropicais, UFC, Fortaleza - CE E-mail: mfs.roberta@gmail.com

Oriel Herrera Bonilla

Dr. Prof. Associado do CCS/UECE, Campus do Itaperi, Fortaleza - CE E-mail: oriel.herrera@uece.br

José Vagner Rebouças Filho

Mestrando em Ciências Naturais, UECE, Fortaleza - CE E-mail: vagnerreboucas@outlook.com

Hamanda Brandão Pinheiro

Mestranda em Ciências Naturais, UECE, Fortaleza -CE E-mail:hamandapinheiro2@hotmail.com

RESUMO

O Parque Botânico do Ceará é uma Unidade de Conservação do Estado, tendo como objetivos principais a conservação dos recursos naturais do Complexo Vegetacional Litorâneo, fomento a pesquisa e promoção da Educação Ambiental, sendo necessária a elaboração de uma proposta de Design sustentável para a Gestão da Unidade que possa ter continuidade, independente da troca de gestores envolvidos na administração da mesma ou por mudanças políticas. A metodologia para elaboração da proposta contemplou atividades em campo para levantamento das demandas e problemas da Unidade, levantamento bibliográfico dos princípios da Educação Biocêntrica e da Permacultura e experimentação de técnicas estudadas neste curso de especialização para a construção da proposta de Design, que contemplou as cinco zonas propostas em Design Permacultural ligadas a áreas de atuação para o desenvolvimento da gestão, sendo as mesmas: Qualificação Profissional, Educação Ambiental, Pesquisa e Manejo de Recursos Naturais, Qualificação dos Equipamentos e Estruturação Legal. O Design de gestão foi inspirado dentro dos princípios da Educação Biocêntrica e da Permacultura, por respeitarem os processos naturais possibilitando tratar dentro de uma visão holística a questão da sustentabilidade dos recursos naturais, sendo proposta para as Zonas a aplicação de técnicas destas duas áreas de conhecimento.

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ABSTRACT

The Botanical Park of Ceará is a Conservation Unit of the State, having as main objectives the conservation of the natural resources of the Coastal Vegetational Complex, fomenting the research and promotion of the Environmental Education, being necessary the elaboration of a proposal of sustainable Design for the Management of the Unit that can have continuity, independent of the exchange of managers involved in its administration or for political changes. The methodology for elaboration of the proposal contemplated activities in field for survey of the demands and problems of the Unit, bibliographical survey of the principles of the Biocentric Education and of the Permaculture and experimentation of studied techniques in this specialization course for the construction of the Design proposal, that contemplated the five zones proposed in Permacultural Design linked to areas of performance for the development of the management, being the same: Professional Qualification, Environmental Education, Research and Management of Natural Resources, Qualification of the Equipment and Legal Structuring. The Management Design was inspired within the principles of Biocentric Education and Permaculture, because they respect the natural processes allowing to treat within a holistic vision the issue of sustainability of natural resources, being proposed for the Zones the application of techniques in these two areas of knowledge.

Keywords: Permacultural Design, Conservation Units.

1 INTRODUÇÃO

O termo Permacultura foi proposto pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, cinco décadas atrás, sendo definido como um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis (MOLISSON & SLAY, 1991). A Permacultura e a Educação Biocêntrica apresentam convergência quanto à visão holística que permeia a ética em prol da vida. A Educação Biocêntrica está inserida na Tendência Pedagógica Evolucionária, tendo como referência para a construção do conhecimento a relação do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o ambiente (CAVALCANTE, 2007).

Design Permacultural é um método de planejamento, desenho e manutenção de sistemas sustentáveis que integram harmoniosamente os componentes locais (água, terra, paisagem, clima, plantas, animais), os componentes sociais (construções, pessoas, cultura, comércio, finanças), os componentes energéticos (tecnologias, conexões, estruturas, fontes) e os componentes abstratos (tempo, dados, ética) com o intuito de propiciar vida com qualidade em todas as suas formas (MOLISSON & SLAY, 1991). Esses elementos não são considerados isoladamente, pois as conexões entre os mesmos e os princípios da Permacultura é o que determina a elaboração de projetos (MOLISSON & SLAY, 1991).

Os princípios que fundamentam a elaboração de um design de Permacultura são doze: (1) observe e interaja; (2) capte e armazene energia; (3) obtenha rendimento ou produza seus alimentos; (4) pratique a auto regulação e aceite ‘feedback’; (5) use e valorize os serviços e recursos renováveis;

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(6) não produza desperdícios; (7) design partindo de padrões para chegar aos detalhes; (8) integrar ao invés de segregar; (9) use soluções pequenas e lentas; (10) use e valorize a diversidade; (11) use as bordas e valorize os elementos marginais, e; (12) use criativamente e responda as mudanças (MARIGONI, 2008).

Outro fator importante do planejamento em Design Permacultural é o conhecimento de zonas para que os elementos sejam dispostos de forma adequada em cada uma delas (CLAYFIELD & SKYE, 1995). Consideram-se seis zonas, sendo a primeira a zona zero, proposta para o centro da atividade, na qual pode estar uma casa, um galpão ou uma vila, dependendo da escala e características do projeto, e; as outras cinco onde devem ser alocados os outros elementos (CLAYFIELD & SKYE, 1995).

Os elementos alocados para a zona um são os que necessitam de cuidados diários, podendo ser jardins, oficinas, estufas, viveiros de propagação, entre outros (HOLMGREN, 2002). Na zona dois, contemplam-se atividades de frequência intensa e plantios densos (HOLMGREN, 2002). A zona três destina-se a produção de roçado; a quatro é uma zona de transição para a floresta, e; a cinco para a contemplação e recuperação de plantas nativas (HOLMGREN, 2002).

Em unidades de conservação o zoneamento é um método de ordenamento territorial usado para atingir melhores resultados no manejo, pois estabelece usos diferenciados para cada espaço segundo seus objetivos, potencialidades e as características de cada área (FERREIRA et al.). Ao identificar e agrupar esses potenciais são constituídas zonas específicas com normas próprias tornando-se uma ferramenta que contribui para uma maior efetividade na gestão de unidades de conservação (FERREIRA et al., 2004).

Nos dias contemporâneos torna-se necessária a proteção do meio devido às várias atividades humanas. A produção de resíduos, a poluição do ar e a perda de biodiversidade (resultante da introdução de espécies invasoras e da extinção de espécies) são algumas das questões relacionadas com a proteção ambiental (OLIVEIRA; RAMALHO, 2019).

Considerando-se os aspectos e características do Parque Botânico do Ceará, unidade de conservação estadual de proteção integral, e a necessidade de consolidar ações sustentáveis para médio e longo prazo foi elaborado um plano de gestão, apresentado a seguir, pautado nos princípios da Educação Biocêntrica e da Permacultura.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Botânico do Ceará (Figura 1), situado no município de Caucaia, integra uma das 23 Unidades de Conservação criadas e administradas pelo Governo do Estado do Ceará (CEARÁ,

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1996). Caucaia é um dos municípios da Zona Litorânea do Ceará e está localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, sendo banhado pelo Rio Ceará e pelo Cauípe (IPECE, 2017).

Figura 1. Mapa da localização do Parque Botânico do Ceará.

A economia do município é baseada na agricultura e pecuária, com criação de bovinos, suínos e aves (IPECE, 2017). Indústrias estão presentes, mas o turismo está em destaque devido os atrativos naturais e culturais, tais como, as praias do Cumbuco, Icaraí, Pacheco, Iparana, Dois Coqueiros e Tabuba; as lagoas do Banana e da Barra do Cauípe; o Centro de Produção Cultural Tapeba; a Casa de Câmara e a Cadeia com suas arquiteturas peculiares do século XVIII, e; o Parque Botânico do Ceará (IPECE, 2017).

O Parque Botânico do Ceará, criado pelo Decreto nº 24.216/1996, possui 190 ha com espécies representativas do Complexo Vegetacional Litorâneo e está margeado por duas Rodovias Estaduais, a CE 090 e a CE 085, respectivamente, ao Leste e Sul, numa extensão de aproximada de 3,80 km (CEARÁ, 2005). Nas atividades do Parque para o público externo está a visitação com função educativa, de lazer e recreativa (CEARÁ, 2005).

O design Permacultural elaborado para gestão do Parque contemplou três etapas: (1) o levantamento e registro de dados relacionados ao Parque, (2) análise desses dados e (3) elaboração do desenho de gestão. Os dados levantados foram coletados em fontes bibliográficas e em campo.

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A pesquisa da bibliográfica foi em documentos oficiais e artigos. Os dados de campo foram realizados pelo registro do acompanhamento diário das atividades realizadas na unidade de conservação, diagnóstico do estado de conservação das construções, trilhas e infraestrutura em geral e de ocorrências adversas, no período de agosto de 2012 a janeiro de 2013.

As ocorrências dentro e aos arredores do Parque foram numeradas e registradas em GPS de navegação GARMIN, posteriormente, inseridas num mapa através do programa Quantum GIS Browser. Assim como, o local das instalações de infraestrutura predial, trilhas, áreas de lazer e de produção de mudas, viveiros e auditórios foram inseridos no mapa.

As ocorrências observadas e registradas com maior frequência dentro ou ao entorno do Parque foram: descaracterização de vias rodoviárias para passagem de veículos; ocupações irregulares, construções, uso inadequado e práticas de MotoCross em áreas de apicum, mangue e outras; focos de incêndio.

Na etapa de análise de dados foi utilizado os dados do mapa para possibilitar uma visão mais ampla, agregando as informações do conteúdo bibliográfico pesquisado. Dessa forma, na etapa seguinte de definição do zoneamento do Parque e das atividades e ações necessárias para a gestão de cada zona, de acordo com as análises realizadas, foi elaborado o design inspirado nos princípios da Educação Biocêntrica e Permacultura.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Design elaborado para a Gestão do Parque Botânico do Ceará, figura 2, foi representado por três eixos. O primeiro ancora os pressupostos teóricos inspirados na Educação Biocêntrica e na Permacultura, no eixo central, a partir do qual os outros eixos vinculam-se.

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O segundo eixo abarca os componentes locais, sociais, energéticos e abstratos, considerados fundamentais para um bom planejamento em Permacultura. A observação das atividades desenvolvidas no Parque e identificação de problemas, relacionados aos componentes citados, proporciona aprendizagem, servindo de base para o Design Permacultural, a partir dos pressupostos teóricos do primeiro eixo. O terceiro eixo é a estrutura funcional, vinculando teoria e aprendizado das práticas vivenciadas como parâmetros para um planejamento energético eficiente ao distribuir as atividades por zonas, de acordo com a proposta de zoneamento de Mollison (2004) e Morrow (2007). O zoneamento, para o Parque Botânico do Ceará envolveu cinco áreas de atuação para suas atividades: a Qualificação dos Equipamentos, a Qualificação Profissional, a Educação Ambiental, o Manejo dos Recursos Naturais e a Estruturação Legal.

Os três eixos (Figura 2) são articulados entre si pelo vínculo, considerado na Educação Biocêntrica (CAVALCANTE, 2007) essencial para uma atuação eficaz. A consolidação entre os três eixos está em equilíbrio quando são garantidos: a integração dos envolvidos na execução das ações, as mínimas perdas de energia e o maior aproveitamento dos resíduos gerados nas atividades. O eixo central (Figura 2) integra os aspectos físico, emocional, mental e espiritual, possibilitando a interconexão equilibrada entre as pessoas e o meio ambiente, incluindo o Universo. Neste sentido, a Educação Holística está aliada à Educação Biocêntrica (CAVALCANTE, 2007), pois ambas apresentam a proposta de educação para a plenitude. Consideram a saúde do corpo, o equilíbrio emocional e racional fundamentais para despertar e manter os valores humanos, tendo como objetivo juntar o que consideram inseparáveis, a natureza, a sociedade e o ser humano.

Inspirado na Educação Biocêntrica, o aspecto mental corresponde à inteligência e é representado pela cabeça (Figura 2). Liga-se ao aspecto emocional, representado pelo coração (Figura 2). O equilíbrio entre o mental e o emocional possibilita o desenvolvimento da inteligência afetiva através da aprendizagem reflexiva e vivencial. O principal foco da Educação Biocêntrica não é a inteligência, mas a articulação entre a inteligência e o organismo como um todo (CAVALCANTE, 2007). Sendo o corpo, o desejo e o prazer integrados ao todo através da relação amorosa com o outro. Neste aspecto, o ambiente compartilhado, deve ser considerado e cuidado tanto quanto o ser humano e toda a biodiversidade e, assim, as ações humanas não devem prejudicar o ecossistema.

No Design, o aspecto físico está representado pela figura do ser que possibilita a vivência pela ação e interação com a vida através de um processo sustentável. A inserção do aspecto espiritual foi inspirada pela Visão Holística Integrada, em que uma das dimensões intrínsecas da vivência humana é a visão de mundo e a busca da integração do ser com a ciência e a espiritualidade

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(ZORDAN, 2019). Sendo assim, a base do ser holístico, em relação aos aspectos físico e espiritual está calcada num “Processo Sustentável e Evolutivo”, respectivamente, que abrange a visão tanto da Educação Biocêntrica quanto da Permacultura.

A Permacultura, como um sistema de design, propõe a criação de sistemas sustentáveis que suprem necessidades sem poluir, considerados autossuficientes (MOLISSON & SLAY, 1991). Na Educação Biocêntrica, o método reflexivo-vivencial proporciona um pensamento mais complexo que extrapola os processos cerebrais, abarcando aspectos sociais, históricos e ecológicos, alavancando o movimento evolutivo (CAVALCANTE, 2007). A ética de vida, na Educação Biocêntrica, como base teórica referencial, trás condições para o ser humano criar, amar e integrar-se ao ambiente integrar-sem danificá-lo (CAVALCANTE, 2007). Essa integração possibilita que as pessoas vivenciem a importância do cuidado consigo mesmas e com a natureza.

Nessas duas linhas teóricas, da Permacultura e da Educação Biocêntrica, na prática e na vivência encontra-se a busca por um processo sustentável e evolutivo. Consideram que a vida encontra-se em constante movimento e intrinsecamente interligada estabelecendo ricas teias que se interconectam através dos elementos do ambiente, de idéias, de conceitos e de teorias.

Um ponto em comum, que serve de base para as relações humanas, é desenvolver o conhecimento em rede (CAVALVANTE, 2007). Dessa forma, não existe um ponto central, pois cada um é tão importante quanto o outro para sustentar essa rede. Tanto conceitos quanto teorias estão interconectados e devem ser trabalhados de forma vivencial, tendo como referência o respeito à vida. Nesse caso, as pessoas que frequentam o Parque Botânico do Ceará terão oportunidade de vivenciar e perceber essas ideias na prática, pela condução e explicações ao longo da visitação nas trilhas do parque.

Conforme os pressupostos da Permacultura, as interconexões dos elementos de um ambiente devem ser observadas para que cada elemento esteja inserido no local mais adequado (MOLLISSON & SLAY, 1991). Desta forma, a eficiência do sistema torna-se maior quando as necessidades de cada um desses elementos são supridas pelos produtos gerados por outro elemento. Sendo assim, o design para o Parque trás no seu eixo central a sustentabilidade. A partir do uso correto dos recursos do Parque, com técnicas adequadas que propiciam a disponibilização, troca, reciclagem e manutenção dos mesmos, as necessidades locais podem ser supridas. A sustentabilidade é interligada ao aspecto físico. O estudo dos componentes fiscos, de forma reflexiva e vivencial, possibilita a evolução das pessoas e do sistema através do aprimoramento da relação do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o ambiente. Inspirado nestas ideias considera-se que o Parque Botânico um “Ente Holístico”, no qual suas partes devem integrar-se harmoniosamente

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em um sistema possibilitando um ambiente para a interação entre as pessoas e o meio, através de vínculos que fortaleçam a sustentabilidade e evolução.

A interação de todas as partes do sistema, pode ser trazida pelo fortalecimento da identidade local através da memória afetiva, pela metodologia do Princípio da Progressividade proposto pela Educação Biocêntrica (GÓES, 2008). A metodologia contempla cinco etapas que podem ser aplicadas nas comunidades próximas da unidade de conservação promovendo o conhecimento da realidade local e, tendo como objetivos a proposição de projetos que atendam as demandas locais considerando a temática ambiental para o resgate da memória afetiva. Técnicas como a Roda de Quarteto e o Círculo de Cultura promovem a troca e interação entre as pessoas, fortalecimento de vínculos, geração de apoio mútuo, cooperação, integração, convivência afetiva e democrática (GÓES, 2008).

O segundo eixo vincula os componentes do sistema ao eixo principal, servindo de subsídio para a promoção do processo sustentável e evolutivo. A Educação Biocêntrica indica a importância do cultivo das energias organizadoras e conservadoras da vida (CAVALCANTE, 2007). Desta forma, conhecer os componentes locais, os componentes sociais, os componentes energéticos e os componentes abstratos articula ações para o Parque Botânico visando qualidade de vida para os moradores locais, inspirados no planejamento do Design Permacultural (HOLMGREN, 2013).

O Design Permacultural é a integração harmoniosa entre a paisagem e as pessoas quando todos os componentes interagem entre si. A partir desta visão, o conhecimento de cada um destes componentes locais é fundamental para um planejamento que integre, harmoniosamente, os mesmos, de acordo com os princípios da Educação Biocêntrica e da Permacultura. Desta forma, a partir do diagnóstico realizado e o conhecimento reunido acerca do Parque Botânico, no terceiro eixo, foi elaborada uma proposta de zoneamento para a atuação em cinco áreas distintas de forma integrada. A seguir, são apresentadas e discutidas as zonas em tópicos separados para o aprofundamento das propostas de atuação em cada uma delas (Figura 3).

Os critérios para estabelecer a gestão do Parque Botânico por zonas seguem os princípios do Design Permacultural. O que determina um planejamento energético eficiente ou um planejamento econômico eficiente é o posicionamento dos elementos em cada uma das zonas, de acordo com a quantidade ou frequência em que são utilizados e há necessidade de visitá-las (MOLISSON & SLAY, 1991). A definição do zoneamento para o Parque Botânico (Figura 3) seguiu os parâmetros do Guia de Permacultura para Administradores de Parques (SÃO PAULO, 2012). A zona zero é destinada a sede da administração, a zona um para trabalhos diários e intensos; a zona dois, de trabalhos diários de menor intensidade; a zona três, quando a necessidade de visitação é semanal; a

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zona quatro, em que pode ser visitado quinzenalmente, e; a zona cinco, destinado as áreas de preservação (SÃO PAULO, 2012).

A zona zero (Figura 3) no Parque Botânico do Ceará foi posicionada no Centro de Visitantes. É o local em que os visitantes são recepcionados pelos monitores educacionais; serve como ponto de apoio para os profissionais que fazem a vigilância do Parque, e; encontra-se o escritório de gerenciamento da unidade de conservação pelo supervisor de núcleo. Próximo ao Centro de Visitantes, encontra-se a zona um (Figura 3) em que os trabalhos exigem uma rotina diária. Nessa zona os funcionários realizam a manutenção dos equipamentos, produção de mudas, pesquisa e manutenção do viveiro, do horto e dos jardins, os equipamentos locados na zona um são: a praça central, os auditórios, os banheiros, a cantina, o Orquidário, os depósitos para ferramentas e materiais de consumo, o Banco de Sementes, o viveiro de mudas e o horto de plantas medicinais.

Figura 3. Planejamento por Zonas do Parque Botânico do Ceará.

Fonte: adaptado de Google Earth (2019)

A zona dois (Figura 3) contempla a trilha principal e o Espelho d’Água. São ambientes visitados diariamente, mas com intensidade menor. Locais que não são muito frequentados e as visitas são restritas a cada sete dias estão locados na zona três (Figura 3), alocando as trilhas secundárias e o Meliponário. A zona quatro (Figura 3) são áreas visitadas quinzenalmente, próximas ao limite da margem oeste do Parque, que necessitam ser reflorestadas, e os locais que precisam de aceiros. A manutenção da cerca de arame é realizada quando indicada pelos vigilantes que houve corte ou retirada de arame.

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Finalmente, a zona cinco (Figura 3) contempla a Área de Preservação considerada intocável. Fica localizada em sistemas selvagens que precisam ser preservados da presença humana. Esta zona situa-se numa área extensa ao sul do Parque e no setor leste com uma mancha ao sul e outra ao norte do Espelho d’Água. As zonas estabelecidas podem ser redefinidas, de acordo com as necessidades e dinâmica do sistema.

Cada zona apresenta especificidades próprias para a execução das atividades necessárias, sendo indicada para cada uma sua linha principal de atuação (Figura 4). Essas linhas de atuação estão interligadas no fluxograma por setas, pois são dinâmicas e podem ser necessárias em outra zona. Além disso, foram desdobradas em ações mais específicas.

Figura4. Linhas de atuação para a Gestão do Parque Botânico do Ceará (Proposta)

A zona zero é considerada o centro da atividade (MOLLISSON & SLAY, 1991). Na zona zero, está a gerência do Parque, que contempla a estrutura administrativa para a gestão dos recursos humanos, dos recursos naturais e do espaço físico, e; abrangem a dimensão comunitária, municipal, estadual, nacional e internacional. Desta forma, a partir do centro foi estabelecida uma estrutura organizacional voltada para a administração das atividades do quadro de funcionários do Parque. Na figura 5, embora o fluxograma apresente um esquema com distribuição hierarquizada entre as funções, as setas horizontais indicam a abertura para o diálogo entre os diferentes atores envolvidos.

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A estrutura administrativa de gestão foi estruturada de forma objetiva para promover ações no âmbito socioambiental que atendam a sociedade de forma mais ampla; otimizar a produção de mudas para contemplar a demanda a nível estadual, e; buscar a sustentabilidade financeira para subsidiar outros projetos.

As funções estratégicas para os cargos de gestor da unidade (supervisor de núcleo) e dois técnicos administrativos direcionam para uma gestão eficiente com a participação comunitária. Um dos técnicos está voltado para as atividades de estruturação da área administrativa com foco no gerenciamento empresarial dos recursos materiais, dos recursos humanos, marketing da unidade de conservação e desenvolvimento de projetos socioambientais, e; o outro, voltado para a área de manejo florestal e de animais silvestres, expansão de pesquisas e gerenciamento do Banco de Sementes com produção e distribuição de mudas.

Figura 5. Estrutura Organizacional do Parque Botânico do Ceará.

A formação profissional do técnico administrativo direcionado aos recursos humanos e marketing precisa ser em Administração de Empresas, Publicidade e Propaganda e com especialização em Gestão Ambiental para que o mesmo possa usar conhecimentos técnicos e experiência profissional para propor um modelo sustentável para o Parque. Na área de recursos ambientais há necessidade de um profissional formado em Agronomia ou Engenharia Florestal, com pós-graduação em Meio Ambiente para coordenar a parte de pesquisa e produção de mudas nativas, assim como, a ordenação do espaço territorial para a preservação dos recursos naturais.

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O cargo de supervisor de núcleo do Parque Botânico é ocupado por servidor do Estado de provimento em comissão contratado a partir de seleção simplificada. Este profissional deve ter um conhecimento profundo nas questões ambientais e ter uma visão ampla de mundo para poder junto às comunidades criar um espaço de oportunidades para o desenvolvimento socioambiental da região. Além disso, ter conhecimento em ferramentas de georreferenciamento que auxiliem na tomada de decisões.

Os outros funcionários são contratados por empresas terceirizadas que prestam serviço especializado. Quanto à localização, a zona zero apresenta uma estrutura física que precisa ser readequada, substituindo telhas opacas por transparentes para aproveitamento da iluminação natural; melhoramento do sistema de ventilação dos equipamentos fazendo abertura nas paredes; além disso, substituir a fossa do banheiro por um tanque de evapotranspiração – TEvap. Tanque de evapotranspiração (TEvap) é um sistema de tratamento de água negra com as plantas, sendo uma alternativa para substituição dos sistemas de tratamento convencionais (PAULO & BERNARDES, 2009). A decomposição da matéria orgânica é anaeróbica, com a mineralização e absorção dos nutrientes e da água pelas raízes das plantas. Os nutrientes deixam o sistema incorporando-se à biomassa das plantas e a água é eliminada por evapotranspiração. Além das vantagens de usar as águas negras para servir de adubo para as plantas, a água cinza ao ser separada pode ser tratada e reaproveitada em outros sistemas com menor concentração salina. Esse sistema implantado no Parque também serve de modelo educacional.

No centro da zona zero, deve estar exposto o Mapa Geral do Parque, em escala adequada, para facilitar o trabalho dos vigilantes na tomada de decisões e repasse de informações nas trocas de turno; além de servir para definir as ações para combate a incêndios florestais dentro da unidade de conservação. Um telefone fixo deve ficar a disposição nesse ambiente para o agendamento das visitas e atender necessidades de urgência.

A zona um é onde concentra a maioria das construções, portanto está relacionada diretamente a linha de atuação para a Qualificação dos Equipamentos, embora todas as outras linhas estejam inseridas no âmbito de abrangência desta zona.

Um design eficiente de construção deve aproveitar as energias naturais que entram no sistema, tais como, sol, vento e chuva (MOLLISON & SLAY, 1991; LENGEN, 2014). Dependendo do posicionamento da construção e do uso de implementos tecnológicos simples pode ser reduzida a dependência de energias externas. Os implementos tecnológicos simples pode ser exemplificado pela conservação da água com a instalação de tanques nos telhados localizados numa encosta mais acima da construção para permitir o fluxo da água através da gravidade; utilização da água da pia

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para o vaso sanitário; desvio da água da pia e chuveiro para o jardim; sanitários de compostagem (MOLLISON & SLAY, 1991). Outras alternativas é o uso de clarabóias para permitir uso de luminosidade natural; bebedouros com reaproveitamento das águas cinzas; instalações elétricas hidráulicas aparentes com caráter educativo; captação da água da chuva para reaproveitamento em vasos sanitários, lavagens de áreas externas e irrigação de plantas; placas fotovoltaicas e baterias para armazenamento da energia solar; banheiro seco; bicicletário com utilização de materiais recicláveis; aplicação de diferentes técnicas de bioconstrução (Cordwood, garrafas pet, pau-a-pique com garrafas de vidro, adobe, superadobe) (SÃO PAULO, 2012).

O Parque necessita de equipamentos para atender melhor o quadro de profissionais, sendo dois banheiros femininos e dois masculino com chuveiro para uso exclusivo dos funcionários; um local de repouso para os jardineiros; um refeitório e um observatório que pode ser instalado em cima da caixa d’água para monitoramento de focos de incêndio dentro do Parque. Os materiais para as obras, também, é relevante e deve ser coerente com a proposta de uma unidade de conservação, que busca a preservação e sustentabilidade dos recursos naturais (LENGEN, 2014). Esses tipos de construção exemplificados cumprem tanto o papel educativo, expandindo o conhecimento de técnicas da Permacultura em bioconstrução, quanto possibilitam construções que não dependam tanto de fontes externas de energia economizando recursos públicos.

Nesta zona, além de expandir conceitos e técnicas da Permacultura em bioconstrução, é possível contratar as pessoas das comunidades do entorno do Parque para executá-las, promovendo o fortalecimento da economia local. Possibilita a aproximação das comunidades nas atividades da unidade de conservação. Além disso, traz outras possibilidades através de projetos que criem um guia das habilitações profissionais dos moradores da região, sendo o Parque um local de divulgação para oportunidades e troca de serviços.

Outra proposta incluída nesta zona, aproveitando as instalações físicas, é na parte de Qualificação Profissional para oferta de cursos. A qualificação profissional de moradores locais pode incluir questões ambientais e sustentabilidade abrangendo os princípios da Permacultura. Os cursos podem ser realizados em parceria com instituições de ensino, incluindo um módulo com temas voltados ao meio ambiente e a conservação.

Nesses momentos podem ser abertos fóruns para discutir questões de políticas públicas para a qualificação profissional e o modelo de desenvolvimento do Estado. O foco de desenvolvimento do Governo do Estado, embora venha priorizando a criação de unidades de conservação por exigência legal, não tem considerado a visão sistêmica de sustentabilidade e conservação da vegetação natural.

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A zona dois abrange a trilha principal com percurso de, aproximadamente, 1,8 km de extensão e o Espelho d’Água, onde a natureza pode ser contemplada com visitas monitoradas. Nesta Zona há necessidade de Qualificação Profissional, pois são locais em que os visitantes estarão circulando enquanto os profissionais desenvolvem suas tarefas.

As tarefas dos funcionários são atividades de limpeza e manutenção das trilhas com uso de equipamentos cortantes, de guia para os visitantes e dos vigilantes em rondas periódicas. As capacitações continuadas deve prever treino para o uso de ferramentas em locais públicos, relações interpessoais para abordagem e relacionamento com os visitantes, conhecimento de bases teóricas para orientação da visitação guiada.

A preparação dos profissionais para receberem de forma cordial os visitantes, serem interativos e colaborativos com os colegas de trabalho é importante para o bom funcionamento do Parque. A integração da equipe de profissionais é fundamental para que a comunicação seja eficiente e promova eficácia nas ações (MARINGONI, 2008). Quando uma árvore cai e o vigilante que está na ronda sabe a quem precisa avisar, imediatamente, o problema é resolvido e acionado o funcionário certo. Assim como, atividades suspeitas dentro do Parque podem ser observadas por funcionários que não sejam da vigilância, sendo informado aos mesmos para as devidas providências. As capacitações devem proporcionar bons resultados com o mínimo de investimento, sendo necessária a formação de multiplicadores ou pessoas que possam ser monitores (SÃO PAULO, 2012). Ações que corroboram para resultados positivos incluem oficinas facilitadas por especialistas da; bom exemplo do administrador do Parque em relação ao relacionamento com os funcionários e visitantes, ao respeito as regras estabelecidas no local de trabalho e ao zelo pelo ambiente natural; reuniões periódicas com os funcionários para feedback sobre as atividades desenvolvidas; proporcionar aos funcionários visita a outros Parques para trocas de experiência e aprimoramento profissional.

A inteligência racional não deve ser o foco e, sim, o caminho para o desenvolvimento da inteligência afetiva (CAVALCANTE, 2007). O fortalecimento de vínculos propicia uma relação prazerosa dirigida para o ato de conhecer a si mesmo, conhecer o outro e conhecer o universo, para o saber chegar também pelos sentidos e não apenas pelo intelecto (CAVALCANTE, 2007). Desta forma, uma qualificação profissional dos funcionários do Parque deve possibilitar a visão do todo e o envolvimento afetivo para a compreensão de como ocorrem os processos naturais que delinearam a proposta de trabalho para a unidade inspirada nos princípios da Permacultura.

A Qualificação Profissional deve capacitar os profissionais para expandirem seus conhecimentos em Permacultura buscando e aprimorando técnicas mais sustentáveis e inteligentes.

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Além disso, possibilitar para a comunidade necessitada que o Parque Botânico seja um espaço para o desenvolvimento nos aspectos material, mental, emocional e espiritual. As trilhas, que são o espaço de desenvolvimento das atividades da zona dois, seu piso é pontiagudo dificultando a caminhada. Em alguns locais o piso foi cimentado, não permitindo a infiltração da água da chuva, causando a lixiviação das pedras. Dois princípios da Permacultura podem ser aplicados para solucionar a questão, ‘usar soluções pequenas e lentas’ e ‘não produzir desperdícios’ (SÃO PAULO, 2012). O piso pode ser substituído por mulche, gradualmente e avaliando sua eficácia promovendo os devidos ajustes (SÃO PAULO, 2012).

O mulche aplicado no piso das trilhas do Parque Botânico, além de propiciar o uso da matéria orgânica morta que não tem custo, possibilita que a manutenção seja realizada com material disponível no local. As pedras retiradas podem ser aproveitadas nas construções, em barragens para impedir a erosão do solo ou para em diversos tipos de contenções para os jardins.

No Espelho d’Água, também locado na zona dois, podem ser feitos redutos com jardins e pergolados para tornar o local mais convidativo para a contemplação, assim como, introduzir espécies nativas que floresçam em diferentes épocas do mês para manter o local com um visual atrativo.

A zona três, das trilhas secundárias e do Meliponário, em que a circulação de pessoas é semanal, pode ser utilizada para a sensibilização da percepção do ambiente mais profunda. Pode receber um número menor de pessoas para visitação, sendo possível escutar sons da natureza que demanda um silêncio maior e observar pegadas e o movimento de seres vivos que passam por ali. No Meliponário podem ser reativadas as pesquisas de técnicas de criação de abelhas sem ferrão, sendo ensinadas para as comunidades ao entorno do Parque para servir como fonte de renda.

Nesta zona é focada a linha de atuação da Educação Ambiental que engloba a necessidade de trabalhar temas da Permacultura respeitando três princípios éticos: o cuidado com a Terra, o cuidado com as pessoas e o cuidado com a distribuição do excesso de tempo. Além disso, pelo trabalho de Educação Ambiental podem ser apresentadas diferentes técnicas de preservação praticadas nessas áreas.

O contato das crianças com a natureza possibilita o conhecimento de si, dos outros e do meio (CAVALCANTE, 2007). Nas trilhas a comunicação visual entre o ambiente e os visitantes pode ser estimulada (SÃO PAULO, 2012). Além da orientação espacial, as placas e cartazes, podem trazer elementos importantes direcionados à Educação Ambiental e ao conhecimento da Permacultura.

A Educação Ambiental não abrange somente esta zona, pois é uma das linhas de atuação que permeia todas as outras. Os projetos de Educação Ambiental devem ser desenvolvidos por uma

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equipe capacitada que tenha conexão com a linha de atuação para a Qualificação Profissional dos funcionários do Parque. Os funcionários são mediadores para o processo educativo de estudantes, comunidade e visitantes que chegam ao Parque. Cada visitante apresenta uma identidade própria e requer uma maneira de abordagem dos temas de forma específica para que sejam sensibilizados em relação às questões ambientais.

Projetos nesta área podem possibilitar o fortalecimento da identidade social e resgate das raízes culturais das comunidades ao redor da unidade. A vivência do contato com a natureza pode reavivar lembranças de quando pescavam e coletavam frutas; banhavam-se em lagoas que eram limpas; escutavam o canto dos pássaros; sentiam o aroma das flores e o frescor do ar propiciado pela vegetação existente na época. A Educação Ambiental é muito ampla e abre diversas possibilidades, mas deve iniciar com os funcionários do próprio Parque. Não deve ser ofertado apenas capacitações, mas com a proposição de práticas, ecologicamente, corretas dentro do ambiente de trabalho, como a separação, reciclagem e destinação correta do lixo, o reaproveitamento do material biodegradável para compostagem.

Abrangendo a atuação para as comunidades ao entorno do Parque é possível buscar de forma integrada a resolução de problemas comuns, tais como, o lixo despejado em locais impróprios, as queimadas, as construções irregulares, a degradação dos recursos naturais protegidos por Lei, a poluição dos recursos hídricos entre outros que dizem respeito às questões que envolvem Educação Ambiental e a participação comunitária.

As áreas intermediárias entre as outras zonas e as margens da cerca do Parque, necessitam de visitas quinzenais, foram alocadas na Zona 4. Nesta zona concentram-se áreas degradadas por incêndio, erosão e desmatamento, fazendo pressão sobre as áreas de preservação pelo efeito de borda.

Desta forma, a linha de atuação mais urgente para esta zona é o Manejo dos Recursos Naturais que inclui a Pesquisa, sendo necessário firmar parcerias com universidades e instituições de ensino e pesquisa. Algumas pesquisas foram realizadas, mas não foram encontradas. Faz-se necessário a sistematização dessas informações criando uma biblioteca para armazenar de forma adequada, tanto os materiais de produção científica do Parque, quanto materiais que já existem e precisam ser devidamente catalogados. As pesquisas podem fornecer subsídio teórico-prático para a elaboração de plano de reflorestamento das áreas situadas na zona quatro, que precisam de cuidado urgente para que a degradação não avance sobre os fragmentos das áreas preservadas na zona cinco. O reflorestamento pode ser feito a partir de técnicas conhecidas na Permacultura, como as bolas de

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sementes que facilitam a implantação de Sistemas Agroflorestais – SAFs em grandes áreas (REGALLO, 2009).

Unidades de conservação, por serem protegidas por Lei, podem conservar plantas matrizes para a coleta de sementes que forneçam a matéria prima para o Banco de Sementes do Parque Botânico, possibilitando estudos mais aprofundados de cada bioma do Estado e a produção de espécies para cada um deles. O Banco de Sementes do Parque pode servir para alavancar as pesquisas de germinação de sementes, aumentar a produção e distribuição de mudas e possibilitar o reflorestamento de áreas degradadas em unidades de conservação do Ceará e em outras áreas.

No manejo de áreas florestais, o potencial e função de cada planta deve ser valorizada em relação a técnica de intervenção, privilegiando conjuntos ecológicos compostos por plantas rasteiras, arbustos, trepadeiras/lianas e árvores que possibilitam a recuperação e a sustentabilidade de áreas verdes (SÃO PAULO, 2012). Algumas dessas técnicas são: os jardins de chuva que fazem a biorretenção da água da chuva; os biofiltros que removem impurezas do ar ou da água; os círculos de bananeiras que cumprem as funções de tratamento das águas cinzas locais, de compostagem de resíduos orgânicos e de produção de alimentos para a avifauna, e; as valas de infiltração para armazenamento de a água sobre o solo.

A cobertura do solo, nessa zona, é necessária para a manutenção da retenção de água. O uso de galhos secos cortados em pequenos pedaços e colocados em contato com o solo facilitar a decomposição e serve de adubo natural. Quando esses galhos secos não são manejados e incorporados ao solo são fonte de propagação para incêndios florestais. A zona cinco na área de preservação é intocável, podendo ser permitido o desenvolvimento de pesquisas dependendo do grau de interferência e da contribuição que poderão trazer para a preservação da área. A linha de atuação para essa zona é a Estruturação Legal, pois abrange questões previstas na legislação ambiental. Uma das premissas da Lei é a constituição do Conselho Gestor e a publicação do Plano de Manejo que ainda não foram atendidos. O atendimento dessas exigências legais é imprescindível para garantir o destino correto e a preservação da unidade.

As demandas para estruturação legal serão fortalecidas pela constituição legal de um Conselho Gestor que seja atuante. Os diversos atores envolvidos, cientistas, governos e comunidades, tem concentrado a atenção no desenvolvimento de políticas participativas na gestão ambiental para enfrentar a crise da perda da biodiversidade (JOHNSON et al., 2007). A Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica reconhece a importância de envolver as comunidades locais na formulação e implementação de ações para conservação; bem como, a

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necessidade de educação e conscientização tendo em vista o uso sustentável e a gestão dos recursos naturais.

Nesse âmbito, faz-se necessário considerar que, a legalização da Unidade perante o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC e o SEUC, respalda a exigência do cumprimento da legislação ambiental para a conservação da biodiversidade que depende da presença contínua do Poder Executivo com ações diretas de fiscalização e também em ações de defesa jurídica e institucional junto ao Poder Judiciário. A elaboração e publicação do Plano de Manejo garante uma ação mais efetiva para fiscalização de obras de impacto na Zona de Amortecimento do Parque. Os estudos que irão indicar o zoneamento mais adequado para o Parque no Plano de Manejo poderão adotar esse Design Permacultural, integrando harmoniosamente os componentes locais de acordo com a proposta da figura 3.

Além do Conselho Gestor e do Plano de Manejo, que precisam ser definidos e publicados, e da adequação da categoria como Parque, existe controvérsia em relação a poligonal do Parque. A área e o perímetro descritos no Decreto de criação do Parque Botânico não correspondem a delimitação atual da cerca, sendo necessário estudo para a revisão e regularização da área. A poligonal deve ser revista também no sentido de ampliar a área do Parque, visto que é um fragmento de área verde.

Os fenômenos e processos biológicos são alterados quando ocorre fragmentação do ecossistema, havendo perda da diversidade e consequente perda de grupos funcionais promovendo a chamada “Síndrome da floresta vazia” (RAMBALDI & OLIVEIRA, 2003; STOKSTAD, 2014; DIRZO et al., 2014). Pode haver aumento da perda de espécies com a simplificação, a longo prazo, dos sistemas ecológicos. Além disso, as populações de plantas e animais em fragmentos isolados têm menores taxas de migração e dispersão, sofrendo problemas de troca gênica e declínio populacional com o tempo.

4 CONCLUSÃO

Com este trabalho conclui-se que:

• Para garantir uma adequada implantação deste Desing Permacultural os gestores e os funcionários do Parque precisam atender as demandas relacionadas aos pressupostos da Educação Biocêntrica e os princípios e metodologias da Permacultura.

• É necessário o zoneamento do Parque em cinco zonas considerando a frequência e intensidade de usos para execução de manejo e da gestão permacultural.

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• Formar educadores ambientais com conhecimento dos princípios da Permacultura e da Educação biocêntrica.

• Reformular o Plano de Manejo do Parque para que se ajuste aos princípios da Permacultura.

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Figura 1. Mapa da localização do Parque Botânico do Ceará.
Figura 2. Design de Gestão do Parque Botânico do Ceará.
Figura 3. Planejamento por Zonas do Parque Botânico do Ceará.
Figura 5. Estrutura Organizacional do Parque Botânico do Ceará.

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