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Educação Estatística com formação cidadã em uma pesquisa quanti-ação no Ensino Superior

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Academic year: 2020

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114 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019

EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA COM FORMAÇÃO CIDADÃ EM UMA

PESQUISA QUANTI-AÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

EDUCATION STATISTICS WITH CITIZEN TRAINING IN QUANTI-ACTION RESEARCH IN HIGHER EDUCATION

Maria Tereza Serrano Barbosa

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, tserranobarbosa@gmail.com

Steven Dutt-Ross

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, Steven.ross@uniriotec.br

Bruno Teixeira Simões

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, Bruno.simoes@uniriotec.br

Luciane de Souza Velasque

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, luciane.velasque@uniriotec.br

Alexandre Sousa Silva

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, alexandre.silva@uniriotec.br

Maria Beatriz Mendes Assunção

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Matemática, beatriz.assunção@uniriotec.br

Malvina Tania Tuttman

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Escola de Educação malvina.tuttman@gmail.com

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115 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 Resumo

Este artigo visa contribuir com as reflexões a respeito do papel da Educação Estatística no Ensino Superior, a partir da proposição de uma metodologia utilizada em diversas disciplinas da Estatística em uma Universidade Pública. A metodologia descrita inclui a coleta e análise de dados nos ciclos investigativos de uma Pesquisa-ação, denominada aqui de Pesquisa-quanti-ação. Os resultados obtidos são referentes a duas edições, com intervalo de dois anos, de uma pesquisa realizada pelos estudantes das disciplinas de Estatística. Nas duas edições a pesquisa teve como objetivo medir o impacto da Lei de Cotas, o que proporcionou discussão a respeito do papel que esta área de conhecimento, transversal a quase todos os cursos, pode vir a ter na formação cidadã. A manipulação de dados, a partir de um tema da sua realidade, favoreceu a motivação e a aprendizagem, mesmo que informal, de conceitos de inferência e modelagem estatística, e ainda propiciou instigantes discussões e questionamentos a respeito da realidade social descrita pelos dados. Nesta proposta, aponta-se um caminho metodológico promissor para ampliar o potencial das disciplinas de Estatística, ministradas em quase todos os cursos de graduação, favorecendo a formação de cidadãos mais críticos e conscientes.

Palavras-chave: Educação Estatística, Pesquisa-Ação, Lei de Cotas, Formação Superior.

Abstract

This article aims to contribute to the reflections on the role of Statistical Education in Higher Education, based on the proposition of a methodology used in various disciplines of Statistics in a Public University. The described methodology includes the collection and analysis of data in the investigative cycles of an Action Research, here called Quantitative Research. The results obtained refer to two editions, with an interval of two years, of a research carried out by the students of the Statistics disciplines. In both editions, the research aimed to measure the impact of the Law of Quotas, which provided discussion about the role that this area of knowledge, transverse to almost all courses, may have in citizen education. The manipulation of data, based on a theme of its reality, favored the motivation and learning, even informal, of concepts of inference and statistical modeling, as well as provoked instigating discussions and questions about the social reality described by the data. This proposal points to a promising methodological way to expand the potential of the Statistics disciplines, taught in almost all undergraduate courses, favoring the formation of more critical and conscious citizens.

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116 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 Introdução

A pesquisa em Educação Estatística no Ensino Superior tem gerado um conjunto de reflexões, recomendações e experiências metodológicas no mundo e no Brasil. As reflexões apontam para que novas metodologias favoreçam a aprendizagem de Estatística voltada principalmente para a sua aplicação e para a interdisciplinaridade. As recomendações abrangem também a necessidade da formação do Educador Estatístico para os cursos de graduação de diferentes áreas de conhecimento (GAL, 2002; ASA, 2009; BARBOSA et al., 2015). Ao lado disso, dentre os desafios que têm sido apontados para a Educação no século XXI e, mais particularmente, para a Universidade, destaca-se a necessidade de mudanças nos atos de ensinar e aprender, que devem ser predominantemente ativos (LEITE e RAMOS, 2012; COLOSSI et al, 2001).

Acreditando nessa forma emancipatória de pensar e fazer educação, docentes da área da Estatística de uma Universidade Federal identificaram em suas práticas cotidianas pelo menos três constatações comuns:

i) mesmo os estudantes que apresentavam melhores desempenhos, e que concluíam a disciplina, demonstravam dificuldades de produzir ou interpretar resultados de pesquisas com dados quantitativos, relativos a situações na vida cotidiana, profissional ou acadêmica;

ii) a aprendizagem de Estatística nos Cursos de Graduação pode e deve ampliar o seu papel para além da mera transmissão de conteúdos, contribuindo de forma significativa para uma formação profissional colaborativa e eminentemente cidadã;

iii) os estudantes e os professores precisavam inovar o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais significativo.

Essas constatações, realizadas em 2012, originaram uma nova abordagem pedagógica nas disciplinas de Estatística, geradora de duas questões:

1 - Qual a pertinência, em prol de uma pedagogia ativa e colaborativa, da elaboração de uma pesquisa empírica que facilite a resolução de problemas reais e permita contribuir com a formação cidadã dos estudantes?

2 - Como fazer um desenho de pesquisa que siga ao máximo as etapas de uma pesquisa quantitativa e, ao mesmo tempo, permita que os estudantes assumam o protagonismo e a participação ativa em todas as etapas da sua execução?

Apesar destas questões estarem entrelaçadas, serem complementares e representarem grande parte dos desafios, elas esbarram também na formação prevalente dos Estatísticos, que se caracteriza, principalmente, por uma visão positivista.

Assim, o grupo de professores, utilizando os resultados e reflexões da área da Educação Estatística (GAL, 2002) e apoiados também em pressupostos das obras de Paulo Freire, onde ensinar não é transferir ou estender conhecimento, mas possibilitar que estes sejam construídos dialogicamente, iniciaram uma nova proposição metodológica. Consideraram que, além de transmitir os conceitos necessários para que os estudantes entendessem, executassem e analisassem as etapas de um estudo quantitativo, buscariam estimular o seu pensamento crítico, sua autonomia e formação cidadã, tornando-os atores principais no seu processo de aprendizagem.

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Os professores colaboradores tornam-se parceiros em publicações científicas; aos olhos dos alunos a Estatística torna-se mais interessante, uma vez que estes conseguem visualizar a importância e utilidade deste conhecimento na carreira escolhida; os estudantes tornam-se mais preparados para aplicar os conceitos estatísticos no mundo real; conseguem enxergar conexões e aplicações de estatística nas demais matérias do curso; existe a possibilidade dos alunos irem além do conteúdo inicialmente determinado pela disciplina; os professores compartilham constantemente suas percepções e atividades; permite que os alunos vejam os resultados alcançados pelos demais colegas (SILVA et al., 2015, p. 3).

Ao afastarem-se da aula convencional, onde existe uma distância entre professor e aluno, e passarem a propor a realização, com orientação, de uma pesquisa quantitativa, os professores e estudantes vivenciaram uma quebra de paradigmas tradicionalmente estipulados. Este processo, além de propiciar maior grau de protagonismo aos estudantes, ao estabelecerem uma relação mais horizontal com o professor, permitiu que os docentes também se modificassem na direção das importantes reflexões de Colossi et al (2001), que apontam para a necessidade de que professores e alunos em um ambiente colaborativo interajam, atuem e adequem as disciplinas às necessidades do ambiente.

Ao lado das reflexões relacionadas à Educação Estatística e às práticas didáticas inovadoras e críticas, o grupo de docentes passou também a refletir a respeito de o quanto a metodologia utilizada pode contribuir para uma formação mais crítica dos estudantes e para a própria formação continuada em serviço dos professores, imprescindível para uma educação transformadora, em oposição à educação mantenedora.

É necessário romper as resistências que ainda impedem as Universidades de avançar no real entendimento e significado do conhecimento, de que ciência e cidadania não se opõem. É urgente, portanto, que sejam criadas formas estruturais mais flexíveis, que possibilitem o desenvolvimento de práticas integradoras das áreas do saber, de pessoas, de instituições (TUTTMAN, 2004, p 201).

Cotejando esse pensamento com a experiência metodológica que faz parte do presente estudo, verificamos que ciência e cidadania realmente não se opõem quando priorizamos o desenvolvimento da criatividade, do estímulo ao trabalho em parceria, da aplicação dos conhecimentos e do objetivo de formação de profissionais mais críticos. Isto vem ao encontro também das reflexões de estudiosos do campo do cotidiano escolar e da complexidade, como Morin (1999) e Santos (2004). Segundo estas visões, a Universidade precisa ser um ambiente onde seus estudantes e docentes tenham a oportunidade de vivenciar discussões e práticas interdisciplinares que permitam a todos participar e colaborar com ações que rompam com a fragmentação e o isolamento. Essa nova forma de agir dos professores vem permitindo que cada um dos estudantes se engaje em projetos que, além de favorecer uma formação individual sólida, lhes possibilite conhecer um pouco mais a respeito da realidade brasileira.

Entre várias, uma questão se destaca: o quanto esta metodologia nos aproxima dos autores que refletem e definem uma Pesquisa-ação? Thiollent, 2011 reflete o quanto o saber científico pode se enriquecer a partir desta metodologia, quando os pesquisadores não limitam suas investigações apenas aos aspectos acadêmicos.

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118 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 A metodologia aqui descrita incorporou o conceito de execução participativa dos estudantes e também conseguiu promover uma nova convivência e partilha dos saberes entre os professores e estudantes. Além disso, propõe a realização de uma pesquisa quantitativa, a ser desenvolvida durante a realização de um componente curricular (um semestre). Diante das suas particularidades, decidiu-se por denominá-la de Pesquisa-quanti-ação.

Pretende-se, com esta denominação, ressaltar que ela se aproxima muito da pesquisa-ação, ao estimular o processo de modificação dos sujeitos e de sua realidade, por meio da discussão de um tema. Porém, é uma abordagem diferente por obrigatoriamente envolver coleta de dados, análise estatística e disseminação de informações.

Assim, a pesquisa aqui denominada de quanti-ação, realizada no âmbito das disciplinas da área de Estatística, permitiu que conjugássemos nossas experiências e conhecimentos, na aplicação e no ensino da Estatística, às teorias a respeito de pedagogias ativas e metodologias de aprendizagem. Os estudantes atuaram como pesquisadores e pesquisados, interagindo na escolha do tema, na formulação do questionário, na coleta e análise dos dados e, principalmente, na discussão e apresentação dos resultados.

O enquadramento em uma nova categoria de pesquisa reflete a crença de que a utilização de um conjunto de dados produzidos em um semestre e repetidamente revisitados pelos estudantes dos semestres posteriores pode permitir a modificação dos atores contribuindo, inclusive, para a proposição de novas ações.

Aqui será enfatizado o processo de construção da Pesquisa-quanti-ação, definindo suas características e o seu ciclo. Ressaltamos que, ao iniciar o experimento de implantação desta nova metodologia, no segundo semestre de 2012, as universidades, e também a sociedade brasileira, estavam debatendo a respeito da pertinência e justiça da Lei de Cotas promulgada em junho. A lei brasileira nº 12.711 foi sancionada em agosto de 2012 e garantiu reserva de 50% das vagas, por curso e turno, nas 59 universidades federais e 38 institutos federais, para estudantes de escolas públicas com renda per capita menor que um salário mínimo e meio e com a proporção de pretos, pardos e indígenas igual à existente no estado. Assim, a Pesquisa-quanti-ação relatada tem como pano de fundo os resultados produzidos em dois momentos do tempo (2012 e 2015) pelas pesquisas desenvolvidas durante as disciplinas de Estatística, cuja pergunta geradora já incluía a previsão da sua repetição: “Como medir o impacto que a Lei de Cotas virá a ter na mudança do perfil dos estudantes?”

Para melhor entendimento da metodologia utilizada, apresentamos seus principais aspectos.

Características da Pesquisa-quanti-ação

Para descrever a metodologia (Figura 1) é importante ressaltar que ela se apropria dos conceitos da pesquisa-ação de autores como Vergara (2005), Thiollent (2011) e Tripp (2005), quando:

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119 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019  afastou-se da pesquisa tradicional e permitiu não só reduzir a fronteira entre o pesquisador e o pesquisado, como também incentivou a participação de todos os envolvidos na pesquisa;

 permitiu explorar e estimular o processo de aprendizagem dos estudantes por meio de intensa discussão e comunicação dos resultados;

 incentivou discussões em salas de aula em todos os semestres a respeito da Lei de Cotas com a intenção de ampliar o grau de conhecimento e capacidade de argumentação dos estudantes;

 permitiu trabalhar com ações transversais e temas de interesse nacional, a partir de pesquisas quantitativas e análise estatística

Figura 1 - Etapas da pesquisa quanti-ação

Ciclo de investigação-quanti-ação

Reconhecimento do tema - No segundo semestre de 2012, em um momento em que as Universidades, a imprensa e a sociedade estavam se informando a respeito da Lei de Cotas, decidiu-se por propor em sala de aula a questão “Como medir o impacto que a adoção da Lei de Cotas virá a ter na mudança do perfil dos estudantes?”

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120 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019  Definição dos participantes – Estudantes da graduação dos cursos de Engenharia de Produção, Sistemas de Informação, Biblioteconomia, Pedagogia, Enfermagem, Nutrição, Ciências Biológicas e Biomedicina.

Atividades preparatórias - A partir da leitura de artigos científicos e notícias de jornais foram realizadas em sala de aula dinâmicas de discussões com formatos livres e/ou júris simulados a respeito do tema.

Primeiros passos da ação - Cada turma, nos diferentes cursos, constituiu grupos de 3 a 5 estudantes para elaborar propostas de questões que iriam compor o módulo comum relacionado a este tema.

Integração entre os participantes - Os docentes consolidaram uma proposta única deste módulo geral, mas cada grupo, em cada curso, formulou outros objetivos específicos e assim, os cursos tinham um questionário comum e objetos específicos diferentes para analisar.

Implementação da coleta de dados - A responsabilidade pela aplicação dos questionários em cada período do curso foi dividida entre os grupos da turma que foram instruídos a coletar o máximo de respostas constituindo uma amostra por conveniência.

Constituição do banco de dados – A consolidação das informações foi realizada por representantes dos grupos, em conjunto com o docente da disciplina.

Finalização do primeiro ciclo - No final do semestre, os estudantes de todos os cursos apresentaram os resultados no auditório.

Discussão dos resultados a cada semestre - Foi constituído um banco de dados a partir de 2013 e até 2015, e os estudantes realizaram atividades em cada semestre com estes dados. Isso propiciou que os alunos de Estatística, de muitos cursos, durante seis semestres, entrassem em contato com o tema da Lei de Cotas e discutissem, analisassem e interpretassem os resultados obtidos.

Reapresentação do tema aos novos participantes - No segundo semestre de 2015, considerou-se que estava no momento de fazer uma repetição da pesquisa, buscando agora sim, responder à pergunta formulada em 2012. Houve a aplicação do módulo comum do questionário e também dos módulos específicos propostos em cada curso.

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121 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 A Figura 2 apresenta um resumo do Ciclo de investigação-quanti-ação.

Figura 2 - Ciclo de investigação-quanti-ação

Resultados

Para avaliar a metodologia de pesquisa-quanti-ação, aqui descrita, é necessário não perder de vista os resultados que foram obtidos durante o processo de mudança, e que nos permitiram modificar ou complementar os ciclos anteriormente descritos.

Percebe-se que, aos olhos dos estudantes, a Estatística tornou-se mais interessante, uma vez que eles conseguem visualizar a importância e utilidade deste conhecimento na carreira escolhida. Estas modificações, quanto à satisfação e à autonomia, são retratadas em alguns depoimentos aqui descritos (Quadro 1), enquanto que as reflexões sobre a aprendizagem dos conteúdos conjugados à demonstração de uma maior consciência a respeito das vantagens ou razões da implementação da Lei de Cotas, são ilustradas por trechos de relatórios dos trabalhos realizados (Quadro 2).

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122 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 Quadro 1- Depoimentos de estudantes a respeito da metodologia

Quadro 2- Textos dos estudantes nos relatórios e trabalhos apresentados

CONCLUSÃO

A metodologia relatada se insere no que Campos (2011) denominou de Educação Crítica e reforça a contribuição que as disciplinas de Estatística podem vir a dar para as mudanças necessárias às universidades brasileiras. Isto porque além das práticas

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123 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 pedagógicas favorecerem a interdisciplinaridade, elas também propõem a realização e monitoramento de pesquisas que estimulam o debate e a tomada de posição dos estudantes em relação às temáticas com importância social.

Essas reflexões vão ao encontro do que diz Santos (2004) quando ressalta o caráter elitista das universidades que cultivam uma distância dos diversos setores sociais da sociedade, bem como dos seus problemas. Segundo este autor, é através da pesquisa-ação que será possível uma reorientação solidária da relação Universidade e Sociedade. Estas reflexões reforçam também às realizadas por Jain e Dwiedi (2014) sobre a efetividade da aprendizagem ativa em cursos de graduação que identificam o engajamento dos alunos na sua aprendizagem e o trabalho colaborativo como fatores responsáveis pelo sucesso dos mais diversos métodos ativos quando contrapostos ao ensino tradicional. Vertuan e Silva (2018) evidenciaram também a necessidade das mudanças de paradigmas, durante a realização de uma atividade que exija o pensamento estatístico, propiciando a liberdade dos alunos e docentes de pensarem e aprenderem juntos.

Ao participarem do processo investigativo completo com um tema da sua realidade social, os estudantes tiveram a possibilidade de desenvolver habilidades de executar as mais diversas análises estatísticas. Isto vem ao encontro do ressaltado por Engel (2017), ao reforçar a importância, para uma cidadania esclarecida, das competências de gerenciar, analisar e pensar criticamente sobre os dados. Escolher, por exemplo, a recém promulgada Lei de Cotas como tema único para ser utilizado em vários cursos, permitiu levar para a sala de aula uma proposta de pesquisa que, por se tratar, na época, de um tema ainda polêmico na sociedade, exigiu muitas discussões a partir de leitura de textos e júris simulados que geraram debates. Assim, os conteúdos das disciplinas, ao contrário do que é usual, puderam ser abordados a partir da motivação destas discussões. Esta escolha, além de propiciar uma aprendizagem significativa da Estatística, permitiu que o tema Lei de Cotas fosse revisitado em vários semestres a partir de atividades realizadas com os dados produzidos na primeira pesquisa. Assim, o ciclo de investigação envolveu grupos de estudantes distintos, com diversos níveis de participação:

i) os que participaram das discussões em 2012, formularam o questionário, fizeram as aplicações dos mesmos e elaboraram um relatório;

ii) os que responderam aos mesmos e portanto, foram expostos ao tema ; iii) os matriculados em outros semestres e que tiveram acesso ao questionário,

base de dados e fizeram suas próprias análises;

iv) os matriculados em 2015, que estavam motivados a medir o impacto da Lei de Cotas e, a partir de uma nova coleta, elaboraram um novo relatório de análise.

Foi gratificante vivenciar entre os estudantes, uma convivência mais democrática e respeitosa e uma maior aceitação da Lei, como uma medida compensatória à desigualdade de oportunidades. Uma metodologia semelhante foi utilizada por Hollas e Bernardi (2018) que ressaltaram a importância da utilização de temas geradores que partam da realidade do estudante. Consideramos que a continuidade do ciclo de investigação com outros temas de interesse da sociedade, permitirá o aprimoramento e maior desenvolvimento metodológico da Pesquisa-quanti-ação, mas o caminho parece

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124 REnCiMa, v. 10, n.6, p. 114-125, 2019 promissor para ampliar o potencial das disciplinas de Estatística na contribuição da formação crítica cidadã dos estudantes.

REFERÊNCIAS

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Figura 1 - Etapas da pesquisa quanti-ação
Figura 2 - Ciclo de investigação-quanti-ação

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