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O Museu Nacional Grão Vasco e o Centro Histórico de Viseu

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Academic year: 2021

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O Museu Nacional Grão Vasco

e o Centro Histórico de Viseu:

um roteiro para o

Desenvolvimento Sustentável

(Workshop criativo experimental para o Serviço Educativo do MNGV)

José Manuel Gorgulho Mateus

2017

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O Museu Nacional Grão Vasco

e o Centro Histórico de Viseu:

um roteiro para o

Desenvolvimento Sustentável

(Workshop criativo experimental para o Serviço Educativo do MNGV)

Dissertação submetida à Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar

do Instituto Politécnico de Leiria em cumprimento parcial dos requisitos

para obtenção do Grau de Mestre em Gestão de Turismo Sustentável

Dissertação conduzida sob a supervisão das

Professoras Inês Brasão e Ana Luísa Pires

José Manuel Gorgulho Mateus

2017

(3)

“Pénétration réciproque de l’âme et des choses!

Nous entrons en elles, tandis qu’elles pénétrent en nous.

Les villes surtout ont ainsi une personnalité, un esprit autonome, un caractère

presque extériorisé qui correspond à la joie, à l’amour nouveau, au renoncement, au veuvage.

Toute cité est un état d’âme, et d’y séjouner à peine, cet état d´âme se communique,

se propage à nous en un fluide qui s’inocule et qu’on incorpore avec la nuance de l’air.”

(Rodenbach 71, Bruges-la-morte) Citado por Graça P. Corrêa “Urban Scenarios: Gone Vacant, Virtual and Violent” once upon a place Architecture & Fiction (pug. 141) Editors: Pedro Gadanho + Susana Oliveira Caleidoscópio, 2013

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I

PREÂMBULO

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AGRADECIMENTOS

Às Professoras Inês Brasão e Ana Luísa Oliveira, pelo apoio e disponibilidade no decurso da supervisão desta dissertação.

Ao Professor João Paulo Jorge, responsável deste Mestrado em “Sustainable Tourism Management”, pelo apoio demonstrado em diversas fases do meu percurso académico na ESTM.

Ao Museu Nacional Grão Vasco, que apoiou este projeto desde o seu início, primeiro através do Dr. Agostinho Ribeiro, antigo diretor do museu que desde logo aceitou esta colaboração, e depois através da Dra. Paula Cardoso, a nova diretora do museu que manteve o apoio inicial.

À Professora Teresa Eça, da Escola Secundária Alves Martins e aos Professores Nuno Marques e Vitor Santos, da Escola Profissional Mariana Seixas, pela colaboração prestada, não só na constituição do grupo de alunos, como também pelas facilidades concedidas quanto ao uso das instalações. Um agradecimento também à Escola de Dança Lugar Presente e à AIRV.

A todos os alunos que pacientemente colaboraram neste projeto, às suas ideias e ajudas de diversos tipos, e sobretudo pelo bom ambiente e camaradagem que proporcionaram.

A todos os Entrevistados no âmbito do projeto. Sem o seu precioso contributo não teria sido possível o desenvolvimento do projeto nestes moldes.

À Diocese de Viseu, pela autorização em efetuar a celebração final numa capela do claustro da Sé, e em particular ao Senhor Cónego Matos pela sua intervenção e reflexão final.

À Sofia Meneses, pelas suas ideias e colaboração ao longo de todo o projeto. Em especial o seu contributo na celebração final, que enriqueceu com canto (com a colaboração da Marta).

E de um modo muito particular, porque com a sua sabedoria me ajudou a encontrar o título final para esta dissertação.

(6)

RESUMO

A presente Dissertação de Mestrado aborda a relação entre o Centro Histórico de Viseu e o Desenvolvimento Sustentável, através de um workshop criativo para o Serviço Educativo do Museu Nacional Grão Vasco, no contexto da função social dos museus. Propõe a seguinte questão para investigação: “Pode o MNGV contribuir para a educação sobre o Desenvolvimento Sustentável

do Centro Histórico de Viseu?”

O projeto foi desenvolvido na perspetiva da recente “Recommendation on the Historic Urban Landscape”, da Unesco, que representa a visão mais atual sobre esta problemática, e o público-alvo foi constituído por um grupo de 11 estudantes pré-universitários.

É um projeto pluridisciplinar, porque convoca diversas áreas de conhecimento, com destaque para os Centros Históricos e o Património, o Desenvolvimento Sustentável, o Turismo, a Museologia e os Serviços Educativos, a Educação não formal. E transdisciplinar porque se situa precisamente na intersecção e diálogo entre todas estas áreas.

Utilizou-se uma metodologia qualitativa, mais flexível e apropriada para explorar novas áreas de estudo. A metodologia incluíu o desenvolvimento de um site de apoio ao projeto, a observação etnográfica de diversos eventos, e a realização de um evento final na Sé Catedral.

Confirmou-se que: (1) existe uma relação estreita entre o Centro Histórico de Viseu, o Museu Nacional Grão Vasco e a Sé Catedral, com expressão no Turismo; (2) o conceito de "função social dos museus" pode englobar o desenvolvimento de atividades sobre o Desenvolvimento

Sustentável, a partir da coleção do museu; (3) é possível identificar, no grupo em estudo, um conjunto significativo de idealizações pré-formadas sobre este assunto; (4) o formato de workshop criativo é adequado, mas a sua configuração bem como a composição dos grupos e o

envolvimento da escola são fatores que devem ser repensados; (5) existe um défice significativo ao nível da literacia sobre Desenvolvimento Sustentável.

Recomendações: (1) Configurar uma atividade de acordo com os resultados desta dissertação, pelo Serviço Educativo do Museu, que desenvolva a literacia sobre Desenvolvimento Sustentável, na formulação integral das Nações Unidas; (2) Estudos adicionais, particularmente sobre (a) o Centro Histórico na perspetiva dos moradores recentes (jovens) e do comércio e serviços disponíveis na zona e (b) a dimensão da procura do turismo em relação ao Centro Histórico.

Keywords: Centros Históricos, Desenvolvimento Sustentável, Museus e Serviços Educativos, função social dos museus, Turismo em Viseu

(7)

ABSTRACT

This Master’s Dissertation addresses the relationship between the Historic Center of Viseu and Sustainable Development, through a creative workshop for the Educational Service of the National Museum Grão Vasco, in the context of the social function of museums. Proposes the following question for research: “Can the MNGV contribute to education on the Sustainable Development

of the Historic Center of Viseu?”

The project was developed in view of recent “Unesco Recommendation on the Historic Urban Landscape”, which represents the most current view on this topic, and the target audience consisted of a group of 11 pre-university students.

It is a multidisciplinary project, because it brings together several areas of knowledge, with emphasis on Historical Centers and Heritage, Sustainable Development, Tourism, Museology and Educational Services, Non-formal Education. And it is transdisciplinary because it lies precisely in the intersection and dialogue between all these areas.

A qualitative methodology was used, which is more flexible and appropriate to explore new areas of study. The methodology included the development of a site to support the project, the ethnographic observation of various events, and the holding of a final event at the Cathedral.

The project allowed to verify that: (1) there is a close relationship between the Historic Center of Viseu, the MNGV and the Cathedral, with expression in Tourism; (2) the concept of "social function of museums" encompasses the development of activities on the theme of Sustainable Development, based on the museum collection; (3) it is possible to identify, in the target audience, a significant set of pre-formed "idealizations" on this subject; (4) the creative workshop format is adequate, but its configuration as well as the composition of the groups and school involvement are factors that should be reassessed; (5) there is a significant shortfall in literacy on Sustainable Development.

Recommendations: (1) Set up an experimental activity according to the results of this dissertation, by the Museum Educational Service, which develops literacy on Sustainable Development, in the integral formulation of the United Nations; (2) Additional studies, in particular covering (a) The Historical Center from the perspective of the recent (young) residents and the commerce and services available in the area, and (b) the dimension of tourism demand in relation to the Historic Center.

Keywords: Historic Centers, Sustainable Development, Museum Educational Services, social function of museums, Tourism in Viseu

(8)

ÍNDICE

I – PREÂMBULO

II - 1 – INTRODUÇÃO (p.1)

II - 2 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO (p.6) (2.1) O “Centro Histórico” de Viseu(p.7) (2.2) O Museu Nacional Grão Vasco (p.10)

(2.3) O “Turismo em Viseu” e a sua relação com o Centro Histórico (p.14) (2.4) “Centros Históricos” e “Desenvolvimento Sustentável” (p.17)

(2.5) Os Serviços Educativos (em Portugal) e a função social dos Museus (p.26) (2.6) Pedagogia, Ensino e Aprendizagem (p.41)

II - 3 - METODOLOGIAS UTILIZADAS (p.50)

(3.1) Motivos para a escolha de uma Metodologia Qualitativa (p.51) (3.2) Descrição das atividades experimentais (p.52)

(3.3) Fases do Projeto (p.53)

(3.4) Framework de Investigação e Hipóteses de trabalho (p.58) II - 4 - RESULTADOS OBTIDOS, ANÁLISE e DISCUSSÃO (p.61)

(4.1) O Centro Histórico de Viseu, o MNGV, a Sé Catedral e o Turismo (p.62) (4.2) Conceito de Desenvolvimento Sustentável (p.66)

(4.3) Representações sobre o espaço urbano e o Centro Histórico de Viseu (p.67) (4.4) O que se aceita no Centro Histórico de Viseu (p.69)

(4.5) Workshop “se eu fosse o Grão Vasco”: 5 recriações de obras originais (p.73) (4.6) Aspetos da avaliação quantitativa final, referentes à cidade (p.80)

(4.7) Avaliação global do workshop (p.82)

(4.8) MNGV - Serviço Educativo e função social do museu (p.86) II - 5 - CONCLUSÕES e RECOMENDAÇÕES (p.91)

(5.1) Conclusões principais (p.92) (5.2) Hipóteses para investigação (p.94) (5.3) Recomendações (p.95) III – SUPLEMENTOS (p.96) III - 1 – Notas (p.97) III - 2 – Bibliografia (p.102) III - 3 – Anexos (p.106) VI

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LISTA de GRÁFICOS (e quadros)

(1) Tendências de Crescimento das Dormidas em Viseu e das Visitas ao MNGV (2) Dormidas globais em Viseu e na Região Viseu-Dão-Lafões

(3) 2015 – Dormidas em Viseu e na Região Viseu-Dão-Lafões (por Concelho com dormidas

registadas)

(4) Pedidos de Informação no Viseu Welcome Center (5) Visitas ao Museu Nacional Grão Vasco

(6) Museus com Serviço Educativo, por ano (nº de casos e percentagem) Fonte: “O Panorama Museológico em Portugal”, p. 82

(7) Outras atividades orientadas orientadas para os visitantes, por ano (percentagem do nº de casos) Fonte: Ibid., p. 85

(8) Museus com Serviço Educativo por atividade e por ano (percentagem do número de casos) Fonte: Ibid., p. 85

(9) Visitas em Grupos escolares, visitantes estrangeiros e entradas gratuitas, por ano (milhões) Fonte: Ibid., p. 95

(10) Quadro com a constituição do grupo de alunos que participou no workshop experimental (11) Lista das Atividades experimentais desenvolvidas durante o projeto

(12) Mapa de Conteúdos: relação entre as Atividades do Projeto, os Objetivos e as Hipóteses de

Investigação

(13) Questionário Quantitativo final (ANEXOS) – perguntas associadas a “planeamento urbano” (14) Questionário Quantitativo final – perguntas associadas ao “centro histórico”

(15) Questionário Quantitativo final – P1 “melhor forma de organizar o workshop” (16) Questionário Quantitativo final – P2 “duração ideal de cada sessão”

(17) Questionário Quantitativo final – P3 “principal motivação para frequentar o workshop” (18) Questionário Quantitativo final – P5 “o que mais agradou”

(19) Questionário Quantitativo final – P6 “o que menos agradou”

(20) Questionário Quantitativo final – perguntas associadas ao “MNGV e Serviço Educativo”

(10)

LISTA de IMAGENS

(1) Vista do Centro Histórico de Viseu (imagem do site indicado) (2) Programa “Viseu Viva” – adaptação própria

(3) Museu Nacional Grão Vasco e Sé Catedral de Viseu

(4) Esquema do Desenvolvimento Sustentável – elaboração própria (5) Ciclo de Aprendizagem “Espiral de Kolb” – elaboração própria

(6) Ambiente de Aprendizagem (“Learning Environment”) – elaboração própria (7) Site “se eu fosse o Grão Vasco” – desenvolvimento próprio

(8) Framework de referência do projeto de mestrado – elaboração própria

(9) Exemplos de mapas de Viseu desenhados pelo grupo de alunos no Focus Group inicial (10) Imagens do Evento “Jardins Efémeros”

(11) Transições urbanas bem conseguidas (12) Transições urbanas mal conseguidas (13) Imagens utilizadas no Focus Group inicial

(14) Exemplos de mobiliário urbano contemporâneo no Centro Histórico (15) Grupo de alunos no MNGV na sessão inicial

(16) ASCENSÃO: obra original e recriada

(17) ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS: obra original e recriada (18) CALVÁRIO: obra original e recriada

(19) RESSURREIÇÃO: obra original e recriada (20) SÃO PEDRO: obra original e recriada (21) Cerimónia final na Sé Catedral

(22) Anúncio de duas exposições temporárias no MNGV: “Endless Infinity” e “Vestido a Rigor” (23) Imagem da exposição “Endless Infinity”

(24) Imagens da exposição “Vestido a Rigor”

(25) Imagem da exposição “A Rua do Carmo vem ao Carmo”

(11)

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II

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II - 1 - INTRODUÇÃO

II - 1.1 - O Desenvolvimento Sustentável e o Centro Histórico de Viseu

A presente Dissertação de Mestrado aborda a relação entre o Centro Histórico de Viseu e o Desenvolvimento Sustentável, através de um workshop criativo para o Serviço Educativo do Museu Nacional Grão Vasco.

A designação hoje consensual de desenvolvimento sustentável “que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades” (Brundtland Report), tem sido expressa através de três elipses parcialmente sobrepostas, indicando três pilares que se reforçam mutuamente e são até interdependentes: desenvolvimento económico, social e ambiental. Mais recentemente indica-se também a cultura como uma quarta dimensão que favorece a coesão deste conjunto.

Esta problemática assume uma relevância particular no caso dos centros históricos, pois com o desenvolvimento exponencial das cidades assente em novas zonas urbanas, geralmente periféricas, muitos centros históricos sofreram processos de abandono progressivo, degradação arquitetónica e isolamento social dos habitantes.

Por outro lado, com o desenvolvimento mais recente do turismo cultural, assistiu-se a um crescente interesse pelas zonas históricas das cidades, o que conduziu ao aumento de processos de certificação Unesco, como Património da Humanidade, pois isso habitualmente significa, de forma quase automatica, um crescimento do turismo. Neste sentido, muitos centros históricos sofreram processos de reabilitação e renovação, embora com objetivos e metodologias diferentes.

O aumento do turismo tem criado por sua vez novos problemas nalguns locais, pois nem sempre é conduzido de forma sustentável. Nomeadamente na sua dimensão social, tem-se assistido a complexos fenómenos de gentrificação, que a comunicação social tem dado relevo.

O Centro Histórico de Viseu, talvez por motivos geográficos e de morfologia da cidade, ainda se mantém como um centro nevrálgico da vida urbana. Mas isso também se deve em grande parte à implementação de políticas autárquicas locais, nomeadamente a instalação estratégica de serviços municipais e outro tipo de equipamentos, bem como o desenvolvimento de um ambicioso plano de requalificação e organização de eventos culturais. O Centro Histórico de Viseu transformou-se num objetivo estratégico central da Autarquia, dotado de instrumentos legais e funcionais específicos, onde têm vindo a ser investidos importantes recursos humanos e financeiros, bem como sido envolvidos um conjunto importante e diversificado de stakeholders.

(13)

3

Neste contexto, a alteração de hábitos e atitudes da população, no que se refere ao usufruto do espaço, à habitação, trabalho e lazer, à cultura e à convivência social, adquirem uma importância significativa para o Desenvolvimento Sustentável do Centro Histórico de Viseu. Podem ter consequências a diversos níveis: na habitação e ocupação diversificada do Centro Histórico, no desenvolvimento de atividades e novos negócios, na receção e informação prestada aos turistas. Pode até induzir-se que o desenvolvimento sustentável do Centro Histórico de Viseu poderá criar condições favoráveis a um desenvolvimento mais sustentável do turismo da Cidade e mesmo da Região.

A implicação neste processo, das gerações mais jovens, que mais tarde poderão assegurar a continuidade desta tendência de renovação, é um objetivo estratégico. O desenvolvimento de ações de sensibilização e educação, pode constituir um fator determinante para atingir este objetivo, pois de certa forma trata-se de consolidar um novo usufruto do espaço público e uma visão de cidadania.

Embora a designação sustentabilidade tenha entrado no léxico habitual utilizado pela generalidade das pessoas, é muito generalista e nem sempre é utilizada como sinónimo de “desenvolvimento sustentável”, no sentido plural apontado pelas Nações Unidas e a Unesco. O estudo desenvolvido no âmbito desta dissertação, induz a perceção de que existe um défice de literacia a este respeito, e reforça a necessidade de ações de sensibilização e educação sobre este tema.

II - 1.2 - O Museu Nacional Grão Vasco e a função social dos museus

O Museu Nacional Grão Vasco (MNGV) situa-se no Centro Histórico de Viseu, num imponente edifício contíguo à Sé Catedral. Tem vindo a percorrer uma trajetória singular ao longo do tempo, tendo sido utilizado para diversos serviços e funções.

O edifício inicial foi entretanto recuperado e ampliado através de um estimulante projeto arquitetónico do arquiteto Souto Moura, e procedeu-se a uma reorganização do seu formato expositivo. Este percurso foi justamente reconhecido, tendo passado em 2015 de Museu Regional a Nacional. É um dos museus mais visitados do país, fora dos grandes centros (Lisboa e Porto). Em simultâneo tem sido palco de uma interessante e extensa investigação sobre a obra de Vasco Fernandes (Grão Vasco), uma referência central da coleção do museu, considerado um pintor fulcral para a compreensão de todo um período artístico português.

Parte do importante acervo deste museu veio precisamente da Sé-Catedral de Viseu, onde as pinturas se encontravam inicialmente. Existe assim uma ligação histórica íntima entre o Museu Nacional Grão Vasco, a Sé-Catedral e o Centro Histórico de Viseu.

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A informação estatística disponível, bem como a generalidade dos stakeholders relacionados com o turismo em Viseu, comprovam que o centro histórico é o destino preferencial de visitantes e turistas. E pela sua situação central e proximidade geográfica no contexto do centro histórico, o MNGV e a Sé Catedral situam-se na rota preferencial destas visitas.

II - 1.3 - Objetivo central desta Dissertação de Mestrado

Os museus em Portugal, têm tido uma evolução significativa, acompanhando aliás as tendências internacionais. Uma das componentes dessa evolução, tem sido a disponibilidade de Serviços Educativos, com a respetiva oferta de atividades pedagógicas e workshops para diversos tipos de públicos, o que há apenas alguns anos simplesmente não existia em Portugal.

Mais recentemente, fruto também da intensificação de tendências internacionais, tem-se assistido à discussão e reforço da função social dos mutem-seus, agora não encarados como entidades isoladas, mas antes como integrados nas respetivas comunidades, e indo, também eles, ao encontro das suas necessidades.

Tomando em consideração todos estes aspetos, e situando-se o Museu Nacional Grão Vasco no Centro Histórico de Viseu, esta dissertação propõe a seguinte questão para investigação:

“Pode o MNGV contribuir para a educação sobre o Desenvolvimento Sustentável

do Centro Histórico de Viseu?”

Esta investigação encontra a sua principal motivação, na importância do Centro Histórico para o Turismo em Viseu, e na estreita relação existente entre o Museu Nacional Grão Vasco, a Sé-Catedral e o Centro Histórico. E ainda na importância de um público escolar pré-universitário na formação de hábitos e atitudes sobre estas questões, que se reflete depois nas escolhas feitas enquanto jovens adultos e adultos, integrados na vida ativa, no que se refere à utilização e vivência do Centro Histórico de Viseu.

O Desenvolvimento Sustentável é um tema de uma importância crucial, para que se possam atingir muitos dos objetivos relacionados com os designados objetivos do milénio acordados em encontros internacionais. Espera-se que esta dissertação, embora centrada no caso concreto do Centro Histórico de Viseu, possa também contribuir para enriquecer esse processo de reflexão.

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II - 1.4 - Estrutura da Dissertação

A dissertação segue globalmente o formato habitual deste tipo de documentos, e neste caso particular, sempre que possível, as “dissertation guidelines” do IPL, com a seguinte estrutura:

Cap. II – 2

Enquadramento teórico dos principais conceitos e temas em análise. Cap.II – 3

Descrevem-se as Metodologias utilizadas: dada a natureza exploratória do projeto, utilizou-se uma abordagem qualitativa.

• Constituiu-se um grupo de 11 estudantes pré-universitários, com o qual se desenvolveu um workshop criativo experimental designado se eu fosse o Grão Vasco.

• Constituiu-se um ambiente online de aprendizagem de apoio às atividades desenvolvidas pelo grupo. Recriaram-se de forma livre 5 obras de Grão Vasco, que foram depois expostas num evento final na Sé Catedral.

• O processo desenvolvido através desta atividade criativa, constituiu o suporte para pensar a evolução da cidade, com um foco específico no Centro Histórico e na sua articulação com o restante espaço urbano.

• Realizaram-se Focus Group antes e depois do workshop, e um questionário quantitativo final. • 10 Entrevistas Individuais Aprofundadas (2 a Empresas de Turismo, 1 numa Loja Comercial no Centro Histórico; 1 ao responsável pela gestão do Centro Histórico; 2 a Professores das escolas dos jovens do grupo; 4 a responsáveis e especialistas na área da Museologia).

• Desenvolveu-se “Observação Etnográfica” de eventos organizados no Centro Histórico, de alguma forma relacionados com o tema da dissertação.

Cap.II – 4

Descrevem-se e analisam-se os principais resultados obtidos. Cap.II – 5

Apresentam-se Conclusões e Recomendações.

Globalmente validam a oportunidade de o MNGV organizar este tipo de ações através do seu Serviço Educativo, embora aconselhem a revisão do formato de workshop utilizado, bem como considerar outros tipos de grupos/públicos alternativos e a articulação com as escolas.

Cap. III

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II

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II - 2.1 - O CENTRO HISTÓRICO de VISEU II - 2.1.1 - Introdução

O Centro Histórico de Viseu encontra-se perfeitamente delimitado e dotado de uma política municipal coerente, organizada e publicamente divulgada. Foi criado um site específico, atualizado recentemente, que reúne toda a informação relevante, e que pode ser considerado um exemplo de boas práticas neste tipo de situações.(1)

(imagem 1) Vista do Centro Histórico de Viseu

A Viseu Novo, SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana) é a empresa do Município de Viseu criada para dar resposta à necessidade de reabilitação urbana de zonas emblemáticas da cidade. Atualmente, a área de intervenção da SRU engloba o Centro

Histórico, o Bairro Municipal de Viseu, a Zona da Ribeira e a Cava de Viriato, o que se

traduz num total de 1 154 edifícios e cerca de 103,7 hectares.

No que se refere ao Centro Histórico, o documento Viseu Viva - Plano de Ação para

a Revitalização do Centro Histórico de Viseu (2014), descreve todas as ações efetuadas

e as previstas. De acordo com a informação divulgada, este documento “resultou do debate público promovido pelo Município de Viseu entre 24 de Abril e 30 de Junho de 2014, com uma forte participação pública e social. Ao todo, contribuíram para este plano 342 cidadãos ou organizações, com 152 propostas. De residentes, comerciantes, empresas, investidores, especialistas, criativos, operadores hoteleiros, restauração e diversão”.

Mais recentemente foi lançado um outro Plano de Ação, o Viseu Património, que se estende até 2024 e “tem em vista o conhecimento, a proteção e a valorização do património cultural, material e imaterial, da cidade e da sua história profundamente ligada à ideia de

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8

nacionalidade”. (2) Este plano assume hipoteticamente um objetivo final audacioso: a candidatura a Património da Humanidade pela UNESCO, o que representa uma visão pragmática da realidade atual.

II - 2.1.2 - “Viseu Viva” - Plano de Ação para a Revitalização do Centro Histórico de Viseu

“O Centro Histórico de Viseu, designação corrente, corresponde, do ponto de vista administrativo, à Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU), que abrange uma área equivalente a cerca de 25,4 hectares, envolvendo 628 edifícios, dos quais 152 estão em mau estado de conservação, sendo a maior percentagem do edificado anterior a 1950”.(3)

O plano Viseu Viva parte da constatação realista que “(…) o Centro Histórico de Viseu viveu uma última década de perda. Entre 2001 e 2011, o Centro Histórico perdeu quase 30 por cento dos seus residentes. Hoje serão cerca de 1300 residentes.

Também ao nível do edificado o coração está doente e carece de uma revitalização. O Centro Histórico tem 628 edifícios dos quais 25% (ou seja, 152) estão em elevado estado de degradação, sendo a maior parte anterior a 1945. Revitalização esta sensível e que exige conhecimento e opções de reabilitação que salvaguardem a identidade e a memória dos lugares e dos edificados.

O património histórico reclama ainda uma nova vaga de aquisição de conhecimento e estudo, de proteção e classificação, e de divulgação, que crie uma sólida base política e social para a sua sustentabilidade (…)”

Este Plano Municipal assume o desígnio claro de “Inverter um quadro de perda social e colocar o Centro Histórico numa trajetória de recuperação de vitalidade social e cultural e de atratividade residencial, económica e turística para o tempo presente”. Para isso, parte da seguinte Visão Estratégica:

O Centro Histórico de Viseu será um território cultural sustentável, atrativo, dinâmico e inclusivo, que valoriza o seu património histórico, arquitetónico, simbólico e social, combina harmoniosamente funções habitacionais, turísticas e económicas, é palco de eventos relevantes e é aberto à inovação e à criatividade artística, social e económica.

De acordo com esta visão, o Programa Viseu Viva reflete as preocupações mais atuais da comunidade internacional sobre o Património Histórico Urbano e o Desenvolvimento

(19)

9

Sustentável, e assume um posicionamento consubstanciado em opções estratégicas através de dois eixos estruturantes: “Atratividade” e “Cultura e Inovação”.

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II - 2.2 - O MUSEU NACIONAL GRÃO VASCO 2.2.1 - História e evolução do MNGV

O Museu Nacional Grão Vasco (4) é um espaço emblemático da cidade de Viseu, conhecido não só localmente, mas também com ampla projeção exterior. É um museu centenário (fez 100 anos em 2016), cuja importância nacional foi justamente reconhecida em 2015, passando à categoria de museu nacional. É um dos três únicos museus com esta categoria, fora de Lisboa (os outros dois são em Coimbra e no Porto).

Situa-se num edifício imponente - o Paço dos Três Escalões - cuja construção se iniciou a partir de 1593, no local do paço episcopal, encostado à Sé Catedral de Viseu. Deve-se à necessidade de criar na cidade um seminário ou um colégio para a formação do clero. Embora se desconheça a autoria do projeto, é legítimo apontar para uma origem castelhana, à semelhança do que sucedeu com o desenho da fachada da Catedral, encomendado alguns anos mais tarde a um arquiteto de Salamanca. Este imponente edifício granítico, cujo último piso terá sido acrescentado já no séc. XVIII, mantém uma relação singular entre sobriedade e monumentalidade.

Depois de várias vicissitudes, no século XIX torna-se pertença do Estado, que ali instalou diversos serviços (Quartel Militar, Governo Civil, Administração do Concelho, Câmara, etc…). Em 1916, é criado por decreto do Governo o museu de Grão Vasco, inicialmente em dependências da Sé, e só mais tarde virá a ocupar aquele edifício, onde hoje ainda se encontra. Entre 2001 e 2003, foi objeto de um projeto de intervenção, de autoria do Arquiteto Eduardo Souto Moura, que libertou o interior dos muitos elementos apostos e desvirtuantes, e adaptou-o às exigências de um programa museológico novo. O projeto de remodelação do Museu de Grão Vasco pretendeu preservar, no essencial, a sua identidade exterior. (imagem 3) Museu Nacional Grão Vasco e Sé Catedral de Viseu

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A coleção principal do Museu é constituída por um conjunto notável de pinturas de retábulo, provenientes da Catedral, de igrejas da região e de depósitos de outros museus, da autoria de Vasco Fernandes (c. 1475-1542), o Grão Vasco, de colaboradores e contemporâneos. O acervo inclui ainda objetos e suportes figurativos originalmente destinados a práticas litúrgicas (pintura, escultura, ourivesaria e marfins, do Românico ao Barroco), maioritariamente provenientes da Catedral e de igrejas da região, a que acrescem peças de arqueologia, uma coleção importante de pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, exemplares de faiança portuguesa, porcelana oriental e mobiliário.

O discurso expositivo ganhou linguagens novas após as importantes obras de requalificação. Hoje, a par com as obras de arte que caracterizam o acervo do MNGV, o museu desenvolve uma intensa programação temporária, que integra grandes retrospetivas históricas a par com apresentação intervenções de artistas contemporâneos. O MNGV dispõe de um Serviço Educativo, cuja atividade regular priotirária se destina ao público escolar. Mas também organiza atividades para outros tipos de públicos, nomeadamente crianças e adultos, abrindo-se à colaboração de animadores e criadores externos. A informação encontra-se disponível no site oficial do MNGV (46), para além da divulgação regular de atividades no facebook.

2.2.2 - A singularidade do artista Vasco Fernandes (Grão-Vasco)

Na introdução do catálogo da exposição Grão Vasco, pintura portuguesa do

Renascimento, no contexto de Salamanca Capital Europeia da Cultura, em 2002, Dalila

Rodrigues descreve da seguinte forma esta figura singular da arte portuguesa daquele período:

Grão Vasco é uma das personalidades mais fascinantes da arte portuguesa. À qualidade da sua pintura, ao poderoso processo criativo que o distingue e lhe confere um estatuto particular no contexto da pintura do Renascimento, acresce a aura de lenda e magia que durante séculos o envolveu. Por duas razões, portanto, ainda que não independentes, pela sua personalidade artística e pela singularidade do seu percurso mítico, o nome Grão Vasco converteu-se numa referência máxima da arte portuguesa.

Através de um fenómeno de exaltação que contrasta com o silêncio ou com a escassez de referências a outros artistas, Vasco Fernandes, o pintor que viveu e trabalhou numa região provincial, em Viseu, transformou-se no Grão Vasco – uma

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espécie de pintor-herói à escala nacional, a cujo nome se foram associando todas as pinturas antigas consideradas de qualidade.

Dois fatores determinantes estão na origem deste fenómeno: Vasco Fernandes iniciou um período extraordinário da pintura numa região geográfica que não tinha neste campo qualquer tradição, e que não teve depois qualquer contributo capaz de rivalizar com o seu e com os dos seus seguidores mais diretos; as suas pinturas monumentais, que têm no S. Pedro um dos maiores emblemas, tiveram como cenário, ao longo de três séculos, as capelas da imponente catedral de Viseu.

O realismo da sua linguagem, que permitia o acesso dos mais diversos tipos de espectador, estimulou diversas reações laudatórias. Daqui a comparação sistemática do seu génio criativo com o dos pintores da antiguidade, bem como a importação de traços anedóticos, em todos os aspetos idênticos, para a sua bibliografia. (5)

Esta sugestiva descrição mostra-nos, em certa medida, porque é que este museu é tão importante, no contexto local, nacional e mesmo internacional.

Segundo Sofia Lapa, “o corpus da pintura portuguesa do Renascimento é formado por pintura retabular (que pertenceu a retábulos). Trata-se de pintura criada sobre painéis que eram enquadrados em estruturas de marcenaria colocadas atrás de altares, montadas nas paredes de capelas. (…) Todos esses retábulos foram retirados dos locais onde originalmente puderam ser contemplados. E ao terem sido desmontados perdeu-se quase totalmente a estrutura de marcenaria (que em muitos casos era profusamente esculpida). E assim se explica que, quando hoje os visitamos nos museus, mesmo os painéis em que sobreviveu parte do emolduramento original apareçam isolados ou então agrupados numa ficção museográfica que dessa forma pretende encenar a montagem retabular original.”(6)

Vasco Fernandes (Grão Vasco) crê-se que tenha nascido perto de Viseu, cerca de 1475, apesar de não existir nenhum documento que o confirme. A referência mais antiga de que se dispõe remonta ao ano de 1501-1502. Por ela se fica a saber que já estava casado e exercia a profissão de pintor em Viseu. Como provam indiretamente alguns documentos, faleceu nesta cidade nos finais de 1542, deixando viúva e duas órfãs. Ignora-se o lugar preciso onde aprendeu a arte da pintura.

A importância económica das dioceses de Viseu e de Lamego, o prestígio social, político e cultural dos seus bispos, membros da primeira nobreza e conselheiros do Rei, o poder das casas religiosas, o êxito que a pintura tinha na sua época e as suas raras capacidades de artista, fizeram com que a sua oficina se transformasse num dos centros mais

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importantes de produção do país. Na realidade, a partir de 1520, a par de Vasco Fernandes, outros pintores desempenharam a sua atividade em Viseu, os quais mantinham relações profissionais e familiares entre si e seguiam com rigor a sua arte. O mais importante, que trabalhou frequentemente como seu colaborador, foi o viseense Gaspar Vaz.

Com toda a segurança, podemos incluir no universo criativo de Grão Vasco, que abarca cerca de quarenta e uma pinturas, catorze painéis expostos no NVGV, de um núcleo de dezoito, que restam do antigo retábulo da Catedral de Viseu. O antigo retábulo da capela-mor da Sé de Viseu, é uma obra fundamental para entender como a pintura e os pintores provenientes dos Países Baixos exerceram uma influência decisiva sobre o gosto do público e sobre a obra dos nossos pintores entre finais do séc. XV e meados de XVI.

2.2.3 - A relação histórica, cultural e simbólica com o Centro Histórico

O Museu Nacional Grão Vasco situa-se junto à Sé Catedral de Viseu e à Igreja da Misericórdia (mais recente, do séc. XVIII, mas também um edifício marcante da cidade), constituindo com a Praça D. Duarte e a Rua Direita o núcleo mais representativo do Centro Histórico original. O MNGV tem uma simbiose interessante com a vida cultural da cidade, abrindo frequentemente as suas portas no decurso de eventos culturais, ocorrendo no seu interior sessões de música, canto, pintura grafitti, performances e outras realizações. É uma casa aberta à população.

Observa-se uma estreita relação, histórica e cultural, e desse modo fortemente simbólica no imaginário de Viseu, entre as pinturas de Grão Vasco, a Sé Catedral junto ao museu, e a evolução histórica medieval da cidade,(7) ou seja, o Centro Histórico. É a partir desta relação simbólica entre a evolução do Centro Histórico de Viseu e a obra de Grão Vasco, que o projeto desta dissertação se constrói, e que o workshop criativo experimental para o Serviço Educativo do MNGV se inventa e articula.

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II - 2.3 - O TURISMO EM VISEU E A SUA RELAÇÃO COM O CENTRO HISTÓRICO

Na atualidade, a conservação e o desenvolvimento de Centros Históricos surge frequentemente associada oo desenvolvimento do turismo. Nem sempre positivamente, sobretudo nos casos em que o turismo se desenvolve de forma desiquilibrada em relação às estruturas e capacidades existentes nesses locais (Sevan, 1993).(8)

Em Viseu existe a perceção de que o Centro Histórico atrai os turistas e visitantes, pois concentra-se aí a generalidade do património histórico, com destaque nesta dissertação para o Museu Nacional Grão Vasco e a Sé Catedral.

Por exemplo, podem consultar-se dados estatísticos referentes a Viseu, (9) começando por comparar os valores referentes às dormidas em Viseu com o número de visitas do Museu Nacional Grão Vasco. Embora a informação não seja comparável, além de que o número de dormidas é diferente do dos hóspedes (um hóspede pode ocupar um alojamento mais do que uma noite), o que interessa avaliar neste contexto não são propriamente os dados quantitativos, mas as tendências (qualitativas) que se verificam, e que confirmam as respetivas tendências de crescimento.

gráfico.1

Dormidas 2016 ainda não contabilizadas Dormidas 2017 – Previsão

Atendendo a que o MNGV se situa no Centro Histórico, é razoável inferir que uma parte significativa dos turistas de Viseu, visitam o centro histórico. Até porque é aí que se encontra grande parte do comércio e serviços, e o património histórico edificado, como a Sé Catedral e inúmeras Igrejas e Edifícios classificados. O centro histórico de Viseu ainda é o coração da atividade da cidade.

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Por outro lado, Viseu situa-se na Região do Turismo do Centro designada por Viseu-Dão-Lafões. Podemos também comparar os valores das dormidas em Viseu com os dos outros Concelhos desta Região. Cerca de um terço de todas as dormidas registadas na Região, ocorrem em Viseu.

gráfico 2

gráfico 3

Assim, também é razoável inferir que, constituindo Viseu de certa forma o centro desta Região, e atendendo até ao património edificado que aí se encontra, muitos turistas cujo alojamento se encontra nos Concelhos vizinhos (por vezes, em alojamento local), acabem também por visitar Viseu e o seu Centro Histórico. Exceptua-se talvez São Pedro do Sul, cuja atividade turística poderá estar substancialmente relacionada com o turismo termal.

Voltando a Viseu, é possível detetar a influência da passagem do Museu Grão Vasco, de Museu Regional a Nacional (em 2015), avaliando também os pedidos de informação no

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gráfico 4

gráfico 5

Pode assim deduzir-se, não só a relação existente entre o Museu Nacional Grão Vasco, a Sé Catedral (situada ao lado do MNGV) e o Centro Histórico (onde ambos se situam), como a sua importância para a atividade turística em Viseu. Esta informação é confirmada na dimensão experimental do projeto, nomeadamente através das entrevistas individuais a stakeholders de Turismo.

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17

II - 2.4 – CENTROS HISTÓRICOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL II - 2.4.1 - Evolução do conceito de “Centro Histórico”

Embora se utilize entre nós, com frequência, a designação Centro Histórico, este conceito tem sofrido evoluções significativas ao longo do tempo, fruto de uma profunda discussão teórica e normativa internacional, sobretudo no seio da UNESCO e do ICOMOS. Internacionalmente tem vindo a designar-se esta iniciativa, desde há alguns anos, por

Historic Urban Landscape (HUL). A tradução literal daquela designação por paisagem

histórica urbana não é habitualmente utilizada em Portugal.

No passado, a cidade era um território (uma paisagem), circunscrita ou não por muros. Nesse sentido, a cidade podia ser percebida como uma paisagem dentro de outra paisagem. Independentemente da sua dimensão ou forma, era um espaço bem delimitado. Esta situação praticamente desapareceu (Gabrielli, 2010). (10) O conceito de landscape é muito rico, aberto e complexo, prestando-se a diversas interpretações consoante as áreas do conhecimento. Ainda mais quando aplicado ao contexto urbano. Assim, habitualmente, utiliza-se entre nós a designação Centros Históricos.

Não se deve confundir a temática específica do Património Histórico da Humanidade, formalmente reconhecido e classificado pela Unesco, com a discussão global do tema da gestão das zonas históricas das cidades, classificadas ou não, mas que apresentam uma certa consistência arquitetónica, visual, social e simbólica. São áreas que levantam problemas de gestão urbana específicos, relacionados com uma certa conflitualidade com o desenvolvimento global da cidade no seu todo. Na situação atual, em que a maioria da população mundial tende a concentrar-se progressivamente em cidades, a temática da expansão urbana, do seu planeamento e a articulação entre os diversos estratos (de que os centros históricos são um exemplo), tornou-se crítico, e tem levantado novos problemas e aumentado a pressão sobre as zonas históricas das cidades.

Em simultâneo, tem-se assistido a um aumento gradual do interesse da população, por estas zonas mais históricas, que habitualmente adquirem um estatuto fortemente simbólico, no seio de sociedades em processos de mudança, por vezes muito rápidos. Nas palavras de Francesco Bandarin (UNESCO Assistant Director-General for Culture):

Urban conservation is an important part of modern heritage policies. Since at least half a century, historic cities have acquired an incomparable status in modern culture and in modern life, a status defined by the quality of the architectural and physical environment, by the persistence of the sense of place, and by the concentration of the

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historic and artistic events that form the basis for the identity of a people. Last, but not least, they have become the icons of global cultural tourism and coveted places for the enjoyment of a different lifestyle and for cultural experiences for millions of people.

As the economic and social role of the historic city changes with time, as its own uses and functions are less and less decided by its own inhabitants, but rather by global forces such as the tourism or real estate industries, the meaning of urban conservation changes and needs to be reassessed. (11)

Genericamente, pode dizer-se que existe uma certa tensão entre os conceitos de conservação e desenvolvimento. Ainda segundo Gabrielli, “estes conceitos já existem nos documentos da UNESCO (como o “Vienna Memorandum, de 2005”), mas conservação e desenvolvimento são concebidos como separados, mesmo quando a sua integração mútua é reconhecida como necessária. Na realidade, a evolução histórica das cidades deve ser concebida como um caminho intermédio entre conservação e desenvolvimento. Ambos são necessários para preservar, revelar, revitalizar e promover a qualidade urbana” (Gabrielli, 2010).(12)

Ao longo do tempo têm sido produzidas diversas Recomendações (não vinculativas, mas apenas indicativas) sobre esta temática, destacando-se:

“UNESCO 1976 Recommendation concerning the Safeguarding and Contemporary Role of Historic Areas”

Refere pragmaticamente edifícios, estruturas e espaços que constituem conjuntos reconhecidos do ponto de vista arqueológico, arquitetónico, pré-histórico, histórico, científico, estético, sócio-cultural ou ecológico.(13)

“ICOMOS WASHINGTON CHARTER 1987”.

“This charter concerns historic urban areas, large and small, including cities, towns and historic centres or quarters, together with their natural and man-made environments. Beyond their role as historical documents, these areas embody the values of traditional urban cultures. Today many such areas are being threatened, physically degraded, damaged or even destroyed, by the impact of the urban development that follows industrialisation in societies everywhere”. (14)

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“2005 Vienna Memorandum”

A UNESCO introduz a terminologia “historic urban landscape” desenvolvendo o seu conteúdo. Neste documento, “the historic urban landscape is composed of character defining elements that include land uses and patterns, spatial organization, visual relationships, topography and soils, vegetation, up to such details as curbs, paving, drain gutters, lights, etc. Furthermore, contemporary architecture refers in this context to ‘all significant planned and designed interventions”, abrindo assim caminho às intervenções arquitetónicas contemporâneas devidamente planeadas. (15)

“Recommendation on the Historic Urban Landscape”.

Depois de diversos anos de consultas internacionais, mediadas pela UNESCO e o ICOMOS, com a participação de diversas entidades internacionais relacionadas com o património, a preservação e o planeamento urbano, em Novembro de 2011 a Conferência Geral da UNESCO (36ª sessão) adotou finalmente uma nova Recomendação, por aclamação, que constitui o primeiro instrumento “on the historic environment” desenvolvido pela UNESCO em 35 anos. (16)

Àcerca da Recommendation on the Historic Urban Landscape, que representa a visão mais atual sobre esta problemática, destacam-se desde já as seguintes alíneas deste documento, por se relacionarem mais íntimamente com o objectivo desta dissertação:

(alínea 3) “Urban heritage, including its tangible and intangible components, constitutes a key resource in enhancing the liveability of urban areas, and fosters economic development and social cohesion in a changing global environment. As the future of humanity hinges on the effective planning and management of resources, conservation has become a strategy to achieve a balance between urban growth and quality of life on a sustainable basis”.

(alínea 5) “This Recommendation addresses the need to better integrate and frame urban heritage conservation strategies within the larger goals of overall sustainable development, in order to support public and private actions aimed at preserving and enhancing the quality of the human environment. It suggests a landscape approach for identifying, conserving and managing historic areas within their broader urban contexts, by considering the interrelationships of their physical forms, their spatial organization and connection, their natural features and settings, and their social, cultural and economic values”.

(alínea 8) (Definição de historic urban landscape) “The historic urban landscape is the urban area understood as the result of a historic layering of cultural and natural values and attributes, extending beyond the notion of historic centre or ensemble to include the broader urban context and its geographical setting”.

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(alínea 10) “This definition provides the basis for a comprehensive and integrated approach for the identification, assessment, conservation and management of historic urban landscapes within an overall sustainable development framework”.

(alínea 26) “Research should target the complex layering of urban settlements, in order to identify values, understand their meaning for the communities, and present them to visitors in a comprehensive manner. Academic and university institutions and other centres of research should be encouraged to develop scientific research on aspects of the historic urban landscape approach, and cooperate at the local, national, regional and international level. It is essential to document the state of urban areas and their evolution, to facilitate the evaluation of proposals for change, and to improve protective and managerial skills and procedures”.

A nova Recomendação da UNESCO refere-se não só às cidades já classificadas e inscritas no património mundial, mas a todas as situações em que existam as condições de património descritas. O Centro Histórico de Viseu inclui-se nestas condições.

Representa uma subtil, mas fundamental, mudança de visão. Passou-se do património histórico entendido fundamentalmente como um conjunto de construções, para a inclusão de uma perspetiva mais imaterial relacionada com o sentido do lugar (“Spirit of Place”). É necessário experienciar os rituais (o património intangível) para se compreender um lugar. (Rodwell, 2010)(17)

Deve admitir-se que esta visão influenciou fortemente esta dissertação de mestrado.

II - 2.4.2 - Evolução do conceito de “Desenvolvimento Sustentável”

O tema genérico da sustentabilidade também tem evoluído ao longo do tempo. Esta designação é habitualmente utilizada no dia a dia, mas nem sempre com a intenção consciente de incluir todas as componentes que integram a designação mais abrangente de Desenvolvimento Sustentável.

A partir do relatório de 1987 da Comissão para o Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, conhecido por Brundtland Report (18), formulou-se a designação base hoje consensual de desenvolvimento sustentável:

Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.

(31)

21

Em 2005 nas Nações Unidas, o World Summit on Social Development (19) identificou

mais claramente os objectivos do desenvolvimento sustentável: desenvolvimento

económico, social e ambiental. Este conceito tem sido expresso através de três elipses

parcialmente sobrepostas, indicando que estes três pilares se reforçam mutuamente e são até interdependentes.

O conceito de Desenvolvimento Sustentável tem sido aplicado a diferentes aspectos da vida das comunidades, e tem constituído a base para numerosos standards e sistemas de certificação internacional.

(imagem 4) Esquema do Desenvolvimento Sustentável – elaboração própria

Mais recentemente, correspondendo ao debate das últimas décadas sob a liderança das Nações Unidas, esta questão evoluíu para os designados objetivos do milénio (SGD's) (20).

Atualmente tem sido defendido que a cultura é um domínio ao mesmo nível do económico, do ecológico e do político, e que deve ser consagrado como o quarto pilar do desenvolvimento sustentável. Esta visão é precisamente a que melhor se adequa ao desenvolvimento sustentável dos centros históricos.

The goals, methods and tools to protect urban heritage must correspond to the more recent approaches of preservation and of sustainable development. Humankind is now realizing that, apart from the three pillars of sustainable development (economy, society and environment), culture must become its fourth pillar. (Avgerinou, 2016) (21)

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O conceito tem vindo a ser amplamente divulgado e discutido a nível internacional. Pode até dizer-se que se encontra vulgarizado, no sentido de que é muito referido, mas nem sempre implementado de uma forma intelectual e científica séria, facto que tem sido referido em alguma documentação internacional.

As many reports have documented, cities and towns are hubs of innovation in the economic, cultural, and social realms. The goal of re-humanizing the city through culture-sensitive urban strategies is underpinned by principles and inclusive processes of access, representation, and participation. In the context of defining a new people-centred and planet-sensitive sustainable development agenda, cities are transformative platforms. However, the transformative potential of cities has not yet been fully harnessed by international agencies, national governments, or local authorities. (22)

II - 2.4.3 - “Centros Históricos” e “Cultura”

Complementarmente à associação do conceito alargado e diversificado de cultura, ao desenvolvimento sustentável, observa-se também a valorização da cultura quando se encara a sustentabilidade urbana, com destaque para as zonas históricas das cidades.

Os centros históricos são agora objeto de uma múltipla atenção: • Da gestão tradicional do património histórico;

• Das políticas de renovação urbana, através de novas funções relacionadas com a cidade contemporânea, mas que preserve o sentido e memória do lugar; • Relacionada com a anterior, uma certa tendência de re-utilização destes lugares

através da utilização no âmbito das indústrias criativas. Podemos sistematizar de forma muito global esta evolução:

• Passagem de uma visão de património histórico urbano no sentido restrito (predominantemente monumental), para uma conceção mais alargada, que abrange o intangível e a experiência dos lugares (“UNESCO Recommendation on the Historic Urban Landscape”), largamente sancionada pela denominada experience economy;

• Integração da cultura no modelo de desenvolvimento sustentável (Agenda 21); • Relação da cultura com a criatividade e inovação;

• Identificação de clusters relacionados com a produção cultural e criativa e valorização do contributo económico, real e induzido, das indústrias criativas; • Conceito de turismo criativo.

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Vários organismos internacionais e personalidades relacionadas, com destaque para as UN, a UNESCO e a UE, através de diversos documentos, iniciativas e programas, têm dado eco desta transformação.

UNESCO Historic Urban Landscape initiative

“The urban space is a multidimensional, financial and social creation and, within the milieu of today’s complex and rapidly-changing realities, we need a multithematic and multidisciplinary approach, in order to understand and interpret it. Corresponding claims exist in dealing with current problems in the cities and their planning, mainly concerning the role of culture and urban heritage management within the framework of sustainable development”. (Avgerinou, 2016) (23)

UNESCO – Culture

“Cities are a demonstration of the lifeforce that culture plays in the historic transformation of our societies, and as such a key engine in their urban development and social sustainability. We should nurture culture, and move beyond instrumentalizing it as a disposable tool, to embrace two distinctive aspects that essentially make up its DNA: meaning and values, and transmission. Together, they are a powerful resource that sustains urban life and livelihoods.

In a holistic way, culture nurtures and nourishes, sustains and makes resilient, cities, regions and their populations. As a transmitter, culture holds and transports identity, meaning and memory, within and beyond territorial boundaries”. (Mbaye, 2008) (24)

UN – Agenda 21

“The key transformations for local sustainable development in the next decades will be located in the interrelation and integration of civic domains, interlinking concerns such as heritage, housing, physical planning, inclusion, mobility, culture, nature, resilience and governance, ensuring full and active community participation.

In these approaches, the incorporation of cultural considerations will be key to ensuring that the paradigm of sustainability is meaningful to people, incorporating local histories and knowledge, resonating with local identities and truly building from the aspirations of local communities. Culturally informed urban development can inspire more participatory processes: cultures provide knowledge about our existence as inhabitants of our cities and as citizens of the world. We all need to learn about the past of our city, so that we can “own” it and propel this identity and local knowledge into the future.” (25)

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UE – How can cultural and creative industries contribute to economic transformation through smart specialisation?

“While some EU regions have been very good at tapping into this extraordinary potential as a way to promote socio-economic development - including through the use of EU Structural Funds -, it however appears that many others have not been making most of this potential.

The objective of this Policy Handbook is to better sensitize local, regional and national authorities as well as the cultural community of the potential of cultural and creative industries in boosting regional and local development. The Handbook intends to help them in formulating local, regional and national strategies for cultural and creative industries. It also aims to serve as a tool for the planning and implementation of a strategic use of the EU support programmes, including the Structural Funds, to foster the potential of culture for local, regional, national development and the spill-over effects on the wider economy.” (26)

The 2006 KEA study “Economy of Culture in Europe”

CULTURE AS AN ENGINE FOR TOURISM

“The link between culture and tourism is the most visible aspect of the contribution of culture to local development. As rightly pointed out in the OECD Report mentioned above, “cultural tourism can be assimilated to an export potential except that it is not products that are exported but consumers that are brought in”. (27)

II - 2.4.4 - “Turismo Cultural” e “Turismo Criativo”

Também no setor do turismo tem existido uma evolução no designado turismo cultural, no sentido de uma maior criatividade e envolvimento experiencial do turista.

O turismo cultural representa cerca de 40% do turismo global (2007 UNWTO). (28) Este aumento tem sido associado, aos sítios declarados como Património da Humanidade, o que habitualmente produz um efeito catalizador na atividade turística local associada.

Existe agora uma intensa competição internacional, no sentido de obter este tipo de classificações por parte da UNESCO, com a finalidade de crescimento da atividade turística. O que também tem conduzido a algumas situações de fragilização desses locais, devido ao excesso de visitas, obrigando a políticas de controlo e restrição (carrying capacity).

Por esse motivo tem sido sugerido que o modelo tradicional de turismo cultural se encontra relativamente estagnado, propondo-se uma mudança de paradigma, do turismo cultural (agora entendido já como mais uma forma de “mass tourism”) para o turismo

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criativo. Greg Richards tem estudado profundamente esta alteração de paradigma do

turismo cultural (“the creative turn”) e tem sido um dos embaixadores do turismo criativo. The rapidly developing relationship between tourism and creativity, arguably heralds a ‘creative turn’ in tourism studies. Creativity has been employed to transform traditional cultural tourism, shifting from tangible heritage towards more intangible culture and greater involvement with the everyday life of the destination. The emergence of ‘creative tourism’ reflects the growing integration between tourism and different placemaking strategies, including promotion of the creative industries, creative cities and the ‘creative class. (Richards, 2011) (29)

Esta tendência no sentido da criatividade, está relacionada com a designada experience economy (Pine & Gilmore, 1999; Poulsson & Kale, 2004, citados por Richards, 2011), na qual a competição leva os produtores a adicionar valor aos serviços através do desenvolvimento de experiências.

Tourism became an important driver of this process, with the development of specific experience environments and the repackaging of a range of tourist services as ‘experiences’. As the experience economy leaned heavily on the development of themed and staged experiences, the importance of symbolic production (Lash & Urry, 1994) and the role of the ‘creative industries’ as a major source of symbolic content for tourism became more obvious. Tourism has become part of the cultural or symbolic economy, as Gibson and Kong (2005) note. (Richards, 2011) (30)

(…) the contradictions and the devaluation of cities and urban areas bring back the discussion on the need to reorganize the urban productive base. This should be grounded on the quality of public space, the cultural and social identity of local societies, their culture and heritage, the need for large-scale cultural works, and the return of creativity. (Avgerinou, 2016) (31)

Do ponto de vista teórico, esta discussão influenciou decisivamente o rumo deste projeto de mestrado, e as decisões práticas que foram sendo tomadas, relacionadas com a sua componente experimental.

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26

II - 2.5 Museus, Serviços Educativos (em Portugal) e função social dos museus. II - 2.5.1 – Definição de Museu

Para contextualizar a instituição museu em Portugal existem duas referências base: a legislação nacional, e a definição do ICOM.

Em O Panorama Museológico em Portugal(32) pode ler-se “No plano legislativo, o principal marco da década é sem dúvida a Lei Quadro dos Museus Portugueses (Lei nº 47/2004 de 19 de agosto). Aprovada em 2004 por unanimidade na Assembleia da República, depois de apurados trabalhos preparatórios, refletiu um largo consenso político, mas também técnico.”

Segundo aquela Lei (artº 3º) “Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objectivos científicos, educativos e lúdicos; b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade”.

No Artigo 7º descrevem-se as funções dos museus: “O museu prossegue as seguintes funções: a) Estudo e investigação; b) Incorporação; c) Inventário e documentação; d) Conservação; e) Segurança; f) Interpretação e exposição; g) Educação”.

Na sua função de Educação (Artigo 42º) a lei refere explicitamente que a ação dos museus deverá ser articulada com as políticas públicas sectoriais respeitantes à família, juventude, apoio às pessoas com deficiência, turismo e combate à exclusão social.

Os museus nacionais, para integrarem a Rede Portuguesa de Museus, necessitam de ser credenciados de acordo com a Lei anterior. O Museu Nacional Grão Vasco, com o apoio do qual decorreu a parte experimental desta dissertação, integra a Rede Portuguesa de Museus com a categoria de Museu Nacional.

Também o ICOM - Conselho Internacional de Museus, que é a Associação Internacional dos Profissionais dos Museus, e que colabora com um conjunto muito amplo de entidades internacionais e nacionais, na definição das políticas desta área, define a instituição museu nos seus estatutos de 2016(33), sendo mesmo a designação mais citada na generalidade das fontes consultadas.

“O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e

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27

transmite o património material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e prazer”.

A UNESCO produziu recentemente uma “Recomendação Relativa à Protecção e Promoção dos Museus e das Colecções, da sua Diversidade e do seu Papel da Sociedade (doravante Recomendação de 2015)”. Foi aprovada em Novembro de 2015, em Paris, no âmbito da 38.ª sessão da assembleia-geral da UNESCO (28). Esta Recomendação adopta a definição de Museu do ICOM.

Clara F. Camacho, que foi a perita nacional envolvida na negociação deste documento, define deste modo a sua relevância:(34)

Esta Recomendação tem um significado histórico desde logo por ser a segunda vez que a UNESCO produziu um documento orientador direccionado apenas para os museus. Na minha opinião, esta é a principal novidade. O segundo aspecto é a consideração das colecções museológicas por si, ou seja, como objecto de protecção e promoção. O terceiro aspecto é o acento na consideração da função social dos museus, que não é para os profissionais desta área uma novidade, mas que num documento deste género assume outro alcance.

Também nesse documento se aborda o tema da educação:

(alínea 12) “Os museus atuam na educação formal e informal e na aprendizagem ao longo da vida, através do desenvolvimento e da transmissão do conhecimento, de programas educativos e pedagógicos, em parceria com outras instituições, especialmente as escolas. Os programas educativos nos museus contribuem fundamentalmente para educar os diversos públicos acerca dos temas das suas coleções e sobre a cidadania, bem como ajudam a consciencializar sobre a importância de se preservar o património e impulsionam a criatividade. Os museus podem ainda promover conhecimentos e experiências que contribuem para a compreensão de temas sociais correlacionados.”

alínea 16) (Sobre a função social dos museus) “Os Estados Membros são encorajados a apoiar a função social dos museus, destacada pela Declaração de Santiago do Chile, de 1972. Os museus são cada vez mais vistos, em todos os países, como tendo um papel chave na sociedade e como fator de promoção à integração e coesão social. Neste sentido, podem ajudar as comunidades a enfrentar mudanças profundas na sociedade, incluindo aquelas que levam ao crescimento da desigualdade e à quebra de laços sociais.”

(alínea 17) “Os museus podem constituir espaços para reflexão e debate de temas históricos, sociais, culturais e científicos. (…) Os Estados Membros devem encorajar os museus a cumprir todos estes papéis.”

Imagem

gráfico 4

Referências

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