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Boko Haram: Uma Ameaça a Paz, Segurança e Estabilidade do Sahel ao Corno de África

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Academic year: 2020

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Boko Haram:

Uma Ameaça a Paz, Segurança e Estabilidade do Sahel

ao Corno de África

Msc. Emilio J. Zeca Mestre em Resolução de Conflitos e Mediação Pesquisador de Paz, Conflito e Segurança

De 2010 a 2015, o Estado nigeriano e seus vizinhos enfrentam graves crises e ameaças levadas a cabo pelo

movimento radical, fundamentalista e terrorista Boko Haram. Essa ameaça tende a estender-se pelos

Estsa-dos do Sahel em direcção ao Corno de África, tendo em conta as ligações que existem entre esse movimento e

os grupos Al Shabab, Al Quaeda do Magreb e Estado Islâmico. Ao se materialização a “cooperação

terroris-ta” entre estes grupos, o continente uma divisão continental ocorreria com o Magreb e a África Subsaariana

a serem separados por um cordão controlado por grupos radicais, fundamentalistas e terroristas. O presente

artigo procura analisar os contornos do surgimento e expansão do movimento radical islâmico Boko Haram e

as ameaças que o mesmo representa ao Estado Nigeriano, aos Estados da região do Sahel e Corno de África,

bem como o resto de África e o mundo, no geral.

Boko Haram:

Origem, Expansão e Objectivos

B

oko Haram é um grupo radical, fun-damentalista, islâmico e terrorista fundado por Mohammed Yusuf, em 2002. Essencialmente, o termo Boko Haram traduzido em línguas nativas nigeria-nas, significa “luta ou posição contra educa-ção ocidental” (Sani 2011:24; Osumah 2013:541). O contexto do surgimento deste grupo é mais alargado do que esse, uma vez que não é somente a questão da educação ocidental que contextam,mas há outros fac-tores como é o caso da implementação da Sharia como uma lei de orientação política, social e até económica do povo nigeriano. Mais do que isso, o grupo acusa o Estado nigeriano de ser corrupto, recorrendo à implementação da Sharia para combater os males, nomeadamente, perversão ocidental cristã, prostituição e corrupção.

“Oficialmente o Boko Haram alega que luta pela Sharia, combate a corrupção do governo, a falta de pudor das mulheres, a

prostituição e outros vícios. Segundo eles os culpados por esses males são os cristãos, a cultura ocidental e a tentativa de ensinar algo a mulheres e meninas”1. O conceito Boko Haram significa coisas diferentes, para pessoas diferentes. Para uns, trata-se de um grupo terrorista, mas para outros “lutadores de libertação” face a perversão trazida pelo Ocidente. Mas, a Resolução 1514 da ONU distingue claramente o terrorista do lutador de libertação. Portanto, o terrorista usa terror nas suas incursões e acções, com objectivos políticos, enquanto o lutador de libertação tem um ideal mais abrangente, que é a liber-tação de um povo. Não há dúvida que o grupo Boko Haram usa terror. Este emergiu no estado nigeriano, fundado por indivíduos apologistas da Al Qaeda, tendo como ele-mento ideológico a questão do cristianismo, e educação ocidental como uma vida per-vertida.

O Boko Haram não concorda com o regime político nigeriano, porque pensa que é corrupto. O norte da Nigéria é uma região pobre, o sul é rico por causa do petróleo e

Vol. 2, Nº 03, Ano II, Janeiro - Março de 2015

ISSN: 2519-7207

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gás, e em muitos estados há sempre essa dis-puta de lugares onde há recursos. Só com “lentes” podíamos perceber a relevância da revindicação deste grupo que não poupa crianças e mulheres nos seus ataques. Boko Haram detém o controlo de vários Estados do norte que têm o nível de escolaridade baixo, alta taxa de pobreza, e onde a edu-cação religiosa islâmica é um dos elementos de instrumentalização e politização.

Portanto, em termo prático, o Boko Haram é um grupo terrorista que surgiu na Nigéria. Trata-se de um grupo radical e fun-damentalista islâmico que tem como objecti-vo central acabar com a democracia na Nigéria e promover a educação exclusiva-mente em escolas islâmicas. Os líderes desse movimento são críticos em relação ao gover-no nigeriagover-no, porque o consideram de cor-rupto e querem estabelecer a lei Islâmica no Estado nigeriano, condenando a educação ocidental e são contra que as mulheres fre-quentem a escola oficial.

Boko Haram a Insegurança na Nigéria:

Governação em Crise

O Boko Haram é uma grande ameaça à segurança do Estado nigeriano (Pham 2011:1; Aghedo and Osumah 2012:859). Este grupo cria instabilidade e insegurança devi-do ao seu modus operandi que concentra-se em ataques terroristas, sequestros e intimida-ções. Por muito tempo, pensava-se que o exército nigeriano era um dos mais fortes de África, todavia menosprezaram as potenciali-dades deste grupo.

Em estratégia, há um princípio básico que preconiza que “nunca se pode menos-prezar o adversário sob o risco de ter surpre-sas estratégicas.” Tudo indica que houve menosprezo das capacidades do grupo Boko Haram em fazer face as autoridades do Estado nigeriano, sobretudo as Forças de Defesa e Segurança.

Data Incidente Danos

26/07/2009 Ataque à Esquadra de Polícia, em Bauchi, pro-vocando uma revolta de cinco dias que se

estende até Maiduguri.

Mais de 40 membros dos Boko Haram foram mortos e mais de 200 presos.

07/09/2010 Ataque a uma prisão, em Bauchi, e libertação de 700 presos, antigos membros do Boko

Haram.

5 Guardas Prisionais Mortos

24/12/2010 Atentado bombista, em Jos. 8 Pessoas Mortas

28/12/2010 Revindicação da responsabilidade pelo

aten-tado na véspera do Natal, em Jos. 38 Pessoas Mortas 29/05/2011 Bombardeamento a Quartéis do Exército, em

Bauchi e Maiduguri 15 Pessoas Mortas

26/06/2011 Ataque-Bomba a um bar, em Maiduguri. 25 Pessoas Mortas 16/08/2011 Bombardeamento ao complexo de escritórios

das Nações Unidas, em Abuja. Mais de 34 Pessoas Mortas 25/12/2011 Ataque bombista a Igreja Católica Santa

Tere-za, em Madalla. Mais de 46 Pessoas Mortas.

21/01/2012 Várias explosões abalaram Cidade de Kano Mais de 185 Pessoas Mortas 15/02/2012 Ataque a Cadeia em Koton Karfe, Estado de

Kogi, no qual 119 presos foram libertados. Um guarda prisional foi mor-to 19/02/2012 Explosão de bomba perto de uma Igreja Cristã

e Embaixada do Estado do Níger, em Suleija, 5 Pessoas Mortas 26/02/2012 Explosão de Bomba na Igreja de Cristo da

Nigéria, em Jos.

2 Pessoas Mortas e 38 Feri-dos

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Com a actução do Boko Haram, cons-tatou-se que o exército nigeriano, por exemplo, tinha muitas lacunas e que a questão da prontidão militar supostamente demonstrada era defeituosa. Para perce-ber esses aspectos, um dado importante a reter é o facto da estrutura político-administrativa da Nigéria ser essencialmen-te formada de Estados Federados, com uma certa autonomia administrativa e segurança. As acҫões deste grupo sempre foram ataques terroristas se sequestros. Eles levaram a cabo os seus ataques em momentos em que todos pensavam que a segurança estava garantida. Portanto, pode-se afirmar com alguma segurança que as Forças de Defesa e Segurança nige-rianas falharam na componente de inteli-gência2, em grande escala nas previsões ou antevisões, que este grupo rebelde

podia representar em termos de ameaça. Devidas as incursões levadas a cabo pelo movimento Boko Haram, o processo governativo, na Nigéria entrou para uma situação de crise (Okoro, 2014:103). O Esta-do nigeriano sentiu algumas dificuldades em fazer face a este grupo. Quase sempre que as Forças de Defesa e Segurança foram solicitadas para intervir com vista a fazer face a uma situação em que o grupo agiu teve dificuldades de trazer resultados positivos. Um dos exemplos é o do seques-tro das 200 raparigas que não se conseguiu identificar onde foram colocadas.

Em Março de 2015, o Estado nigeriano vai a eleições. A liderança do Boko Haram ameaçou boicotar o processo com actos de terror. Tudo indica que dificilmente a Nigéria irá fazer face ao grupo Boko Haram. Neste contexto, será muito difícil 08/03/2012 Um italiano, Franco-Lamolinara, e um britânico,

Christopher McManus, funcionários expatriados de Stabilim Visioni, Empresa de Construção Civil, sequestrados em meados de 2011, foram

mortos por um grupo dissidente do Boko Haram.

2 Pessoas Mortas

11/03/2012 Explosão de Bomba na Igreja Católica de St.

Finbarr, Rayfield, Jos 11 Pessoas Mortas e Vários Feridos 26/04/2012 Explosão de três Estações de mídia: (A) Este

Dia, Abuja (B) Este Dia; O Sol e os momentos, Kaduna.

5 Pessoas Mortas e 13 Feri-das, em Abuja, 3 Pessoas Mortas e Várias Feridas, em Kaduna

29/04/2012 Ataque na Universidade Bayero, Kano. 16 Pessoas Mortas e Vários Feridos

30/04/2012 Explosão de uma bomba em Jalingo 11 pessoas morreram e várias ficaram feridas 23/09/2012 Homem-bomba atacou a Igreja Católica São

João, em Bauchi 2 Pessoas Mortas

05/12/2012 Ataque ao Posto Policial na Cidade de Kano e

a um autocarro de transporte de passageiros 2 Polícias Mortos e Vários Feridos. 23/03/2013 Ataque a Bancos, Posto Policial e Cadeia em

Kano, Adamawa e Borno. 28 Mortos e Vários Feridos. 12/04/2013 Ataque a Posto Policial em Yobe 4 Polícias e 5 Cidadãos

Mor-tos 22/06/2013

Ataque em Yobe e Cidade de Bama 40 Polícias, 13 Guardas Pri-sionais e 3 Soldados Mortos. 29/09/2013 Ataque ao Colégio Estatal de Agricultura no

Estado de Yobe 78 Estudantes Mortos

Fonte: Okoro (2014:111-113)

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organizar eleições livres e justas, com ameaças terrorista. Consequentemente, dificilmente haverá eleições livres, justas e transparentes. Todavia, as eleições consti-tuem um imperativo nacional e uma mani-festação da democracia. Todavia, realizar eleições num Estado de emergência impli-ca o desdobramento de todo exército, o que seria difícil, “um polícia e um militar para cada cidadão”. Trata-se de um cená-rio impensável.

Curioso é o facto do grupo Boko Haram pretende instaurar a Sharia como a lei de orientação política, económica e social da Nigéria, sem recorrer aos moldes democráticos que vigora no país. Espera-ríamos o Boko Haram se transformasse num partido político, e que concorresse nas pró-ximas eleições. Contudo, este grupo é con-siderado terrorista, logo, não tem reconhe-cimento nacional e internacional de todos, muito menos uma convivência política aceitável. O tipo de reivindicação manifes-tado por este grupo desajusta-se ao meca-nismo ideal que é apresentado para se ascender e controlar o poder, o modelo democrático.

Boko Haram, “Cooperação

Terroris-ta” e Ameaça a Estabilidade e

Seguran-ça de África

AS acções do Boko Haram e grupo extrapolaram as fronteiras nigerianas e pas-saram a afectar Estados vizinhos como Camarões, Costa de Marfim e Tchad. Este avanço coloca em perigo vários Estados da região do Sahel, com a agravante de que no Corno de África e África Oriental existir o grupo terrorista Al Shabab que semeia terror, instabilidade e insegurança naquela região.

Por muito tempo se menosprezou a capacidade de expansão, a extensão e alcance internacional do Boko Haram. Vários estudos e relatórios demonstra que este grupo rapidamente iria se expandir para os Estados vizinhos e rapidamente se tornaria numa ameaça regional, continen-tal e global. De acordo com o AFRICOM, o comando do Pentágono para a África, há evidências fortes de ligações entre o Boko

Haram e a a-Qaeda do Magreb Islâmico. Para além disso, há evidência de ligações com o al Shabab, porque informações da inteligência revelam que combatentes do Boko Haram teria viajado até a República Centro-Africana e à Somália para juntar-se com o al Shabab3. Importa recordar que recentemente, a liderança do Boko Haram identificou-se com o Estado Islâmico do Iraque e do Levante

Uma “cooperação terrorista” entre estes grupos radicais e fundamentalistas criariam uma espécie de “zona tampão”, entre o Norte de África, Magreb, e África Subsariana onde surgiria uma zona contro-lada por grupos radicais, fundamentalistas e terroristas. Vários campos de treino seriam instalados e a partir dai várias aclções seriam preparadas para levar acabo no Estado nigeriano, bem como em retaliação contra alvos ocidentais nos Estados que se encontram entre o Sahel e o Corno de Áfri-ca e, possivelmente, no Ocidente mesmo.

Há uma clara necessidade de fortificar a coligação regional e implantar uma mais alargada com Estados fortes do Ocidente para lançar uma ofensiva de “guerra total” contra o Boko Haram como aconteceu em relação aos protagonistas da Primeira Guerra Mundial (1914-1919) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em termos de estabilidade, paz e segurança, o Boko Haram passou a ser uma grande ameaça não só para o Estado nigeriano, mas para os seus vizinhos aqueles onde actuam o al Qaeda do Magreb e al Shabab.

As incursões do Boko Haram vieram deteriorar todas as condições de paz que nesta região existiam, passando a propor-cionar uma situação de paz precária, instá-vel e condicional, uma “paz de cemitérios” como apontou Immanuel Kant na sua obra Paz Perpétua, segundo o qual a paz conse-guida e imposta por via de armas, imposi-ção e coerimposi-ção não era a verdadeira paz.

Considerações Finais: Que fazer

Importa referir que o combate ao ter-rorismo não pode ser uma acção unilateral. Recomenda-se que sejam levadas a cabo acções no âmbito multilateral e

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torial. Em termos de resolução do problema do terrorismo, há uma doutrina dominante, segundo a qual não se negoceia com ter-rorista. O terrorista é um elemento por se abater, tendo em conta os métodos que este usa nas suas acções. Todavia, há uma outra abordagem em emergência, mas ainda não consolidada, que procura saber quais são as reais motivações dos terroristas para que se avance com os mecanismos alternativos da resolução do conflito. Por-tanto, o terrorista na sua essência é um actor político ou social, o qual se encontra numa situação da percepção de ser mar-ginalizado. Ele usa o terror como instrumen-to de luta, por isso, alguns teóricos defen-dem que terrorismo é um mecanismo de luta de pobres, e a guerra estratégia de luta de ricos.

A segunda abordagem chama a necessidade de diálogo e negociação com os radicais e terroristas, com o objecti-vo de perceber as suas reais motivações e revindicação. Esta parece ser a forma mais alternativa, para o contexto actual do ter-rorismo. Desde a emergência do Estado Islâmico, nota-se uma mudança na acção dos terroristas: antes levavam a cabo as suas actividades na clandestina, mas hoje em dia temos Boko Haram de um lado, Estado islâmico do outro, e a al Qaeda de Magrebe ainda por outro lado, formando um triângulo de acções bárbaras.

Tudo indica que uma espécie de negociação, com a tentativa de percep-ção das reais motivações terroristas, pode ajudar na resolução de um conflito desta natureza. A partir desta via, podem dese-nhar-se políticas públicas de integração destes grupos, para que não olhem o terro-rismo como meio para a obtenção, e

con-trolo, do poder. Esta dimensão toma o carácter multidisciplinar, implicando coor-denações de acções a nível multilateral e multissectorial envolvendo o exército, polí-cia, serviços de inteligênpolí-cia, antropólogos, juristas e técnicos de resolução de conflitos para pacificar e propor mecanismo alter-nativos ao uso da força.

Notas e Referências Bibliográficas

1 Boko Haram Is A CIA Covert Operation – Wikileaks. Por A.P. Mavangira. The African Ren-aissance News, 1º de maio de 2014.

2Inteligência entendida como recolha, análise,

sistematização e disseminação de informação estratégica e relevante para os políticos tomaram decisões – In CEPIK, M. 2003. Espio-nagem e Democracia: Agilidade e Transparên-cia como Dilemas na Institucionalização de Ser-viços de Inteligência, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.

3http://www.bbc.co.uk/portuguese/

noti-cias/2014/06/140601_nigeria_boko_haram_hb Aghedo, Iro and Oarhe Osumah (2012) The Boko Haram uprising: How should Nigeria respond?

Third World Quarterly, 33 (5), pp. 853-869. Okoro, Efehi Raymond (2014),Terrorism and

gov-ernance crisis: The Boko Haram experience in Nigeria, Conflict Resolution, Vol 14, No 2.

Osumah, Oarhe (2013) Boko Haram insurgency in Northern Nigeria and the vicious cycle of inter-nal insecurity. Small Wars and Insurgencies, 24 (3), pp. 536-560.

Pham, J. Peter (2012) Boko Haram’s evolving

threat. Africa Security Brief, 20, pp. 1-7.

Sani, Shehu (2011) Boko Haram: History, ideas and revolt. The Constitution, 11 (4). Journal of the Centre for Constitutionalism and Demilitarisation (CENCOD), Ikeja, Nigeria. Lagos, Panaf Press.

Vol. 1, Nº 03, Ano II, Janeiro - Março de 2015

Vol. 2, Nº 03, Ano II, Janeiro - Março de 2015

Referências

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