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A CRIMINALIZAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL E POR IDENTIDADE DE GÊNERO EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA | Anais do Congresso Acadêmico de Direito Constitucional - ISSN 2594-7710

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Anais do I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional Porto Velho/RO 23 de junho de 2017 P. 47 a 61 A CRIMINALIZAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL E POR

IDENTIDADE DE GÊNERO EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Mariane Oliveira Galvão1 Túlio Anderson Rodrigues da Costa2

RESUMO

O presente artigo pretende abordar a importância da criminalização da discriminação por orientação sexual e por identidade de gênero em face do princípio da dignidade da pessoa humana. O artigo se baseia em uma pesquisa doutrinária, e expõe o caminho tortuoso enfrentado pelos homossexuais e sua situação atual perante a sociedade e diante o Ordenamento Jurídico Brasileiro. Demonstra também, a necessidade de uma lei que criminalize a homofobia.

Palavras–chaves: Homofobia. Criminalização. Dignidade da Pessoa Humana.

Legislação.

ABSTRACT

This article aims to address the importance of criminalizing discrimination based on sexual orientation and gender identity in face of the principle of the dignity of the human person. The article is based on a doctrinal research, and exposes the tortuous path faced by homosexuals and their current situation before the society and in face of the Brazilian Legal Order. It demonstrates the need for a law that criminalizes homophobia.

Key-words: Homophobia. Criminalization. Dignity of human person. Legislation.

1

Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: marianeoliveira218@gmail.com

2

Docente da disciplina de Direito Penal do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: tulioanderson1@gmail.com

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48 INTRODUÇÃO

A homofobia é um fenômeno complexo e variado, as questões relativas a sexualidade transcendem a história e as relações sociais e a diversos ordenamentos jurídicos. Em algumas sociedades os relacionamentos homoafetivos foram considerados normais e aceitos por todos os cidadãos, mas ao longo de vários séculos, os homossexuais foram considerados pecadores, indignos, doentes, perseguidos, submetidos a tratamentos desumanos, torturados e foram obrigados a se submeter a tratamentos psicológicos para que fosse curado da sua homossexualidade.

Vários séculos se passaram, vários direitos foram conquistados, mas a classe LGBT continua sendo vítima de preconceito.

O surgimento de novas leis regula as relações sociais. É necessário garantir a todos o bem-estar e a segurança a que todos têm direito. Porém, os LGBTS não têm seus direitos preservados por omissão do poder legislativo que não cria nenhuma lei voltada para criminalizar homofobia.

A constituição Federal de 1988 traz para o Ordenamento Jurídico Brasileiro, os direitos fundamentais do indivíduo e da coletividade, a constituição assegura a todos o bem-estar, igualdade, justiça social e o princípio da dignidade da pessoa humana que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.

A omissão do poder legislativo fere as garantias individuais previstas na Constituição Federal e ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que é o princípio basilar do Ordenamento jurídico. O Direito Penal tem o condão de proteger o bem jurídico e promovera criminalização da homofobia trazendo segurança para a Classe LGBT. Classe essa que é negligenciada pelo Estado e alvo de opressão pelo seu gênero ou sexualidade.

1 BREVE HISTORICO

A homossexualidade ao longo da história foi profusamente discutida e regulada de acordo com o momento cultural ou histórico que tal sociedade vivia. Em determinados momentos foi valorizada e em outros foram totalmente recriminadas.

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Na teologia já foi considerada um pecado, na medicina foi classificada como uma doença ou desvio psicológico. E no mundo jurídico tida como crime.

Em tempos primórdios a prática homossexual possuía o objetivo de transmitir conhecimento, as primeiras relações homoafetivas que se tem levantamento na história, são relacionadas as tribos primitivas pertencentes as ilhas de Salomão, Fiji e Nova Guiné. Na Grécia Antiga os adolescentes do sexo masculino eram estimulados praticar sexo com seus mentores e filósofos. Tal prática era conhecida como pederastia, sob a afirmação que tal ato transmitia conhecimentos em vários âmbitos e masculinidade, sendo considerada comum essa prática pela sociedade grega.

Há relatos de práticas homossexuais na Roma Antiga entre os grandes imperadores. Na idade média, com o advento do cristianismo, relações homoafetivas tornaram-se crime passível de execução. Cristãos e Judeus afirmavam que as relações sexuais deveriam ter como finalidade apenas a reprodução humana. A igreja católica foi uma das principais precursoras da de ideia que a relação entre pessoas do mesmo sexo, deveria ser repudiada de forma extrema, pois, tal relação é totalmente contrária a vontade de Deus. A força da igreja católica nessa época era tão grande perante a sociedade, que criminalizava a prática.

No Brasil, os indivíduos que tinham relações sexuais com pessoas do mesmo sexo eram conhecidos como sodomitas, que significa “aquele que tem práticas sexuais anormais”. Tal palavra advém da religião e seus preceitos cristãos. As pessoas consideradas sodomitas praticavam pecado nefando, pois tais relações não tinha a finalidade de procriação.

As ordenações portuguesas no Brasil Colônia, criminalizaram a homossexualidade, pois tal prática era tida como uma ofensa ao Estado, alcançando o mesmo patamar de lesa-majestade que era o crime de traição contra a majestade ou desrespeito ao Estado ou à dignidade do soberano reinante. A punição para tais práticas era a morte. A homossexualidade estava inserida culturalmente em algumas tribos no país, assim com a colonização tais tribos foram perseguidas pela coroa e submetidos a penas cruéis e desumanas, além da morte.

Durante a segunda guerra mundial, na Alemanha nazista os homossexuais foram perseguidos, sendo mutilados, violentados e mortos. Muitos foram enviados a

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campos de concentração onde foram submetidos a tratamentos cruéis sendo vítimas não apenas dos guardas alemães, mas também dos próprios prisioneiros. Eram forçados aos trabalhos mais perigoso e pesados, as tarefas fatais eram atribuídas a eles. Nessa época, o índice de mortes de homossexuais era alto. Foram mortos de maneira brutal.

Tal perseguição ocorreu, pois, os nazistas afirmavam ser defensores da moralidade, para eles a homossexualidade impedia a reprodução humana, sendo assim, não perpetuaria a raça superior.

Com o fim da segunda guerra mundial, diversos movimentos pelos os direitos humanos, surgiram e organizaram-se, tendo como intuito a descriminalização das relações homossexuais.

Atualmente, os homossexuais são diariamente vítimas de ataques verbais, morais, físicos e vítimas de assassinato no mundo todo por motivo de ódio. Em 73 países do mundo relações entre pessoas do mesmo sexo são consideradas crime. As punições variam entre multa, prisão e a pena de morte. Treze países preveem a pena de morte para população homossexual.

1.1 CONCEITO DE HOMOFOBIA

O dicionário Aurélio conceitua homofobia, como repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou os homossexuais. Já Maria Berenice Dias se aprofunda mais na definição de homofobia, conforme:

Ainda que muito não saibam, homofobia significa aversão a homossexuais. Sem precisar ir ao dicionário, a expressão compreende qualquer ato ou manifestação de ódio ou rejeição a homossexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Apesar de a palavra homofobia albergar todos esses segmentos, novas expressões, como lésbofobia, bifobia e transfobia, surgem para dar ainda mais visibilidade à intolerância em todos os seus matizes.

A homofobia consiste em caracterizar o outro de forma adversa, anormal, inferior, humilhando e constrangendo, resultando assim, em agressão verbal, psicológica, física, sexual.

Uma parte significativa da população condena os homossexuais por sua orientação sexual e pela identidade de gênero, pois desviam dos padrões

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estabelecidos na sociedade. Milhões de pessoas são vítimas diariamente de violência homofóbica, e nem todos denunciam quando são alvos dessa covardia, conforme demonstram os dados do ano de 2012:

Os dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República sobre a violência homofóbica são de 2012. As análises foram feitas essencialmente a partir dos dados provenientes do Disque Direitos Humanos (Disque 100) da SDH: as estatísticas analisadas referem‐ se às violações reportadas, não correspondendo à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs. Segundo o estudo, em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em relação a 2011 houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.

Dados mais recentes disponibilizados pelo Grupo Gay da Bahia, mostram a violência contra os homossexuais no Brasil no ano de 2016, conforme demonstrado abaixo:

[...] 343 LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) foram assassinados no Brasil em 2016. Nunca antes na história desse país registraram-se tantas mortes, nos 37 anos que o Grupo Gay da Bahia (GGB) coleta e divulga tais homicídios. A cada 25 horas um LGBT é barbaramente assassinado vítima da “LGBTfobia”, o que faz do Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. Matam-se mais homossexuais aqui do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBT.

Não se pode ignorar a discriminação sob a alegação de que esta é uma característica intrínseca ao homem. Mesmo que a população LGBT seja minoria na sociedade, a sua dignidade deve ser preservada e a sua vida.

2 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL É O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

A Constituição da República de 1988, traz em seu bojo, direitos fundamentais da coletividade e do indivíduo em diversas áreas

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A Constituição Federal consagra a igualdade, a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Deve ser defeso qualquer tipo de discriminação. A falta de lei não significa a não existência de um direito e os LGBTs não podem ser deixados à margem da sociedade.

Assim, o legislador deve assegurar a todos independentemente da orientação sexual ou da identidade de gênero, o exercício de seus direitos de forma plena, pois a democracia é para todos. O descuido do Estado tem levado essa parcela da sociedade a invisibilidade, e expostos a diversas situações homofobicas totalmente inaceitáveis.

Maria Berenice Dias assevera que a carta magna assegura a todos a liberdade o exercício de seus direitos da mesma forma que promove o bem de todos sem preconceitos de raça, sexo, cor, idade e outras formas de discriminação, ressalta-se a falta de legislação sobre discriminação em razão do sexo, conforme salienta:

Parece que sequer se atenta à Constituição Federal, que já em seu preâmbulo assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Também é consagrado como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil (art. 3ª, inc. IV): promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

O preâmbulo da Constituição Federal delibera que os integrantes da Assembleia Nacional Constituinte, que é formada por representantes do povo brasileiro são os responsáveis para instituir o Estado Democrático Brasileiro e devem propiciar a prática dos direitos sociais e individuais, segurança, liberdade, bem-estar, igualdade, justiça e desenvolvimento que são valores considerados supremos para uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.

O Preâmbulo constitucional, não possui valor jurídico, porém tem sua importância na esfera jurídica, na aplicação e interpretação de vários artigos e mostra o protecionismo da Constituição aos direitos.

O princípio da dignidade da pessoa humana é a base de todos os princípios do Estado Democrático de Direito. É imperioso destacar a sua importância para os direitos sociais e individuais. Tal princípio garante a todo ser humano o direito de ser

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respeitado como pessoa, independentemente de sua orientação sexual ou por sua identidade de gênero.

Em nenhuma época o ser humano ficou longe da sua dignidade. Até mesmo antes de nascer sua dignidade é respeitada.

A Constituição Federal tem como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Na esfera do Direito Constitucional, a presença desse Princípio na Carta Magna demonstra um avanço para o os direitos fundamentais. Assim, a prática de uma ação por um ente estatal deve ser analisada, pois, pode ser considerada inconstitucional por ferir a dignidade da pessoa humana.

Conforme o disposto no artigo 1º, III da Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana; [...]. (BRASIL, 1988).

Logo tal princípio é referência para aplicação e interpretação dos preceitos jurídicos. O Valor do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é supremo, sendo resguardado na Carta Magna. Tal princípio revela a sua força e a sua importância para todos os homens, pois protege os seus direitos e deveres.

2.1 RESGUARDO DOS BENS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS

A esfera jurídica brasileira caminha para incluir, em seu ordenamento jurídico, essa minoria da população tão desprezada por nossos legisladores. Para grande parte da sociedade, não há nenhum sentido a discriminação sofrida por essa parcela da sociedade, como justificativa a sua orientação sexual. Mas alguns cidadãos repudiam essa classe e incitam e praticam crimes de ódio, perpetuam o preconceito.

O Estado tem a o dever de tutela sobre eles, protegendo e criando direitos para sua proteção.

O reconhecimento legal dos direitos dos LGBTs na esfera cível, vem aumentando exponencialmente. A permissão para o casamento é um exemplo disso. No ano de 2011, um julgamento do Supremo Tribunal Federal garantiu diversos direitos a essa classe como o reconhecimento da união estável entre

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pessoas do mesmo sexo, promovendo a elas os mesmos direitos de um casal heterossexual e se tornando-se uma unidade familiar como qualquer outra. Diante de tal benefício, passam a ter direitos como pensão alimentícia, plano de saúde, pensão do INSS, adoção de filhos e herança, são alguns dos direitos já conquistados pelos homossexuais.

A Constituição Federal possui dispositivos que tem a finalidade de evitar o preconceito e a discriminação em razão das garantias individuais, e dos direitos fundamentais.

O artigo 5º da Constituição Federal em seu caput dispõe:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (BRASIL, 1988)

Conforme se vê o disposto no artigo 5º caput, mesmo garantido a todos o direito à vida, a liberdade, à igualdade e a segurança, tais garantias são ignoradas diariamente pelo poder público e legislativo, que não legislam e nem protegem essa minoria.

Sendo assim, o poder judiciário que exara decisões que estabelecem alguns direitos aos homossexuais, como o reconhecimento de relação entre pessoas do mesmo sexo, demandas que são voltadas sobre identidade de gênero, mas não supre todas as necessidades dessa classe tão esquecida.

O Artigo 3º da Carta Magna tem como objetivo fundamental para a República Federativa do Brasil a promoção do bem a todos, sem preconceitos de nenhuma origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Salienta-se que sexualidade é um bem jurídico que está sob tutela do ordenamento, logo, deve ser protegido, garantindo a essa minoria um a vida sem preconceitos e discriminações, pois tais práticas violam diretamente a Constituição Federal e devem ser criminalizadas.

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O Direito Penal tem como missão a proteção do bem jurídico, os bens jurídicos são possuidores de proteção legal. O legislador é o responsável pela valoração de determinados interesses da sociedade que estejam sob ameaça de dano e transformar esses interesses em bens jurídicos.

O legislador não poder criar bens jurídicos utilizando critérios de oportunidade e conveniência é necessário que tal bem tenha representatividade social. Os bens protegidos devem ser originários da Constituição da República Federativa do Brasil dos seus preceitos. E nesse sentido o discurso de Rogério Greco:

De acordo com a visão minimalista, O Direito Penal tem a finalidade de proteger os bens mais importantes e necessários ao convívio em sociedade, e essa proteção se dá, justamente, por intermédio dos tipos penais existentes não somente na Parte Especial do Código Penal, como também na chamada legislação penal extravagante ou extraordinária. Uma vez eleita e afirmada a finalidade do Direito Penal, outras questões devem ser colocadas. Assim, se a finalidade do Direito Penal, segundo posição majoritária da doutrina, é a de proteger esses bens considerados vitais para a manutenção da própria sociedade, qual o critério a ser adotado para se chegara essa noção de importância? Sabemos que esse conceito de importância é relativo e varia de sociedade para sociedade.

Para a proteção dos bens jurídicos o direito penal desempenha um papel subsidiário para os outros campos jurídicos, o direito penal intervém de forma mínima na criminalização de várias condutas, é utilizado como última opção para a soluções dos problemas sociais.

Deve se observar que nem todos os bens jurídicos que são previstos na Constituição da República Federativa do Brasil devem ser transformados é um bem jurídico da esfera penal, os bens que são considerados devem ser protegidos.

A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe em sua redação normas que possuem o objetivo de impedir o preconceito e a discriminação, sendo estes direitos fundamentais.

O artigo 5º, inciso XLI traz em seu texto que a lei deverá punir qualquer forma de discriminação que atente contra os direitos e liberdades fundamentais. Ou seja, qualquer tipo de discriminação é proibido pela a lei.

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

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O Estado democrático de Direito utiliza o Direito Penal como instrumento para garantir e proteger direitos.

Normas são criadas para a proteção de determinadas pessoas que são excluídas da sociedade por algum motivo. Um exemplo é a Lei 7.716/06, conhecida como a Lei do Preconceito, que tem o objetivo de impedir o preconceito a determinados grupos considerados minoritários.

4. ASPECTOS JURÍDICOS DA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA

O sistema jurídico atual pode incluir ou excluir uma determinada demanda de sua proteção. O Direito Penal como integrante desse sistema determina qual conduta é criminosa ou não. Perante a prática desenfreada da homofobia na sociedade, se torna necessáriaa tipificação legal da discriminação ocasionada pela orientação sexual e pela identidade de gênero.

A violência contra a população LGBT evidencia a vulnerabilidade social a que eles estão expostos diariamente, em razão de sua orientação sexual ou da sua identidade de gênero e em razão de uma sociedade heteronormativa.

A discriminação sofrida por essa classe a falta de direitos a violação direta de bens jurídicos protegidos na esfera constitucional e criminal, tornam-se problemas diretos para a esfera jurídica.

Borrillo faz menção à violência sofrida:

A violência homofóbica ocorre frequentemente diante de uma população indiferente e insensível ao problema. Diariamente nos chega a informação de inúmeras lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais vivendo com medo de sofrer agressões decorrentes de sua orientação sexual. Cada insulto proferido lembra a todos da existência de uma ordem sexual vigente e sua hierarquia. (BORRILLO, 2009).

A homofobia pode se caracterizar a através da injúria, lesão corporal ou homicídio. A falta de legislação específica sobre homofobia traz dificuldades para polícia identificar os agressores, tornando-os os impunes.

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Se se o crime for homofóbico, deve constar nos instrumentos da polícia, conforme Rigaud.

A homofobia em si não é crime, o que pode ser crime é a forma que ela se manifesta: injúria, lesão corporal, homicídio... Desde 2013, com a Portaria Conjunta SEDSDH/SDS/SAG Nº 4818, a motivação homofóbica deve constar nos instrumentais da polícia e isso já é um avanço em termos de estatística, até para que esse possível perfil possa ser traçado. Os crimes com motivações homofóbicas, lesbofóbicas ou transfóbicas entravam nas estatísticas comuns, tornando a identificação do perfil do autor menos precisa. (RIGAUD, 2014).

A agressão verbal pode desencadear ou provocar transtornos psicológicos àqueles que sofrem injúria, pois tal ação tem prejuízo tão grande na vida do ser humano que não se pode diminuir ou omitir a sua importância. Borrillo explica o real significado da agressão verbal.

Presente nos insultos, nas piadas, nas representações caricaturais e na linguagem cotidiana, a homofobia aponta gays e lésbicas como criaturas grotescas e desprezíveis. A injúria constitui a injunção da homofobia afetiva e cognitiva na medida em que as expressões pejorativas, uma vez pronunciadas, não são simplesmente palavras lançadas ao vento. São agressões verbais que marcam a consciência. São traumas gravados na memória e no corpo (pois a timidez, a insegurança, a vergonha são atitudes corporais resultantes da hostilidade do mundo exterior). Uma das consequências da injúria é o remodelamento da relação com os outros e com o mundo – é, portanto, a reconstrução da personalidade, da subjetividade e do próprio ser. A violência em estado puro que representa a homofobia psicológica não é nada mais que a internalização paradigmática de uma atitude anti homossexual, a qual atravessa a história das sociedades. (BORRILLO, 2009).

A Declaração Universal dos Direitos Humano- DUDH em seu artigo 7º estabelece que todos tem direito a proteção contra qualquer tipo de discriminação.

Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

A criminalização da homofobia afirmaria o respeito a ordem jurídica e aos preceitos constitucionais. A criminalização reconheceria que a discriminação em

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razão da orientação sexual ou identidade de gênero não deve ser tolerada, pois a liberdade sexual é um bem jurídico fundamental.

Maria Berenice discorre que já existe no ordenamento jurídico leis voltadas ao preconceito contra idosos e crianças, lei de discriminação em razão da cor mas não há nenhuma lei que criminalize a homofobia.

Para regulamentar o comando constitucional, a Lei 7.716/89 criminaliza o preconceito de raça ou de cor. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso atentam contra o preconceito em razão da idade. O Estatuto da Igualdade Racial visa a evitar a discriminação em face da cor. No entanto, a vedação constitucional de preconceito em razão de sexo – que alcança a discriminação por orientação sexual ou identidade sexual – prossegue sem uma legislação que criminalize atos de homofobia.

O Estado deve atuar de forma ativa para impedir a discriminação a essa classe, pois o princípio da igualdade assegura a todos os seres humanos a sua dignidade, porém a dignidade e a liberdade da população LGBT e cerceada pela falta de dispositivos legais que protejam a sua liberdade sexual.

A falta de leis cria transtornos de segurança pública, pois tais cidadãos sofrem ataques físicos e psicológicos todos os dias, pois os bens jurídicos assegurados pela Constituição da República Federativa do Brasil não são para todos, uma vez que o poder legislativo ignora o martírio da população LGBT.

A criminalização da homofobia na câmara divide opiniões, gerando assim, uma fragilidade nesse tema, que necessita urgentemente de mudanças legais. Grande parte dos legisladores omitem-se ou impedem a aprovação de projetos que criminalizam a homofobia ou que garanta direitos aos homossexuais, por medo de serem taxados como LGBTs. O projeto de lei da câmara Nº 122 de 2006 tinha o objetivo de alterar a lei nº 7.716/89 lei do racismo, §3º do artigo 140 do código penal, e ao artigo 5º da consolidação de leis trabalhistas, foi arquivado em definitivo.

Mas ainda estão em tramitação no Congresso Nacional os seguintes projetos de lei que criminalizam a homofobia a PSL 236/12 que reforma o Código Penal e inclui na nova redação do código penal a criminalização da discriminação por homossexuais. A PSL 457/2011 que altera a redação do Código Penal em determinados artigos, inclui no §3º do artigo 140 que dispõe os fundamentos da injúria qualificada, a orientação sexual e a identidade de gênero.

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59 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi desenvolvido no presente artigo, foi possível perceber a exposição da atual situação da população LGBT e o seu passado. A homossexualidade é um fato social existente até mesmo no reino animal, logo, a homossexualidade não é um problema e sim é a homofobia que merece atenção, pois ela gera inúmeros crimes hediondos, diversas situações preconceituosas e homofóbicas o alto número de violência contra os LGBTS comprova essa realidade.

A homossexualidade é uma opção sexual ou uma identidade de gênero escolhida, logo, esses indivíduos não devem ser tratados de forma discriminatória ou preconceituosa.

Os homossexuais alcançaram visibilidade na sociedade atual em razão dos movimentos relacionados ao homossexualismo sendo que por muito tempo foram deixados de lado por toda sociedade,

Somente uma lei que discorra sobre a criminalização não é suficiente para alterar a realidade dos LGBT. É necessária a conscientização de toda a sociedade e uma lei penal impulsionaria a mudança da imagem social que a classe LGBT, tem.

Apesar de ser apresentada a importância da criminalização da homofobia, o Congresso Nacional continua inerte e os projetos de leis que demandam sobre esses assuntos estão parados, porém, a homofobia e sua criminalização sempre vai ser uma pauta atual no Congresso, que precisa ser debatida e que precisa de uma solução para a classe LGBT.

Ordenamento Jurídico não pode ser omisso em relação a esse problema social, não pode negligenciar essa população que necessita urgentemente de proteção jurídica. É necessário que o Estado Democrático de Direito evolua conforme as necessidades da sociedade e cumpra o seu papel perante todos os indivíduos e a suas necessidades, pois a falta de lei fere direitos e as garantias fundamentais previstas na Constituição da República Federativa do Brasil.

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60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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