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A Violência de Jesus

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Academic year: 2020

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Resumo: as tradições religiosas, através de seus textos sagrados, nos revelam situações e acontecimentos comuns também em nossos dias. Em especial no que diz respeito à violência, os textos sagrados são ricos em testemunhos. A Bíblia, como texto sagrado da tradição cristã, nos fala de inúmeras situações de violência. Na passagem de Lucas 10.25-37, Jesus confronta o ser humano com sua capacidade de comprometer sua própria humanidade. Da violência praticada pelo ser humano contra seu semelhante, Jesus edifica um novo paradigma, fundamentado no resgate da dignidade do ser humano.

Palavras-chave: violência, bíblia, humanidade, cuidado, com-paixão

Flávio Schmitt

A VIOLÊNCIA DE JESUS

D

e uma ou de outra maneira, as religiões sempre de novo são

chamadas a compor o cenário quando o assunto é violência (GIRARD, 1990). Muitos são os debates, de ontem e de hoje, acerca do papel exercido pelas religiões seja na promoção da violência como na promoção da paz. Os grandes líderes da humanidade são lembrados, via de regra, pelo que promoveram de violência ou de paz.

Difícil deixar de reconhecer que nenhuma das grandes religiões da atualidade pode se eximir de culpa em cartório quando o assunto é violência. Lamentavelmente, em nome de seus valores mais sagrados, tanto judeus, cris-tãos, como muçulmanos, tem lançado mão da violência para conseguir, manter ou expandir seu horizonte de influência sobre pessoas, culturas e povos.

Ainda que a existência histórica das religiões seja ambígua, seus ensi-namentos, fundamentos e princípios estão carregados/fecundados/prenhes

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de orientações, valores que buscam a constituição de uma realidade onde as pessoas e seus corpos, além de serem preservados, tenham dignidade, vida e segurança.

Entre os muitos textos das tradições religiosas que tratam da violên-cia, está a parábola de Lucas 10,25-37. Trata-se de um texto da tradição cristã, do Novo Testamento, e cuja interpretação, no geral, tem focado o samaritano em sua ação.

Não são poucos os textos que descrevem a maldade, os desvios morais, a idolatria e pecaminosidade dos samaritanos. Inclusive se busca na história os argumentos para dizer o quanto de fato os samaritanos são maus, idólatras, como se nem humanos fossem. Pra reforçar essa imagem construída em torno dos samaritanos, são invocados elementos religiosos, confirmados pela visão dos judeus do sul, da tribo de Judá, que não conse-guem ver os samaritanos como membros do povo de Deus e herdeiros das promessas divinas.

A surpresa é parte da nossa discriminação. O texto fala como se alguém, só por ser samaritano, não possa ser humano. Ficamos surpresos com o fato de um samaritano, um simples samaritano, ser capaz de tamanha compaixão. É claro que o texto também tem interesse em apontar para a hipocrisia daqueles que se dizem portadores ou representantes de Deus. Em princípio, aqueles que deveriam dar o exemplo, deles é que se pode esperar menos.

O samaritano da história há muito foi classificado como “bom”. O que efetivamente se pretende dizer quando se fala de ”bom samarita-no”? Se o samaritano é “bom” por conta do que faz, certamente o texto impõe um grande questionamento para a grande maioria das pessoas, especialmente em nossos centros urbanos desumanizados. O ser bom do samaritano está relacionado com sua ação.

O presente artigo trata de auscultar o texto de Lucas 10,25-37 na perspectiva da violência que nele está espelhada. Trata-se de uma tentativa de articulação do discurso sagrado em vista da superação da violência pro-tagonizada pelos seres humanos.

O TEXTO1

25 Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à pro-va e lhe perguntou: “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?”

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lê?”

27 Ele respondeu: “ ‘Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’”.

28 Disse Jesus: “Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá”. 29 Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”

30 Em resposta, disse Jesus: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. 31 Aconteceu2 estar descendo pela mesma estrada um sacerdote.

Quando viu o homem, passou pelo outro lado.

32 E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.

33 Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.

34 Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.

35 No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: “Cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”.

36 “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”

37 “Aquele que teve misericórdia dele”, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: “Vá e faça o mesmo”.

A primeira coisa que salta aos olhos ao se ler esta passagem é a bru-talidade que nele é revelada. O nível de violência em nada deixa a desejar em relação às cenas e fatos com os quais diariamente somos confrontados em nosso dia-a-dia. É lamentável que nós humanos tenhamos memória de situações como está registrada justamente num texto sagrado. Mais lamen-tável ainda é que Jesus tenha que se valer de uma cena tão cruel e terrível para falar do amor, da misericórdia, da solidariedade, da nossa essência humana tão desfigurada.

Muito antes de olhar para o ensinamento de Jesus, antes mesmo de focar a ação do samaritano, qualquer pessoa sensata, com um mínimo de humanidade, deveria se indignar diante da violência descrita no texto. É humanamente inconcebível que nós, enquanto humanos, sejamos capazes de tamanha atrocidade.

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Pior ainda é constatar que, depois de mais de dois mil anos de tradição cristã, não avançamos em nada na superação desta realidade. Pelo contrário, a impressão que o cotidiano nos passa, é que temos nos aperfeiçoado nos sistemas de morte. A PARÁBOLA

A tradição e familiaridade com certos textos bíblicos têm contribuído com uma leitura das parábolas carregada de princípios interpretativos que ofuscam seu conteúdo e sentido. Os títulos e nomes atribuídos a certas passagens muitas vezes desempenham a função de chave de interpretação. Desse modo, tendem a condicionar nossas leituras. Com Lucas 10 não é diferente.

É comum ouvir que Jesus usou de parábolas para ilustrar seu ensina-mento. (JEREMIAS, 1976). Nessa afirmação se pressupõe que a parábola em si não é um ensinamento. Porém, é difícil não reconhecer que a própria parábola já é um ensinamento e um aprendizado.

Diante dos fatos da vida, torna-se secundário saber se Jesus fez uso das parábolas em perfeita concordância como método de ensino ministrado ao povo pelo templo e pela sinagoga. O fato de escribas e fariseus fazer grande uso das parábolas e da linguagem figurada não muda em nada as imagens e realidades que o texto evoca nos leitores.

Ainda que do ponto de vista literário possamos identificar as parábolas como um gênero com características próprias e específicas em relação a outros recursos literários, e ainda que Jesus tenha empregado o gênero parábolas, como ninguém antes nem depois dele, como estratégia de comunicação; ainda assim os fatos que revela continuam tendo seu sentido e brutalidade. Mesmo que algumas parábolas sejam mais breves, outras mais longas, algu-mas mais difíceis outras mais fáceis de serem entendidas, algualgu-mas coloquem maior ênfase no conteúdo moral e outras numa suposta verdade espiritual; a parábola é apenas um meio, muito eficaz por sinal, de tratar de realidades que não deveriam ser ofuscadas por este meio, este recurso de linguagem, por mais relevante que possa ser considerado.

Nesse sentido, a simples nomeação de um texto como parábola e sua conseqüente titulação, contribui decisivamente para que os leitores de hoje já não mais consigam perceber o que efetivamente está em jogo quando nos acercamos de uma passagem bíblica dessa natureza.

Diante de todas as evidências da vida, diante das perguntas existenciais que possam ser formuladas, o texto de Lucas nos diz que há uma realidade a ser considerada: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu

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nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto”. Diante deste fato a pergunta “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?” e “E quem é o meu próximo?” do doutor da lei e a palavra de Jesus no final da passagem “Vá e faça o mesmo”, merecem outro direcionamento.

Sob o ponto de vista literário, chama atenção a dinamicidade do texto. Trata-se de um texto em constante movimento. Há um constante ir e vir, um chegar e passar. É um texto de muita ação. O que devo fazer, vai e faze, um homem descia de Jericó a Jerusalém, caiu nas mãos. Os assaltantes se foram, o sacerdote passou, o levita chegou, aproximou-se, levou-o, quando eu voltar, e por fim, vá e faça o mesmo, são alguns dos verbos utilizados para expressar todo esse movimento intenso. Na intensidade do movimento o texto trata de dizer que o samaritano vai até lá onde os demais não quiseram ir.

O verbo ver aparece nos versículos 31, 32 e 33. É na realidade sus-citada pela ação de ver que as atitudes diante do assaltado se materializam. No ver está a raiz da reação do levita, do sacerdote e do samaritano. No entanto, somente o samaritano vê e se compadece. Nesse fato reside a grande verdade: não basta ver. É preciso tirar as conseqüências práticas daquilo que os olhos testemunham.

O verbo fazer, no imperativo, aparece no v. 28 e no v. 37. No final vem acompanhado de mais um imperativo “vá”. Estes dois imperativos do verbo de certa maneira, formam a moldura do texto. Trata-se de uma ordem para um estilo de vida ilimitado e irrestrito.

Também é sintomática a maneira como as interrogações se sucedem ao longo do texto. “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?”, “O que está escrito na Lei?”, “Como você a lê?”, “E quem é o meu próxi-mo?” e “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” são as perguntas que orientam toda a narrativa. LEITURA ALEGÓRICA

A leitura alegórica do texto de Lucas 10.25-37 nos remete a Agostinho. Dele sabemos:

O homem que desceu de Jerusalém para Jericó era Adão. Jerusalém representava a celestial cidade da paz da qual ele caiu, e Jericó era a mortalidade humana que ele herdara em conseqüência de sua queda. Os ladrões eram o demônio e seus anjos, que o despojaram de sua imortalidade. O sacerdote e o levita que passaram por ali do outro

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lado eram o sacerdócio e o ministério do Antigo Testamento, que não podiam salvá-lo. O bom samaritano foi o próprio Cristo, e seu ato de pensar e enfaixar as feridas foi a repressão do pecado. O azeite e o vinho que ele verteu nas feridas foi o conforto da esperança e o encorajamento para trabalhar com afinco. A montaria foi a carne com que Cristo veio à terra; a hospedaria foi a igreja e o estalajadei-ro o apóstolo Paulo. As duas moedas que recebeu em paga são os mandamentos de amar a Deus e amar ao próximo (AGOSTINHO apud DRANE, 1982, p. 116).

Esta engenhosa interpretação toma a história da salvação como prin-cípio interpretativo. Certamente também ela tem sua razão de ser, embora sua utilidade maior esteja justamente em mostrar como a leitura da bíblia era feita no passado.

A REVELAÇÃO

No centro do texto está um ser humano que se confronta com três interlocutores: assaltantes, um levita e um sacerdote. É diante deste ser humano que Jesus confronta reações, sentimentos e atitudes.

O primeiro encontro do ser humano de quem Jesus fala é com os assaltantes. Na menção aos assaltantes é revelada toda dimensão do egoísmo presente nos atos humanos. Quem assalta, e assaltar aqui é tirar a roupa, bater e deixar quase morto; são seres humanos. Não é nenhum animal, nem mesmo algum extraterrestre. São pessoas, seres humanos, como você e eu que praticam essa violência. Talvez a explicação para a existência de tantos assaltos esteja no fato do mesmo ser uma atitude tão humana.

Na filosofia do egoísmo está embutida a compreensão de que tudo o que é teu é meu, ainda que tenha que ser meu à força. Numa situação como a de um assalto, afloram inúmeras ações, sensações e emoções. Pra começar, um domina o outro. Além da dominação, surgem as conseqüências do exercício desta forma de poder e força: dor, humilhação, sentimento de impotência e dano. No assalto, um impõe ao outro, à força, sua vontade, seus caprichos; sem, contudo, abrir mão de seus prazeres ou direitos individuais. Um arranca do outro tudo o que tem de bom ou que possa lhe interessar e depois o joga fora. Na base deste relacionamento está o fato de que um derruba o outro, impede a sua condição de ser. A prostração denuncia o sentimento de derrota e impotência.

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física do ser humano, aquela pessoa de quem Jesus fala, também se confronta com a experiência da indiferença. Acontece que o sujeito da indiferença no texto não é qualquer um. Ao tratar da indiferença, Jesus parece dizer que a indiferença de ignorantes, de anônimos, essa eventualmente até possa ser tolerada, mas a indiferença de religiosos, de quem conhece, essa é uma violência insuportável.

Na filosofia da indiferença predomina a compreensão de que tudo o que é meu é meu e o que é teu é teu. Na raiz de um relacionamento patro-cinado pela indiferença está a demonstração de atitudes onde uma pessoa simplesmente não se importa com o destino da outra. As razões para tamanha indiferença certamente são muitas. No entanto, se expressam concretamente quando se demonstra não ter tempo para o outro, quando não se é capaz de se comover com a dor, as lágrimas e a condição do outro. O sofrimento do outro se torna algo distante e indiferente. Diante do relacionamento pautado pela indiferença, ser humano do outro não é priorizado em sua vida. Nessa forma de violência, mais sutil, não se esboça nenhum interesse em levantar o outro, em resgatar a vítima de sua condição de não-ser.

A terceira experiência do ser humano assaltado cria uma nova possi-bilidade de ser. Trata-se de um relacionamento onde verdadeiramente o mais importante é se importar com o ser humano. Neste encontro, aquele que passa, que está a caminho, verdadeiramente se importa com a condição de quem está à margem, ferido, machucado, com dor e recoberto de lágrimas. Aqui a superação do sofrimento alheio se torna parte da superação do sofri-mento da própria condição humana. No protagonismo deste encontro há cuidado e socorro. Alguém cuida, trata e cura as feridas do seu semelhante. Aparentemente, quem cuida tem todo o tempo do mundo para cuidar de quem precisa ser cuidado. Quem se importa com o destino do outro não mede esforços, inclusive financeiros, para agilizar o processo de restabeleci-mento da vida.

Na maneira como é apresentada a intervenção do samaritano3 Jesus

denuncia todo preconceito alimentado pelos judeus. Chama atenção que Jesus não emprega nenhuma classificação cultural, apenas fala “um homem descia”, e ainda assim revela todo preconceito relacionado com os samari-tanos. O mesmo gesto que desmascara o preconceito, revela a condição de resgate da dignidade.

Na filosofia presente no relacionamento desencadeado pelo terceiro encontro está a compreensão de que tudo que é meu é teu, e como tal, deve estar a serviço da tua e da minha vida. A prioridade é o outro em sua vida. A vida ameaçada do/a outro/a deve ser a prioridade de quem busca a vida.

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O samaritano faz o que está ao seu alcance naquele momento para resgatar a vida do outro da ameaça a que está relegada. Este fazer o possível implica em ir até o limite das próprias forças e, em sendo necessário, buscar inclu-sive forças e ajuda externa, para restabelecer a pessoa do outro, seu corpo e sua saúde. Na base deste encontro está o desejo de que o outro seja curado, restabelecido em sua condição de ser humano.

De fato, o cenário e a cena relatados por Jesus remetem a única condição de relacionamento capaz de levantar o ser humano em sua humanidade ameaçada. Levantar o/a outro/a, especialmente o/a outro/a que se encontra caído/a, à margem do caminho, ferido e machucado, é o mínimo que se deveria esperar de qualquer ser humano. Este é o único caminho capaz de desencadear um relacionamento verdadeiramente digno daquilo que poder ser considerado propriamente humano, nossa humanidade. Nesse sentido, o samaritano não tem nada de bom, apenas expressa a humanidade que lhe é própria enquanto ser humano. Humanidade essa que deveria ser familiar a cada ser humano, inclusive ao levita e sacerdote.

CONCLUSÃO

Três grupos de pessoas se fazem representar nas atitudes em relação ao ser humano assaltado. Primeiro aqueles que fazem o contrário do que deveriam fazer, protagonizam a ação que atenta contra a integridade física de seu semelhante. Em seguida, aparecem aqueles que deixam de fazer o que deveriam, ou seja, comprometem a dignidade do ser humano pela omissão e pela indiferença. Por último, a narrativa de Lucas nos confron-ta com aquele que faz o que deve ser feito, a saber: socorrer quem está ameaçado, tratar de quem está ferido e machucado.

Não é de hoje que se sabe que o egoísmo só pensa em explorar e derrubar o/a outro/a, que a indiferença nada faz para levantar quem estiver caído e que só o verdadeiro amor nos faz ir ao limite das nossas forças para resgatar e salvar nosso semelhante da sua condição de desumanidade.

Contudo, não obstante esta sapientia, nos humanos continuamos tão cruéis como fomos no passado. O pior disso tudo, é que aparentemente, não há perspectivas de que este paradigma venha a ser superado. Podemos até discutir as condições históricas que contribuem para a simples existência e do próprio aumento da violência que se expressa num assalto, por exem-plo. Porém, enquanto a nossa condição não for resgatada para a dimensão da compaixão e do amor para com qualquer ser humano, a violência não

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somente será uma realidade, mas continuará a impregnar sua brutalidade na vida de nossos semelhantes pela indiferença e omissão.

Notas

1 Texto grego do Novum Testamentum Graece de E.Nestle; Erwin Nestle e K.Aland (27.ed.). A versão

utilizada está baseada na Nova Versão Internacional (NVI).

2 Discute-se se a expressão grega kata synkyrian do início do versículo deva ser traduzida por ‘casualmente’

como na versão de Almeida e da Bíblia de Jerusalém. Por se tratar de uma palavra derivada do verbo

sunkyreuo (coincidir), a tradução mais apropriada deveria expressar o elemento da coincidência, ou

seja, do fato não premeditado, nem planejado.

3 A fama dos samaritanos era notória nos tempos de Jesus. A origem remonta aos tempos da Samaria,

então capital do Reino do Norte. A reputação era tamanha que nos cultos, nas sinagogas judaicas, os samaritanos eram amaldiçoados. A Mishna chega a declarar que “Aquele que come o pão dos samaritanos é como aquele que come a carne de suínos” (JEREMIAS, 1983, p. 464ss).

Referências

BAUER, Walter; ARNDT, William; GINGRICH, F. Wilbur. A Greek-English Lexicon of the New Testament and other early Christian literature. Fourth revised and augmented edition, 1952 Chicago: The University of Chicago Press, Cambridge: At the University Press, 1967.

NESTLE, Eberhard; NESTLE, Erwin; ALAND, Kurt. Novum Testamentum Graece. 27. ed. rev. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1993.

BÍBLIA SAGRADA (Português de Almeida). [s. l.]:Editora Vida, 1981. [melhores textos em Hebraico e Grego]

BÍBLIA SAGRADA (Português de Almeida). 2. ed. rev. atual. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

BÍBLIA Nova Versão Internacional (NVI). Disponível em: <http://www.irmaos.com/bibliaonline/ ?busca=Lucas%2010:25-37>. Acesso em: 12.09.2009.

DRANE, John. Jesus: sua vida, seu evangelho para o homem de hoje. São Paulo: Paulinas, 1982. GIRARD, René. A violência e o sagrado. São Paulo: Paz e Terra; Edunesp, 1990.

JEREMIAS, Joachim. As parábolas de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1976. (Nova Coleção Bíblica). _____. Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisas de história econômico-social no período neotestamen-tário. São Paulo: Paulinas, 1983.

KONINGS, Johan. Jesus nos evangelhos sinóticos. Petrópolis: Vozes, 1977.

KUNZ, Claiton André. “Vai, e procede tu de igual modo”: uma análise da Parábola do Bom Samaritano. Anais do Salão de Pesquisa da Faculdades EST, São Leopoldo, EST, p. 73-90, v. 8, 2009.

Abstract: through their sacred texts, religious traditions reveal situations and events which are also common nowadays. In particular with regard to violence, the sacred texts are rich in testimonies. As sacred text of the Christian tradition, the Bible tells us of many situations of violence. In the perícope of Luke 10.25-37, Jesus confronts the human being with his ability to commit his own humanity.

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From the violence of humans against their fellow humans, Jesus builds a new paradigm, based on the recovery of human dignity.

Key words: violence, Bible, humanity, care, compassion

FLÁVIO SCHMITT

Doutor em Ciências da Religião. Professor de Bíblia, Novo Testamento, na Faculdade EST, em São Leopoldo (RS

Referências

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