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Estatuto do Torcedor e a Criminalização das Torcidas Organizadas

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ESTATUTO DO TORCEDOR

E A CRIMINALIZAÇÃO

DAS TORCIDAS

ORGANIZADAS*

LUÍS HUMBERTO EVANGELISTA VIEIRA**

A

s Torcidas organizadas tiveram seu início nos anos 40 como organização destina-da a unir torcedores em comum, fomentando a reunião dos mesmos em eventos esportivos, objetivando sem fins lucrativos, fiscalizar, incentivar e apoiar o clube e deixando de ser somente espectador dos espetáculos.

Neste âmbito as torcidas organizadas, em sua grande maioria se formaram em tor-no do futebol, que é o esporte mais popular e abrange a maior quantidade de torcedores, alcançando enorme complexidade e extensão no território brasileiro.

Desta forma essas entidades sem fins lucrativos e com muitos torcedores, incenti-vados pela rivalidade esportiva, que migrada para o campo pessoal de associados com índole criminosa, transformou os espetáculos futebolísticos em arenas de embates onde cada torce-dor deve escolher seu lado.

É neste sentido de moralizar, regulamentar de forma transparente que inaugurou neste sentido a lei 9.615, de 24 de março de 1998, popularmente chamada de Lei Pelé, pois Resumo: este artigo tem como escopo o estudo das chamadas torcidas organizadas,

obje-tivando assim estabelecer parâmetros para entendimento de sua regulação, historicidade em nosso país e a viabilidade da aplicação das legislações pertinentes, como forma de reduzir a violência nos eventos esportivos. Neste viés se insere principalmente o futebol como referência de esporte nacional e patrimônio cultural Brasileiro. O estudo em re-ferência buscou analisar o estatuto do torcedor, sua historicidade e outras legislações, e experiências realizadas para mitigar os efeitos da violência nos espetáculos e a eficácia jurídica do mesmo que possibilitou a participação pacífica da sociedade em geral.

Palavras-chave: Estatuto do Torcedor. Legislações. Regulação jurídica.

* Recebido em: 10.08.2014. Aprovado em: 20.08.2014.

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é considerada a exteriorização da intenção do legislador melhorar as condições desportivas brasileiras que em paralelo com o Estatuto do Torcedor fixam bases do desporto brasileiro.

O Estatuto do Torcedor não tem sua abrangência somente às torcidas organizadas, mas também a toda amplitude das atividades esportivas, envolvendo dirigentes, organizações, organizadores, torcedores não filiados a torcidas, fornecedores e prestadores de serviços in-trínsecos a atividades desportivas, além de pacificar muitos pontos controversos na realização de atividades desportivas, o que provocou severas críticas de dirigentes.

O Futebol considerado como principal atividade esportiva é considerada como pa-trimônio cultural brasileiro e de elevado interesse social, motivo este de notório conhecimen-to internacional e extrema rivalidade, principalmente entre os times nacionais, dentro dos campeonatos regulares durante o ano.

Neste enfoque se inserem as torcidas organizadas que polemizam pela grande rivali-dade, quantidade de membros, mobilização e hodiernamente pela violência, que despertaram mais mobilização e atenção de seus integrantes que a atividade esportiva em si.

Com as regulamentações jurídicas, e sanções aplicadas houve uma pacificação nos outros entes abrangentes do Estatuto do Torcedor, permanecendo em muitos casos a questão da violência das torcidas, razão da necessidade de analisar o tema, e abordar o estudo em rela-ção da criminalizarela-ção das torcidas organizadas pelo ordenamento jurídico brasileiro.

CONTEXTO HISTÓRICO ESTATUTO DO TORCEDOR

No que se refere à violência de torcidas em eventos esportivos no mundo, seu início foi com aglomerações nos estádios e arquibancadas que de registram no mundo desde 1880 na Inglaterra, mas somente em casos isolados. Posteriormente houve casos em 1950 também na Inglaterra.

As torcidas organizadas têm a sua participação em eventos esportivos no Brasil des-de os anos 40, ondes-de tinham por base a voluntariedades-de e exclusivamente criadas para assistir jogos e exibições esportivas, sem outra motivação a não ser a paixão e a solidariedade ao time de admiração.

Em referência ao time que teve a primeira torcida organizada no Brasil existem divergências, mas muitos autores relatam como o São Paulo Futebol Clube como o primeiro clube com torcida em nosso país no ano de 1940, outros relatam como o Flamengo, através da charanga do flamengo, como o antropólogo Luís Henrique de Toledo (1997, p. 21).

Neste enfoque as referidas torcidas eram denominadas torcidas voluntárias, com poucos membros e sem hierarquização entre seus participantes, que se encontravam nos jogos de futebol para assistir e findo os mesmos, comentar o desempenho do time após o jogo.

Seguindo este raciocínio evidencia Correia Sobrinho (1997, p. 02):

A primeira forma dessa manifestação, por exemplo, é denominada, por alguns pes-quisadores, de torcidas voluntárias. Torcidas que, no início da nossa história do fute-bol, se reuniam única e exclusivamente em consequência dos jogos e tinham como elemento unificado a paixão, ou a simpatia, que nutriam por um ou por outro clube. No Brasil a primeira torcida com os moldes similares aos hodiernos teve seu surgi-mento nos anos 60, com o surgisurgi-mento das nomeadas torcidas organizadas, que exprimiam

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um embrião de uma estrutura organizada e com divisão de atribuições entre seus integrantes. Neste período as torcidas assumiram uma hierarquia entre seus membros e participavam ativamente das rotinas dos times de predileção, significando assim a especificidade de seus integrantes.

Durante os anos 80 estas torcidas ganharam autonomia de seus clubes, tornando uma atração à parte e independente do clube de admiração, gerando crescimento sem prece-dentes e o início da violência, exclusivamente em eventos futebolísticos, que é a preferência nacional do brasileiro e cerne da rivalidade entre torcidas.

A partir dos anos 90 houve diversos embates violentos entre as torcidas organizadas, despertando a atenção da mídia e causando clamor popular. Este tipo de violência gratuita, com motivação fútil e com muitas mortes desperta a racionalidade no sentido de entender suas causas.

O esporte como faz parte das relações humanas despertou interesse das Ciências Jurídicas conforme assevera Capez (2003, p. 119).

Nos dias de hoje, é parte integrante das relações humanas e da vida em sociedade, e por essa razão seus processos de realização, criados ou transformados, despertam o interesse do direito civil e penal, sem falar da necessidade de regras disciplinares de caráter administrativo.

Neste ambiente, os torcedores organizados, são atualmente caracterizados princi-palmente por um comportamento coletivo, com vestimentas em alusão ao time, canções e gritos de guerra, bandeiras entre outros apetrechos, que influenciados pelo apelo comercial da própria torcida, e altos preços de venda, geram grande lucratividade as torcidas organizadas.

Para regulamentar a atuação em eventos esportivos houve diversas leis sancionadas entre elas a chamada Lei Pelé, n.9615/98 e sua atualização Lei n.9.981/2000, o Estatuto do torcedor, Lei n.10.671/2003 e sua atualização Lei 10 n.12.299/2010, a Lei da Moralização do Futebol n.10.672/2003 e a Lei n.11.438, de 2006, Lei de Incentivo ao Esporte.

Entre os principais destaques há que se salientar a Lei n.10.671/2003, que inclui como patrimônio cultural brasileiro, toda organização desportiva e revela a consagração de preceitos Constitucionais dos artigos 215 e 216, conforme texto da Lei da Moralização do Futebol que em seu artigo 3° corrobora:

§ 2º A organização desportiva do País, fundada na liberdade de associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado interesse social, inclusive para os fins do disposto nos incisos I e III do art. 5º da Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993 (BRASIL, 1998).

O Estatuto do Torcedor estabeleceu inovações no esporte, impulsionado por mu-danças estruturais efetuadas, tanto pela Lei Pelé, quanto pela Lei da Moralização do Futebol, que estabeleceram parâmetros a serem seguidos e marco inicial para outros dispositivos.

Com esse objetivo o Estatuto ampliou a responsabilidade pela segurança, incluindo não só ao Estado, mas a todos que promovam, participam, organizam ou coordenam eventos e fixa como competente os Tribunais de Justiça Desportiva para decidir e ajudar em medidas preventivas da violência.

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Mesmo com a criação do Estatuto do Torcedor e legislações correlatas ainda tem casos de belicosidade dentro e fora dos estádios, razão esta da existência do recente parecer da Co-missão de Constituição e Justiça da Câmara aprovando o parecer para instalação de uma CoCo-missão Parlamentar de Inquérito, objetivando apurar as responsabilidades sobre as mortes causadas por torcedores bem como, a possível ligação destes com tráfico de drogas e armas. O projeto de autoria do Deputado Federal Lincoln Portela que neste sentido argumenta:

São fatos seguidos que vêm acontecendo em todo o Brasil e precisamos dar um basta. As torcidas organizadas continuam fomentando a violência. Há acusações de tráficos de drogas e de armas, de lavagem de dinheiro e da violência, propriamente dita. Nós não podemos perder o brilho e a alegria das torcidas. Nós não podemos generalizar que todas as torcidas organizadas são violentas e partem para os crimes, mas, por outro lado, não podemos deixar de apurar aquelas que estão praticando os delitos1.

Para prosseguir com este estudo se faz necessário analisar o funcionamento e as ex-periências com torcidas organizadas de outros países, no que se evidencia a Inglaterra com a chamada e temida Hooligans e até mesmos seus efeitos denominados hooliganismo.

O futebol Inglês foi marcado por extrema violência, principalmente pelos chama-dos Hooligans, que protagonizaram a tragédia de Heysel, em Bruxelas, durante a Copa chama-dos Campeões na final entre Juventus e Liverpool em 1985, culminou no confronto entre torci-das sendo 38 pessoas mortas e 454 feridos, sendo os hooligans acusados por utilizar de meios brutais para assassinar os rivais.

Em vez de futebol, o que se viu foi um inédito espetáculo de barbárie, horror e mor-te – patrocinado, mais uma vez, pelos torcedores ingleses, que nos últimos dez anos vêm espalhando o terror nos estádios da Europa com seu comportamento selvagem. Foram 38 mortos e 454 feridos, 270 dos quais hospitalizados. A tragédia acendeu potentes holofotes sobre essa nova espécie de bárbaros2.

Com base nesta triste experiência, as autoridades inglesas baniram dos estádios de futebol por cinco anos os Hooligans, bem como responsabilizaram penalmente os envolvidos. A partir deste episódio a Inglaterra tomou medidas que são consideradas referência no mun-do, entre elas rigidez da lei, alta vigilância nos estádios, ordens de expulsão, onde torcedores flagrados em violências tem um cadastro para impedir sua entrada em eventos. Nesta senda de medidas, uma das mais temidas é o banimento definitivo dos estádios, que evita novos casos de agressão.

Mas a experiência da Inglaterra motiva e estende os cuidados para fora dos estádios já na chegada dos torcedores a aeroportos, na venda nominal de ingressos, monitoramento por câmeras e proibições para torcedores banidos, o que resultou na diminuição de casos de violência e vandalismo nos espetáculos de futebol.

O Estatuto do Torcedor e as Leis relacionadas ao tema são de extrema importância para prevenir e sancionar a violência, e a experiência internacional se faz intrinsecamente ne-cessária, pois exemplifica que sem investimentos no setor de segurança e fim da impunidade e das mortes é impossível.

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INOVAÇÕES ESTATUTO DO TORCEDOR

O estatuto do torcedor que foi criado através da lei n° 10.671 de 2003, foi alterada pela lei n°12.299 de 2010, ampliou o referido estatuto, possibilitando a sua adequação aos novos ditames esportivos, sendo a sua modernização responsável por criar especificidades no esporte em seu sentido amplo.

Neste objetivo se expõe a indispensável necessidade de mudança de comportamen-to do comportamen-torcedor, principalmente na questão de segurança que foi abordado no estatucomportamen-to, sendo a alteração do diploma em 2010 que inseriu o conceito de torcedor e torcida organizada, como forma de responsabilizar ambos penalmente, por atitudes reprováveis, bem como inovou em diversos conceitos.

É o que leciona o Estatuto no artigo 2º-A:

Considera-se torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurídica de di-reito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade.

A torcida organizada, conforme previsão da alteração na lei 12.299 de 2010 tem responsabilidade civil objetivamente e solidariamente por atos de seus membros realizados nos estádios e suas imediações em expressa previsão do artigo 39- B:

Art. 39-B. A torcida organizada responde civilmente, de forma objetiva e solidária, pelos danos causados por qualquer dos seus associados ou membros no local do evento esportivo, em suas imediações ou no trajeto de ida e volta para o evento. Nesta mesma linha segue a ampliação da responsabilidade por atos danosos e vio-lentos, estendendo a responsabilidade para outros entes além do poder público, podendo estes ser pessoas físicas ou jurídicas, conforme seu artigo 1°- A:

A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entida-des recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos.

As inovações e melhorias foram estabelecidas no âmbito administrativo, cível e pe-nal dos eventos esportivos, sendo com a lei inserida os chamados juizados do torcedor, que possuem competência para processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes das atividades reguladas nesta Lei conforme previsão artigo 41-A:

Art. 41-A. Os juizados do torcedor, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pelos Estados e pelo Distrito Federal para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes das atividades reguladas nesta Lei.

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A lei 12.299 de 2010 inovou ao incluir espécies de crimes relacionados com o desporto entre eles a prática de tumulto ou incitação a violência, invasão de campo, fraude contra resultado da competição, e também a prática dos cambistas.

Neste sentido pelo referido diploma, há a caracterização dos crimes que não são crimes diretamente relacionados à violência, porém merecem o destaque como inovações importantes, pois podem influenciar deste modo os resultados dos jogos muitas ocasiões insuflando torcidas com a evidente manipulação dos resultados como é o caso da corrupção passiva desportiva (art. 41-C), corrupção ativa desportiva (art. 41-D) e estelionato desportivo (art. 41-E), conforme evidente no diploma:

Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva:

Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva:

Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qual-quer forma, o resultado de competição esportiva:

Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

Na sentença penal condenatória a lei 12.299 também permite ao juiz converter a pena de reclusão em pena restritiva ao comparecimento ás proximidades do estádio, ou a qualquer lugar que se realize os eventos esportivos pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, sendo requisitos que o agente seja primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de condutas previstas no artigo. Se o agente a descumprir injustificadamente, ela deve ser convertida em pena privativa de liberdade.

Nos ditames da proteção dos torcedores, e todas as pessoas relacionadas ao esporte e cercanias à lei 12.299 alterou a redação da lei 10.671 de 2003, e obriga que as torcidas or-à lei 12.299 alterou a redação da lei 10.671 de 2003, e obriga que as torcidas or- lei 12.299 alterou a redação da lei 10.671 de 2003, e obriga que as torcidas or-ganizadas mantenham o cadastro completo e atualizado de seus participantes como forma de prevenir a violência:

Art. 2o-A. Considera-se torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurí-dica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade.

Parágrafo único. A torcida organizada deverá manter cadastro atualizado de seus as-sociados ou membros, o qual deverá conter, pelo menos, as seguintes informações:

I nome completo;

II fotografia; III filiação;

IV número do registro civil; V número do CPF;

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VII estado civil; VIII profissão;

IX endereço completo; e X escolaridade.

Nesse ínterim a alteração do estatuto ampliou a proteção, considerando a violência nos trajetos de ida, volta e a praticada até 5000 metros dos eventos esportivos como sendo re-lacionados ao esporte, bem como proibir a posse de instrumentos que possam servir a prática de danos e a fomentar a belicosidade de torcidas e torcedores.

Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restri-to aos competidores em evenrestri-tos esportivos:

Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. § 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:

I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do local da realização do evento;

II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de violência.

Neste sentido de aumentar a proteção, em razão dos atos violentos, se faz visível e necessário por parte do estatuto coibir o preconceito e outras formas de discriminação no âmbito esportivo e delimitar o uso de itens proibidos nestes eventos merecendo destaque o artigo 13-A incluído ao Estatuto do Torcedor por força da Lei 12.299 de 2010, verbis:

Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei: [...].

IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com men-sagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;[...]

VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotéc-nicos ou produtores de efeitos análogos;

VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza; e [...].

A partir deste enfoque, é visível que situações violentas como o ocorrido no jogo do Corinthians e San José de Oruro na Bolívia poderiam ter sido evitadas, onde um jovem foi atingido por um sinalizador, oriundo da torcida corintiana, item esse que em eventos brasileiros é proibido a entrada, porém foi permitido pelas autoridades bolivianas, apesar da proibição da legislação boliviana, indício este que não basta a criação e endurecimento da legislação sem a

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condizente ação das autoridades, além de expor também que as torcidas brasileiras possuem alto nível de belicosidade, em contraponto as torcidas bolivianas que não tem registros de morte neste tipo de evento.

Com este pensamento assevera o jornalista e comentarista esportivo Ricardo Perrone: A morte de um boliviano do San Jose no jogo com o Corinthians pela Liberta-dores é reflexo de um hábito de torceLiberta-dores brasileiros que por sorte não faz víti-mas rotineiramente. Vândalos que costumam ficar perto da divisão das torcidas em grandes jogos atiram bombas e outros artefatos nos adversários como quem brinca com uma mangueira de água. É como se não machucasse, só fizesse barulho. E não é só a violência contra rivais que gera risco de acidentes. No Pacaembu, por exemplo, integrantes de organizadas do Corinthians deixam os locais em que suas torcidas ficam para acenderem sinalizadores ao lado de torcedores comuns, driblan-do os policiais. Pingam fogo nos outros, como se não queimasse, e nem dão bola. (Em:<http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/2013/02/morte-de-torcedor- http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/2013/02/morte-de-torcedor--boliviano-escancara-perigo-de-pratica-comum-nos-estadios-brasileiros/>. Acesso em: 15 ago. 2013).

A partir da breve análise, é evidente que a violência em eventos esportivos necessita de previsão na legislação, e amplo apoio dos órgãos e instituições, como forma de coibir atos violentos em eventos esportivos. Desta forma a legislação deve acompanhar os novos desafios e a lei 12.299 de 2010 renovou o estatuto do torcedor conferindo mais efetividade ao mesmo perante a crescente violência que impera nos estádios.

EFICÁCIA JURÍDICA DO ESTATUTO FRENTE ÀS TORCIDADAS ORGANIZADAS

No sentido da relevância do tema estudado, e os dispositivos abordados o estatuto do torcedor e sua posterior alteração, se insere como indiscutível melhoria na diminuição da violência em eventos esportivos, principalmente o futebol, que é o esporte mais apreciado no Brasil.

Tendo em vista a diminuição da impunidade e a maior responsabilização dos en-volvidos, com a ampliação dos responsáveis pela segurança trouxe um avanço enorme neste sentido, inserindo assim a iniciativa dos organizadores em melhorar e possibilitar um ambien-te saudável, mas como o direito acompanha as mudanças sociais exisambien-tem melhorias a serem realizadas, como medida de erradicar não só a violência nos estádios como a corrupção que já atingiu o meio esportivo.

Portanto o estatuto preveniu mortes desde a sua criação, razão esta do seu sucesso, servindo de parâmetro até mesmo para outros países, como medida necessária de prevenir e erradicar violência e a barbárie nos espetáculos.

A abrangência punitiva foi ampliada com o estatuto, dando exemplos que a impu-nidade está se afastando, gerando na massa o ideário que o estado realmente se interessa em resolver o problema e nos meliantes disfarçados de torcedores o temor das sanções punitivas, relativas aos atos realizados, porém há ainda a necessidade de maior ação por partes das au-toridades em se fazer cumprir a lei para que o referido estatuto não se torne um populismo penal como prevê o jurista Luiz Flávio Gomes:

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Quando, depois de certo tempo, se constata que o remédio anterior não funcionou, diante das novas demandas de mais punição, de mais rigor, o legislador solta do seu arsenal punitivo (da sua fábrica) mais uma batelada de leis, prometendo (nova-mente) que agora o problema (da insegurança) será definitivamente solucionado. É a clássica política do more and more of the same, ou seja, mais e mais do mesmo remédio milagroso que, desacompanhado de medidas preventivas concretas, não passa de uma nova enganação.

De enganação e enganação os legisladores vão vivendo e se reelegendo e o povo e a mídia continuam frustrados pedindo mais leis duras. Com isso as medidas preven-tivas concretas (que significa gastos e responsabilidade) vão sendo adiadas eterna-mente. E o povo que se dane com a violência deles de cada dia. ( Em: <http://www. lfg.com.br/>. Acesso em: 20 set. 2013).

Portanto é indispensável que o estado e as autoridades abandonem a problemática como forma de prevenir qualquer avanço e se modernizar no sentido aumentar a prevenção ao invés de somente reagir, neste sentido fica evidente a necessidade de acompanhamento das autoridades.

No tocar dos avanços alcançados, fica clara a preocupação dos clubes entre outros idealizadores de eventos esportivos em cumprir o estabelecido no estatuto, pois tem sua res-ponsabilidade pelo sucesso do evento sendo assim os mesmos tem contribuído para melhoria nas condições de realização e prevenção.Com esta observação explicita José Luiz Portella Pre-sidente do grupo de trabalho do Estatuto do Torcedor e colunista do jornal lance:

Se nem sempre a torcida se preocupa com a lei, os clubes já estão mais conscientes dos seus deveres. Considerados responsáveis por zelar para que o Estatuto seja cum-prido, os clubes mandantes e as organizações responsáveis pela competição passaram a respeitar com mais frequência algumas das normas estabelecidas, como a indica-ção de ouvidores dos torneios, orientadores nos estádios e a divulgaindica-ção de público e renda durante a partida, por exemplo. Nas alterações na lei em 2010, por sinal, foram levadas em conta as reclamações dos torcedores aos ouvidores. (Em: <http:// www.lancenet.com.br/minuto/acao-Estatuto-Torcedor-deslanchar_0_922107810. html/>. Acesso em: 20 set. 2013).

Desta forma o torcedor diante do estatuto experimentou um avanço não só na questão da violência dos estádios e arredores, como pode sentir esta chamada revolução tam-bém no que se refere as condições de realização destes eventos, propiciando uma diversão para os apreciadores do bom futebol e do esporte sadio.

CONCLUSÃO

Com o aumento da violência nos estádios e mortes oriundas de divergências es-portivas em nosso país se fez necessário uma atitude mais rígida e organizada por parte dos legisladores, sendo o Estatuto do Torcedor a medida adotada como forma de coibir a barbárie em eventos esportivos ou em suas proximidades.

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Estes níveis alarmantes e a história brasileira e mundial no tema se fez indispensável principalmente na formação e discussão para se atingir este grau de maturidade. A partir do Estatuto do Torcedor houve uma diminuição não só da violência, bem como a melhor orga-nização por parte dos participantes e organizadores que possuem como atividade lucrativa o evento esportivo.

Neste desafio houve uma convergência de diversos setores para melhoria conjunta culminando em um maior controle da atividade desportiva como um todo e atingir os desa-fios propostos.

Essa experiência possibilitou um incentivo à outros países que possuem um nível mais atrasado, no que tange a segurança em eventos esportivos e inseriu o Brasil como van-guarda, sendo a análise da sua implementação e avanço indispensável para entender o sucesso, bem como as dificuldades encontradas não só pelo legislador, como para as autoridades res-ponsáveis pela fiscalização, controle e repressão de conflitos a serem dirimidos ou explicitados.

O estatuto e seus resultados contribuíram para melhoria da imagem do Brasil no exterior assim como a aprovação do mesmo na Copa do Mundo entre outros eventos, sendo um fomento a atividade esportiva como um todo.

Neste breve estudo, que possui muitas possibilidades de análise, objetivou-se evi-denciar as melhorias e fraquezas do Estatuto do Torcedor e outras legislações sobre esportes no Brasil e as possibilidades de melhoria com vistas a ampliar a segurança em eventos desta espécie.

THE STATUTE OF FAN AND THE CRIMINALIZATION OF ORGANIZED GROUPS OF SOCCER FANS

Abstract: this Article is scoped to the study of organized supporters fans, thus aiming to establish

parameters for understanding their regulation, historicity in our country and the feasibility of implementing the relevant laws as a way to reduce violence in sporting events. This bias is mainly inserts football as reference national sport and cultural heritage Brazilian. The study sought to analyze the reference status of the fans, its historicity and other laws, and experiments to mitigate the effects of violence in spectacles and the legal effect of that which enabled the peaceful participa-tion of society in general.

Keyword: Fan Statute. Regulations. Legal regulation.

Nota

1 Cf. Lincoln Portella. Disponível em: <http://paraibaonline.com.br>. Acesso em: 27 de maio 2013. 2 Disponível em: <

http://veja.abril.com.br/blog/acervo-digital/em-dia/o-desastre-de-heysel-e-um-renasci-mento-do-futebol-ingles/>.Acesso em: 28 maio 2013.

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de 15 de maio de 2003; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 jul. 2010.

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Referências

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