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Gomesa gracilis (Lindl.) - espécie endêmica dos campos ferruginosos.

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Gomesa gracilis (Lindl.) - espécie endêmica dos campos ferruginosos

Ordem: Asparagales

Família: Orchidaceae Juss.

Nome Científico: Gomesa gracilis (Lindl.) M.W. Chase & N.H. Williams Nome popular: orquídea

FIGURA 1 – Aspecto geral de Gomesa gracilis.

Foto: Maria Cristina

T

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FIGURA 2 – Gomesa gracilis sobre afloramentos de canga.

Foto: Maria Cristina

T

. B. Messias

Nos campos de canga, também conhecidos como campos rupestres ferruginosos, ocorre um solo raso e pobre em nutrientes, com alta concentração de metais, deficiência de água, alta insolação e grandes variações de temperatura (elevadas durante o dia e baixas à noite). Muitas espécies se adaptaram a este ambiente, sendo algumas delas endêmicas, isto é, são restritas a determinado ambiente ou região (JACOBI & CARMO, 2008). Já foram apontadas pelo menos nove espécies vegetais possivelmente endêmicas dos campos ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero (VIANA & LOMBARDI, 2007; VIANA, 2008). Dentre elas, segundo Mota et al. (2012), três espécies de orquídeas são estritamente endêmicas de cangas e uma delas é Gomesa gracilis (Lindl.) M.W. Chase & N.H. Williams (FIG. 1).

Esta orquídea é uma espécie rupícola, ou seja, cresce diretamente sobre as concreções de minério de ferro (FIG. 2) na região do Quadrilátero Ferrífero e que normalmente ocorre em altitudes entre 700 e 1200 metros. Assim como muitas outras espécies de orquídeas, Gomesa gracilis apresenta distribuição geográfica bastante restrita, com ocorrência conhecida na Serra da Moeda e Serra do Rola Moça (Belo Horizonte), Serra do Curral (Nova Lima), Serra da Piedade e Serra da Água Limpa (Caeté), Serra de Ouro Preto (Ouro Preto e Mariana) e Serra de Itabirito (Itabirito).

De acordo com a obra original, morfologicamente esta espécie possui pseudobulbos lateralmente comprimidos,

ovóides, de cerca de 2cm, geralmente com duas folhas lanceoladas de ápice brevemente agudo, com aproximadamente 5cm de comprimento, além de escapo com cerca de 30cm que apresenta de 3 a 6 flores pequenas, de labelo cuneado emarginado de base auriculada, amarelo, sendo as demais pétalas e sépalas marrom avermelhadas (FIG. 1 a 3). Segundo Jacobi & Carmo (2011),

Gomesa gracilis é uma espécie de

polinização entomófila e dispersão anemocórica.

Esta espécie foi descrita inicialmente em 1837 como Oncidium gracile Lindl., nome pelo qual ainda é frequentemente referida em trabalhos acadêmicos e em coleções botânicas. Entretanto, após estudos morfológicos, citogenéticos e filogenéticos, foi reposicionada em um novo

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gênero – Nitidocidium (BARROS & RODRIGUES 2010, PENHA et al. 2011) e posteriormente mantida no gênero Gomesa (NEUBIG et al., 2012), sendo então atualmente seu nome correto Gomesa

gracilis.

Devido à elevada taxa de impacto ambiental, alterando e destruindo os campos ferruginosos, principalmente em consequência de atividades de mineração, muitas espécies que integram essas comunidades correm risco de extinção.

Estudo fenológicos e de cultivo de espécies dos campos ferruginosos são importantes para subsidiar a recuperação de áreas degradadas usando espécies nativas. Assim, o resgate e cultivo de espécies típicas deste ambiente tem sido objeto de estudo de diferentes instituições, entretanto as espécies de Orchidaceae não são facilmente cultivadas ex situ, pois dependem da associação entre suas minúsculas sementes a fungos simbiontes específicos para a obtenção de energia necessária à sua germinação, fenômeno este chamado micotrofismo (PEREIRA et

al., 2003 citado por NOGUEIRA et al.,

2005). Segundo Nogueira et al. (2005),

Gomesa gracilis apresenta associação com

fungos micorrízicos do gênero Ceratorhiza sp., comum em espécies que crescem diretamente sobre rochas e com ocorrência em microhabitats de baixíssima quantidade de matéria orgânica em decomposição.

Apesar das dificuldades no cultivo, muitas espécies de orquídeas são retiradas do habitat natural para serem posteriormente comercializadas devido à

beleza de suas flores (GIULIETTI et al., 1997). Este tipo de ação, conhecido como “extrativismo predatório”, pode ter consequências graves na conservação de espécies, como, por exemplo, em Gomesa

gracilis, que é endêmica de campos

rupestres ferruginosos e tem populações bastante restritas. Segundo Rapini et al. (2008), para espécies que possuem pequenas populações a retirada de indivíduos pode causar danos irreversíveis em sua variabilidade, podendo causar inclusive sua extinção.

Ressaltamos ainda que Gomesa

gracilis figura na “Lista oficial das espécies

da flora brasileira ameaçadas de extinção” do IBAMA como espécie com deficiência de dados para ser considerada efetivamente categorizada (BRASIL, 2008). Todavia, as espécies com deficiência de dados constantes nessa lista e cujos estudos futuros apresentarem informação científica suficiente para serem consideradas ameaçadas de extinção serão objeto de publicação de uma nova Instrução Normativa pelo Ministério do Meio Ambiente, tornando-se assim legalmente protegidas no território nacional. Com base nas informações atuais referentes à

Gomesa gracilis, podemos inferir que esta

apresenta dados suficientes para ser incluída em uma das categorias de ameaça da Lista de espécies da flora ameaçada, baseado na destruição crescente do habitat, na área de ocorrência bastante restrita e ocorrência em pequenas populações.

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FIGURA 3 – Detalhe da flor de Gomesa gracilis.

Foto: Maria Cristina

T

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Maria Cristina Teixeira Braga Messias

Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente. Universidade Federal de Ouro Preto.

Viviane Renata Scalon

Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente. Universidade Federal de Ouro Preto.

Referências

BARROS, F. & RODRIGUES, V.T. Novas combinações para membros brasileiros da subtribo Oncidiinae (Orchidaceae, Epidendroideae, Cymbidieae). Boletim da Coordenadoria das

Associações de Orquidófilos do Brasil (CAOB),

v. 77-78, p. 26-29, 2010.

GIULIETTI, A.M., PIRANI, J.R & HARLEY, R.M. Espinhaço range region. Eastern Brazil. In: DAVIS, S.D.; HEYWOOD, V.H.; HERRERA-MACBRYDE, O.; VILLA-LOBOS, J. & HAMILTON, A.C. (Ed.).

Centres of plant diversity: a guide and strategies

for the conservation, v. 3, WWF/IUCN, Cambridge, 1997. p. 397-404.

JACOBI, C.M. & CARMO, F.F. Diversidade dos campos rupestres ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, MG. Megadiversidade, v. 4, p. 24-32, 2008.

JACOBI, C.M. & CARMO, F.F. Life-forms, pollination and seed dispersal syndromes in plant communities on ironstone outcrops, SE Brazil. Acta Botanica

Brasilica, v. 25, n. 2, p. 395-412, 2011.

BRASIL- Ministério do Meio Ambiente 2008. Lista

oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. Instrução Normativa Nº 6

de 23/09/2008. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/ascom_boletins/_

arquivos/ 83_19092008034949.pdf. Acessado em: 05 de outubro de 2009.

MOTA, R.C.; BATISTA, J.A.N. & BORBA, E.L. Orchidaceae. In: JACOBI, C.M. & CARMO F.F. (Orgs.). Diversidade florística nas cangas do

Quadrilátero Ferrífero. Belo Horizonte, 2012, p.

158-162.

NEUBIG, K.M.; WHITTEN, W.M.; WILLIAMS, N.H.; BLANCO, M.A.; ENDARA, L.; BURLEIGH, J.G.; SILVERA, K.; CUSHMAN, J.C. & CHASE, M.W. Generic recircumscriptions of Oncidiinae (Orchidaceae: Cymbidieae) based on maximum likelihood analysis of combined DNA datasets.

Botanical Journal of the Linnean Society, v. 168,

p. 117-146, 2012.

NOGUEIRA, R.E.; PEREIRA, O.L.; KASUYA, M.C.M.; LANNA, M.C. & MENDONÇA, M. Fungos micorrízicos associados e orquídeas em campos rupestres na região do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 3, p. 417-424, 2005.

PENHA, T.L.L.; CORRÊA, A.M. & CATHARINO, E.L.M. Números cromossômicos em Kleberiella V.P.Castro & Cath. (Orchidaceae, Oncidiinae) e gêneros afins. Acta Botanica Brasilica, v. 25, n. 2, p. 466-475, 2011.

RAPINI, A.; RIBEIRO, P.L.; LAMBERT, S. & PIRANI, J.R. A flora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço.

Megadiversidade, v. 4, n. 1-2, p. 15-23, 2008.

VIANA, P.L. & LOMBARDI, J.A. Florística e caracterização dos campos rupestres sobre canga na Serra da Calçada, Minas Gerais, Brasil.

Rodriguésia, v. 58, p. 159-177, 2007.

VIANA, P.L. A flora dos campos rupestres sobre canga no Quadrilátero Ferrífero. In: SIMPÓSIO SOBRE AFLORAMENTOS FERRUGINOSOS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO: biodiversidade, conservação e perspectivas de sustentabilidade, 2008, Belo Horizonte, Anais..., Belo Horizonte: 2008. p. 15-29.

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