• Nenhum resultado encontrado

Liberdade Assistida no Distrito Federal: impasses políticos na implementação das normativas do SINASE e do SUAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Liberdade Assistida no Distrito Federal: impasses políticos na implementação das normativas do SINASE e do SUAS"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

Liberdade Assistida no Distrito

Federal: impasses políticos na

implementação das normativas do

SINASE e do SUAS

1

Resumo

Este artigo objetiva analisar como o Distrito Federal tem executado o Serviço de Orientação e Acompanhamento a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade, com foco na Liberdade Assistida, tendo como parâmetro para análise a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), decretos e portarias do Distrito Federal, bem como decretos e portarias do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A análise do serviço em tela mostrou que o Distrito Federal está na contramão dos avanços preconizados na PNAS, que prevê como responsabilidade do órgão executor da política de assistência social o serviço de acompanhamento destinado aos adolescentes que receberam liberdade assistida. Todavia, a execução do serviço em tela fica sob a responsabilidade da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS). Em outras palavras, o Distrito Federal abre mão de recursos orçamentários ao optar por realizar o atendimento fora do SUAS.

Palavras-chave: Política Nacional de Assistência Social. Sistema Único de Assistência Social. Liberdade Assistida. Medidas Socioeducativas.

1Este texto apresenta parte da discussão teórica da Dissertação de Mestrado n ““Da liberdade à privação: a significação de medidas socioeducativas para adolescentes e familiares” de autoria da primeira autora e orientada pela segunda autora.

Luana Alves de Souza 1

Liana Fortunato Costa2

1 Assistente Social da Secretaria

de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do DF, mestranda em Psicologia

Clínica e Cultura do

Departamento de Psicologia Clínica (UnB)

2 Doutora em Psicologia Clínica (USP). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura – (PCL/IP/UnB).

Autor para correspondência: Luana Alves de Souza

E-mail: luana.alvessouza@gmail.com S o u za , C o st a

(2)

Abstract

This article aims to analyze how the Distrito Federal has executed the Orientation and Monitoring Adolescents Service on Socio-Assisted Freedom and Provision of Services to the Community, focusing on Assisted Liberty, taking as a parameter for analysis the National Political Social Assistance (PNAS), the Unified System of Social Assistance (SUAS), decrees and orders of the Distrito Federal as well as decrees and orders of the National Council of Social Assistance (CNAS) and the Ministry of Social Development and Fight against Hunger (MDS). The analysis of the Service on screen showed that the Distrito Federal is in the opposite of progress envisaged in PNAS, who has the responsibility of the Executing Agency for Social Welfare Policy Tracking Service for the adolescents who received assisted liberty. However, the implementation of the Service on screen is responsibility of the Department of Justice, Human Rights and Citizenship (SEJUS). Among other words, the Distrito Federal waive budget resources by choosing to perform the service outside of SUAS.

Keywords: National Political Social Assistance. Unified System of Social Assistance. Liberty Assisted. Social educational measures.

Introdução

A proposta deste texto é analisar os aspectos legais e orçamentários da execução do Serviço de Orientação e Acompanhamento a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade no Distrito Federal, que está preconizado na Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) como uma ação da proteção social especial de média complexidade.

De acordo com a PNAS, o serviço em tela é de responsabilidade do órgão executor da Política de Assistência Social que, no Distrito Federal, conforme a Lei nº. 4.176, de 16 de julho de 2008, é a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (SEDEST), conforme estabelece o Art. 9º da referida Lei: Art. 9º O órgão gestor da Política de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social – SUAS no Distrito Federal é a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda – SEDEST.

(3)

Entretanto, na gestão do governo passado (2006-20102), algumas mudanças foram realizadas e o serviço destinado ao acompanhamento de adolescentes em cumprimento de liberdade assistida passou a ser da responsabilidade da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS). Essa situação acarretou algumas mudanças na execução da medida socioeducativa da liberdade assistida, que abrange desde questões estruturais (espaço físico, corpo técnico, etc.) até questões orçamentárias, uma vez que os recursos para o acompanhamento da liberdade assistida estão previstos no orçamento dos serviços de proteção social especial de média complexidade.

Pretendemos enfocar esta análise a partir do método dialético marxista, compreendendo que a política social não representa apenas uma conquista da classe trabalhadora, nem apenas uma forma de o Estado manter o sistema capitalista, mas está inserida neste contexto contraditório. O Serviço apontado para análise será discutido considerando dois aspectos apresentados por Boschetti (2006), que são: configuração do financiamento e gasto e gestão e controle social. Neste último aspecto, apenas o quesito da gestão será enfocado.

Entendendo a Medida Socioeducativa de Liberdade

Assistida

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) trouxe mudanças paradigmáticas na concepção dos direitos de crianças e adolescentes, uma vez que considera esse público em condição peculiar de desenvolvimento e coloca como responsáveis pela sua proteção, ou seja, pela defesa e garantia de seus direitos, a família, a sociedade e o Estado, sendo que cabe a este último atuar por meio de políticas públicas para promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

As medidas socioeducativas estão previstas no Art. 112 do ECA e são aplicadas aos adolescentes que cometeram atos infracionais. Conforme expõe Volpi (1998, p.52),

A medida socioeducativa é, ao mesmo tempo, a sanção e a oportunidade de ressocialização, contento, portanto, uma dimensão coercitiva, pois o adolescente é obrigado a cumpri-la, e educativa, pois o seu objetivo não se reduz a punir o adolescente, mas prepará-lo para o convívio social.

Josiane Veronese (2009) acrescenta que as medidas socioeducativas, sejam aquelas executadas em meio aberto ou as restritivas de liberdade, devem guiar-se pelo trinômio: liberdade,

2 A análise apresentada no artigo refere-se ao ano de 2009 e início de 2010, e não a todo o período de gestão do governo Arruda.

(4)

respeito e dignidade, sendo que a intervenção junto aos adolescentes deve ser obrigatoriamente pedagógica e não punitiva.

No que diz respeito à liberdade assistida, esta é uma medida socioeducativa prevista no art. 1183 do ECA, apropriada para casos residuais, em que o adolescente tenha praticado ato infracional não tão grave e necessite de acompanhamento, auxílio e orientação. Tem como desígnios estimular o convívio familiar, estruturar a vida escolar e profissional, e propiciar elementos para inserção do adolescente na própria sociedade.

Por ser uma medida executada em meio aberto, a LA permite que o adolescente em conflito com a lei seja atendido na própria comunidade. Nesse sentido, a Liberdade Assistida é vista pela maioria dos teóricos, juristas e profissionais que trabalham na área como sendo a medida socioeducativa que mais apresenta possibilidades de mudança ao adolescente, sendo, para muitos especialistas, a alternativa mais humana e pedagógica de educar os adolescentes, uma vez que tal educação ocorre no próprio convívio social.

Volpi (1998, p.40) expõe que:

Impõe-se que a liberdade assistida realmente oportunize condições de acompanhamento, orientação e apoio ao adolescente inserido no programa, com designação de um orientador judiciário que não se limite a receber o jovem de vez em quando em um gabinete, mas que de fato participe de sua vida, com visitas domiciliares, verificação da sua condição de escolaridade e de trabalho, funcionando como uma espécie de "sombra", de referencial positivo, capaz de lhe impor limite, noção de autoridade e afeto, oferecendo-lhe alternativas frente aos obstáculos próprios de sua realidade social, familiar e econômica (grifo do autor)

.

Conforme disposto no Guia de Orientação ao CREAS (Secretaria Nacional de Assistência Social/MDS), embora a medida socioeducativa de liberdade assistida tenha um caráter sancionatário, de responsabilização do adolescente, sua operacionalização deve se referenciar numa ação educativa, embasada na concepção de que o adolescente é sujeito de direitos e pessoa em situação peculiar de desenvolvimento que necessita de referência, apoio e segurança (CREAS, 2008, p. 15).

A LA implica concessão de liberdade sob condições. Em outras palavras, é uma medida a ser executada em meio aberto,

3 Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.

(5)

contudo com característica de restrição de liberdade. O adolescente se mantém em seu meio familiar e comunitário, acompanhado por serviço oferecido pela política de assistência social. A medida é fixada por até seis meses, podendo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida. Entretanto, apesar de todas as possibilidades que a LA proporciona aos adolescentes em conflito com a lei, a atual situação de sua execução tem colaborado com a idéia de que a LA é uma forma de desresponsabilização e impunidade para com os adolescentes, uma vez que os serviços estão estruturados, em sua maioria, de forma precária e desarticulada, como bem retrata a publicação da SEDH, Os Regimes de Atendimento no Estatuto da Criança e do Adolescente: Perspectivas e Desafios (2006): “ A maneira precária como os serviços estão estruturados em termos de instalações, meios de transporte, materiais de expediente e comunicação evidencia a falta de prioridade de que ainda padece a liberdade assistida” (SEDH, 2006, p. 62).

Assim, a efetividade da LA como alternativa adequada e humana à privação de liberdade passa a ser questionada. Justamente por falta de estrutura física, material e de recursos humanos, bem como da desarticulação da rede de proteção ao adolescente (educação, saúde, assistência etc.), a LA abre espaço para evasão do adolescente ou, muitas vezes, considera-o em situação de descumprimento da medida por não conseguir acesso a ele.

Normativas legais a respeito da LA: SUAS e SINASE

Para a discussão proposta por este trabalho, salientamos duas normativas que abarcam a questão da liberdade assistida: o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.

A respeito do primeiro, a Política Nacional de Assistência Social - PNAS, que implementou em todo o país o SUAS, considera como público-alvo das ações de proteção social especial de média complexidade as “famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos” (PNAS, 2004, p. 32). Neste sentido, a PNAS prevê como um dos serviços da proteção social especial o acompanhamento de adolescentes que receberam medida socioeducativa de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade, sendo que a execução deste serviço fica a cargo do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

Não obstante, o Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS publicou no Diário Oficial da União no dia 25 de novembro de 2010, a Resolução n° 109, de 11 de novembro de 2009, que aprova a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Tal Resolução expõe no Artigo 1º, Inciso II, alínea c, o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida - LA e de Prestação de Serviços à Comunidade –

(6)

PSC, como sendo um dos serviços a ser executado pelo CREAS. Assim, torna-se evidente que o acompanhamento de adolescentes em liberdade assistida é de responsabilidade do órgão executor da Política de Assistência Social que, no Distrito Federal, conforme mencionado anteriormente, é a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (SEDEST).

No intuito de efetivar as conquista obtidas no ECA, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que tem como uma de suas responsabilidades deliberar sobre a política de atenção à infância e adolescência – pautado no princípio da democracia participativa – tem buscado cumprir seu papel normatizador e articulador, ampliando os debates e sua agenda com os demais atores do Sistema de Garantia dos Direitos (SGD). Por conseguinte, o CONANDA e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH/ SPDCA), em parceria com a Associação Brasileira de Magistrados e Promotores da Infância e Juventude (ABMP) e o Fórum Nacional de Organizações Governamentais de Atendimento à Criança e ao Adolescente (FONACRIAD), bem como o apoio da UNICEF, juntaram esforços e organizaram a proposta do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativa (SINASE), que aguarda aprovação para se tornar Lei. O SINASE irá auxiliar na regulamentação dos Serviços Socioeducativos e, portanto, implicará (ou pelo menos se espera) a efetivação das conquistas obtidas com o ECA.

Conforme expõe Veronese (2009), o SINASE é um instrumento jurídico-político que complementa o Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere ao ato infracional e medidas socioeducativas. Trata-se de um documento que impõe obrigações e a co-responsabilidade da família, da sociedade e do Estado para a efetivação dos direitos fundamentais dos adolescentes que cometeram ato infracional. E ao Estado, principalmente, cabe a função de investir em políticas sociais que facilitem a concretização desse importante instrumento normativo.

Em relação à LA, além dos aspectos pedagógicos, o SINASE trouxe importantes contribuições a respeito da composição da equipe técnica, da quantidade de adolescentes a ser acompanhado por cada técnico, da estrutura física da unidade de execução da LA, dentre outros. Esses fatores serão apontados no decorrer da discussão sobre a LA no DF.

A Liberdade Assistida no DF: gestão e orçamento

Em 2007, o Governo do Distrito Federal retirou da SEDEST a responsabilidade pelo acompanhamento dos jovens em cumprimento de LA e PSC e passou a demanda à SEJUS. Essa situação acarretou a desestruturação do Serviço, tendo em vista que a SEJUS não dispunha de estrutura física, financeira, bem como recursos humanos, conforme pode ser observado em algumas reportagens da época.

(7)

No site da Comunidade Segura, saiu a seguinte reportagem no dia 12/12/2007:

A liberdade assistida dos jovens em conflito com a lei do Distrito Federal está abandonada pelo poder público. A constatação é da Promotoria de Justiça de

Defesa da Infância e da Juventude. Durante fiscalização, os promotores concluíram que não há

estrutura suficiente para atender todos os adolescentes que cumprem esse tipo de medida socioeducativa. No início do ano, o governo do DF tirou da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest) a responsabilidade pelo acompanhamento dos jovens e passou a demanda à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). Para a

promotora Selma Sauerbronn, o desmembramento foi feito sem planejamento e as duas secretarias ainda discutem para onde devem ir as estruturas física e de pessoal. Selma ressalta ainda que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado à Câmara Distrital pelo Executivo destinou apenas R$ 69 mil para a liberdade assistida. Na semana passada, os promotores estiveram com os deputados distritais e solicitaram uma emenda que acrescenta R$ 1,2 milhão a esse valor (...) (grifos nossos).

Essa notícia torna evidente o contexto em que o serviço de execução da medida socioeducativa de Liberdade Assistida se encontrava no ano de 2007, quando houve a mudança de Secretaria. A Liberdade Assistida passou a ser executada pela SEJUS, mas os servidores da Secretaria continuaram ocupando o espaço físíco da SEDEST. A maioria das equipes de LA ocupa uma sala no espaço do CREAS ou Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) não dispondo assim de salas para atendimento individual e grupal, nem de recursos materiais como mesas, cadeiras, computadores, dentre outros, suficientes para execução do Serviço.

Sobre este ponto é importante mencionar que o SINASE estabelece que

As estruturas físicas das Unidades de atendimento e/ou programas serão orientadas pelo projeto pedagógico e estruturadas de modo a assegurar a capacidade física para o atendimento adequado à execução desse projeto e a garantia dos direitos fundamentais dos adolescentes.

Em se tratando de medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida) é importante que se mantenha um local específico para a sua execução, contando com salas de atendimento individuais e em grupo, sala de técnicos e demais condições para garantir que a estrutura física facilite o acompanhamento dos adolescentes e seus familiares (BRASIL, 2006, p. 50

(8)

Passados dois anos, a situação não mudou muito, pois apesar da SEJUS e da SEDEST terem realizado concurso público para suprir o quadro de recursos humanos de ambas as secretarias, o Serviço de Acompanhamento aos Adolescentes em Liberdade Assistida continuou a ser executado pela SEJUS no espaço físico da SEDEST. Além disso, a maiora das equipes da LA não dispõe de carro nas unidades para realização das visitas domiciliares.

Todavia, esforços continuavam sendo feitos para resolver a situação, como demonstra a reportagem obtida no site da SEJUS no dia 28/10/2009 :

Sejus propõe emenda ao Orçamento da União para a reestruturação do sistema socioeducativo do DF visando adequar a implantação de Casa de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, em cada Região Administrativa, para que a população tenha acesso aos serviços da SEJUS, tais como Conselhos de Direito, Conselhos Tutelares, Defensoria Pública, Pró-vítima, PROCON e Unidade de Liberdade Assistida. Para garantir que esse projeto se concretize, o Secretário de Justiça Alírio Neto vai solicitar ao deputado Geraldo Magela, relator do Orçamento da União, uma emenda ao orçamento no valor de R$ 50 milhões. Este encontro está agendado para amanhã (30/10/09). Conforme a proposta, os recursos oriundos do Orçamento da União servirão para construir e equipar as Casas de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania. Ao GDF caberá o fornecimento do terreno, o custeio com manutenção e contratação de pessoal. Conforme o secretário Alírio Neto, essa proposta está dentro das prioridades anunciadas pelo deputado Geraldo Magela para o orçamento de 2010, entre as quais, a preservação dos investimentos na área social. Segundo Alírio Neto, esse projeto é fundamental para o GDF e também faz parte da reestruturação de todo o sistema socioeducativo do DF. Para que as Casas de Justiça fiquem mais perto da população, o atendimento a essa demanda vai garantir ao Distrito Federal um lugar entre os pioneiros, em âmbito nacional, nas questões dos Direitos Humanos e Cidadania

Além dessa situação, que envolve desde questões políticas até questões estruturais, em termos de organização do Serviço, têm-se também questões de ordem financeira. Ou seja, de acordo com a Portaria nº 222, de 30 de junho de 2008 do MDS e a Resolução nº 05 de 03 de junho de 2008, do FNAS4, existe recurso para ser repassado

4 O Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), instituído pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, tem por objetivo proporcionar recursos e meios para financiar o benefício de prestação continuada e apoiar serviços, programas e projetos de assistência social. Cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, como órgão responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, gerir o Fundo Nacional de Assistência Social, sob orientação e controle do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). (Texto atualizado extraído do Decreto nº 1.605, de 25 de agosto de 1995).

(9)

para os municípios e Distrito Federal para a execução do Serviço em tela. Este recurso está previsto no Piso Fixo de Média Complexidade – PFMC III. Tal recurso é repassado para os municípios e DF pelo Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).

O Piso Fixo de Média Complexidade III (PFMC III)5 foi o nome criado para o repasse que co-financia a implementação no CREAS do Serviço de Proteção Social aos Adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto de Liberdade Assistida - LA e Prestação de Serviço à Comunidade – PSC (MDS, 2009).

De acordo com a Portaria nº 222, de 30 de junho de 2008 do MDS, os recursos do co-financiamento federal do Piso Fixo de Média Complexidade/PFMC para implementação do Serviço de Proteção Social aos Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto de LA e PSC nos CREAS serão destinados ao Distrito Federal e aos municípios que atenderem aos seguintes critérios:

I - estar habilitados, até maio de 2008, no nível de Gestão Plena ou Gestão Básica do SUAS;

II - ter Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS e Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, em funcionamento;

III - ter população superior a cinquenta mil habitantes no caso dos municípios localizados nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e superior a cem mil habitantes nos municípios localizados nas Regiões Sul e Sudeste.

Segundo a Portaria n° 460, de 18 de dezembro de 2007, os valores dos repasses do Piso Fixo de Média Complexidade foram atualizados para:

I - Para os municípios que recebem mensalmente R$ 3.100,00 (três mil e cem reais) do Piso Fixo de Média Complexidade para o custeio dos serviços do CREAS, o valor do

5

Os documentos que regulamentam os Pisos de Proteção Social Especial, entre eles, o Piso de Média Complexidade é a Portaria nº. 440, de 23 de agosto de 2005. A Portaria n° 460, de 18 de dezembro de 2007 atualizou os valores dos repasses do Piso Fixo de Média Complexidade e a Portaria nº 431, de 03 de dezembro de 2008, que dispõe sobre a expansão e alteração do co-financiamento federal dos serviços de Proteção Social Especial, no âmbito do SUAS. A portaria está disponível no site do MDS – www.mds.gov.br/suas.

(10)

financiamento será acrescido de R$ 4.068,00 (quatro mil e sessenta e oito reais) a cada grupo de até 40 adolescentes; II - Para os municípios que recebem mensalmente valor igual ou superior a R$ 6.900,00 (seis mil e novecentos reais) do Piso Fixo de Média Complexidade para o custeio dos serviços do CREAS, o valor do co-financiamento será acrescido de R$ 2.068,00 (dois mil e sessenta e oito reais) a cada grupo de até 40 adolescentes.

Todavia, o recurso é repassado para a Secretaria que é responsável pela execução da Política de Assistência Social, e, estando o Serviço analisado sob a responsabilidade da SEJUS, entende-se que há uma perda de recurso, uma vez que a SEDEST não recebe tal recurso por não executar o Serviço, e nem a SEJUS pode receber o recurso porque não é a Secretaria responsável pela Política de Assistência no DF. A comprovação desta situação pode ser percebida se observamos os documentos de execução orçamentária do DF no ano de 2009, por exemplo, e do MDS. Os dados apresentados foram obtidos no site da Secretaria de Planejamento e Gestão do Distrito Federal e se referem à execução orçamentária de novembro de 2009. Serão apresentados quadros da execução orçamentária da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS/DF).

Sobre a SEJUS/DF observa-se que foi autorizado o quantitativo de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para manutenção e ampliação de unidades do Sistema Socioeducativo e, no entanto, nada foi liquidado até dezembro de 2009. E, no que diz respeito ao atendimento destinado ao adolescente em cumprimento de liberdade assistida, só foi liquidado 81% do recurso autorizado.

Quadro I - Detalhamento de Despesa da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do DF referente ao mês de dezembro de 2009

Natur. Fonte ID Lei Alteração Contingenciado Bloqueado Despesa Autorizada Empenhado Disponível Liquidado Esfera 2 SEGURID 449052 100 0 200.000,00 0,00 0,00 0,00 200.000,00 199.490,00 510,00 0,00 200.000,00 0,00 0,00 0,00 200.000,00 199.490,00 510,00 0,00 Esfera 2 SEGURID 339030 100 0 0,00 141.000,00 0,00 0,00 141.000,00 123.140,67 17.859,33 119.623,47 339039 100 0 0,00 9.000,00 0,00 0,00 9.000,00 2.570,00 6.430,00 2.570,00 0,00 150.000,00 0,00 0,00 150.000,00 125.710,67 24.289,33 122.193,47 SUBTOTAL

Programa Trabalho 14.421.1506.5139.0001 MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DE UNIDADES DO SISTEMA SÓCIO EDUCATIVO

Programa Trabalho Programa Trabalho 14.421.1506.6194.7886 ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE COM MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA

SUBTOTAL

Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Distrito Federal. Site:

http://www.seplag.df.gov.br/sites/100/132/00001217.pdf

No site do MDS, em números, é possível ter acesso ao montante de recursos investidos e ao quantitativo de beneficiários dos

(11)

programas executados pelo MDS, por município, referentes ao mês de novembro (mais atual).

No intuito de evidenciar que o DF não recebe recursos para execução das medidas socioeducativas em meio aberto, são apresentados, a seguir, quadro dos recursos repassados pelo MDS aos estados de Goiás, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo:

Quadro II - Comparativo do repasse de recursos destinados à execução das

Medidas Socioeducativas do MDS para Distrito Federal, Goiás, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, 2010.

Unidade da Federação Quantidade de Beneficiários atendidos Valores (R$) pagos até fev/2010 Distrito Federal 0 0

Goiás 1,3 mil adolescentes 90,2 mil Paraná 2,9 mil adolescentes 174,8 mil Rio de Janeiro 4,4 mil adolescentes 247,3 mil São Paulo 2,9 mil adolescentes 201,1 mil

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Site:

http://www.mds.gov.br/sites/mds-em-numeros.

O quadro apresentado mostra que o DF não recebeu recursos para execução do Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida, justamente porque o referido Serviço não é executado pela SEDEST e, portanto, esta não cumpre os requisitos exigidos pela Portaria nº 222, de 30 de junho de 2008 do MDS, conforme já apresentado anteriormente.

Além dessas observações, convém fazer uma abordagem geral do orçamento da Política de Assistência Social no Brasil. Nesse sentido, é importante ponderar as contribuições trazidas por Fagnani (2001) de que os estudos sobre o financiamento e os gastos sociais nos permitem observar sobre o alcance, os limites e o caráter redistributivo das políticas sociais.

Seguindo essa linha de pensamento, Salvador (2007) afirma que um importante indicador na avaliação das políticas sociais é a natureza das fontes de financiamento, pois

(...) os recursos fiscais que advêm das receitas de impostos e taxas apresentam maior potencial redistributivo, mas são os menos utilizados no financiamento da Seguridade Social. As contribuições sociais são recursos parafiscais custeados por empresas e trabalhadores e se constituem, no Brasil, na principal

(12)

fonte de financiamento da Seguridade Social. Essa base de custeio não atende plenamente o objetivo da equidade e tem caráter regressivo. Quando o acesso ao benefício depende da contribuição (por exemplo, na previdência social), uma parcela significativa de pessoas fica excluída do sistema.

No artigo apresentado pelo autor, ele traz contribuições sobre os recursos que compõem as fontes de financiamento da Seguridade Social e que desempenham um papel relevante na política econômica e social do Brasil, pós-1994. O autor mostra que significantes parcelas da arrecadação tributária que deveriam ser utilizadas nos programas da previdência social, da saúde e da assistência social, ou seja, na Seguridade Social, são retidos pelo Orçamento Fiscal da União e canalizados para o superávit primário. Assim, podemos concluir que sendo a Política de Assistência Social uma componente da Seguridade Social, as suas fontes de financiamento revelam que não há uma priorização da Política Social no que diz respeito à política econômica geral do Governo.

Ainda sobre a situação da Liberdade Assistida no DF, em contato com a SEJUS, foram disponibilizados os seguintes dados a respeito da execução da medida:

Quadro III – Quantidade de técnicos e adolescentes em acompanhamento de Liberdade

Assistida pela SEJUS, 2010.

Qtde. de técnicos* Nº. Unidade Qtde. de adolescentes vinculados Psicólogo Assistente

Social Pedagogo Total

1 Brasília 54 1 1 0 2 2 Brazlândia 51 1 0 0 1 3 Ceilândia 395 2 2 0 4 4 Gama 105 2 0 0 2 5 Guará 77 1 1 0 2 6 Núcleo Bandeirante 67 1 1 0 2 7 Paranoá 94 2 1 0 3 8 Planaltina 165 1 2 0 3 9 Recanto 149 0 1 0 1 10 Samambaia 212 1 0 2 3 11 Santa Maria 106 2 0 0 2 12 São Sebastião 70 1 1 0 2 13 Sobradinho 80 1 1 0 2 14 Taguatinga 135 1 2 0 3 Total 1760 32

(13)

Fonte: Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS), 2010.

O SINASE, no capítulo destinado à Gestão dos Programas, coloca que a equipe mínima para execução da LA deve ser composta por

(...) técnicos de diferentes áreas do conhecimento, garantindo-se o atendimento psicossocial e jurídico pelo próprio programa ou pela rede de serviços existente, sendo a relação quantitativa determinada pelo número de adolescentes atendidos:

1) Em se tratando da Liberdade Assistida Comunitária (LAC), cada técnico terá sob seu acompanhamento e monitoramento o máximo de vinte orientadores comunitários. Sendo que cada orientador comunitário acompanhará até dois adolescentes simultaneamente; 2) Em se tratando Liberdade Assistida Institucional (LAI), 34 cada técnico acompanhará, simultaneamente, no máximo vinte adolescentes (SINASE, 2006, p. 44).

No caso do Distrito Federal, é realizada a Liberdade Assistida Institucional (LAI) e, conforme relatado, cada técnico deveria acompanhar até 20 adolescentes. Entretanto, conforme os dados disponibilizados, percebe-se que em nenhuma Região Administrativa (RA) onde a LA é executada essa quantidade é seguida. No Recanto das Emas observa-se que só existe uma assistente social para acompanhar 149 adolescentes; na Ceilândia, a proporção de adolescentes acompanhados por técnico é de aproximadamente 98; em seguida, temos a Samambaia, com cerca de 70 adolescentes por técnico. A RA de Brasília é a que apresenta a menor proporção, sendo 27 adolescentes por técnico, mesmo assim, ultrapassa a quantidade proposta pelo SINASE.

Nesse momento, convém expor o que o ECA dispõe como atribuições do orientador responsável pela execução da LA:

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

I – promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;

II – supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;

III – diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; IV– apresentar relatório do caso (BRASIL, 1990).

(14)

Dada essa situação e todo o contexto apresentado no decorrer do artigo, e frisando que a LA é uma medida que visa o acompanhamento do adolescente na escola, inclusão em atividades profissionalizantes e acompanhamento do adolescente e sua família, fica a questão: é possível a realização de um acompanhamento adequando ao adolescente em liberdade assistida no contexto apresentado?

Nas palavras de Lenz e Cruz (2009),

(...) acreditamos que a Lei se faz no cotidiano, com práticas, por meio da micropolítica, no miudinho, na roda viva diária. A falta de lugares, a indefinição das atribuições, as lutas entre os saberes-poderes, os (não) ditos... interditos... tantos conflitos com a Lei. E a questão retorna, com diversos olhares (im)pertinentes:

qual o alcance das medidas socioeducativas? Quem (não) está em conflito com a Lei? (p. 537, grifo

nosso).

A nosso ver, quem está em conflito com a lei, neste caso, é o próprio Governo, que não cumpre o que está previsto em lei, ou seja, a obrigatoriedade legal de as medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestação de serviços a comunidades serem executadas em órgão ligado ao SUAS e não a órgão externo ao Sistema de Assistência Social como, no caso, a SEJUS, e que traz como conseqüência desse descumprimento, como evidenciamos, a perda de recursos orçamentários necessários para a execução das medidas socioeducativas em meio aberto.

Conclusões

A questão técnica

Conforme discutido no decorrer do artigo, o Distrito Federal possui 1760 adolescentes vinculados à execução da liberdade assistida e apenas 32 técnicos (entre assistentes sociais, psicólogos e pedagogos), conforme dados disponibilizados pela SEJUS.

Ou seja, com base em uma divisão simples, sem levar em conta a realidade de cada unidade de execução da LA, cada técnico estaria responsável por acompanhar 55 adolescentes, sendo que o SINASE estabelece a proporção de 20 adolescentes para cada técnico.

(15)

Para além da quantidade de técnicos, algumas unidades de execução, como Brazlândia e Recanto das Emas, possuem apenas um técnico para acompanhar os adolescentes, e outras unidades, como Gama e Santa Maria, possuem profissionais da mesma formação acadêmica. O que se pretende enfatizar com essas informações é que é imprescindível para o acompanhamento dos adolescentes uma equipe composta por técnicos de diferentes áreas do conhecimento, garantindo-se, pelo menos, o atendimento psicossocial.

Quando se fala no acompanhamento dos adolescentes estamos nos referindo à proposta que é destinada à LA. O ECA prevê, como atribuição do orientador da LA, as ações de acompanhamento das famílias, inclusão dos adolescentes em oficinas profissionalizantes, acompanhamento escolar e comunitário, elaboração de relatórios.

Acrescentam-se ao quadro limitado de técnicos a falta de espaço físico adequado, a não existência de um coordenador na Unidade de Execução da LA e ficam evidentes os prejuízos existentes no acompanhamento de adolescentes em LA no DF.

A questão política

A partir das observações feitas no trabalho apresentado, é possível concluir que o processo de definição da Política de Assistência Social no Distrito Federal, com enfoque no Serviço de proteção social aos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto de Liberdade Assistida - LA e Prestação de Serviço à Comunidade – PSC, reflete os conflitos de interesses, os arranjos feitos na esfera de poder que perpassam as instituições do Estado e da sociedade como um todo, como muito bem expõe Hoffling (2001).

Ora, o remanejamento do Serviço avaliado para a SEJUS, que não é a executora da Política de Assistência no DF, acarretou perdas para o público alvo das ações, que são os adolescentes em conflito com a lei que receberam a medida socioeducativa de liberdade assistida.

Além das questões relacionadas à gestão do Serviço, no qual foi pontuada a falta de estrutura física e material, bem como a deficiência no quantitativo do corpo técnico que executa o Serviço, o Distrito Federal também perdeu em termos orçamentários, uma vez que o MDS não repassa recursos para a execução do Serviço. A SEJUS já teve nove Secretários de Estado num período de

(16)

aproximadamente três anos de Governo. Essa instabilidade só reafirma o descaso para com os adolescentes.

Logo, por que o Governo do DF estaria deixando de receber recursos federais quando as condições técnicas de execução dos programas LA e PSC não são adequadas?

O cenário político do Distrito Federal, no período de realização deste trabalho, torna evidente que a questão dos adolescentes em conflito com a lei não está na agenda política do governo atual. Muito pelo contrário, o Distrito Federal se mostrou na contramão do que preconiza a PNAS, ainda mais depois da publicação da tipificação dos Serviços a serem executados pelos equipamentos de assistência social, com destaque para o CREAS, que deveria executar o Serviço avaliado neste artigo. Por ser o centro político do país, o DF deveria estar sempre à frente no que diz respeito à execução dos avanços previstos em lei mas, contraditoriamente, é alvo de escândalos de corrupção e apresenta conduta duvidosa na execução da política destinada aos adolescentes da liberdade assistida.

Arriscamos ainda dizer que toda a conjuntura apontada neste trabalho evidencia o descaso com que o poder público vem lidando com os adolescentes em conflito com a lei e mostra o aspecto contraditório ao qual está inserido esse público-alvo, pois ao mesmo tempo em que observamos toda essa situação no Distrito Federal, temos grandes avanços em nível nacional como, por exemplo, o ECA e o SINASE, que ainda se encontram em fase de apreciação do Projeto de Lei pelo Senado Federal.

Se pensarmos ao longo da história, os adolescentes em conflito com a lei ganharam maior importância com os avanços da legislação. Todavia, a execução do que está previsto em lei é que não tem tido grandes avanços. Além do mais, não podemos desconsiderar que a Política de Assistência Social está inserida no conjunto de políticas sociais que, em um Estado de inspiração neoliberal, como o Brasil, “as ações e estratégias sociais governamentais incidem essencialmente em políticas compensatórias, em programas focalizados, voltados àqueles que, em função de sua ‘capacidade e escolhas individuais’, não usufruem do progresso social” (HOFFLING, 2001, p. 39 grifo nosso).

Por fim, a análise neste trabalho nos permite elencar como ações a serem realizadas para efetivação do Serviço avaliado o seu retorno para a SEDEST, que implicará no repasse de recursos pelo MDS, na melhora das condições físicas, materiais e técnicas da execução do Serviço e, desta forma, no cumprimento da PNAS pelo Distrito Federal.

(17)

BOSCHETTI, Ivanete. Questões Correntes no Debate sobre

Metodologias de Avaliação de Políticas Públicas. Brasília: UnB,

2006.

BRASIL. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 12 jan. 2010.

____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004.

_____. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE. Brasília: Conanda, 2006.

____. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Os regimes de

atendimento no Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília,

2006.

____. Secretaria de Estado de Justiça. Direitos Humanos e

Cidadania (SEJUS/DF). (Disponível em:

http://www.sejus.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=91968. Acesso em 13.05.2010).

____. Secretaria Nacional de Assistência Social. Centro de

Referência Especializado de Assistência Social: guia de orientação

nº 1(1ª versão). Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.. Brasília/DF. Disponível em:

<http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_infancia_juventude/

legislacao_geral/leg_geral_federal/creas.doc. Acesso em: 22 jan.

2010.

COMUNIDADE SEGURA. Disponível em :

http://www.comunidadesegura.org/fr/node/37701. Acesso em 13.05.2010 FAGNANI, Eduardo. (2001). Avaliação do Ponto de Vista do Gasto e Financiamento das Políticas Sociais. In RICO, Elizabeth. Avaliação

de Políticas: uma Questão em Debate. São Paulo: Cortez Editora &

IEE/PUC/SP, 1998. p. 29-39

HOFFLING, Eloísa de Mattos. Estado e Políticas Públicas Sociais.

Cadernos CEDES, São Paulo, ano XXI, n. 55, novembro de 2001.

Disponível em www.scielo.org.br.

LENZ, F.L; CRUZ, L.R. Orientadores de Liberdade Assistida: problematizações (im)pertinentes. Revista Psico. Porto Alegre: PUCRS, v. 40, n. 4, pp. 531-537, out./dez. 2009.

(18)

SALVADOR, Evilásio. (2007). Afirmação e ampliação de direitos

no Orçamento da Seguridade Social. Disponível em:

<http://www.cress-mg.org.br/Textos/textos_simposio/2007.05.19_plenaria7_evilasio.pdf >. Acesso em: 23 jan. 2010.

VERONESE, J.S; LIMA, F.S. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase): breves considerações. Revista Brasileira

Adolescência e Conflitualidade. São Paulo: Uniban, v. 1, p. 29-46,

2009.

VOLPI, Mário; COSTA, João Batista. Os adolescentes e a Lei: o direito dos adolescentes, a prática de atos infracionais e sua responsabilização. Brasília: Saraiva, ILANUD, 1998.

Referências

Documentos relacionados

- O senhor Presidente mostrou-se bastante satisfeito com a grande participação das pessoas nas comemorações do 25 de Abril nas três freguesias do concelho. Disse que em sua

nas águas superficiais em quatro locais da represa de Salto Grande (Ponto 1: Mini-Pantanal, Ponto 2: Saltinho, Ponto 3: Praia Azul e Ponto 4: Iate Clube) com

As certificadoras credenciadas são responsáveis por medir e informar à ANP o conteúdo local de bens e serviços contratados pelas empresas concessionárias para as

somente ·uma lnversão da matriz de varJ5ncias e covarllnctas amostrais. Por este raciocínio é obtida SJ.. Sucessivamente seguimos este procedimento para todo o

Ao contrário do ficar, o compromisso mais sério, o namoro relatado pelos adolescentes e jovens, consiste em desde compartilhar todos os momentos juntos até a possibilidade de um

As Práticas de Equidade na Produção de Café (C.A.F.E., Coffee and Farmer Equity) são um conjunto abrangente de padrões segundo quatro categorias: Responsabilidade

A medida decretada de afastamento do Paciente de sua filha menor e da esposa, sob pena de crime de desobediência e prisão, tem fundamento no artigo 22, III, da