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A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Educação Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009. A INTERTEXTUALIDADE E O DIALOGISMO: ENCONTROS COMUNICACIONAIS. Odete Aléssio Pereira Faculdade Anhanguera de Taubaté. RESUMO. odete.alessio@hotmail.com. Objeto: o presente artigo pretende delimitar e caracterizar o conceito de intertextualidade, transitando entre as noções de intertextualidade e a de dialogismo. Objetivo: realizar um exercício exploratório das possibilidades existentes nas perspectivas dos textos produzidos em encontros comunicacionais. Metodologia: levantamento bibliográfico conceitual e teórico acerca da intertextualidade. Resultados do estudo: evidencia-se que existem condicionantes que possibilitam e constrangem as ações dos sujeitos, baseando-se nos pressupostos evocados por Bakhtin, segundo quem os atos humanos são textos em potencial e podem ser compreendidos somente dentro do contexto dialógico de seu tempo, como manifestações plenas de sentido. Palavras-Chave: intertextualidade; dialogismo; manifestações; sentidos.. ABSTRACT Object: This article aims to define and characterize the concept of intertextuality, shifting between the concepts of intertextuality and dialogism. Objective: To conduct a year of exploration possibilities in the perspectives of the texts produced in communicative encounters. Methodology: literature review on the conceptual and theoretical intertextuality. Results of study: evidence that there are conditions that enable and constrain the actions of individuals, based on assumptions discussed by Bakhtin, under whom the acts are texts in human potential and can be understood only in the dialogical context of their time, events as full of meaning. Keywords: intertextuality; dialogism; events; directions.. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 18/04/2009 Avaliado em: 19/09/2009 Publicação: 15 de outubro de 2009. 7.

(2) 8. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. 1.. INTRODUÇÃO É necessário, inicialmente, distinguir-se entre intertextualidade, que relaciona diferentes tipos de textos e discursos em seus contextos específicos, e interdiscursividade ou intertextualidade constitutiva, que ocorre em um nível mais abstrato e global, com respeito às relações entre tipos de discursos, ou seja, tipos de atividades comunicativas e gêneros, mais do que entre textos específicos. Essa diferenciação é importante para situar o presente estudo, uma vez que em inúmeras circunstâncias, tanto nos debates públicos como nas interações diárias, observase encontros entre representantes de diversas subculturas e grupos de interesse dentro da sociedade, todos com diferentes compromissos, entendimentos e premissas para comunicarem-se, ocorrendo conflitos e confluências entre pontos de vista, perpetrados pelo intercâmbio de palavras, de discursos e, sobretudo, de mundos que constroem os discursos. Este trabalho, em vista disso, relaciona a teoria da intertextualidade com uma discussão da idéia do sujeito como ser individual, isolado e isolável de seu contexto, diante do próprio conceito e pressupostos da intertextualidade e sua compreensão dentro de um universo comunicacional no qual a construção dos discursos encontra sentido justamente dentro da característica coletiva do sujeito, em sua interação com os demais.. 2.. CARÁTER SEMIÓTICO E CARATER SOCIAL-DISCURSIVO DA LINGUAGEM O estudo lingüístico é uma tarefa emblemática, denotando que as expressões, uma vez emitidas, geram julgamentos, os quais, por sua vez, classificam os fatos que ocorrem, estabelecem hierarquias na sociedade. Dizia Saussure (2000), que psicologicamente, depreende-se de sua formulação verbal, que o pensamento do homem não é senão um bloco informe e não delineado. Filósofos e lingüistas sempre concordaram em reconhecer que, sem o recurso dos signos, não seria possível a tarefa de distinguir duas idéias de modo claro e constante. Tomado em si, no pensamento nada está necessariamente delimitado, não existem idéias preestabelecidas, e nada é distinto antes do aparecimento da língua. Os enunciados fazem parte de um código independente das coisas que são denominadas pelas palavras, o que implica em dizer que toda fala é capaz de classificar as coisas de diferentes maneiras. Os signos definem-se uns em relação aos outros, o que. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(3) Odete Aléssio Pereira. 9. significa que a realidade é recortada diferentemente em línguas diferentes e que um signo delimita o outro. Estima-se um signo em oposição a outro, em ordem de importância. Além do mais, um signo pode continuamente ser interpretado por intermédio de outro: interiormente ao mesmo código através de analogias, de paráfrases, de significações; em outros códigos, em outras línguas, por exemplo, pela tradução. Os problemas ocorridos nas traduções revelam a inexistência de uma relação unívoca entre as denominações e os objetos. Como a língua não é uma nomenclatura aplicada a uma realidade cuja categorização preexiste à significação, o significado é composto de traços funcionais e qualificacionais. (PIATELLI-PALMARINI, 1983) Comentam os autores: No período medieval, dizia-se que o signo era aliquid pro aliquo (alguma coisa em lugar de outra). Essa definição mostra que o signo não é a realidade. Saussure vai precisar bem esse fato, quando afirma que o signo lingüístico não conecta uma nomenclatura específica a um objeto, mas um julgamento conceitual a uma representação acústica. Quer demonstrar que o signo não é um conjugado de emissões sonoras que dão significação àquilo que existe. O signo é a união de uma definição a uma representação acústica, que não é a emissão objetiva, física, mas a impressão psíquica da sonoridade, perceptível no momento em que se invoca uma expressão sem verbalizá-la. O signo é um instituto bifacial, uma necessitando da outra, como o avesso e o direito de uma lâmina. Observa-se dois lances, mas estes são inseparáveis. (PIATELLI-PALMARINI, 1983, p. 145). A esse conceito, Saussure denomina significado e à imagem acústica, significante. Não pode haver um sem que a ocorrência de outro, uma vez que o significante sucessivamente necessita de um significado, do mesmo modo que o significado é nulo ou inexistente se dissociado das emissões sonoras que o transmitem. Saussure explica: A imagem acústica /gatu/ não evoca um animal em especial, porém a idéia comum de gato, a qual possui valor apenas como um rótulo. Na criação desse conceito, a língua não leva em conta as diferentes raças, os tamanhos diversos, as cores várias etc. Faz abstração das características individuais de cada indivíduo da espécie, com a finalidade de definir a classe da /felinidade/. O sentido não é o fato por ele indicado, porém a representação deste. Implica no entendimento do usuário sobre o significado do signo. (SAUSSURE, 2000, p. 274). A linguagem verbal não é a única linguagem existente. Há também linguagens pictóricas, gestuais etc. Não se pode falar em imagens acústicas quando se trabalha com outros sistemas de signos. Por isso, é necessário ampliar a definição de significante, para que ela possa ser usada em todas as linguagens. Poder-se-ia então dizer que o significante é o veículo do significado, o qual é representado pelo entendimento decorrente da utilização do signo, é sua parte inteligível.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(4) 10. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. A definição de signo dada por Saussure é substancialista, pois ele trata do signo em si, como coesão entre significante e significado. No entanto, em sua obra, afirma que “na língua não há senão diferenças, ou seja, cada componente lingüístico precisa ter configuração distinta dos demais componentes com que se relaciona”. (SAUSSURE, 2000, p. 278) Por isso, torna-se necessário apreciar o signo sem se deter em seus componentes, porém em eu perfil, oferecidos pelas afinidades entre ele e os demais. Com essa motivação, Saussure passa a dar uma definição de valor, na qual se estabelece uma definição negativa do signo, conceituando-o, por exclusão, como aquilo que os demais signos não significam. A significação é, então, uma diferença entre dois signos, porquanto tudo o que se verifica em uma língua são a produção e a interpretação de diferenças. Saussure afirma que o signo é arbitrário, já que não há uma relação de causa e efeito que motive a relação que une um significado e um significante: “no signo comer, por exemplo, nada há na imagem acústica formada pela seqüência de vogais e consoantes /komer/, o significante, que leve a uma relação direta com o conceito comer, o significado”. (SAUSSURE, 2000, p. 188) Arbitrário significa, portanto, não motivado. O significante não é motivado pelo significado, embora haja signos absolutamente arbitrários e signos relativamente arbitrários. A esse respeito afirma: A motivação relativa é a que se estabelece entre um signo e outros signos do mesmo sistema. [...] Quando se fala em signo lingüístico, pensa-se na relação do conceito com uma imagem acústica. Há, porém, outras formas de expressão além da Lingüística. Um desenho, por exemplo, é um signo, só que não é lingüístico, mas visual. Se o significado for definido como um conceito e o significante como um meio de expressão que veicula esse conceito, a definição de signo toma-se mais abrangente, já que, além do significante entendido como imagem acústica, ela recobre outras formas possíveis de realizar um significante. Pode-se, então, afirmar que os signos lingüísticos são apenas um tipo particular de signo, próprio da língua, dentro de um conjunto maior de tipos de signos. (SAUSSURE, 2000, p. 189). A esse estudo do signo de um modo geral denomina-se Semiologia, sendo que a Lingüística seria a ciência dos signos verbais, que, por sua vez, faria parte da Semiologia, a ciência dos signos em geral. (SAUSSURE, 2000) Também Benveniste considera que a língua se apresenta, em todos os seus aspectos, como uma dualidade: instituição social, posta em funcionamento pelo indivíduo; discurso contínuo, composto de unidades fixas. Entende que a língua, em sua caracterização, consiste em “um sistema de signos no qual apenas é essencial a união do. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(5) Odete Aléssio Pereira. 11. sentido e da imagem acústica, e onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas”. (BIENVENISTE, 1995, p. 52) O caráter semiótico, portanto, é o que concede unidade e princípios funcionais à língua, definindo sua natureza, integrando um conjunto de sistemas do mesmo caráter. Para Saussure, o signo é antes de mais nada uma noção lingüística, que mais amplamente se estende a certas ordens de fatos humanos e sociais. A isso se circunscreve seu domínio. Há ainda observação importante a respeito do signo lingüístico, pela qual Saussure chama a atenção para o caráter linear do significante desse tipo de signo e ensina que “essa propriedade linear dos signos da língua é importante para descrever as relações que eles estabelecem entre si.“ (SAUSSURE, 2000, p. 190).. O significante da língua é uma imagem acústica, que, quando se realiza na fala, forma uma substância sonora. Sendo da ordem do som, sua realização acontece no tempo, tomando a forma de uma duração. Contrariamente aos significantes visuais, que se realizam no espaço, os significantes sonoros, como os significantes lingüísticos ou musicais, realizam-se no tempo, de modo que dois sons só se realizam em uma sucessão. A definição dada por Saussure originou boa parte dos estudos semióticos, mas apresenta-se incompleta e insuficiente, segundo Eco especificamente pelo uso da expressão signes. Assinala: Para Saussure, o signo é a união de um significado com um significante e, por isso, se a semiótica fosse a ciência que estuda os signos, ficariam excluídos deste campo muitos fenômenos que atualmente se chamam “semióticos” ou são de sua competência. Por exemplo, a teoria da informação, entra no âmbito da semiótica geral? Se e assim, como se explica o fato de não ter nada a ver com os significados e se refira somente às unidades de transmissão computáveis quantitativamente, independentemente de seu possível significado e que, por isso, se chamam sinais e não signos? E acaso existe uma zoosemiótica, que estuda a transmissão de informações nos animais, a propósito da qual seria difícil falar de muitos significados? E não seria da competência da semiótica todo o nível das figurae (fonemas, na língua verbal, figurae em outros sistemas de comunicação), que têm valor de oposição, mas não têm nenhum significado? E a semiótica não estuda as notas musicais e a música em geral, que talvez seja o exemplo mais claro de racionalização sem consciência semântica (salvo em alguns casos raros) e no qual é necessário estabelecer que é o que se entende por signo? (ECO, 1991, p. 19-20). Se a semiologia encontra-se em processo de construção, e evidente que não possa ser tratada de forma didática, até que todos os sistemas de signos tenham sido reconstruídos empiricamente, conforme o que assinala Barthes, ao definir que o objetivo da investigação semiológica é reconstituir o funcionamento dos sistemas de significação distintos da língua, tarefa, portanto, sempre a ser estabelecida e inesgotável. (BARTHES, 2001) Outra abordagem importante é a da Análise do Discurso de linha francesa (AD), modelo metodológico que está associada à explicação de textos, privilegiando a interdisciplinariedade e articulando pressupostos teóricos da Lingüística, do Materialismo Histórico e da Psicanálise. (MAINGUENEAU, 2004). Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(6) 12. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. Os fundamentos da psicanálise sustentam explicações para os processos de representação do referente textual, coletivamente construído por interações discursivas e por um sujeito fragmentado que tem a ilusão de ser uno. Contudo, ao falar e/ou enunciar seu discurso, ele sempre está se remetendo ao já-dito, a outros discursos. (ORLANDI, 2001) Os fundamentos do materialismo histórico sustentam explicações sobre situações das quais o sujeito participa como membro de uma sociedade estratificada por classes sociais, e onde ele assume diferentes papéis. Mas, enquanto membro dessa sociedade, esse sujeito não tem autorização para representá-la, razão pela qual o grau de participação social do sujeito é determinado pelo seu nível de qualificação. Nesse sentido, fragmentado-se em diferentes sujeitos, participa apenas de situações autorizadas, já que cada situação exige-lhe um comportamento, um estilo, um conhecimento sobre o contexto histórico-social, enfim, um discurso. (PÊCHEUX, apud PIATELLI-PALMARINI, 1983, p. 190). Os fundamentos lingüísticos da teoria da enunciação sustentam explicações sobre relações enunciativas nas quais os interlocutores, situados num espaço temporal, não só se assumem reciprocamente mas também se atribuem identidades, por um jogo de imagens ideologicamente forjadas a partir de formações discursivas vigentes. Os fundamentos teóricos das disciplinas acima enunciadas possibilitaram a elaboração de um quadro epistemológico da análise do discurso, no qual se articulam a concepção de discurso própria de Foucault e a teoria materialista do discurso, englobando três dimensões do conhecimento científico: a) o materialismo histórico; b) os conhecimentos lingüísticos, compreendendo uma teoria de determinação histórica dos processos de enunciação; c) os conhecimentos sobre o discurso, compreendendo uma teoria de determinação histórica dos processos semânticos. (ORLANDI, 2001, p. 78) Tais dimensões abarcam conceitos fundamentais como o de formação social, o de língua e o de discurso, estando todos eles atravessados por uma teoria da subjetividade de natureza psicanalítica. Ressalta, ainda, Brandão que a análise do discurso também atribui relevo à concepção de língua postulada por Bakhtin, “para quem a língua é concebida como algo concreto, fruto da manifestação individual de cada falante” e, por esta razão, os analistas do discurso também valorizam a fala, de modo que, ao tratar da linguagem, eles a. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(7) Odete Aléssio Pereira. 13. conceberão como um modo de ação social: um espaço de conflitos e de embates ideológicos. (BRANDÃO, 2004, p. 98) Entende-se, pois, que a linguagem não poderá ser estudada fora dos quadros sociais, visto que o seu processo constituidor e seus sentidos são histórico-sociais; razão pela qual os conceitos de condição de produção do discurso, de formação discursiva e de formação ideológica são postulados pelos estudiosos da análise do discurso como sendo fundamentais para o estudo da linguagem. Segundo Brandão, “a Análise do Discurso de linha francesa (AD) privilegia em seus estudos a noção de sujeito e de interdiscursividade, acrescentando a ambas as noções de história e de ideologia”. Assim, o sujeito é concebido como essencialmente histórico; razão porque sua fala é sempre produzida a partir de um determinado lugar e de um determinado tempo e, desse modo, à noção de sujeito histórico articula-se a de sujeito ideológico. (id. ibid., p. 76) Por conseguinte, “o que” este sujeito fala sempre compreende um recorte das representações de um tempo histórico e de um espaço social, tratando-se de um sujeito “descentrado” entre o “eu” e o “outro”: um ser projetado num espaço e num tempo. Tal projeção faz com que esse sujeito situe o seu discurso em relação aos discursos do outro. Para a autora, o “outro” compreende não só o destinatário – aquele para quem o sujeito planeja e ajusta a sua fala no plano intradiscursivo – mas também envolve outros discursos historicamente já costurados (interdiscurso) e que emergem em sua fala. (id. ibid.) Essa concepção de sujeito envolve a noção de alteridade: um sujeito que luta para ser uno, mas que, na materialidade discursiva, é polifônico. Nesse sentido, entende-se que a alteridade introduz tanto o conceito de história como o de ideologia. Tal deslocamento do sujeito do discurso é tratado como dispersão: a produção de um discurso heterogêneo por incorporar e assumir, pelo diálogo, diferentes vozes sociais, relacionando “o mesmo” com o seu “outro”, de modo a reconhecer no discurso a coexistência de várias linguagens em uma só linguagem. (ORLANDI, 2001) Quando se toma a questão da comunicação como interação, cinco aspectos merecem destaque, os quais são retomados por Gregolin et al.: • • •. em primeiro lugar, a questão de que, no processo de comunicação, os falantes se constroem e constroem juntos o texto; em segundo, a questão das imagens ou dos simulacros que os interlocutores constroem na interação; em terceiro, a questão do caráter contratual ou polêmico da comunicação; em quarto, a questão de que ao considerar a relação entre comunicação e interação não é mais possível colocar a mensagem apenas no plano dos significantes ou da expressão; e. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(8) 14. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. •. em quinto, a questão do alargamento da circulação do dizer na sociedade. (GREGOLIN et al., 2003, p. 65).. O primeiro aspecto, acentuado por Bakhtin e retomado pelos diferentes estudos do discurso, é, destarte, o de que cada parte ativa em um processo comunicativo vai, aos poucos, se alterando, se modificando, se edificando através desse convívio. Ocorre, assim, um novo enfoque, um novo ponto de vista: os partícipes do processo comunicativo não possuem uma existência acabada e completa estabelecida antecipadamente, embora essa existência se completa a partir da comunicação. Bakhtin assegura que, no diálogo, “constroem-se as relações intersubjetivas, mas também a subjetividade”. Os sujeitos são, na verdade, substituídos por diferentes vozes que fazem deles sujeitos históricos e ideológicos. (BAKHTIN, 2004, p. 78) O segundo aspecto é o das imagens e simulacros intersubjetivos. Pêcheux, apud Piatelli-Palmarini, no âmbito da análise do discurso, emissor e receptor estabelecem um jogo de imagens de que dependem a comunicação e da interação. São elas, principalmente, a imagem que o emissor faz dele mesmo, a imagem que o emissor faz do receptor, a imagem que o receptor faz dele mesmo e a imagem que o receptor faz do emissor. (PIATELLI-PALMARINI, 1983, p. 150) Nesse sentido, portanto, a língua não pode ser compreendida dentro das limitações da estruturação sistemática proposta por Saussure, à qual Bakhtin critica por estar alicerçada na desconsideração da língua como instrumento de intercâmbio social quando, na verdade, esta encontra suas bases e seus fundamentos na interação, na construção ideológica, no convívio e na prática social.. 3.. DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE INTERTEXTUALIDADE Quando se aborda a questão da intertextualidade, a primeira consideração a ser feita é que o texto é construído como um mosaico de citações, sendo sempre a absorção e a transformação de um outro texto. Assim, esclarece Barthes que a intertextualidade não guarda relação com a antiga noção de fonte ou de influência, uma vez que todos os textos são, em sua essência, intertextos. Desta forma, em diversos níveis, outros textos se encontram inseridos em cada um, sob formas mais ou menos reconhecíveis, ou seja, os textos que pertencem à cultura do texto prévio e aqueles textos da cultura do entorno. (BARTHES, 2001, p. 27) Do mesmo modo, Beaugrande et al. (1997, p. 13-15) sustentam que a intertextualidade é um dos requisitos fundamentais para que um texto seja considerado. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(9) Odete Aléssio Pereira. 15. texto e determina a forma pela qual o conhecimento de outros textos influencia o uso deste. (BEAUGRANDE et al., 1997). Ponderam os autores: O termo intertextualidade faz referência à relação de dependência estrita que se estabelece, por um lado, entre os processos de produção e de recepção de um determinado texto e, por outro lado, o conhecimento prévio que tenham os participantes de uma interação comunicacional sobre outros textos anteriores que se relacionem com ele. Este conhecimento intertextual é ativado mediante um processo que pode ser descrito em termos de mediação, considerando-se que a intervenção da subjetividade do comunicador introduz no modelo mental construído acerca da situação comunicativa suas próprias crenças e objetivos. Quanto maior o tempo empregado e mais atividades de processamento sejam realizadas para efetuar uma relação entre si e o texto atual e os textos prévios, mais elevado será o grau de mediação. (BEAUGRANDE et al., 1997, p. 15). De acordo com Jenny, “a transcendência textual é tudo o que o opõe em relação manifesta ou secreta com outros textos”. (JENNY, 1990, p. 54) Do mesmo modo, observa que existem cinco espécies de relações que se referem a essa transcendência: 1) a intertextualidade, ou seja, uma relação de co-presença entre dois ou mais textos, ou ainda a presença de um texto em outro, cuja forma mais explícita e literal é a citação e a menos explícita são o plágio e a alusão; 2) o paratexto, o ordenamento do texto ou o esboço do mesmo (pré-texto); 3) a metatextualidade, representada pelo comentário que une um texto ao outro, sem que necessariamente o cite, em uma relação mais crítica; 4) a hipertextualidade, relação de um texto com outro, anterior, ou hipotexto; 5) a arquitextualidade, que não faz evocações e, quando muito, realiza alguma menção paratextual, constituindo-se em um conjunto de categorias gerais ou transcendentais. (JENNY, 1990, p. 54) Para Beaugrande et al., há duas espécies de relações intertextuais: a primeira estabelece relações entre elementos de um dado texto e a segunda, entre textos diferentes. (BEAUGRANDE et al., 1997, p. 17) De acordo com Faraco et al., para Bakhtin, tudo o que é falado ou escrito, desde as conversações mais breves até os trabalhos científicos, “são demarcados por uma troca entre o que fala e o que escreve, orientando-se retrospectivamente até os enunciados prévios e, prospectivamente, aos enunciados antecipados de falantes futuros”. (FARACO et al., 2006, p. 27) Assim, tanto o que se fala como o que se escreve possuem um atributo intertextual, uma vez que se constituem de elementos de outros textos. Essa questão também é abordada por Barthes ao aduzir que a intertextualidade apresenta dimensões horizontais e verticais: As relações intertextuais horizontais são do tipo dialógico, entre um texto e aqueles que o precedem e o seguem na cadeia de textos.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(10) 16. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. As relações intertextuais verticais, entre um texto e outros, que constituem seus contextos mais ou menos imediatos ou distantes levam a considerar que os textos, historicamente, se encontram ligados em diversos níveis cronológicos, incluindo os textos mais atuais. (BARTHES, 1992, p. 30). Para Barthes, o intertextual é o que dá origem ao texto, não sendo um significado objetivo, interno, que possa ser explicado, mas a abertura do texto para outros textos, outros códigos, outros símbolos. Sustenta: Estamos começando a vislumbrar, através de outras ciências, que a investigação, pouco a pouco, deve se acostumar à conjunção de duas idéias que, por muito tempo, foram consideradas contraditórias: a idéia da estrutura e a idéia da infinidade de combinações. A conciliação desses dois postulados se impõe, porque a linguagem que conhecemos melhor é, ao mesmo tempo, estruturada e infinita. (BARTHES, 1992, p. 30). Sobre a intertextualidade também se pode afirmar que representa a forma pela qual são relacionadas instâncias textuais a outras, o reconhecimento dessas instâncias como símbolos que evocam áreas completas da experiência textual prévia de cada indivíduo. Ainda, os textos são reconhecidos em termos de sua dependência de outros textos pertinentes – a intertextualidade proporciona a base para que as noções semióticas básicas evoluam. Para Braith: Existe uma diferença entre uma intertextualidade ativa e uma intertextualidade passiva. A primeira é a ativação do conhecimento e os sistemas de crenças, que se estendem além do texto. A segunda se refere à coerência interna do texto, servindo para o estabelecimento da continuidade do sentido. Existem ao menos quatro espécies de relações intertextuais: a) relações com outras partes do mesmo texto; b) relações manifestas entre textos, como enunciados realizados em distintas ocasiões; c) relações intertextuais sutis entre textos da mesma espécie, que tenham a mesma temática; d) relações com diversos textos que se referem ao mesmo tema. (BRAITH, 2001, p. 72). Observando-se essa assertiva, uma teoria da intertextualidade deveria ser formulada em duas direções: uma que evidencie a importância do texto prévio e outra, que se concentre na intenção comunicativa, com uma condição prévia para que os textos sejam inteligíveis. A intertextualidade indica que a condição de um texto prévio pode ser determinada somente em termos de sua contribuição ao código do texto que se está lendo, analisando ou ouvindo, superando-se as limitações do conceito de origem e influência da intertextualidade. Da ponderação de Braith se observa que a intertextualidade ativa implica na identificação do texto como um símbolo, que nem sempre se conforma em instâncias puras porque pode conter outras funções retóricas, sendo portanto híbrido. “Uma dimensão semiótica da intertextualidade reforça aspectos sociais que estão presentes no texto.” (BRAITH, 2001, p. 72). Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(11) Odete Aléssio Pereira. 17. Sendo a intertextualidade a justaposição de diversos textos, seu conceito deve ser revisado sob perspectivas distintas, conforme anota Ducrot: •. •. •. os estudos literários, nos quais se considera a intertextualidade como um atributo do próprio texto literário, refletindo em diferentes graus de explicitação outros textos literários; em uma perspectiva semiótica e social, supondo que a intertextualidade é um potencial para a construção de significados que, por sua vez, têm funções interpessoais, ideológicas e textuais. A intertextualidade não se limita a referências explícitas ou implícitas a outros textos, já que pode ocorrer em diversos níveis (palavras, estruturas de textos, registros, gêneros e contextos) e de diferentes formas (unindo registros, conteúdos, gêneros e situações); os estudos voltados à aprendizagem da leitura e da escrita, ainda que escassos, são centrados na intertextualidade, no aluno como leitor e escritor, em uma postura cognitiva e lingüística, já que ao compreender um texto, o aluno aplica suas experiências como leitor de outros textos e, por sua vez, como escritor, emprega suas leituras prévias e suas experiências de escrita. (DUCROT, 1984, p. 354). Outra questão importante no âmbito da intertextualidade propõe o conceito de interdiscursividade para fazer referência à intertextualidade. Esse conceito é derivado de Pêcheaux (2001), enfatizando a heterogeneidade dos textos, que são constituídos por combinações de diversos gêneros e discursos. Diante. dessa. posição,. existe. uma. intertextualidade. manifesta. e. uma. intertextualidade constitutiva (interdiscursiva). Na primeira se encontram textos dentro de um texto, de forma evidente. Na segunda, a intertextualidade é ampliada na direção do princípio da primazia da ordem do discurso, constituído por convenções sobre gêneros, discursos, estilos e tipos de atividades. Gadet et al. observam: A intertextualidade constitutiva privilegia duas ordens do discurso, em detrimento dos seus tipos particulares, aplicando-se em vários níveis: o nível social, o nível institucional e o tipo de discurso. Por um lado, temos a constituição heterogênea dos textos por outros textos específicos (intertextualidade manifesta) e, por outro, a constituição heterogênea dos textos por elementos (convenções) das ordens do discurso (interdiscursividade). Aprofundando-se, é possível estabelecer uma intertextualidade seqüencial, na qual diferentes textos ou discursos se alternam dentro de um texto, assim como uma intertextualidade embutida, na qual um texto ou espécie de discurso está claramente contido dentro da matriz de outro. Além disso, há a intertextualidade mista, na qual textos ou espécies de discurso se unem de maneira complexa, quase inseparável. (GADET et al., 2007, p. 18). Flores et al. identificam uma informação intertextual que se relaciona especificamente com uma expressão lingüística e, por extensão, a um texto prévio. A importância dessa espécie de informação se deve ao fato de “contribuir para contextualizar as expressões dentro de uma história do uso da linguagem, referindo-se indiretamente a vozes interiores que contribuíram para o mesmo discurso ou para discursos semelhantes”. (FLORES et al., 2005, p. 108). Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(12) 18. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. Essa colocação, somada às demais evocações feitas, deixa claro que a intertextualidade é uma precondição para que os textos sejam inteligíveis, o que implica a dependência de um texto como uma entidade semiótica de outro texto prévio. A referência intertextual, portanto, ao invés de evocar imagens, pode excluí-las, parodiá-las ou até mesmo dar-lhes um significado oposto, dependendo da forma pela qual é utilizada. Flores et al. também ponderam que a intertextualidade, em um nível global, pode ser considerada “o mecanismo que regula a maneira pela qual se faz algo com o texto, gênero e discurso”. (id. ibid., p. 72) Em nível local, apresenta vários conceitos e valores que “tipificam as formas pelas quais uma comunidade usa textos particulares, gêneros e discursos ou representações socioculturais”. (id. ibid., p. 72) Os objetos socioculturais são entidades convencionalmente aceitas, que possuem aspectos destacados da vida em uma determinada comunidade lingüística e que refletem suas crenças mais comuns. Acrescentam Flores et al.: As práticas sociotextuais são, contrariamente, conjuntos de convenções retóricas que regem os gêneros e discursos. Em contrapartida, os textos obrigam os usuários da linguagem a se centrarem em um propósito retórico determinado. Os gêneros refletem a forma pela qual as expressões lingüísticas se encaixam em ocasiões sociais particulares. Os discursos compreendem a forma pela qual as atitudes se expressam, até onde pode chegar a linguagem a ser, convencionalmente, a representação das instituições sociais. (FLORES et al., 2005, p. 75). Como o conceito de intertextualidade se conecta a discursos em uma extensa linha cronológica, adquire também características socioculturais e contextuais. Do mesmo modo, Pedro (1997, p. 27) observa que o conceito de intertextualidade está sempre conectado a outros discursos, que foram produzidos anteriormente, como também aos discursos que se produzem sincrônica e posteriormente. Nesse sentido, adquire características socioculturais e contextuais que devem ser consideradas, para que se compreenda esse discurso. Complementa Pedro que o conceito “incorpora a noção de re-contextualização, entendida como expressões reais, significados expressos de forma explícita, ou algo apenas implícito ou implicado no texto ou gênero principal”. (PEDRO, 1997, p. 27) As relações entre os discursos, para Todorov (1996), são da mesma índole das relações que ocorrem no diálogo, ainda que não necessariamente representem um diálogo entre as pessoas. Nos níveis mais elementares, todas e cada uma das relações entre dois enunciados são intertextuais, tratando-se de relações semânticas. (TODOROV, 1996, p. 5). Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(13) Odete Aléssio Pereira. 19. Desta forma, se estabelecem como um tipo particular de relações semânticas, cujas partes devem ser constituídas por enunciados completos (ou considerados completos ou parcialmente completos), através dos quais estão e pelos quais se expressam os sujeitos que criam esses enunciados. O pensamento se converte em discurso e alcança uma existência material: somente então existe a intertextualidade. De acordo com Clark et al., na intertextualidade, não se trata de que a individualidade do falante esteja representada nos enunciados, mas que o enunciado seja percebido como a manifestação de uma concepção de mundo, característica do falante, enquanto há outra concepção, que está ausente, mas que participa do diálogo. Complementam: Isto se dá em vários níveis, mesmo no nível de uma língua como tal diante de outras línguas. Diz Bakhtin que, “para a consciência que cria o texto não é obviamente o sistema fonético da língua nativa ou suas particularidades morfológicas ou, ainda, seu vocabulário abstrato, que surge no campo enfocado pela língua estrangeira, mas precisamente isso é o que faz da língua uma concepção concreta e absolutamente intraduzível do mundo: especificamente, a expressão como uma totalidade. (CLARK et al., 1998, p. 89). Destarte, se observa que cada representação da língua coloca o sujeito em contato com toda a comunidade lingüística, com elementos que, muitas vezes, transcendem essa comunidade, quando evocam um povo, uma época, uma circunstância concreta de outra cultura. Isso também leva à consideração de que todo enunciado tem, em si mesmo, a essência da comunidade que fala, ou seja, da comunidade mais restrita, que compartilha normas de uso da linguagem e uma competência comunicativa própria, mas também, sobretudo, valores específicos de uma determinada sociedade.. 4.. CONCLUSÃO Considerando-se que todo homem existe e se relaciona a partir da linguagem, sendo ela que permite a organização do mundo, conceitualmente, é a partir da comunicação que se torna possível estabelecer diferenciações entre objetos, reconhecer inclinações e situar-se na sociedade. Assim, a relação entre linguagem, pensamento e realidade são problemáticas privilegiadas para estudo, porque expressam, através de enunciados vários, segundo seus próprios mecanismos de estruturação e de reiteração, recortes e classificações por vezes arbitrárias, de conceitos e acepções relativas à compreensão e, conseqüentemente, à comunicação humana.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(14) 20. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. Ainda, os fenômenos de enunciação marcam as relações entre os sujeitos e, nas práticas sociais, definem o modo pelo qual se elaboram e se desenvolvem os diálogos. Isso ocorre de acordo com os efeitos desejados pelos locutores sobre a compreensão dos ouvintes, ou seja, os efeitos que o discurso tem sobre os receptores. Sendo, nesse sentido, o discurso uma ferramenta chave para a compreensão dos textos produzidos, seu estudo se converte em objetivo primordial à investigação sobre a intertextualidade. A construção da realidade pessoal se explica, em boa parte, através da intertextualidade,. enquanto. o. conjunto. de. ações. preponderantemente. orais. cotidianamente exercitadas na convivência humana. A intertextualidade é a relação que um texto, oral ou escrito, mantém como outros textos, contemporâneos ou históricos. O conjunto de textos com os quais se vincula, explícita ou implicitamente, um texto, constitui uma espécie especial de contexto, que influi tanto na produção como na compreensão do discurso. Inicialmente, conclui-se que o caráter dialógico do discurso faz com que todo emissor, tendo anteriormente sido receptor de muitos textos, evoque os mesmos no momento de produzir seu enunciado, de tal modo que cada novo texto se baseia em outros textos anteriores. Com isso, se estabelece um diálogo, uma vez que, em cada discurso, não se ouve somente a voz do emissor, mas a convivência de uma pluralidade de vozes superpostas, que entabulam em diálogo entre si, numa relação de dependência mútua entre os enunciados. A definição de um conceito de intertextualidade, finalmente, leva à compreensão do modo pelo qual os textos influem uns sobre os outros, de tal forma que se evidencia que a intertextualidade não se relaciona unicamente com o enunciado mais ou menos explícito ou implícito de um texto dentro de outro, uma vez que a relação intertextual informa o texto no seu conjunto. Com efeito, pode-se também concluir que, como todo texto se produz no seio de uma cultura, que conta com uma larga tradição de textos que possuem determinadas características quanto à estrutura, à temática, ao estilo, ao registro, etc. Esse conhecimento textual compartilhado faz parte do acervo comum da comunidade lingüística e por isso é ativado quando se produz um texto e quando esse texto é interpretado. Desta forma, a intertextualidade pode servir, à compreensão de um texto, tanto como apoio como obstáculo, uma vez que, conforme se depreende, o conhecimento intertextual é, em grande medida, cultura, fazendo parte do conhecimento do mundo. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(15) Odete Aléssio Pereira. 21. compartilhado por uma comunidade lingüística, podendo não ser compartilhado por membros de outras comunidades, nas quais as referências intertextuais variem. Contudo, existem temas, idéias, estruturas e valores que são compartilhados por todas as culturas e, quando estes se refletem em enunciados concretos, podem servir como base de apoio para a compreensão e o estabelecimento de um diálogo entre emissores e receptores. Apesar das múltiplas chaves para a compreensão dessas implicações, no processamento cognitivo de um texto, cabe a recorrência ao conhecimento prévio de outros, porquanto estes se comunicam entre si, quase de forma independente dos seus usuários. A intertextualidade seria, assim, essencialmente, a evocação de uma palavra por outra, de um personagem por outro, a relação de um enunciado a outros.. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 11. ed. São Paulo: HUCITEC, 2004. BARTHES, Roland. A aventura semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ______. S/Z. Tradução de Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. BEAUGRANDE, Robert; DRESSLER, Wolfgang Ulrich. Introducción a la lingüística del texto. Barcelona: Ariel, 1997. BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral I. 4. ed. Tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. São Paulo: Pontes, 1995. BRAIT, Beth. Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: UNICAMP, 2001. BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas: Unicamp, 2004. CLARK, Katerina; HOLQUIST, Michael. Mikhail Bakhtin. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1998. DUCROT, Oswald. Enunciação. In: Enciclopédia Einaudi: linguagem e enunciação. Lisboa: Imprensa Nacional, 1984. ECO, Umberto. A estrutura ausente (introdução à pesquisa semiológica). 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 1991. FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão; CASTRO, Gilberto de (Org.). Vinte ensaios sobre Bakhtin. Petrópolis: Vozes, 2006. FLORES, Valdir do Nascimento; TEIXEIRA, Marlene. Introdução à lingüística da enunciação. São Paulo: Contexto, 2005. GADET, Françoise; HAK, Tony (Org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de Bethânia Mariani Campinas: UNICAMP, 2007. GREGOLIN, Maria do Rosário; BARONAS, Roberto (Org.). Análise do discurso: as materialidades do sentido. 2. ed. São Paulo: ClaraLuz, 2003. JENNY, Laurent (org.). Intertextualidades. Coimbra: Almedina, 1990.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

(16) 22. A intertextualidade e o dialogismo: encontros comunicacionais. MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Tradução de Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios & procedimentos. 3. ed. São Paulo: Pontes, 2001. PEDRO, Emília Ribeiro. Análise crítica do discurso. Lisboa: Caminhos, 1997. PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento? Tradução de Eni P. Orlandi. São Paulo: Pontes, 2002. PIATELLI-PALMARINI, Massimo. Teorias da linguagem, teorias da aprendizagem. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1983. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 22. ed. São Paulo: Cultrix, 2000. TODOROV, Tzvetan. Teorias do símbolo. Tradução de Enid Abreu Dobránzski. São Paulo: Papirus, 1996. Odete Aléssio Pereira Graduação em Licenciatura Plena Português / Inglês / Literatura pela Universidade de Taubaté (1998), graduação em Letras Lingüística pela Universidade de São Paulo (1984) e mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade de Taubaté (2003). Atualmente é coordenadora e professora da Faculdade Anhanguera de Taubaté. Professora titular da Escola Municipal Teixeira Pombo, atuando principalmente nos seguintes temas: leitura, postura crítica e reflexiva, leitura de texto publicitário, leitor proficiente e lingüista aplicada.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 7-22.

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