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Samba de roda do Recôncavo baiano

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES

ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFROBRASILEIRA

FRANCILEIDE MOREIRA DANTAS

SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO

CAICÓ 2016

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FRANCILEIDE MOREIRA DANTAS

SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO

Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade Artigo, apresentado ao Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, Campus de Caicó, Departamento de História, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista. Orientador: prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima.

CAICÓ 2016

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FRANCILEIDE MOREIRA DANTAS

SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de História do Ceres, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção de título de especialista em História.

Aprovada em: 14 / 05 / 2016

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________ PROF. DR. AGOSTINHO JORGE DE LIMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (ORIENTADOR)

____________________________________________________ PROF. DR. ALMIR DE CARVALHO BUENO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (MEMBRO DA BANCA)

____________________________________________________ PROF. Esp. MARIA DAS DORES DE MEDEIROS ROCHA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que iluminou o meu caminho durante esta caminhada.

Ao Prof. Dr. Agostinho Jorge de lima, por ter aceitado ser o orientador deste trabalho e pela paciência e incentivo na orientação.

Aos professores do curso que foram importantes na minha vida acadêmica e por transmitir seus conhecimentos.

A minha família pelo carinho e por ter me apoiado nos momentos que eu mais precisei. Aos colegas da turma e amigos, pelo incentivo e pelo apoio constantes nesta etapa de minha vida.

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SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO

Francileide Moreira Dantas¹ Agostinho Jorge de Lima²

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo demonstrar a origem do gênero musical “Samba”, no Estado da Bahia, bem como o seu surgimento no Rio de Janeiro e sua transformação como samba carioca. Considerado um riquíssimo gênero musical, o Samba é composto de vários estilos, porém, o trabalho dá ênfase ao Samba de Roda do Recôncavo baiano, por representar uma das formas de expressão cultural de um povo. A pesquisa tem caráter bibliográfico e aborda o Samba de Roda do Recôncavo baiano, estudando a sua origem e transformações, dando um destaque às modalidades samba corrido e samba chula, suas particularidades e diferenças, com ênfase no canto, dança, instrumentos e vestimentas. Discute-se ainda, o significado dos ritmos batuque e samba. Pautando-se, assim, no conhecimento da História Cultural Brasileira, percebe-se pouca divulgação do gênero musical Samba de Roda do Recôncavo baiano. Deste modo, o interesse pelo tema propõe uma propagação dessa importante manifestação cultural.

Palavras-Chave: Samba. Samba de Roda. Recôncavo baiano.

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1 Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó, Departamento de História (DHC). Graduado em Letras pela UFRN, CERES, Campus de Currais Novos. Professor da Rede Estadual de Ensino, na Escola Estadual Capitão Mor Galvão (Currais Novos-RN), onde ministra a disciplina de Língua Portuguesa. E-mail: francileidemoreira@bol.com.br

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ABSTRACT

This article aims to present the origin of the genre "Samba" in the state of Bahia, as well as its appearance in Rio de Janeiro and its transformation as samba. Regarded as a very rich musical genre, Samba consists of various styles, however, the following work emphasizes Samba Circle from Recôncavo Baiano, since it represents a form of cultural expression of a people. The research has a bibliographic feature and addresses Samba Circle of the Bahian Recôncavo, studying its origin and highlighting the modalities samba run and samba chula, its peculiarities and differences, with emphasis on singing, dancing, instruments and garments. It is also discussed the meaning of drumbeat and samba rhythms. Based on the knowledge about Brazilian Cultural History, it is realized a so little disclosure of the musical genre Samba Circle of the Bahian Recôncavo. Thus, the interest in the topic proposes a spread of this important cultural expression.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Fotografia do samba de roda... 19 FIGURA 2 - Fotografia da viola machete... 20 FIGURA 3 – Fotografia de ideofones (prato e faca)... 21

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...08

2 AS ORIGENS DO SAMBA BRASILEIRO ... 09

3 O SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO... 13

3.1 Samba de roda na história... 15

3.2 Tipos de samba de roda... 15

3.3 O canto: suas maneiras no samba de roda... 16

3.4 A dança: evolução no samba de roda... 17

3.5 Os instrumentos e conjuntos instrumentais... 20

3.6 Vestimentas no samba de roda... 21

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 22

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1 INTRODUÇÃO

Pode-se considerar o samba a maior manifestação cultural e a que mais representa o Brasil no mundo, porém, nem sempre foi deste modo. Isto foi evoluindo e se tornando aquilo que hoje é tido como uma das mais significativas manifestações culturais. Por este motivo é de grande importância que os brasileiros saibam explicar sua origem e tenham, pelo menos, uma breve noção de como é executado, qual a sua formação instrumental e alguns cantos de samba dentro de seus variados estilos.

O samba foi precursor de diversas manifestações culturais de música e dança e adquiriu características próprias de acordo com o lugar. Como exemplos, o tambor de crioula no Maranhão (MA), o samba de roda (BA), o bambelô (RN), o coco (CE), coco de roda (litoral de Pernambuco), entre outros.

A finalidade deste artigo partiu principalmente do interesse pela cultura afro-brasileira, que é muita rica, e por se tratar de um riquíssimo gênero musical, o samba, que aparentemente desperta pouco interesse na juventude, estimulou em mim o desejo de estudar e apresentar esse trabalho com o tema o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, para que os jovens conheçam que há outros estilos além dos que estão acostumados. O samba sempre me cativou por sua melodia, seu ritmo, que eleva o espírito e o corpo, trazendo alegria e molejo para quem o dança e canta.

Para o estudo sobre o samba de roda, principalmente no Recôncavo Baiano, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica que reporta a sua história como expressão cultural de um povo, contribuindo para o estudo dos seus dois grandes tipos: o samba corrido e o samba chula, particularidades e diferenças, incluindo também, por parte dos que organizam esses eventos, a preocupação com a falta de interesse dos jovens em continuar com a tradição. O projeto foi pautado através do conhecimento da História Cultural Brasileira, que buscou respostas sobre a história do samba de roda no Recôncavo Baiano.

A primeira parte é composta pelas origens do samba brasileiro, seu surgimento na Bahia e Rio de Janeiro. A segunda parte destaca o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, suas referências históricas, os tipos de samba de roda, nas modalidades do samba chula e samba corrido, e suas particularidades, assim classificadas: o canto – suas maneiras no samba de roda, a dança – coreografia típica, os instrumentos e conjuntos instrumentais e a vestimentas no samba de roda.

O Samba de Roda do Recôncavo Baiano, incluído pela UNESCO na III Declaração de Obras-Primas do Patrimônio Imaterial da Humanidade, em 2005, constitui-se numa forma

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musical-coreográfica da região do Recôncavo Baiano. Construída num complexo processo, essa candidatura vitoriosa envolveu agentes de políticas públicas, antropólogos, etnomusicólogos e, especialmente, sambadores e sambadoras do Recôncavo.

Um trabalho com grande densidade, como alguns dos citados anteriormente, sobre esta rica manifestação cultural, foi produzido no ano de 2004 e publicado em 2006 com o título: Samba de Roda do Recôncavo Baiano (IPHAN, 2006). Trata-se da pesquisa coordenada pelo etnomusicólogo Carlos Sandroni – com colaboração de Ari Lima, Francisca Marques, Josias Pires, Katharina Döring e Suzana Martins –, que resultou no dossiê de Registro do Samba de Roda do Recôncavo da Bahia como Patrimônio Cultural Brasileiro. (LORDELO, 2009, p. 77)

Além do meu interesse particular pelo assunto, surgiu a necessidade desse estudo, mediante a implantação da lei nº 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, cujo objetivo é promover uma educação que reconhece e valoriza a diversidade, comprometida com as origens do povo brasileiro.

2 AS ORIGENS DO SAMBA BRASILEIRO

O samba é um gênero musical derivado de um tipo de dança de raízes africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais e populares brasileiras. Provavelmente, originário do nome angolano semba (um ritmo religioso), significando umbigada. Segundo Sandroni (2001, p. 85), a umbigada, registrada desde o século passado tanto no Brasil como na África, como um gesto em torno do qual se organizam certas danças dos negros. É através desse gesto que um dançarino designa quem irá substituí-lo.

Originou-se dos antigos batuques trazidos pelos africanos ao Brasil como escravos. Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que eram usados entre os negros como uma espécie de comunicação ritual através da música e da dança, da percussão e dos movimentos do corpo.

A diferença entre batuque e samba na Bahia e a passagem entre ambos, dificilmente será esclarecida, pois as fontes históricas são poucas, muitas vezes imprecisas e geralmente foram proferidas de um olhar hegemônico e racista que pouco percebeu as sutilezas e diferenças entre as diversas

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manifestações culturais e musicais da população negra e escravizada. (DÖRING, 2004, p. 69)

Apesar de o tambor e os instrumentos de percussão, em geral, serem bem conhecidos dos portugueses, foram os africanos que introduziram no país a maior variedade que deles existe hoje, além das danças que têm na percussão a sua essência, caso do tambor-de-crioulo. Este é composto de uma série de cantos e dança, ao som de triângulo, cabaça e tambores como o rufador, o meião ou socador e o crivador. Ainda tem o toque das matracas ou pererenga.

A roda de tambor é um momento especial. Não tem data específica para acontecer, toda época é época, todo tempo é tempo. Na roda, cantos, danças e devoções aos santos são ritmados pela sonoridade da parelha, composta por três tambores com funções bem definidas: tambor grande ou rufador, meião ou pererenga; denominações que variam de acordo com o grupo ou a região. (IPHAN, 2006. p. 92).

Os ritmos do batuque aos poucos foram incorporando elementos de outros tipos de música, sobretudo no cenário do Rio de Janeiro do século XIX. O samba como gênero musical é entendido como uma expressão musical urbana dessa cidade, onde esse formato de samba nasceu e se desenvolveu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Foi então, que a dança praticada pelos escravos libertos entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais tocados na cidade, adquirindo um caráter totalmente singular, que se tornou a identidade do povo brasileiro e ganhou proporção mundial.

Um desses ritmos, o "Lundu" é uma dança de origem africana trazida para o Brasil pelos escravos. A sensualidade dos movimentos já levou a Côrte e o Vaticano a proibirem a dança no século passado. No Brasil o "Lundu", assim como o "Maxixe", foi proibido em todo Brasil por causa das deturpações sofridas em nosso país. Mas, mesmo às escondidas, o "Lundu" foi ressurgindo, mais comportado, principalmente em três Estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e na Ilha do Marajó, no Pará. A dança simboliza um convite que os homens fazem às mulheres "para um encontro de amor sexual". O Lundu, considerado ao lado do Maxixe, uma dança altamente sensual, se desenvolve com movimentos ondulares de grande volúpia. No início as mulheres se negam a acompanhar os homens, mas depois de grande insistência, eles terminam conquistando as mulheres, com as quais saem do salão dando a ideia do encontro final.

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José Ramos Tinhorão descreve o lundu como resultado de confluência de elementos de cultura negra, portuguesa e espanhola e praticada por negros e mestiços no decorrer do século XVIII e XIX (Tinhorão, 1991).

Apesar de o ritmo inspirar alegria e ser tão contagiante, por ser ligado à cultura negra, o samba era malvisto por muitos na década de 20. Durante muito tempo quem fosse visto cantando ou dançando samba corria o risco de sambar atrás das grades.

Mesmo sendo aceito pelas camadas populares, a princípio do século XX, os sambistas sofriam uma perseguição sistemática contra as rodas de batuques da Festa da Penha, ou dos pontos de reunião de capoeiras especialistas em pernadas ao som de estribilhos marcados por palmas. (TINHORÃO, 1990, p. 218).

As casas das “tias” baianas ficaram conhecidas como local de fusão desses ritmos e construção do samba no início do século XX. As baianas mais velhas exerciam uma liderança na organização da família, da religião e do lazer. Uma das mais influentes tias baianas foi “tia” Ciata. As festas eram frequentadas principalmente pelos baianos e seus descendentes, pelos negros que a eles se juntavam, estivadores, artesãos, alguns funcionários públicos, policiais, alguns mulatos e brancos de baixa classe média, gente que progressivamente se aproximava pelo lado do samba e do carnaval, e por pessoas mais abastadas, atraídas pelo exotismo das celebrações. Segundo o historiador Jairo Severiano (2009), surge a primeira geração de sambistas de origem negra, tais como: Donga, Pixiguinha, Caninha e Sinhô. Todos eles saídos das rodas de samba e partidos altos da casa de tia Ciata.

A gravação do primeiro samba, intitulado “Pelo Telefone” teria sido composto coletivamente na Casa de Tia Ciata. No entanto, foi registrado por Donga em 1916, sem a citação de parceiros. Esse período foi marcado pelo surgimento do mercado fonográfico e pelas oportunidades de ascensão social e prestígio, oriundas da possibilidade de lucro através da música, e, portanto, de profissionalização do samba e da passagem do anonimato à autoria. Segundo Lordelo (2009, p. 75), a convivência coletiva na casa de Tia Ciata fez com que este espaço rapidamente se transformasse numa potente “escola de samba”, onde mestres e mestras de “harmonia” viram e fizeram crescer grandes músicos como: Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, Bucy Moreira e muitos outros que ajudaram a tirar o samba da marginalidade.

Ao longo do século XX o samba evoluiu e recebeu várias formas, como o samba-canção, o samba de breque, o samba enredo e, mais recentemente, o pagode. Como se disse

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antes, o samba tornou-se um símbolo do Brasil e sua maior expressão se dá no carnaval, em especial do Rio de Janeiro e, mais recentemente, também em São Paulo.

Carlos Sandroni cita que a primeira menção escrita da palavra “samba” é mencionada em 1838, no jornal satírico pernambucano O Cancioneiro. Não aparece diretamente como dança, mas como música. Em um momento seguinte, no mesmo jornal fala-se da “dança do samba”, referida como diversão de gente da roça, limitando à zona rural. E a essa limitação do samba à zona rural no século XIX, ele menciona:

Essa limitação do samba à zona rural é confirmada por outros testemunhos que nos chegaram do século XIX. Batista Siqueira, em “Origem do termo samba”, fornece vários exemplos neste sentido (embora eles não bastem para dar consistência sua tese sobre origem indígena do vocábulo). (SANDRONI, 2001, p. 86)

Todas as “localizações” sociais do samba – coisa da roça, do Norte (Bahia), dos negros – tiveram consequências quanto ao valor que lhe era atribuído. Por isso, “o samba será ainda por longo tempo considerado, baixo, indigno, etc.” Essa “indignação” com a música influenciada pelo fazer musical de nosso país, consoante Sandroni (2001, p. 89), pode ser atestada por um discurso pronunciado por Ruy Barbosa, no Senado Federal, em 07/11/1914, dias depois de uma festa no Palácio do Catete (sede do governo no Brasil, de 1897 a 1960). Na ocasião, a esposa do presidente da República, Nair de Teffé, tocara a música “Corta-jaca” de Chiquinha Gonzaga. O evento foi seguido por manifestações de preconceito, após a apresentação de uma música que utilizava gêneros como a modinha e o lundu, considerado pela elite social aristocrática da época uma dança indecente, vulgar, música e dança de negros. Abaixo, trecho do discurso de Ruy Barbosa:

Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o “Corta-jaca” à altura de uma instituição social. Mas o “Corta-jaca” de que eu ouvira falar, há muito tempo, o que vem a ser ele, sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o “Corta-jaca” é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade séria! (BARBOSA apud SANDRONI, 2001, p. 89).

O movimento do samba só é aceito quando executado nos engenhos, na roça. Quando os negros trazem para dentro da cidade de Salvador, o preconceito prevalece e a música deles

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é desvalorizada. A partir da década de 1870, com a vinda para o Rio, o samba já não será mais só da Bahia, nem só da roça e nem só dos negros.

3 O SAMBA DE RODA DO RECÔNCAVO BAIANO

Durante a primeira metade do século XIX os batuques preenchiam o Recôncavo Baiano com o som dos atabaques. Dentre todos os festejos dos quais os negros (escravos ou libertos) participavam, o batuque era a festa que reproduzia mais fielmente as experiências dos negros na África, talvez por isso tenha se constituído num dos principais alicerces para a fundação de uma identidade negra e escrava na Bahia.

Döring (2006, p, 69) afirma que a diferença entre batuque e samba na Bahia é pouco esclarecida, já que não se tem fontes históricas precisas, e que os batuques aconteciam em praça pública e eram ligados às festas religiosas no calendário católico. Segundo Lordelo (2009), apesar das fontes históricas serem restritas, os Batuques aparecem, genericamente, e às vezes, preconceituosamente, como o nome dado pelos portugueses às danças africanas no Brasil.

O Samba de Roda é um ramo rítmico do samba. Possivelmente foi criado no século XIX. É reconhecido justamente pela disposição dos sambistas em círculo; eles movem seu corpo de tal maneira que todos os praticantes de capoeira aí posicionados acabam, irresistivelmente, aderindo à sonoridade deste ritmo.

O Recôncavo baiano é uma região de enorme influência africana. Foi o berço do samba brasileiro, onde teriam surgidos às primeiras manifestações do samba de roda, gênero musical proclamado como Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO (2005). Foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artísticos Nacional (Iphan) em 2004 e proclamado Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005.

Tal publicação, inclusive, já se caracteriza como um dos resultados do Plano de Salvaguarda desta manifestação musical, coreográfica, poética e festiva do povo baiano; fruto do título conferido ao samba de roda enquanto Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, em 25 de novembro de 2005 (LORDELO, 2009, p. 77).

Mas, antes de sua importância histórica, o Samba de Roda cumpre um papel fundamental nas comunidades do Recôncavo. O termo Samba designa o evento, a dança, a

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letra, a música e o conjunto musical que a executa. Não representa mero divertimento, mas sim, elemento integrante e integrador de rituais tanto religiosos como seculares e, sobretudo, do cotidiano.

No Recôncavo, o samba sem dúvida tem uma posição especial. É significante a ligação que o samba consegue entre todas as faixas etárias e entre os sexos, como também o fato de que formas de samba são ligadas, de uma ou outra maneira a quase todas as espécies culturais importantes, e tem um papel importante nas demais festas festivas, sejam elas religiosas, de rituais ou de outra natureza. (PINTO, 1991, p.106)

Pode ser realizado em associação com o calendário festivo, caso da Festa da Boa Morte, em Cachoeira, no mês de agosto; de São Cosme e Damião, em setembro, e de sambas ao final de rituais para caboclos em terreiros de candomblé. Reúnem as tradições culturais que incluem o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada comida do azeite. Mas ele pode também ser realizado em qualquer momento, como uma diversão coletiva, pelo prazer de sambar. Comentário do Dossiê IPHAN:

Não há ocasiões exclusivas para a realização do samba de roda, mas há aquelas nas quais ele é indispensável. A primeira delas refere-se às festas do catolicismo popular que são associadas, no Recôncavo, a tradições religiosas afro-brasileiras. Em particular, no final de setembro são célebres os sambas nas festas dos santos Cosme e Damião, sincretizados com os orixás iorubanos relacionados aos gêmeos, os Ibeji. (IPHAN, 2006, p. 19).

O Samba de Roda designa uma mistura de música, de dança, poesia e festa. Presente em todo o estado da Bahia, principalmente no Recôncavo, faixa de terra que se estende em torno da baia de Todos os Santos. Mas, o ritmo se espalhou por várias partes do país, sobretudo Pernambuco e Rio de Janeiro.

O samba de roda desenvolve-se em uma roda, onde participam homens e mulheres: tradicionalmente, eles tocam os instrumentos (viola, violão, cavaquinho, pandeiro, atabaque, prato, triângulo e timbau) e põem a voz, elas marcam o ritmo com as palmas, dançam uma a uma para os tocadores vestidas com roupas típicas ou não e chamam as companheiras para fazer o mesmo com a umbigada. Composta pelos participantes que cantam, tocam e batem palmas, reservam um espaço no meio para as evoluções da dança. De caráter essencialmente lúdico, não tem data nem local para acontecer. Associa-se, muitas vezes, ao calendário religioso, ocorrendo dentro de casa ou ao ar livre, em um bar, praça ou um terreiro de

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candomblé. É essencialmente uma roda de dança acompanhada por canto e percussão. Empregam-se os instrumentos musicais - ou mesmo objetos - disponíveis no momento da roda.

Samba de roda, música e dança, identidade, cultura afro-brasileira, seus principais aspectos encontram-se na própria performance, dentro da roda. Sambar no Recôncavo da Bahia significa comemorar, através do corpo, a própria memória e identidade dos afro-brasileiros.

3.1 Samba de roda na história

As primeiras referências históricas relacionadas ao samba de roda datam do início do século XIX, por viajantes estrangeiros, que escreveram sobre suas experiências no Brasil.

O inglês Thomas Lindley registrou em 1803, na Bahia, uma dança assim descrita :“ (...) entram em cena a viola ou o violino, e começa a cantoria, que logo cede passo à atraente dança dos negros. (...) Consiste em bailarem os pares ao dedilhar insípido do instrumento, sempre no mesmo ritmo, quase sem moverem as pernas, com toda a ondulação licenciosa dos corpos, em contato de modo estranhamente imodesto. Os espectadores colaboram com a música em um coro improvisado, e batem palmas, apreciando o espetáculo(...)”. (TINHORÃO, 1991, p. 29 ).

O primeiro registro no Brasil dessa expressão data de 1838, através de um jornal editado em Pernambuco, mas sem fazer menção específica a afrodescendentes. A palavra “samba” na Bahia data de 1844, em Salvador, pelo historiador João José Reis e está num relato feito em janeiro daquele ano pelo carcereiro da prisão municipal, Joaquim José dos Santos Vieira, ao Chefe de Polícia:

Ontem quase 9 horas da noite, depois das prisões fechadas, ouvi um alarme, que não podia perceber se era samba de africanos, ou de nacionais [...] vim à guarda informar-me aonde era aquele estrondo, quando vi que era na prisão desta cadeia (...) imediatamente disse ao sargento mandasse a sentinela conter a ordem naquela prisão: cessou o samba [...] (REIS, 2002 apud IPHAN, 2006, p. 29).

É a partir da segunda metade do século que se passa a encontrar, na imprensa e em registros policiais, referências ao samba na Bahia e com características presentes no Recôncavo atual. Segundo o jornal O Alabama (de 26/01/1864), “Nos becos da Rua

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Castanheda, por exemplo, havia sambas, todas as noites, acompanhados de pratos e pandeiros”. E hoje em dia, pratos e pandeiros são os instrumentos mais típicos de acompanhamento do samba.

3.2 Tipos de samba de roda

As principais características do samba de roda, como a umbigada e o uso da viola podem ser verificadas desde o século XVII. Os primeiros registros de algo semelhante ao samba de roda datam de 1803. Há várias modalidades de samba de roda no Recôncavo baiano. A pesquisa realizada tem como base dois grandes tipos: o samba corrido e samba chula.

As principais diferenças entre samba corrido e samba chula se referem às relações entre música e dança. No samba chula a dança e o canto nunca acontecem ao mesmo tempo. No samba corrido a dança e o canto acontecem ao mesmo tempo. A seguir segue uma descrição mais pormenorizada de suas particularidades.

Pode-se dividir o samba de roda em dois grandes tipos: o samba corrido e o samba chula, este também chamado de samba de parada, samba amarrado ou samba de viola; e que na região de Cachoeira, com diferenças maiores, são chamados barravento. Será usado, por convenção, o nome samba chula em referência ao segundo tipo em questão. Já o samba corrido, como será visto a seguir, tem um caráter mais genérico, e por isso pode ser chamado, às vezes, pelos participantes, por contraste com o samba chula, de roda simplesmente.

No samba chula os participantes iniciam o samba enquanto os cantores recitam a chula, que é um tipo de cântico e poesia. São estrofes relativamente curtas, podendo ter de um até oito estrofes, como um “Repente”. As letras geralmente são baseadas em fatos ligados a atividades relacionadas à agricultura. O passo de samba é o miudinho; a “sambadeira” samba num sapateado para frente e para traz; com os pés quase colados no chão e com movimentos ritmados nos quadris. Os participantes não sambam enquanto os cantores bradam a chula.

No samba corrido todos sambam, enquanto dois solistas e o coral se alternam na cantoria. Os passos são mais movimentados, mais dançantes. Os dois ritmos são muito contagiantes.

A diferença entre os dois está no modo de dançar e no modo como a música é executada. No samba corrido, a dança, o toque e o canto acontecem na mesma hora e uma ou mais pessoas podem dançar no centro da roda ao mesmo tempo. No samba chula, mais

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rigoroso, a dança nunca acontece na mesma hora que o canto e apenas uma pessoa pode dançar no meio da roda e os instrumentos podem ser tocados nos dois momentos.

A roda é comum aos dois tipos mencionados. Porém, é centralizada pelo ponto onde se reúnem os músicos. De certa maneira, todos os participantes do samba de roda são músicos, pois todos, em princípio, batem palmas e cantam as respostas.

É importante notar que a relação entre homens tocando e mulheres sambando é peça fundamental para desenvolver um bom samba. A boa sambadeira estimula o tocador, do mesmo jeito que o samba bem tocado, e uma viola bem tocada estimulam a sambadeira.

3.3 O canto: suas maneiras no samba de roda

Os cantos que animam o samba de roda, muitas vezes são feitos de improviso, com provocação de resposta. A estrofe principal pode ser entoada por um ou dois cantores, enquanto a resposta é dada por todos.

No samba corrido é mais comum o cantador principal do samba ser um solista. É em média mais curta a duração de cada intervenção sua, constitui às vezes de um único verso. A existência de uma estrofe de resposta curta é obrigatória e será cantada pelo conjunto dos participantes do samba. O puxador do samba parece não improvisar muito na estrutura dos versos no Samba Corrido; algumas palavras podem ser modificadas dentro de uma mesma melodia que é repetida até a introdução de uma nova música.

Tomemos como exemplo de Samba Corrido os seguintes versos: “Você matou meu sabiá,

Moça morena, vou pra Ribeira sambar” Resposta:

Igual

(Samba Raízes de Angola, S. Francisco do Conde, faixa 10 do CD Samba de Roda – Patrimônio da Humanidade).

No samba chula, a principal parte cantada é chamada de chula. Em alguns grupos o ideal é cantar com quatro homens, como é o caso de Santiago do Iguape e São Francisco do Conde. No Recôncavo baiano o termo ”chula” se refere a forma específica do texto e de como ele é cantado. Döring (2010) resume a estrutura das chulas baianas da seguinte forma:

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[Chula] no Samba Chula é o canto de uma estrofe composta por dois até quatro versos, entoado por uma parelha (dupla vocal) quase sempre de homens. Ao contrário do Samba Corrido, o verso não é respondido e repetido pelo coro, à maneira do canto responsorial. A chula pode passar uma mensagem clara ou ser simbólica, como metáfora ou poesia livre, cujo significado em alguns casos se perdeu no tempo ou só se faz compreender entre os mais velhos. Geralmente, a chula é seguida de um relativo, uma estrofe um pouco mais curta cantada por outra parelha, concluindo ou comentando a chula de uma maneira muitas vezes engraçada. (DÖRING ,2010 apud GRAEFF, 2013, p. 10).

No Samba Chula temos como exemplo os seguintes versos:

“Minha sinhá, minha iaiá (bis) Quem tem amor tem que dar Quem não tem não pode dar

Mulata baiana, quero ver a palma zoar Chora, mulata, chora

Na prima desta viola”.

No Relativo temos os seguintes versos:

“Ôh,vi Amélia namorando, eu vi Amélia Eu vi Amélia namorando, namora, Amélia”. (Waddey, 1982:26)

3.4 A dança: evolução no samba de roda

A dança acontece dentro da roda. A coreografia típica, o miudinho, é um “quase imperceptível sapatear para frente e para trás dos pés quase colados no chão, com a movimentação correspondente dos quadris” (IPHAN, 2006, p. 23). A dança é predominante feminina, enquanto os homens estão geralmente tocando os instrumentos (com exceção do prato-e-faca). Os dançarinos revezam-se no centro da roda, muitas vezes fazendo a troca dos bailarinos com uma umbigada. De maneira geral, quem entra na roda para sambar, tem que correr a roda. Todos podem participar e não há local exclusivo para ocorrer: a roda pode ser formada em um bar, uma praça ou dentro de casa. No caso do samba corrido, dança, toque e canto acontecem na mesma hora e uma ou mais pessoas podem dançar no centro da roda ao mesmo tempo. No samba chula, mais rigoroso, a dança nunca acontece na mesma hora que o canto e apenas uma pessoa pode dançar no meio da roda (os instrumentos podem ser tocados nos dois momentos).

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Há uma diferença fundamental entre o samba chula e o samba corrido, quanto à postura das sambadeiras. Em geral, no samba chula, a sambadeira mantém a coluna vertebral ereta, os dois joelhos semiflexionados, com ambos os braços relaxados e soltos, descansando-os ao longo do corpo. O peso do corpo é distribuído na sola ddescansando-os pés, entre descansando-os deddescansando-os e descansando-os calcanhares. O movimento dos quadris também é contínuo e proveniente do ritmo produzido pelos pés. (IPHAN, 2006, p.18)

No caso dos sambas corridos, embora a coluna vertebral também esteja ereta, ela se mostra mais flexível, enquanto os dois joelhos ficam semiflexionados e ambos os cotovelos também semiflexionados, dão aos braços mobilidade no movimento de ir e vir; os pés continuam plantados e em contato com o chão, ainda no passo miudinho, mas com mais velocidade, amplitude e liberdade: os pés se separam e podem às vezes sair do paralelismo e formar um ângulo agudo; os calcanhares elevam-se um pouco mais. Consequentemente, as pernas também se separam um pouco e o peso do corpo é levemente jogado para frente e para os dedos dos pés. Elas usam também, de vez em quando, a articulação de ambos os ombros, sacudindo-os e, consequentemente, agitando todo o corpo, inclusive a cabeça e o foco do olhar, que se dirige para várias direções. Ou ainda, em combinação com o remexer dos quadris, as mulheres podem tremer ambos os ombros fazendo o miudinho sem sair do lugar. (IPHAN, 2006, p.18)

O "Lundu" é uma dança de origem africana trazida para o Brasil pelos escravos. A sensualidade dos movimentos já levou a Côrte e o Vaticano a proibirem a dança no século passado. No Brasil o "Lundu", assim como o "Maxixe", foi proibido em todo Brasil por causa das deturpações sofridas em nosso país. Mas, mesmo às escondidas, o "Lundu" foi ressurgindo, mais comportado, principalmente em três Estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e na Ilha do Marajó, no Pará. A dança simboliza um convite que os homens fazem às mulheres "para um encontro de amor sexual".

José Ramos Tinhorão descreve o lundu como resultado de confluência de elementos de cultura negra, portuguesa e espanhola e praticada por negros e mestiços no decorrer do século XVIII e XIX (Tinhorão, 1991). O "Lundu" é uma dança de origem africana trazida para o Brasil pelos escravos. A sensualidade dos movimentos já levou a Corte e o Vaticano a proibirem a dança no século passado.

No Brasil o "Lundu", assim como o "Maxixe", foi proibido em todo Brasil por causa das deturpações sofridas em nosso país. Mas, mesmo às escondidas, o "Lundu" foi ressurgindo, mais comportado, principalmente em três Estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e na Ilha do Marajó, no Pará. A dança simboliza um convite que os homens fazem às

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mulheres "para um encontro de amor sexual". O Lundu, considerado ao lado do Maxixe, uma dança altamente sensual, se desenvolve com movimentos ondulares de grande volúpia. No início as mulheres se negam a acompanhar os homens, mas depois de grande insistência, eles terminam conquistando as mulheres, com as quais saem do salão dando a ideia do encontro final.

José Ramos Tinhorão descreve o lundu como resultado de confluência de elementos de cultura negra, portuguesa e espanhola e praticada por negros e mestiços no decorrer do século XVIII e XIX (Tinhorão, 1991).

FOTOGRAFIA 1 – Samba de roda

Fonte: https://ocantodocabore.wordpress.com/voando-na-cultura-popular

3.5 Os instrumentos e conjuntos instrumentais

No samba de roda, seu conjunto instrumental não é fixo, mas de modo geral é composto por violas, pandeiros, instrumentos como prato e faca, garrafas ou pedaços de madeiras, ditos idiofones. Porém, se não tiverem, as pessoas que fazem o samba de roda tocam os instrumentos disponíveis. É possível fazer um samba de roda sem instrumentos: cantando, batendo palmas ou batendo em objetos que estiverem à mão.

São encontrados dois tipos de viola empregados no samba de roda: a viola industrial, também conhecida como viola paulista, um pouco menor que o violão. E o outro tipo, chamado no Recôncavo de machete. É um tipo de viola de dez cordas, sendo estas dispostas no corpo do instrumento em cinco duplas de cordas. Estes instrumentos musicais possuem

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tamanho bem menor e timbre bem mais agudo e brilhante do que o violão, por exemplo. Considerada como um dos maiores símbolos da cultura caipira.

Atualmente, entretanto, a prática de tocar viola machete está quase extinta na Bahia. Isso vem ocorrendo porque as novas gerações não estão dando continuidade à esta tradição, rompendo assim o elo de transmissão de conhecimentos orais existente entre as gerações de sambadores.

FOTOGRAFIA 2 – Viola Machete

Fonte: http://orkut.google.com/c70296821.html

Os outros instrumentos utilizados são membranofones (instrumentos de percussão) e idiofones (som provocado pela sua vibração). Entre os primeiros, o principal é o pandeiro.

Outros Membranofones que são utilizados no Recôncavo: atabaques, timbales, tamborins ou tamborinos, e marcação. Entre os idiofones, o mais característico do samba de roda é o prato- e- faca. Dois utensílios domésticos, com a única especificação de que o prato deve ser de preferência, esmaltado. É tocado principalmente por mulheres. E tem como regra geral, tocar de pé, e não precisamente próxima à do conjunto dos tocadores.

Outros idiofones encontrados no samba de roda são reco-recos e chocalhos de contas, dos mais variados formatos e materiais.

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FOTOGRAFIA 3 - Idiofones (prato e faca)

Fonte: https://blogsantodcasa.wordpress.com/page/3/

No samba chula, o uso da viola é mais importante que no samba corrido.

Os dois tipos podem acontecer com ou sem viola, mas é no samba de chula que a viola é mais fundamental. Na ausência de viola, o mesmo papel de protagonista musical poderá ser desempenhado por violão, cavaquinho ou bandolim. A participação de todos os presentes por meio das palmas funciona como uma indicação da qualidade do samba, de sua capacidade decontagiar a todos. Como uma espécie de derivação das palmas, alguns grupos – de Cachoeira, Saubara - utilizam pares de tabuinhas, ou taubinhas, que fazem os mesmos padrões rítmicos. (IPHAN, 2006, p.13-14).

3.6 Vestimentas no samba de roda

Não há traje certo ou característico no samba. No geral, as pessoas se vestem com roupas do cotidiano, as que usam no dia-a-dia para trabalhar ou passear. Porém verifica-se a preferência de saias compridas e rodadas pelas mulheres. Esse tipo de saia rodada proporciona mais liberdade na hora de sambar. No caso de grupos que fazem apresentações por meio de contratos, observa-se, pelas mulheres, o uso do traje típico da baiana, com colares, pulseiras e sandálias, mas também podem se apresentar descalças. As cores usadas no traje das baianas são contrastantes e fortes, como o azul e o amarelo, laranja e o verde.

Quanto aos homens, também usam roupas comuns, cotidianas, e muitas vezes, dançam descalços, dependendo do local onde se samba. Os músicos se vestem com roupas comuns, mas em algumas localidades, usam chapéu de couro ou palha.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Recôncavo da Bahia a roda de samba, embora não celebre uma data ou acontecimento específico, não deixa de ser um rito, onde sambar é comemorar através do corpo a própria memória e identidade; é expressar valores, costumes, símbolos da comunidade advindos de escravos africanos, indígenas e de senhores portugueses. Deste modo, mediante os estudos realizados a respeito do Samba de Roda do Recôncavo baiano, identificado como um ramo rítmico do samba observou-se que há pouca divulgação desse gênero musical na mídia em geral, embora se constitua uma rica manifestação da cultura brasileira.

Observou-se também que, os violeiros foram levados à procura de alternativas para suprir a falta de instrumentos adequados, substituindo gradualmente as violas artesanais pelas violas industrializadas. Uma explicação para esta mudança na preferência pelas violas industrializadas está no fato de que hoje em dia é cada vez mais fácil encontrá-las disponíveis à venda no comércio especializado em instrumentos musicais, incrementado nas últimas décadas pela crescente demanda por estes instrumentos nas regiões Sul-Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Percebe-se então que, além da grande importância para a cultura popular brasileira, e com a implantação da lei Nº 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, com o objetivo de promover uma educação que reconhece e valoriza a diversidade, comprometida com as origens do povo brasileiro, entende-se a necessidade de colaborar com a propagação dessa importante forma de expressão cultural.

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FONTES

Fonte: O canto do Caboré

https://ocantodocabore.wordpress.com/voando-na-cultura popula/ Acesso em: 23/04/2016.

Fonte: Viola Machete

http://orkut.google.com/c70296821.html Acesso em: 23/04/2016

Fonte: Mariene de Castro na abertura do Carnaval do Pelô https://blogsantodcasa.wordpress.com/page/3/

Acesso em: 23/04/2016

REFERÊNCIAS

DÖRING, Katharina. Samba Chula do Recôncavo Baiano - Tanz, Musik, Spiel und Lebensfreude !", In: Popscriptum 11 - The Groove issue. s.n. 2010

GRAEFF, Nina. Samba de Roda: comemorando identidades afro-brasileiras através da performance musical. Cátedra “Transcultural Music Studies”, Instituto de Musicologia Weimar-Jena/Escola Superior de Música FRANZ LISZT Weimar e Universidade Friedrich-Schiller Jena Etnomusicologianina, 19 jan, 2013. Disponível em < http://cral.in2p3.fr/artelogie/spip.php?page=imprimir_articulo&id_article=173>. Acesso em 23 fev. 2015.

LORDELO, Petry Rocha. O samba chula de cor e salteado em São Francisco do Conde/ BA: cultura populá e educação não-escolá para além da(o) capitá. 2009. 198 f. Diseertação (Mestrado) – Departamento de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. PINTO, Tiago de Oliveira e TUCCI, Dudu. (1992). Samba und Sambistas in Brasilien. Wilhelmshaven: Florian Noetzel.

PINTO, Tiago de Oliveira. (1991). Capoeira, Samba, Candomblé. Afro-brasilianische Musik im Recôncavo, Bahia. Berlim: Museum für Völkerkunde.

PINTO, Tiago de Oliveira; GRAEFF, Nina. (2012). Música entre materialidade e imaterialidade: os tons-de-machete do Recôncavo Baiano. In Revista Mouseion 11 (jan-abr). 72-97.

REIS, João José. Tambores e temores: a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX. In Maria Clementina Cunha (org.) Carnavais e outras f(r)estas: ensaios de história social da cultura, São Paulo: Unicamp/ Cecult, 2002.

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SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/UFRJ, 200l.

SEVERIANO, Jairo. Uma História da Música Popular Brasileira: das origens à modernidade, Editora 34, 2009.

TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular: da Modinha à Lambada. São Paulo: Art, 1991.

WADDEY, Ralph. Viola de Samba and Samba de Viola in the Recôncavo of Bahia (Brazil), In: Latin American Music Review, 1980/81, volume 1/2, p. 196-212. Volume 2/2, p. 252-279.

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