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O Mito do Problema na Redução da Maioridade Penal: uma análise econômica da PEC 171-E/1993

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Revista da AMDE – ANO: 2014 – VOL. 12

O Mito Do Problema Na Redução Da Maioridade

Penal: Uma Análise Econômica Da PEC 171-E/1993

Elton Dias Bonmann

1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho estimou-se, no curto e longo prazo, as prováveis consequências sociais com a implementação da PEC da redução da maioridade penal (PEC 171-E/1993), aprovada na Câmara dos Deputados em 28/08/2015 e agora (em 2016) aguardando apreciação do Senado. Para isso, buscou-se fazer análise inovadora, por

O artigo estimou, no curto e longo prazo, as prováveis consequências sociais com a futura implementação da PEC 171-E/1993 (projeto de emenda constitucional da redução da maioridade penal). Mais precisamente, o estudo buscou verificar se a PEC de 93, perto de ser aprovada, teria resultados benéficos ou maléficos para a sociedade, isto é, se aumentaria ou diminuiria o atual quadro de violência social no Brasil. Na análise, trabalhou-se com as abordagens científicas da ciência psicológica e, com base em dados públicos que versam sobre a punição e crime no Brasil, foi possível estimar quantitativamente os reflexos sociais futuros com a efetivação dessa emenda constitucional. A metodologia utilizada pode ser classificada em dedutiva, tendo em vista a projeção de resultados por meio de teoria psicológica e modelo matemático. O trabalho concluiu que a PEC, depois de executada, diminuiria o atual quadro de violência social no Brasil.

Palavras-Chaves: PEC 171-E/1993, Redução da Maioridade Penal, Análise Psicológica, Análise Qualitativa.

Resumo

The article estimated, in short and long term, the probable coming consequences with the future execution of the CAP 171-E/1993 (constitutional amendment project which deals with penal majority reduce). More precisely, the study sought to verify if the 93 CAP, close to its approval, would have beneficent or maleficent consequences for society, in other words, if would enhance or shrink the crime rates in Brazil. In the paper, it was worked with a psychological approach and, having public database which is about crime and punishment in Brazil, it was estimated quantitatively the social reflex with the future realization of this constitutional amendment project. The methodology could be classified in deductive, since the probable outcomes were projected by means of psychology theory and an mathematic model. The work concluded that the CAP, when in effect, would reduce the actual frame of violence in Brazil.

Key-words: CAP 171-D/1993, Penal Majority Reduce, Psychological Analysis, Qualitative Analysis.

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meio de abordagem interdisciplinar, expondo pontos da ciência psicológica que são úteis, bem como a utilização da estatística, aplicada a dados sobre a punição e violência social no Brasil, para projetar quantitativamente algumas consequências sociais com a futura execução da PEC.

Primeiramente foram expostas breves considerações quanto à história do projeto de emenda constitucional, que estava aproximadamente 22 anos em trâmite na Câmera dos Deputados. Buscou-se definir quais foram os principais argumentos jurídicos e afins utilizados no decorrer de sua história para ir contra e a favor da mesma.

A inovação deste trabalho encontra-se primeiramente na abordagem psicológica. Nesse ponto, buscou-se entender o funcionamento do processo de desenvolvimento humano e processo de aprendizagem e condicionamento humano. Enquadrando essas abordagens psicológicas a ideia de que PEC aumentará a punição média dos menores infratores, e retirará esses indivíduos por mais tempo da sociedade, foi possível estimar uma redução geral na criminalidade.

A segunda abordagem inovadora está na análise quantitativa, que projetou, por meio de dados públicos que versam sobre a punição e violência social no Brasil, uma redução no número de latrocínio com a futura execução da PEC.

O motivo deste trabalho era verificar se o projeto de emenda constitucional teria consequências sócias benéficas ou maléficas, ou seja, como já dito, se a mudança legislativa aumentaria ou diminuiria o quadro de violência social no Brasil. Algo que foi verificado.

2. BREVE CONSIDERAÇÕES QUANTO A PEC 171/19931

A PEC 171/1993 é projeto de emenda constitucional proposto em 19/08/1993

1 Toda a tramitação da PEC de 93, bem como as similares apensadas, podem ser consultadas em:

CÂMARA DOS DEPUTADOS: Projeto de lei e outras Proposições – PEC 171/1993. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14493. Acesso em: 1 de ago. 2016.

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pelo ex-deputado federal Benedito Domingos e outros. A proposta foi vanguarda, pós constituição de 88, e preconizava mudança no artigo 228 da Constituição Federal, buscando alterar, a idade mínima para alguém responder penalmente pelos atos praticados, de 18 anos para 16 anos. A justificativa, arguida à época pelo então congressista, se alternava entre argumentos biopsicossociais histórico (os menores “de hoje” compreendem o mundo de melhor maneira do que os de antigamente, dos anos 40, quando foi alterada a maioridade de 14 anos, do primeiro Código Penal Republicano 1890, para 18 anos com o CP de 40), dogmático-religioso (citando passagens da Bíblia que indicavam a necessidade de responsabilização dos menores pelos crimes cometidos) e a constatação individual, e exemplificativa, do congressista, que defendia a existência de aumento no número de crimes cometidos pelos menores de 18 anos.2

O projeto de 93 foi debatido por mais de 22 anos na Câmara dos Deputados, bem como a ideia da redução da maioridade penal, alvo de outras PEC’s ao longo deste tempo, as quais foram apensadas ao projeto de 93, quais sejam: a PEC nº 260/00, que propõe que seja fixada em dezessete anos o início da maioridade penal; PEC’s 37/95, 91/95, 426/96, 301/96, 531/97, 68/99, 133/99, 150/99, l67/99, 633/99, 377/01, 582/02, 179/03, 272/04, 48/07, 223/12 e 279/13 que também propõem que a redução seja fixada para dezesseis anos; as PEC’s números 169/99 e 242/04 dos deputados, respectivamente, Nelo Rodolfo e Nelson Marquezelli, que propõem a limitação da idade para quatorze anos; a n. 321/01, que pretende remeter a matéria à lei ordinária, retirando do texto constitucional a fixação da maioridade penal; a PEC 345, de 2004, do Deputado Silas Brasileiro, que propõe seja fixada em doze anos o início da responsabilização penal; e por derradeiro a n. 125, de 2007, do Dep. Fernando de Fabinho, buscando tornar penalmente inimputáveis as crianças.

Esses 22 dois anos de discussão do tema ensejaram os mais acalorados pareceres e discussões na Câmera dos Deputados e fora dela, contra e a favor à ideia de redução da maioridade penal, existindo até o arquivamento do projeto original em 1999,

2 Vide projeto originário publica no Diário Oficial da União em:

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mas seu conseguinte desarquivamento em 2007. Além de notórias audiências e consultas públicas com entidades da sociedade civil, principalmente a audiência pública de 1999, que concretizou a ideia geral dos argumentos contra e a favor das PEC’s que versam sobre esse mesmo assunto. Argumentos esses que até hoje praticamente se mantiveram os mesmos.

Na primeira audiência pública (10 de novembro de 1999), onde foram expostos argumentos contra a redução da maioridade penal, foram convidados os juristas Miguel Reale Júnior, a representante da UNICEF Arabela Rota, o desembargador Alyrio Cavallieri, a Secretária Nacional de Justiça Elizabeth Sussekind, o representante da OAB Nabor Bulhões, o Secretário de Justiça do Estado de Minas Gerais Luiz Tadeu Leite, o ex-ministro e prefeito da cidade de Pato Branco Alceni Guerra e o representante da ABRINQ deputado Emerson Kapaz.

Todas as manifestações feitas pelos palestrantes, sem exceção, foram no sentido de rejeitar a matéria. O argumento central: o falido Sistema Penitenciário Nacional, brutalizador, desumano e incapaz de ressocializar o apenado; o problema do não cumprimento eficaz das disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente; bem como a incapacidade da mudança do artigo 228 da constituição, visto que este trata de matéria de direitos individuais, ou seja, é cláusula pétrea.

Na segunda audiência (18 de dezembro de 99) foram expostos os argumentos a favor. Nesta houve a participação do presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Penais Licínio Leal Barbosa, do Presidente do Conselho de Segurança da Região Central Norte Nelson Remy Gillet, da jornalista Valéria Velasco, da Diretoria do Hospital São Francisco de Goiânia Eliana Frota, do presidente do Movimento da Paz e Justiça “Ives Ota” Matazaka Ota, do presidente da Associação Paulista de Defesa dos Direitos e das Liberdades Individuais Luiz Afonso Santos e do presidente da ONG Reação Ulismir Zanetta Vicente.

As manifestações dessa audiência se ativeram a dois pontos cernes, a saber: direito penal comparado, demonstrando a existência de diversos países que trazem idade

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mínima, para uma pessoa responder criminalmente pelos atos praticados, abaixo de 18 anos; e a capacidade de o indivíduo com 16 anos já ter capacidade biopsicossocial de compreender seus atos, sustentada por relatos de pessoas que tinham parentes que foram vítimas da violência praticada por menores de 18 anos, os quais asseveravam que eles tinham plena consciência da conduta delituosa e do caráter ilícito do fato praticado.

Em 2015 a discussão da redução da maioridade penal se insurgiu de forma enérgica mais uma vez, só que desta vez a PEC de 93 progrediu, visto que foi aprovada na Câmara dos Deputados no dia 28/08/2015, aguardando agora apreciação do Senado. Seu texto, com diversas mudanças a ponto de se chamar de PEC 171-E/1993, foi aprovado com a seguinte redação:

“Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial, ressalvados os maiores de dezesseis anos, observando-se o cumprimento da pena em estabelecimento separado dos maiores de dezoito anos e dos menores inimputáveis, em casos de crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.”

3. ANÁLISE PSICOLÓGICA (AS CONSEQUÊNCIAS NO LONGO PRAZO)

Para compreender as prováveis consequências sociais, no longo prazo, com a implementação da PEC 171-E/93, revolucionário seria trabalhar com dois pontos discutidos em âmbito da ciência psicológica, quais sejam: a) o processo de desenvolvimento humano e b) o processo de aprendizagem e condicionamento humano. Tais pontos são importantes para entender como funciona o comportamento das pessoas e projetar quais seriam os reflexos sociais com a introdução de uma nova lei (a PEC), uma nova política pública ou decisão jurídica.

O estudo do desenvolvimento humano (a) tem como autor célere o suíço Jean William Fritz Piaget. Segundo Linda L. Davidoff (2001, p. 436-44), Ana M. Bahia Bock et al. (2002, p. 97-107), Piaget trabalha com o desenvolvimento cognitivo do ser humano, isto é, como funciona o desenvolvimento mental e o comportamento das pessoas ao longo do crescimento fisiológico e as várias etapas da vida. Por seus estudos,

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Piaget observou que o desenvolvimento humano está em função de quatro fatores básicos: Hereditariedade (carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não se desenvolver); Crescimento Orgânico (onde o desenvolvimento físico é de extrema importância, porquanto muda a percepção e compreensão do mundo); Maturação Neurofisiológica (que torna possível determinado padrão de comportamento) e o Meio (que é o conjunto de estimulações ambientais que alteram os padrões comportamentais).

Nesse sentido, o autor dá ênfase ao aspecto intelectual e no desenvolvimento da capacidade de pensamento e raciocínio das pessoas. Por exemplo, uma criança de 3 anos tem a capacidade mental de usar uma vassoura para pegar um brinquedo, diferente de um jovem adolescentes de 13 anos, que tem a capacidade de planejar seus gastos mensais de acordo com sua mesada.

Piaget também classificou o desenvolvimento cognitivo humano em quatro períodos principais: Sensorial-Motor (0 aos 2 anos, período em que o indivíduo é limitado aos reflexos de fundo hereditário –instintos), Pré-Operatório (2 aos 7 anos, no qual o indivíduo guia-se pela repetição da realidade percebida, com baixa capacidade de compreender a lógica abstrata3; surgimento da linguagem e a maior exteriorização

daquilo que deseja –egocentrismo; e início da formação moral, a qual é em grande parte a repetição da moral e costumes dos adultos), Operações Concretas (7 aos 11 ou 12 anos, caracterizado pela alavancagem da capacidade de entender a lógica abstrata, realizando operações silenciosas e parando de se guiar exclusivamente pelas informações sensoriais) e Operações Formais (11 aos 12 anos em diante, período da “autonomia”, haja vista que o adolescente, até o resto de sua vida, possui plena capacidade cognitiva de entender a lógica abstrata, ou seja, pode avaliar as mais amplas questões e problemas causualisticos, quais sejam, o que é religião, o que é justiça, o que é responsabilidade, teorias científicas, formular hipóteses, etc.).

3 Lógica Abstrata é a capacidade cognitiva de compreender a causalidade, a lógica, de modo subjetivo,

por mera racionalização abstrata, sem necessidade de ver ou sentir aquilo (informações sensoriais) para entende-la.

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Já o processo de aprendizagem e condicionamento humano (b) tem como autor célere Burrhus Frederic Skinner. Skinner, segundo Linda L. Davidoff (2001, p. 111-123), Ana M. Bahia Bock et al. (2002, p. 45-55), verificou que o ser humano muda a frequência de uma conduta x ou y de duas maneiras, sempre dependendo da consequência individual que essa conduta, ao interagir com o meio, gera para o sujeito ativo. Assim, quando uma ação humana tem consequências individuais positivas – um prêmio – Skinner definiu que essa consequência é uma consequência reforçadora, visto que aumenta no longo prazo a frequência da ação original por causa do resultado prêmio desejado. Quando uma ação tem consequências individuais negativas – um dano, uma perda material – ele definiu que essa consequência é uma consequência punidora, porquanto diminui, no longo prazo, a frequência da ação original por causa do resultado dano e perda (o qual o ser humano tem uma aversão natural – vide p. 8 deste trabalho) (essa ideia se chama aprendizagem por reforço e punição).

Outros dois modos de aprendizagem de suma importância na Psicologia são a aprendizagem por insight (DAVIDOFF, 2001, p. 257-260) e a aprendizagem por observação (DAVIDOFF, 2001, p. 130-133).

A aprendizagem por insight é a capacidade de um indivíduo solucionar ou compreender um problema posto de forma súbita. Esse tipo de aprendizagem não é muito diferente da aprendizagem de reforço e punição, pois naquele o indivíduo também tem um insight de que uma conduta x gera tantos malefícios individuais que ele resolve não repetir mais essa conduta. Todavia, o insight difere da aprendizagem por reforço e punição, pois é uma forma de aprendizagem mais complexa, pois não existe coerção e, nesse sentido, exige que a pessoa tenha conhecimento anterior (informação sobre o assunto) e motivação (querer resolver os problemas).

A aprendizagem por observação é talvez o tipo mais importante de aprendizagem, e o que mais influencia o comportamento humano. Essa aprendizagem significa dizer que o meio nos influência de forma indireta, isto é, a mera observação do ambiente e dos modelos ao redor da pessoa já é informação adquirida pela mesma, o qual pode ou não pode ser aprendida. Para que seja aprendida, podendo ser usada como

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informação para a tomada de decisões futuras e presentes, passa por quatro fases cognitivas: Aquisição (observação e reconhecimento do modelo); Retenção (armazenamento do modelo na memória); Desempenho (aceitação e reprodução do modelo); e Consequência (benefícios e malefícios gerados pela repetição desse modelo, parecendo com os efeitos da aprendizagem por punição e reforço).

O entendimento do desenvolvimento humano e do condicionamento humano põe em “xeque” a ideia de que o adolescente não sabe o que faz quando tem 16, 12 ou até mesmo 10 anos (haja vista que nesses períodos o indivíduo não age mais por mera repetição das informações sensoriais, pois já consegue ponderas mentalmente os pros e contras de sua conduta), bem como as ideias de ressocialização e punição do menor delinquente pela estrutura legal e real que o Estado brasileiro disponibiliza.

Destarte, uma pessoa com mais de 16 anos que comete um latrocínio (o qual seria enquadrada pela PEC), um homicídio, um estupro ou um roubo, o faz por entender que esses são os meios para satisfazer aquilo almejado por ele, isto é, realizar seus desejos subjetivos. As pessoas, para ele, são apenas os instrumentos para uma satisfação pessoal. Por exemplo, se essa pessoa quer o relógio daquela pessoa x, ele simplesmente mata-a para consegui o objeto – se a pessoa contrariar a imposição -, ou se ele quer se satisfizer sexualmente, basta ele “pegar” uma mulher ou um homem qualquer e se satisfazer. Embora possa parecer absurdo aos olhos convencionais (é a psicopatia e a sociopatia em maior grau, em menor grau seria o furto, o estelionato, etc.), é claro e lógico para ele (pois a conduta x dele gera o prêmio x), bem como ele foi condicionado a pensar assim – mais de 16 anos de história e incentivos sociais, com poucos desincentivos nesse sentido –, os quais poderiam ser explicado bastando olhar o histórico de sua vida e as interações dele para com o meio.

Nesse sentido, o Sistema Penitenciário ou Socioeducativo deveriam descondicionar o comportamento dessa pessoa, ou seja, fazer com que o indivíduo tenha um “insight” de que as pessoas alheias não podem ser supérfluos meios para satisfazer suas subjetividades, até porque essa conduta, como dito acima, é socialmente conflitante, pois gera dano e perda às pessoas (algo que o ser humano tem

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instintivamente aversão4).

Esse descondicionamento pode ser feito pela reeducação (tratamento psicológico e social), o qual não se faz de um dia para o outro, ou, no caso dos menores infratores, em uma média de 4,58 anos5 reclusos e “encadeados” com indivíduos que

pensam do mesmo jeito que ele. É um processo extremamente complexo que envolve desde a retirada do indivíduo do meio em que vive até um acompanhamento psicológico frequente e longo, sendo sua eficácia evitável, pois depende do contexto de cada um e da vontade da pessoa em querer este insight (é o modo de aprendizagem por insight).

Mesmo se essa reeducação fosse possível dentro dos presídios e instituição socioeducativas, quando o indivíduo fosse solto, ele voltaria para o mesmo meio que o influenciou. É similar ao caso do drogado ou o alcoólatra que vai para a casa de reabilitação, supera o vício, e quando volta para sua casa com seus pais e amigos, ele volta para o mesmo meio que o influenciou, isto é, tal ressocialização preconizada é praticamente nula ou pouco eficaz no longo prazo, pois deveria ser tanto intra como extra presídio, ou instituição de ressocialização. O ideal seria já começar no início da infância da pessoa – período do começo da formação moral entre 2 a 7 anos - e não no final da adolescência, visto que o indivíduo, ainda pouco condicionado quando criança, é mais fácil de “reeducar-modelar” (ele praticamente repete aquilo a sua volta) por ainda não ter uma moral definida. No entanto, tanto o modelo preconizado em lei pelo Estado, como o modelo ideal abordado aqui estão bem longe da realidade brasileira6.

4 Ver aversão a dor: DAVIDOFF, Linda. Introdução à PSICOLOGIA. 3. ed. São Paulo: Pearson

Makron Books. 2001. p. 152-153 e p. 325. Ver sobre aversão a perda (loss aversion) e Princípio da Simetria, respectivamente em: SAMSON, Alain; ARIELY, Dan. The Behavioral Economics Guide

2015. Disponível em: http://www.behavioraleconomics.com/BEGuide2015.pdf. Acesso em: 1 ago. 2016. e: LINDZEY, Gardner; HALL, Calvin; THOMPSON, Richard. Psicologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1977. p. 394.

5 Em média 91%5 das internações são de infratores entre 15 a 20 anos5. Vista disso, verifica-se que

aproximadamente 16,425 anos é a faixa etária média das internações (levando em consideração a

proporção de idade pelo número de infratores internados), acabando por totalizar em uma média máxima de punição de aproximadamente 4,58 anos, por exemplo, no caso do latrocínio – que geralmente configura pena máxima como consequência (vide: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Panorama

nacional – A Execução das Medidas Socioeducativas de Internação. 2012. p. 22)

6 Em média a reincidência criminal do menor delinquente é de 54% (CONSELHO NACIONAL DE

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Por outro lado, não menos importante, existe ainda o descondicionamento do comportamento pela punição, isto é, por meio de uma sanção proporcional ao prêmio almejado e com alta probabilidade de ocorrer, pois no longo prazo o indivíduo também teria um “insight” parecido com aquele da reeducação (só que por ser coercitivo este é inevitável), ao concluir que essa conduta – um dano a terceiro ensejando um benefício pessoal - gera mais malefícios individuais para ele do que benefícios.

Nesse sentido, a punição deve ser proporcional ao dano cometido, pois se não for, ou a punição for menor que o prêmio almejado – até porque a punição não é só a consequência material perdida, mas é a sanção concreta mais a probabilidade de ser pego, podendo ser nula quando a probabilidade de ser pego tende a zero –, não vai existir o reforço negativo, logo, a conduta do indivíduo tanto não só vai diminuir, como vai aumentar por causa do prêmio resultante.7

Além do mais, pelo exposto, verifica-se que o maior problema não é a incapacidade de descondicionar a conduta danosa por meio da punição ou da reeducação do indivíduo, mas a volta rápida desse indivíduo à sociedade, visto que ele é mais um elemento influenciador do meio. Nesse sentido, quando se fala “a violência gera violência”, bem como “a gentileza gera gentileza”, não se fala isso por ser mero brocardo moral, mas porque para qualquer uma das psicologias abordadas aqui significa dizer que o meio influencia a todos (aprendizagem por observação).

Para clarear essa ideia, é possível exemplificá-la. Alguém que comete

28). Em média a reincidência do maior delinquente é 47,4% (vide folha 14 deste trabalho). No mesmo contexto, quando um menor é internado pela primeira vez, pelo cometimento de uma infração, sua probabilidade de ter cometido homicídio é de 3%. Quando cumpre sua sentença, saindo da instituição, e comete outra infração, sendo internado mais uma vez, a probabilidade de ter cometido um homicídio sobe para 13,66%, isto é, aproximadamente quatro vezes maior do que quando entrou pela primeira vez na instituição socioeducativa (dados também extraídos do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. op.cit. 2012. p. 14).

7 Esta ideia psicológica por de trás da punição, além de justificar a função Número de Crimes Cometidos

pelas Pessoas, de Gary Becker, justifica também a ideia de que o crime deve possuir uma utilidade que o criminoso não conseguiria, imediatamente, por meio legal disponível (ver função em: BECKER, Gary.

Crime and Punishmente: An Economic Approach. National Bureau of Economic Reserch. 1974. p.10)

(ver a questão da utilidade na tomada de decisão vs. risco conhecido, em: KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Prospect Theory: An Analysis of Decision Under Risk. Econometrica 47(2). 1979).

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latrocínio (com pena sempre de reclusão de 4 anos) tem três amigos que pensam parecidos, sendo que os três moram em um lugar x. Nesse sentido, a probabilidade de eles influenciarem outras pessoas desse lugar x é razoável, principalmente quando o ambiente x não condena seu modo de agir, ou seja, eles dão “carta branca” por suas atitudes – isso geralmente ocorre por que eles não cometem os crimes no lugar x. Se esses três influenciam mais um indivíduo – o que é plausível, pois todo mundo é influenciado pelo meio -, temos quatro pessoas que pensam que matar alguém para se apropriar de seu bem é “justo”. Se os quatro cometem latrocínio e ficam 4 anos na prisão ou reclusão, quando eles voltarem, poderão influenciar um quinto integrante a entrar na “equipe”, logo, se os cinco cometerem outro crime da mesma categoria, ficarão mais 4 anos, depois eles voltam da prisão e poderão influenciar mais o sexto e assim sucessivamente com um aumento constante da violência social, tanto por que o meio em que vivem – micro meio social: família, amigos e afins - não desincentiva essa conduta, como quando o Estado não reeduca nem executa uma sanção em que a pena multiplicado pela probabilidade de ser pego é menor do que o ganho total da atividade que causa dano alheio, ou seja, a sanção de quatro anos não desincentiva a conduta, pois o ganho é grande quando comparado à probabilidade deles serem pegos e a intensidade da pena.

Outrossim, o diagrama abaixo esquematiza a teoria psicológica por de trás do exemplo exposto8. “A” é o indivíduo com comportamento socialmente conflitante –

gera um dano a terceiro e, como consequência, obtém um prêmio individual. As linhas que o ligam são a sua rede social. Pela psicologia comportamental e do desenvolvimento humano, “A” tem alta probabilidade de influência “B” – seu amigo – a ter, também, o comportamento socialmente conflitante – os indivíduos são influenciados pelo meio, principalmente quando existem benefícios na repetição de modelos. “A” tem dois filhos, “A1” e “A2”, os quais têm maior probabilidade de ser influenciado por “A” do que “B” por “A”, pois, como visto nos trabalhos de Jean Piaget, a moral é em grande parte

8 Essa ideia corrobora com outros trabalhos de referência publicados, a saber: WILSON, James;

KELLING, George. Broken Window. Atlantic Monthly. Bem como a violência gerada pelos programas de televisão violentos em: DAVIDOFF, Linda. Introdução à PSICOLOGIA. 3. ed. São Paulo: Pearson Makron Books. 2001. p. 132.

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“repassada” principalmente dos pais para os filhos no desenvolvimento da infância, salvo pais ausentes ou liberais, sendo a moral, nesses casos, construída em grande parte fora da afetividade familiar. “B” ainda poderá ter filhos no futuro que também poderão ser influenciados a ter esse comportamento conflitante, como nos casos de “A1” e “A2”. Deste modo, pelo esquema, é possível observar que existe uma alta probabilidade dessa conduta socialmente conflitante aumentar exponencialmente no longo prazo, principalmente quando não existe nenhum desestimulo ambiental – sanção que acabe com o prêmio individual a essa conduta conflitante.

Desenho 1, fonte: Autor

Por derradeiro, conclui-se que a PEC seria, no longo prazo, socialmente benéfica, principalmente nos casos de latrocínio, haja vista que os indivíduos entre 16 e 18 anos seriam punidos, aproximadamente, com 259 anos de reclusão e regime

semiaberto e não mais 4,5810 anos de internação e semiliberdade. Isso diminuiria a

influencia social que esses indivíduos conflitantes possuem na sociedade (pois ele estará recluso dela), bem como podendo, pelo aumento da punição, mudar um atual quadro de violência cometido pelo menor, o qual, provavelmente por causa do baixo tempo de internação de 4,58 anos, comete, consoante dados extraídos do Anuário Brasileiro de

9 Média entre o máximo e o mínimo da pena pelo cometimento de latrocínio (art. 157, § 3º, CP) 10 Valor calculado na p. 8.

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Segurança Pública (2013; 2015), uma média de 25,94%11 de todos os latrocínios

registrados no território nacional, isto é, cometem proporcionalmente 8,0812 vezes mais

latrocínios que os maiores infratores.

4. ANÁLISE QUANTITATIVA (AS CONSEQUÊNCIAS NO CURTO PRAZO)

Para compreender as prováveis consequências sociais, no curto prazo, com a implementação futura da PEC 171-E/93, fez-se análise quantitativa da PEC, projetando qual seria o número futuro de ocorrências de latrocínio. Alguns dados foram aproximados, tanto para facilitar o cálculo exposto, como deixar o exercício mais pragmático.

Destarte, calculou-se que o tempo médio de reclusão de um menor que cometeu latrocínio é de aproximadamente 413 anos. A idade média que um menor

comete seu primeiro crime, levando-o à internação, é de 1714 anos. Calculou-se que a

média de reclusão de maior de idade que comete latrocínio é de 12,515 anos. Nesse

sentido, se um jovem menor de 18 anos comete um latrocínio hoje e é pego, ele fica 4 anos reclusos da sociedade, volta à mesma, comete outro latrocínio, sendo detido mais

11 Os menores foram responsáveis nos anos de 2011, 2012 e 2013, respectivamente por, 430, 476 e 485

latrocínios em todo o território nacional, enquanto os maiores foram responsável, nos mesmos anos, por 1206, 1327 e 1443 latrocínios em todo território nacional (vide: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. 2013. p. 12 e p. 86) (vide: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 9. 2015. p. 14 e p. 90).

12 Valor médio calculado pela razão, com dados dos anos de 2011, 2012 e 2013, entre o número de

latrocínio cometido pelos menores - dividido pela somatória de pessoas em internação, internação provisória e semi liberdade- e o número de latrocínio cometidos pelos maiores - dividido pela somatória de pessoas em regime fechado, provisório e semi aberto. O resultado foi de 8,08257 (vide: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. 2013. p. 12, p. 54, p. 86) (vide: FÓRUMBRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de

Segurança Pública. Ano 9. 2015. p.14, p. 62, p. 90).

13 Aproximou o tempo médio de reclusão de 4,58 anos, já antes calculado, para 4 anos, aproximando-se

dos 3 anos máximos que um adolescente pode ficar internado.

14 Aproximou a média de idade em 16,42 anos para 17 anos, já antes calculado.

15 Cálculo é feito tomando-se a média de pena de quem comete latrocínio multiplicado pela média do

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uma vez (inicialmente será levado o índice de reincidência igual a 100%), ficando dessa vez 12,5 anos, porquanto agora é maior de idade; e assim sucessivamente16.

Assumindo que sua vida criminosa acabaria aos 7517 anos, que é a média da

expectativa de vida do brasileiro, esse mesmo indivíduo teria cometido 6,32 latrocínios em toda sua vida, isto é, teria matado 6,3218 pessoas – ver Gráfico 119.

Gráfico 1, fonte: Autor

16Assume-se que o indivíduo cometerá o mesmo crime de novo apenas para facilitar o cálculo deste

trabalho, pois os dados relativos à reincidência no Brasil são precários e existem dinâmicos conceitos de reincidência – O dado mais precário, e por muitos considerado uma verdade, é a reincidência entre 70 e 80% admitida pela CPI dos presídios, que não tem qualquer fundamentação amostral (ver: IPEA.

Reincidência Criminal no Brasil – Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro. 2015. p. 11).

17 Média de vida do brasileiro de acordo com o IBGE (2014). O uso do tempo de vida em epígrafe, igual

há 75 anos, é somente para delimitar um tempo para o cálculo, ou seja, o uso de outro número, como tempo de vida médio, não alteraria a diferença proporcional de mortos, constatada antes e depois da PEC.

18 O número “quebrado” representa uma estimativa geral – aproxima-se a variável discreta morte a uma

variável contínua.

19 Quem tem dúvidas quanto os 4 anos médios usados para o menor e os 12,5 anos médios para os

maiores, pode usar o máximo legal que seria de 4,58 anos e 30 anos, o qual daria uma diferença muito maior, isto é, uma diferença no número de vidas economizadas muito maior do que a aproximação aqui

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O mesmo indivíduo menor, depois da PEC 171-E/1993, já começaria com 12,5 anos médios de reclusão e não mais 4 anos. No final de sua vida de delitos – ainda mantendo a reincidência de 100% -, ter-se-ia uma média de latrocínios de 5,64, ou 5,64 pessoas mortas, número menor do que no momento anterior a PEC – ver Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2, fonte: Autor

De tal sorte, a consequência da PEC seria de uma redução aproximada de 10,7%20 do número de latrocínios que acontecem em um espaço x de tempo. Assim, no

ano de 2013 foi possível observar a ocorrência de 1.871 latrocínios. Se essa lei tivesse sido implementada anteriormente, conclui-se que o número de latrocínios teria sido de aproximadamente 1.671, ou seja, aproximadamente 200 pessoas no ano de 2013 teriam sido salvas por causa da PEC da redução da maioridade penal. Leva-se aqui, em

exposta.

20 Proporção com base em número de latrocínios cometidos em relação à diferença das duas funções dos

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consideração, somente os casos de latrocínio, mas a redução existiria também, não obstante na mesma proporção, tanto para o estupro como o homicídio; em geral os crimes da PEC 171-E/93.

Contudo, o exposto pode ser considerado pouco pragmático, porquanto leva em consideração uma taxa de reincidência de 100% (o que não é verídico). Para ajustar o exercício desenvolvido, poder-se-ia levar em consideração a taxa real de reincidência dos presídios de São Paulo21, ao fazer uma média dos estudos que versam sobre

reincidência, produzidos por Túlio Kahn22. Com esses dados, é possível extrair, levando

em consideração um intervalo de confiança de 95%, que a média de presos reincidentes nos presídios de São Paulo fica em torno de 47,4%, variando 6,02% para mais ou para menos.23

Agora, ao ajustar essa média de reincidência observada no exercício anteriormente desenvolvido, estima-se que a PEC 171-E/93 teria como consequência, na cidade de São Paulo, uma redução do número de latrocínio de aproximadamente 5,07%, variando 0,64% para mais ou para menos.

Claro, que usar essa taxa para estimar a redução do número de latrocínios no Brasil ainda é exagero, mas menos excessivo que o uso da taxa de reincidência de 100%. Desse modo, se estendido essa porcentagem para os dados analisados em relação ao número de latrocínios que aconteceram no Brasil por ano, teria existido, em 2013, por exemplo, uma economia de vidas real equivalente a aproximadamente 95 pessoas, depois da implantação da PEC 171-E/1993.

21 Levar-se-á em conta a taxa de reincidência de Túlio Kahn, o qual verificou que a taxa de reincidência

em São Paulo era de 50% em 1994; 45,2% em 1995; e 47% em 1996. IPEA. Reincidência criminal no

Brasil – Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro. 2015. p. 12.

22 Para Kahn, reincidência é: “é aquele que cumpriu pena, foi solto e voltou a ser preso para o

cumprimento de nova pena”.

23 Elaborado por distribuição t student. BARBETTA, Pedro. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. 9.

ed. Editora UFSC. p. 165-170. Amostra: 50; 45,2; 47; Média: 47,4; Desvio padrão: 2,42; Erro padrão: 1,4; Erro padrão t: 6,02; t para gl =2.

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A justificativa dessa estimativa está no fato de que o tempo da pena tem influência direta no cometimento total de crimes ocorridos, haja vista que sempre existe algum índice de reincidência. De maneira mais didática, observa-se essa ideia pelo gráfico 3, o qual é possível verificar que o número de pessoas mortas diminui com o tempo de reclusão – levando reincidência igual a 100%.

Gráfico 3, fonte: Autor

5. CONCLUSÃO

Primeiramente foram expostos os clássicos argumentos jurídicos e afins utilizados para ir contra e a favor da redução da maioridade penal, quais sejam, contra: sistema penal brutalizador e desumano; não aplicação razoável do que é prescrito no Estatuto da Criança e do Adolescente; bem como a incapacidade de alterar o art. 228 da CRFB, uma vez que esta seria cláusula pétrea; e a favor: existem países que o menor de 18 anos é responsabilizado penalmente; bem como o menor de 18 anos, de acordo com relatos de pessoas que foram vítimas da violência de menores, consegue compreender o caráter ilícito de sua conduta.

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Verificou-se, pela abordagem psicológica, que o menor de 18 anos e maior de 16 anos tem a plena capacidade cognitiva de entender o que está fazendo, sabendo ponderar os pros e contras de sua conduta antes de fazer a tomada de decisão.

Concluiu-se que a pessoa que produz conduta que causa dano social para satisfazer uma vontade subjetiva deve ser descondicionado a produzir esse comportamento, o qual pode ser feito através da reeducação e da punição. Verificou-se que o processo de reeducação (por insight) é complexo e está bem longe daquilo que o Estado brasileiro preconiza pela socialização, através de suas leis e pelo que efetivamente faz. Do mesmo modo, observou-se que a punição para descondicionar uma conduta deve ser no mínimo proporcional ao dano cometido e com alta probabilidade de ocorrer, pois se não for, a pessoa tende a aumentar a frequência de sua conduta pelo consequente prêmio resultante.

Na mesma esteira de pensamento, verifico-se que o ser humano aprende com os modelos do meio. Nesse sentido, um indivíduo pouco punido não só aumenta a sua conduta, por causa do prêmio consequente, como influência outros a cometer essa mesma conduta, principalmente quando esta gera mais benefícios individuais do que malefícios.

Por fim, observou-se que depois da implementação da PEC existiria uma real diminuição no número de latrocínios no Brasil, bem como verificou-se que o número de delitos está em função da pena de reclusão social, principalmente porque existe a reincidência criminal.

Desse modo, concluiu-se que o impacto social futuro com a implementação da PEC seria socialmente mais benéfico do que maléfico, pois reduziria o número de latrocínios na sociedade Brasileira (5,07%); a influencia que o infrator tem na sociedade, o qual é um modelo que pode ser seguido; bem como o aumento da punição (de 4,58 anos de internação mais semiliberdade para 25 anos de reclusão e regime semi aberto) funcionaria como um desincentivo à perpetração de novas condutas criminosas pelos infantes, que cometem, hoje, 8,08 vezes mais latrocínios que um maior infrator.

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6. REFERÊNCIAS

BARBETTA, Pedro. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. 9. ed. Editora UFSC. 2014.

BARBETTA, Pedro; REIS, Marcelo. BORNIO, Antonio. Estatística para Cursos de Engenharia e Inoformática. 3. ed. Editora Atlas S.A. 2010.

BECKER, Gary. Crime and Punishmente: An Economic Approach. National Bureau of Economic Reserch. 1974.

BOCK, Ana; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva. 2002.

CÂMARA DOS DEPUTADOS: Projeto de lei e outras Proposições – PEC 171/1993.

Disponível em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14493. Acesso em: 1 de ago. 2016.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Panorama nacional – A Execução das Medidas Socioeducativas de Internação. 2012.

DAVIDOFF, Linda. Introdução à PSICOLOGIA. 3. ed. São Paulo: Pearson Makron Books. 2001.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. 2013.

______. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 9. 2015.

IPEA. Reincidência criminal no Brasil – Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro. 2015.

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Under Risk. Econometrica 47(2). 1979.LINDZEY, Gardner; HALL, Calvin; THOMPSON, Richard. Psicologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1977.

SAMSON, Alain; ARIELY, Dan. The Behavioral Economics Guide 2015. Disponível em: http://www.behavioraleconomics.com/BEGuide2015.pdf. Acesso em: 1 ago. 2016.

Referências

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