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Agressão no cão: agressão direcionada a outros cães

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Academic year: 2021

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Agressão no Cão

Agressão Direcionada a Outros Cães

Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária

Estefânia Marinho Moreira Morão

Prof. Doutor Artur Severo Proença Varejão

Dr. Carlos Duarte Carneiro de Sousa

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i

Estefânia Marinho Moreira Morão, mestranda do curso de Mestrado Integrado de Medicina

Veterinária, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na qualidade de autora da

presente Dissertação, formulada sob orientação do Prof. Doutor Artur Severo Proença Varejão

e coorientação do Dr. Carlos Duarte Carneiro de Sousa, declaro integral responsabilidade no

que concerne à totalidade dos conteúdos apresentados neste trabalho.

Assevero a asserção supracitada,

_____________________________________________________________________

(Estefânia Marinho Moreira Morão)

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ii

Dedico o presente trabalho, em geral, à Natureza, pela sua

pureza, inocência e simplicidade… em particular, eu dedico-o a todos os animais… aos que já conheci, aos que estão por conhecer e a todos aqueles que nunca conhecerei…

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iii

Ao orientador da presente dissertação, o Prof. Doutor Artur Severo Proença Varejão, pela pessoa exemplar e profissional de excelência que é, pela compreensão, pela humanidade, pela perseverança, pela total disponibilidade e, acima de tudo, pelo apoio e paciência incondicionais manifestados ao longo do meu percurso académico e desenvolvimento deste trabalho.

Ao coorientador da corrente tese, o Dr. Carlos Duarte Carneiro de Sousa, pela disponibilidade e apoio demonstrados, e por me permitir presenciar e intervir numa variedade considerável de casuística, da qual pude beneficiar enquanto aprendiz de Medicina Veterinária, no decurso do meu estágio curricular, no Hospital Veterinário da Póvoa.

Ao Prof. Doutor Gonçalo da Graça Pereira, Presidente e cofundador da Associação PsiAnimal, pelo elemento inspirador que é, no que respeita ao desenvolvimento da área de Etologia Animal, em Portugal, e pela incessante contenda face à realidade do Especismo.

À Dra. Mónica Roriz, pelo apoio e cedência de dados essenciais inerentes ao seu projeto de Doutoramento, à Mestre Maria Isabel Santos, à Dra. Bonnie V. Beaver, ao Prof. Doutor Luís Maltez da Costa, ao Prof. Doutor Xavier Manteca Vilanova, ao Prof. Doutor Jaume Fatjó Rios, à Prof. Doutora Katherine Albro Houpt, ao Prof. Doutor Tomàs Camps Morey e à Prof. Doutora Marta Amat Grau, pelo apoio e esclarecimento de questões referentes ao tema deste projeto.

À Subdiretora Graça Mariano, à Dra. Cristina Briosa e à Dra. Rosário Cidadão, da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, a Tim Saciri e ao Dr. Mohammed Elkamash, pela infindável paciência, apoio total e contributo imprescindíveis para a pesquisa bibliográfica deste trabalho.

À minha irmã gémea, Ofélia, o meu pilar de todos os dias… obrigada por simplesmente existires!

Aos meus pais, Sílvio e Ofélia, pela vossa existência, pelo vosso apoio e por me demonstrarem que, face a todas as adversidades da vida, nos devemos sempre levantar!

À minha família, em particular à minha avó Ofélia, pelo incentivo, apoio e motivação constantes!

À Lina Candeias, à Carina Lopes, à Sara Faria, à Lúcia Gouveia e à Raquel Matos pela vossa individualidade e pelas memórias de todos os momentos pessoais e académicos compartilhados.

Em especial, a todos os meus “bonecos”: Fifi, Tejo, Fofa, Gonçalo, Scooby, Micky, Scott, Pitosga, Diogo, Bitucha, Puffy, Tommy, Delfim, Miguel, Luana, Yuca, Java, Zorba, Xavier, Oceana, Omni, Orión, Óscar, Oliva, Rafaela, Puscas, … e a todos aqueles que não nomeei… por iluminarem a minha existência e por me tornarem uma pessoa melhor… a cada dia da minha vida!

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Resumo

A corrente dissertação, intitulada “Agressão no Cão”, refere, de uma forma abrangente, a problemática da agressão no cão doméstico, Canis familiaris. Especificamente, e no domínio de uma aplicação prática, este trabalho explana a agressão direcionada a outros cães.

A importância de aprofundar a questão da agressão entre cães está patente no quotidiano, em que o risco do conflito agressivo entre animais que se encontrem em contacto é uma realidade presente e incontornável.

Neste contexto, revela-se pertinente desenvolver os vários tópicos que representam os objetivos desta tese: conceituar o comportamento agressivo canino, averiguar o enquadramento da agressão canina em Portugal, conhecer os vários tipos de agressão e os fatores de risco existentes na base do comportamento agressivo, reconhecer a importância da anamnese e da história clínica no estabelecimento de um diagnóstico preciso, referir os diferentes tipos de tratamento existentes para contrariar a recidiva do comportamento agressivo, aludir à necessidade da prevenção de forma a impedir a eventualidade do episódio agressivo, abordar as consequências passíveis de ocorrer para os cães envolvidos – no seguimento de um conflito do foro agressivo entre cães – e para o Humano, e retratar a prática da eutanásia no âmbito da agressão canina.

A aplicação prática desta temática decorreu da recolha e documentação de todos os casos de agressão direcionada a outros cães, acompanhados no período de estágio curricular, no Hospital Veterinário da Póvoa. Num total de 640 casos presenciados, foram 5 os casos ocorridos e compilados no que concerne à temática em questão.

Foi possível testemunhar que a competência dos tutores no relato da história do caso é sensivelmente reduzida e que, na generalidade, o mesmo é desprovido de objetividade.

Constatou-se que os animais presentes à consulta, vítimas de agressão de um ou mais cães, representavam, na sua maioria, indivíduos machos e com raça determinada. Observou-se que as lesões ocorridas foram, esObservou-sencialmente, lacerações de tecidos cutâneos e musculares e, num domínio de gravidade superior, fratura de costelas e rutura traqueal.

Concluiu-se que o cerne desta dissertação traduz-se no diagnóstico conciso e precoce dos casos de agressão efetivados e em privilegiar a profilaxia como a conduta essencial para evitar o despoletar de conflitos do foro agressivo em cães prevenindo, assim, possíveis sequelas e, inclusive, a morte dos animais, e até do Humano, na sequência da possibilidade de um ataque agressivo.

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Abstract

The current dissertation, entitled "Aggression in the Dog", refers in a comprehensive way to the problem of aggression in the domestic dog, Canis familiaris. More specifically, and in a practical scope, this work explores the aggression directed at other dogs.

The importance of deepening the question of aggression among dogs is evident in everyday life, in which the risk of aggressive conflict between animals that are in contact is a present and unavoidable reality.

In this context, it is pertinent to develop the various topics that represent the objectives of this thesis: to conceptualize the aggressive canine behavior, to investigate the framework of canine aggression in Portugal, to know the various types of aggression and the existing risk factors on the basis of aggressive behavior, to recognize the importance of anamnesis and clinical history in the establishment of an accurate diagnosis, to refer the different types of existing treatments to counteract the relapse of aggressive behavior, allude to the need for prevention in order to suppress the eventuality of the aggressive episode, to address the consequences that may occur for dogs involved - following an aggressive dog conflict - and for the Human, and to portray the practice of euthanasia in the context of canine aggression.

The practical application of this theme was the collection and documentation of all cases of aggression directed at other dogs, accompanied during the period of curricular internship, at the Veterinary Hospital of Póvoa. In a total of 640 cases witnessed, 5 were the occurred and compiled cases with regard to the subject in question.

It was possible to testify that the competence of the tutors in the history of the case is appreciably reduced and that, in general, it is devoid of objectivity.

It was verified that the animals present to the consultation, victims of aggression of one or more dogs, represented, for the most part, males with specific breed. It was observed that the lesions occurred were essentially lacerations of cutaneous and muscular tissues and, in a higher gravity domain, rib fracture and tracheal rupture.

It was concluded that the core of this dissertation is the concise and early diagnosis of the cases of effected aggression and the privilege of prophylaxis as the essential conduct to avoid the triggering of aggressive nature conflicts in dogs, thus preventing possible sequels as the death of animals, or even of the Human, following the possibility of the ocurrence of the aggressive attack.

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Declaração de Responsabilidade Pessoal ……… i

Dedicatória ……… ii

Agradecimentos ………... iii

Resumo | Palavras-Chave ………... iv

Abstract | Keywords ………... v

Índice de Figuras ………. viii

Índice de Tabelas ………. ix

Índice de Gráficos ………... x

Lista de Abreviaturas ………. xi

1. Introdução ………... 1

2. Revisão da Literatura Bibliográfica ……… 3

2.1. O Comportamento Agressivo no Cão ………... 3

2.2. A Agressão no Cão em Portugal ………... 6

2.3. Fatores de Risco e a Potencialidade da Agressão no Cão ………... 12

2.4. Tipos de Agressão no Cão ……….. 17

2.5. O Diagnóstico e a Agressão no Cão ………. 20

2.6. O Cão Agressor e a Avaliação de Risco ………... 24

2.7. O Tratamento e a Agressão no Cão ……….. 25

2.8. A Prevenção e a Agressão no Cão ……… 29

2.9. Tipos de Sequelas e a Agressão no Cão ………. 33

2.10. A Eutanásia e a Agressão no Cão ……… 37

3. Apresentação de Casos Clínicos ……… 39

3.1. Caso Clínico 1 ………. 39 3.1.1. Identificação do Animal ……… 39 3.1.2. História do Caso ………. 40 3.1.3. Resolução do Caso ………... 40 3.2. Caso Clínico 2 ………. 42 3.2.1. Identificação do Animal ……… 42 3.2.2. História do Caso ………. 43 3.2.3. Resolução do Caso ………... 44

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vii 3.3. Caso Clínico 3 ………. 44 3.3.1. Identificação do Animal ……… 44 3.3.2. História do Caso ………... 45 3.3.3. Resolução do Caso ………... 45 3.4. Caso Clínico 4 ………. 49 3.4.1. Identificação do Animal ………... 49 3.4.2. História do Caso ………. 49 3.4.3. Resolução do Caso ………... 50 3.5. Caso Clínico 5 ………. 52 3.5.1. Identificação do Animal ………... 52 3.5.2. História do Caso ………. 53 3.5.3. Resolução do Caso ………... 53

4. Discussão dos Casos Clínicos Apresentados e Considerações Gerais ………. 55

4.1. Caracterização dos Indivíduos Intervenientes nos Casos Clínicos de Agressão Apresentados ………... 55

4.2. Caracterização dos restantes Indivíduos Intervenientes no Conflito Agressivo e Relação Prévia com os Animais dos Casos Clínicos de Agressão Apresentados ……… 57

4.3. Caracterização do Contexto dos Casos Clínicos de Agressão Apresentados .... 59

4.4. Importância da História Clínica e da História do Caso nos Casos Clínicos de Agressão …... 60

4.5. Tipificação dos Casos Clínicos de Agressão Apresentados ………. 61

4.6. Sequelas Apresentadas pelos Indivíduos nos Casos Clínicos de Agressão Apresentados ... 62

4.7. Tratamento dos Indivíduos Acolhidos dos Casos Clínicos de Agressão Apresentados ……… 65

4.8. Considerações Gerais ……….. 66

5. Conclusões ………... 73

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Figura 1 – Caso Clínico 1. É visível a área de mordedura localizada na parede torácica

esquerda .………... 40

Figura 2 – Caso Clínico 1. Radiografia simples (pré-cirúrgica) da região torácica. ………… 41

Figura 3 – Caso Clínico 1. Preparação pré-cirúrgica. Após tricotomia ………... 41

Figura 4 – Caso Clínico 1. Imagem pós-cirúrgica da área de mordedura (lesão suturada) …. 42 Figura 5 – Caso Clínico 2. Durante a consulta no Hospital Veterinário da Póvoa ……… 43

Figura 6 – Caso Clínico 2. Área de mordedura localizada no membro torácico direito ………... 44

Figura 7 – Caso Clínico 2. Imagem pré-cirúrgica (após tricotomia e desinfeção) ……… 44

Figura 8 – Caso Clínico 3. Radiografia simples pré-cirúrgica ………. 46

Figura 9 – Caso Clínico 3. Preparação do campo cirúrgico ……… 47

Figura 10 – Caso Clínico 3. Preparação do campo cirúrgico ……….. 47

Figura 11 – Caso Clínico 3. Procedimento Cirúrgico (exposição das costelas) ………... 47

Figura 12 – Caso Clínico 3. Procedimento Cirúrgico (osteossíntese das zonas de fratura) …. 47 Figura 13 – Caso Clínico 3. Após cirurgia (é visível a sutura da parede costal) ………... 48

Figura 14 – Caso Clínico 3. Após cirurgia (no recobro) ………... 48

Figura 15 – Caso Clínico 3. Radiografia simples pré-cirúrgica ………... 48

Figura 16 – Caso Clínico 3. Radiografia simples pós-cirúrgica ……….. 48

Figura 17 – Caso Clínico 4. Procedimento Cirúrgico (após exposição da traqueia) ……… 50

Figura 18 – Caso Clínico 4. Procedimento Cirúrgico (é visível a sutura ao nível da zona de rutura traqueal) ……….. 51

Figura 19 – Caso Clínico 4. Após cirurgia (é visível a sutura da área cervical) ……… 51

Figura 20 – Caso Clínico 4. Após cirurgia (no recobro) ……….. 51

Figura 21 – Caso Clínico 4. Consulta de controlo pós-cirúrgico ………. 52

Figura 22 – Caso Clínico 5. Preparação do animal para limpeza e tratamento das lacerações 53 Figura 23 – Caso Clínico 5. Limpeza e desinfeção das lesões ……….. 54

Figura 24 – Caso Clínico 5. Após tratamento, com colar isabelino ……… 54

Figura 25 – Lesão evidente da Região Cefálica de um Caniche ……… 63

Figura 26 – Protótipo do protetor oral ‘Saciri Dog Bite Guard’, molde da arcada mandibular . 69 Figura 27 – Cabo de Captura ou de Contenção ……… 69

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Tabela 1 – Identificação do Animal (Caso Clínico 1) ……….. 39

Tabela 2 – Identificação do Animal (Caso Clínico 2) ……… 42

Tabela 3 – Identificação do Animal (Caso Clínico 3) ………... 45

Tabela 4 – Identificação do Animal (Caso Clínico 4) ………... 49

Tabela 5 – Identificação do Animal (Caso Clínico 5) ………... 52

Tabela 6 – Casos Clínicos de Agressão entre Cães, observados no Hospital Veterinário da Póvoa, durante o período de Estágio Curricular ……… 70

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Gráfico 1 – Número de Casos com Agressão Averbada em Portugal, registados entre o ano

2003 e o ano 2016, de acordo com a base de dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)………. 11

Gráfico 2 – Proporção de casos de agressão entre cães na totalidade dos casos (com

exceção dos casos de agressão entre cães) observados no Hospital Veterinário da Póvoa, durante o período de estágio curricular (CAC (Casos de Agressão entre Cães) versus TCECAC (Totalidade de Casos com Exceção dos Casos de Agressão entre Cães))………… 55

Gráfico 3 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo o sexo do animal presente à consulta (F (Fêmeas) versus M (Machos))………. 56

Gráfico 4 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo a raça do animal presente à consulta (SRD (Sem Raça Determinada) versus CRD (Com Raça Determinada))……… 56

Gráfico 5 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo a potencialidade do perigo da raça do animal presente à consulta, de acordo com a legislação em vigor em Portugal (RPP (Raça Potencialmente Perigosa) versus RNCPP (Raça Não Considerada Potencialmente Perigosa))……… 57

Gráfico 6 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo a familiaridade do animal presente à consulta com os restantes indivíduos envolvidos no conflito (CFI (Com Familiaridade entre Indivíduos)

versus SFI (Sem Familiaridade entre Indivíduos))……… 58

Gráfico 7 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo o número de indivíduos envolvidos no ato agressivo, com exceção do animal presente à consulta (NI=1 (Número de Indivíduos = 1)

versus NI>1 (Número de Indivíduos > 1))……… 59

Gráfico 8 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo a localização corporal das lesões decorrentes do conflito agressivo (RC (Região Cefálica) versus RCv (Região Cervical) versus MT (Membros Torácicos) versus RT (Região Torácica) versus RA (Região Abdominal) versus MPRI (Membros Pélvicos e Região Inguinal))……… 62

Gráfico 9 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa,

com origem na agressão entre cães, segundo a ocorrência de óbito do animal acolhido (COA (Com Óbito do Animal) versus SOA (Sem Óbito do Animal))………... 65

Gráfico 10 – Motivação na Origem dos Casos de Eutanásia praticados no Período de Estágio

Curricular, no Hospital Veterinário da Póvoa (MM (Motivação Médica) versus MC (Motivação Comportamental))……….. 68

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CAMV – Centro(s) de Atendimento Médico-Veterinário

DGADR – Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural PSP – Polícia de Segurança Pública

GNR – Guarda Nacional Republicana

SICAFE – Sistema de Identificação de Caninos e Felinos DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária CAC – Casos de Agressão entre Cães

TCECAC – Totalidade de Casos com Exceção dos Casos de Agressão entre Cães F – Fêmeas

M – Machos

SRD – Sem Raça Determinada CRD – Com Raça Determinada RPP – Raça Potencialmente Perigosa

RNCPP – Raça Não Considerada Potencialmente Perigosa CFI – Com Familiaridade entre Indivíduos

SFI – Sem Familiaridade entre Indivíduos NI – Número de Indivíduos RC – Região Cefálica RCv – Região Cervical MT – Membros Torácicos RT – Região Torácica RA – Região Abdominal

MPRI – Membros Pélvicos e Região Inguinal COA – Com Óbito do Animal

SOA – Sem Óbito do Animal MM – Motivação Médica

MC – Motivação Comportamental SID – Sem Informação Disponível

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1. Introdução

A presente dissertação aborda, de uma forma generalizada, a temática “Agressão no cão” e, em sentido estrito, evidencia a “Agressão direcionada a outros cães” no que concerne à aplicação prática. Revela-se, assim, de um conteúdo tão importante para os especialistas da área de Veterinária quanto para os tutores de cães ou pessoal responsável pela proteção animal que executa o seu trabalho voluntário em várias instituições por todo o mundo.

É sabido que quando os animais expectam, nos Centros de Atendimento Médico-Veterinário (CAMV), o momento da consulta, existe sempre um risco iminente de ocorrência de algum conflito com um outro cão que, igualmente, aguarda para ser recebido. Do mesmo modo, a ala de internamento poderá compor um ambiente propício a um panorama semelhante. No seguimento de uma abstração por parte do pessoal auxiliar, enfermeiro ou até do médico veterinário, pode ser despoletado um ato de agressão por parte de um dos animais que possa entrar em contacto com um outro. No seio desta conjuntura, surge a pertinência deste trabalho para o especialista da área de veterinária ou técnicos auxiliares que desempenhem as suas funções nas unidades clínicas ou hospitalares. Um outro enquadramento pode ser contemplado no âmbito domiciliário - há tutores que optam pela companhia de mais do que um cão, possuindo dois ou mais indivíduos desta espécie a coabitar no mesmo espaço. Em algumas empresas, o mesmo cenário pode ser testemunhado no que respeita à adoção de mais do que um cão para realizar a guarda do estabelecimento. No que concerne ao momento diário do passeio, é concebível que o tutor possa presenciar um ataque ao seu animal por parte de um ou mais cães que, no mesmo instante se encontrem nesse local público, sem trela e sem açaime. Em situação análoga, e sabendo que as associações de proteção animal são, frequentemente, locais de sobrelotação de animais, a ocorrência da agressão entre cães, constitui, indubitavelmente, uma realidade passível de se concretizar, ou pelo reduzido espaço que há disponível para o elevado número de animais, tendo os mesmos que partilhá-lo na maioria das situações, ou por dificuldade na gestão das tarefas próprias da instituição com o controlo simultâneo dos animais que coexistem numa mesma área, em determinado momento.

Em todas as situações mencionadas, o risco de lesão grave, ou mesmo a morte do animal, ou de um humano, está sempre patente. Neste contexto, é evidenciada a necessidade de ver explanada e perscrutada a problemática da agressão entre cães, justificando-se a relevância de um conhecimento aprofundado relativamente a este tema, nomeadamente a prevenção da ocorrência da própria agressão. Assim, é importante ver reunidos, num só trabalho, os estudos que permitam conhecer qual a provável origem de uma situação de agressão, quais os tipos existentes de agressão, quais as condutas adequadas para evitar tal ocorrência e,

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desta forma, poder sensibilizar todos aqueles que, de alguma forma vêm o seu quotidiano decorrido na companhia do ‘melhor amigo do homem’, o cão.

Neste contexto, revela-se pertinente desenvolver os vários tópicos que representam os objetivos desta tese: conceituar o comportamento agressivo canino; averiguar o enquadramento da agressão canina em Portugal; tendo em consideração que a agressão canina constitui uma alteração comportamental que poderá afetar, com maior ou menor incidência, qualquer ser vivo e que poderá implicar consequências graves, incluindo a morte, tanto de humanos como de animais, revela-se de extrema importância caracterizar os vários tipos de agressão e identificar os fatores de risco que estarão na base desta conduta; reconhecer a importância da anamnese e da história clínica na orientação do estabelecimento de um diagnóstico preciso; referir os diferentes tipos de tratamento existentes para contrariar a recidiva do comportamento agressivo; aludir à relevância da profilaxia como forma de evitar o despoletar de eventuais comportamentos agressivos e/ou minimizar as suas consequências; abordar as consequências passíveis de ocorrer para os cães envolvidos – no seguimento de um conflito do foro agressivo entre cães – e para o Humano; e retratar a realidade da prática da eutanásia no âmbito da agressão canina.

Na sequência do tema central do presente trabalho, foram recolhidos e documentados todos os casos resultantes de agressão entre dois ou mais cães que, durante o período de estágio curricular de 26 semanas, se apresentaram à consulta do Hospital Veterinário da Póvoa.

Procedeu-se à recolha de elementos bibliográficos: foram selecionadas as publicações clínicas inerentes ao referido tema, cuja pesquisa foi realizada na Medline, recorrendo ao uso das palavras-chave Dog, Behaviour, Aggression, Bite e Dogfighting, e que apresentavam uma maior incidência na última década (incluindo o mês e ano de término da pesquisa, Julho de 2017). O apuramento da literatura científica conforme as palavras-chave supracitadas não se restringiu às edições de cariz meramente comportamental, dado que é essencial ter em consideração que a temática da agressão se correlaciona com outras valências da Medicina Veterinária, suplantando a própria área da Etologia. Os títulos e resumos foram apreciados, tendo-se procedido a uma eleição adequada dos respetivos conteúdos.

Seguiu-se a análise dos casos clínicos observados e a discussão fundamentada, baseada na pesquisa realizada.

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3

2. Revisão da Literatura Bibliográfica

Nesta secção serão expostos os extratos referentes aos conteúdos bibliográficos pesquisados cuja relevância torna pertinente a sua consideração no que importa ao tema e subtema abordados no corrente trabalho.

2.1. O Comportamento Agressivo no Cão

Considera-se que o cão doméstico, Canis familiaris, terá sido uma das primeiras espécies domesticadas. De acordo com os registos históricos, há milhares de anos, os cães já eram utilizados como animais de companhia. Desde então, também foram seletivamente criados para fins específicos, como a caça, o pastoreio e combates. No entanto, a reprodução seletiva extensiva de cães para uso como animais de companhia só teve início no século XIX. Devido à seleção artificial e à criação intensiva, atualmente, a espécie canina varia consideravelmente em tamanho, configuração, cor e comportamento. Independentemente destas variações, persistem ainda algumas semelhanças, em termos de características comportamentais e físicas, que permitem a interação e socialização dos cães entre si (Seksel, 2010). É relevante referir que a íntima associação entre o cão e o Homem condicionou, consideravelmente, o comportamento social e a comunicação nos cães. Muitos cães estão subjugados ao ambiente humano, possuindo apenas breves oportunidades para interagir com membros da sua própria espécie (Bowen & Heat, 2005). Neste contexto, por vezes, os cães exibem comportamentos que pressupõem a rutura do vínculo homem - animal (Seksel, 2010). Mundialmente, todos os anos, milhões de cães são recolhidos em abrigos para animais, na maioria dos casos devido a alterações de comportamento. De facto, considera-se que a maior causa de morte, em cães com menos de um ano de idade, é a eutanásia devido a distúrbios comportamentais e muitos outros não chegam a atingir a maturidade. Os problemas de comportamento, para além de serem considerados a principal alegação para a eutanásia de animais de companhia, independentemente da idade (Seksel, 2010), têm sido utilizados como referência na compreensão de distúrbios psíquicos humanos. Cães que manifestam agressão relacionada com comportamento de dominância parecem apresentar elevada validade enquanto modelos naturais utilizados no estudo da impulsividade humana (Overall, 2000; Van den Berg et al, 2003).

O comportamento agressivo canino resulta de uma conjuntura entre o meio ambiente (características do tutor, de vida,…), a biologia (genética, sexo, idade, raça,…) (Bollen & Horowitz, 2008; O’Sullivan et al, 2008) e as experiências vivenciadas, motivo pelo qual a sua manifestação é distinta entre os diferentes indivíduos (Bollen & Horowitz, 2008),

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representando uma conduta natural da comunicação canina (Bollen & Horowitz 2008; Bowen, 2011). No entanto, a sua expressão poderá ser indesejável e extremamente comum (O’Sullivan et al, 2008), alcançando a esfera do intolerável para o ambiente envolvente ou para a sociedade em geral (Netto & Planta, 1997; Beata, 2001). Este consiste num problema sério, não somente por motivos de saúde pública, devido aos custos económicos implicados, mas também pelos danos físicos e psicológicos imputados pelas mordeduras caninas, e por motivos de bem-estar animal (Horisberger et al, 2004; Duffy et al, 2008; Amat et al, 2009), resultando no abandono, rejeição (Orihel et al, 2005; Liinamo et al, 2007) e, inclusivamente, eutanásia em alguns casos (Guy et al, 2001 (a); Radosta-Huntley et al, 2007; Amat et al, 2009; Rosado et al, 2009), representando uma das motivações comportamentais mais comuns para a consulta clínica, por parte dos tutores, verificadas na prática veterinária geral e em referências em estudos comportamentais (Amat et al, 2009).

A agressão pode ter uma base fisiológica ou patológica (Bowen, 2011). Os cães são animais tipicamente predadores (Appleby, 2016). Desta forma, necessitam de recorrer a comportamentos agonísticos, como a agressão ou a fuga, de modo a poderem defrontar outros indivíduos no seu ambiente social. Deste modo, a agressão ou as condutas agressivas correspondem a padrões regulares do etograma, o conjunto de todos os comportamentos observáveis exibidos pelas espécies num ambiente definido (Netto & Planta, 1997; Beata, 2001). Todavia, o ataque físico consiste numa estratégia de elevado risco no que importa às eventuais lesões que do mesmo poderiam advir e, por isso, os indivíduos feridos teriam menos sucesso na transmissão dos seus genes. Desta forma, a evolução orientou a vertente comportamental canina para um sistema complexo, baseado na linguagem corporal, com o fim de reduzir o risco da agressão na resolução de conflitos (Patrício & Talegón, 2009; De Keuster, 2012 (a)). A agressão fisiológica é tipicamente padronizada, isto é, cada postura corporal e vocalização possuem um significado específico (Van den Berg et al, 2003; Bowen, 2011; De Keuster, 2012 (a)). Os sinais exibidos aumentam de intensidade por forma a transmitir uma ameaça crescente acompanhada de uma probabilidade elevada de lesões físicas (Bowen, 2011). A gradação comportamental agressiva inclui uma sucessão de posturas corporais que transparecem o grau de confiança e o estado emocional experienciados pelo animal (Van den Berg et al, 2003; Bowen, 2011; De Keuster, 2012 (a); Albright, 2014). Uma atitude agachada e encurvada transmite medo e incerteza enquanto que uma postura ereta geralmente afigura confiança e confronto (Bowen, 2011; Albright, 2014). Uma postura corporal verticalizada, estática, apresentando direção frontal, com orelhas e cauda eretas indiciam alerta e agressão ofensiva. Neste caso, o maxilar do animal afigura-se esquadriado e, concomitantemente com a elevação labial vertical, somente os dentes frontais são expostos (Horwitz & Mills, 2009). Contrariamente, um animal que exterioriza tremores,

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postura corporal baixa, ou em decúbito lateral, e com orelhas e cauda não expostas, é facilmente reconhecido como um cão que experimenta a sensação de medo, podendo exibir uma agressão defensiva que se traduz pela aproximação com recuo subsequente e exibição de expressões faciais mais ténues, com elevação labial horizontal e consequente exposição integral dos dentes (Horwitz & Mills, 2009; Albright, 2014). A oscilação da cauda e a piloereção (‘raising hackles’) são sinais usualmente incorretamente interpretados. Geralmente, o abanar da cauda sugere um cão amigável enquanto que a piloereção traduz um cão agressivo. No entanto, enquanto que um cão com uma postura relaxada e baixa, combinada com uma cauda oscilante e descontraída possa realmente transparecer complacência, uma postura hirta e imóvel associada a uma oscilação rápida da cauda indicia, presumivelmente, um estado de agitação. A piloereção é despoletada por um mecanismo simpático e representa um animal reativo que poderá experimentar o medo ou agressão iminente. Quando concentrada ao longo do dorso poderá ser indicativa de um estado agressivo. Se evidenciada dorsalmente ao nível da região isquiática ou articulação escápulo-umeral poderá revelar uma conduta motivada pelo medo (Albright, 2014). A vocalização produzida é, também, útil no que concerne à perceção da disposição canina. Sons ásperos e de frequência reduzida insinuam uma tentativa de afastamento do recetor. Quando a sonoridade é elevada tal poderá suscitar um estado amistoso ou de apaziguamento (Albright, 2014). Perante uma situação que represente ameaça ou stress o animal exibe, inicialmente, sinais indicativos de desconsideração tais como farejar, patear e deambular, com a finalidade de tentar eliminar a pressão reconhecida. Seguem-se sinais de apaziguamento: lambedura dos lábios, bocejo, afastamento da cabeça e distanciamento compassado do local. Na ausência de efetividade perante os sinais anteriores, são manifestadas condutas que indiciam medo e stress: respiração ofegante, sudação na região das almofadas plantares, tremor corporal, fenda palpebral aumentada com revelação da esclera (‘whale eye’,‘half moon eye’), encurvamento da cauda em direção à região inguinal, posicionamento posterior das orelhas e pelos eriçados. Posteriormente, o animal pondera uma agressão defensiva, evidenciando: postura estática, rigidez, olhar fixo e não pestanejante, com contacto ocular direto e revelação da esclera, e boca cerrada. Previamente à agressão, o animal apresenta como que um ultimato demonstrando os respetivos sinais indicadores: rosnar, mordida repetida e contração do focinho (‘muzzle punch’) com elevação nasolabial e exposição dentária associada. Uma vez ignorados todos os sinais mencionados, o animal culmina esta progressão comportamental com a investida da mordedura (Mills, 2010; Bowen, 2011; Beacon Dog Training, 2017 (b)). Geralmente, o ataque é controlado e consiste numa só mordedura com a sequente retirada (Bowen, 2011).

Considerando uma perspetiva canina, se as situações que enquadrem stress ou ameaça perdurarem, um cão poderá assimilar a associação de contextos específicos a conflitos não

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resolúveis. Neste âmbito, surge um estado emocional que irá determinar as condutas ulteriores para os referidos contextos, com a eventual omissão de sinais prévios de agressão – condicionamento operante (De Keuster, 2012 (b)). Desta forma, é fundamentada a supressão total ou parcial dos sinais supracitados em situações de punição, ou de negligência dos mesmos em situações precedentes (Bowen, 2011; Ciribassi, 2016 (b); Beacon Dog Training, 2017 (b)).

Em cães que padeçam de alterações físicas ou emocionais, este encadeamento característico, no que importa à atuação do animal, poderá, também, não ser professado (Bowen, 2011). A agressão pode, inclusivamente, cursar com ocultação dos sinais de aviso, surgir perante o absentismo de provocação e envolver um ataque sustentado com múltiplas mordeduras. Nestes casos, o animal representa um perigo considerável (Bowen, 2011).

Considerando a base neurofisiológica da agressão, o principal neurotransmissor implicado nas condutas agressivas é a serotonina, sendo os níveis de serotonina inferiores em animais que apresentam agressão (Patrício & Talegón, 2009). A serotonina tem um papel neurotransmissor extremamente importante: atua especialmente como timoléptico e estabilizador dos estados anímicos, reduzindo a impulsividade e a reatividade (Schroll, 2010).

2.2. A Agressão no Cão em Portugal

No que concerne à agressão canina em Portugal torna-se relevante a alusão aos diplomas da legislação portuguesa que reportam a este enquadramento.

O Decreto-Lei n.º 315/2009, de 29 de outubro de 2009, evoca o estabelecimento das normas estipuladas no Decreto-Lei n.º 312/2003, de 17 de Dezembro de 2003, aplicáveis à detenção de animais perigosos e potencialmente perigosos, enquanto animais de companhia, e das imposições legais previstas no Decreto-Lei n.º 313/2003, de 17 de Dezembro de 2003, ou seja, a obrigatoriedade de identificação eletrónica de todos os animais perigosos e potencialmente perigosos. Este diploma considera, pela experiência adquirida com a aplicação daqueles normativos legais, que a punição como contraordenação das ofensas corporais causadas por animais de companhia não é fator de dissuasão suficiente para a sua prevenção, pelo que se entendeu como adequado tipificar tais comportamentos expressa e claramente como crime. A convicção de que a perigosidade canina, mais que aquela que seja eventualmente inerente à sua raça ou cruzamento de raças, se prende com fatores muitas vezes relacionados com o tipo de treino que lhes é ministrado e com a ausência de socialização a que os mesmos são sujeitos levou a que se legislasse no sentido de que a estes animais sejam proporcionados os meios de alojamento e maneio adequados, de forma

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a evitar-se, tanto quanto possível, a ocorrência de situações de perigo não desejáveis. Para além disso, inferiu-se ser necessário estabelecer obrigações acrescidas para os detentores de animais de companhia perigosos ou potencialmente perigosos, entre as quais se destacam a exigência de que a reprodução ou a criação de quaisquer cães potencialmente perigosos das raças fixadas, em portaria do Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, se faça de forma controlada, em locais devidamente autorizados para o efeito, com requisitos especiais quer no alojamento dos animais quer no registo dos seus nascimentos e transações.

No decreto-lei supracitado (Decreto-Lei n.º 315/2009, de 29 de outubro de 2009), é pertinente a consideração das definições que se seguem: ‘Animal de Companhia’ – qualquer animal detido ou destinado a ser detido pelo homem, designadamente na sua residência, para seu entretenimento e companhia; ‘Animal Perigoso’ – qualquer animal que se encontre numa das seguintes condições: Tenha mordido, atacado ou ofendido o corpo ou a saúde de uma pessoa; Tenha ferido gravemente ou morto um outro animal, fora da esfera de bens imóveis que constituem a propriedade do seu detentor; Tenha sido declarado, voluntariamente, pelo seu detentor, à junta de freguesia da sua área de residência, que tem um carácter e comportamento agressivos; Tenha sido considerado pela autoridade competente como um risco para a segurança de pessoas ou animais, devido ao seu comportamento agressivo ou especificidade fisiológica; ‘Animal Potencialmente Perigoso’ – qualquer animal que, devido às características da espécie, ao comportamento agressivo, ao tamanho ou à potência de mandíbula, possa causar lesão ou morte a pessoas ou outros animais, nomeadamente os cães pertencentes às raças previamente definidas como potencialmente perigosas em anexo da Portaria nº 422/2004, de 24 de Abril de 2004 – Cão de Fila Brasileiro, Dogue Argentino, Pit Bull Terrier, Rottweiler, Staffordshire Terrier Americano, Staffordshire Bull Terrier e Tosa Inu – bem como os cruzamentos de primeira geração destas, os cruzamentos destas entre si ou cruzamentos destas com outras raças, obtendo assim uma tipologia semelhante a algumas das raças referidas naquele diploma regulamentar; ‘Autoridade competente’ – a Direcção-Geral de Veterinária (DGV), enquanto autoridade sanitária veterinária nacional, os médicos veterinários municipais, enquanto autoridade sanitária veterinária local, as câmaras municipais, as juntas de freguesia, a Guarda Nacional Republicana (GNR), a Polícia de Segurança Pública (PSP), a polícia municipal e a Polícia Marítima; ‘Centro de recolha’ – qualquer alojamento oficial onde um animal é hospedado por um período determinado pela autoridade competente, nomeadamente o canil e o gatil municipais; ‘Detentor’ – qualquer pessoa singular, maior de 16 anos, sobre a qual recai o dever de vigilância de um animal perigoso ou potencialmente perigoso para efeitos de criação, reprodução, manutenção,

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acomodação ou utilização, com ou sem fins comerciais, ou que o tenha sob a sua guarda, mesmo que a título temporário.

No que reporta à detenção de cães perigosos ou potencialmente perigosos, este decreto-lei prevê que a detenção de cães perigosos ou potencialmente perigosos, enquanto animais de companhia, carece de licença emitida pela junta de freguesia da área de residência do detentor, entre os três e os seis meses de idade. A licença pode ser obtida pelo detentor após a entrega, na junta de freguesia respetiva, dos seguintes elementos: o termo de responsabilidade, o pedido de certificado do registo criminal (do qual resulte não ter sido o detentor condenado, por sentença transitada em julgado, há menos de cinco anos, por crimes dolosos contra a vida, integridade física, saúde pública ou paz pública), documento que certifique a formalização de um seguro de responsabilidade civil e o comprovativo da esterilização (quando aplicável) – devendo o detentor, aquando de qualquer deslocação dos cães perigosos ou potencialmente perigosos, estar sempre acompanhado da mesma. As juntas de freguesia mantêm uma base de dados na qual registam os animais perigosos e potencialmente perigosos, da qual devem constar: a identificação da espécie e, quando possível, da raça do animal, a identificação completa do detentor, o local e o tipo de alojamento habitual do animal e os incidentes de agressão. O SICAFE deve estar atualizado, devendo as juntas de freguesia registar no mesmo todos os episódios que determinem a classificação do cão como animal perigoso nos termos do presente decreto-lei. O detentor de qualquer animal perigoso ou potencialmente perigoso fica, de acordo com o mesmo diploma: obrigado a possuir um seguro de responsabilidade civil (destinado a cobrir os danos causados por este e cujas imposições legais são contempladas na Portaria nº 585/2004, de 29 de Maio de 2004), ao dever especial de o vigiar (de forma a evitar que este ponha em risco a vida ou a integridade física de outras pessoas e de outros animais) e a manter medidas de segurança reforçadas, nomeadamente nos alojamentos (incluindo aqueles destinados à criação ou reprodução). Os animais abrangidos pelo presente decreto-lei não podem circular sozinhos na via pública, em lugares públicos ou em partes comuns de prédios urbanos, devendo sempre ser conduzidos pelo detentor, por meios de contenção adequados à espécie e à raça ou cruzamento de raças, nomeadamente, açaime funcional que não permita comer nem morder e, neste caso, devidamente seguro com trela curta até 1 m de comprimento, que deve estar fixa a coleira ou a peitoral.

Segundo o mesmo regulamento, são impostos os procedimentos a cumprir no caso de agressão: o animal que tenha causado ofensa ao corpo ou à saúde de uma pessoa é obrigatoriamente recolhido, pela autoridade competente, para centro de recolha oficial, a expensas do detentor; esta ofensa, de que tenham conhecimento médicos veterinários, autoridades judiciais, administrativas, policiais ou unidades prestadoras de cuidados de

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saúde, é imediatamente comunicada ao médico veterinário municipal para que se proceda à recolha do animal; no prazo máximo de oito dias, a câmara municipal fica obrigada a comunicar a ocorrência à junta de freguesia respetiva, para que esta atualize a informação no SICAFE. Quando a junta de freguesia tenha conhecimento de uma ofensa ao corpo ou à saúde de uma pessoa causada por animal ou de que um animal tenha ferido gravemente ou morto outro, de forma a determinar a classificação deste como perigoso nos termos do presente decreto-lei, notifica o seu detentor para, no prazo de 15 dias consecutivos, apresentar a documentação para obtenção de licença de detentor de animal perigoso. Relativamente ao destino dos animais agressores, o animal que cause ofensas graves à integridade física, devidamente comprovadas através de relatório médico, é eutanasiado através de método que não lhe cause dores e sofrimentos desnecessários, uma vez ponderadas as circunstâncias concretas, designadamente o carácter agressivo do animal, e a decisão relativa ao abate é da competência do médico veterinário municipal, após o cumprimento das normas vigentes em matéria de isolamento e sequestro dos animais agressores e agredidos em caso de suspeita de raiva. Caso o animal não seja abatido, este é entregue ao detentor, tal como ocorre para o animal que cause ofensas à integridade física simples, sendo requisito obrigatório nestes casos, e quando aplicável, a realização de provas de socialização e ou treino de obediência no prazo indicado pelo médico veterinário municipal. O animal que apresente comportamento agressivo e que constitua, de imediato, um risco grave à integridade física e que o seu detentor não consiga controlar pode ser imediatamente eutanasiado pelo médico veterinário municipal ou sob a sua direção.

Neste diploma (Decreto-Lei n.º 315/2009, de 29 de outubro de 2009) são estabelecidas, ainda, as normas para criação, reprodução e comercialização de cães potencialmente perigosos e a obrigatoriedade do treino dos animais perigosos e potencialmente perigosos, com vista à sua socialização e obediência. Para assegurar que este seja ministrado por treinadores com habilitação técnica para influenciar e adaptar o carácter do animal, bem como promover a sua integração no meio ambiente, com segurança, este diploma exige que o treino apenas possa ser ministrado por treinadores certificados para esse efeito. Neste âmbito, e em conformidade com o Despacho nº 7705/2010, de 3 de Maio de 2010, a Direção Geral de Veterinária autoriza que a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR) efetuem a certificação dos treinadores de cães perigosos e potencialmente perigosos, de acordo com as normas a fixar pelas mesmas. No Decreto-Lei n.º 315/2009, de 29 de outubro de 2009, estão, ainda, vigentes as disposições legais no que importa às situações consideradas como crime: as lutas entre animais, as ofensas à integridade física dolosas e as ofensas à integridade física negligentes.

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Foi publicada, a 4 de julho de 2013, a Lei n.º 46/2013, que veio introduzir alterações ao Decreto-Lei n.º 315/2009 de 29 de outubro de 2009, prevendo, entre outras disposições, que os detentores de cães perigosos ou potencialmente perigosos exibam um comprovativo de aprovação em formação para a detenção de cães perigosos ou potencialmente perigosos, que os treinadores daqueles cães sejam certificados por entidade reconhecida para o efeito, e tenham obtido um título profissional emitido pela DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária). Para cumprimento de tais disposições, foi publicada a Portaria nº 317/2015, de 30 de Setembro de 2015, que estabelece as entidades formadoras dos detentores de cães perigosos e potencialmente perigosos, os requisitos específicos a que devem obedecer as entidades formadoras, o conteúdo da formação e os respetivos métodos de avaliação e define as entidades certificadoras de treinadores de cães perigosos e potencialmente perigosos, estabelecendo igualmente o modelo de provas e a avaliação dos candidatos, estando em curso um trabalho de articulação entre a DGAV, a DGADR (Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural), a PSP e a GNR, para pôr em prática todos os procedimentos necessários, para implementação destas medidas. Nesse sentido, não há, de momento, nenhuma alteração às obrigações a que estão sujeitos os detentores deste tipo de cães pelo que, quer as juntas de freguesia, quer os treinadores de cães, devem aguardar a divulgação das ações de formação de detentores, provas de certificação dos treinadores, datas e locais. Surge em 17 de Janeiro, do corrente ano, a Portaria nº 28/2017, na qual são aprovados os valores devidos às Forças de Segurança pela emissão de pareceres para certificação de entidades formadoras de cães perigosos e potencialmente perigosos, pela formação exigida aos detentores de cães perigosos e potencialmente perigosos e pela certificação de treinadores de cães perigosos e potencialmente perigosos, em anexo à presente portaria, da qual faz parte integrante.

Após solicitação de dados relativos aos casos de agressão em Portugal, foi possível obter, por parte da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, a menção de 1517 animais classificados como ‘Animal Perigoso’, entre o ano de 2003 e o ano de 2016. De entre estes animais, 796 possuem averbamento de agressão. Estes são referenciados nos registos facultados pela DGAV – que constam na sua base de dados, o Sistema de Identificação de Caninos e Felinos (SICAFE) –, ordenados segundo o distrito, o concelho e o ano, para o período acima indicado. De acordo com a estruturação dos dados disponibilizados não foi possível discriminar o total de agressões direcionadas a pessoas ou animais. É pertinente referir que, no continente, o distrito de Lisboa é aquele que abrange um maior número de casos, nomeadamente 300, sendo que no distrito de Viseu foi reportado o menor número de casos, mais especificamente 3 referências. O gráfico 1 resulta da análise e compilação da

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informação citada e representa o número de casos com agressão averbada, por ano, em Portugal.

Gráfico 1 – Número de Casos com Agressão Averbada em Portugal, registados entre o ano 2003

e o ano 2016, de acordo com a base de dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

Com base na apreciação do gráfico 1 é possível inferir que o ano de 2015 foi aquele em que se observou um maior número de agressões assinaladas, mais precisamente 120, enquanto que o ano de 2003, aquele em que oficialmente é criada da base de dados do SICAFE, prevê somente um registo. De acordo com a DGAV, a informação contemplada não corresponderá, na realidade, ao número de casos de agressão efetivamente ocorridos em Portugal, para o intervalo temporal considerado, sendo aquele, presumivelmente, bastante superior.

No que respeita à consulta de referência em Medicina Comportamental em Portugal, um estudo estatístico foi realizado no Norte do país, baseado num questionário apresentado a 200 tutores e com a seguinte amostra: 123 cães machos e 73 fêmeas. Foram identificadas 38 tipos de raças, representando 55% da população, sendo a faixa etária mais comum a de um a três anos de idade (n= 68). Esta investigação, efetuada com o fim de traçar o perfil do cão agressivo, perceber os fatores de risco inerentes à agressão em cães e conceber medidas futuras preventivas, permitiu constatar que, no que importa aos relatos dos tutores, relativos ao comportamento dos seus animais, 55% estão associadas a problemas de agressividade. No que reporta às agressões, 58% são interespecíficas, representando os tutores as principais vítimas (42,5%) (Roriz & Sousa, 2012).

Um outro estudo, de cariz epidemiológico, relativo à consulta de referência em Medicina Comportamental em Portugal, cujos inquiridos foram os médicos veterinários que se dedicam

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à área do Comportamento Animal em Portugal, permitiu inferir que a região do país onde se realizam o maior número de consultas de referência de Comportamento Animal é na região Centro, mais especificamente no distrito de Lisboa. Constatou-se, também, que a agressão direcionada a humanos surge como a motivação primordial na base da referenciação para a consulta de Medicina Comportamental, em cães, sendo a agressão direcionada a outros cães o terceiro principal motivo referenciado. No que respeita ao diagnóstico de alterações comportamentais em cães, a agressividade direcionada a cães coabitantes representa o principal diagnóstico da consulta de referência em Portugal (Santos et al, 2012).

2.3. Fatores de Risco e a Potencialidade da Agressão no Cão

O estudo dos mecanismos que controlam o despoletar da agressão e a identificação de fatores de risco relacionados com a mesma são essenciais para que se possam estabelecer medidas efetivas de prevenção (Amat et al., 2009; Matos et al, 2015).

Existe uma considerável discrepância entre as várias pesquisas no que respeita ao efeito da castração no comportamento canino, especificamente, na agressão. A influência da gonadetomia no comportamento agressivo é mais evidente em machos e nos casos de agressão intra-específica e agressão territorial mas menos evidente em fêmeas e noutros tipos de agressão (Haug, 2008). Um estudo realizado na Eslováquia permitiu verificar que os cães submetidos a gonadetomia eram menos predisponentes à manifestação da agressão direcionada a humanos enquanto que os machos intactos apresentavam maior propensão para exibir agressão direcionada a pessoas familiares (Matos et al, 2015). Em contraste com esta observação, uma investigação contemplando uma amostra superior a mil animais, da raça English Springer Spaniels, apurou que os cães intactos (machos e fêmeas) eram tendencialmente menos agressivos em relação aos tutores em comparação com os animais esterilizados (Reisner et al, 2005). Para outros autores (Bennett & Rohlf, 2007; Blackwell et al, 2008; Bollen & Horowitz, 2008) não existe relação comprovada entre a esterilização e o comportamento agressivo.

No que reporta somente ao sexo do animal, existem bastantes estudos relativos à análise do status sexual de cães que padecem de desordens comportamentais (Takeushi et al, 2001). Num estudo verificou-se que os cães machos são geralmente considerados como mais passíveis de despoletar conflitos agressivos, especialmente com outros machos (Sherman et al, 1996). Guy et al (2001(b)) atestaram que as fêmeas são praticamente três vezes mais passíveis de terem mordido alguém no contexto domiciliário.

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Considerando a idade do animal, algumas pesquisas sugerem a ausência de associação entre a idade do animal e o comportamento agressivo (Podberscek & Serpell, 1997; Fatjó et al, 2007; Matos et al, 2015). No entanto, muitos estudos observaram uma tendência para a exibição da agressão em cães com idade superior. Numa investigação liderada por Bennet & Rohlf (2007), os autores observaram uma correlação positiva entre a idade do animal e a animosidade/agressividade, enquanto que Hsu & Sun (2010) constataram que cães com idade superior a dez anos eram mais predisponentes à evidenciação de agressão direcionada aos tutores. Contudo nenhuma correspondência foi apurada entre a idade do animal e a agressão direcionada a pessoas não familiares. Após a análise de uma amostra superior a mil animais da raça English Springer Spaniels, Reisner et al (2005) comprovaram que os cães que apresentavam idade igual ou superior a quatro anos, exibiam maior disposição para agredir os seus tutores.

Relativamente à raça do animal, é interessante verificar que, em vários estudos, o English Springer Spaniels representa a raça que mais frequentemente demonstra agressão relacionada com comportamento de dominância. Parecem existir níveis inferiores de metabolitos de serotonina e de dopamina no fluído cerebroespinhal de animais pertencentes a esta raça submetidos a eutanásia motivada pela agressão (Takeuchi et al, 2001). Os cães pertencentes à raça English Springer Spaniels podem manifestar uma alteração comportamental paroxística, designada de síndrome de raiva, que consiste no ataque do animal direcionado a seres vivos e, ocasionalmente, objetos inanimados após o episódio referido. É comum que a agressão seja infligida sobre um membro familiar com o qual o animal habita (De Lahunta & Glass, 2009; Appleby, 2016). Um caso semelhante está descrito num cão da raça Pastor Alemão, documentado como tendo sofrido ocorrências esporádicas de lapso mental, reportado como a síndrome das raças populares, às quais se seguiu o ataque de cães e pessoas, familiares e não familiares (Beaver, 1980). Num estudo realizado nos Estados Unidos, os Pit bull terriers lideram como sendo a raça mais comum entre os cães agressores, seguida pelo Rottweiler e Pastor Alemão. As raças de porte grande representam um perigo apreciável na medida em que a pressão de mordida exercida é superior e, consequentemente, tal compreende um risco considerável de lesão grave (Oehler et al, 2009). No que concerne ao porte do animal, alguns trabalhos (Guy et al, 2001(a); Bennett & Rohlf 2007; Duffy et al, 2008; Arhant et al, 2010; Paranhos et al, 2013) concluíram haver uma tendência para a demonstração de agressão direcionada a humanos em raças de porte pequeno a médio. O comportamento agressivo em raças grandes ou gigantes habitualmente concorre com lesões de severidade superior e, por este motivo, será considerado de forma rigorosa resultando, frequentemente, na morte do animal (Kobelt et al, 2003). Desta forma, a agressão em cães de porte pequeno torna-se melhor tolerada (Duffy et al, 2008). O porte do

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animal foi demonstrado como tendo um significativo impacto no modo de interação deste com o seu tutor (Kobelt et al, 2003; Baranyiova et al, 2009). Os cães pertencentes a raças de porte superior são mais facilmente subjugados ao treino realizado por profissionais (Kobelt et al, 2003; Baranyiova et al. 2009). Pelo contrário, a participação em atividades de treino dos tutores de cães de raça de porte inferior é, tal como o seu comprometimento em geral, habitualmente inferior (Baranyiova et al, 2009; Arhant et al, 2010). Neste domínio, é relevante considerar que os cães de raça possuindo um porte inferior foram reportados como sendo mais obstinados (Baranyiova et al, 2009), desobedientes e espertáveis quando comparados com os de porte superior (Bennett & Rohlf, 2007; Arhant et al, 2010).

No que reporta às características do tutor no enquadramento da potencialidade da ocorrência da agressão, os autores de algumas pesquisas realizadas demonstram não ter apurado uma correlação significativa entre o sexo do tutor e o relato de ocorrência e/ou frequência da agressão (Bennett & Rohlf, 2007; Matos et al, 2015). Contudo, outros estudos não apresentam concordância com o fato anteriormente referido, mencionando que um maior número de pessoas do sexo feminino em contexto domiciliário está associado a agressão relacionada com comportamento de medo (McGreevy & Masters, 2008). Os tutores do sexo feminino foram referidos como menos suscetíveis de reportar uma agressão direcionada a pessoas não familiares, quando equiparadas com os tutores do sexo masculino (Casey et al, 2014), no entanto, Hsu & Sun (2010) verificaram que no caso do relato relativo à agressão direcionada aos tutores, esta tendência é contrariada. Matos et al (2015) constataram que tutores com idades inferiores são, presumivelmente, mais prováveis de possuir cães com manifestação de comportamento agressivo, o que poderá dever-se ao estilo de vida mais inconstante, característico desta faixa etária. É relevante referir que foi demonstrado (Roll & Unshelm, 1997) que os animais são percecionados de forma distinta de acordo com a idade do tutor: tutores com idade inferior a trinta anos perspetivam o seu cão como um membro familiar enquanto que tutores com idade superior o consideram como uma criança. Outros autores (Bennett & Rohlf, 2007) não apuraram qualquer relação entre esta variável e a agressividade canina.

A experiência do tutor é também um importante fator com interferência no comportamento canino (Jagoe & Serpell, 1996; Kobelt et al, 2003; Bennett & Rohlf, 2007). Particularizando o comportamento agressivo, alguns autores (Jagoe & Serpell, 1996; Luescher & Reisner, 2008) constataram uma associação negativa entre a sua expressão e a experiência do tutor. Uma outra pesquisa não apurou qualquer correlação entre ambas as variáveis (Matos et al, 2015). O que se pretende de um animal de companhia é que se adapte ao que a sociedade onde está inserido expecta da sua parte. No entanto, estas perspetivas variam consoante a sociedade em que os cães vivem – urbana, periurbana, rural ou semi-rural, consoante a região

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e o país (Seksel, 2010). Por exemplo, na Eslováquia é comum manter os animais no exterior, livres no jardim, acorrentados ou num canil, resultando, presumivelmente, numa menor interação destes com os tutores em comparação com animais que habitam no interior (Matos et al, 2015). É possível que cães mantidos no exterior não sofram estimulação suficiente e não sejam submetidos a passeios, apresentando reduzida atividade física, o que orienta a interação com desconhecidos para circunstâncias em que estes invadam o território do animal. Todos estes fatos promovem um sentimento de frustração por parte do animal (Haug, 2008). O meio urbano ou rural em que os cães vivem poderá condicionar a agressividade destes. Matos et al (2015), apesar de não verificaram diferenças entre as comunidades rural e urbana, no que respeita à exibição da agressividade canina, especularam a hipótese de que cães que habitem meios rurais pudessem ser mais agressivos, talvez porque os tutores, no meio rural, serão, possivelmente mais tolerantes (Hsu & Sun, 2010) e menos empenhados na interação com o seu cão. De acordo com Baranyiova et al (2005), foi possível observar, num estudo que contempla a influência da urbanização no comportamento agressivo de cães, em onze situações distintas, que os cães de áreas urbanas rosnavam mais perante membros familiares do que os de zonas rurais.

Relativamente ao período de socialização, o qual se estima que decorra, na espécie canina, entre as 3 e as 10 -12 semanas de idade, esta fase é frequentemente referida como o ‘período crítico’ para a formação de relações sociais. Um mínimo de experiênciação ou a ausência total desta durante esta etapa parece ter efeitos duradouros no comportamento do cão (Yin, 2009; Seksel, 2010; ETOLIA, 2017 (a); Beacon Dog Training, 2017 (a)). Foi constatado que no contexto de uma exposição inadequada reside um dos principais riscos para a exteriorização da agressão (Appleby et al, 2002; Blackwell et al, 2008; Haug, 2008; Seksel, 2010; Beacon Dog Training, 2017 (a)). A frequência da prática de determinadas atividades (ex. passeios) e a promoção da interação do cachorro com outras pessoas e animais está negativamente associada ao comportamento agressivo (Arhant et al, 2010; ETOLIA, 2017 (a)). As vivências experienciadas nos primeiros meses de vida são determinantes para um desenvolvimento adequado (Roriz & Sousa, 2012), pelo que se revela bastante mais difícil modificar o comportamento social uma vez ultrapassada a fase de socialização (Seksel, 2010). Um estudo realizado permitiu constatar que a idade de aquisição do cão interfere no comportamento futuro do mesmo, sendo o desmame precoce do cachorro um importante fator de risco na manifestação do comportamento agressivo no cão adulto (Roriz & Sousa, 2012).

A interferência do treino no comportamento canino foi investigada por vários autores (Clark & Boyer, 1993; Jagoe & Serpell, 1996; Kobelt et al, 2003; Bennett & Rohlf, 2007; Blackwell et al, 2008). Muitos apuraram uma relação negativa entre o treino e as alterações

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comportamentais em cães (Clark & Boyer, 1993; Jagoe & Serpell, 1996; Bennett & Rohlf, 2007). Os comandos de obediência foram relatados como correlacionados com uma menor incidência de distúrbios comportamentais (Kobelt et al, 2003) e cães agressivos para com os tutores demonstraram reagir mais lentamente a estes comandos (Podberscek & Serpell, 1997). Alguns estudos centraram-se na coligação dos tipos de treino aplicado (formal, informal e uso de técnicas aversivas) e a presença de comportamentos indesejáveis (Bennett & Rohlf, 2007; Blackwell et al, 2008; Arhant et al, 2010). Bennett & Rohlf (2007) constataram que o empenho do tutor no que respeita ao treino estava notavelmente negativamente correlacionado com a exibição de animosidade/agressividade perante pessoas familiares e não familiares. O uso de punição foi observado como estando associado ao comportamento agressivo, para além do paralelismo entre o aumento da sua frequência e a da manifestação de agressividade (Blackwell et al, 2008; Arhant et al, 2010). Blackwell et al (2008) verificaram, contudo, que a combinação entre técnicas aversivas e o reforço positivo resultaria nos maiores índices de agressão média presumivelmente devido à inconsistência do método. O treino informal instituído pelos tutores foi relatado como estando associado a um aumento da possibilidade de eventual demonstração de agressividade (Blackwell et al, 2008; Matos et al, 2015).

No que importa à manifestação do comportamento de medo, este é um dos carateres de comportamento sobre o qual a genética apresenta uma interferência relevante (Le Brech et al, 2016 (b)). O medo parece também ter algum componente hereditário, pelo que os animais com progenitores receosos ou ansiosos poderão ter comportamentos semelhantes (Ciribassi, 2016 (a)). Muitos autores estabeleceram uma ligação significativa entre a agressão e o medo. Estes são estados motivados pelo mesmo estímulo (Archer ,1979). Quando uma situação suscita uma reação agressiva, esta poderá ser defensiva ou ofensiva, de acordo com o estado motivacional (McFarland, 1981; King et al, 2003). A agressão defensiva tende a ocorrer concorrentemente com fuga, evasão ou medo (McGlone, 1986). Muitas vezes esta condição é confundida com a agressão ofensiva tendo, por isso, um diagnóstico impreciso (Galac & Knol, 1997). Um estudo contemplando 245 casos de agressão canina (Borchelt, 1983) observou que a agressão relacionada com comportamento de medo era a mais frequente, integrando praticamente 25% dos casos. Relativamente à agressão direcionada a humanos, o medo foi reportado como a motivação mais comum para a exibição da agressão direcionada a pessoas familiares (Bamberger & Houpt, 2006) e não familiares (Fatjó et al, 2007; Haug, 2008).

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Gráfico 1  –  Número de Casos com Agressão Averbada em Portugal, registados entre o ano 2003  e o ano 2016, de acordo com a base de dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)
Tabela 1  –  Identificação do Animal (Caso Clínico 1).
Figura 1  –  Caso Clínico 1. É visível a área de mordedura localizada na parede torácica esquerda
Figura  3  –  Caso  Clínico  1.  Preparação  pré-cirúrgica.  Após  tricotomia.  É  possível  visualizar  a  extensão da lesão na parede costal esquerda
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Referências

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