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A fragilidade da implementação das políticas estatais de assistência social frente às demandas de segurança alimentar na Cidade do Recife

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. DISSERTAÇÃO. A FRAGILIDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS ESTATAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FRENTE ÀS DEMANDAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR NA CIDADE DO RECIFE/PE. IARA RAQUEL DO CARMO NUNES GUERRA. Recife, PE 2009.

(2) 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. A FRAGILIDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS ESTATAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FRENTE ÀS DEMANDAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR NA CIDADE DO RECIFE/PE. IARA RAQUEL DO CARMO NUNES GUERRA. Orientadora: Maria Alexandra da Silva Monteiro Mustafá. Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de PernambucoUFPE.. Recife, PE Agosto de 2009.

(3) 2. Guerra, Iara Raquel do Carmo Nunes A fragilidade da implementação das políticas estatais de assistência social frente às demandas de segurança alimentar na Cidade do Recife / Iara Raquel do Carmo Nunes Guerra. – Recife: O Autor, 2009. 136 folhas: il., fig., tab.; graf., quadros Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Serviço Social, 2009. Inclui bibliografia e anexos 1. Assistência social – Políticas estatais. 2. Segurança alimentar. 3. Políticas Sociais. 4. Capitalismo. I. Título. 364.04 362.04. CDU (2.ed.) CDD (22.ed.). UFPE BC - 2009 - 126.

(4) 3.

(5) 4. Às famílias em situação de vulnerabilidade alimentar DEDICO. A minha querida mãe Iramair Nunes; Áurea (in memoriam) e Leandro (in memoriam); Ao meu companheiro Angelo; Aos meus mestres e amigos Alexandra e Lúcio Mustafá OFEREÇO.

(6) 5. AGRADECIMENTOS • À minha querida e amada mãe, Iramair Nunes, que ao enfrentar mais um desafio que a vida colocou, me ensinou e apoiou com carinho e dedicação a enfrentar o desafio de concluir esse curso diante de tantas adversidades. • Ao meu amado, Angelo Cavalcanti, que esteve comigo minuto a minuto acompanhando todo o decorrer desse trabalho •. Aos meus queridos mestres e amigos Alexandra Mustafá e Lúcio Mustafá que desde sempre me estimularam,confiaram e apoiaram a minha produção cintífica;. • À minha eterna amada Áurea Deiga ( in memória) que tanto sonhou meus sonhos e que infelizmente não pode estar aqui para presenteá-la com essa conquista • Ao meu querido e eterno amigo Leandro Santana(in memória) que compartilhou comigo muitas das críticas que evidencio nesse trabalho. • A minha querida madrinha Lourdes que infelizmente não pode acompanhar mais uma conquista na minha vida. • Aos meus tios, Biu e Iraci, que me acolheram e acolhem com muito carinho e amor na minha caminhada acadêmica • Ao meu lindo sobrinho Júlio César que trouxe tanta luz e alegria nos momentos difíceis e a minha irmã Silvana. z. Ao meu avô Zé Nunes que tanto amo.. z. À toda minha família.. z. A todos os profissionais e residentes da Casa de Acolhida Temporária Andaluz.. z. Ao corpo docente do Curso de Mestrado de Serviço Social da UFPE.. z. Aos meus amigos e amigas Marcelo Pelizzoli, Tássia Cavalcanti, Robson Brasileiro, Gisely Bezerra, Míriam Barros, Adriana Pereira, Sílvia Mota.. z. Em especial aos professores Denis Bernadis, Marco Mondaini e à professora Anita Aline.. z. Às professoras que participaram da minha banca de qualificação do mestrado, Elizabete Mota e Juliana Perozzo.. z. Às famílias que acompanhei no período de 2006 a 2008 da Cozinha Comunitária, do programa do Leite e do Programa Sopa- IASC. z. A todos que fazem parte da Gerência Operacional de Nutrição e Controle AlimentarGONCA-IASC, que tanto contribuiram para o desenvolvimento desse trabalho. z. Aos meus amigos do NEMA, da CEJA- TJ/PE.

(7) 6. RESUMO. Este estudo reflete a consciência da necessidade de um debruçar-se sócio-científico aprofundado sobre diversos aspectos que mediam a fragilidade da implementação das políticas estatais de assistência social frente às demandas de segurança alimentar. O Capital criou um sistema onde seria necessário a expropriação do homem dos instrumentos do seu trabalho, a apropriação privada dos meios de produção, a necessidade de venda da força-de-trabalho como “única” alternativa de reprodução da vida. No entanto, gradativamente vem limitando a chance de sobrevivência dos que precisam vender sua força-de-trabalho, com a impossibilidade de absorção dessa população sobrante. Cada vez mais, aumenta-se não apenas a pobreza relativa e absoluta, aumenta-se também o fenômeno da fome. A violência da fome apresenta-se ora “silenciosa”, ora “escancarada” no dia-adia da população pobre e miserável, seja das periferias das grandes cidades, seja das áreas rurais. Apesar de estar presente em quase todas as regiões, a fome está localizada geograficamente. Em escala mundial, evidencia-se no hemisfério sul do nosso planeta, e no nosso país podemos observar que as zonas mais vulneráveis localizam-se nas regiões Norte e Nordeste. Atualmente, no Brasil, apesar da existência de uma Política Nacional de Assistência Social- PNAS, do Sistema Único da Assistência Social-SUAS e mesmo diante de uma maior abrangência de programas de transferência de renda como o Bolsa-Família, e de políticas e programas direcionados para o seu enfrentamento como o Programa Fome Zero, a problemática da fome é persistente. Tivemos como objetivo analisar as causas da fragilidade da implementação das políticas estatais de assistência social frente às demandas de segurança alimentar colocadas especificamente aos programas de segurança alimentar da Cidade do Recife. O nosso método de estudo apoiou-se no materialismo histórico, que tem como eixo estruturante a concepção materialista da história e a dialética. Na elaboração do nosso trabalho recorremos à consulta bibliográfica, aos documentos institucionais disponíveis,dentre outras fontes de dados complementares. Observamos que há muito a ser investigado diante do descaso frente à necessidade de implementação de uma política social de segurança alimentar. Uma vez que, mediações referentes à atual política agrária nacional e internacional não podem passar desapercebidas, visto que, essas precisam ser discutidas e redirecionadas no intuito de serem encontradas as reais soluções para a problemática em tela. Assim não podemos deixar de considerar que a redistribuição de terras e rendas, associada a uma política de mudança estrutural para o campo brasileiro, seria um caminho interessante a ser trilhado. Palavras Chave: Capitalismo; Segurança Alimentar; Políticas Sociais.

(8) 7. RIASSUNTO Questo Studio riflette la coscienza della necessità di un affacciarsi socio-scientifico approfondito sui diversi aspetti che fanno da tramite alla debolezza dell’avviamento delle politiche statali di assistenza sociale nel confronto delle demande di sicurezza alimentare. Il Capitale ha creato un sistema dove sarebbe necessario la espropriazione dell’uomo dalle attrezzatture del suo lavoro, l’appropriazione privata dei mezzi di produzione, la necessità di vendita della forza-lavoro come “unica” alternativa di riproduzione della vita. Tuttavia, poco a poco si fa meno estesa la possibilità di sopravivenza di chi ha bisogno di vendere la propria forza-lavoro, con l’impossibilità di assorzione di questa popolazione rimanente. Ogni volta di più, si ingrandisce non soltanto la povertá relativa e assoluta, si ingrandisce anche il fenomeno della fame. La violenza della fame si presenta, “silenziosa”, alle volte, “spalancata” nel vivere cotidiano della popolazione povera e meserabile, sia quella delle periferie delle grandi cittá, sia in area di campagna. Nonostante presente in quase tutte le regioni, la fame si localizza geograficamente. A livello mondiale, si rilieva nel emisfero sud del nostro pianeta, e nel nostro paese possiamo osservare che le zone più vulnerabili si localizzano nelle regioni Nord e Nordest. Nell’attualitá, in Brasile, nonostante l’esitenza di una Politica Nazionale di Assistenza Sociale – PNAS, del Sistema Unico di Assistenza Sociale – SUAS e anche davante una maggior portata di programmi di trasferimento di redito con il programma Borsa Familia e di politiche e programmi diretti al suo affrontamento con il Programma Fome Zero, la problematica della fame persiste. Abbiamo avuto come oggettivo analisare le cause della fragilità dell’avviamento delle politiche statali di assistenza sociale davante le demande di sicurezza alimentare messe specificamente ai programmi di sicurezza alimentare della Città del Recife. Il nostro metodo di studio si è appoggiato nel materialismo storico, che ha come asse strutturante la concezione materialistica della storia e la dialetica. Nell’elaborazione del nostro lavoro abbiamo fatto ricorso alla consultazione bibiliografica, ai documenti istituzionali disponibili, tra le altre fonti di dati complementari. Abbiamo osservato che c’è molto da investigare davante l’indifferenza nei confronti della necessità di avviamento di una politica sociale di sicurezza alimentare. Una volta che, esse bisognano di venire discusse e ridirezionate affinchè siano trovate le reali soluzioni per la problematica in tela. Così non possiamo non considerare che la ridistribuzione di terre e redito, associate a una politica di cambiamento strutturale per la campagna brasiliana, sarebbe una strada interessante da venir percorsa.. Parole Chiave: Capitalismo; Sicurezza Alimentare; Politiche Sociali..

(9) 8. ÍNDICE DE TABELAS. Tabela 1 - Prevalência de situação de segurança alimentar em domicílios particulares e número de domicílios, por situação de segurança alimentar e recebimento de dinheiro de programa social do governo no mês de referência,segundo as Grandes Regiões – 2004.................... .........................77 Tabela 2 - Pessoas beneficiadas no Sistema de Segurança Alimentar no Município de Recife.........................................................................................93.

(10) 9. ÍNDICE DE FIGURAS. Figura 1 - Dieta no Paleolítico......................................................................17 Figura 2 - Caça na pré-história......................................................................18 Figura 3 - Revolução neolítica........................................................................18 Figura 4 - Celeiros...........................................................................................19 Figura 5 - Monocultura açucareira ...............................................................30 Figura 6 - Máquina agrícola 1.......................................................................33 Figura 7 - Máquina agrícola 2.......................................................................33 Figura 8 - Fome no sertão do Piauí, Nordeste, Brasil..................................34 Figura 9 - Meninos de rua no Brasil..............................................................34 Figura 10 - Fome/ Desnutrição/África ...........................................................35.

(11) 10 ÍNDICE DE GRÁFICOS. Gráfico 1 - Evolução da obesidade no Brasil nas últimas três décadas em mulheres com mais de 20 anos.........................................................................36 Gráfico 2 - Obesidade x Desnutrição (população de baixa renda de São Paulo)................................................................................................................37 Gráfico 3 - Total de usuários por idade inseridos no Projeto Comunitária Gurupé- IASC, em 2008.................................................................................106 Gráfico 4 - Distribuição do público atendido no Projeto Comunitária GurupéIASC segundo a faixa etária, em 2008...........................................................106 Gráfico 5 - Distribuição do público atendido no Projeto Comunitária GurupéIASC,segundo possibilidade de uso dos serviços de saúde onde está localizado o projeto, em 2008.........................................................................................107 Gráfico 6 - Distribuição do público, em idade ativa, atendido no Projeto Comunitária Gurupé- IASC ,segundo ocupação ocupacional, em 2008........107 Gráfico 7 - Distribuição das residências do público atendido no Projeto Comunitária Gurupé- IASC ,segundo saneamento básico, em 2008.............107 Gráfico 8 - Distribuição das residências do público atendido no Projeto Comunitária Gurupé- IASC,segundo estrutura física da habitação, em 2008................................................................................................................108 Gráfico 9 - Distribuição das residências do público atendido no Projeto Comunitária Gurupé- IASC,segundo situação legal de moradia, em 2008................................................................................................................108 ..

(12) 11. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS.........................................................................................................................5 RESUMO.............................................................................................................................................6 RIASSUNTO........................................................................................................................................7 ÍNDICE DE TABELAS........................................................................................................................8 ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................................................9 ÍNDICE DE GRÁFICOS...................................................................................................................10 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................14. CAPÍTULO I - A PARTICULARIDADE DA INSEGURANÇA ALIMENTAR NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ........................................................................................................16. 1.1- UM BREVE ACENO À CONFIGURAÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL.....................16 1.2- A INSEGURANÇA ALIMENTAR E SUAS DETERMINAÇÕES NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA............................................................................................................27. CAPÍTULO II - MARCO LEGAL, ESTATÍSTICO E POLÍTICO QUE PERPASSA A QUESTÃO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR E DA FOME NO BRASIL............................38. 2.1 - O HISTÓRICO DAS INTERVENÇÕES POLÍTICAS REFERENTES ÀS DEMANDAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL................................................... ............................38 2.2. - A POLÍTICA NEOLIBERAL. E A INSEGURANÇA ALIMENTAR. NO. BRASIL..............................................................................................................................................49 2.3 - ATUAL POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR: PROGRAMA FOME ZERO.....................................................................................................................................57 2.4- DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO E OS INSTRUMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS..........................................................................................................................60 2.4.1 - A Carta das Nações Unidas(1945) ........................................................61 2.4.2 - A Declaração Universal de Direitos Humanos (1948)........... .............62 2.4.3 -O Pacto Internacional de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais (1966)..................................................................................................63 2.4.4- Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e Plano.

(13) 12 de Ação da Cimeira Mundial da Alimentação (1996) .....................................64 2.5 - INSTRUMENTOS JURÍDICOS E POLÍTICOS NACIONAIS REFERENTES AO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO .............................................................................66 2.5.1- A Carta Magna Brasileira (1988) .........................................................66 2.5.2- A Lei Orgânica da Assistência Social- LOAS (1993) ...........................67 2.5.3- A Política Nacional de Assistência Social- PNAS(2004).......................70 2.5.4- A Lei Orgânica da Segurança Alimentar- LOSAN(2006) ..................71. CAPÍTULO 3 - QUADRO ATUAL DA INSEGURANÇA ALIMENTAR BRASILEIRA E AS INTERVENÇÕES PÚBLICAS REFERENTES A ESSA DEMANDA NA CIDADE DO RECIFE ............................................................................................................................................74. 3.1-QUADRO ATUAL DA INSEGURANÇA ALIMENTAR BRASILEIRA E ALGUNS MARCOS REFERENTES À CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR EM PERNAMBUCO ......................................................................................74 3.2-PROGRAMAS. DE. “SEGURANÇA. ALIMENTAR”. DO. ESTADO. DE. PERNAMBUCO COM INTERVENÇÃO NA CIDADE DO RECIFE. ...............................80 3.2.1 - Programa Leite de Todos .......... ........................................................80 3.2.2- Programa Sopa Amiga CEASA ...........................................................87 3.3-NOTÍCIAS SOBRE AS INTERVENÇÕES PÚBLICAS REFERENTES À SEGURANÇA ALIMENTAR NA CIDADE DO RECIFE NO PERÍODO DE 2002 A 2007..........................89 3.4 - COMSEA/ RECIFE ........................................................................................................92 3.5-PROGRAMAS E AÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR DESENVOLVIDAS PELA PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE –PCR .....................................................93 3.5.1 - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento ...................................94 3.5.2 - Secretaria de Educação .....................................................................................94 3.5.3 - Instituto de Assistência Social e Cidadania da Cidade de Recife – IASC ...94 3.5.4 -Secretaria de Assistência Social .........................................................................95 3.5.5 - Secretaria de Saúde ..........................................................................................95 3.6 - INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA DA CIDADE DO RECIFE (IASC ) E AS INTERVENÇÕES RELATIVAS À SEGURANÇA ALIMENTAR ...............96 3.6.1- Breve histórico, missão, e realidade institucional ..........................................96 3.7-GERÊNCIA. DE. NUTRIÇÃO. E. CONTROLE. ALIMENTAR. E. AÇÕES. DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO DA SEGURANÇA ALIMENTAR- IASC ...................99.

(14) 13. 3.7.1- “Programa” do Leite do IASC ................................................................99 3.7.2- O Projeto Cozinha Comunitária Gurupé- IASC .................................102 3.7.2.1 - O perfil sócio-econômico dos usuários do Projeto Cozinha Comunitária Gurupé (IASC) referente ao ano de 2008 .............................106 3.7.3 - O Programa Sopa Comunitária- IASC ................................................110 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................116 REFERÊNCIAS...............................................................................................................................121 ANEXOS..........................................................................................................................................136.

(15) 14. INTRODUÇÃO. A elaboração dessa dissertação de mestrado, faz parte das exigências para a obtenção do Título de Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Para tanto foi de extrema relevância o acúmulo teórico construído durante o Curso de Mestrado em tela, uma vez que, proporcionou à pesquisadora uma aproximação crítica frente ao objeto de estudo investigado, no qual foram de suma importância: num primeiro momento, desse Curso, a aproximação e aprofundamento das contradições da sociedade capitalista atual, através da apreensão do método materialista- histórico- dialético de Karl Marx, dentre tantas outras reflexões; num segundo momento, destaca-se o movimento de construção teórico-crítico junto à orientadora, Profª. Dra. Alexandra Mustafá, que possibilitou um aprofundamento da sistematização de todo o processo investigativo. A construção desse trabalho obedeceu à dinâmica da metodologia dialética de aproximações sucessivas da realidade, a partir do resgate sob um olhar crítico da vivência do real concreto na experiência profissional da assistente social e mestranda Iara Raquel do Carmo Nunes Guerra nas intervenções relativas às demandas de segurança alimentar colocadas frente aos seguintes “programas” do Instituto de Assistência Social e Cidadania da Cidade do Recife- IASC: Projeto Cozinha Comunitária Gurupé, Programa Sopa Comunitária e Programa do Leite Tal experiência de trabalho associada às reflexões do Curso de Mestrado suscitaram indagações e questionamentos sobre a fragilidade da implementação das políticas estatais de assistência social frente às demandas de segurança alimentar na Cidade do Recife/PE. Na tentativa de responder tais indagações foi realizada uma pesquisa que contemplou tanto aspectos qualitativos como quantitativos, no âmbito de uma investigação de caráter bibliográfico, documental, e de pesquisa de campo através da observação participante, de entrevistas coletivas com Gerência e Equipe Técnica (Nutrição e Serviço Social) responsáveis pela execução dos “programas” de segurança alimentar do IASC, e questionário específico para ser respondido pelas assistentes socais desses “programas”. Destaca-se a contribuição no processo de construção deste trabalho das observações e sugestões da Banca no momento de qualificação do Projeto de Pesquisa. Vale ressaltar que os “programas” aqui analisados têm como foco central as ações desenvolvidas no âmbito da Prefeitura da Cidade do Recife-PCR, através do IASC, que, por sua vez, está vinculado à Secretaria de Assistência Social-SAS. No entanto, para uma compreensão da complexidade das ações que envolvem as intervenções no contexto das medidas para atendimento.

(16) 15 das demandas de Segurança Alimentar, foram também contempladas algumas ações e “programas” executados por outras secretarias da PCR tais como a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento e pelo Governo do Estado de Pernambuco vinculados à Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária- SARA. O objetivo geral da presente dissertação foi analisar a fragilidade da implementação das políticas estatais de Assistência Social frente às demandas de segurança alimentar na Cidade do Recife/PE. Tendo como referência o exposto, não deixamos de observar e analisar as fragilidades das inter-relações existentes elaboradas por outras políticas estatais como formas de enfrentamento a essas demandas. Para fins didáticos, essa dissertação foi organizada em três capítulos que englobam uma compreensão da totalidade da problemática nas suas dimensões teórico e prática. No primeiro capítulo, está apresentada historicamente como a problemática da fome foi tratada pelos diferentes modos de produção e reprodução da sociedade, e a sua peculiaridade no modo de produção capitalista. Para tanto, põem-se para a discussão e reflexão várias categorias que explicam as particularidades, relações, mediações e determinações desse modo de produção frente à fome, que agora já se constitui como uma das principais sequelas da questão social, uma vez que, se insere como uma necessidade básica que, ao não ser respondida, ameaça a sobrevivência de um grande contingente da população mundial. No segundo capítulo, apresenta-se a história das intervenções estatais brasileiras frente às demandas de segurança alimentar, mapeando e analisando além disso, o marco legal, estatístico e político que perpassa a questão da insegurança alimentar e da fome no Brasil, com ênfase na atual política de Segurança Alimentar Brasileira: o Programa Fome Zero. No terceiro capítulo, apresenta-se o quadro atual da insegurança alimentar no Brasil, tendo como referência os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNAD(2004) do IBGE, sobre Segurança Alimentar. Nesse capítulo, principalmente, fazemos referência como estão sendo concretizadas as respostas às demandas de segurança alimentar na Cidade do Recife. Para tanto, além de situar, refletir e questionar as fragilidades da proposta da política de Assistência Social frente às demandas de segurança alimentar, com ênfase nas ações e programas executados pelo IASC, acrescenta-se à nossa elaboração a análise de outros programas de segurança alimentar estatais que estão inseridos no “Sistema de Segurança Alimentar da Cidade do Recife”, no intuito de compreender melhor como estão sendo articuladas e/ou desarticuladas as ações e programas de segurança alimentar nessa cidade..

(17) 16. CAPÍTULO 1- A PARTICULARIDADE DA INSEGURANÇA ALIMENTAR NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA. 1.1 UM BREVE ACENO À CONFIGURAÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL. Para uma compreensão do atendimento/não atendimento da necessidade humana básica que é a fome, precisamos recorrer a discussão da centralidade do trabalho em Marx como atividade fundamental que caracteriza a vida em sociedade. De acordo com a interpretação de Netto e Braz (2006), a satisfação material das necessidades dos homens e mulheres que constituem a sociedade obtêm-se numa interação com a natureza: a sociedade através de seus membros, transforma matérias-primas em produtos que atendem às suas necessidades, por meio da atividade que denominamos trabalho. Diferentemente, das atividades que atendem a sobrevivência entre outras espécies animais que se realizam no marco de uma herança genética, numa relação imediata entre o animal e seu meio ambiente, biologicamente estabelecidas, é através do trabalho que o homem transforma a natureza para suprir as suas necessidades, num processo em que ao modificá-la ele modifica a si mesmo. Segundo Marx. [...] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza.[...] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera[...] o processo de trabalho[...] é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas.(MARX,1983:149-153). Saciar a fome faz parte da necessidade básica de todas as espécies animais, no entanto, na espécie humana não podemos apenas identificá-la como uma necessidade biológica, uma vez que, a resposta a essa necessidade é formulada por várias mediações que se articulam de diferentes formas em diferentes sociedades e modos de produção. O modo pelo qual os homens organizam o processo de trabalho na sociedade em que vivem pode colocar em contradição a maneira que utilizam para saciar suas necessidades biológicas e sociais. A partir de relações de produção e sociais específicas, valores de uso, ou seja, os que saciariam as necessidades básicas de todos os membros da sociedade podem ser desconsiderados.

(18) 17 em detrimento da lucratividade que valores de troca poderiam oferecer a uma pequena parcela da população que detém o poder político, econômico e social. Na pré-história humana, no período paleolítico, os seres humanos buscavam responder às suas necessidades básicas, principalmente, através do extrativismo e por meio de atividades como a caça e a pesca. Apesar da quase inexistência de instrumentos de trabalho, do não desenvolvimento de técnicas de cultivo do solo e da agricultura, havia uma divisão do trabalho por sexo, e diante da dificuldade de coleta e escassez de alimentos tentava-se dividir de forma igualitária os diminutos recursos, uma vez que, não havia classes sociais.. FIGURA 1 DIETA NO PALEOLÍTICO *Disponível em:http://sepiensa.org.mx/contenidos /historia_mundo/prehist/paleolitico/vida/img/vida_1.jpg.

(19) 18. FIGURA 2 CAÇA NA PRÉ-HISTÓRIA. *Disponível em: https://isqcdg.bay.livefilestore.com Com a Revolução Neolítica e desenvolvimento da agricultura foi possível a fixação do homem num determinado território. Era preciso armazenar o excedente agrícola para posteriores momentos de crise alimentar. Nesse sentido, a organização e defesa dos celeiros, que era uma das estratégias utilizadas para garantia do estoque de alimentos e de uma possível “garantia alimentar”, fez parte do processo que deu origem à propriedade privada, uma vez que, o excedente agrícola já não era dividido igualmente pela coletividade, esse excedente passou a ser apropriado por uma única clã ou família.. FIGURA 3 REVOLUÇÃO NEOLÍTICA *Disponível em: http://historia7.files.wordpress.com/2008/10/neolitico.jpg.

(20) 19. O homem, ao criar o excedente agrícola, por um lado, avança na perspectiva de consolidar meios que propiciem uma maior facilidade diante das contingências alimentares dos proprietários desses estoques de alimento, em detrimento das comunidades, clãs ou famílias que não o possuía. Por outro lado, de um ponto de vista político e ético, o homem regride pois, ao se apropriar de algo produzido coletivamente, não o distribui de forma igualitária como acontecia antes na época do extrativismo.. FIGURA 4 CELEIROS *Disponível em:http://www.cao.pt/image/js_29_2.jpg. Diante do exposto podemos observar que as estratégias utilizadas pelos homens para a garantia da segurança alimentar antes da origem da propriedade privada, eram nitidamente marcadas por ações coletivistas, no entanto, com o surgimento da propriedade privada, observa-se que a tentativa de garantia da segurança alimentar era limitada a uma minoria de homens e mulheres detentora dos meios de produção existentes e dos resultados do trabalho alheio. Tendo como marco a história humana, a partir do surgimento da propriedade privada, podemos identificar que a questão da fome é tão antiga quanto a existência humana, assim como as desigualdades sociais são tão antigas quanto a existência de uma sociedade pautada na propriedade privada1 e divisão em classes sociais distintas.2 No entanto, com o sistema capitalista, tanto a questão da fome, quanto a questão das desigualdades sociais configuraram-se sob novas 1. Para aprofundamento desta questão cfr.(ROUSSEAU, A origem da desigualdade entre os homens,2007) e (ENGELS, A origem da família, da propriedade privada e do Estado,2007) 2 Uma análise sobre a divisão da sociedade em classes distintas e antagônicas pode ser encontrada no Manifesto do Partido Comunista, segundo MARX e ENGELS(2007): “Nas primeiras épocas da história encontramos por toda parte uma organização completa da sociedade em classes distintas, uma hierarquia variada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres de corporação, companheiros, servos e, ainda, em cada uma dessas classes, uma hierarquia particular.”( MARX, K; ENGELS, F, Manifesto do Partido Comunista, 2007, p.47).

(21) 20 perspectivas e condições.3 O Modo de Produção Escravista, característico da Antiguidade, e o Modo de Produção Feudal, característico da Idade Média, apesar de terem determinações históricas singulares apresentaram semelhanças quanto ao problema da fome. Nesses períodos anteriores à acumulação de capitais, a produção agrícola era prioritariamente voltada para a subsistência humana. Sendo assim, a origem da fome estava diretamente vinculada à escassez de alimentos4 e à falta de técnicas e instrumentos que possibilitassem ao homem aumentar e qualificar a produção agrícola. Era comum haver uma epidemia generalizada de falta de alimentos e, todos, em última instância, até as classes sociais mais abastadas vivenciavam as consequências. Mesmo assim, é notório que os mais pobres as vivenciavam com toda a sua intensidade. Com o advento do Modo de Produção Capitalista, as relações sociais tomam um caráter mais abstrato, impessoal e desumanizado. A produção capitalista5 não é voltada para a subsistência: esse sistema produz para vender, para o mercado. A relação entre capitalista e trabalhador apresenta-se como uma troca mercantil, onde o primeiro compra e o segundo vende a sua força de trabalho.6 No entanto, não podemos pensar que a produção capitalista se reduz meramente à compra e venda de mercadorias, nem muito menos pensar que essa relação é estabelecida de forma linear, pelo contrário o que move este modo de produção e reprodução da vida material são as mais variadas contradições que lhes são inerentes. Segundo Marx, A produção capitalista não é apenas produção de mercadorias, ela é essencialmente a produção de mais-valia. O trabalhador não produz para si, mas para o capital. Por isso, não é suficiente que ele apenas produza. Ele tem de produzir mais-valia. Só é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista servindo para assim à auto-expansão do 3. “A sociedade burguesa moderna, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Nada mais fez que substituir as antigas por novas classes, por novas condições de opressão por novas formas de luta”. (MARX, K; ENGELS, F, Manifesto do Partido Comunista, 2007.p. 48) 4 “Por volta dos fins do século XIII a produtividade agrícola já dava claros sinais de declínio, prenunciando uma possível falta de alimentos, devido ao esgotamento dos solos, enquanto a população continuava apresentando tendências de crescimento. A exploração predatória e extensiva dos domínios, que caracterizara a agricultura feudal, fazia com que o aumento da produção se desse, em sua maior parte, com a anexação de novas áreas (que não estava mais ocorrendo) e não com a melhoria das técnicas de cultivo. No inicio do século XIV, a Europa foi assolada por intensas chuvas (1315 a 1317) que arrasaram os campos e as colheitas. Como consequência, a fome voltou a perturbar os camponeses, favorecendo o alastramento de epidemias e trazendo a mortalidade da população. "Nos campos ingleses, ele passou de 40 mortos por cada mil habitantes, para 100 por mil. Na cidade belga de Ypres, uma das mais importantes da Europa, pelo menos 10% da população morreu no curto espaço de seis meses em 1316".” Crise do Século XIV. [ consult. 2009-06-06] Disponível na www: < URL: http://www.brasilescola.com/historiag/crise-seculo-xiv.htm> 5. “O capitalismo é a produção de mercadorias no grau superior do seu desenvolvimento, quando até a força de trabalho se transforma em mercadoria. O desenvolvimento da troca, tanto no interior como, em especial, no campo internacional, é um traço distintivo e característico do capitalismo”(LÊNIN,V.I.O imperialismo, etapa superior do capitalismo, s/d).Obra acessada no site http://www.primeiralinha.org/textosmarxistas/imperialismogz1.htm, em janeiro de 2009. 6 “Na mesma medida em que a burguesia cresce, isto é, o capital, também se desenvolve o proletariado, a classe dos operários modernos , os quais só vivem enquanto encontrar trabalho e só encontram trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital. Esses operários, obrigados a se vender dia por dia, são uma mercadoria , um artigo de comércio como qualquer outro; e por conseguinte, estão expostos a toda flutuação do mercado”.(MARX, K; ENGELS, F, Manifesto do Partido Comunista, 2007. p.54).

(22) 21 capital.(MARX, 2008:578). Essa relação entre capitalista e trabalhador é marcada pela alienação da classe trabalhadora em relação ao fruto do seu trabalho, sendo descrita por Marx como uma relação injusta, uma vez que,. A relação de troca entre capitalista e trabalhador não passa de uma simples aparência que faz parte do processo de acumulação, mera forma, alheia ao verdadeiro conteúdo, e que apenas o mistifica. A forma é a contínua compra e venda da força de trabalho. O conteúdo é o capitalista trocar sempre por quantidade maior de trabalho vivo uma parte do trabalho alheio já materializado, do qual se apropria ininterruptamente, sem dar contrapartida de um equivalente[...]do lado capitalista a propriedade revela-se o direito de apropriar-se do trabalho alheio não-pago ou do seu produto e, do lado do trabalhador, a impossibilidade de apropriar-se do produto do seu trabalho.(MARX, 2008:683). Nesse sentido, Marx critica o trabalho assalariado, uma vez que, essa relação de assalariamento sustenta uma noção de liberdade pautada na ilusão e mistificação do real. Observe:. Na escravatura, a parte da jornada de trabalho em que o escravo apenas compensa o valor de seus próprios meios de subsistência, trabalhando na realidade para si mesmo, aparece como trabalho destinado a seu dono. Todo o seu trabalho tem a aparência de trabalho nãopago. No trabalho assalariado, ao contrário, o mesmo trabalho excedente ou nãoremunerado parece pago. No primeiro caso, a relação de propriedade oculta o trabalho do escravo para si mesmo; no segundo, a relação monetária dissimula o trabalho gratuito do assalariado[...]Nessa forma aparente, que se torna invisível a verdadeira relação e ostenta o oposto dela, repousam todas as noções jurídicas do assalariado e do capitalista, todas as mistificações do modo capitalista de produção, todas as ilusões de liberdade[...]. ( MARX, 2008:620). Essas relações se consolidaram desde a acumulação primitiva de capital, através da violência e barbárie, caracterizadas pela expropriação em massa do homem do campo, genocídio dos índios, guerras cristãs, e se estabelecem até os dias atuais através das determinações históricas que acompanham o imperialismo monopolista, a financeirização dos capitais, a corrida armamentista, o comércio de armas, o tráfico de entorpecentes, o agronegócio, a subordinação dos países pobres aos países ricos, dentre tantas outras. Vivemos hoje uma realidade, metaforicamente bem representada por Jean Ziegler e Yves Frémion (PERRAULT(org) 2005:499/515), onde “banqueiros suíços matam sem metralhadoras” e “um anúncio vale mil bombas”. Segundo Lênin, na sua obra O imperialismo, etapa superior do capitalismo, para que seja assegurado o império monopolista, a rede de exportação de capitais dos países mais ricos, impõe dependência e subordinação dos países devedores aos “rentiers”7. Essa subordinação consolida-se 7. Teodora Cardoso define bem o conceito de “rentiers” no seu texto publicado em abril de 2003, na página da web(www.econ.pucrio.br/gfranco/A_economia_das_rendas.pdf) ,intitulado A economia das “rendas”. Segundo Teodora, “O traço que caracteriza um país “rentier”, ou seja, aquele que vive de recursos externos ou da exploração de um recurso natural poderoso (e subtraído às forças do mercado)como o petróleo. Não me parece que exista um termo em português que designe aquele que vive de rendas, definidas estas não como a remuneração normal da propriedade,.

(23) 22 não apenas no nível político, mas sobretudo, econômico, num contexto em que, se observa a corrida e necessidade de uma nova partilha do mundo, ou melhor, a corrida por um novo tipo de colonização por dívidas. Eis um quadro ilustrativo desta realidade cruel, segundo Philippe Paraire8 :. Depois de ter representado a comédia da ajuda financeira e técnica, a estratégia(dos grandes organismos internacionais) orientava-se em seguida para o endividamento, entre 1968 e 1982, ano da “grande crise da dívida” que se seguiu à moratória do México, primeiro devedor naquela época. Entre 1968 e 1971 McNamara (chefe do Banco Mundial) multiplicou por seis os empréstimos e empreendimentos. A moda era uma abordagem “quantitativa” da ajuda ao desenvolvimento dos países pobres. Em 1971, o fim da convertibilidade do dólar decretada pelo presidente Nixon transformou o FMI em reciclador de dinheiro flutuante. A esmola, uma vez emprestada ao mundo pobre, reencontrava o valor como por milagre: transformava-se numa dívida a pagar[...] (PERRAULT(Org), 2005 :467). A política colonial típica do Imperialismo Monopolista, diferentemente da política colonial dos séc XV e XVI característica da colonização das Américas, tem como objetivo, segundo Lênin, a transferência de territórios já “colonizados” para outro território, e não a transferência de um território “sem proprietário” para um “dono”. Na política colonial do capital financeiro, a posse das colônias é a única coisa que garante de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as contingências da luta contra o adversário, mesmo quando este procura defender-se mediante uma lei que implante o monopólio do Estado. Quanto mais desenvolvido está o capitalismo, quanto mais sensível se toma a insuficiência de matérias-primas, quanto mais dura é a concorrência e a procura de fontes de matérias-primas em todo o mundo, tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de “colônias”.9 Uma das características centrais dessa fase imperialista estudada por Lênin é, segundo ele, precisamente, a tendência para a anexação não só das regiões agrárias, mas também, das mais industriais, pois, em primeiro lugar , estando já concluída a divisão do globo, isso obriga, para fazer uma nova partilha, a estender a mão sobre todo o tipo de territórios; em segundo lugar, faz parte da própria essência do imperialismo a rivalidade de várias grandes potências nas suas aspirações à hegemonia, isto é, apoderarem-se de territórios não tanto diretamente para si, como para enfraquecer o adversário e destruir a sua hegemonia.. mas como um rendimento sistematicamente superior ao que, em condições normais de mercado,recompensaria o trabalho ou o capital investido. Não se trata aqui de especulação – um termo muito vilipendiado entre nós – porque a obtenção de uma renda não envolve risco, mas sim a capacidade de exercer influência sobre a legislação, a regulação da economia, ou os órgãos do poder, por forma a obter esses rendimentos.” 8 Philippe Paraire I é o autor de L'environnement expliqué aux enfants, Hachette-Jeunesse, 1990, col. “Réponses aux petits curieux”. O fragmento de texto dele, citado neste trabalho, pode ser encontrado no artigo “Os mortos-vivos da globalização”.In: PERRAULT, G.(Org). O livro Negro do Capitalismo. 4ªed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p.467. 9 Para aprofundamento cfr. (LÊNIN, V.I. O Imperialismo, etapa superior do capitalismo, s/d)..

(24) 23 De acordo com Lênin, as “novas colônias” que estão sob o domínio do capital financeiro não se reduzem apenas a fornecer matérias-primas, associado a isso se transformam em locus de uma produção industrial regulada, ou seja, onde o desenvolvimento tardio do capitalismo industrial surge como um dos objetivos e estratégias das grandes potências em expandir e fortalecer todo o seu império em nível mundial. Esse caráter perverso do capitalismo financeiro é muito bem trabalhado, no artigo de Jean Ziegler:10 Que relação há entre o dinheiro sujo do crime organizado internacional e o capital ilícito que escapa do Terceiro Mundo? Ambos são lavados e reciclados pelos mesmos emires. São muitas vezes as mesmas organizações que reúnem estes capitais, os fazem atravessar os continentes e entrar na Suíça. Os mesmos analistas financeiros, geradores de fortunas, conselheiros da bolsa e agentes de câmbio reinvestem os capitais em fuga do Terceiro Mundo e o dinheiro da droga[...] .Os adolescentes drogados das ruas de Nova York, Milão e Londres agonizam por causa das obras dos senhores do crime que reciclam e lavam seus dinheiros na Suíça. Nas Filipinas, no Brasil e no Congo, crianças morrem aos milhares de subnutrição[...].Grandes fortunas locais, em vez de contribuírem para criar hospitais, escolas, empregos refugiam-se na Suíça; são recicladas e reinvestidas na especulação imobiliária em Paris, Roma, Tóquio ou alimentam as bolsas de Nova York, Londres e Zurique. (PERRAULT(Org), 2005:501).. Para que possamos compreender melhor essa dinâmica da produção e reprodução social/econômica/cultural/filosófica/política desse sistema que é hegemonicamente destrutivo, opressor e egocêntrico, onde a questão da fome se concretiza sob outra conjuntura e estrutura que consideramos cruel, é relevante a compreensão de algumas categorias que descrevem e explicam melhor como esse sistema é organizado. Marx (2008) reforça na citação a seguir uma análise bastante interessante que permite situar de forma mais ampla a questão da fome não apenas como resposta ou consequência da produção da vida material, mas como essa produção interfere diretamente na reprodução de uma lógica de relações específicas e políticas e vice-versa.. Qualquer que seja a forma social do processo de produção, tem este de ser contínuo ou percorrer, periódica e ininterruptamente, as mesmas fases. Uma sociedade não pode parar de consumir nem de produzir. Por isso todo processo social de produção, encarado em suas conexões constantes e no fluxo contínuo de sua renovação, é, ao mesmo tempo, processo de reprodução(...)As condições da produção são simultaneamente as da reprodução. Nenhuma sociedade pode produzir continuamente, isto é, reproduzir sem reconverter, de maneira constante, parte de seus produtos em meios de produção ou elementos da produção nova(...) Se a produção tem a forma capitalista, também a terá a reprodução. No modo capitalista de produção, o processo de trabalho é apenas um meio de criar valor; analogicamente, a reprodução é apenas um meio de reproduzir o valor antecipado como capital, isto é, como valor que se expande.(MARX, 2008:661). 10. Jeans Ziegler é deputado de Genebra e professor de sociologia na Universidade de Genebra, autor de A Suíça, o ouro e os mortos, entre outras obras. O fragmento de texto de Ziegler, citado neste trabalho, pode ser encontrado no artigo “Os banqueiros suíços matam sem metralhadoras”. In: PERRAULT, G.(Org). O livro Negro do Capitalismo. 4ªed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p.501..

(25) 24 Segundo, Netto e Braz (2006), a forma típica da reprodução no Modo de Produção Capitalista é a reprodução ampliada, no entanto, para que possamos compreender esse processo vale compará-lo com o que seria a “reprodução simples”.. a “reprodução simples” é quando os capitalistas gastam em consumo pessoal toda a maisvalia de que se apropriam. Nesse caso, o processo produtivo se faria sobre as mesmas bases, operando numa mesma escala, já a reprodução ampliada é quando os capitalistas gastam em consumo pessoal apenas uma parte da mais-valia, e a outra é reconvertida em capital, ampliando assim, a escala de produção de mercadorias. Conversão de mais-valia em capital, ou seja, aplicação de mais-valia como capital chama-se de acumulação capitalista(NETTO; BRAZ,2006:125). Tendo em vista que o movimento do capital é expansivo e que o capital é valor que busca valorizar-se, não existe acumulação de capital sem adição de mais-valia11 ao capital, ou seja, sem exploração. Dessa forma, a suposição de uma reprodução simples não passa de uma abstração teórica na dinâmica do capitalismo. Karl Marx, ao analisar historicamente como se dá a exploração da classe trabalhadora através da extração da mais-valia, explica que essa exploração se concretiza tanto através da maisvalia-absoluta quanto através da mais-valia relativa. Sendo assim, ele difere uma forma da outra:. A produção da mais-valia absoluta se realiza com o prolongamento da jornada de trabalho além do ponto em que o trabalhador produz apenas o equivalente ao valor de sua força de trabalho e com a apropriação pelo capital desse trabalho excedente. Ela constitui o fundamento do sistema capitalista e o ponto de partida da produção da mais-valia relativa. Esta pressupõe que a jornada de trabalho já esteja dividida em duas partes:trabalho necessário e trabalho excedente. Para prolongar o trabalho excedente encurta-se o trabalho necessário com métodos que permitem produzir-se em menos tempo o equivalente ao salário. A produção da mais-valia absoluta gira exclusivamente em torno da duração da jornada de trabalho; a produção da mais-valia relativa revoluciona totalmente os processos técnicos de trabalho e as combinações sociais. A produção da mais-valia relativa pressupõe, portanto, um modo de produção especificamente capitalista, que, com seus métodos, meios e condições, surge e se desenvolve, de início, na base da subordinação formal do trabalho ao capital. No curso do desenvolvimento, essa subordinação formal é substituída pela sujeição real do trabalho ao capital.(MARX, 2008:578-579). Com o aumento da acumulação, aumenta-se a composição orgânica do capital12 e, consequentemente, diminui-se a dinâmica de força-de-trabalho. Nesse sentido, parte do proletariado aparece como sobrante face às necessidades da acumulação. De acordo com Netto e Braz (2006:133) “[..]essa superpopulação relativa, portanto, não resulta da ação individual de um ou outro capitalista, mas deriva da dinâmica mesma da reprodução 11. Para melhor compreensão da categoria mais-valia cfr (NETTO;BRAZ, Economia Política: uma introdução crítica, 2006) e (MARX, K. O Capital. Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983, t.I, v.1; 1984, t.I, v.2;1984, t.II, t.III, vs 2-3) 12 “A relação entre capital constante e capital variável denomina-se composição orgânica do capital. Essa relação varia conforme os diversos ramos industriais, assinalando o maior ou menor grau de mecanização/automatização das empresas, e varia também historicamente, segundo a crescente aplicação dos avanços científico-tecnológicos à produção. Diz-se que é alta a composição orgânica do capital quando é maior a proporção do capital constante e baixa quando é maior a do capital variável.”(NETTO;BRAZ, Economia Política: uma introdução crítica, 2006, p.102).

(26) 25 ampliada(acumulação); reprodução ampliada é, pois, reprodução do exército industrial de reserva”. Com o aumento da acumulação capitalista aumenta-se também o desemprego, uma vez que, na lógica da acumulação de capitais o que prevalece é o aumento do capital constante em detrimento do capital variável.. O aumento da produtividade se patenteia, portanto, no decréscimo da quantidade de trabalho em relação à massa dos meios de produção que põem em movimento, ou na diminuição do fator subjetivo do processo de trabalho em relação aos seus fatores objetivos(...). Essa mudança na composição técnica do capital, o aumento da massa nos meios de produção, comparada com a massa da força de trabalho que os vivifica, reflete-se na composição do valor do capital, com o aumento da parte constante à custa de sua parte variável. Se, por exemplo, originalmente se despende 50% em meios de produção e 50% em força de trabalho, mais tarde a percentagem poderá ser de 80%para os meios de produção e de 20% para a força de trabalho, e assim por diante. (MARX, 2008: 726). A função primária do exército industrial de reserva13 é pressionar os salários para baixo, mas não se resume apenas a essa função, uma vez que, oferece, pois, ao capital um volume de força-de-trabalho que pode ser mobilizada a qualquer momento. Diante desse contexto, a pauperização14, também, é consequência da acumulação capitalista, pode ser absoluta (degradação geral das condições de vida da classe trabalhadora) e relativa( descompasso na apropriação da riqueza social, mesmo quando as condições de vida melhoram). Vale destacar que, mesmo quando há o aumento na produção de bens e existe os altos lucros, e uma parcela da classe trabalhadora acessa de forma parcial esses bens, mesmo assim, permanece a exploração, pois quanto mais se constrói coletivamente, mais bens deveriam ser apropriados de maneira proporcional, não de maneira desigual como acontece na dinâmica do capitalismo. Para Marx o pauperismo :. [...] o mais profundo sedimento da superpopulação relativa vegeta no inferno da indigência, do pauperismo. Pondo-se de lado os vagabundos, os criminosos, as prostitutas, o rebotalho do proletariado, em suma, essa camada social consiste em três categorias. Primeiro, os 13. “A acumulação de capital também impacta fortemente a classe operária. No seu desenvolvimento, acompanhado pela concentração e pela centralização, a principal consequência para os trabalhadores é a constituição do que Engels, inspirado nos cartistas ingleses, designou como exército industrial de reserva- ou seja, um grande contingente de trabalhadores desempregados, que não encontra compradores para a sua força de trabalho[...] Os capitalistas valem-se da existência desse contingente de desempregados para pressionar para baixo os salários;aliás, os próprios capitalistas dispõem de meios para forçar o desemprego(entre outros, o aumento da jornada de trabalho e o emprego de crianças). Mas o exército industrial de reserva não resulta de uma intenção consciente da classe capitalista, embora esta se sirva dele estrategicamente para seus objetivos- tal exército é um componente necessário e constitutivo da dinâmica histórico-concreta do capitalismo[...]Ao estudar a composição do exército industrial de reserva Marx observou que a superpopulação relativa adquire formas variadas[...] Na base desse contingente, e descontado o lumpemproletariado( a parcela degradada do proletariado: vagabundos, criminosos, prostitutas, rufiões), estão os que vegetam na miséria e no pauperismo, trabalhadores aptos mas que há muito não conseguem emprego, órfãos, filhos de indigentes, mutilados, viúvas, enfermos etc[...]” (NETTO;BRAZ, Economia Política: uma introdução crítica, 2006, p.132 e p.134) 1 4 “A acumulação capitalista não impacta o proletariado tão-somente com o desemprego. Os trabalhadores experimentam, no curso do desenvolvimento capitalista, processos de pauperização que decorrem necessariamente da essência exploradora da ordem do capital. A pauperização pode ser absoluta ou relativa. A pauperização absoluta registra-se quando as condições de vida e trabalho dos proletários experimentam uma degradação geral: queda do salário real, aviltamento dos padrões de alimentação e moradia, intensificação do ritmo de trabalho, aumento do desemprego. A pauperização relativa é distinta: pode ocorrer mesmo quando as condições de vida dos trabalhadores melhoram, com padrões de alimentação e moradia mais elevados; ela se caracteriza pela redução da parte que lhes cabe do total dos valores criados, enquanto cresce a apropriação dos capitalistas.”(NETTO;BRAZ, Economia Política: uma introdução crítica, 2006,p.135).

(27) 26 aptos para o trabalho[...], segundo, os órfãos e filhos de indigentes[...] terceiro, os degradados, desmoralizados, incapazes de trabalhar[...] O pauperismo constitui o asilo dos inválidos do exército ativo dos trabalhadores e o peso morto do exército industrial de reserva. Sua produção e sua necessidade se compreendem na produção e na necessidade da superpopulação relativa, e ambos constituem condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza. O pauperismo faz parte das despesas extras que produção capitalista, mas o capital arranja sempre um meio de transferi-las para a classe trabalhadora e para a classe média inferior (MARX, 2008:748). Vale ressaltar também que, a produção capitalista não é apenas produção e reprodução de mercadorias e mais-valia, é em sua essência produção e reprodução de relações sociais específicas15. Netto e Braz(2006:136) verificaram que: “A reprodução capitalista só é viável se ela reproduzir as relações sociais que põem frente a frente capitalistas e proletários.” Permanece como fato e processo constitutivo que se origina da contradição entre a produção socializada e apropriação privada da riqueza social. Nesse sentido, a origem/raiz da questão social está nessa mesma contradição, que tem como base a lei geral da acumulação capitalista16. Segundo Marx:. Quanto maiores a riqueza social, o capital em função, a dimensão e energia de seu crescimento e, consequentemente, a magnitude absoluta do proletariado e da força produtiva de seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. [...] E, ainda quanto maiores essa camada de lázaros da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior, usando-se a terminologia oficial, o pauperismo. Esta é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista.(MARX, 2008:748). Uma vez que, a questão social17 é intrínseca a este modo de produzir e reproduzir a vida material e as relações sociais específicas, podemos observar que as suas determinações são singularizadas e particularizadas, apesar de ter um caráter universal estrutural. Sendo assim, sem a supressão da ordem do capital não é possível falar da supressão da questão social. Retomando o que já foi dito anteriormente sobre a lógica da produção capitalista e a sua relação intrínseca com nosso objeto de estudo, gostaria de ressaltar que a produção, a distribuição e 15. “As relações técnicas de produção dependem das características técnicas do processo de trabalho( o grau de especialização do trabalho, as tecnologias empregadas etc) e dizem respeito ao controle e domínio que os produtores diretos têm sobre os meios de trabalho e sobre o processo de trabalho em que estão envolvidos. Mas elas se subordinam às relações sociais de produção, que as especificam historicamente e que são determinadas pelo regime de propriedade dos meios de produção fundamentais. Se a propriedade dos meios de produção fundamentais é coletiva (como na comunidade primitiva), tais relações são de cooperação e ajuda mútua, porque os produtos do trabalho são desfrutados coletivamente e nenhum membro do grupo humano se apropria do fruto do trabalho alheio; se tal propriedade é privada, particular( de um membro do grupo, de um conjunto de membros), as relações decorrentes são de antagonismo, posto que os proprietários dos meios de produção fundamentais apropriam-se dos frutos do trabalho dos produtores diretos, ou seja, estes são explorados por aqueles(...)”.(NETTO;BRAZ, Economia Política: uma introdução crítica, 2006, p.59 e p.60) 16 “À medida que se acumula capital, a situação do trabalhador, qualquer que seja o seu pagamento, alto ou baixo, tem de piorar(...) (A acumulação) ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação do capital. A acumulação de riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo oposto(...)”.(MARX, 1984, I, 2:210) 17 “O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social”, diferentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da “questão social”; esta não é uma sequela adjetiva e transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica específica do capital tornado potência social dominante. A “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo. Não se suprime a primeira conservando-se o segundo.”( NETTO, J.P, Cinco notas a propósito da “questão social”. In:ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Temporalis, 2004, p.45).

(28) 27 o consumo dentro do capital fazem parte de uma totalidade em que não se pode desconsiderar a complexidade das medições envolvidas. De acordo com Marx,. O resultado que chegamos não é que a produção, a distribuição, o intercâmbio, o consumo são idênticos, mas que todos eles são elementos de uma totalidade, diferenças dentro de uma unidade. A produção se expande tanto a si mesma[...] como se alastra aos demais momentos[...] Uma forma determinada de produção determina, pois, formas determinadas de consumo, da distribuição, da troca, assim como relações determinadas desses diferentes fatores entre si. A produção, sem dúvida, [...] é também determinada por outros momentos[...]Uma reciprocidade de ação ocorre entre os diferentes momentos.(MARX, K, apud, NETTO;BRAZ, 2006:65). Nesse sentido, a necessidade de produção de produtos direcionados para um determinado tipo de consumo e a extração em série de outros tipos de matérias-primas, no intuito de gerar capitais, foi mediada pela expropriação e dizimação de enormes quantitativos de camponeses e indígenas em todo mundo.. 1.2- A INSEGURANÇA ALIMENTAR E SUAS DETERMINAÇÕES NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA. Desde o domínio Colonial da América e da África, enormes contingentes de terras passaram a ser utilizados com um certo propósito: acumulação de capitais. Sendo assim, pode-se observar que desde o processo de acumulação primária do capital não havia garantia alguma de dignidade para a classe trabalhadora, pelo contrário, esse processo foi consolidado pela usurpação e barbárie onde as condições de vida dos que dependiam do trabalho se degradaram ainda mais. Consequentemente, a questão da garantia do direito à alimentação, assim como a garantia de tantos outros direitos nem se cogitava. O escritor Eduardo Galeano em seu célebre livro As veias Abertas da América Latina traz uma citação de K. MARX que retrata muito bem como se deu esse processo de acumulação de capital,. O descobrimento das jazidas de ouro e prata da América, a cruzada de extermínio, escravização e sepultamento nas minas da população aborígine, o começo da conquista e o saqueio das Índias Orientais, a conversão do continente africano em local de caça de escravos negros: são todos os feitos que assinalam os alvores da era da produção capitalista. Esses processos idílicos representam outros tantos fatores fundamentais no movimento da acumulação original”(MARX, K. apud GALEANO, 2005:46).

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