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Os usos da Análise de Conteúdo na produção científica da Educação Física brasileira

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Academic year: 2021

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Os usos da Análise de Conteúdo na produção científica da Educação Física

brasileira

Oromar Augusto dos Santos Nascimento1, Dennia Pasquali e Cabral2,Fernando Resende Cavalcante3, Moisés Sipriano Rezende4 e Ari Lazzarotti Filho5

1 Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Brasil. oromar.augusto@gmail.com; 2 Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Brasil. denniapasquali@gmail.com 3 Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Brasil. fernandorcavalcante@hotmail.com

4 Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, Brasil. msxufg@gmail.com 5 Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, Brasil. Faculdade de Educação Física da

Universidade de Brasília, Brasil. arilazzarotti@gmail.com

Resumo. Esta pesquisa teve como objetivo analisar o uso da técnica de Análise de Conteúdo (AC) nas

produções científicas veiculadas em periódicos da Educação Física (EF) brasileira. Recorreu-se a uma pesquisa exploratório-descritiva, que teve como corpus de análise 222 artigos publicados em periódicos da Educação Física brasileira no período de 2007 a 2017. Os principais resultados indicam crescimento no uso da técnica, Laurence Bardin como principal referência e poucos índices de explanação metodológica da Análise de Conteúdo nostrabalhos. Conclui-se que a Análise de Conteúdo ganhou espaço no campo da Educação Física, é apresentada de forma breve e incorporando o apoio de softwares na análise, mas ainda com pouca representatividade.

Palavras-chave: Análise de Conteúdo; Educação Física; Metodologia; Campo Científico.

The uses of Content Analysis in the scientific productions of brazilian Phsycal Education

Abstract. This paper had the objective to analyse the use of Content Analysis tchecniuqe in the scientific

productions published in brazilian Physical Education journals. It was used an exploratory-descriptive research, which had as corpus of analysis 222 articles published in brazilian Physical Education from 2007 to 2017. The main results indicates growth in the Content Analysis use, Laurance Bardin as the main reference and few methodological explanation of Content Analysis in the works. It is concluded that Content Analysis has gained space in the field of Physical Education, is presented briefly and incorporating the support of software in the analysis, but still with little representation.

Keywords: Content Analysis; Physical Education; Methodology; Scientific field

1 Introdução

Com a consolidação das pesquisas sócio culturais e pedagógicas no campo da Educação Física - EF brasileira há um investimento investigativo dos agentes desse campo com pesquisas sobre as pesquisas. Esse tipo de investigação é considerado por Bourdieu (2004) como os usos sociais da ciência, que consiste em colocar a ciência a serviço da própria ciência, a ciência da ciência para o seu próprio desenvolvimento. Destacamos estudos de teorias e autores como em Bungenstab (2018), Lazzarotti Filho, Silva, & Mascarenhas (2014) e Medeiros & Godoy (2007). O uso de metodologias de pesquisa como em Benites, Nascimento, Milistetd, & Farias (2016), Souza Júnior, Melo, & Santiago( 2010).

Nesse aspecto, nos interessa compreender como a Análise de Conteúdo (AC) tem sido utilizada na EF brasileira como uma das técnicas metodológicas para análise de dados qualitativos. Esse tipo de

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pesquisa tem sido empregada em diferentes áreas do conhecimento, como nos trabalhos de Alves (2011) na contabilidade, Castro, Abs, & Sarriera (2011) na Psicologia, Ramos & Salvi (2009) na matemática e Silva et al. (2013) na administração. No campo da EF não foi encontrado nenhum trabalho publicado até o momento com esse tema, o que justifica essa pesquisa.

A AC se desenvolveu nos Estados Unidos no princípio do século XX onde o rigor científico invocado era a medida e o material analisado era essencialmente o jornalístico (Bardin, 2010). Posteriormente

com o advento da 1a e 2a Guerra mundial, o interesse voltou-se ao estudo da propaganda (Campos,

2004).

O cientista político Harold Dwight Lasswell é considerado um dos principais nomes da AC. Lasswell acabou contribuindo, mesmo que indiretamente, não apenas para o início da constituição do campo da comunicação e de pesquisas em mass comunication, como afirma Varão (2010) mas também, a partir da segunda metade do século XX, com às pesquisas de cunho social em diferentes campos científicos.

O desenvolvimento da AC pode ser identificado numa fase quantitativa positivista e uma onde os estudos qualitativos começam a buscar seu espaço. Na primeira, na década de 40, destaca-se Berelson que apresentava uma definição fortemente baseada no modelo cartesiano de pesquisa:

“análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa que visa uma descrição do conteúdo manifesto de comunicação de maneira objetiva, sistemática e quantitativa” (Campos, 2004). Para Bardin (2010, pg. 21) “[...] a preocupação desse período em trabalhar com amostras reunidas de maneira sistemática, a interrogar sobre a validade do procedimento e dos resultados, a verificação a fidelidade dos codificadores e até a medir a produtividade da análise”.

Numa perspectiva ampliada e qualitativa o destaque está para Laurence Bardin, Professora da Paris V França, que no final da década de 1970 publicou o Livro Análise de Conteúdo o qual chega ao Brasil e torna-se a principal referência sobre essa técnica. Bardin (2010), configura a AC como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os dois polos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absorve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não aparente, o potencial de inédito (de não dito), retido por qualquer mensagem. (Bardin, 2010, pg. 11).

Os tipos de AC são apresentados por Bardin (2010) como análise categorial, análise de avaliação, análise de enunciação, análise proposicional do discurso, análise da expressão e análise das relações. A mesma autora afirma que a análise categorial é a mais antiga e na prática é a mais utilizada.

“Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamento analógicos”. (pg. 199)

A sua operacionalização na forma de etapas é descrita por diferentes autores com nomenclaturas diferenciadas e concordamos com Moraes (1999) que a divide em cinco etapas: 1 - Preparação das informações; - 2 - Unitarização ou transformação do conteúdo em unidades; 3 - Categorização ou classificação das unidades em categorias; 4 - Descrição; 5 - Interpretação.

Novos pesquisadores ao longo dos tempos vêm discutindo a técnica de AC, incorporando elementos e avançando no seu desenvolvimento. Amado, Costa, & Crusoé (2017) compreendem essa técnica como um processo flexível e adaptável que permite representação rigorosa e objetiva dos conteúdos das mensagens através de processos lógicos como codificação e categorização. Salienta-se que para os mais recentes autores, tal como para Amado (2017), os usos das tecnologias são apontados como essenciais para o auxílio e rigor metodológico da análise de dados. Softwares específicos como

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NVIVO e WEBQDA foram desenvolvidos para o apoio nas pesquisas qualitativas e em especial o WEBQDA incorpora como base a própria técnica de AC (Neri de Souza, Costa, & Moreira, 2010). Nesse sentido, esta pesquisa teve como problema a seguinte questão: Como se dá o uso da técnica de AC nas produções científicas veiculadas em periódicos da Educação Física brasileira?

Definiu-se como objetivo analisar o uso da técnica de AC nas produções científicas veiculadas em periódicos da Educação Física brasileira, no que tange ao quantitativo de veiculação nos periódicos, as principais referências da AC mobilizadas, os modus mais recorrentes de utilização, os principais temas/objetos investigados e a incorporação de tecnologias como suporte.

2 Metodologia

Realizou-se uma pesquisa exploratório-descritiva, que tem o intuito de estudar as características de um fenômeno e as relações entre variáveis que o compõe, na intenção de estabelecer uma visão geral do tema. Estas pesquisas são utilizadas quando o objeto ainda é pouco explorado em determinada área, dificultando o processo de elaboração de hipóteses acerca do mesmo (Gil, 2008). O material empírico de análise foi composto por artigos científicos veiculados em periódicos da EF brasileira, no período de 2007 a 2017, que utilizaram a técnica de AC em suas respectivas pesquisas. Realizou-se a seleção dos periódicos a partir dos seguintes critérios de inclusão:

a) Periódicos avaliados pelo Qualis Capes 2013-2016, com classificação A1 até B3, na área de avaliação “Educação Física”1; b) Periódicos da EF Brasileira, com periodicidade em dia, com foco de escopo e publicação de artigos que dialoguem com as ciências humanas e sociais.

Ao final deste processo, selecionou-se os periódicos constantes no Quadro 01:

Quadro 01 - Periódicos da EF brasileira. Fonte: Dados da Pesquisa

Revistas selecionadas Classificação no Qualis Periódicos 2013-2016

Revista Movimento A2

Revista Motriz B1

Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) B1 Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE) B1

Revista da Educação Física UEM B1

Revista Pensar a Prática B2

Revista Motrivivência B2

Revista Brasileira de Ciência e Movimento B2

Licere B2

A busca por artigos foi realizada nos sites destes periódicos citados2, por meio dos seguintes procedimentos:

1) Palavras-chave da busca: “análise de conteúdo”, inserida entre aspas no mecanismo de busca avançada, delimitando o período de 2007 a 2017. Para periódicos que publicam trabalhos em língua inglesa, utilizamos o termo “content analysis”.

1 Procedimento realizado em setembro de 2017. Realizou-se também a contabilização de todos os artigos publicados nestes periódicos no período de 2007 a 2017, com a finalidade de comparar o quantitativo de artigos recuperados pela busca com a totalidade de artigos publicados no período.

2 Exceto a RBCE, que possui dois sites (http://www.rbceonline.org.br/ e http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE) com mecanismos de busca diferentes e incompatíveis. Para esta revista, realizamos as buscas em sua página no Scielo, (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0101-3289&lng=en&nrm=iso), preenchendo os campos de busca com os termos “ANÁLISE” and “DE” and “CONTEÚDO”.

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2) Seleção dos artigos: ainda nos sites das revistas, os artigos que apareceram com resultados da busca com as palavras chaves tiveram os títulos, resumos e metodologias lidos. Os artigos selecionados foram inseridos na pasta de trabalho do Microsoft Excel.

3) Nesta pasta, coletaram-se informações relativas ao ano, autoria, indicação, referencial sobre AC e uso de tecnologia na análise de dados. Cada artigo encontrado foi cadastrado em uma linha da “planilha geral”, recebendo um código único, utilizado para sua identificação.

Ao final deste processo, contabilizou-se 232 artigos. Estes passaram por nova análise, realizada por quatro pesquisadores, que divididos em duplas, realizaram as leituras e análises dos artigos a fim de estruturar e definir o corpus de análise

Ao final deste processo, excluíram-se 10 artigos segundo dois critérios:

1 - Três artigos não realizaram pesquisa empírica utilizando a AC como técnica de análise, dois desses tiveram a AC como tema/objeto de estudo e um usou a AC na validação de questionário.

2 - Sete artigos indicaram o uso da AC no resumo, por isso foram selecionados para o estudo, porém não ofereceu outros indicadores no corpo do texto, sendo assim excluídos.

Finalmente, o corpus de análise deste estudo contou com 222 artigos. Para a identificação do quantitativo de artigos que usaram a AC em relação ao total de artigos veiculados no período do estudo, realizou-se a contabilização de todos os artigos de pesquisa publicados nos periódicos do quadro 01, 2007 a 2017, com a finalidade de comparar o quantitativo de artigos recuperados pela busca com a totalidade de artigos publicados no período, 5786. A contabilização das referências de AC mobilizadas foram identificadas ao se comparar as entradas de citação no corpo do texto com seção de referências dos artigos, que foram contadas e inseridas em planilha específica. Em seguida foram agrupadas segundo o autor e obra.

Em relação aos modos mais recorrentes de utilização de AC, os artigos foram novamente analisados por quatro pesquisadores, divididos em duas duplas, a fim de se parametrizar a análise e extrair dos artigos as informações referentes aos modos de uso da AC e temas/objetos de pesquisa de cada artigo. Inseriu-se estas informações em nova planilha, e ao final deste processo as duplas compararam suas análises, e em casos de discordância o pesquisador coordenador da pesquisa realizou o desempate.

Para a composição dos temas, em duplas, realizou-se a leitura dos títulos e resumos dos artigos (unidades de contexto) identificando-se palavras ou frases (unidades de registro) que retratassem o significado evocado pelo texto. Em seguida, definiram-se temas (ou categorias) capazes da abarcar textos com significados semelhantes, embora se procurasse respeitar as características próprias de cada artigo. Ao final deste processo as duplas compararam suas análises, e em casos de discordância o pesquisador coordenador da pesquisa realizou o desempate. Em seguida agrupou-se os artigos segundo a temática, no intuito de construir uma organização geral sobre os temas mais recorrentes nos artigos recuperados. E por último, em outra planilha identificou-se todos os softwares de apoio a AC, organizando-os segundo o nome do software e ano de publicação do trabalho.

3 Resultados

No período delimitado para este estudo, que compreende do ano de 2007 até o ano de 2017, recuperou-se 222 artigos, nos nove periódicos da EF brasileira. É possível afirmar que nesse campo, a técnica de AC vem crescendo ao longo dos anos, em 2007 com 5 artigos representava 1,5% da produção total dos periódicos analisados e em 2017 com 33 artigos passou para 5%. Destaca-se que teve poucas oscilações no crescimento do uso da AC, uma vez que somente em 2010 (14) houve

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decréscimo, porém, pode ser explicado pelo maior crescimento de 2009 (17) em relação a 2008 (07), conforme exposto na distribuição dos dados do Gráfico 01.

Gráfico 01 - Distribuição anual de artigos que utilizaram a análise de conteúdo na análise de dados. Fonte: dados da

pesquisa

Dos 222 artigos extraídos, 208 (93,7%) indicaram alguma referência com base científica metodológica da AC, contabilizando 246 referências. Na Tabela 01 é possível identificar os cinco autores mais citados para o embasamento teórico da técnica.

Tabela 01. Autores mais recorrentes nas referências sobre Análise de Conteúdo. Fonte: Dados da pesquisa Autor(a) Frequência Percentual

Laurence Bardin 165 67,1%

Maria Cecília de Sousa Minayo 12 4,9% Roberto Jary Richardson 10 4,1% Maria Laura Puglisi Barbosa Franco 8 3,3% Augusto Nibaldo Triviños 7 2,8%

Outros 40 16,3%

Das 246 referências sobre a técnica de AC, a parte significativa, 165 (67,1%), utilizaram diferentes edições do livro de Laurence Bardin, intitulado Análise de conteúdo. A segunda autora mais utilizada foi Maria Cecília de Sousa Minayo com 12 (4,9%) utilizações. Sua obra citada pelos trabalhos foi sobre metodologia como um todo. O mesmo acontece com a terceira e o quarto autores mais usados, Maria Laura Puglisi Barbosa Franco e Augusto Nibaldo Trivinõs, respectivamente. Já a obra de Roberto Jary Richardson que trata especificamente da técnica de AC foi utilizada em 6 diferentes artigos ao longo dos 10 anos pesquisados.

Identificou-se cinco modos de uso da AC nos artigos analisados. Para cada modo de uso foi verificada a ausência ou presença dos indicadores, conforme exposto na Tabela 02.

323 378 466 473 524 541 605 602 581 636 657 5 7 17 14 15 20 25 27 29 30 33 1,5% 1,9% 3,6% 3,0% 2,9% 3,7% 4,1% 4,5% 5,0% 4,7% 5,0% 0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% 0 100 200 300 400 500 600 700 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Quantidade de artigos publicados no período Quantidade de artigos que usaram AC

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Tabela 02. Modos de uso da Análise de Conteúdo. Fonte: Dados da pesquisa

Modo de Uso Critério Indicador Frequência

Finalidade O artigo anuncia a AC somente para fins de marcação de uso de técnica de análise de dados

Presença 48 21,6% Ausência 174 78,4%

Conceito O artigo anuncia algum conceito de AC no decorrer do texto. Presença 61 27,5% Ausência 161 72,5%

Tipos O artigo anuncia qual técnica de AC foi empregada. Presença 56 25,2% Ausência 166 74,8%

Fases O artigo expõe as fases de tratamento dos dados com a AC. Presença 94 42,3% Ausência 128 57,7%

Inferências O artigo oferece detalhes do processo de uso da AC na organização e análise dos dados, possibilitando que o leitor visualize elementos analíticos como as inferências.

Presença 47 21,2% Ausência 175 78,8%

Percebeu-se que 21,6% (48) dos artigos usaram a AC somente para fins de justificação de técnica de análise de dados, ou seja, não se encontrou ao longo do texto nenhum elemento que pudesse associar os resultados com a técnica de análise, o que demonstra certa fragilidade metodológica dos trabalhos, uma vez que não permite a construção de uma caminho claro da relação entre os dados apresentados e a interpretação do(s) autor(es) do trabalho. Este dado se assemelha ao encontrado por Ramos & Salvi (2009) em artigos da psicologia, em que 33% dos trabalhos indicavam relações entre lógica e técnica na análise dos dados e resultados obtidos.

Nos outros 174 (78,4%) artigos, percebeu-se que houve maior aprofundamento na exposição da AC, ainda que apenas 47 (21,2%) demonstraram com maior densidade analítica no uso da técnica, apresentando elementos como unidades de registro, contexto, categorias e inferências. O modo de uso mais comum é o uso das fases da pesquisa, 94 (42,3%) conforme apresenta Bardin (2010). Ao longo dos 10 anos percebeu-se que houve aumento do número de artigos que usavam a AC como Finalidade, processo inverso se comparado o comportamento do modo de uso Inferências, conforme exposto no Gráfico 02. Pode-se interpretar este dado como um dos possíveis efeitos das mudanças ocorridas nas normas dos periódicos, na medida em que reduzem/limitam o tamanho dos artigos, implicando na necessidade de redimensionar os textos, uma vez que os resultados alinhados a revisão teórica costumam ocupar a maior parte do texto, o que exige excluir da metodologia os elementos mais descritivos do processo de análise dos dados.

Gráfico 02. Comparação entre o comportamento dos modos de uso Finalidade, Fases e Inferências no decorrer do período

2007-2017. Fonte: Dados da pesquisa 0 5 10 15 20 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

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Ao se observar os temas e objetos de estudo da Educação Física que foram tratados nos 222 artigos, computaram-se 35 temas/objetos, distribuídos em várias áreas de interesse do campo. Organizou-se estes temas/objetos em 12 grupos, de acordo com sua similaridade e proximidade temática, evidenciando ainda assim a pluralidade da área e suas diversas relações com outros campos. Na Tabela 03 pode-se visualizar que não houve maioria absoluta, apesar da predominância do Esporte como tema/objeto de estudo, com 53 (23,87%) artigos correspondentes.

Tabela 03. Temas e objetos tratados nos artigos. Fonte: dados da pesquisa. Tema/objeto Frequência Percentual

Esporte 53 23,87%

Formação Superior em Educação Física 32 14,41% Campo acadêmico da Educação Física 21 9,46%

Educação Física Escolar 19 8,56%

Intervenção profissional 17 7,66%

Lazer 16 7,21%

Práticas corporais 16 7,21%

Políticas públicas de Esporte e Lazer 15 6,76%

Atividade física e Saúde 13 5,86%

Corpo 11 4,95%

Outros 5 2,25%

Lutas 4 1,80%

Dos 222 artigos, 36 (16,2%) utilizaram algum software de apoio para a AC, destacando-se o Nvivo com 21 usos. Observando-se o gráfico 03, percebe-se que há instabilidade na utilização, uma vez que nos primeiros anos do recorte temporal do estudo, os anos de 2007 e 2008, havia pouca utilização destas tecnologias no apoio da AC. Somente no ano de 2012 os números começam a crescer, atingindo seu pico em 2014 (09), ano com maior número de artigos (9) que utilizaram o apoio de

softwares. Porém há em 2015 (03) e 2016 (02) nova queda, seguido de crescimento no ano de 2017

(8). Estes valores não acompanharam o aumento gradual do uso da AC nos artigos, conforme exposto no gráfico 01 e podem evidenciar uma relação de pouca apropriação das novas tecnologias que surgem para apoiar as análises de dados qualitativos nas pesquisas.

Gráfico 03. Evolução anual do uso de Softwares no apoio a Análise de Conteúdo. Fonte: Dados da pesquisa

1 0 2 2 2 4 4 9 3 2 8 0 2 4 6 8 10 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

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5 Conclusões

Percebeu-se que no período analisado o uso da AC cresceu, acompanhando o aumento geral da produção do campo, porém em maior proporção. Este dado demonstra que existe a apropriação de metodologias de pesquisa qualitativa no campo. Laurence Bardin foi a principal autora de referência da AC nestes artigos. O uso de softwares de apoio a AC vem sendo incorporado, mas com pouca incidência nos trabalhos analisados.

A exposição metodológica da AC vem se sumarizando com o passar dos anos, visto que o modo de uso Finalidade teve crescimento, e usos mais detalhados incluindo unidades de registro, contexto e inferências foram diminuindo nos anos finais do recorte temporal.

Ressalta-se que este trabalho teve como limite analisar aspectos pontuais relacionados ao diagnóstico do uso da AC no campo, reforçando a necessidade de novas imersões nos dados que estabeleçam relações entre os modos de uso e sua concordância com o referencial sobre AC adotado, que se mostra como possibilidade de estudos vindouros.

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