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A diplomacia portuguesa e as colónias italianas em 1947-1948

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A DIPLOWGILA PORTUGUESA

MACIEL SANTOS Centro de Estudos Africanos da Univ. do Porto jrilaciel@letras.up.pt

Ao começar a I1 Guerra, a Itália era uma potência colonial recen- te mas importante. Os territórios italianos incluíam: na Africa Oriental, a Eritreia, parte das regiões soinalis e a Etiópia; na África do norte, a Tripolitânia e a Cirenaica (a Líbia italiana); no Mediterrâneo europeu, Rodes, as ilhas do Dodecaneso e a , . . Albânia, a primeira presa de guerra anexada pelo regime fascista.

T ~ i d o somado e111 África, o governo italiano administrava cerca de 3,5 milhões de km2 e entre 12 a 14 milliões de habitantes1.

A Itália apenas conservou os seus territórios até 1941: entre Mar- ço e Maio desse ano, as forças aliadas (maioritariamente britânicas) ocupara111 a Eritreia, os territórios da Somália italiana e restauraram o Negus no trono da Etiópia. Na Líbia a guerra durou mais tempo graças 2 acção do Afrilta Korps, e os aliados só triunfariam em Maio

de 1943. )

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Esta sucessão de derrotas militares levara a que o tratado de Pa- ris, assinado a 10/2/1947 entre a Itália e os Aliados, obrigasse a Itália à perda de todos os seus territórios africanos2 (e naturalmente dos europeus fora da Península).

A excepção da Etiópia, o tratado de Paris não definia soluções políticas para os territórios africanos. Várias hipóteses se colocavam,

358 desde a sua redistribuição pelos aliados até a uma administração

internacional sob a égide da ONU. O tratado previa que a questão colonial italiana fosse resolvida no intervalo de um ano após a sua entrada em vigor. O governo italiano tentou encontrar fórmulas polí- ticas que lhe permitissem participar, ainda que em graus e modalida- des diversas, na adn~inistração desses territórios. Entre 1947 e 1949, a diplomacia de Roma diversificou os apoios externos para esse fim. Entretanto, conlo se sabe, era a própria situação interna italiana que permanecia indefinida. As forças políticas não se tinham ainda re- configurado depois da queda do fascismo e os partidos dominantes até 1922, os liberais e os socialistas, eram agora minoritários face ao avanço da Democracia Cristã e do Partido Con~unista Italiano. Até às eleições de Abril de 1948, e nlesmo depois, as potências vencedoras

- EUA e Grã-Bretanha de um lado, URSS do outro - não tinham certezas sobre c01110 se iria estabilizar a vida politica italiana.

O relatório anual de Eduardo Machado, o 1." secretário da Le- gação de Portugal em Roma, foi redigido precisamente em Abril de 1948, dias antes dessas eleições. Dizia respeito ao ano imediatamente anterior e destinava-se a informar acerca de um ponto particularmen- te sensível ao governo de Lisboa: a evolução de um império colonial

- o italiano - em vias de expropriação.

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A diplonzacia po~itt~guesa e as colú~zias italianas em 194-2948

Como se sabe, Portugal tinha orientado ein grande parte a sua estratégia nas duas guerras mundiais em função d o seu império co- lonial. Apesar de ein 1947 as potencias coloniais vencedoras - a Grã-Bretanha e a França - estarem ainda longe de iniciar qualquer processo de descolonização em África e de a correlação de forças internacional lhes ser favorável (nem a URSS nem os EUA conside-

ravam prioritária e os moviinentos afro-asiáticos, salvo na Índia e na 359

-

Indochina, estavam no seu inicio), o governo de Lisboa conhecia a fragilidade da sua posição. As particnlaridades da sua neutralidade durante a guerra e o receio de servir de moeda de troca num novo equilíbrio mundial faziam com que a evolução das colónias italianas fosse observada com particular atenção.

1. O eixo britânico da politica colonial italiana

O aparecimento d o império colonial italiano está indissociavel- mente ligado a uma aliança tácita com a Inglaterra. Tanto n o Medi- terrâneo como na Africa Oriental, os avanços italianos resultaram de acordos e mesmo, em alguns casos, de estímulos britânicos.

No primeiro dos territórios ocupados pelo governo de Roma - a Eritreia, anexada em 1885 -, eram conliecidas provas diplomáticas nesse sentido3.

E. Machado citava o representante italiano no Cairo, inforinando sobre a ga- rantia dada em Outubro de 1884 pelo Presidente do Conselho egípcio, Nubar Pachá, de que "a Inglaterra nào via inconveniente ein que a Itália se instalasse nas costas do Mar Verinelho, pois nào deseja que qualquer outra Potência tomasse conta destes territórios." Citava igualmente a correspondência d o Conde Nigra, embaixador em Londres, que incluía a oferta do Foreigv Ofpce: "O Governo inglês náo pretende ocupar o porto de Massaua no Mar Vermelho. Não quer, porém deká-lo em iwãos de bárbaros ou na posse de uin estado rival. A Itália estaria disposta a ocupá-lo?" AHD-MNE, Relatório n.* 23: 2-3.

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No caso dos territórios somalis que viriam a constituir a Somália italiana, o primeiro passo tinha sido dado pelo tratado de 1888 entre o Cônsul italiano e a British East Africa Sociely (a BEAC, uma "char- ter-ed compnny"). Até 1905, o próprio governo de Roma não adminis- trou directamente esses territórios, igualmente cedidos a companhias rnajestáticas. Entre 1905 e 1921, a Itália e a Grã-Bretanha combateram 360 conjuntamente a revolta d o Mullal-i, que conduziu uma guerrilha con-

-

tra ambas as administrações coloniais. E em 1925, a título de compen- sação da I Guerra, a Grã-Bretanha cedeu à Itália os territórios n o Juba Britânico, anteriormente da BEAC.

O mesmo se verificou com a Líbia, a inaior e a mais recente das colónias italianas até à segunda campanl-ia da Etiópia. A ocupação militar dos territórios líbios fez-se apenas ein 1911, mas Roma já tinha o acordo inglês desde 1887. Fora, como se sabe, a resistência diplo- mática francesa e russa a entravar o processo.

O apoio inglês aos avanços italianos foi invariaveltnente instru- mental: uma forma de evitar ou atrasar os avanços das potências con- sideradas como ameaças à Índia e respectivas vias de acesso. Até i2 I Guerra, o que o Foreign Ofjce via como ameaças eram os interesses alemães na Africa Oriental (e daí a obsessão britânica pelas fontes d o Nilo e pelo Mar Vermelho) e uin eventual desequilíbrio de forças no Mediterrâneo (através das pretensões francesas, ou pior ainda, russas).

A política giolitiana de beneficiar d o intermitente guarda-chuva britânico foi adoptada pelo fascisn-io até 1935. Com a conquista da Etiópia seguida d o seu alinhamento com Berlin-i, a politica colonial italiana entrou pela primeira vez

-

e seria a última - em colisão com Londres.

No entanto, quando esta reviravolta aconteceu, já a politica bri- tânica estava determinada por outros eixos. Na segunda metade da década de 1930, seria menos a protecção da Índia (em vias de des-

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A dzplonzacia portuguesa e as colólzias italianas ern 1947-194s

colonização) e mais a da área petrolífera d o Médio Oriente que cons- tituiria o objectivo vital da Grã-Bretanha na África Oriental. E nem o governo d e Londres nem a Bipitisb Petroleum poderiam admitir que urna potência inimiga, instalada na Eritreia e na Soinália, dominasse a rota de saída d o petróleo da região, para não falar d o seu domínio num desses jazigos emergentes (na Cirenaica).

"A Inglaterra não ignora que todas as antigas colónias italianas 361

-

são econornicainente pobres, mas sabe que todas são estrategica- mente importantes", como escreveu E. Machado4.

Neste quadro, as derrotas militares dos anos 1941-42 trouxeram uma situação particularmente desfavorável As pretensões italianas d o pós-guerra: os seus territórios tinham sido ocupados pela potência cuja política colonial aparentemente mais colidia com qualquer revi- são d o tratado de Paris.

Essa dificuldade foi evidente em Novembro de 1947 quando o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, o Conde Sforza, se des- locou a Londres. Ao êxito que obteve na questão da restituição dos navios apresados contrapôs-se a total irredutibilidade britânica n o que respeita a um mandato administrativo italiano sobre as antigas colónias de África5. Em Fevereiro de 1948, o Fol-eipz Ofice declarava não permitir jamais a devolução da Cirenaica A Itália. No Inesino sen- tido, e até contra o estabelecido no Tratado de Paz de Paris (n.O 2, d o art. 23), a administração italiana foi reinovida de todos os escalões na Cirenaica e na Somália.

"HD-MNE, Relatório n." 23: 21.

j ".. . procurou o Conde Sforza obter a restituiçáo das colónias italianas, mas a sua rnissão, neste capítulo, falhou por completo". Relatório n." 23: 14.

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2. Argumentos italianos

Depois do insucesso "africano" de Sforza, o governo italiano re- tomou as iniciativas diploináticas. O objectivo não era, obviamente, o de recuperar as colónias enquanto tais, mas o de conseguir o estatuto de potência administrativa sob a égide da ONU (então designado por trusteehszp) .

362

Os argumentos italianos postos em destaque por E. Machado eram os coincidentes com a perspectiva colonial do Estado Novo:

- O facto de a administração europeia ter tido um efeito fun- dador relativamente 2s novas entidades políticas, nomeadamente na ~ r i t r e i a ~ . Tratava-se de um argumento comum a todas as potências coloniais - o Estado Novo diria um pouco depois: "Moçambique só

é Moçanlbique porque é Portugal";

-

Os perigos da engenharia política. O 11zerno~-andu17~ enviado em Janeiro de 1948 ao Consell-io dos Substitutos, ein Londres re- batia

o

pedido da Etiópia para anexação da Soinália, declarando-o sem "base histórica". Contrariava igualmerite a constituição de uma "grande Soinália", que resultaria da junção dos territórios ingleses e italianos, igualmente sem precedentes anteriores7. Naturalmente que a rejeição de novas configurações políticas a partir de territórios co- loniais encontraria acolhimento favorável ein Lisboa.

- O balanço "civilizacional", marcado sobretudo pela acção migratória e pelo papel que esta teria no próprio desenvolvimento

"Ein 60 anos de administração a Itália conseguiu dar àquêle território extrema- mente complexo sob o ponto de vista étnico, uma unidade política e econóinica e uina consciência unitária, perinitiildo o seu desenvolvimento." A H D - M N E , Relatório n." 23: 14.

Salvo na própria propaganda italiana de antes da G~ierra, quando o governo de Rorna pretendia justificar as suas reivindicações sobre o Ogaden e igualmente na sua prática administrativa, que unificou territórios muçulmanos e cristãos rebeldes. DORESSE, 1970: 117.

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A d@loinacia poi-tuguesa e as coló?zias italianas em 194 7-1948

italiano8. Segundo o recenseamento de 1939, havia cerca de 72 mil colonos italianos na Eritreia, 15.000 na Sornália e 120.000 na Líbia. Eram números da mesma ordem de grandeza da emigração portu- guesa para os territórios africanos e escusado será afirmar o que as missões "civilizacionais" tinham de familiar para

o

Ministério do U1- tramar português;

- As garantias dadas pelo governo italiano no quadro da guer- 363 -

ra-fria9. Tratava-se de argumentos utilizados por Lisboa na mesma altura e que culminariam com a entrada de Portugal na NATO em

1954.

3. Possibilidades italianas

"E da parte da Inglaterra que a Itália sente existir maior reluctan- cia na devolução das suas colónia^"'^.

Para E. Machado, atribuíam-se em Roma as seguintes intenções 2 Inglaterra:

- Na Cirenaica, manter bases militares (Tobruk) e instituir um governo senussita-britanicol';

" A interdependência da Europa ocidental e da África é particularmente evi- dente no caso das nossas antigas colónias. Estes territórios não podein certamente pretender absolver toda a einigraçáo que actualmente tein de sair da Itália, mas, no entanto, representavain uin importante escoainento para o excesso da população da I'enínsula." AHD-MNE, Relatorio n." 23: 17.

"Existe, portanto, uina manifesta incoerência por parte da Inglaterra, pois se por um lado nos convida a aderir a um '43loco ocidental*, por outro lado ter11 inostra- do a clara intenção de nos afastar da África." AHD-MNE, Relatório n.' 23: 16-7.

'O AHD-MNE, Relatório n." 23: 18.

' l A confraria dos Senussis combateu os italianos desde a ocupação de 1911.

O seu emir, Mohamed Idriss, tinha-se colocado sob protecção inglesa durante a Guerra e, em 1951, tendo dado as suficientes garantias relativas a bases ~nilitares e concessóes petrolíferas a Londres, seria entronizado rei de uina Líbia independente.

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- Na Tripolitânia, criar um governo "autónomo" mas igualmen- te controlado pelo Foreign Ofice;

- Na Eritreia, administrar sob "trusteeship" britânico ou realizar urna anexação ao Sudão anglo-egípcio;

- Na Somália italiana, promover a integração com a Somália in- glesa e "possivelmente o Ogaden", região conquistada pelos etíopes 364 mas perdida durante a guerra.

-

Orientando-se esta estratégia britânica pelo objectivo de prote- ger as regiões petrolíferas do Golfo Pérsico e as rotas do Suez face aos soviéticos (o famoso "containn~ent'), naturalmente que a Itália encontraria um potencial aliado na..

.

URSS.

Neste ponto, o relatório do 1." secretário abandona o ponto d e vista aparentemente pró-italiano, que resultava sobretudo de cita- ções, e passa à interpretação propriamente dita.

Machado começa por denunciar os esforços italianos para "espa- lhar" que a Inglaterra teria a intenção de criar, ein volta de Tobnik, uma base estratégica de primeira ordem, "de onde poderia ameaçar facilmente Trieste, Budapest, Kiev e Odessa"l7.

Não seria com argumentos destes que a URSS se sensibilizaria nem certamente, como ainda insinua Machado, com a possibilidade de Moscovo vir a reivindicar os antigos territórios italianos. Mas pare- cia plausível a ideia - traumática para Londres e Washington - de

uma administração italiana de regresso aos territórios coloniais poder ter atitudes permissivas para com os interesses russos. Na opinião de Machado, teria sido mesmo por isso que a Grã-Bretanha tinha conseguido que fosse adoptado o princípio de nada decidir sobre as colónias italianas antes de a "Comissão de Inquérito" prevista pelo Tratado de Paz apresentar o seu relatório, o que nunca aconteceria

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A dQlonzaciaportuguesa e as coló~zias italianas ern 1947-3946

antes de.. . 18 de Abril.13 Como se sabe, este era o dia marcado para as primeiras eleições italianas, das quais poderia resultar um governo da Frente Democrática, isto é, d o P.C.I. e d o Partido Socialista. Sabe- -se também que esta perspectiva era então encarada com um tal ter- ror em Washington que a administração Truman, para a debelar, seria levada a autorizar a primeira operação da C.I.A. no exterior.14

A outra carta italiana era a França, nominalmente uma potência 36

-

vencedora em

1945

e coin colónias fronteiriças aos territórios italia- nos. Parecia inuito provável que a França desejasse manter a presen- ça italiana na região para retardar a descolonizagâo e conter o pan- -arabismo emergente, tanto na Tunísia como em Marrocos (em

1947

a Argélia ainda não constituía um problema para os franceses). Por ultiino, havia ainda a esperança de que a rivalidade anglo- -americana, secundária no essencial mas crescente no que respeita à tutela dos interesses petrolíferos, pudesse ter aqui algum efeito. A Itália, assim pensava uma parte da sua classe dirigente, poderia substituir a Inglaterra como auxiliar dos Estados Unidos nas suas tarefas de policiamento d o Mediterrâneo Oriental.'j Os factos pare-

l 3 "Se um dia a Itália vier a ser dorninada pelos comunistas, evidentemente

que esses territórios passarão a ser controlados pelos russos." AHD-MNE, Relatório n." 23: 21.

l 4 " I f Coinmunists win election there, our wliole position in Mediterranean, and possibly in Europe as well, would probably be underrnined" dizia o telegrama enviado às embaixadas americanas na Europa. O financiamento clandestino da Democracia Cristã e dos restantes opositores à Frente Democrática foi da ordem dos 2 a 3 milhões

de dólares. ISAACS; DOWNING, 2008: 64-68.

'j A diplonlacia portuguesa inostra corno este objectivo externo da Itilia se

manteria nos anos seguintes: "Não ocultarei a V. Exa que, para alem do incondicional apoio encontrado neste Pais pelas atitudes norte-americanas e do excessivo zelo corn que aqui se reage a cada afirrnação de nossos postulados essenciais para a defesa do Ocidente se ine afigura ver nestes coinentários o reflexo da notória ambição italiana de vir a exercer, sob a égide dos EU, um papel de destaque na politica do Médio Oriente. Este seria o verdadeiro significado da insistente arguinentaçâo mediante a qual se

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ciam confirmá-lo na medida ein que a posição americana a respeito das colónias italianas diferia consideravelmente da inglesa. Segundo a imprensa italiana (o Tempo e o Risorgimento Libel-ale), a proposta americana de restituição de Trieste 2 Itália (em Março de 1948) seria seguida pela devolução das colónias africanas ao governo de Roma. Ao apresentar as suas interpretações sobre as iniciativas diplo- 366

rnáticas e as possibilidades italianas antes de 18 de Abril, Machado adoptou uma posição abertamente anglófila. Muito provavelmente, o 1." secretário procurava antecipar a posição de Lisboa, então orien- tada para o alinhamento com a política externa anglo-americana. Ao colocar-se contra as pretensões de uma antiga metrópole, o relatório enviado também não corria o risco de se mostrar favorável a uma libertação de territórios. Tanto para Machado coino para Lisboa, o que estava em causa era apenas a transferência de administrações coloniais, não qualquer tipo de descolonização. Salvo a Etiópia, não se colocava a questão de descolonizar em sítio nenhum. Havia cer- tamente a possibilidade de a expropriação italiana poder servir de precedente a outras mas esse era precisamente o perigo que se podia evitar alinhando abertamente com os vencedores.

Perante estes cenários, compreendem-se melhor os argumentos históricos e geo-estratégicos carreados em seguida por Macl-iado para legitimar a atitude inglesa:

- A Itália esquecia-se do seu papel durante a guerra, em que contribuiu para paralisar o esforço aliado no Mediterrâneo e Médio

pretende aqui demonstrar a impopularidade britânica naquela região . .

.

a importância, para as nações ocidentais da zona que a Grâ Uretanha tem sob o seu controle, sem a poder preparar sobejamente para uina defesa e os perigos do antagonismo anglo- -americano que, desintegrando os esforços defensivos aí levados a efeito, obrigam a considerar comenecessária a saída da Inglaterra e, eventualmente, a sua substituição por uin governo que goze da absoluta confiança americana e árabe: da Itália". Legação de Portugal ein Roma, ofício de 3/3/1954. AHD-MNE, A. 1, Maço 477.

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A diplonzacia po7tugues~1 e as colckzias italianas em 1947-1948

Oriente, para alem de colaboração material n o bombardeio de cida- des inglesas - "é duro passar imediatamente uma esponja sobre o passado tão recente", comenta o aliadófilo

a achado'^;

- A Eritreia e a Somália, que a Itália agora reivindica, foram no passado bases usados para politicas expansionistas (sobre a Etió- pia);

- Um p o ~ l c o contra a lógica d o argumento anterior, Macha- 36'

-

do considerava que para a Inglaterra, a Itália fora militarmente nula durante a Guerra e por conseguinte, não representava grande valor como aliado preferencial ern f~ituras operações defensivas contra a URSS1';

- E por fim, as promessas (!) feitas pela Grã-Bretanha durante a guerra aos senussis líbios, adversários de uma administração colonial e argumento natural~nente pouco esperado da parte de um diplomata de Lisboa.

4.

Resultados finais

Para terininar, um balanço rápido aos resultados finais d o pro- cesso.

Curiosamente, Roina chegou a alcançar um acordo com a Ingla- terra favorável 2s pretensões italianas. Seria o projecto Bevin-Sforza, que previa uma administração tripartida: Itália na Tripolitânia, france- sa no Fezzan e inglesa na Cirenaica, com promessa de independência

l6 AIID-MNE, Relatório no 23: 21.

l7 "A segunda guerra mundial terminou li5 poucos anos e ainda está bem vinca-

da na memória de todos o triste espectáculo dado pelo exército italiano. Ora, se na época em que se julgou que Itália era uma grande potência inilitar ela só conseguiu acumular derrotas sobre derrotas.. . não é de prevêr que a Itália actual, onde reina a maior desorganização, represente ou venha a representar uma força inilitar com a qual a Inglaterra e os Estados Unidos possam vir a contar." AHD-MNE, Relatório n." 23: 21.

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ein 10 anos; tutela italiana na Somália; partilha da Eritreia entre a Etiópia e o Sudão anglo-egípcio, como antevira Machado. A Inglater- ra garantia os seus objectivos mínimos (controlo do petróleo líbio e das rotas de saída do Mar Vermelho, para além de poder economizar retirando parte das suas tropas). O plano foi adoptado pela comissão politica da ONU. Simplesinente, em Maio de 1949 já de l-iá muito o 368 PCI saíra do governo e deixara de ter perspectivas de lá voltar tão

-

cedo (as eleições de Abril de 1948 tinham dado apenas 35% 2 fren- te Democrática). Uma Itália alinhada por Washington (e pelo plano Marshall) levou naturalmente a que, na ONU, a URSS, os países de Leste e os estados árabes independentes votassem contra o plano Bevin-Sforza.

A Líbia tornou-se um satélite inglês sob a dinastia Idriss; a Eritreia foi entregue pela ONU à Etiópia, sob uma solução federal, tendo a passagem de poder sido feita pelos ingleses em Setembro de 1952.

E, finalmente, único triunfo teinporário, os territórios da Somália italiana mantiveram um trusteeshzp italiano durante dez anos. O fim da tutela coincidiu com o do mandato britânico e ein Julho de 1960 uniram-se na Republica da Soinália.

A oposição inglesa deixou marcas na política externa italiana dos anos 1950. Sem abandonar o atlantismo, Roma nunca deixou de se aproximar de Washington ein detrimento de Londres.l"ornando-se a Inglatei-ra praticamente uma potência inenor na região do Médio Oriente a partir de 1956, a escolha estava naturalmente justificada.

lS Patente ern nu~nerosas ocasiões até á crise do Suez: "Em todo o caso, os co-

mentários da imprensa italiana caracteriza~n-se, de uma forma geral, por um evidente mau hurnor contra a complexidade da política britânica no Mediterrâneo, onde con- tinuaria a ser um permanente elemento de desintegração e intriga, numa actividade hoje coinpletamente inadequada às suas possibilidades e coloca em perigo todo o esquema de defesa ocidental.. . (. . .)" Le~ação de Portugal ern Roma, 3/3/1954, AHD, A. 1, Mç 477.

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A diplon7acia por-tuguesa e as coló~zias italianas em 1947-1945

Para Portugal, a "questão das colónias italianas" não foi vista como uma antecipação da descolonização mas como um sinal de onde vinha o vento. E como o relatório de Machado não deixa dúvi- das, ele soprava então unicamente do Atlântico.

Fonte 369

-

Arquivo Histórico Diplomático - Ministério dos Negócios Estrangeiros (AHD-MNE), Relatórios e monogrufias n." 23 -A questão das colónias italianas - Relatófio anual do 1. O secretál-io da Legação de Portugal

em Rol~za, Eduardo Machado, relativo ao alzo de 1947.

Bibliografia

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1988, Expansion européenne et décolonisation de 1870 a nos jozb~s, Pa- ris,P.U.F., p.321.

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