J or nalismo digital e bases de dados: mapeando conceitos e
funcionalidades
Suzana Barbosa *
Universidade Federal da Bahia
Resumo
O ano de 2005 é um marco para o jornalismo digital. Momento para avaliações, correções de rota, verificação de tendências e potencialidades, bem como momento para a indicação de caminhos para essa nova modalidade de jornalismo. Neste paper, nosso objetivo é mapear conceitos que configuram um novostatus para o emprego das bases de dados (BDs), bem como esclarecer acerca das funcionalidades existentes. Para isso, trabalhamos com uma abordagem conceitual que articula teorias no campo das novas mídias, do jornalismo, com os estudos recentes de investigadores (Colle, 2002; Fidalgo, 2003, 2004; Machado, 2004a, 2004b; Barbosa, 2004a, 2004b; Quadros, 2004; Lima Júnior, 2004) empenhados em destacar as potencialidades do emprego das BDs no jornalismo digital. Tais pesquisas convergem no sentido de reconhecer nas BDs um formato para o jornalismo digital o que representaria o diferencial desta modalidade em relação às formas tradicionais de jornalismo.
Palavr aschaves:
Jornalismo digital – Terceira geração Bases de dados.
1. Introdução
A utilização das bases de dados para a estruturação e a organização das informações traz perspectivas de mudanças em relação aos modos de fazer jornalismo digital e estabelece um diferencial, sobretudo no contexto da que se considera a terceira geração 1 de evolução (Mielniczuk, 2003) para essa modalidade ou terceira onda (Pryor, * Doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas, com o projeto “O uso de bases de dados no jornalismo digital de terceira geração”, orientado pelo Prof.Dr:. Marcos Palacios. Membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online da FACOM/UFBA. Atualmente, cumpre estágio de doutoramento no Laboratório de Comunicação Online/LabCom da Universidade da Beira Interior (UBI), supervisionado pelo Prof.Dr:. António Fidalgo. Bolsista CAPES. Email: suzanab@ufba.br . 1 A primeira geração é caracterizada pela reprodução dos conteúdos, e, a segunda, mesmo com produtos ‘atrelados’ ao modelo do jornal impresso, apresenta experiências na tentativa de explorar os recursos oferecidos pela rede. Tal linha evolutiva não é excludente, ainda que demarque períodos distintos desde 1995 até o momento atual. Tampouco podese precisar o
2002). A caracterização desse estágio pressupõe base tecnológica ampliada, acesso expandido por meio de conexões banda larga, proliferação de plataformas móveis, redacção descentralizada e adoção de sistemas que permitam a participação do usuário 2 , produtos criados originalmente para veiculação no ciberespaço, conteúdos dinâmicos formatados em narrativas multimídia, experimentação de novos elementos conceituais para organização da informação, assim como de novos gêneros.
Como aspecto chave dessa terceira geração temse o emprego de bases de dados. São elas que, aliadas à tecnologia internet e ao desenvolvimento de linguagens dinâmicas como a XML 3 (eXtensible Markup Language), vão permitir a estruturação das informações de modo combinatório, apresentandoas de forma mais flexível e conforme os requerimentos do usuário ou dos vínculos ativados por ele na navegação. Ou seja, as páginas geradas passam a existir segundo as escolhas do usuário e, nelas, os elementos exibidos mudam constantemente. Assim, as bases de dados podem ser entendidas como o aspecto que torna o produto digital uma experiência mais autêntica e envolvente para o usuário.
2. Sobre os conceitos e as funcionalidades
Para entender a que se considera como nova noção de bases de dados aplicada ao jornalismo digital, já não bastam os conceitos de depósito integrado de dados, coleção de documentos ou de repositório de informações para consulta e recuperação.
operam segundo o modelo da transposição, por exemplo. De acordo com Pryor (2002), a terceira onda ou, para nós, terceira geração, iniciase em 2001, e o seu desenvolvimento está ainda em processo. 2 Alguns pesquisadores (Bowman & Willis, 2003; Gilmor, 2004; Salaverría, 2005; Alves, 2005) consideram que o jornalismo participativo conduzirá a uma nova etapa de desenvolvimento do jornalismo digital. 3 Uma das principais características desta linguagem é permitir desvincular a forma do conteúdo. Segundo Sousa (2002, p.07), a XML é uma (meta) linguagem de marcação de
documentos completamente€ independente das plataformas hardware esoftware que a utilizam, sendo um padrão aberto. A XML é a linguagem que torna possível, por exemplo, a troca de dados entre aplicações heterogêneas, fundamentalmente na internet, pois foi projetada para os requerimentos da WWW. Por isso, ela é apontada como novostandard para a representação e a permuta de dados na rede tendo sido proposta pelos pesquisadores do W3C – World Wide Web Consortium.
Buscando ampliar a compreensão sobre essa tecnologia da informação (Pereira, 1998) e seu emprego no jornalismo digital de terceira geração, recorremos ao conceito de bases de dados formulado por Lev Manovich (2001), que as vê como a forma estruturadora dos produtos da nova mídia (ou dos produtos digitais) na contemporaneidade, pois são um complexo de armazenagem de formas culturais que podem servir, inclusive, para criar novos gêneros e narrativas nas mais distintas áreas.
A correspondência entre tal conceito e sua aplicação no jornalismo digital foi pensada por Elias Machado (2004a, p.02) e o leva a afirmar que a tecnologia das bases de dados deu origem a um formato para esta modalidade – hipótese também defendida por nós (Barbosa, 2004a; 2004b). É em conformidade com o princípio da transcodificação (segundo o qual todos os objetos da nova mídia podem ser traduzidos para outros formatos) citado por Manovich (2001, p.1948), que Machado demonstra como as bases de dados são uma forma cultural com estatuto próprio no jornalismo digital. Para o pesquisador, as BDs desempenham três funções simultâneas e complementares: a) de formato para a estruturação da informação; b) de suporte para modelos de narrativa multimídia; e c) de memória dos conteúdos publicados, o que resulta num formato para esta modalidade.
E é essa primeira função – a de estruturação da informação – que destacamos, porém, sem perder de vista as outras duas, pois, em alguma medida, elas também são levadas em conta quando nos propomos a mapear conceitos e funcionalidades para melhor compreender o que chamamos de novo status para as bases de dados no jornalismo digital.
António Fidalgo (2003) foi um dos primeiros a analisar a especificidade conferida pelas bases de dados para a estruturação e a organização das informações, percebendo a flexibilidade para a forma de apresentação das notícias (e dos produtos, em última instância), assim como as vantagens fornecidas pelas BDs para assegurar objetividade às mesmas. Entre os conceitos introduzidos por Fidalgo está o de resolução semântica, que é melhor desenvolvido num trabalho posterior (2004). Como explica o autor, tal como uma imagem digital aumenta a sua qualidade com o aumento da resolução gráfica (o número de pixels por centímetro quadrado), também a pluralidade e a diversidade das notícias online sobre um evento aumenta a informação sobre o mesmo, aumentando, assim, a resolução semântica (Fidalgo, 2004, p. 02):
Uma primeira notícia sobre um acontecimento, que à partida surge com um determinado sentido, pode ser complementada, alterada, corrigida, à medida que outras notícias sobre o mesmo acontecimento se lhe seguem. O que, de início, tinha contornos indefinidos, deixando múltiplas hipóteses em aberto, vai ganhando sucessivamente formas cada vez mais definidas (…) À medida que forem chegando notícias subsequentes, a notícia do que ocorreu vai ganhando forma, ou seja, aumenta a sua resolução semântica (Fidalgo, 2004, p.03).
Por exemplo, uma informação ao ser publicada no canal de “últimas notícias” de um produto digital aparece, inicialmente, com uma baixa resolução. Contudo, a partir da apuração e da contextualização do acontecimento, a densidade semântica vai aumentando progressivamente. Se considerarmos a participação dos usuários, acrescentando comentários, complementos à informação, críticas e sugestões, bem como a inserção de áudios de entrevistas, imagens fixas e em movimento, e infográficos, teremos um aumento contínuo da resolução semântica, cuja meta a atingir seria o estado em que todas as informações sobre o evento estariam disponíveis.
Uma vez disponíveis em sua plenitude, as informações serão lidas e consultadas de modo simultâneo ou não, dado ao contexto policrônico ou multitemporal (Salaverría, 2005, p.23) que caracteriza o ciberespaço. Deste modo, a resolução semântica estaria assegurada também no arquivamento e recuperação dos conteúdos. E aqui, cabe salientar: a memória dos conteúdos publicados é outra das funções atribuída às bases de dados como um formato no jornalismo digital (Machado, 2004a), mas, além disso, representa uma ruptura (Palacios, 2002; 2004) em relação às formas anteriores por ser ao mesmo tempo múltipla, instantânea e cumulativa e não possuir limites de tempo e de espaço.
Retomando Fidalgo, este vai dizer que o conceito de resolução semântica só faz sentido se os elementos informativos sucessivos e progressivos seguirem uma ordenação. Isso ocorre no processo de classificação interna que, por sua vez, proporcionará mudanças também na classificação externa, ou seja, na forma como as notícias serão apresentadas. Outra ressalva feita referese à estruturação da própria notícia e, sobre este aspecto, ele diz: o contínuo da informação online não se adequa ao formato de pirâmide invertida.
Como afirma o pesquisador, a feitura de uma notícia online, mediante uma base de dados, apesar de responder às célebres perguntas de O Quê, Quem, Quando, Onde,
Porquê e Como pode fazêlo de um modo diferente (Fidalgo, 2004, p. 05). Qual seja: as notícias num produto digital são dadas de forma lacunar, deficiente, num primeiro momento, para, em seguida, serem complementadas, modificadas e até corrigidas. Por isso, a imediaticidade, muitas vezes, sobrepõese às exigências da objetividade e da verificabilidade.
Assim, a definição dos campos de classificação interna para as notícias (quanto à autoria, tipo de evento, grupo social, faixa etária, situação econômica, etc) ordenará o acréscimo e distribuição da informação, assim como a progressiva precisão para assegurar a resolução semântica. Esta será maior ou menor, mas, a tendência é aumentar no jornalismo assente em bases de dados, pois, nele, conforme atesta António Fidalgo, a resolução semântica aparece consubstanciada na própria notícia, na sua apresentação
online, pois que é apenas uma descrição dos acontecimentos que vai sendo
sucessivamente pormenorizada, complementada e corrigida (Fidalgo, 2004, p.7).
3. Construindo uma nova metáfora
Ao incorporar os conceitos propostos por Manovich (2001) e por Machado (2004a; 2004b), acreditamos estar trabalhando com uma idéia de ruptura tanto em relação ao próprio significado de bases de dados, ao uso que se fazia das BDs no jornalismo até então como ferramentas para melhorar a qualidade das reportagens, como às novas funcionalidades percebidas para a estruturação e apresentação das informações, para a construção de narrativas multimídia, para o arquivamento dos conteúdos publicados. Esse cenário nos conduz a pensar nas bases de dados como agentes com capacidade de produzir uma nova metáfora (Barbosa, 2004a) superando aquela do impresso, também conhecida como broadsheet metaphor (Eriksen & Ihlström, 2000) que permanece sendo a mais utilizada pelos diferentes tipos de sites noticiosos.
Por isso, compreendemos que resolução semântica é um outro conceito que se encaixa na concepção mais ampla de bases de dados como uma forma cultural para produtos digitais (Manovich, 2001), como formato e metáfora (Machado, 2004a; Machado, 2004b; Barbosa, 2004a) para o jornalismo digital, pois abarca desde as características da interatividade, hipertextualidade, atualização contínua, memória,
multimidialidade e personalização, assim como nos faz perceber as mudanças para a estruturação e organização das informações e as funcionalidades daí resultantes.
Para além disso, ele abrange uma outra noção que julgamos intrínseca ao emprego de bases de dados no jornalismo digital: a noção de metadados. Conforme definidos por Raymond Colle (2002, p.34), metadados são os dados sobre outros dados, ferramentas que guiam os usuários aos dados tanto para encontrar informação pontual como para extrair informação sobre o conjunto e que provêem um contexto que pode ser de grande importância para uma melhor interpretação das informações. Ou seja, as co relações entre as notícias inseridas numa base de dados, considerando a classificação por meio de diversos campos, bem como as possibilidades combinatórias entre elas permitirá produzir, extrair novas informações, novos dados, que vão gerar mais conhecimento, mais contexto, sobre os eventos. O gerenciamento do conhecimento nas redações, de modo geral, e das redações de produtos digitais, de modo particular, depende da incorporação de bases de dados (Quinn, 2002; Colle, 2002; Quadros, 2004; Machado, 2004c), assim como a oferta de conteúdos dinâmicos, mais contextualizados, também necessitará da adoção de BDs.
A estruturação da notícia conforme acima sugerido certamente conduzirá a uma narrativa jornalística mais multimídia (Machado, 2004b), envolvente. John Pavlik (2005, p.4849) prefere chamar de relato imersivo, o qual incorporaria animações tridimensionais, além de recursos de áudio, vídeo e o hipertexto, permitindo ao usuário “entrar” na notícia ou na reportagem.
4. Dupla via de r upturas e r emediações
Certamente, alguém há de questionar: como uma tecnologia que desde os anos 70 auxilia o trabalho jornalístico passa agora a obter o status de formato e de uma nova metáfora no jornalismo digital? Para responder a tal indagação, também fomos buscar um conceito do campo das novas mídias. Tratase de remediation ou remediação (Bolter & Grusin, 2000), palavrachave para a mídia digital, que implica o reconhecimento do meio anterior, da sua linguagem e da sua representação social. Significa dizer que todos os meios têm o seu sistema de produção afetado pela chamada nova mídia, que, por outro lado, também possibilita algumas rupturas.
Tal conceito se mostra apropriado para a nossa pesquisa, na medida em que nos permite perceber a ampliação do significado de bases de dados, sobretudo em função da internet e da linguagem digital que trazem melhorias e redefinem a lógica de criação dos produtos nas mais diversas áreas, especificamente no jornalismo digital. De acordo com os autores norteamericanos, as novas mídias remediam, melhoram seus predecessores (o jornal, a revista, o rádio, o telefone, a arte, os modos de publicar, a experiência social, o espaço urbano). A internet, por sua vez, remedia todos os meios, melhorandoos em muitos aspectos e acrescentando recursos novos, enquanto a web, especificamente, tem uma natureza remediadora, operando de modo híbrido e inclusivo (Bolter & Grusin, 2000, p. 198).
As bases de dados, mesmo não sendo um meio de comunicação, um espaço visual, social ou urbano, são remediadas, melhoradas, pelo fato de que a internet vai garantir novas técnicas e linguagens para a sua construção e aplicação (Sousa, 2002), de um lado, como sofrerão remediações, e possibilitarão algumas rupturas, ganhando novas funcionalidades de acordo com os usos e apropriações no jornalismo digital. Em um sentido, o emprego e a utilização de BDs no jornalismo digital opera remediações nos sistemas de produção, de obtenção da informação, no âmbito dos gêneros jornalísticos e da apresentação dos conteúdos, e, em outro, vai gerar inovações quanto aos modos de fazer jornalismo nas redes digitais, configurando, então, um cenário de dupla via caracterizado por remediações e rupturas (Barbosa, 2004b).
Tais rupturas estariam na quebra de um certo padrão até então empregado para a organização e estruturação das informações, para a construção das narrativas, para o arquivamento e recuperação dos conteúdos publicados, como também para a criação de elementos conceituais novos para apresentação das informações. A partir das possibilidades combinatórias e do cruzamento entre as informações inseridas numa BD, a classificação externa poderá ser feita pelos contextos temporal, geográfico, histórico, cultural, econômico, religioso, entre outros, ampliando, assim o espectro em relação às tematizações convencionais (Fidalgo, 2004). Ao explorar novas tematizações, surge, em contrapartida, o potencial para originar novos gêneros ou híbridos entre gêneros, assim como remediações em relação aos gêneros jornalísticos tradicionais.
Se o aparecimento dos gêneros em todas as esferas da atividade social está diretamente condicionado a determinadas condições sóciohistóricas (Maingueneau,
2000, p.61), no caso dos gêneros jornalísticos, José Alvarez Marcos (2003, p.239) ressalta que, a Internet, a estrutura hipertextual e os elementos audiovisuais vão permitir a redefinição dos gêneros jornalísticos clássicos, como a reportagem e a entrevista. Ramón Salaverría (2005, p.144), por outro lado, afirma que os gêneros ciberjornalísticos 4 já existem e têm padrões e formatos editoriais bastante consolidados. Entre eles estão a crônica de última hora ou flash (hard news stories e breaking news
stories); a crônica ao vivo (coberturas esportivas, políticos), os blogs e a infografia
interativa.
5. “The database era has ar rived”
A assertiva, em sintonia com as idéias apresentadas neste artigo, foi assinalada no final da década de 90, quando as bases de dados alcançaram um alto nível de utilização nas empresas jornalísticas a partir do desenvolvimento da ComputerAssisted
Reporting (CAR). A noção, claro, estava fundada no uso do computador como
ferramenta e das BDs como elementos essenciais para o trabalho de coleta e obtenção de informações que fariam todo o diferencial nas reportagens e notícias, pois acrescentariam mais qualidade à apuração, interpretação e contextualização dos dados (Smith, 1980; Koch, 1991; Garrison, 1998; Herbert, 2000; Reavy, 2001, Gunter, 2003).
Ao analisar o potencial das BDs para o jornalismo no início da década de 90, Tom Koch (1991), chegou a dizer que a melhor maneira de descrevêlo seria considerar que as bases de dados de informação online trariam os benefícios da revolução da imprensa do século XVIII para o jornalismo do século XXI justamente pelo impacto e o nível de mudança que trariam. E mais: Koch (1991, p.186) anteviu que os serviços de informação online afetariam a forma narrativa da escrita da notícia, assim como as relações entre escritores e os assuntos que eles escrevem, além de atentar para a existência do “electronic reader”. A evolução tecnológica e a convergência entre informática, telecomunicações e meios de comunicação gerou o produto ou sintoma da mudança tecnológica mais radical (Pavlik, 2005, p.15) – a internet – que permitiu a
4
Tal denominação está em conformidade com a terminologia defendida pelo investigador (Ciberperiodismoou Ciberjornalismo) como a mais apropriada para essa forma de jornalismo (Salaverría, 2005, p. 21).
emergência de uma nova modalidade de jornalismo na qual as previsões de Koch se vêem confirmadas.
Ainda que estejamos trabalhando em uma outra perspectiva, a afirmativa de Bruce Garrison (1998, p.265) nos parece apropriada também neste momento, quando as bases de dados são colocadas como forma cultural para criação de produtos digitais na era do computador (Manovich, 2001) e, o mais importante: como um formato e metáfora para o jornalismo digital (Machado, 2004a; Barbosa, 2004a) e como o diferencial em relação às modalidades tradicionais de jornalismo (Fidalgo, 2003; 2004). Além disso, também serve para estabelecermos relação com os estudos de Barrie Gunter (2003), que, em sua análise, explica que a aquisição e o emprego das bases de dados no jornalismo seguiu a clássica adoção do modelo da curva do “S”, utilizado dentro da teoria difusionista para observar o desenvolvimento das inovações tecnológicas. Gunter, ao abordar a evolução dos processos de produção, publicação e entrega de notícias empregando sistemas eletrônicos desde os anos 70, coloca as bases de dados como agentes fundamentais.
Assim, nos guiando pelo raciocínio de Gunter, podemos inferir que o emprego das bases de dados no jornalismo digital se encontra num novo movimento ascendente da curva do “S”. E isso ocorre devido ao seu potencial para a gestão de produtos digitais. As bases de dados, aliadas ao desenvolvimento de sistemas de publicação compatíveis, comportam agora uma outra lógica para a estruturação e a apresentação das informações. Lógica essa que contempla, como elementos definidores do uso de bases de dados no jornalismo digital de terceira geração segundo a abordagem conceitual apresentada as noções de resolução semântica, metadados, relato imersivo ou narrativa multimídia, e jornalismo participativo. Tais noções estão diretamente relacionadas com as funcionalidades acima descritas.
Logo, a nossa tarefa de compreender a atribuição de um novo status para as BDs no jornalismo digital nos leva a considerar que as mudanças conformadas a partir da concepção de bases de dados como um formato e metáfora para o jornalismo digital podem gerar o diferencial para essa modalidade, conduzindoa a uma nova etapa de desenvolvimento. Quem sabe, à quarta geração.
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i
Debora Cristina Lopez é mestre em Letras pela Unioeste, graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela UEPG e professora do curso de Comunicação Social – Jornalismo do Centro Universitário FIB.
ii
Ivo José Dittrich é doutor em Lingüística pela UFSC, mestre em Filologia e Lingüística da Língua Portuguesa pela UNESP, graduado em Letras pela FECIVEL e professor do curso de Letras da UNIOESTE.
iii
Considerase, aqui, a relação entre dialetos, regionalismos e a língua definida como brasileira para traçar a discussão sobre a formação e a valorização da identidade lingüística na produção jornalística televisiva. Assim, fazse possível a distinção entre a produção realizada pelas duas emissoras apresentadas.
iv
Esta homogeinização lingüística da produção pode trazer inúmeras conseqüências para o processo de produção da informação jornalística, entre elas a falta de identificação com o leitor. Entretanto, pode também ser construída objetivando manipular o receptor através do excesso de informações formatadas, levando, gradativamente, à nãocriticidade em relação aos fatos, à absorção e aceitação pura e simples das informações, sem considerar contextos textuais e/ou sociais dos interlocutores ou do discurso apresentado. v Vale lembrar que o principal referencial de produção telejornalística no Brasil hoje é a Rede Globo de Televisão, que trabalha com o cancelamento de sotaques dos repórteres e apresentadores. vi É importante lembrar, novamente, que a estrutura conversacional prevê a presença de marcas da conversação, como a correção e a hesitação, ausentes na maioria do material telejornalístico, e que isso, portanto, colabora para a compreensão de uma ausência de coloquialidade efetiva e de informalidade no discurso em questão. vii
Chamada feita cerca de 30 minutos antes do jornal ir ao ar. Visa a atrair o receptor para assistir o programa jornalístico.
viii
Mesmo sendo notas distintas, onde o discurso chama para o próximo bloco ou para o programa seguinte, o objetivo é manter o receptor atento à programação, e, nestes casos, trabalhase com a intervenção direta, referindose especificamente ao interlocutor e, desta maneira, inferindo maior intimismo ao discurso para alcançar o que se pretende.
ix
Os moradores do interior do Paraná têm alguns acentos tonais muito marcados, como é o caso do “r” e do “rr” em algumas palavras e da sonoridade das frases, muitas vezes ocultada e/ou falseada na produção jornalística televisiva.