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Gota d Água de Chico Buarque e Paulo Pontes encenada em Portugal

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Academic year: 2021

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Gota d’Água de Chico Buarque e Paulo Pontes encenada em Portugal

Autor(es):

Pereira, Jadir; Martins, Pedro

Publicado por:

Associação Portuguesa de Estudos Clássicos; Instituto de Estudos

Clássicos

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/30459

Accessed :

27-Sep-2017 16:07:59

digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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Estudos Clássicos

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Teseu. Herói que, por fim, regressa à liberdade, trazido pela ponta de um fio que mão feminina mantém preso, como se fosse Ariadne, pelo simbolismo do fio, o destino que tudo comanda. A emoção do reencontro é o que separa o par do momento da partida para Atenas, a cidade enfim libertada da tirania de Minos.

A circundar o episódio, a personagem de uma profetisa, a detentora de um prato em cacos onde se recupera uma história do passado, assume a voz de um oráculo que, à distância de milénios, guia, como uma segunda Ariadne, a compreensão de um outro público. Depois de conduzir as passadas de Teseu e a colaboração de Ariadne, a profetisa pode por fim associar-se-lhes no desfecho feliz: aquele em que velas negras, que por esquecimento se não trocaram pelas velas brancas da vitória, causam a morte de Egeu, o velho monarca, e abrem ao jovem conquistador seu filho o acesso ao poder.

A criação deste espectáculo foi da responsabilidade de Leonor Barata; a banda sonora de Filipe Costa; o desenho de luz de Jonathan Azevedo; a cenografia, figurinos e adereços de Cátia Barros e Patrícia Mota; a fotografia de Paulo Abrantes. Nos papéis de Jasão, Ariadne e o oráculo estiveram Freddy Trinidad, Margarida Sousa e Isabel Craveiro, a cuja qualidade de interpretação e de expressão se ficou a dever em boa parte o excelente resultado conseguido por esta produção.

MARIA DE FÁTIMA SILVA

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OTA D

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GUA DE

CHICO BUARQUE E PAULO PONTES

ENCENADA EM PORTUGAL

Portugal recebeu no mês de Maio de 2009 uma encenação do célebre musical brasileiro de Paulo Pontes e Chico Buarque. A Gota d’Água possui um lugar especial na história brasileira. Além de trazer um tema clássico com tamanho cuidado e bom gosto, a tragédia possui uma carga de contestação muito forte em suas linhas, resposta clara à ditadura militar que estava em pleno poder no ano de 1975.

Esta montagem, produzida pela Mandrake e assinada por João Fonseca, com direção musical de Roberto Brugel, estreou no Brasil em 2007 tendo sido considerada um sucesso. A Comadre Joana (Izabella Bicalho) veste a

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pele da feiticeira cólquida rejeitada por Jasão que, mediante o sucesso do samba Gota d’Água, noiva com Alma, filha de Creonte (Cláudio Lins), despertando a fúria da amada traída.

Corinto transforma-se em Rio de Janeiro e o estranhamento de Medeia não se dá pela distância da pátria mas sim da classe. Fortemente marcada por tendências socialistas dos anos 70, Paulo Pontes e Chico Buarque associam toda a faísca das disputas das classes sociais brasileiras à profundidade deteriorante do texto de Eurípides. A escolha de Jasão, jovem de talento e sambista promissor, dá-se pelo vislumbramento da ascensão social que o casamento com Alma, filha de Creonte, um magnata aproveitador, poderia produzir. Do outro lado, uma Joana que não se omite e assume o papel de mulher abandonada, exige o pagamento de tudo que investira no jovem sambista. Desta tensão, de amor e cancro, de ódio e alento, surge o desejo que motiva o enredo: sua vingança.

O espectador é introduzido ao mundo de Joana e Jasão pelo verso “Eu sou do Rio de Janeiro”, cantado em coro pelos personagens que se apresentam enquanto desenha-se a Vila do Meio-Dia, sinédoque da capital carioca. Entre a camisa do flamengo e o pandeiro, o chope e o botequim, revelam-se os moradores e a trama de Gota d’Água. Em linhas gerais, tratar-se-á do tema do divino, em todas as suas acepções, do filicídio e das ranhuras da mobilidade social na sociedade brasileira. Dois semicoros pontuam as opiniões femininas e masculinas na peça. De uma disputa clara travada em torno da filiação masculina à escolha de Jasão e da feminina em torno de Joana, surge um coro forte que traz a todo momento reflexões sobre o povo brasileiro e suas características.

O divino aparece nesta Gota d’Água com especial desenvoltura, uma vez que Joana é macumbeira e não mede palavras para invocar um panteão de divindades para auxiliá-la em sua vingança. Numa espécie de sincretismo religioso, Hécate e São Jorge são postos lado a lado à Têmis e a todos os orixás do Olimpo, ao serem invocados pela autoproclamada serva de Jesus Cristo.

A sensibilidade poética de Chico Buarque é sentida aqui e faz com que a peça transborde emoção. Esta montagem traz canções adicionais do autor, que só tem a contribuir para alcançar o apogeu trágico pretendido pelos autores. Sucessos como “O que será (à flor da pele)” e “Partido Alto” são costurados com a própria “Gota d’água”, exponenciando as sensações e os sentimentos das personagens.

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O Mestre Egeu de Gota d’Água acumula os papéis de pedagogo, de rei de Corinto e de corifeu da tragédia euripidiana, portanto ganha maior dimensão na peça contemporânea. Além de ser o conselheiro de Joana, é ele quem mobiliza a vizinhança para levantar voz contra os altos juros dos aluguéis cobrados por Creonte.

Quanto à aproximação ao texto de Eurípides, para além do tema de Medeia, percebemos dois momentos de pura inspiração grega para os autores: o primeiro diz respeito ao diálogo entre a ama e o pedagogo no episódio inicial euripidiano que é transposto à Gota d’Água quase que por completo, alimentando as falas das vizinhas e dos vizinhos sobre a escolha de Jasão. As mulheres comovem-se com a situação de Joana, abandonada, fustigada e sozinha, enquanto os homens preferem exaltar a bênção que Jasão recebeu ao ter a chance de mudar de classe social por meio do casamento e todas as benesses que este viria a trazer; o segundo momento é o agon de Creonte e Medeia, onde ela encarna a heroína euripidiana e pede mais um dia para completar seu plano. Neste ponto, o poderoso Creonte carioca assemelha-se ao Creonte euripidiano e assume que a sua motivação ao atacar Joana não é nenhuma outra senão o medo. Transposições cuidadosas e coerentes com o resto da peça.

Das divergências, a que mais fica patente é a frustração de Joana em matar Creonte e sua filha, já que este consegue desvencilhar-se da artimanha de Joana, o que só contribui para o ápice trágico do êxodo quando Joana, além de cometer o filicídio, suicida-se também, deixando Jasão sozinho em cena. Um final inovador, que aproxima-nos mais de Joana, proclamando sua redenção.

Em face da adaptação de Medeia à realidade brasileira, os autores mergulham as personagens no subúrbio carioca, mas não se esquecem de matizá-los com as questões levantadas no teatro antigo. Deste modo, o espectador é levado a refletir sobre temáticas como a felicidade, os conflitos geracionais, a fidelidade, a amizade e o amor filial, maternal e matrimonial. E, embora haja um forte teor de crítica social, o que se vê nesta peça é uma história de amor, cujo par romântico age em torno de encontros e desencontros que faz emergir o binômio amor e dor.

Referências

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