MEMÓRIA GRÁFICA DE PELOTAS:
A TRANSCRIÇÃO DO ACERVO HISTÓRICO PARA O AMBIENTE
HIPERMÍDIA
GRAPHIC MEMORY OF PELOTAS:
THE TRANSCRIPTION OF HISTORICAL COLLECTION TO
HYPERMEDIA MEDIUM
Arthur Theil Cabreira1
Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul
Resumo
Este artigo tem como objetivo descrever a metodologia utilizada na digitalização de publicações históricas da cidade de Pelotas locadas na Bibliotecha Pública Pelotense juntamente com a transcrição do acervo para o meio hipermídia através das ações de identificação e conservação do grupo de pesquisa Memória Gráfica de Pelotas: 100 anos de design.
Palavras-chave
Design, Patrimônio cultural, Hipermídia Abstract
This article aims describle the methodology used in scanning Pelotas' historical publications leased in it Public Library along with the transcription of the collection to hypermedia medium through the actions of identification and conservation from the research group Graphic Memory of Pelotas: 100 years of design.
Keywords
Design, Cultural Patrimony, Hypermedia
1. Introdução
A sociedade vem sendo apresentada a várias modificações sócio-tecnológicas que influenciam nosso modo de pensar e produzir (McLuhan, 1964), tais modificações resultam em nosso edifício cultural que, por sua vez, se apoia em nossas lembranças e memória (Lévy, 1996).
Memória Gráfica de Pelotas: 100 anos de Design é um projeto do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas que visa resgatar, catalogar e analisar fontes periódicas publicadas na cidade de Pelotas durante a faixa temporal de 1890 a 1990 a fim de pesquisar a trajetória do design gráfico local através do acesso aos exemplares locados no acervo da Bibliotheca Pública Pelotense.
Uma das principais metas do projeto é a duplicação dos documentos históricos analisados, digitalizando-os e transcrevendo-os para aplicativos de hipermídia. Tal estratégia tem como objetivo preservar e tornar acessíveis as informações contidas nesse acervo, além de promover a conservação de parte do patrimônio cultural da cidade e contribuir para a geração de conhecimento acerca da memória gráfica pelotense.
Este artigo pretende descrever a metodologia utilizada no processo de identificação, digitalização e disponibilização hipermídia do acervo catalogado pelo grupo de pesquisa.
1.1 Os registros do design gráfico pelotense
De acordo com Lima (2010), Pelotas teve forte desenvolvimento industrial e cultural durante o século XIX; essa efervescência refletiu na produção gráfica da cidade e, concomitantemente , auxiliou na instalação e crescimento de publicações com fins comerciais e culturais juntamente com a explosão da imprensa jornalística e publicitária. Nesse contexto, por exemplo, surgia, em 1890, o Jornal Diário Popular que continua em veiculação até os dias de hoje.
Bandeira & Brisolara (2010) destacam grandes publicações como os Almanaques de Pelotas (primeiras décadas do século XX), o Jornal Diário Popular (1890) e o Álbum Litterário (1875) como os principais objetos de estudos das investigações relativas à memória e patrimônio gráfico da cidade. Os exemplares estão locados na Bibliotheca Pública Pelotense e estão gradativamente sendo analisados e digitalizados para fins de duplicação do acervo.
Com o resgate desses registros da atividade gráfica pelotense, o grupo tem o propósito de disseminar e reafirmar a herença cultural presente no acervo estudado, além de mapear os aspectos tecnológicos, sociais e históricos norteadores da atividade do design gráfico local durante o século passado. Sendo assim, a transcrição das publicações impressas (inevitavelmente em péssimos estados de conservação) para o meio digital se torna essencial para difundir os resultados da pesquisa e facilitar o contato do público com o material que faz parte da história e patrimônio pelotense.
Após definidos os exemplares históricos que seriam analisados pelo grupo de pesquisa (partindo de sua relevância histórica e cultural e estado de conservação), o trabalho teve seu início na tríade identificação – classificação - análise e precedeu o cruzamento de dados de outras fontes bibliográficas.
Tabela 1: Tríade inicial da pesquisa Fonte: do autor
Identificação Identificação de dados relevantes a partir das
fontes primárias (acervo)
Classificação
Classificação dos dados a partir de áreas temáticas como autores, suportes, técnicas,
linguagem estética, instituições
Análise
Análise dos estilos gráficos considerando contexto histórico e cultural e influências
internacionais
Em seguida, iniciou-se o processo de digitalização dos exemplares analisados a partir de uma foto escaneadora. A equipe seguiu um criterioso processo de manuseio das obras, devido ao seu desgastado e frágil estado de conservação. As páginas foram digitalizadas com a resolução de 300 dpi (dots per inch) em formato .tiff, tendo em vista a qualidade final do documento digital.
Figura 1: Página do Album Litterario com medidas de 26,5 x 33,5 cm (1875) Fonte: Bibliotheca Pública Pelotense.
Prosseguindo com o procedimento de duplicar o acervo estudado, após a digitalização de todas as páginas do documento, os arquivos foram devidamente organizados para serem inseridos em um aplicativo hipermídia que possibilitasse o contato interativo com a obra, reestabelecendo, em partes, a experiência de manusear um livro.
foi desenvolvida uma interface interativa transcrevendo o formato de livro impresso para o ambiente digital com o objetivo de transcrever a experiência de “folhear” páginas.
Figuras 2 e 3: Simulação do aplicativo desenvolvido pelo grupo de pesquisa Fonte: do autor.
3. A hipermídia como ferramenta de acesso ao conhecimento
A hibridização resultante da fusão de diversos tipos de linguagem (imagem, som, texto) encontradas na digitalização do acervo histórico apresentado em formato interativo fornece vários caminhos para a compreensão das informações contidas nos exemplares, possibilitando a construção de
diferentes associações interativas (Palácios, 1999). Somando-se a isso, o ato de navegar por estruturas hipermidiáticas põe em prática habilidades cognitivas envolvendo processos de percepção, reconhecimento, identificação, análise e seleção, controle motor, aprendizagem e raciocínio (Santaella, 2004). Sendo assim, a interface do aplicativo hipermídia tem a função de “permitir ao usuário obter uma visão panorâmica do conteúdo, navegar na massa de dados sem perder a orientação e, por fim, mover-se no espaço informacional de acordo com seus interesses” (BONSIEPE, 1997, p. 59). O acervo digital está sendo disponibilizado gradativamente no site do grupo de pesquisa.
4. Considerações finais
A transcrição das páginas impressas para o ambiente hipermídia tem como objetivo propiciar uma comunicação eficaz e abrangente, possibilitando o acesso à informação através de qualidades sensíveis e comunicacionais, emitindo ideias e valores de diferentes níveis (Belluzzo, 2005). Com isso, o grupo de pesquisa Memória Gráfica de Pelotas: 100 anos de design pretende resgatar e tornar acessível parte da história, imaginário e patrimônio cultural da cidade além de promover a preservação das valiosas informações contidas nessas publicações que fazem parte da história do desenvolvimento tecnológico e social da região.
5. Referência Bibliográficas
Acervo da Biblioteca Pública Pelotense: Almanaques de Pelotas; Jornais Ilustrados e Livros Raros. Site do grupo de pesquisa Memória Gráfica de Pelotas: 100 anos de design. Disponível em: <www.ufpel.edu.br/iad/memoriagraficadepelotas>. Acesso em: 20.jun.2011.
BANDEIRA, Ana da Rosa; BRISOLARA, Daniella Velleda. Das in/ex pressões em resgate a um século de Design em Pelotas: a pertinência de um estudo interdisciplinar. Anais do IV SIMP: Memória, Patrimônio e tradição, 2010.
BELLUZZO, Gisela. A idade do design.In: MOURA, Mônica (org). Design, arte e tecnologia – coletânea de artigos e projetos experimentais. CD-Rom. São Paulo: Rosari/Anhembi Morumbi, 2005.
BONSIEPE, Gui. Design do material ao digital. Florianópolis: SEBRAE, 1997.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. São Paulo: Ed. 34, 1996.
LIMA, Paula Garcia. Estudo da memória e do conceito de design através das peças gráficas e fotografias do Parque Souza Soares (Pelotas, 1900-1930). Dissertação (Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2010.
MCLUHAN, Marshall. Understanding Media: the extensions of man. Corte Madera, CA: Gingko, 2003.
PALÁCIOS, Marcos Silva. Hipertexto, fechamento e o uso do conceito de não–linearidade discursiva. Revista Lugar Comum, nº 08 pg. 111-121, 1999.