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IMPRENSA E POLÍTICA: O FASCISMO ITALIANO NOS JORNAIS DE FLORIANÓPOLIS NA DÉCADA DE 1930

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IMPRENSA E POLÍTICA: O FASCISMO ITALIANO NOS JORNAIS DE FLORIANÓPOLIS NA DÉCADA DE 1930

João Henrique Zanelatto1

Rafael Medeiros dos Santos2

Introdução:

O texto tem como enfoque a influência do fascismo italiano que permeou a imprensa catarinense na década de 1930. O final dos anos de 1920 e início de 1930 foram marcados pela a ascensão e consolidação dos regimes totalitários europeus – nazismo alemão e o fascismo italiano. Esses regimes exerceram significativa influência na vida sociopolítica brasileira e em especial em Santa Catarina. No estado, um dos canais para a difusão das ideias e a crescente popularidade dos fascismos europeus foi através da imprensa. As fontes analisadas nesta pesquisa foram os jornais La Tribuna e O Estado com circulação em Florianópolis.

Assim, o texto buscou fazer uma breve análise de como o fascismo italiano foi retratado pela imprensa catarinense na década de 1930, com ênfase no período de 1930 a 1937. Pretende-se evidenciar como a imprensa dava visibilidade para (projetos, ideias, valores, comportamentos...) de fascistas. Buscou analisar como o fascismo italiano era retratado por La Tribuna e O Estado, e identificar os proprietários e diretores dos jornais, suas ligações políticas e interesses em dar visibilidade ao fascismo italiano. Além destes, foram abordados outros aspectos dos periódicos: tempo que circulou, tiragem, se diário, semanal, bissemanal ou mensal, tinha abrangência municipal e/ou regional, escrito em português ou em língua estrangeira e quais influências esses periódicos exerciam sobre o público leitor.

Cabe ressaltar que a pesquisa esta em andamento e os resultados que apresentamos neste escrito são parciais. Portanto o artigo ainda não deu conta dos vários

1 Pós-Doutor e Doutor em História, professor do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade do Extremo Sul Catarinense. O texto Enquadra-se em um projeto mias amplo que aborda as disputas sociopolíticas na imprensa de Santa Catarina no período de 1930 - 1937, o projeto é financiado pelo CNPq.

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objetivos elencados acima. Posto isso, faz-se uma breve reflexão sobre o uso da imprensa na pesquisa histórica.

A imprensa reflete o mundo de seu tempo e ao mesmo tempo influencia na construção deste mundo e, portanto, possui história e historicidade.3 O conteúdo produzido pela imprensa reflete os momentos políticos, econômicos e culturais de uma sociedade, numa época. Ao refletir o mundo de seu tempo, a imprensa não pode ser entendida como neutra, pois estabelece relações e conexões com sujeitos, instituições e ideologias, de modo que as publicações apresentadas aos leitores explicitavam um conjunto de interesses. Daí a importância na pesquisa com jornais “a análise do maior número deve ser a primeira garantia para o não cometimento de erro; ainda que não seja toda a garantia” (ELMIR, 1995, p. 23).

Enquanto um instrumento político e social a imprensa introduz práticas, maneiras de pensar, ideias dando significado às ações humanas e influenciando de forma decisiva na construção dos acontecimentos. A grande importância alcançada pela imprensa levou muitos autores a compará-la a um “quarto poder” nos países. No Brasil, a imprensa, ao longo de suas diversas etapas, ao atuar na orientação, formação ou manipulação da opinião pública, “transformou-se em verdadeiro elemento constitutivo da sociedade e refletiu, através das páginas dos jornais, os diferentes momentos históricos do Estado Nacional Brasileiro, bem como influiu direta/indiretamente em cada um deles” (ALVES, 1998, p.9).

Assim, a imprensa configurou-se em um instrumento imprescindível para as interpretações históricas, da formação sociopolítica brasileira.

A leitura dos discursos expressos nos jornais permite acompanhar o movimento das ideias que circulam na época. A análise do ideário e da prática política dos representantes da imprensa revela a complexidade da luta social. Grupos se aproximam e se distanciam segundo as conveniências do momento; seus projetos se interpenetram, se mesclam e são matizados. Os conflitos desencadeados para a efetivação dos diferentes projetos se inserem numa luta mais ampla que perpassa a sociedade por inteiro. O confronto das falas, que exprimem ideias e práticas, permite ao pesquisador captar, com riqueza de detalhes, o significado da atuação de diferentes grupos que se orientam por interesses específicos (CAPELATO, 1994, p. 34).

3 Um estudo sobre a evolução da história da imprensa ver: ALBERT, P. & TERROU, F. História da imprensa. São

Paulo: Martins Fontes, 1990. No Brasil a obra de SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, numa perspectiva marxista aponta as mudanças sofridas com a emergência da grande imprensa e seu funcionamento na lógica capitalista-burguesa.

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Destarte, a imprensa é uma evidência indispensável para as pesquisas que tem o político como seu objeto de estudo. Os trabalhos que utilizam o jornal como instrumento de analise podem ser arrolados sob duas vertentes básicas: uma história através da imprensa ou uma história da imprensa. No primeiro caso, o jornal serve de “fonte de informação para a reconstrução de um determinado elemento constitutivo de uma dada sociedade” (ALVES, 1998, p.9), e, no segundo, o historiador estuda o jornal “em si mesmo, sua evolução, suas manifestações e as formas pelas quais ele retrata os acontecimentos” (ALVES, 1998, p.9). Portanto, neste escrito as duas vertentes de pesquisa acerca do jornal se cruzam e completam-se de tal maneira que a imprensa foi utilizada tanto como fonte, quanto como objeto de análise.

Organização do Fascismo em Santa Catarina

O interesse do regime fascista pelo Brasil nos anos 30 deu-se em um contexto no qual as relações comerciais permaneciam incipientes bem como um acentuado processo de assimilação da colônia italiana, o que revela as pretensões imperialistas de Mussolini (Territórios & Fronteiras, 2015). Naquilo que tange às relações comerciais na década de 30, não foi criado nenhum instrumento legal no sentido de “ampará-las ou ampliá-las; ao contrário, o choque dos nacionalismos criou obstáculos que se traduziram no Brasil por inúmeras ameaças e algumas leis restritivas à penetração dos empreendimentos estrangeiros” (CERVO, 1992, p.125). Mesmo sendo a colônia italiana uma das maiores, isso não se refletiu nas relações comerciais entre os dois países. Entre 1934 e 1938, as importações brasileiras foram sempre decrescentes, e a Itália ocupava uma posição nada importante: o décimo primeiro lugar entre os países que importavam produtos brasileiros (De BONI, 1990, p. 109-112) e o décimo terceiro entre os compradores da produção catarinense (Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, 16 de julho de 1936, p. 19).

Mesmo que a posição da Itália nas relações econômicas estivesse longe de ser importante, até 1938 o governo fascista procurou ampliar sua influência não só econômica, mas política e também cultural. A consolidação destes objetivos implicava

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“na conquista da coletividade italiana e na instrumentalização desta para seus fins” (BERTONHA, 2001, p. 87). O governo fascista, a fim de alcançar tais objetivos, construiu uma rede que se articulou em três níveis: implantou no Brasil os organismos de socialização fascistas, “os fasci all’estero, os Dolpolavoro e as casas d’Itália; na potencialização do serviço consular e na conquista dos tradicionais foros da vida da colônia, ou seja, as escolas, as associações e os jornais” (BERTONHA, 2001, p. 87).

Segundo o governo fascista, em 1934 constavam 75 fascio organizados em todo território nacional. Em Santa Catarina, era registrada a presença de cinco fascio, sendo quatro deles estabelecidos no Sul Catarinense (Urussanga, Nova Veneza, Laguna e Meleiro) (ZANELATTO, 2012, p. 210).

No estado de Santa Catarina, na década de 30, viviam em torno de 70 mil imigrantes italianos e seus descendentes. Registrava-se nesta época um número de 61 escolas primárias italianas espalhadas pelo estado, perdendo somente para São Paulo, que possuía 81 escolas (SEITENFUS, 1985, p. 105. TRENTO, 1989, p. 182). Quanto a agências consulares e consulados, registra-se já em 1871 a instalação de uma agência Consular no estado, e em 1894 passaria a ter uma sede de consulado, vindo a desligar-se da jurisdição de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No período de 1871 a 1938, atuaram em Santa Catarina aproximadamente 30 representantes do governo italiano, entre Cônsules e Agentes Consulares (OTTO, 2006). Já estavam também organizadas nesta época várias associações: a Societa Fratellanza Italiana, criada em 1891 no Sul Catarinense, mas com sede em Florianópolis, e que desenvolvia atividades culturais e sociais (BALDIN, 1999, p. 113-116), a Societá San Marco, em Nova Veneza (BORTOLOTTO, 1992, p. 111), a sociedade Regina Margherita, em Nova Treviso (Urussanga)4, e a Dante Alighieri, em Porto União, que era antifascista (BERTONHA, 1998, p. 251). Observam-se aqui vários canais que o Fascismo poderia utilizar para atrair os imigrantes italianos e seus descendentes no estado. Os filmes também foram utilizados como instrumento de propaganda para a difusão do Fascismo, no entanto eles ficaram praticamente restritos às capitais do país. Isso não quer dizer que nas colônias italianas do interior do Brasil os filmes não tivessem chegado. Como exemplo,

4 Nova Treviso, 20 de setembro de 1931. Carta enviada pelo presidente da “Sociedade Regina Margherita”, Dante

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se a exibição do filme “Viagem de Mussolini a Tripolitânia”, em Criciúma. (ZANELATTO, 2012)

O Fascismo na Imprensa

A imprensa foi também um dos canais por onde o Fascismo italiano conseguiu atrair e obter a simpatia de vários setores da sociedade catarinense, em especial os imigrantes italianos e seus descendentes. Em 1932, era criado o semanário La Tribuna, voltado para toda a colônia italiana do estado, órgão independente publicado em Florianópolis sob a direção de Arnoldo Suarez Cúneo e redação do jornalista italiano Biaggio D’Alascio, que há 16 meses estava vivendo na capital e mantinha uma boa relação com a colônia italiana e a sociedade de Florianópolis. O jornalista italiano “está animado por ‘una sincera e calda affermazione fascistica’ – uma sincera e afetuosa convicção fascista” (Diário Catarinense, setembro de 1998, p. 12.), que era expressa nas imagens e textos publicados nos números do semanário. Assim, além de exaltar a obra da imigração italiana no estado, a glória de Giuseppe e Anita, heróis de dois mundos, o jornal exaltava a Nova Itália e Mussolini (La Tribuna, Florianópolis, 2 de junho de 1932).

Ao exaltar Garibaldi e Anita, infere-se que o articulista do jornal, intencionava estabelecer um forte vínculo entre os dois países. Parece buscar em um passado glorioso “Il cinqüentenário della morte dell’EROE DEI DUE MONDI”, uma afirmação positivada para as relações e ações presentes.5

Com o texto intitulado “Mussolini”, o jornal exaltava o dirigente fascista comparando este a Napoleão e a César. Era a mais pura exaltação do dirigente fascista, criador da Nova Itália. Mussolini era o herói, o homem do século, o grande italiano, que trabalha e edifica, vive pela sua pátria, se sacrifica por ela, dando a própria vida para libertá-la. Mussolini era a Itália, a Itália era Mussolini, exclamará o articulista do jornal (La tribuna, Florianópolis, fevereiro de 1932). O artigo do jornal era assinado por José Diniz, membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa

5 A utilização da história como legitimadora de ações e também como coesão grupal pode ser encontrada em:

HOBSBAWM, Eric; RANGER, T. (Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Tanto o Fascismo quanto o Nazismo buscaram legitimar suas ações em tradições do passado.

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Catarina, que, ao finalizar o artigo, saudava Mussolini afirmando sua brasilidade e seu amor à pátria, mas parecia desejar que o Brasil tivesse um dirigente como o líder fascista (Territórios & Fronteiras, 2015).

Mas o fascismo e Lá Tribuna encontraram dificuldades no estado e tensões levaram ao fechamento do jornal. Em julho de 1932, quando o vice-cônsul, Giacomo Ungarelli, mandou fechar as portas da sede do movimento fascista em Florianópolis, mas o jornalista Biaggio D’Alascio protestou com um artigo publicado em La Tribuna

(La Tribuna, Florianópolis, 30 de julho de 1932), provocando a ira da autoridade

italiana que se volta contra o jornal, tentando impedir a publicação do semanário, justificando “que a colônia já dispõe de uma página no jornal italiano de Curitiba”. O cônsul tomou várias medidas, que foram desde a pressão sobre os anunciantes, a maioria deles de origem italiana, sobre o diretor do semanário, Arnaldo Suarez Cuneo, que retirou o nome do cabeçalho do jornal, e ainda solicitou à polícia a suspensão da publicação do jornal. Assim, La Tribuna, que pretendia ser um órgão de difusão do fascismo entre os imigrantes italianos e seus descendentes, teve suas portas fechadas em setembro de 1932 (Diário Catarinense, Florianópolis, setembro de 1998).

Uma das explicações para o desinteresse no governo italiano por Santa Catarina no pós-30 é que os imigrantes italianos e seus descendentes eram na sua maioria constituída por populações pobres, havia no estado poucos industriais e comerciantes para despertar interesse fascista. Este procurou investir nas regiões onde haviam imigrantes e descendentes com mais capital.

Além de La Tribuna, semanário destinado especialmente para os imigrantes italianos e seus descendentes, a simpatia e influência do Fascismo apareciam estampadas em destinados especialmente para as populações luso-brasileiras.

O Estado, jornal diário, (o de maior longevidade de Santa Catarina fundado

em 1915 e encerrado em 1989) ao logo da década de 1930 teve como diretor Altino Flores e gerente Adhemar Tolentino. Um de seus redatores foi Othon Gama D’Eça que posteriormente viria ser o chefe da AIB no estado e redator do jornal integralista Flama

Verde. O jornal se apresentava como órgão independente, mas quando faz-se uma

análise de suas páginas observa-se por um lado o posicionamento político muito explícito e por outro a facilidade como se adequava a uma nova ordem ou grupo que

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estivesse no poder. O jornal ao longo dos anos 30 colocou-se ao lado dos grupos que eram hegemônicos, mas facilmente mudava seu posicionamento. Exemplo do exposto foram as eleições presidenciais de 1930, no qual O Estado assume a campanha/apoiou os candidatos do Partido Republicano – Julio Prestes e Vital Soares. O Jornal ao longo da sucessão presidencial criou uma chamada diária intitulada “O Momento Político” no qual os candidatos republicanos eram constantemente exaltados enquanto a Aliança Liberal era sempre desqualificada, sua campanha recebia críticas diárias.

Logo após a eleição presidencial de 1º de março, o jornal divulgava a vitória de Júlio Prestes e que este iria dar continuidade a obra do presidente Washington Luís, chegou a proclamar o fim dos liberais, mas em seguida a página “O Momento Político” é extinta, nos meses seguintes foram poucas as notícias sobre o desenrolar da situação sociopolítica nacional e o Jornal passava a noticiar tensões e conflitos em âmbito internacional. Foi somente em 09 de outubro de 1930 o jornal vinha com a manchete “O Movimento Revolucionário” que exaltava a ação revolucionaria dos liberais e Vargas mudando seu discurso. A partir do movimento de 30 no novo governo e suas ações passou a ser positivado em O Estado, o jornal foi se adequando a nova situação sociopolítica.

Uma ideologia amplamente divulgada nas páginas de O Estado foi o fascismo No período de 1934 a 1937 o jornal fez ampla divulgação e exaltação do fascismo italiano contribuindo para a popularidade desta ideologia na capital do estado.

Na capital, nas páginas de O Estado, Mussolini e a Nova Itália eram exaltados constantemente, a partir de 1934. Em outubro do mesmo ano, praticamente toda edição do jornal foi dedicada a Mussolini e à nova Itália, foram textos aprofundados com fotografias amplas (O Estado, Florianópolis, 28 de outubro de 1934). Em 1935, semanalmente eram publicados textos remetendo ao Fascismo. Além de exaltar com textos e imagens as viagens de Mussolini e seus discursos inflamados para a multidão (O Estado, Florianópolis, 7 de Janeiro de 1935), abordava também guerra na África contra a Etiópia, que a Itália venceria rapidamente, bem como os tratados de comércio ítalo-brasileiro.

Em relação ao comércio Brasil-Itália o jornal O Estado com a matéria intitulada “Tratado Commercial Italo-brasileiro” destacava as cláusulas do acordo.

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Ao que estamos informados, uma das mais importantes clausulas desse novo tratado é a que estabelece que as importâncias provenientes da compra pela Itália, de certos produtos brasileiros, passam a ser, eventualmente, retidas pelo instituto de câmbios ou pelo banco da Itália, para pagamento de encomendas feitas aquele país pelo governo brasileiro. Pensa-se com essa modalidade facilitar a construção, em estaleiros italianos, de alguns submarinos e até de outros navios para a nossa esquadra, além da compra de material bélico. Já se encontra em poder do governo italiano uma lista de produtos que poderemos exportar em tais condições,... (O Estado, Florianópolis, 30 de Janeiro de 1935).

No que tange a guerra empreendida pelos fascistas no continente africano o jornal O Estado publicava a matéria intitulada “A Itália vencerá rapidamente a guerra”. O texto explicava que a Itália venceria com facilidade o conflito, tendo como justificativa a fragilidade do inimigo e não uma “suposta superioridade” italiana.

Os observadores políticos opinam que a Itália vencerá rapidamente a guerra na África Oriental, porque a Ethiopia não pode suportar o peso de uma longa campanha e também, porque, entre outras coisas, o sentimento patriótico é desconhecido no império do Negus onde até agora não existe unidade no comando militar. Com efeito, as ordens do Negus devem ser consideradas como exortações e invocações religiosas antes do que verdadeiras ordens de um chefe de Estado (O Estado, Florianópolis, 30 de janeiro de 1935).

Ao longo do ano outras matérias sobre o conflito Italo-Ethiope foram publicadas, mas no ano seguinte o jornal O Estado publicava a matéria “O Ardor Combativo das Tropas Italianas” que ao mesmo tempo buscava desqualificar a resistência Ethiope e justificar a demora da vitória italiana. A explicação para a derrota do inimigo era colocada na natureza intransponível para a engenharia humana. E sobre a resistência explica: “O que mais espanta, nessa luta encarniçada, é a resistência dos abyssinios, mal articulados, mal organizados, mal preparados. Chega-se a suspeitar de que outrem os orienta. Do contrário esse amalgama de raças, povos, religiões, costumes todos diferentes e, por vezes, adversos, já se teria dissolvido” (O Estado, Florianópolis, 21 de fevereiro de 1936). E sobre as sanções recebidas pela Itália de países europeus no contexto da guerra no continente africano, o texto destacava “A superior homogeneidade do povo italiano, dirigido e estimulado por uma força ancestral, solidarizado num mesmo propósito de vitória, permite esse milagre de resistência” (O

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reverenciado no jornal como o homem do momento, comparado a Napoleão, tendo lugar assegurado “na galeria dos vultos da humanidade” (O Estado, Florianópolis, 4 de março de 1936).

Referencias Bibliográficas:

ALBERT, P. & TERROU, F. História da imprensa. São Paulo: Martins Fontes, 1990. ALVES, Francisco das Neves. O Discurso Político-Partidário Sul-Rio-Grandense sob o Prisma da Imprensa Rio-Grandina (1868-1895). Porto Alegre: PUCRS, 1998, (Tese de Doutorado em História).

BALDIN, Nelma. Tão fortes quanto a vontade, história da imigração italiana no Brasil: os vênetos em Santa Catarina. Florianópolis: Insular/Ed. da UFSC, 1999. BERTONHA, João Fabio. O fascismo e os imigrantes italianos no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001ª.

BORTOLOTTO, Zulmar Hélio. História de Nova Veneza: Prefeitura Municipal, 1992. CAPELATO, Maria Helena Rolim. A imprensa na história do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1994.

CERVO, Amado Luiz. As relações históricas entre o Brasil e a Itália: o papel da diplomacia. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília: São Paulo: Instituto Italiano di Cultura, 1992.

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HOBSBAWM, Eric. RANGER, T. (Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

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SEITENFUS, Ricardo Antonio Silva. O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1940: o processo de envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial. São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: INL. Fundação Nacional Pró-Memória, 1985.

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Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, vol. 8, n. 2, jul.-dez., 2015.

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Fontes Consultadas:

Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, 16 de julho de 1936. Diário Catarinense, 1998.

Jornal La Tribuna, Florianópolis, 1932. Jornal O Estado Florianópolis, 1934 a 1936.

Referências

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