• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO CARLOS OLAVO NEUTZLING

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO CARLOS OLAVO NEUTZLING"

Copied!
69
0
0

Texto

(1)

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

CARLOS OLAVO NEUTZLING

CARACTERÍSTICAS AGROPECUÁRIAS DA REGIÃO DO GRANDE SANTA ROSA:

o caso da soja em Porto Mauá - RS

São Leopoldo 2010

(2)

Carlos Olavo Neutzling

CARACTERÍSTICAS AGROPECUÁRIAS DA REGIÃO DO GRANDE SANTA ROSA:

o caso da soja em Porto Mauá - RS

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Orientador: Prof. Dra. Suzimary Specht

São Leopoldo 2010

(3)

São Leopoldo, 28 de outubro de 2010.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Carlos Olavo Neutzling encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio.

________________________________________ Suzimary Specht

(4)

Dedico este trabalho a minha família,

em especial a minha esposa Celei, que nos momentos de minha ausência assumiu a função de mãe e pai na criação de nossas filhas Eduarda e Eloísa, amo vocês.

(5)

Gostaria de agradecer as pessoas que possibilitaram a realização desta especialização. Inicialmente a minha família, esposa Celei, filhas Eduarda e Eloísa, que compreenderam minha vontade de retornar aos estudos e doaram muito de sua paciência e abriram mão da convivência durante um ano em que viajava todos os finais de semana a Porto Alegre para os estudos presenciais.

Ao colega Decio, que nos momentos de minha ausência segurou a barra no Escritório Municipal da EMATER/RS de Porto Mauá, nem todos os colegas teriam a compreensão e a dedicação que tivestes.

A EMATER/RS – ASCAR que me acolheu como membro em agosto de 2000 e entre tantas oportunidades e ensinamentos me propiciou a realização desta especialização. Um agradecimento na pessoa de todos os colegas da casa, sem distinção de função ou cargo.

A minha professora e orientadora Dra. Suzimary Specht, a sua dedicação e conhecimentos são um estímulo muito grande aos meus anseios de aluno e de profissional da Assistência Técnica e Extensão Rural.

Aos meus pais Seno e Lídia que na sua simplicidade, mas com muita dedicação, permitiram que eu chegasse onde estou e ser o que sou.

Aos colegas do curso de MBA em Gestão do Agronegócio que possibilitaram momentos de convivência e aprendizagem únicos durante o curso, especialmente aos colegas missioneiros Jonei, Marcelo e Elir pelo engrandecimento da amizade e compartilhamento de anseios e duvidas.

Aos agricultores assistidos do Município de Porto Mauá pelo compartilhamento de informações e pela compreensão durante minha ausência.

(6)

A diversidade é uma das características do estado do Rio Grande do Sul e foi moldada em função das várias realidades observadas no estado. Os seus múltiplos relevos, as suas múltiplas raças foram construindo identidades que diferenciam as regiões do estado. Na serra a herança dos italianos manifestada na produção de uvas e vinhos, no litoral, belas praias e terreno propício a cultura do arroz, no pampa a pecuária e no noroeste do estado a produção de grãos, identificada principalmente coma a cultura da soja, do milho e do trigo. Na busca do conhecimento sobre as características agropecuárias da região fronteira noroeste do estado do Rio Grande do Sul e mais especificamente da cultura da soja no município de Porto Mauá, pertencente a esta região, é que estão centrados os dois artigos deste trabalho. No primeiro, a caracterização agropecuária dos municípios da Grande Santa Rosa, que em número de vinte, compõem um grupo de municípios com forte vinculo com a agricultura moldado desde os tempos da colonização, realizada principalmente por italianos, alemães, que adquiriram pequenos lotes de terra e fincaram suas raízes em busca de sustento a suas famílias. A compreensão da evolução das famílias agricultoras, desde a colonização chegando ao estudo da realidade atual destes municípios avaliando suas características como sua população, sua agricultura, suas rendas, permite traçar um perfil desta região, bem como pode ser uma ferramenta na tomada de decisão por mudanças. No segundo artigo é abordada a principal cultura em ocupação de área e renda na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, a soja, na perspectiva dos Sistemas Agroalimentares Locais. O estudo analisará a cultura da soja especificamente no município de Porto Mauá, que pertence a esta região, nas quatro dimensões que envolvem os sistemas agroalimentares, ou seja, a dimensão histórica, a dimensão técnica, a dimensão alimentícia e a dimensão institucional. O estudo busca compreender porque a cultura da soja, mesmo sendo desenvolvida em padrões distintos aos preconizados para esta cultura, ou seja, necessita de escala de produção para dar retorno, apresenta tanta ligação com as pessoas apesar de ser plantada em pequenas áreas de terra e não apresentar mais a mesma viabilidade dos tempos de sua introdução na região.

Palavras chaves: Fronteira noroeste. Agricultura. Pecuária, Sistemas Agroalimentares . Porto Mauá.

(7)

ARTIGO 1

FIGURA 1 – Agricultura de ontem e hoje na Região do Grande Santa Rosa ... 18

FIGURA 2 – Mapa de Localização da AMGRS ... 19

FIGURA 3 – Cultivo de Soja, Milho e Fumo ... 22

FIGURA 4 – Cultivo de Laranja, Tangerina e Uva ... 24

FIGURA 5 – Bovinocultura e Suinocultura ... 27

ARTIGO 2 FIGURA 1 – Plantio manual e colheita e trilha manual ... 42

FIGURA 2 – Sucessão trigo - soja ... 44

FIGURA 3 – Fases de desenvolvimento da soja, da emergência a maturação ... 46

FIGURA 4 – Plantio e colheita mecanizados ... 50

FIGURA 5 – Palestras e dias de campo sobre a cultura da soja ... 57

FIGURA 6 – Pratos elaborados utilizando soja como ingrediente ... 63

(8)

ARTIGO 1

TABELA 1 – Produtividade da Soja e Milho nos municípios da Região de Santa Rosa e no

Rio Grande do Sul em 2006 ... 20

TABELA 2 – Renda e produção de Laranja e Tangerina em 1996 e 2006 ... 24

TABELA 3 – Evolução da produção e da renda da cultura da Uva, 1996 e 2006 ... 25

TABELA 4 – Número de Bovinos Grande Santa Rosa em 1996, 2005 e 2006 ... 27

TABELA 5 – Número de Vacas Ordenhadas por Município, Variação do numero de vacas ordenhadas e percentual do rebanho destinado a produção de leite em relação ao total de bovinos 1996, 2005 e 2006 ... 28

TABELA 6 – Produção, comparativo entre a variação da produção em relação ao numero de animais ordenhados e media de produção por animal por lactação1996, 2005 e 2006 ... 30

TABELA 7 – Número de estabelecimentos agropecuários por estratos selecionados dos municípios da Região do Grande Santa Rosa e total de estabelecimentos por município ... 32

TABELA 8 – Número de pessoas residentes no meio urbano, rural e total da população e percentual de variação para os anos 1996 e 2006 dos Municípios da Grande Santa Rosa ... 33

ARTIGO 2 TABELA 1 – Área (ha) colhida das culturas selecionadas no município de Porto Mauá ... 45

TABELA 2 – Número de estabelecimentos com financiamento, que acessam através de programa de crédito, através de créditos do Pronaf e outros tipos de crédito em Porto Mauá .... 56

TABELA 3 – Número de estabelecimentos que recebem assistência técnica e identificação do fornecedor da assistência técnica em Porto Mauá ... 58

TABELA 4 – Número de estabelecimentos associados, ou não, vinculados a cooperativa e sindicato dos trabalhadores rurais em Porto Mauá ... 58

TABELA 5 – Número de estabelecimentos e quantidade de soja produzida, vendida e o valor da produção em Porto Mauá ... 61

(9)

ARTIGO 1

GRAFICO 1 – Evolução das áreas de Fumo na Grande Santa Rosa 1996-2006 ... 22 GRAFICO 2 – Áreas cultivadas com Soja, Milho e Fumo e total das áreas ocupadas - 2006 .... 23 GRAFICO 3 – Evolução da produção de Suínos na AMGSR em 1986, 2005 e 2006 ... 31

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMGSR – Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa ASCAR – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul CEP – Centro de Experimentação e Pesquisa

CIRAD- Centre de Coopéaration Internationale em Recherche Agronomique pour le Dévellopement

COREDE – Conselho Regional de Desenvolvimento COTRIROSA – Cooperativa Tritícola Santa Rosa Ltda.

EMATER/RS – Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FECOTRIGO – Federação das Cooperativas Tritícolas do Sul

FEE – Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser FENASOJA – Feira Nacional da Soja – Santa Rosa.

FUNDACEP – Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PROAGRO – Programa de Garantia da Atividade Agropecuária

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SIAL – Sistemas Agroalimentares Localizados

SICREDI – Sistema de Crédito Cooperativo

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul VAB – Valor Adicionado Bruto

(11)

ARTIGO 1 ... 11

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 DO CAMPESINATO A AGRICULTURA FAMILIAR ... 12

3 METODOLOGIA ... 15

4 MUNICIPIOS DA GRANDE SANTA ROSA: COLONIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO ... 16

5 O PAPEL DA AGROPECUÁRIA ... 18

5.1 A AGRICULTURA ... 18

5.2 A PECUÁRIA... 25

6 ESTRUTURA FUNDIÁRIA E APECTOS POPULACIONAIS ... 31

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 33

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 35

ARTIGO 2 ... 36

1 INTRODUÇÃO ... 36

2 METODOLOGIA ... 37

3 SISTEMA AGROALIMENTAR LOCALIZADO DA SOJA: O CASO DE PORTO MAUA 38 4 A DIMENSÃO HISTÓRICA NO SISTEMA AGROALIMENTAR DA SOJA ... 40

5 A DIMENSÃO TÉCNICA NO SISTEMA AGROALIMENTAR DA SOJA ... 46

5.1 ESTRATÉGIAS ENDÓGENAS DOS PRODUTORES RURAIS DE PORTO MAUÁ AO LONGO DO PROCESSO DE INOVAÇÃO TÉNICA ... 54

6 A DIMENSÃO INSTITUCIONAL NO SISTEMA AGROALIMENTAR DA SOJA ... 55

7 A DIMENSÃO ALIMENTICIA NO SISTEMA AGROALIMENTAR DA SOJA ... 59

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 63

(12)

O PAPEL DA AGRICULTURA E DA PECUÁRIA NOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DA GRANDE SANTA ROSA

Resumo: Este artigo busca analisar o papel da agricultura e pecuária na economia dos municípios que compõem a região da Grande Santa Rosa, e os reflexos sociais decorrentes, bem como a mobilidade populacional. A metodologia é qualitativa e quantitativa, baseada em dados secundários, sendo o arcabouço analítico para tal análise embasado na abordagem da agricultura familiar. Através das análises, percebe-se que a região do Grande Santa Rosa está fortemente vinculada a agropecuária desenvolvida em regime familiar de produção em propriedades com tamanho inferior a vinte hectares de área total, reflexo do sistema de colonização utilizado na região. Nestas propriedades onde predominava a produção de alimentos de subsistência, predomina hoje a produção de produtos identificados como commodities agrícolas, ou seja, a soja, o milho, o trigo, o leite e os suínos. Durante muitos anos estas atividades possibilitaram o desenvolvimento da região, mas hoje se apresentam como um desafio para propriedades pequenas onde, nem sempre, as escalas de produção exigidas são possíveis de serem atingidas. A dificuldade em viabilizar a manutenção das famílias neste novo modelo de produção tem seu reflexo explicito no lento e permanente deslocamento de pessoas do meio rural para o urbano, dentro e para fora da região do Grande Santa Rosa. Diante disso algumas alternativas vêm sendo desenvolvidas, algumas ainda incipientes e outras já concretas, mas que necessitam ser avaliadas, estudadas e difundidas, entre elas a agroindustrialização da produção, a fruticultura, o turismo rural, os produtos diferenciados. O desenvolvimento de novas alternativas de renda é a forma de evitar o êxodo de pessoas e de famílias para outras regiões do estado e é uma das maneiras de fortalecer a agricultura familiar nos vinte municípios que compõem a região do Grande Santa Rosa. Palavras-chaves: Grande Santa Rosa; Agricultura; Pecuária.

1 INTRODUÇÃO

O conhecimento da base produtiva de cada região é um ponto fundamental para o entendimento da economia e sociedade locais. Para o caso dos municípios que integram a região da Grande Santa Rosa, o modelo produtivo instaurado na época de sua colonização mantém-se até os dias atuais. Por isso objetiva-se analisar o papel da agricultura e pecuária na economia destes municípios, e os reflexos sociais decorrentes, bem como, a mobilidade populacional.

Para tal feito será feita uma análise teórica do campesinato à agricultura familiar, pois na época da colonização, as pequenas propriedades foram adquiridas por agricultores arraigados pela lógica camponesa. Mas ao longo do tempo, estes foram se mercantilizando, passando à categoria de agricultores familiares, ao incorporarem na sua pauta produtiva

(13)

commodities como a soja e o milho, novas culturas como o tabaco e a fruticultura, e uma tecnificação na suinocultura e na bovinocultura, principalmente de leite.

Este processo de mudanças e incorporação de novas tecnologias e lógicas de mercantilização também tem reflexos nos aspectos populacionais, portanto torna-se necessário um olhar especial para esta questão.

Assim, a fim de corroborar com a análise da conjuntura econômico-produtiva e social dos municípios da região da Grande Santa Rosa, será redigido o presente artigo. No tópico dois, será feita uma revisão acerca do campesinato e da agricultura familiar. Após, será apresentada a metodologia. No tópico quatro será abordada a colonização e a localização destes municípios. No item cinco, será explanado sobre a produção agrícola e pecuária. No tópico seis, serão discutidos os aspectos populacionais e seus reflexos. Por fim, são encaminhadas as considerações finais.

2 DO CAMPESINATO À AGRICULTURA FAMILIAR

A teoria marxista, embasada na concepção da produção simples de mercadorias, apregoava desde o final do século XIX que o campesinato desapareceria, pois sua análise de sociedade se estruturava em duas classes sociais, a burguesia e o proletariado. Porém, ao longo do século XX, o campesinato não se extinguiu; na verdade parte destes camponeses se metamorfosearam, passando a ser identificados como agricultores modernos, com mão-de-obra familiar. Neste sentido, Bruno Jean (1994) refuta a tese marxista, dizendo que a agricultura familiar é na verdade uma criação da economia capitalista moderna, e não um resíduo do processo que era previsto, de extinção do campesinato. Este autor, tipifica o agricultor, como um agricultor moderno que apresenta tríplice identidade, pois é proprietário da terra, empresário capitalista e trabalhador no negócio. Mas apesar desta tríplice identidade, ele não tem três rendas, e quem lucra é a sociedade, pois os agricultores mantêm seus saberes próprios, locais (típico de sociedades camponesas); apresentam um maior grau de validade perante a sociedade do que a indústria, e mantêm um grau de autonomia no gerenciamento de sua propriedade.

O não desaparecimento dos camponeses, deu-se em grande parte devido a mercantilização, processo que inseriu grande parte desses camponeses na lógica do mercado, em diferentes escalas; levando ao surgimento do que alguns autores denominam como

(14)

agricultores familiares. Esta nova denominação passa então, a ser abordada por várias perspectivas teóricas.

Da abordagem teórica da Sociologia da Agricultura destacamos Jan Van der Ploeg, que nos anos 80 caracterizou a agricultura familiar a partir da perspectiva da mercantilização ou da commoditização. Esta, para o autor (1992), leva a mudanças no processo de trabalho agrícola, transformando a agricultura camponesa ou colonial, com alto grau de autonomia; em agricultura familiar, com uma maior externalização das fases da produção produtiva, através da produção técnico-cientifizada; trazendo à tona a emergência de diversos “estilos de agricultura”, onde as unidades familiares podem variar, e até se embasar em elementos basicamente endógenos, demonstrando que a autonomia não vai desaparecer da unidade familiar pela inserção mercantil, pois esta ocorre em graus variados. A relevância desta perspectiva teórica de Ploeg se dá pela abordagem da relação do contexto (dos territórios) com os agricultores, que não são meros receptáculos, mas sim atores, que tem interação com o processo agrícola em que estão inseridos.

Além desta vertente analítica, a relação entre a mercantilização e a agricultura familiar também foi interpretada por outras perspectivas como a funcionalista, onde se exponencia Hugues Lamarche (1993, 1999), que construiu sua explicação a partir de modelos de análise. Discípulo de Mendras, recebeu influências de seus estudos acerca das sociedades camponesas e das formas familiares de agricultura realizadas na Europa, França principalmente. Difere de Mendras ao tentar abarcar o maior número possível de variáveis que estruturam os agricultores familiares autonomamente ou dependentemente do mercado; suas variadas lógicas que dominam tanto suas escolhas produtivas como suas representações de sociedade e/ou ideais de vida.

Lamarche, parte de uma premissa básica. Onde os sistemas de trocas forem organizados pelo mercado, a produção agrícola, em maior ou menor grau, será assegurada por explorações familiares1. Independentes das formações sociais e evoluções históricas, estas se

encontram adaptadas a inúmeras realidades e possibilidades, revelando uma grande heterogeneidade que requer uma análise própria para a compreensão do seu funcionamento e das evoluções das formas sociais de produção agrícola.

Para o autor, o termo exploração familiar se apresenta em situações extremamente variadas, através da análise que tipifica representações de mundo dos próprios agricultores,

1 A situação das explorações familiares, evolução e funcionamento são temas básicos de pesquisa neste trabalho

(15)

onde no modelo proposto, pende-se ao mesmo tempo a observar o seu funcionamento e sua classe, em conjunto com a análise do grau de integração na economia de mercado que varia do modelo original para o ideal.

Assim, analisando o conjunto das lógicas com o grau de dependência, definem-se quatro tipos de relações, quatro modelos de funcionamento: o modelo empresa, o modelo empresa familiar, o modelo agricultura camponesa e o modelo agricultura familiar moderna. A agricultura familiar, para Lamarche (1993), portanto, busca a diminuição constante do papel da família nas relações de produção, pois ao se modernizar utiliza mais tecnologia e menos mão-de-obra familiar, e quando necessário, utiliza mão-de-obra externa a propriedade; e mantém uma autonomia possível. Mas este modelo apresenta deficiência no sentido de que apresenta a crença de que o ator social (agricultor) é o proprietário de suas decisões, quando na verdade a mercantilização e seus processos são normalmente imbuídos de características macro-econômicas, externas à vontade do agricultor e sua família.

Mas, a ideia de Lamarche, de bloqueios e rupturas, de certo modo é compartilhada por Maria de Nazareth Wanderley (2003), que aborda o fato de que a passagem da condição de um camponês para a categoria agricultor familiar moderno, não é definitivo, nem estático, apresentando pontos de rupturas e elementos de continuidade. Para a autora, este processo de passagem se dá quando a família camponesa (que é uma forma social), com lógica de produção e reprodução própria, passa a pautar seu modo de produção no uso de técnicas modernas; constituindo-se assim, a agricultura familiar. Ela afirma que “o camponês tradicional não tem propriamente uma profissão; é o seu modo de vida que articula as múltiplas dimensões de suas atividades. A modernização o transforma num agricultor, profissão sem dúvida, multidimensional” (2003, p. 46).

Essa multidimensionalidade do agricultor moderno pode ser atribuída tanto pela especialização deste agricultor por cursos técnicos, como por novas técnicas exigidas pelo mercado ou pela pluriatividade que este passa a incorporar no cerne familiar. Além disso, outras atividades têm corroborado para uma postura de valorização do agricultor, das amenidades proporcionadas pelo rural; tornando este espaço rural um desejo de consumo.

Esta concepção de que os estudos não devem se ater na agricultura em si, mas no rural, são evidenciados por Marsden (1995), que baseia sua análise sobre agricultura familiar a partir das concepções de Massey e Harvey, onde a involução do fordismo na agricultura leva à necessidade de se estudar o rural, como um processo de estruturação do social e do econômico, abrangendo as relações mercantilistas (com a valoração dos objetos rurais e

(16)

agrícolas, além do artesanato e das pessoas), as relações do produtor x consumidor (consumo de bens materiais), das representações e identidades (bens simbólicos) e as de uso da propriedade (território).

Esse arcabouço de relações levaria a um processo de complexificação do trabalho e da produção, que necessariamente proporcionam uma mudança na relação entre produtores, que passariam a estar mais concatenados com os consumidores e com os mercados, que se estendem além das mercadorias tangíveis, como o turismo rural (serviços), a identidade e o poder político local, integrando os agricultores. Porém, segundo o autor (1991), quando estas relações têm dificuldade de acontecer os agricultores tendem a ser marginalizados, e muitas vezes buscam como alternativa a migração, como vem ocorrendo na maioria dos municípios da Grande Região de Santa Rosa, levando a um esvaziamento populacional.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo e quantitativo, permitindo tanto um aprofundamento dos aspectos subjetivos, quanto objetivos, da realidade empírica.

Teoricamente, esta pesquisa está sustentada na abordagem da agricultura familiar, e de migração, visando à compreensão das dinâmicas econômicas e sociais que vem sendo conjugadas pelos agricultores familiares envolvidos com a produção agrícola e pecuária nos municípios da região da Grande Santa Rosa, no noroeste do Rio Grande do Sul.

O método será descritivo-interpretativo, tendo por base dados secundários, obtidos basicamente através da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ano base para a análise será 2006, devido à realização neste ano do último Censo Agropecuário, que fornece um recorte selecionado de informações sobre as atividades econômicas realizadas pelos produtores, em nível nacional e para os municípios objeto deste estudo. Neste ano também completam dez anos da emancipação dos municípios de Nova Candelária e Senador Salgado Filho.

4 MUNICÍPIOS DA GRANDE SANTA ROSA: COLONIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

O marco da colonização desta região teve início em 1914, com a instalação da sede da Companhia de Terras e Colonização, uma das empresas que atuavam em projetos de colonização, na época, no Estado do Rio Grande do Sul. Assim, a colonização desta região

(17)

teve como protagonizantes, segundo Zarth (1997), agricultores, em sua maioria, jovens casais, advindos das chamadas “Velhas Colônias Gaúchas”2, onde a fronteira agrícola já havia se fechado. Uma parte dos colonizadores veio também da região de Ijuí, Guarani das Missões e Erechim. Estes agricultores eram, em sua maioria, descendentes de alemães e italianos.

Neste projeto de colonização empreendido na região de Santa Rosa, a apropriação da terra ocorreu mediante venda, pela empresa colonizadora que demarcou os lotes de terra, fez a abertura das primeiras estradas e destinou áreas para bens públicos, como escolas. Cada colônia de terra tinha em média 25 hectares, coberto com vegetação nativa. Esta vegetação segundo Specht (2001) serviu como matéria-prima inicial para a construção dos estábulos e demais componentes de infra-estrutura.

O primeiro município instituído foi Santa Rosa, em 1931, na época com uma extensão territorial de 4.070 km2. Posteriormente aconteceram novas emancipações somente em 1954, com a criação dosmunicípios de Horizontina e Três de Maio. No ano de 1955 emanciparam-se Santo Cristo e Porto Lucena. Os demais municípios foram surgindo após sucessivas emancipações, sendo os dois últimos municípios, Nova Candelária e Senador Salgado Filho, emancipados em dezembro de 1995.

Desta forma, hoje a região compreende um total de 20 municípios3, que no intuito de

fortalecer suas forças e otimizar ações pró-ativas, especialmente quanto as possibilidades de acessar recursos públicos, das esferas estaduais e federais, formalizaram em 1964 a Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa (AMGSR). A atividade agropecuária vem sendo desde o início da colonização a mola propulsora da economia desta região, como pode ser visto na FIGURA 1.

2 As Velhas Colônias Gaúchas compreendem as atuais regiões de Garibaldi, Lajeado, Montenegro, Estrela e

Santa Cruz do Sul.

3 Os municípios que compreendem a AMGSR são: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das

Missões, Cândido Godói, Doutor Mauricio Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi.

(18)

FIGURA 1: Agricultura de Ontem e Hoje na Região da Grande Santa Rosa

Este conjunto de municípios está localizado na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (FIGURA 2), ocupando atualmente 4.668,968 km², ou seja, 1,668% da área estadual, sendo constituídos de municípios, em sua maioria, com pequena extensão territorial. Santa Rosa continua tendo a maior extensão territorial, de 489,805 km², já São José do Inhacorá, possui somente 77,806 km² de área. Dos municípios da região, seis fazem divisa com a Argentina e têm o Rio Uruguai como o marco de fronteira.

O relevo da região costeira do Rio Uruguai é bastante acidentado, o que limita a utilização de suas terras com agricultura mecanizada, fato este que não tinha tanta importância quando da colonização das mesmas, pois os serviços eram realizados empregando tração animal ou manualmente. O solo predominante na região é o Latossolo Vermelho, originário de rochas basálticas, e dependendo do relevo, nas partes mais íngremes apresenta incursões de Cambissolos e Neossolos4.

4 O termo Latossolo lembra solos muito profundos, homogêneos e altamente intemperizados. O termo

Cambissolo lembra um solo em processo incipiente de formação. O termo Neossolo, lembra solos novos, pouco desenvolvidos

(19)

FIGURA 2: Mapa de Localização da AMGSR. Fonte: Diário Oficial RS/ 2008

5 O PAPEL DA AGROPECUÁRIA

5.1 A AGRICULTURA

Em toda Região de Santa Rosa a agricultura tem papel fundamental na economia, representando em média, no ano de 2006, 35,82% do Valor Adicionado Bruto (VAB), sendo que o maior percentual foi verificado em Nova Candelária (58,68 %) e o menor em Santa Rosa (6,77%), enquanto que no Estado, neste mesmo ano, o VAB para Agropecuária foi de 9,27%.

No que diz respeito às atividades desenvolvidas na agricultura, destaca-se o cultivo de grãos em todos os municípios, sendo que a cultura da soja ocupa a maior área, num total de 200.970 ha, o que equivale a 42,86% da área total dos municípios. A segunda cultura em ocupação de área é o milho com 99.850 ha cultivados. Em muitos municípios da região a lavoura de milho é cultivada duas vezes na mesma área, em um mesmo ano agrícola, e

(20)

estima-se que esta prática atinja 50% das áreas cultivadas com milho na região. Outro aspecto interessante a ser analisado na região é a questão da produtividade da soja e do milho. Na TABELA 1 observa-se o comportamento da produtividade dos municípios da região em relação à média obtida no estado para as culturas da soja e do milho.

TABELA 1: Produtividade da Soja e Milho nos Municípios da Região de Santa Rosa e no Rio Grande do Sul em 2006

Produtividade 2006

Município Soja Kg/ha Milho Kg/ha % Soja RS % Milho RS

Alecrim 900 1500 46,01 46,48

Alegria 1000 2400 51,12 74,37

Boa Vista do Buricá 1800 3600 92,02 111,56

Campina das Missões 1300 1970 66,46 61,05

Cândido Godói 1470 3240 75,15 100,40 Dr Mauricio Cardoso 1800 3900 92,02 120,86 Horizontina 1391 3100 71,11 96,06 Independência 1600 3000 81,80 92,97 Nova Candelária 1350 2660 69,02 82,43 Novo Machado 2100 3900 107,36 120,86 Porto Lucena 1260 2100 64,42 65,08 Porto Mauá 1950 3600 99,69 111,56

Porto Vera Cruz 1200 2500 61,35 77,47

Santa Rosa 1800 4020 92,02 124,57

Santo Cristo 1200 3300 61,35 102,26

São José do Inhacorá 900 2040 46,01 63,22

Senador Salgado Filho 1736 3000 88,75 92,97

Três de Maio 1800 3650 92,02 113,11

Tucunduva 2160 3600 110,43 111,56

Tuparendi 1920 2717 98,16 84,20

Média dos Municípios 1532 2990 78 93

Rio Grande do Sul 1956 3227 - -

Maior 2160 4020 110,43 124,57

Menor 900 1.500 46,01 46,48

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor.

A cultura da soja, em 2006, na região, poderia ser vista como insatisfatória, já que a média da região foi de 1.532 kg/ha, enquanto que no Estado a produtividade média foi de 1956 kg/ha. Estes índices, porém, devem ser melhor analisados, pois neste ano a

(21)

produtividade do município de Tucunduva foi de 2.160 kg/ha, mas por outro lado, nos municípios de Alecrim e São José do Inhacorá, a produtividade foi somente de 900 kg/ha.

Na cultura do milho a região obteve uma produtividade média mais próxima da obtida no Estado, ou seja, 2.990 kg/ha e 3.227 kg/ha, respectivamente. A melhor média obtida na região no ano de 2006 foi a de Santa Rosa com 4.020 kg/ha e a menor produtividade foi a de Alecrim com 1.500 kg/ha. No ano de 2005, quando da ocorrência da estiagem no estado, na cultura do milho a produtividade da região em estudo, foi superior a do estado em 470 kg/ha, possivelmente em função da época de plantio do milho na região ser mais cedo do que no restante do estado.

Nos últimos anos, a fumicultura também vem conquistando espaço, principalmente nos municípios que possuem confrontação com o Rio Uruguai. Todos os municípios da costa do rio Uruguai possuem o relevo muito acidentado dificultando a mecanização. E nas áreas menos acidentadas onde é cultivada soja, por ser em pequenas propriedades, com o passar dos anos, esta vem dando baixo retorno. Tal conjuntura otimizou a entrada do fumo, uma cultura em que é valorizada a agricultura familiar e não é necessária a mecanização. Os dados sobre o aumento do volume produtivo do fumo pode ser observado no GRÁFICO 1.

A LE C R IM A LE G R IA B O A V IS TA D O B U R IC Á C A M P IN A D A S M IS S Õ E S C A N D ID O G O D O I D R M A U R IC IO C A R D O S O H O R IZ O N TI N A IN D E P E N D Ê N C IA N O V A C A N D E LÁ R IA N O V O M A C H A D O P O R TO L U C E N A P O R TO M A U Á P O R T O V E R A C R U Z S A N TA R O S A S A N TO C R IS T O S Ã O J O S É D O IN H A C O R Á TR E S D E M A IO TU C U N D U V A TU P A R E N D I 1996 -50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

Áreas Cultivadas com Fumo

1996 2006

GRÁFICO 1: Evolução das Áreas de Fumo na Grande Santa Rosa 1996 - 2006 Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor.

(22)

A importância da cultura do fumo é tão grande em alguns municípios, que a renda gerada por hectare com esta cultura nos municípios de Alecrim e de Porto Lucena, se equivale à renda obtida com a soja. No município de Alecrim, no ano de 2006, a renda obtida com o cultivo de soja foi de R$ 1.521.000,00 e com a cultura do fumo foi de R$ 1.563.000,00 em toda área cultivada. Um aspecto a ser salientado é que o município, naquele ano, apresentou uma das menores produtividades de soja por hectare da região, ou seja, 900 kg.

Mas de modo geral, pode-se caracterizar que as três principais culturas agrícolas da região da Grande Santa Rosa são a soja, o milho e o fumo (FIGURA 3).

FIGURA 3: Cultivo de Soja, Milho e Fumo

Mas em termos de área cultivada a soja se destaca em todos os municípios, exceto Alecrim e Porto Vera Cruz (GRÁFICO 2).

Áreas Cultivadas Verão 2006

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 ALEC RIM ALEG RIA BOA VIST A DO BUR ICÁ CAMP INA DAS MISS ÕES CAND IDO GODO I DR M AURI CIO CARD OSO HORI ZONT INA INDE PEND ÊNCI A NOVA CAN DELÁ RIA NOVO MAC HADO PORT O LU CENA PORT O MA UÁ PORT O VE RA C RUZ SANT A RO SA SANT O CR ISTO SÃO JOSÉ DO INHA CORÁ SENA DOR SALG ADO FILH O TRES DE MAIO TUCU NDUV A TUPA REND I

Soja Milho Fumo Total

Gráfico 2: Áreas Cultivadas com Soja, Milho e Fumo e Total das Áreas Ocupadas – 2006 Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor.

(23)

Outra atividade vinculada à agricultura, que teve incremento na região entre os anos de 1996 e 2006, foi a da produção de frutas (FIGURA 4), que aparece como uma alternativa de cultivo para as propriedades com pequenas áreas, com destaque para a laranja e tangerina (TABELA 2), e a uva.

FIGURA 4: Cultivo de Laranja, Tangerina e Uva

TABELA 2: Renda e Produção de Laranja e Tangerina em 1996 e 2006

Laranja – Renda Bruta em R$ mil Tangerina - Renda Bruta em R$ mil Municípios 1996 2006 % 96 - 06 1996 R$ mil 2006 R$ mil % 96 - 06

Alecrim 243 1.214 399,59 311 466 49,84

Alegria 132 72 -45,45 136 62 -54,41

Boa Vista do Buricá 49 520 961,22 128 195 52,34

Campina das Missões 152 189 24,34 140 129 -7,86

Cândido Godói 183 170 -7,10 187 29 -84,49

Dr Mauricio Cardoso 69 150 117,39 78 53 -32,05

Horizontina 94 130 38,30 136 53 -61,03

Independência - 189 - - 50 -

(24)

Novo Machado 105 434 313,33 62 93 50,00

Porto Lucena 145 115 -20,69 65 80 23,08

Porto Mauá 77 298 287,01 40 55 37,50

Porto Vera Cruz 65 369 467,69 47 119 153,19

Santa Rosa 144 795 452,08 181 282 55,80

Santo Cristo 297 1.153 288,22 286 521 82,17

São José do Inhacorá 38 - - 50 - -

Senador Salgado Filho - 235 - - 17 -

Tres de Maio 168 441 162,50 209 260 24,40 Tucunduva 42 217 416,67 40 79 97,50 Tuparendi 274 411 50,00 91 47 -48,35 Soma 2.277 7.193 244,07 2.187 2.615 13,98 Maior 297 1.214 961,22 311 521 153,19 Menor 38 72 -45,45 40 17 -84,49

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor.

O incremento na produção de laranjas nestes 10 anos, analisados em valores, foi em média de 244%, destacando-se municípios como Boa Vista do Buricá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa e Tucunduva que tiveram incremento de renda de 961%, 467%, 452% e 416%, respectivamente. Na produção de tangerinas, também houve incremento na produção, porém bem mais modesto, sendo o incremento médio nos valores da produção de 14%, destacando-se os municípios de Porto Vera Cruz, Tucunduva e Santo Cristo com incrementos de renda de 153%, 97% e 82%, respectivamente. Por outro lado, ocorreram reduções acentuadas nas rendas provenientes da tangerina, nos municípios de Cândido Godói e Horizontina, com reduções de 84% e 61%, respectivamente.

Já em relação à produção de uvas, esta vem crescendo em termos de volume produtivo e geração de renda (TABELA 3), pela sua aceitação comercial no mercado de frutas. Mas esta cultura vem fazendo parte da produção de auto consumo da maioria dos descendentes de italianos, residentes na região desde a colonização.

TABELA 3: Evolução da produção e da renda da cultura da uva, 1996 e 2006

Uva - Produção em toneladas Uva - Renda Bruta em R$ mil Municípios 1996 2006 % 96 - 06 1996 R$ mil 2006 R$ mil % 96 - 06

Alecrim 61 116 90 55 150 172,73

Alegria 28 60 114 25 78 212,00

Boa Vista do Buricá 21 112 433 3 146 4766,67

(25)

Cândido Godói 152 130 -14 137 195 42,34 Dr Mauricio Cardoso 59 105 78 53 137 158,49 Horizontina 83 15 -82 75 20 -73,33 Independência 81 105 Nova Candelária 38 49 Novo Machado 51 200 292 46 260 465,22 Porto Lucena 90 120 33 65 180 176,92 Porto Mauá 40 170 325 36 221 513,89

Porto Vera Cruz 13 35 169 12 46 283,33

Santa Rosa 195 650 233 176 845 380,11

Santo Cristo 101 580 474 91 754 728,57

São José do Inhacorá 11 10

Senador Salgado Filho 18 23

Tres de Maio 131 300 129 118 390 230,51 Tucunduva 89 500 462 80 650 712,50 Tuparendi 189 189 0 170 246 44,71 Soma 1384 3539 1215 4675 Média 176 563 Maior 195 650 176 845 Menor 11 15 3 20

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor

Ao analisarmos a tabela percebe-se um aumento considerável no volume produtivo e conseqüente renda na maioria dos municípios, exceto no município de Horizontina onde o volume produzido sofreu redução de 82%. Mas, numa análise das três culturas frutícolas, o incremento maior na renda ocorreu na produção de uvas, com incremento médio de 563% sendo que o incremento médio no volume produtivo de uvas ficou em 176%, refletindo a boa aceitação deste produto nos mercados.

5.2 A PECUÁRIA

Na pecuária, a região desenvolve três atividades principais: criação de bovinos para produção de carne; criação de bovinos para produção de leite e criação de suínos (FIGURA 5). As demais atividades relacionadas à criação de animais, desenvolvem-se basicamente como atividades de subsistência.

(26)

FIGURA 5: Bovinocultura e Suinocultura

O desenvolvimento da pecuária é maior nos municípios da Grande Santa Rosa, onde o índice de ocupação de áreas para o desenvolvimento de lavouras é menor. O fator desencadeador desta conjuntura é o relevo, que limita as culturas agrícolas que necessitam de mecanização. A bovinocultura se destaca na pecuária, apresentando uma estabilidade produtiva na maioria dos municípios (TABELA 4).

TABELA 4: Número de Bovinos Grande Santa Rosa em 1996, 2005 e 2006. Bovinos

Municípios 1996 2005 2006 % 96 - 06

Alecrim 27.333 27074 27615 1,03

Alegria 9.630 8037 8438 -12,38

Boa Vista do Buricá 17.850 9216 9615 -46,13

Campina das Missões 17.402 18388 18420 5,85

Cândido Godói 17.611 19260 19340 9,82 Dr Mauricio Cardoso 10.807 8149 8556 -20,83 Horizontina 12.763 11926 12522 -1,89 Independência 12.886 10878 11130 -13,63 Nova Candelária 9706 10226 Novo Machado 9.097 8007 8407 -7,58 Porto Lucena 18.806 23010 23470 24,80 Porto Mauá 6.528 6879 7016 7,48

Porto Vera Cruz 8.291 9290 9104 9,81

Santa Rosa 21.178 21268 21693 2,43

Santo Cristo 29.705 30637 30330 2,10

São José do Inhacorá 5.742 6360 6678 16,30

(27)

Três de Maio 19.570 16561 16710 -14,61

Tucunduva 7.952 8223 8305 4,44

Tuparendi 16.354 17833 17750 8,54

Total 269505 278639 283737 Media

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor

No ano de 2006 o plantel bovino desta região era de 283.737 cabeças, destacando-se os municípios de Santo Cristo, Alecrim e Porto Lucena, com 30.330 cabeças, 27.615 cabeças e 23.470 cabeças, respectivamente. Destes três, Porto Lucena teve um incremento no número de cabeças de 24,8% entre os anos de 1996 e 2006, sendo o maior crescimento percentual entre os municípios avaliados. Nestes municípios, a pecuária assume força após a redução da população, principalmente a rural e em função do baixo retorno da cultura de grãos. Mas em sete municípios a bovinocultura decaiu, principalmente em Boa Vista do Buricá.

Do total do rebanho bovino existente, parte é utilizada na produção de leite, que em 40% dos municípios foi o responsável pelo maior valor individual do VAB da agropecuária; sendo que em 30% dos municípios ele é o responsável pelo segundo maior valor da composição do VAB. O número de animais destinados à produção de leite é de 36% do total de bovinos existentes, em média, nos municípios analisados, totalizando 102.774 animais no ano de 2006 (TABELA 5). Os municípios com maior número de animais ordenhados são Três de Maio, Tuparendi, Santo Cristo, Tucunduva e Cândido Godói, que juntos possuem 43,6% das vacas ordenhadas na região. Nos municípios de Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Lucena e Independência predominam a criação de gado para corte, sendo destinado à ordenha, respectivamente, 11%, 17%, 21% e 21% dos animais existentes, o que representa um total de 13.026 cabeças.

TABELA 5: Número de Vacas Ordenhadas por Município, Variação do Número de Vacas Ordenhadas e Percentual do Rebanho Destinado à Produção de Leite em Relação ao Total de Bovinos em 1996, 2005 e 2006

Vacas Ordenhadas ( nº animais )

Municípios 1996 2005 2006 % 96 <-> 06 % rebanho

Alecrim 6.680 4269 4784 -28,38 17

Alegria 3.089 3180 3104 0,49 37

Boa Vista do Buricá 6.240 3826 4026 -35,48 42

Campina das Missões 5.720 7681 7840 37,06 43

Cândido Godói 5.800 8353 8675 49,57 45

Dr Mauricio Cardoso 3.303 2456 2493 -24,52 29

(28)

Independência 3.102 2303 2315 -25,37 21

Nova Candelária 4106 4010 39

Novo Machado 2.425 2893 2915 20,21 35

Porto Lucena 4.460 4850 4912 10,13 21

Porto Mauá 1.454 1788 1790 23,11 26

Porto Vera Cruz 1.798 994 1015 -43,55 11

Santa Rosa 6.914 7795 8397 21,45 39

Santo Cristo 9.001 14412 14630 62,54 48

São José do Inhacorá 1.903 2947 2970 56,07 44

Senador Salgado Filho 3191 3218 38

Três de Maio 6.294 8573 8846 40,55 53

Tucunduva 2.545 3870 3928 54,34 47

Tuparendi 4.331 8588 8810 103,42 50

Soma 79947 100205 102774 Media 36

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor

Cabe ressaltar, a evolução do quadro de animais ordenhados por município, o que demonstra uma clara definição por esta atividade em alguns municípios como Tuparendi, Santo Cristo, São José do Inhacorá e Tucunduva que tiveram incremento de 103%, 62%, 56% e 54 % em relação ao período analisado.

Se comparados os anos de 1996 e 2006, os municípios em estudo obtiveram em média um incremento na produção de leite de 36% em comparação a um aumento de 17% no número de vacas ordenhadas, o que indica um aumento na produção média por animal nos últimos anos. Ao analisar os dados de incremento da produção, observa-se que em municípios como Alegria, Cândido Godói o aumento da produção deu-se exclusivamente pelo aumento do número de animais ordenhados, ao passo que em outros, como Alecrim, Boa Vista do Buricá e Horizontina, apesar da diminuição do número de animais ordenhados, houve incremento na produção, o que indica melhoras tecnológicas no sistema de produção. O quadro mais preocupante e que merece uma melhor avaliação é o do município de Porto Lucena, onde ocorreu uma perda na produção apesar do aumento no número de animais ordenhados.

Outro aspecto importante quando se analisa a produção de leite é o volume produzido, bem como a produção por animal, que em parte identifica a qualidade do plantel e a adequação do manejo deste rebanho (TABELA 6).

(29)

TABELA6: Produção, comparativo entre a variação da produção em relação ao número de animais ordenhados e média de produção por animal por lactação – 1996, 2005 e 2006

Produção de Leite (mil litros) Vacas Ordenhadas Litros/vaca

Municípios 1996 2005 2006 % 96 - 06 2006 % 96 - 06 2006

Alecrim 10357 10932 11369 9,77 4784 -28,38 2376

Alegria 6408 6211 6459 0,80 3104 0,49 2081

Boa Vista do Buricá 11525 11492 12181 5,69 4026 -35,48 3026 Campina das Missões 9804 13955 14212 44,96 7840 37,06 1813

Cândido Godói 13039 19625 19915 52,73 8675 49,57 2296 Dr Mauricio Cardoso 7262 6180 6737 -7,23 2493 -24,52 2702 Horizontina 9000 10529 11371 26,34 4096 -16,20 2776 Independência 7531 5942 6298 -16,37 2315 -25,37 2721 Nova Candelária 10069 10975 4010 2737 Novo Machado 4313 6949 7505 74,01 2915 20,21 2575 Porto Lucena 8730 6317 6665 -23,65 4912 10,13 1357 Porto Mauá 2649 4440 4774 80,22 1790 23,11 2667

Porto Vera Cruz 2863 2229 2419 -15,51 1015 -43,55 2383

Santa Rosa 15653 19916 21709 38,69 8397 21,45 2585

Santo Cristo 21735 38268 40449 86,10 14630 62,54 2765

São José do Inhacorá 4521 7224 7628 68,72 2970 56,07 2568

Senador Salgado Filho 7823 8527 3218 2650

Três de Maio 15898 21592 23535 48,04 8846 40,55 2661

Tucunduva 6677 10273 10890 63,10 3928 54,34 2772

Tuparendi 10169 21003 22473 121,00 8810 103,42 2551

Soma 9341 12048 12805 Soma 102774 Média 2479

Rio Grande do Sul 2625140 1239059 2119

Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor

De maneira geral o volume produzido por animal está acima da média do Estado, que é de 2.119 litros/vaca/lactação, sendo que somente nos municípios de Porto Lucena, Campina das Missões e Alegria a média não é atingida. A melhor média de produção por animal é do município de Boa Vista do Buricá com 3.026 litros/vaca/lactação. Para corroborar com esta análise, serão apresentadas as produções dos anos de 1996, 2005 e 2006, um comparativo entre a variação da produção em relação ao número de animais ordenhados no mesmo período, bem como a apresentação da média de produção por animal por lactação para o ano de 2006.

(30)

A produção de suínos está presente em todos os municípios da Grande Santa Rosa, com destaque para os municípios de Santa Rosa com 81.662 cabeças. No GRÁFICO 3, pode ser observada a evolução da população de suínos nos municípios da região.

Evolução Produção Suinos

-10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 1 2 3 1=1986 2=2005 3=2006 ALEGRIA

BOA VISTA DO BURICÁ CAMPINA DAS MISSÕES CANDIDO GODOI DR MAURICIO CARDOSO HORIZONTINA INDEPENDÊNCIA NOVA CANDELÁRIA NOVO MACHADO PORTO LUCENA PORTO MAUÁ PORTO VERA CRUZ SANTA ROSA SANTO CRISTO SÃO JOSÉ DO INHACORÁ SENADOR SALGADO FILHO TRES DE MAIO

TUCUNDUVA TUPARENDI

GRÁFICO 3: Evolução da Produção de Suínos na AMGSR em 1986, 2005 e 2006. Fonte: Dados FEEDADOS. Acesso em 2010. Compilado pelo autor

No município de Santa Rosa, em 2006 aparece um incremento de 63% a mais em relação ao ano de 1996, e no município de Santo Cristo, que possui com um plantel de mais de 57.000 cabeças em 2006, apresentando um crescimento de 22,59% em relação ao ano de 1996.

Outro município que se destacou no crescimento do seu plantel é Tuparendi com acréscimo de 60% no período de dez anos que foram analisados.

Um fato curioso e preocupante é a densidade de cabeças de suínos por km² verificada no município de Nova Candelária, onde no ano de 2006, havia 526 cabeças/km², superando em muito o segundo mais populoso, Santa Rosa, que é de 166 cabeças/km².

Ainda em relação à economia, é mister ressaltar que a industrialização apresenta índices médios de 11,16%, bem abaixo dos 26,62% da média estadual. As indústrias

(31)

instaladas na região possuem sua produção fortemente vinculada à agricultura, apresentando reflexos diretos com a situação das colheitas e ou, os preços dos produtos agropecuários.

Todo o contexto até aqui apresentado reforça o importante papel da agricultura, com uma estrutura fundiária bem própria, na economia e na sociedade, com reflexos populacionais, nos municípios da Grande Santa Rosa.

6 ESTRUTURA FUNDIÁRIA E ASPECTOS POPULACIONAIS

A estrutura fundiária desta região é bastante peculiar, caracterizada por um grande parcelamento das propriedades, com pequenas extensões territoriais (TABELA 7).

TABELA 7: Número de estabelecimentos agropecuários por estratos selecionados dos municípios da Região do Grande Santa Rosa e total de estabelecimentos por município.

Municípios Numero de estabelecimentos por extrato de área *

A B C D E F G H I J K L M Total

Alecrim 22 51 64 77 69 415 671 315 39 7 2 0 4 1736

Alegria 27 58 81 78 83 352 349 149 20 10 2 0 2 1211

Boa Vista do Buricá 9 26 20 37 25 200 337 109 2 0 0 0 1 766 Camp. das Missões 38 50 51 40 53 286 502 273 24 1 0 0 2 1320

Cândido Godói 113 86 105 76 89 391 624 282 22 2 0 1 3 1794 D. Mauricio Cardoso 17 31 48 64 44 314 400 320 44 5 1 0 8 1296 Horizontina 23 49 70 73 58 284 398 261 36 9 2 0 2 1265 Independência 10 54 64 53 63 328 388 253 70 33 13 3 4 1336 Nova Candelária 6 19 24 24 27 156 289 109 3 0 0 0 4 661 Novo Machado 42 52 53 58 51 289 390 219 33 6 2 0 0 1195 Porto Lucena 42 45 39 42 57 264 442 300 43 8 4 0 7 1293 Porto Mauá 11 20 24 27 20 114 174 118 25 6 0 0 2 541

Porto Vera Cruz 18 23 28 17 20 118 220 107 14 4 3 0 1 573

Santa Rosa 35 110 99 137 102 420 566 370 89 30 6 0 12 1976

0Santo Cristo 25 81 79 94 101 467 862 459 24 6 1 1 3 2203

S. José do Inhacorá 11 11 12 12 19 122 219 79 2 0 0 0 2 489 Sen. Salgado Filho 9 31 37 42 41 179 225 163 30 8 1 0 0 766

Três de Maio 19 47 71 75 87 422 689 579 78 5 3 0 2 2077

Tucunduva 9 29 30 29 31 176 262 246 42 5 1 1 6 867

Tuparendi 24 58 54 63 52 379 498 387 53 11 2 0 3 1584

Soma Região 510 931 1053 1118 1092 5676 8505 5098 693 156 43 6 68 24949 Legenda:

(32)

C- de 2 a menos de 3 ha; D- de 3 a menos que 4 ha; E- de 4 a menos que 5 ha; F- de 5 a menos de 10 ha; G- de10 a menos de 20 ha; H- de 20 a menos de 50 ha; I- de 50 a menos de 100 ha; J- de 100 a menos de 200 ha; K- de 200 a menos de 500 ha; L- de 500 ou mais hectares; M- Produtor sem área.

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006. Compilado pelo autor.

Observando os dados da TABELA 8 percebe-se que o estrato em que predominam as propriedades da região situa-se entre 10 e menos de 20 ha, com 34% dos estabelecimentos; seguido do estrato de 5 a menos de 10 ha com quase 23% dos estabelecimentos. Analisando a tabela sob outra perspectiva vemos que mais de 75% das propriedades da região possuem menos de 20 ha de área total.

Chama a atenção o número de estabelecimentos que possuem de 0 a menos de 1 ha nos municípios de Cândido Godói, Porto Lucena e Novo Machado com 113, 42 e 42 estabelecimentos, respectivamente. Juntos estes municípios possuem mais de 38% dos estabelecimentos da região neste tamanho de áreas, sendo que este porte de estabelecimento representa 2% no total de estabelecimentos da região.

Outra característica interessante a ser abordada são os índices de população rural e urbana e o esvaziamento populacional (TABELA 8)

TABELA 8: Número de pessoas residentes no meio urbano, rural e total da população e percentual de variação para os anos 1996 e 2006 dos Municípios da Grande Santa Rosa.

Municípios

População – 1996 População – 2006 Variação

1996-2006

Rural Urbana Total Rural Urbana Total

Alecrim 7.929 1.440 9.369 5.483 2.075 7.558 -19,33

Alegria 4.194 1.606 5.800 3.243 1.649 4.892 -15,66

Boa Vista do Buricá 5.408 3.679 9.087 2.481 4.015 6.496 -28,51

Campina das Missões 5.446 2.198 7.644 4.175 2.279 6.454 -15,57

Cândido Godói 6.058 1.537 7.595 4.999 1.710 6.709 -11,67 Dr Mauricio Cardoso 4.262 2.480 6.742 3.037 2.589 5.626 -16,55 Horizontina 4.022 12.971 16.993 4.061 14.173 18.234 7,3 Independência 3.830 3.765 7.595 2.875 3.933 6.808 -10,36 Nova Candelária 2.774 219 2.993 2.343 417 2.760 -7,78 Novo Machado 3.545 1.501 5.046 2.709 1.616 4.325 -14,29 Porto Lucena 4.652 2.578 7.230 3.469 2.287 5.756 -20,39 Porto Mauá 2.156 807 2.969 1.691 916 2.607 -11,99

Porto Vera Cruz 2.228 530 2.758 1.659 485 2.144 -22,26

(33)

Santo Cristo 9.023 6.025 15.048 7.262 7.148 14.410 -4,24

São José do Inhacorá 1.871 596 2.467 1.467 712 2.179 -11,67

Senador Salgado Filho 2.357 592 2.949 2.094 778 2.872 -2,61

Três de Maio 7.779 17.006 24.785 5.376 18.117 23.493 -5,21 Tucunduva 3.379 3.278 6.657 2.139 3.821 5.960 -10,47 Tuparendi 4.689 4.947 9.636 3.778 5.157 8.935 -7,27 Soma Região 94.884 121.025 215.909 72.476 130.155 202.631 -6,26 Maior 9.283 53.270 62.553 8.135 56.278 64.413 7,30 Menor 1.871 219 2.467 1.467 417 2.144 -28,51

Rio Grande do Sul 2.317.613 6.192.045 8.509.658 1.746.188 8.789.821 10.536.009 23,81 Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006. Compilado pelo autor

Analisando os dados da TABELA 8, observa-se que a mão-de-obra é ocupada principalmente no rural, quando dos vinte municípios que compõem a região da Grande Santa Rosa, em 1996, somente os municípios de Horizontina, Santa Rosa, Três de Maio e Tuparendi possuíam população urbana superior à população rural. Em 2006 foram acrescidos Boa Vista do Buricá, Independência e Tucunduva, como de maior taxa urbana. Estes dados são resultado de duas questões importantes; (i) a agropecuária desde os primórdios da colonização continua sendo a atividade econômica mais significativa, e por isso a que congrega maior número de trabalhadores, e (ii) os estabelecimentos agropecuários são em sua maioria pequenos territorialmente, com mão-de-obra familiar.

Por outro lado, este alto percentual de população rural também torna os índices de população absoluta vulneráveis, pois sempre que houver frustração de safra e afins, haverá uma tendência de esvaziamento populacional do campo, e conseqüentemente nos índices totais. No período compreendido entre 1996 e o ano de 2006, houve a perda de 13.278 habitantes, sendo que a redução ocorreu em praticamente todos os municípios, com exceção de Santa Rosa e Horizontina, mais industrializados, que tiveram crescimentos positivos, mas abaixo do verificado no Estado, que neste mesmo período teve uma variação positiva da ordem de 23,81%.

A perda de população em alguns municípios como em Boa Vista do Buricá, Porto Vera Cruz e Porto Lucena atingiu altos percentuais, na ordem de 28,51%, 22,26% e 20,39%, respectivamente. Um dos possíveis motivos foi a frustração na produção agrícola da maioria dos grãos em 2005, devido à estiagem, acarretando perda de renda, um estímulo para a busca por alternativas fora do meio rural na região, e como a região não tem muitas alternativas de emprego, a opção é o deslocamento para outras regiões. Dentro da região ocorreu uma

(34)

migração do campo para a cidade, porém não direta, pois das propriedades rurais dos municípios da Grande Santa Rosa saíram 22.408 pessoas no período avaliado e ingressaram nas cidades um contingente de 9.130 pessoas o que reforça que a migração principal foi para outras regiões.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os municípios pertencentes à Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa são de pequeno porte e possuem um vínculo muito forte com a agropecuária familiar.

O processo de colonização, realizada através da comercialização de pequenos lotes de terra definiu o perfil fundiário da região, o qual permanece até hoje, predominando propriedades com até 20 ha de área e que correspondem a 75% do total. Nestas propriedades o traço marcante foi à produção de alimentos para subsistência valorizando o saber e a cultura local e a mão de obra familiar.

O processo de modernização da agricultura levou estas propriedades a incorporarem novas culturas como a soja, uma cultura exigente em escalas de produção cada vez maiores e que mesmo assim predomina como a cultura de maior importância em ocupação de área nas pequenas propriedades. Este fato merece uma avaliação específica e que pode ser alvo de outro estudo, por considerar que o cultivo da soja extrapola simplesmente o aspecto comercial e já faz parte da “cultura” da região.

Esta mesma modernização definiu um novo modo de produção mais dependente de fatores exógenos às propriedades e proporcionou a mecanização de diversas atividades limitando a oferta de trabalho e renda na agricultura. Estas limitações foram determinantes para que ocorresse um processo de êxodo, principalmente de famílias do meio rural para os meios urbanos da região, e predominantemente para outras regiões do estado, considerando que as oportunidades de trabalho em outras atividades são limitadas nos municípios da Grande Santa Rosa.

Na agropecuária, as principais culturas e criações atuais são commodities agrícolas como a soja, o milho, o trigo, o leite e os suínos, o que dificulta uma maior participação dos produtores na definição dos preços pagos pelos produtos, sofrendo automaticamente com as oscilações impostas pelos mercados atribuindo, desta forma, novos desafios de gestão e tecnologias a estes agricultores familiares.

(35)

Em alguns municípios, frutos das condições de relevo e de aptidão dos solos estão ocorrendo mudanças no perfil da produção das propriedades, diminuindo a participação de grãos como a soja, para desenvolver culturas como o cultivo de fumo, de frutas e desenvolver a atividade de criação de bovinos, sejam para produção de leite ou para a produção de carne.

O aumento na diversificação é um reflexo de que existe a necessidade de buscar alternativas ao modelo atual, o que não significa a mudança total e, sim a adequação à novas possibilidades como a agroindustrialização, os produtos diferenciados, a fruticultura, o turismo rural, mas sempre mantendo a raiz na agricultura familiar.

A produção de frutíferas aparece como uma alternativa e que apresenta crescimento nos últimos anos, impulsionada pelas condições climáticas da região, que permitem antecipação do período de colheita em relação a outras regiões do estado, bem como o cultivo de algumas espécies tropicais como o abacaxi, a banana e a manga, abrindo um mercado interessante para os produtores da região.

Outra característica da região é a de que muitos dos municípios foram emancipados recentemente o que lhes desafia a buscar a adaptação a esta nova conjuntura, reavaliando os aspectos administrativos e produtivos, buscando os que são mais adequados à realidade de cada um.

Portanto trata-se de uma região que nos seus cem anos de colonização, passou por muitas mudanças no seu contexto produtivo, adaptou-se à novas realidades, incorporou novas tecnologias, viu parte de seu povo ter que sair em busca de oportunidades, mas não perdeu o seu traço original de agricultor familiar e produtor de alimentos.

Fica portando, o desafio de potencializar as alternativas e de identificar novas oportunidades para manter os agricultores familiares nas suas propriedades com qualidade de vida e renda compatíveis com suas necessidades.

(36)

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEEDADOS. Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. Disponível em: <http://www.fee.rsa.gov.br/feedados/consulta/sel_modulo_pesquisa.asp>. Acesso em: fev. 2010.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 1995-1996: Rio Grande do Sul, número 22. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

IBGE-SIDRA. Sistema Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. de Recuperação Automática. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: fev. 2010.

JEAN, B. A Forma Social da Agricultura Familiar Contemporânea.: sobrevivência ou criação da economia moderna. Cadernos de Sociologia PPGS/UFRGS, v. 6. Porto Alegre: 1994. p. 76-89.

LAMARCHE, H. (Coord.). A Agricultura Familiar I: uma realidade multiforme. Campinas: Editora da Unicamp, 1993.

_______________ (Coord.). A Agricultura Familiar II: do mito à realidade. Campinas: Editora da Unicamp, 1999.

MARSDEN, T. Beyond Agriculture? Regulating the new rural spaces. Journal of Rural Studies. v.11, n. 3. London: 1995. p.285-296.

MENDRAS, H. Sociedades Camponesas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

SPECHT. Suzimary. A Migração e seu Reverso, entre o Município de Salvador do Sul (RS) e o Oeste Catarinense (1950-2000). Dissertação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Porto Alegre, 2001.

VAN DER PLOEG, J. D. El Processo de Trabajo Agricola y la Mercantilizacion. In: GUZMAN, E. S. (Ed.). Ecologia, Campesinado y Historia. España: Las Ediciones de la Piqueta, 1992.

WANDERLEY, M. N. B. Agricultura Familiar e Campesinato: ruptures e continuidades. In: Estudos Sociedade e Agricultura. n. 21. Rio de Janeiro: 2003. p. 42-62.

ZARTH, P. A. História Agrária do Planalto Gaúcho 1950-1920. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1997.

(37)

SISTEMA AGROALIMENTAR LOCALIZADO DA SOJA: O CASO DE PORTO MAUÁ - RS

Resumo: Este estudo tem por objetivo analisar a cultura da soja no município de Porto Mauá, no noroeste do Rio Grande do Sul, que por suas características fundiárias e perfil produtivo não reflete o modelo atual preconizado para este tipo de cultura e objetiva também compreender as dinâmicas econômicas e sociais decorrentes do cultivo da soja neste município. A metodologia é qualitativa e quantitativa, baseada em dezesseis entrevistas a atores do processo produtivo da soja no município, bem como em dados secundários, estando a pesquisa sustentada na abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados – SIAL. A cultura introduzida no município como alternativa de alimentação para os suínos ganhou espaço e transformou-se em uma das lavouras de maior expressão local, regional e estadual. Com o crescimento de sua importância, novos desafios foram surgindo, tecnologias foram sendo desenvolvidas e mercados foram sendo estruturados bem como novas lógicas de produção foram implantadas. De uma produção em pequena quantidade, passou a exigir escalas cada vez maiores de produção em detrimento de retornos individuais cada vez menores. Contrariando a lógica, a cultura continua sendo plantada em pequenas lavouras nas propriedades familiares do município, sendo o seu cultivo não somente baseado na premissa do máximo retorno econômico, defendida por muitos, mas sim passou a fazer parte da cultura local em função do vinculo construído ao longo de décadas de cultivo. O desafio de permanecer produzindo, adotando as novas tecnologias como o plantio direto, variedades geneticamente modificadas, insumos modernos em quantidade cada vez maiores, considerando o perfil dos produtores do município, e um exercício diário e que para ser superado necessita da cooperação entre todos os atores envolvidos no processo, e principalmente dos agricultores familiares de Porto Mauá.

Palavras chaves: Soja. Porto Mauá. Agricultura familiar. Sistemas Agroalimentares Locais 1INTRODUÇÃO

A identificação de uma determinada região com algumas atividades ou com certos cultivos e uma característica bastante corriqueira no estado do Rio Grande do Sul, seja por questões culturais, seja por aptidão de solo ou de clima, seja pelo fato de a mesma fazer parte da história de uma comunidade. Basta falar em uva e vinho, lembramos a serra gaucha, falamos em pêssego, lembramos a região de Pelotas, falamos de soja, lembramos a região do Grande Santa Rosa, nacionalmente conhecida como o “berço nacional da soja”, citando somente algumas associações entre culturas e regiões das tantas outras existentes neste estado afora

Das lavouras da região a cultura da soja ganhou o estado do Rio Grande do Sul e atualmente é cultivada em quase todo o Brasil, tendo sido nos últimos anos uma das culturas de maior importância para a agricultura do país. No ano de 2008 o “complexo soja”, foi

(38)

responsável por 30,8 % das exportações agrícolas brasileiras, seguido de perto pela exportação de carnes, que para sua produção, tem na soja um importante insumo.

Do ano de 1947, quando a cultura teve seu primeiro impulso comercial de maior expressão, e até os dias de hoje, passados 63 anos, os agricultores de Porto Mauá, objeto deste estudo, mantêm a dedicação em produzir a oleaginosa, destinando anualmente, em média, 38% da área do território do município para a lavoura da soja, onde são produzidas mais de 7.800 toneladas do grão.

Nas últimas décadas muitas mudanças aconteceram no município em relação à soja, de uma cultura dedicada a alimentar suínos nas pequenas propriedades dos colonizadores até se tornar uma das maiores commodities agrícolas do planeta mudou consideravelmente a forma como ela é produzida.

A mecanização, os insumos modernos, a biotecnologia e o mercado, imprimiram um novo ritmo a produção, exigindo investimentos cada vez maiores que impõem escalas de produção proporcionais aos investimentos em função de margens de retorno limitadas.

Dentro deste novo cenário estão os produtores de Porto Mauá, na sua maioria agricultores familiares, mantendo a produção da soja e buscando as alternativas necessárias a sua viabilização.

O objetivo deste artigo é fazer uma análise das perspectivas dos agricultores familiares da região, mais especificamente dos agricultores do município de Porto Mauá, em relação à cultura da soja.

O estudo será dividido em tópicos de modo a adequar a avaliação a metodologia de abordagem. No tópico dois será descrita a metodologia. No seguinte será feita a abordagem sobre os SIAL. Nos tópicos seguintes serão abordados as dimensões, histórica, técnica, institucional e alimentícia da cultura da soja em Porto Mauá e por fim as considerações finais.

2METODOLOGIA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo e quantitativo, visando o aprofundamento dos aspectos objetivos e subjetivos da realidade empírica. O método será exploratório e descritivo-interpretativo.

Teoricamente, esta pesquisa está sustentada na abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados - SIAL, visando à compreensão das dinâmicas econômicas e sociais decorrentes da produção de soja no município de Porto Mauá, no Rio Grande do Sul.

Referências

Documentos relacionados

Na população estudada, distúrbios de vias aéreas e hábito de falar muito (fatores decorrentes de alterações relacionadas à saúde), presença de ruído ao telefone (fator

Na Figura 4.7 está representado 5 segundos dos testes realizados à amostra 4, que tem os elétrodos aplicados na parte inferior do tórax (anterior) e à amostra 2 com elétrodos

The objectives of this article are as follows: (1) to describe the assessment protocol used to outline people with probable dementia in Primary Health Care; (2) to show the

The objective of this study was to evaluate the influence of sorghum silage diets with different grain concentrate levels on ruminal parameters, nutrient intake and

Pretendo, a partir de agora, me focar detalhadamente nas Investigações Filosóficas e realizar uma leitura pormenorizada das §§65-88, com o fim de apresentar e

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem

A metodologia utilizada no presente trabalho buscou estabelecer formas para responder o questionamento da pesquisa: se existe diferença na percepção da qualidade de

Por meio destes jogos, o professor ainda pode diagnosticar melhor suas fragilidades (ou potencialidades). E, ainda, o próprio aluno pode aumentar a sua percepção quanto