• Nenhum resultado encontrado

I - UNIÃO FEDERAL, representada pelo Procurador Chefe da Procuradoria da União em Goiás, situada na Rua 82, nº 179, Setor Sul, Goiânia-GO; e

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "I - UNIÃO FEDERAL, representada pelo Procurador Chefe da Procuradoria da União em Goiás, situada na Rua 82, nº 179, Setor Sul, Goiânia-GO; e"

Copied!
19
0
0

Texto

(1)

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 7ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS

Processo: 2006.35.00.011128-1

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, através da Procuradora da República que subscreve a presente exordial, com atuação no Ofício do Consumidor e Ordem Econômica, vem perante V. Exa., com suporte no art. 129, III, da Constituição Federal de 1988, bem como do art. 1º, II e IV da Lei nº 7.347/85 e arts. 82, III e 91 da Lei nº 8.078/90, Decreto-Lei nº 7.841/45, além dos dispositivos pertinentes na Lei Complementar nº 75/93, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

, com pedido de ANTECIPAÇÃO DE TUTELA,

em face de

I - UNIÃO FEDERAL, representada pelo Procurador Chefe da Procuradoria

da União em Goiás, situada na Rua 82, nº 179, Setor Sul, Goiânia-GO; e

II - DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, autarquia

federal com sede, no Estado de Goiás, na Av. 31 de Março, nº 593, Setor Sul,

CEP 74.080-400, Goiânia-GO, na pessoa de seu representante legal;

pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

(2)

D

OS

F

ATOS

A partir de denúncia protocolada nesta Procuradoria da República em Goiás, dando conta de irregularidades no tocante à classificação aposta nos rótulos das embalagens de água comercializadas neste Estado, instaurou-se o procedimento administrativo em anexo, com o objetivo de se apurar os fatos noticiados.

No ano de 1945 ocorreu a regulamentação, no País, das águas minerais e potáveis de mesa, quanto à sua utilização em balneários ou em escala comercial (engarrafamento), entrando em vigor o Decreto-Lei nº 7.841, de 08/08/1945, denominado "Código de Águas Minerais", vigente, com poucas alterações, até os dias de hoje.

A classificação das águas minerais brasileiras, fundamentada naquele Código de Águas Minerais, tem por base a composição química e as características físicas, físico-químicas e microbiológicas, que são propriedades variáveis e inerentes a cada tipo de água proveniente do subsolo.

Referido Diploma Legal distingue duas classes de águas passíveis de engarrafamento e comercialização, a primeira denominada ÁGUA MINERAL, por conter "composição química ou propriedades físicas ou

físico-químicas distintas das águas comuns, com características que lhes confiram uma ação medicamentosa" (art. 1.º), e, a segunda, composta pelas águas que não

possuam ação medicamentosa, cuja característica exigida é simplesmente a potabilidade, denominadas ÁGUA POTÁVEL DE MESA (art.3.º).

Durante a instrução do procedimento administrativo, apurou-se que as águas envasadas e comercializadas em Goiás, por várias empresas concessionárias, são irregularmente denominadas "minerais", uma vez que não preenchem os requisitos legais para se enquadrarem nessa classificação. Por sua vez, o Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é, por delegação legal, o órgão

(3)

responsável pela classificação, expedindo, após o procedimento de praxe, um alvará que autoriza a exploração comercial da água de determinada fonte.

No Brasil, os testes analíticos indispensáveis para se proceder à classificação das águas são realizados em laboratório oficial credenciado pelo DNPM, o LAMIN - Laboratório de Análises Minerais, sobre o qual se centraliza a responsabilidade pela coleta das amostras, do estudo in loco, das análises e seus resultados.

O DNPM, de posse do laudo técnico elaborado pelo laboratório oficial, realiza a devida classificação da amostra da água analisada, de acordo com o Código de Águas e legislação complementar de competência da área da saúde/vigilância sanitária. Essa classificação é posteriormente inserida nos rótulos das embalagens das águas destinadas ao comércio, rótulos esses que também dependem de aprovação pelo DNPM.

Todavia, como será demonstrado, o DNPM vem infringindo o Código de Águas Minerais, ao autorizar a aposição da denominação ÁGUA MINERAL nos rótulos de embalagens de águas potáveis comuns, pois referido diploma legal somente permite a classificação dessas águas como ÁGUA POTÁVEL DE MESA, as quais são também sujeitas a exploração comercial, mas apresentam características distintas das encontradas nas águas minerais.

As empresas engarrafadoras de águas, a seu turno, demonstram uma preferência incontida por utilizarem-se da denominação ÁGUA MINERAL, pois assim podem valer-se das vantagens tributárias que são concedidas a tal água pelo artigo 37 do Código de Águas Minerais, nos termos do qual a água mineral encontra-se sujeita ao limite máximo de tributação de 8%, enquanto quem envasa água potável de mesa paga, no mínimo, 16%. Tal benefício tributário justifica-se em razão de serem as águas minerais consideradas pela legislação como medicamento.

Assim, em virtude da incorreta classificação aposta nos rótulos da maioria das águas colocadas no mercado, o consumidor é enganado e o erário

(4)

é lesado. Para se verificar a dimensão do dano, basta observar-se que o consumo de águas engarrafadas cresce a cada dia, havendo um número indeterminado de residências, estabelecimentos comerciais, bancos e órgãos públicos que só se utilizam de águas envasadas, provenientes de minas ou poços de captação.

Tomemos, como exemplo, o disparate entre a rotulagem das Águas Lia (fl. 58) e Ipê (fl. 67) e os dados fornecidos pelo próprio DNPM, respectivamente em fl. 59 e 68 do P.A.: nos rótulos tem-se a denominação "Água Mineral Natural", enquanto que nos dados técnicos sobre a fonte, mantidos pela Autarquia, a classificação dada quanto à composição química da água extraída da fonte é "Água Potável de Mesa". Percebe-se que a falsa classificação é utilizada somente no rótulo do produto, pois nos dados técnicos, que não chegam ao conhecimento do consumidor, a classificação correta vigora, o que demonstra a clara intenção de enganar o consumidor.

Analisando-se, por fim, os dois rótulos da "Água Cristalmina", que encontram-se em fl.160 do P.A., pode-se vislumbrar a medida da displicência do DNPM em seu papel institucional. No mais antigo, em que consta a análise, realizada pela Autarquia em 09/09/99, da água da fonte "Bom Jardim", localizada no Km. 17 da Rod. S. Miguel, em Bela Vista/GO, o produto é classificado como ÁGUA NATURAL. Já no mais recente, com análise datada de 15/08/03, realizada sobre a água da mesma fonte "Bom Jardim", a classificação dada ao mesmo produto, pelo DNPM, é ÁGUA MINERAL NATURAL, deixando no ar a sugestão de que a fonte, que emanava água natural, teria misteriosamente passado a jorrar água mineral.

Por sua vez, a denominação contida em várias marcas, contendo os dizeres "água mineral fluoretada" também deve ser retirada, pois o art. 35 do Código de Águas não contempla o elemento Flúor como determinante para a classificação de uma água como mineral.

Na verdade, além de o flúor não possuir ação medicamentosa, mas tão somente no combate à cárie dentária, no Brasil, desde 1974 é obrigatória a fluoretação de todo o sistema de abastecimento público de água tratada, nos

(5)

termos da Lei 6.050/74 e Decreto 76.872/75. Nem por isso a água que se obtém nas torneiras das residências pode ser classificada como mineral.

Deve-se observar, ainda, que a classificação das fontes de águas quanto à temperatura, também prevista no art. 36, por si só não tem o condão de qualificar a água como mineral, principalmente no que diz respeito a sua utilização para ingestão humana. Por este motivo, a classificação ÁGUA MINERAL HIPOTERMAL NA FONTE não pode ser aceita quando sua composição físico-química não se enquadrar, também, em algum dos incisos do art. 35 daquele Código.

Com a intenção de melhor instruir os autos do procedimento administrativo instaurado no âmbito desta PR/GO, o MPF solicitou o auxílio técnico de profissionais das áreas de química, farmácia e geologia.

Em resposta a quesitos formulados pelo MPF, o professor da Faculdade de Química da UFG Dr. Wilson Botter Júnior, assim como a perita da 4.ª CCR, da Procuradoria Geral da República, Engenheira Sanitária Sheila Telles Meyer, prestaram os seguintes esclarecimentos:

Quesito 01. Após a análise da composição química contida nos rótulos das

marcas de água anexadas aos autos e documentos correlatos (fls. 50-75), pode-se afirmar que alguma delas atinge os critérios estabelecidos no art. 35 do Decreto-Lei nº 7.841/85 para que possa obter a classificação de água mineral?

Resposta ao quesito:

Wilson Botter: Não! Após a análise da composição química contida nos rótulos das embalagens das marcas de água anexadas aos autos e documentos correlatos, NÃO se pode afirmar que alguma delas atinge os critérios estabelecidos no art. 35 do Decreto-Lei nº 7.841/45 para que possa obter a classificação de água mineral. Pelo contrário, as concentrações de íons (cátions e ânions) estão muito abaixo do especificado naquela norma legal; por outro lado, para serem consideradas como 'oligominerais' (art. 35, I) deveriam atender ao disposto nos §§ 2º e 3º do art. 1º do mencionado Decreto-Lei...

(6)

Sheila Telles: Conclusões:- as águas são classificadas como Água Mineral Natural ou Água Natural (Resolução RDC n.º 274/05). Não existe no regulamento técnico para águas envasadas a designação água hipotermal na fonte, o que não deveria constar do rótulo; (...)

- não existe no Código de Águas Minerais a classificação de uma água como sódica ...;

- conforme a legislação a Água Mineral Natural São Lourenço, não pode ser classificada como alcalino-bicarbonada;

- não existe na legislação vigente a classificação de água mineral carbonada; (...)

- não foram encontrados dados teóricos ou legislação que possam embasar a classificação de uma água como fluoretada ou litinada para concentrações de fluoretos e sais de lítio a partir de 0,01 mg/L. Conforme contato telefônico, o DNPM estaria utilizando esses valores para a classificação de águas. (...)

- a "Água Mineral Natural Acqua Lia" não é Água Mineral, segundo o Código de Águas Minerais; (...)

- a "Água Mineral Natural Ipê" não é Água Mineral, conforme classificação do próprio DNPM é uma Água Natural ou Potável de Mesa;

Quesito 03 - No que se refere aos fatores pH e condutividade, dependendo

dos valores encontrados em determinada análise para esses ítens, pode haver impedimento para a classificação de uma água como mineral?

Resposta ao quesito:

Sheila Telles: (...) a classificação de uma água como mineral está baseada na sua ação medicamentosa e não nos valores de pH e condutividade. Valores extremos de pH podem causar problemas de saúde

Quesito 04. A presença do elemento Flúor em dada amostra de água, em

quantitativo digno de nota, pode vir a ser, por si só, considerado como determinante na classificação de uma água como mineral?

Resposta:

Wilson Botter: (...) Logo, pelo fato de o flúor ser encontrado em condições específicas de solo e características da água, esse parâmetro químico, mesmo em concentrações elevadas, não caracteriza, isoladamente, fortes indícios de que uma água é classificada como mineral."

Sheila Telles: conforme o Código de Águas Minerais águas que tenham ação medicamentosa comprovada podem ser classificadas como minerais,

(7)

desde que os estudos sejam fiscalizados e aprovados pela Comissão Permanente de Crenologia;

- não foi encontrado embasamento técnico ou legal para que o DNPM classifique como fluoretadas águas que apresentam teor de fluoretos a partir de 0.01 mg/L; (...)

- a OMS considera que seus efeitos positivos na prevenção à cárie ocorrem a partir da concentração de fluoretos em água de 0,5 mg/L e estabelece um valor máximo de 1,5 mg/L.

Quesito 06. A classificação de uma água, no que se refere à temperatura

de sua fonte (art. 36 do Dec-Lei 7841/45) pode, somente por este aspecto, conferir-lhe a característica de água mineral? Ou seja, uma água pode ser considerada mineral apenas, por exemplo, porque sua fonte foi classificada como hipotermal?

Resposta:

Wilson Botter:De fato NÃO. As variações na temperatura são parte de regime climático normal.(...) A temperatura da água interfere em outras propriedades, como: acelera as reações químicas, reduz a solubilidade dos gases, acentua o odor, fluoretação, solubilidade e ionização das substâncias, com a mudança do Ph, etc.

Sheila Telles: - a temperatura da água na fonte não é suficiente para

caracterizar essa água como água mineral, a não ser que a mesma seja utilizada diretamente na fonte ou nas suas proximidades.

- conforme a legislação em vigor, no rótulo de uma água mineral o uso da denominação hipotermal é incorreta (pág.49);

Quesito 07. As águas naturais denominadas oligominerais (art. 35, I), assim

denominadas por possuírem concentração de sais em quantidade inferior aos limites estabelecidos no art. 35 do Código de Águas, sendo por isso consideradas águas leves, podem, sem que haja o prévio estudo conclusivo previsto no art. 1°, §§ 2º e 3º do Decreto-Lei nº 7.841/45, vir a ser consideradas como minerais?

Resposta:

Wilson Botter: (...) Assim, se a água não possui as concentrações de sais estabelecidas no art. 35 do Código de Águas, obrigatoriamente tem de haver um prévio estudo conclusivo, previsto no art. 1º, §§ 2º e 3º do Decreto-Lei nº 7.841/45, para classificá-la em função do agente químico em maior concentração presente e que possua atividade medicamentosa específica e concentração limite não prejudicial à saúde.

(8)

Sheila Telles: as águas oligominerais só podem ser classificadas como minerais após a realização de estudos que devem ser fiscalizados e aprovados pela Comissão Permanente de Crenologia;

Quesito 08 - Existe a possibilidade de que a composição química da água

de determinada fonte de captação possa se alterar com o tempo, ao ponto de sua classificação transmudar-se de água comum para mineral?

Resposta:

Sheila Telles: a composição química da água não se altera naturalmente; - deve ser verificado se estão sendo realizados processos que alterem a qualidade da água, o que estaria em desacordo com a legislação;

O ilustre professor da UFG frisou a necessidade "diária e rotineira" da realização de análises químicas e bacteriológicas nas águas envasadas, além da freqüente desinfecção de tubulações e filtros utilizados, acenando para a necessidade de o órgão regulador exigir a manutenção de profissionais químicos nas empresas engarrafadoras de águas, a fim de controlar a qualidade do produto.

Já em resposta a indagações formuladas pelo Ministério Público do Pará, a própria Comissão Permanente de Crenologia do DNPM esclareceu (fl.397):

2. Sendo a ação medicamentosa pressuposto primário para a classificação das águas minerais, conforme o Código de Águas Minerais, como se pode classificar alguma água como mineral sem que a mesma tenha ação medicamentosa comprovada?

Não é possível, exatamente pelos motivos explanados na resposta ao quesito anterior. Na hipótese de não ficar caracterizada propriedades medicamentosas, águas desta natureza devem ser classificadas como

águas potáveis de mesa.

Todavia, o DNPM não tem posto em prática seu entendimento teórico, já que autoriza, sem critério legal, a apresentação e comercialização de águas comuns, sem qualidades medicamentosas, como se fossem minerais.

(9)

D

O

D

IREITO

A negligência do DNPM tem violado o direito à correta informação quanto aos produtos ofertados no mercado de consumo, induzindo o consumidor a adquirir um produto diverso do que lhe é apresentado, em desrespeito a princípios insculpidos no Código de Defesa do Consumidor, o qual veda expressamente práticas similares às adotadas no caso em apreço:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

A seu turno, a correta regulamentação das águas, no País, é dada pelo Decreto-Lei nº 7.841/45, Código de Águas Minerais, o qual dispõe:

Art. 1º. Águas minerais são aquelas provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas, que possuem composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns, com características que lhes confiram uma ação medicamentosa.

§1º. A presente lei estabelece nos capítulos VII e VIII as caractarísticas de composição e propriedades para classificação como água mineral pela imediata atribuição de ação medicamentosa.

§2º. Poderão ser, também, classificadas como minerais, águas que, mesmo sem atingir os limites da classificação estabelecida nos capítulos VII e VIII, possuam inconteste e comprovada ação medicamentosa.

§3º. A ação medicamentosa referida no parágrafo anterior das águas que não atinjam os limites da classificação estabelecida nos capítulos VII e VIII deverá ser comprovada no local, mediante observações repetidas, estatísticas completas, documentos de ordem clínica e de laboratório, a cargo de médicos crenologistas, sujeitas as observações a fiscalização e aprovação da Comissão Permanente de Crenologia definida no art. 2º desta lei."

(10)

(...)

"Art. 3º. Serão denominadas "águas potáveis de mesa" as águas de composição normal provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas, que preencham tão somente as condições de potabilidade para a região."

Vê-se que o critério legal para a definição de ÁGUA MINERAL gira em torno de sua ação medicamentosa, a qual decorre de uma composição química ou físico-química diversa da que compõe a água natural. Todavia, sob o impacto da comercialização em larga escala e a contemporização do DNPM, ocorreu a completa descaracterização da denominação ÁGUA MINERAL, uma vez que o aspecto medicinal (comprovação dos efeitos terapêuticos) foi deixado de lado, em desrespeito à legislação.

Além do mais, observa-se no mercado uma grande variedade de águas que, apesar de apresentar características físico-químicas diversas das naturais, não apresentam qualquer tipo de ação medicamentosa ou terapêutica. O prejudicado, certamente, é o consumidor, que aceita pagar um valor mais elevado por acreditar que estará consumindo um produto mais benéfico à sua saúde, desconhecendo, no entanto, que o produto que adquiriu não traz em si a excepcionalidade imaginada.

Quanto à classificação legal, o Decreto-Lei nº 7.841/45 apresenta, no artigo 35, as classificações possíveis de ser atribuídas às águas minerais e, no artigo 36, às fontes de águas minerais:

CAPÍTULO VII

DA CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DAS ÁGUAS MINERAIS

Art. 35. As águas minerais serão classificadas, quanto á composição química em:

I. Oligominerais, quando, apesar de não atingirem os limites estabelecidos neste artigo, forem classificadas como minerais pelo disposto nos §§ 2º e 3º do art. 1º da presente lei.

II. Radíferas, quando contiverem substâncias radioativas dissolvidas que lhes atribuam radioatividade permanente.

(11)

III. Alcalino-bicarbonatadas, as que contiverem, por litro, uma quantidade de compostos alcalinos equivalente, no mínimo, a 0,200 g de bicarbonato de sódio.

IV. Alcalino-terrosas as que contiverem, por litro, uma quantidade de compostos alcalino-terrosos equivalente no mínimo a 0,120 g do carbonato de cálcio, distinguindo-se:

a) alcalino-terrosas cálcicas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,048 g de cationte Ca, sob a forma do bicarbonato de cálcio;

b) alcalino-terrosas magnesianas, as que contiverem, por litro, no mínimo, 0,30 g de cationte Mg, sob a forma de bicarbonato de magnésio.

V. Sulfatadas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,100 g do. anionte SO, combinado aos cationtes Na, K e Mg.

VI. Sulfurosas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,001 g do anionte S. VII. Nitratadas, as que contiverem, por litro, no minimo 0,100 g do anionte NO, de origem mineral.

VII. Cloretadas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,500 g do ClNa (cloreto de sódio).

IX. Ferruginosas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,500 g do cationte Fe.

X. Radioativas, as que contiverem radônio em dissolução, obedecendo aos seguintes limites :

a) fracamente radioativas, as que apresentarem, no mínimo, um teor em radônio compreendido entre cinco e dez unidades Mache, por litro, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão;

b) radioativas, as que apresentarem um teor em radônio compreendido entre dez e 50 unidades Mache por 1itro, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão; c) fortemente radioativas, as que possuirem um teor em radônio superior a 50 unidades Mache, por litro, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão.

XI. Toriativas, as que possuírem um teor em torônio em dissolução, equivalente em unidades eletrostáticas, a duas unidades Mache por litro, no mínimo.

XII. Carbogasosas, as que contiverem, por litro, 200 ml de gás carbônico livre dissolvido, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão.

§ 1º As águas minerais deverão ser classificadas pelo D.N.P.M. de acordo com o elemento predominante, podendo ter classificação mista as que acusarem na sua composição mais de um elemento digno de nota, bem como as que contiverem iontes ou substâncias raras dignas de notas (águas iodadas, arseniadas, litinadas etc.).

(12)

§ 2º As águas das classes VII (nitratadas) e VII (cloretadas) só serão consideradas minerais quando possuírem uma ação medicamentosa definida, comprovada conforme o § 3º do art. 1º da presente lei.

CAPÍTULO VIII

DA CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES DE ÁGUA MINERAL

Art. 36. As fontes de água mineral serão classificadas, além do critério químico, pelo seguinte:

1º) Quanto aos gases: I. Fontes radioativas :

a) fracamente radioativas, as que apresentarem, no mínimo, uma vazão gasosa de um litro por minuto (l.p.m.) com um teor em radônio compreendido entre cinco e dez unidades Mache, por litro de gás espontâneo, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão;

b) radioativas, as que apresentarem no mínimo, uma vazão gasosa de 1 l.p.m., com um teor compreendido entre dez e 50 unidades Mache, por litro de gás espontâneo, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão;

c) fortemente radioativas, as que apresentarem, no mínimo, uma vazão gasosa de 1 l.p.m., com teor em radônio superior a 50 unidades Mache, por litro de gás espontâneo, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão.

II. Fontes toriativas as que apresentarem, no mínimo, uma vazão gasosa de 1 1.p.m., com um teor em torônio na emergência equivalente em unidades eletrostáticas a duas unidades Mache por litro.

III. Fontes sulfurosas as que possuírem na emergência desprendimento definido de gás sulfidrico.

2º) Quanto à temperatura:

I. Fontes frias, quando sua temperatura fôr inferior a 25º C.

II. Fontes hipotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 25 e 33º C.

III. Fontes mesotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 33 e 36º C.

IV. Fontes isotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 36 e 38º C.

V. Fontes hipertermais, quando sua temperatura fôr superior a 38º C.

Importante destacar, conforme dicção dos dispositivos legais acima transcritos, que a ação terapêutica das águas classificadas quanto à composição química (art. 35) e quanto aos gases (art. 36) já foi comprovada, com

(13)

excessão das denominadas águas oligominerais (art. 35, inciso I), que para poderem ser classificadas como tal, deverão passar pelo crivo da Comissão de Crenologia, para que seja atestada a presença de ação medicamentosa ou terapêutica em sua composição.

Em relação à competência e responsabilidade do DNPM pela aprovação dos rótulos das embalagens de águas minerais e potáveis de mesa, diz a Portaria nº 470/99 do Ministério de Minas e Energia:

Art. 1º. O rótulo a ser utilizado no envasamento de água mineral e potável de mesa deverá ser aprovado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, a requerimento do interessado, após a publicação no Diário Oficial da União da respectiva Portaria de Concessão de Lavra.

Analisando-se os rótulos de várias marcas de água exploradas e comercializadas em Goiás (ver anexos), pode-se perceber que as composições químicas neles descritas não se amoldam aos requisitos legais para poderem obter a denominação ÁGUA MINERAL.

A grande maioria, senão a totalidade das marcas de água atualmente comercializadas apresentam-se dentro dos padrões de potabilidade vigentes, considerando-se as informações constantes em seus rótulos. Entretanto, as composições físico-químicas apresentadas nos mesmos rótulos não são suficientes para classificá-las como águas minerais, uma vez que ausente a característica de ação terapêutica ou medicamentosa exigida pelo Decreto-Lei nº 7.841/45.

DA RESPONSABILIDADE DA UNIÃO FEDERAL

Como se sabe, o DNPM é uma autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estando, por conseqüência submetido a controle, ou supervisão ministerial, visando à fiscalização do cumprimento à lei e a seus fins institucionais, conforme estatui o Decreto-lei n.º 200/1967:

(14)

Art . 19. Todo e qualquer órgão da Administração Federal, direta ou indireta, está sujeito à supervisão do Ministro de Estado competente, excetuados unicamente os órgãos mencionados no art. 32, que estão submetidos à supervisão direta do Presidente da República.

Art. 20. O Ministro de Estado é responsável, perante o Presidente da República, pela supervisão dos órgãos da Administração Federal enquadrados em sua área de competência.

Parágrafo único. A supervisão ministerial exercer-se-á através da orientação, coordenação e controle das atividades dos órgãos subordinados ou vinculados ao Ministério, nos têrmos desta lei.

Art . 25. A supervisão ministerial tem por principal objetivo, na área de competência do Ministro de Estado:

I - Assegurar a observância da legislação federal.

Art. 26. No que se refere à Administração Indireta, a supervisão ministerial visará a assegurar, essencialmente:

I - A realização dos objetivos fixados nos atos de constituição da entidade.

Assim, a União Federal, através do Ministério das Minas e Energia, tem o dever legal de supervisionar, através de"orientação, coordenação e controle", a atuação do Departamento Nacional de Produção Mineral, com vistas a

garantir que a Autarquia cumpra suas funções institucionais, nos termos da lei. Como restou demonstrado, a União Federal encontra-se em mora com sua obrigação legal, pois o DNPM, há tempos, vem violando as orientações legais dispostas no Código de Águas Minerais e o direito dos consumidores, sem que a Administração Direta Federal tomasse qualquer providência.

Ademais, além do inegável prejuízo ao consumidor, os cofres da União também têm sido lesados pela incorreta classificação das águas, haja vista o fato de as águas minerais contarem com benefícios tributários que não se estendem às potáveis de mesa, nos termos do Código de Águas Minerais:

(15)

Art. 37 - O conjunto dos tributos que recaírem sobre as fontes e águas minerais está sujeito ao limite máximo de 8% da produção efetiva, calculado de acordo com o Art. 68 do Código de Minas.

§ 1º - As águas potáveis de mesa, gaseificadas artificialmente ou não, pagarão sempre, no mínimo, o duplo dos tributos federais devidos pelas águas minerais, não se aplicando às mesmas o limite máximo de 8% previsto no Art. 68 do Código de Minas

Percebe-se que a omissão da União vem ocasionando prejuízos a seus próprios cofres, pois, por serem tidas como medicinais, as águas minerais submetem-se a regramento tributário mais benéfico, com o fito de promover seu consumo. No entanto, por ter óbvio interesse na demanda, deve-se facultar à União optar pelo pólo ativo da causa, se assim o desejar.

DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Os fatos, comprovados pela documentação que segue anexa, expõem uma plausibilidade do direito mais do que contundente, uma vez que demonstram que o DNPM vem desrespeitando frontalmente o ordenamento jurídico pátrio, ao autorizar a impressão de classificação inadequada nos rótulos de várias marcas de água comercializadas em Goiás e em todo o País.

A verossimilhança das alegações para a concessão da antecipação de tutela, bem como a prova inequívoca, são explícitas. Além da própria irresignação de todos aqueles que compram um produto em razão de suas supostas qualidades, porque a característica MINERAL nele está incorretamente estampada, o farto material probatório constante no inquérito civil dão o amparo necessário ao deferimento do pedido de tutela antecipada.

Presentes, ainda, os elementos consubstanciados na verossimilhança do direito alegado e no fundado receio de dano irreparável ou de

(16)

difícil reparação (art. 273 do CPC), pois, como se verifica dos documentos em anexo, a inexatidão das denominações contidas nas embalagens provoca um dano difuso e coletivo de dimensões colossais ao consumidor, que imagina estar levando para casa uma água que possua caracterísicas medicinais atestadas pelo órgão regulador, e com comprovados benefícios para a saúde, quando, na verdade, está adquirindo um produto com características comuns.

A tutela antecipada, in casu, está atrelada aos seguintes pedidos:

a)

seja o requerido DNPM obrigado a, no prazo de 90 (noventa) dias, respeitando o teor do Decreto-Lei nº 7.841/45 (Código de Águas Minerais), inclusive com a prévia manifestação da Comissão Permanente de Crenologia (art. 1º, § 3º), quando necessária, rever e alterar a autorização da classificação estampada nos rótulos de todas as marcas de água comercializadas no Estado de Goiás, adequando-as aos parâmetros físico-químicos apontados nos laudos emitidos pelo laboratório oficial credenciado pelo DNPM;

b)

quando da alteração da classificação, seja o DNPM obrigado a não mais permitir a utilização, nos rótulos de águas potáveis comuns, de qualquer classificação que as denomine como mineral, tais como: ÁGUA MINERAL, ÁGUA MINERAL NATURAL, ÁGUA MINERAL FLUORETADA e ÁGUA MINERAL HIPOTERMAL NA FONTE, notificando-se as empresas concessionárias a, no prazo de 30 (trinta) dias, providenciarem a impressão dos novos rótulos, de acordo com a correta classificação do produto, sob pena de interdição das atividades das empresas faltosas;

c)

quando em desacordo com o Decreto-Lei n.º 7.841/45, mas constatada nos laudos técnicos a possibilidade de exploração comercial dessas águas, em razão de sua potabilidade, seja o DNPM obrigado a permitir apenas a utilização da classificação ÁGUA POTÁVEL DE MESA, nos rótulos das embalagens;

(17)

d) seja estipulada multa diária (astreintes), no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser suportada pelo DNPM em caso de mora nas obrigações supra, a ser revertida para o fundo previsto no artigo 13 da Lei nº 7.347/85;

e) seja notificado o representante legal do DNPM, nos termos do art. 2.º da Lei nº 8.437/92, para que se pronuncie sobre o pedido de liminar, no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

DOS PEDIDOS

Requer-se a citação das rés, na pessoa de seus representantes legais, para responderem à presente ação, com a pretensão de, ao final, vê-la julgada procedente, com vistas:

a) ao deferimento em caráter definitivo dos pedidos feitos em sede de tutela antecipada;

b)

à oitiva da União Federal, através de mandado de citação, e do DNPM, por Carta de Intimação com A.R., para pronunciarem-se no prazo de 72 (setenta e duas) horas (art. 2º da Lei nº 8.437/92) e, posteriormente, acompanhar a ação em todos os seus trâmites até o seu julgamento final;

c)

no mérito, a condenar os requeridos nas seguintes obrigações de fazer: c.1) seja o requerido DNPM obrigado a, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, em respeito ao teor do Decreto-Lei nº 7.841/45 (Código de Águas Minerais), com a prévia manifestação da Comissão Permanente de Crenologia (art. 1º, §3°), quando necessária, rever e alterar a classificação estampada nos rótulos de todas as marcas de água

(18)

comercializadas no Estado de Goiás que estejam em desacordo com os arts. 35 e 36 daquele normativo, adequando-as aos parâmetros físico-químicos apontados nos laudos emitidos pelo laboratório oficial que vincula os atos do DNPM; c.2) quando da alteração das classificações, apostas nos rótulos das embalagens, que estejam em desacordo com o Decreto-Lei nº 7.841/45, que seja o DNPM obrigado a não mais permitir a utilização da denominação "mineral", nas seguintes classificações, hoje utilizadas: ÁGUA MINERAL, ÁGUA MINERAL NATURAL, ÁGUA MINERAL FLUORETADA, ÁGUA MINERAL HIPOTERMAL NA FONTE, notificando as empresas concessionárias para que, no prazo de 30 (trinta) dias, providenciem a impressão dos novos rótulos, de acordo com a correta classificação do produto verificada pelo DNPM, sob pena de interdição das atividades das empresas faltosas; c.3) quando em desacordo com o Decreto-Lei nº 7.841/45, mas constatada nos laudos técnicos a possibilidade de exploração comercial dessas águas em razão de sua potabilidade, seja o DNPM obrigado a permitir apenas a utilização das seguintes classificações nos rótulos das embalagens: ÁGUA POTÁVEL DE MESA ou ÁGUA NATURAL;

d) à obrigação do DNPM de exigir das empresas engarrafadoras a contratação de assistentes técnicos, para acompanhar a produção e fiscalizar a qualidade das águas envasadas;

e) à condenação da União Federal na obrigação de supervisionar, através do Ministério das Minas e Energia, a atividade do DNPM, com vistas a assegurar que a Autarquia passe a observar a classificação estabelecida no Decreto-lei 7.841/45, para as águas engarrafadas;

(19)

f)

à condenação das Rés, em caso de descumprimento das determinações judiciais, em multa diária (astreintes), no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser revertida para o fundo de que trata o art. 13 da Lei nº 7.347/85, a partir da ocorrência da mora, sem prejuízo de eventuais responsabilidades que venham a ser auferidas em futura ação por atos de improbidade administrativa, bem como em ação penal por crime de desobediência, sem prejuízo do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal.

Protesta-se provar o alegado por todos os meios admissíveis em Direito, inclusive com a oitiva de testemunhas, juntada de novos documentos e depoimento pessoal dos representantes dos requeridos.

Dá-se à causa o valor simbólico de R$ 1.000,00 (mil reais), tendo em vista tratar-se da tutela de bens de valor inestimável.

Goiânia, 26 de junho de 2006

Mariane G. de Mello Oliveira PROCURADORA DA REPÚBLICA

Referências

Documentos relacionados

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

No Brasil, a falta de uma fiscalização mais rigorosa é uma das razões que possibilitam que certas empresas utilizem os estágios como forma de dispor de uma mão-de-obra

Então são coisas que a gente vai fazendo, mas vai conversando também, sobre a importância, a gente sempre tem conversas com o grupo, quando a gente sempre faz

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que

Universidade Federal de Juiz de Fora União Nacional dos Estudantes.. Breve contextualização ... O caso da Universidade Federal de Juiz de Fora ... Análise dos indicadores da UFJF...

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e