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A ESTRUTURA AGRÁRIA DO SUDOESTE DO PARANÁ: PEQUENAS PROPRIEDADES, PERMANÊNCIAS E RUPTURAS

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A ESTRUTURA AGRÁRIA DO SUDOESTE DO PARANÁ: PEQUENAS PROPRIEDADES, PERMANÊNCIAS E RUPTURAS

Tiago Arcanjo Orben Orientador: Prof. Dr. Luis Carlos dos Passos Martins (Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do

Sul-PUC-RS)

Palavras-chave: Sudoeste do Paraná; Revolta dos Colonos; Pequenas propriedades.

Introdução

Este artigo procura expor alguns aspectos de meu projeto de Doutorado em História, o qual tem por objetivo problematizar o aspecto agrário na região Sudoeste do Paraná. Proponho pensar as relações de sociabilidades a partir do rural e urbano ou do campo e da cidade, questionando as várias relações estabelecidas nesta região com estes horizontes de entendimento.

As fontes utilizadas no trabalho são essencialmente orais, a partir do protagonismo de sujeitos, camponeses ou ex-camponeses. Com isso, questiono quais vínculos de pertencimento tem com o campo, o que os faz permanecer na terra e o que os levou a abandonar o meio rural. Neste sentido, o trabalho sustenta questionamentos essencialmente aos sujeitos deste processo, no presente, e as relações de “força” que se sobrepõem. Ao pensar as realidades e sociabilidades vividas pelos mesmos, estabeleço como contraponto as relações políticas e sociais que se impõe a questão agrária no Brasil, observando como as relações de poder demarcam o antagonismo do viver no campo e na cidade. O objetivo não é simplesmente estabelecer fronteiras entre o rural e o urbano, mas sim, perceber como essas relações podem ser diluídas e até que ponto esses espaços se tornam construções sociais.

Porém, neste artigo darei atenção a alguns aspectos historiográficos, que permitem pensar o projeto e sua relação com outros exemplos. Ao entender que exista no Brasil contemporâneo, uma reemergência das discussões envolvendo a ruralidade e

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as transformações que se impõe ao meio rural, principalmente em relação aos debates que destacam o desenvolvimentismo apresentado ao Brasil nas décadas de 1950 e 60. Saliento que este trabalho parte de uma perspectiva diferenciada, ao pensar de que forma a região Sudoeste do Paraná tem uma estruturação fundiária distinta, em relação a outras regiões do Brasil neste período.

Esta diferenciação na organização, segundo o que frequentemente é apresentada na historiografia,1 ocorre em grande medida em razão do movimento social de 1957, conhecido frequentemente, como Revolta dos Colonos ou Posseiros. A Revolta viria na contramão das estruturas fundiárias já existentes, com a primazia da grande propriedade e o pequeno agricultor precisando abandonar o campo, seguindo em muitos casos rumo aos centros urbanos. Assim, a estrutura que o movimento de 1957 dá ao Sudoeste do Paraná seria diferenciada, pois caracterizaria as pequenas propriedades, com a grande maioria dos colonos com uma posse em média de 20 a 40 hectares.

Outro ponto considerado é o massivo abandono do campo em algumas localidades, principalmente entre os jovens. Ao perceber isso questiono até que ponto as dinâmicas econômicas e sociais do Brasil refletem neste abandono, ao mesmo tempo, observo onde acontecem permanências e quais fatores proporcionam isso. Neste ponto ressalto a importância de se pensar as localidades onde aconteceu o conflito de 1957, levando em consideração que esses locais tiveram uma organização diferenciada em razão do conflito.

Aproximações historiográficas em relação ao tema

Ao pensar algumas aproximações historiográficas, inicio com um exemplo do reflexo que esta estrutura fundiária teria proporcionado a este espaço. Assim, em relação

1 Este movimento social possui um denso material historiográfico e entre os mais significativos estão os seguintes trabalhos: AMÂNCIO, Silvia Maria. Ontem, luta pela terra; hoje, monumento histórico: A Revolta dos Posseiros no Sudoeste do Paraná em suas variadas versões. Maringá/PR: Dissertação – Mestrado em História, Universidade Estadual de Maringá-UEM, 2009. GOMES, Iria Zononi. 1957: A

Revolta dos Posseiros. Curitiba: Criar Edições, 1986. LAZIER, Hermógenes. Análise Histórica da Posse de Terra no Sudoeste Paranaense. 3. ed., Francisco Beltrão: GRAFIT Gráfica e Editora Ltda, 1998.

PEGORARO, Éverly. Dizeres em confronto: A Revolta dos Posseiros de 1957 na imprensa paranaense. Guarapuava/PR, Unicentro, 2008. WACHOWICZ, Ruy Christovam. Paraná, Sudoeste: ocupação e colonização. 2. ed., Curitiba: Lítero-Técnica, 1985.

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ao Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná – GETSOP, responsável pela regularização da posse da terra na região durante as décadas de 60 e 70, aponto um pequeno trecho de Deni Lineu Schwartz, engenheiro responsável pelo órgão.

Schwartz assinala que o modelo de organização dos colonos em pequenas propriedades sofrera críticas, comparadas a favelas rurais: “era moda os tais brasilianistas virem aqui e fazerem entrevistas e saiu um livro de um inglês falando que nós estávamos fazendo favelas rurais. Por quê? Porque quem faz as leis não entende de povo, essa é a grande verdade”2.

As considerações de Schwartz evidenciam não só como a caracterização fundiária em questão vinha em sentido contrário ao modelo de grande propriedade, então em voga no Brasil. Mas também, fazia ressentir outras camadas da sociedade, para as quais a agricultura não poderia seguir o modelo da pequena propriedade, pois não estava amparada juridicamente, já que algumas propriedades não teriam o tamanho mínimo para uma propriedade rural. Na continuidade da entrevista Schwartz destaca que essa barreira foi vencida e que conseguiram titular todas as terras da região para seus respectivos donos.

Mas para refletir essa estruturação agrária e as relações urbano-rurais, inicialmente apresento o trabalho de Marcos Aurélio Saquet, que brevemente expõe algumas questões em seu artigo, “Por uma abordagem territorial das relações urbano-rurais no Sudoeste paranaense”, presente no livro: Cidade e campo: relações e

contradições entre o urbano e rural.

Saquet analisa a região e uma proximidade muito forte entre o rural e o urbano até pelo menos fins da década de 1980. Elabora essa consideração a partir do reconhecimento da base que o levante de 1957 dá para a pequena propriedade.3 Neste sentido, apesar de não ser um artigo muito extenso, Saquet apresenta um trabalho com

2 GUIA PARANÁ SUDOESTE: DENI LINEU SCHWARTZ: O CHEFE DO GETSOP QUE TITULOU AS TERRAS. Entrevista para o Jornal de Beltrão. SCHWARTZ, Deni Lineu. <http://www.guiaparanasudoeste.com.br/noticias/Noticia.aspx?id=26453> Acesso em: 29 de setembro de 2014.

3 SAQUET, Marcos Aurélio. Por uma abordagem territorial das relações urbano-rurais no Sudoeste do Paraná. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão e WITHACKER, Arthur Magon. (orgs.). Cidade e

campo: relações e contradições entre o urbano e o rural. 3.ed. São Paulo: Outras Expressões, 2013. p.

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uma densa pesquisa com análises quantitativas e demonstra diferentes formas de organizações entre rural e urbano. Nas quais, considera que o fim da década de 1990 vem consolidar na região a maioria das cidades com maior população do que o campo, ao mesmo tempo em que diminui o número de pequenas propriedades, isso acontece no momento em que há um crescente aumento nas propriedades com mais de 100 hectares.

Ao analisar os processos em nível mais abrangente destaca que “há, nesses processos, subordinação e exploração do trabalhador direto, falta de políticas públicas específicas para a agricultura familiar, e concentração fundiária”.4 Saquet identifica a falta de políticas públicas de incentivo as pequenas propriedades, principalmente na década de 90. Ao mesmo tempo em que o endividamento de muitos desses pequenos agricultores nas décadas de 70 e 80 os faz entrar no século XXI, em um contexto de enfraquecimento da pequena propriedade e concentração fundiária. Em um momento que as cidades crescem populacionalmente graças a essas dinâmicas.

As considerações de Saquet permitem pensar essa mesma realidade, de rearticulação da estrutura fundiária, com o declínio das pequenas propriedades e assim, consequentemente, como esse cenário se rearticula nas décadas seguintes, não só no Sudoeste paranaense, mas, em diferentes regiões do Brasil.

Para tanto, destaco algumas relações entre a urbanização e a ruralidade presentes no trabalho de Maria Nazareth Baudel Wanderley “Urbanização e ruralidade: Relações entre a pequena cidade e o mundo rural e estudo preliminar sobre os pequenos municípios em Pernambuco”. Saliento a importante contribuição que seu trabalho traz para minha pesquisa com sua análise dos pequenos municípios no Nordeste brasileiro, pois, Wanderley suscita pensar o “lugar dos rurais”, considerando “como vivem e o que vivem os habitantes do espaço rural brasileiro”.5

Esta consideração permite evidenciar os argumentos da autora de que a maioria da população rural do Brasil vive em municípios com até 20.000 habitantes. Ou seja, os

4 Id. Ibid., p. 172.

5 WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Urbanização e Ruralidade: Relações entre a pequena

cidade e o mundo rural e estudo preliminar sobre os pequenos municípios em Pernambuco. Capturado de

<http://www.nead.org.br/index.php?acao=biblioteca&publicacaoID=224>, acesso em 06 de março de 2004.

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locais onde o campo se sobressai ao urbano, ou onde o rural ganha mais evidência é em grande medida em municípios com até 20.000 mil habitantes.6 Com isso, observo que em grande parte dos municípios que englobam minha pesquisa, exceto Francisco Beltrão e Pato Branco, existe uma caracterização agrícola muito forte, com interferência direta nos aglomerados urbanos. Estes locais possuem uma dependência do campo significativa, a qual deve ser considerada essencialmente em termos econômicos, nestes locais a agricultura regula a reprodução do comércio a apresenta-se como vetor do desenvolvimento regional.

Além desta questão, exploro o trabalho de Wanderley quando expõe o nordeste brasileiro e se utiliza da categoria de “trama social”, a qual complementa sua argumentação com cinco dimensões que podem ser consideradas para pensar não só os pequenos municípios do nordeste brasileiro, mas de uma maneira geral outros locais, como por exemplo, o Sudoeste paranaense.7 Aponto isso, pois suas dimensões complementares sinalizam para características que visualizo em alguns dos pequenos municípios que desenvolvo o trabalho.

Percebo estas dimensões junto à cidade ou o núcleo urbano como “centro do poder municipal”.8 Na qual se concentram as atividades administrativas do município, inclusive empregando muitos sujeitos que, ao mesmo tempo trabalham no poder municipal e mantém relações próximas com o campo ou moram no espaço rural.

Além deste item, Wanderley destaca a pequena industrialização de alguns municípios, o que traz como consequência a precariedade de recursos.9 Neste sentido, o processo de industrialização teria reflexo na precariedade de recursos recebidos pelo centro urbano do município, o que aumentaria a dependência do campo e tornaria a sede municipal precária, no que tange a recursos para os variados segmentos da administração municipal.

Porém, observo algum distanciamento destas últimas considerações de Wanderley em relação ao Sudoeste paranaense. Sua realidade de análise – o nordeste

6 Id. Ibid.

7 Id. Ibid. 8 Id. Ibid. 9 Id. Ibid.

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brasileiro – possui uma organização diferenciada, apesar de ser recorrente a dependência do rural nos pequenos municípios brasileiros, nem sempre a ausência de indústrias implica na precariedade de recursos aos municípios. Na região que estudo existe uma agricultura desenvolvida em uma significativa variedade de atividades, que suprem a sede municipal em arrecadação, além de potencializar o comércio.

Têm-se uma caracterização heterogenia de relações, não só em relação ao Sudoeste do Paraná, mas também em termos nacionais. Que existem aproximações nos modelos de pequenas propriedades não há dúvida. Entretanto, também existem modelos heterogêneos de organizações econômicas, sociais e culturais nos pequenos municípios brasileiros, sejam características dos municípios nordestinos, como bem salienta Wanderley, seja de uma pequena região, como o Sudoeste do Paraná.

Todavia, Wanderley destaca que é possível basear uma tipologia dos pequenos municípios. Considerar que estas dimensões, bem como, a categoria de “trama social”, deve ser posta em prática com indicadores obtidos com pesquisa de campo, como bem faz com seu exemplo nos municípios de Pernambuco. A autora traz uma contribuição significativa, mas que, para ser efetiva não pode ficar somente nas hipóteses e sim a partir da análise das diferentes dimensões destes municípios, discorrer a relação rural urbano e o quanto isto pode ser diluído em alguns locais.

Para a autora existe uma “trama social” ou uma tipologia, que caracteriza os pequenos municípios brasileiros. Creio que Wanderley tem relativo sucesso em sua caracterização, já que a realidade nacional pode ser diversificada e certas estruturas agrárias podem ser constituídas de forma diferenciada. Existem distintos modelos de organização fundiária que se impõem ao Brasil durante o século XX e eles precisam ser considerados por suas especificidades.

Assim, seguindo a mesma metodologia, apresento outro trabalho que considero importante enquanto aproximação para meu objeto de pesquisa. O artigo de Roberto José Moreira e Margarita Rosa Gaviria: “Territorialidades, ruralidades e assimetrias de poder na Comunidade de Taquari”10 procura considerar as noções de territorialidades e

10 GAVIRIA, Margarita Rosa. MOREIRA, Roberto José. Territorialidades, ruralidades e assimetrias de poder na Comunidade de Taquari. Estudos Sociedade e Agricultura. n.18, abril, 2002. p. 47-72.

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ruralidades a partir de um estudo de caso. Os autores elaboram uma análise centrada na comunidade de Taquari, localizada no município de Paraty/RJ. Esta comunidade teria uma organização diferenciada neste município, fruto de uma desapropriação e assentamento, que acontece em 1983. Porém, os meandros deste processo mostram uma ausência do INCRA enquanto apoio aos agricultores, ao mesmo tempo em que as ações do IBAMA enquanto interessado direto, em relação ao Parque Nacional da Serra da Bocaina e, a prefeitura, demonstra como o local possui uma gama diferenciada de territorialidades.

Gaviria e Moreira localizam este contexto junto ao tripé “território, assentamento e natureza”,11 privilegiando a constituição de diferentes territorialidades para este local, as quais estariam ligadas tanto a constituição da comunidade e o Estado enquanto vetor de políticas públicas para a localidade, como, territorialidades vinculadas à dinâmica social dos agentes desta comunidade. Essas dinâmicas enquanto expressão de valores que a comunidade passou a ter, seja através de políticas públicas, seja de forma autônoma enquanto afirmação de territorialidades.

Ao trabalharem com o conceito de ruralidade os autores destacam que o mesmo “se faz no processo”. Entender a territorialização daquele local seria entender a constituição da própria fazenda que dá o nome a comunidade de “Taquari”, a consequente desapropriação e o assentamento, ou seja, todo este processo faz parte da constituição de uma territorialidade para o local. Segundo os autores, a ausência do INCRA de 1983-95, a ação do IBAMA com o Parque Nacional da Serra da Bocaina e as próprias ações de Prefeitura de Paraty, impõe a estes sujeitos diferentes territorialidades e ruralidades, completamente distintas das constituídas em 1983 com a criação do assentamento.12 O processo se dá como convergência e não de forma estanque, a territorialidade deste local é constituída tanto pela homogeneidade, enquanto denominador comum na fundação do assentamento, bem como, pela heterogeneidade,

11 Id. Ibid.

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nas diferentes expressões sociais que se apresentam ao local com a ação dos entes públicos, seja o IBAMA, INCRA ou a Prefeitura.13

Com isso, de acordo com Gaviria e Moreira, não causa estranhamento o posicionamento de um dos moradores do local ao dizer: “O Incra desapropria, o Ibama multa e a Prefeitura embarga”, cada um deste entes públicos representa determinada postura frente a comunidade e convergem suas políticas no sentido que lhes é de interesse. Já a comunidade que passa “12 anos sem a presença do INCRA vive a constate presença do IBAMA em relação ao PNSB” e a Prefeitura enquanto interessada direta, constitui uma territorialidade que atenda seus interesses imediatos e que vê como mais importante.14 Os entes do Estado não constituem as ruralidades ou territorialidades deste local, mas dão escopo para que os próprios agentes do processo – os moradores de Taquari – constituam.

Além dos processos de elaboração de distintas territorialidades e ruralidades, este trabalho faz refletir à constituição da comunidade enquanto remanescente de “terras devolutas”. Observo o quanto esta relação é constante no Brasil, ou melhor, o quanto a questão agrária é recente e possui inúmeros casos similares a este, sobretudo no período pós-40.

Considero ainda algumas semelhanças com a pesquisa que desenvolvo. A primeira delas é que, tanto no Sudoeste do Paraná como no caso apresentado as terras eram devolutas, prática constante no Brasil do século XX e que facilitava a ação de grileiros ou de “companhias colonizadoras”, financiadas, em muitos casos, por grupos empresariais.

Em relação aos conceitos de “territorialidades” e “ruralidades” que Gaviria e Moreira apresentam. Notadamente as territorialidades constituídas em relação ao Sudoeste paranaense, extrapolam a própria constituição da região com referência ao movimento de 1957. As territorialidades elaboradas acerca da região denotam essencialmente à historiografia que trabalha a mesma, é neste espaço que se elabora a caracterização de pequenas propriedades para o Sudoeste do Paraná. Os colonos não se

13 Id. Ibid.

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reconhecem submersos a uma estrutura fundiária de pequenas propriedades, as propriedades assim organizadas já existiam durante a gestação da Revolta de 1957.

Atribui-se um sentido e se constituem “novas territorialidades”, de revalorização do local a partir da caracterização de pequenas propriedades, fundada com os levantes de outubro de 1957. A historiografia atribui sentidos e elabora territorialidades para além das ruralidades constituídas pelos sujeitos do processo. Se comparado ao exemplo exposto por Gaviria e Moreira, notemos que esta elaboração historiográfica se assemelha a “territorialidade homogênea”, com diferentes interpretações acerca da constituição das pequenas propriedades para o local, ao mesmo tempo em que as “relações heterogêneas”15 se apresentam na rearticulação da ruralidade, que os sujeitos constituem na região ao longo dos anos.

Por fim aproximo meu tema ao artigo de Maria José Carneiro: “Do rural e do urbano: uma nova terminologia para uma velha dicotomia ou a reemergência da ruralidade”. A autora procura elencar alguns aspectos acerca da noção de ruralidade, levando em consideração a dicotomia “rural urbano”. Ao pensar estes aspectos, sinaliza que existe um retorno de interesse pelo rural, através da sua reafirmação e valorização.

Carneiro elabora uma análise geral teórica, não centrando sua discussão em relação a exemplos empíricos, mas analisando a estrutura que qualifica como “velha dicotomia entre rural e urbano”.16 Assim, sugere uma nova ruralidade e novas dinâmicas que resignificam o rural e o urbano, e que neste contexto ocorre uma redefinição da noção de rural:

É neste contexto que devem ser entendidas as novas dinâmicas da ruralidade associadas às atividades de lazer e, em particular, a ampliação e transformação do significado da terra. A noção do rural como espaço de preservação ambiental e da natureza como meio de contemplação passam a ser concorrentes com o valor da terra como meio de produção agrícola o que tem consequências diretas sobre as relações sociais e as disputas de interesse.17

15 Id. Ibid.

16 CARNEIRO, Maria José. Do rural e do urbano: uma nova terminologia para uma velha dicotomia ou a reemergência da ruralidade. II Seminário sobre o novo rural brasileiro – A dinâmica das atividades agrícolas e não agrícolas no novo rural brasileiro: Fase III do Projeto Rurbano. NEA – Instituto de Economia – UNICAMP, Campinas, 02 de outubro de 2001.

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Notasse que além da redefinição da noção, “novas dinâmicas” associadas ao lazer são apresentadas ao rural, o que ao mesmo tempo redefine aquele espaço e também impõe um novo significado a terra. Passa a ser concorrente a noção da terra como meio de produção agrícola, estas novas dinâmicas, que também podem estar associadas à preservação ambiental e qualificarem este rural como “idílico”.18

Carneiro sugere ainda que estes novos processos sobrepostos ao rural junto às relações sociais de disputa de interesse, definem novas identidades ou valores aos sujeitos deste processo. A redefinição deste rural contém variadas relações de pertencimento e valor, as quais podem ser visualizadas no Sudoeste do Paraná.

Indico isso ao refletir o quanto a região é marcada por relações heterogêneas. Apresentam-se relações, tanto, marcadas por grandes propriedades de produção para o mercado externo. Quanto, pela presença de pequenas propriedades, algumas voltadas para o turismo rural e outras baseadas na produção agrícola de base familiar, apesar da fragmentação e dissolução desta última.

Sinalizo enquanto fator preponderante, para a dissolução da produção agrícola de base familiar no Sudoeste do Paraná, a penetração da produção para o mercado externo, em muitos casos, por intermédio de cooperativas. Neste sentido, vejo o quanto estas relações heterogêneas se fazem presentes neste espaço geográfico.

Quando Carneiro sugere “novas dinâmicas” às atividades rurais, estas também podem ser pensadas enquanto “novas ruralidades”. Processos quais apresentam novos interesses nas relações sociais, pautando novas atividades agrícolas diferentes da agricultura tradicionalmente constituída, expressões essas que podem ser vistas no turismo rural, agricultura orgânica ou mesmo na interação de atividades e setores não agrícolas no espaço rural.

Considerações Finais

Procurei neste breve ensaio apresentar minha problemática de pesquisa recente e destacar alguns caminhos que pretendo percorrer, com referência a caracterização de

18 Id. Ibid.

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pequenas propriedades atribuída a região Sudoeste do Paraná. Para tanto, apresentei algumas aproximações historiográficas que permitem pensar conceitos como, territorialidades, ruralidades, novas ruralidades ou mesmo a caracterização de pequenas propriedades.

Essa observação permitiu visualizar em diferentes exemplos, seja do nordeste brasileiro, seja das regiões sudeste e sul, de que forma o rural vem sendo concebido no meio historiográfico recente. As contribuições acima expostas aproximam de forma comparativa o Sudoeste do Paraná ao nordeste brasileiro e a caracterização de pequenas propriedades, seja enquanto aproximações, ou mesmo enquanto distanciamentos, o que demonstra a heterogeneidade de relações presentes no Brasil.

A presente pesquisa ainda carece de análises empíricas, todavia, neste estágio, a leitura destas historiografias mostrasse um campo facundo para o amadurecimento da problemática. Notadamente, as produções em relação às dinâmicas rural urbano no Brasil apresentam-se a partir de um denso conteúdo, junto a teóricos que procuram abordar as construções sociais destes espaços.19 Assim, creio que seja importante elencar que não desconsidero estas produções, mas que, neste artigo procurei aproximar meu objeto de pesquisa junto à estudos de caso, os quais se apresentam enquanto uma excelente alternativa para visualizar o horizonte a ser percorrido na pesquisa histórica.

Referências Bibliográficas

19 Alguns destes teóricos que procuro pautar essa pesquisa são: HOBSBAWM, Eric. Pessoas

Extraordinárias: Resistência, rebelião e jazz. Tradução de Irene Hirsch, Lódio Lourenço de Oliveira. São

Paulo: Paz e Terra, 2005. KAUTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Maas – São Paulo: Editora Nova Cultural. 1998. MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a política no

Brasil: As lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. Petrópolis, 5º Edição: Editora Vozes,

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