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OS ASSENTAMENTOS RURAIS COLETIVOS NO CONTEXTO DA TERRITORIALIZAÇÃO DA LUTA PELA TERRA

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Academic year: 2021

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OS ASSENTAMENTOS RURAIS COLETIVOS NO CONTEXTO DA TERRITORIALIZAÇÃO DA LUTA PELA TERRA

Fábio Luiz Zeneratti1

Eixo temático: CONFLITOS E MOVIMENTOS SOCIAIS

RESUMO: O campo brasileiro assiste a uma realidade em que os movimentos sociais rurais ganharam grande relevância no diálogo com o Estado. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, conseguiu especializar-se como outro nunca havia feito, proporcionando a muitos camponeses a possibilidade de territorialização. O Brasil tem níveis de concentração fundiária altíssimos e uma gama de camponeses sem terra, esta é a receita da luta, os camponeses buscam seu território e os latifundiários a renda da terra. Sendo assim, a reforma agrária assume relevância e os assentamentos rurais também. Os assentamentos são frações do território reconquistado pelos camponeses, que invariavelmente têm apresentado resultados positivos, um exemplo disso, são os assentamentos rurais coletivos, sobretudo, o abordado neste trabalho, a COPAVI de Paranacity – PR.

PALAVRAS-CHAVE: assentamentos, MST, movimentos sociais, territorialização, COPAVI.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do capitalismo no Brasil assumiu caráter peculiar, isso porque, aqui ele aliou-se a terra criando condições para que proliferasse a grande propriedade voltada

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à especulação e a reserva de valor. A terra concentrada é a grande contradição do capitalismo aqui desenvolvido, e que Oliveira (2001) chama de sui generis, isso porque, este quadro prejudica a circulação do capital. A acumulação capitalista é possibilitada pelo consumo da sociedade, a terra concentrada diminui o poder de compra, pois, existem menos proprietários, possibilitando um aumento no preço dos alimentos, diminuindo o poder de compra da sociedade que destinará uma parte dos seus ganhos para se reproduzir. Para girar a mercadoria dentro do capitalismo é necessário que a população tenha dinheiro, porém, a lógica da concentração é obter renda, monopólio das terras, isso então, é a contradição, são interesses antagônicos entre os proprietários de terras e o restante da sociedade.

A reforma agrária, assim, é fator de extrema relevância para os estudos agrários. No geral a reforma tem-se mantido atual nos debates políticos, porém, o que temos visto é uma reforma agrária que não contraria os interesses das oligarquias políticas locais, muito menos, dos grandes latifundiários.

O grande desafio da reforma agrária é desconcentrar as terras e também promover a sobrevivência e viabilidade socioeconômica dos assentamentos, com isso, a forma de exploração coletiva da terra, através de Cooperativas de Produção Agropecuária, ganham destaque nesta problemática.

É neste sentido que este trabalho pretende contribuir, pois, busca estudar um desses assentamentos, o Assentamento Rural Coletivo Santa Maria, localizado na mesorregião Noroeste do estado do Paraná, na cidade de Paranacity, organizado sob a forma de cooperativa - Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI). Com o objetivo de analisar a viabilidade dos assentamentos rurais coletivos, como forma de concretizar a reforma agrária, e com isso, criar condições para a territorialização do camponês e da luta pela terra.

2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO: O CASO DO MST

Os conflitos gerados pelo direito de posse das terras brasileiras fazem parte do processo de ocupação do país, e ainda acontecem, sendo os espaços de luta muitos, entre os quais podemos citar as lutas dos povos indígenas pela demarcação de suas terras, a dos escravos contra o cativeiro, os posseiros contra a ação ilegal dos grileiros, entre tantos outros. Vale ressaltar, porém, que é a partir da década de 1950 que os movimentos sociais no campo vão ganhar maior expressão, principalmente com o surgimento das Ligas Camponesas no

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engenho da Galileia, no estado de Pernambuco. As ligas que sugiram com a finalidade meramente mortuária, logo se disseminaram pelo nordeste brasileiro, passando a representar a primeira organização social de luta pela reforma agrária no Brasil.

Em meio aos diversos movimentos sociais organizados de trabalhadores do campo, vai ser fundado em Cascavel (PR) no ano de 1984, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que toma como forma de pressionar o governo a ocupação de latifúndios (OLIVEIRA, 1994).

O MST nasce num momento de enfrentamento e resistência ao modelo de desenvolvimento agropecuário que o Brasil adotava, sobretudo, o caminho traçado pelo regime militar. “Esse processo é entendido no seu caráter mais geral, na luta contra a expropriação e contra a exploração do desenvolvimento do capitalismo” (FERNANDES, 1996, p. 66). Durante os anos setenta o campo vai assistir a diversas lutas, porém, até então localizadas, como as ocupações realizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, quase todas contando com o apoio da Comissão Pastoral da Terra - CPT, criada em 1975.

No estado do Paraná, a gestação e nascimento do Movimento aconteceram de conjunção das lutas e conquistas dos movimentos isolados em diversas regiões do estado, a saber: o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste do Paraná (MASTRO); o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Sudoeste do Paraná (MASTES); o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Norte do Paraná (MASTEN); o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Centro Oeste do Paraná (MASTRECO); o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Litoral do Paraná (MASTEL). O MST-PR nasceu da unificação dessas lutas. (FERNANDES, 2000, p. 154).

A CPT fomentou alguns encontros nacionais no sentido de promover a reflexão sobre as lutas pela terra, mas, vai ser em 1984 que acontecerá o 1º Encontro dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e com isso, consolida-se a articulação nacional das lutas pela terra, se até então tínhamos movimentos localizados e lutas isoladas a partir desse momento elas passaram a acontecer de forma coordenada. Neste encontro então nasce o MST, sendo também definidos os princípios do movimento. Organizado nacionalmente ele têm se apresentado como o movimento de maior importância social e política do país, responsável por colocar o tema da reforma agrária nos debates políticos.

O movimento dos Sem Terra ao especializar-se fez com que a sociedade e o Estado passassem a olhar o que acontecia no campo, não só travando lutas pela terra fora das cidades, mas, trazendo para dentro delas suas lutas, através de ocupações de órgãos públicos,

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caminhadas, marchas, etc. Assim, fizeram a sociedade conhecer sua condição de sem terra e com isso construírem a possibilidade de se territorializar, mesmo contrariando os interesses de uma minoria latifundiária que luta contra a reforma agrária.

Os proprietários de terra e as forças conservadoras, através da UDR, investiram (inclusive com meios violentos) no fracasso da política do MST e da reforma agrária. Defendiam a inviabilidade dos assentamentos rurais, afirmando que estes eram verdadeiras favelas rurais. (FABRINI, 2006, p. 7).

Segundo Fernandes (2000, p. 198), de 1985 a 1990 foram assassinados 585 trabalhadores rurais, enquanto em toda ditadura foram assassinados 884. Isso mostra que a repressão ao movimento não diminuiu na “Nova República”, pelo contrário, as perseguições aos integrantes dos movimentos sociais rurais se intensificaram.

O MST mesmo sendo constantemente atacado, ora por fazendeiros que tiveram seus latifúndios ocupados, ora por lideranças políticas que por motivos diversos são contra a reforma agrária, vai sobrevivendo e ao mesmo tempo em que luta pela terra de trabalho, coleciona acampamentos e assentamentos.

A luta é para conquistar uma fração do território, é lutar para entrar na terra que tem sido mantida improdutiva, voltada para reserva de valor, terra mercadoria, é a negação da condição de expropriado e/ou proletarizado, é lutar para conquistar autonomia, seja autonomia do trabalho ou como sujeito social. Enfim, temos que ressaltar que o MST não é, e não foi, o único movimento social do país, mas conseguiu se especializar como outros nunca haviam feito.

A conquista do território pelo trabalhador sem terra significa a realização do projeto de existência do MST, pois como foi definido no 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em 1985, também no Paraná, os objetivos do movimento são: lutar pela terra, pela reforma agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados ou exploradores. A história do movimento é marcada por conquistas importantes, entre elas, a de maior relevância são as terras conquistadas dos latifúndios que agora são territórios livres para inúmeras famílias.

Neste sentido, os assentamentos são exemplos desta concretude que a luta pela terra tem apresentado, até porque, contraditoriamente ao que é exposto pelos latifundiários, os assentamentos são formas de acesso a terra, que mesmo havendo muitas dificuldades, têm alcançado êxito.

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3 COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA VITÓRIA – COPAVI

O Assentamento Rural Santa Maria é um assentamento coletivo fruto de reforma agrária, é um dos dois assentamentos coletivos da mesorregião Noroeste do estado do Paraná, que conta com 33 assentamentos no total.

A área que hoje é o assentamento foi desapropriada em 1986, porém o assentamento só foi regularizado em janeiro de 1993. Neste momento, um dos primeiros passos foi definir se seria um assentamento individual ou coletivo, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) define as normas para o assentamento, como por exemplo, a proibição da venda e arrendamento das terras, porém, como quem estava à frente do processo de ocupação da área era o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) coube a ele definir a organização do assentamento. Considerando que era uma propriedade de 256 hectares e que o solo arenoso, proveniente do Arenito Caiuá, havia sido degradado pelo plantio de cana de açúcar, optou-se pelo coletivo, pois poderia ser ocupado por mais pessoas, ou seja, o individual atenderia entre sete ou oito famílias, já o coletivo foi estruturado para vinte e cinco famílias.

Nos assentamentos individuais cada família recebe uma porção de terra que será explorada por ela, já no coletivo a terra é de todos sendo trabalhada coletivamente. O que mais chama a atenção no Assentamento Santa Maria é que ele esta organizado em cooperativa, Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI), sendo referência para todo o Brasil.

As cooperativas agropecuárias tornam-se também um componente no processo de reprodução camponesa, surgindo como instrumento de defesa dos agricultores.

As cooperativas ofereciam as vantagens de compra e venda em escala, consolidando e fortificando o camponês, e permitindo, assim, a sua reprodução, em oposição à crescente proletarização a que está historicamente submetido. (OLIVEIRA, 1986, p. 72).

Nesta perspectiva, as cooperativas podem se constituir numa forma de superação da condição de extrema exploração, a qual os camponeses, têm-se submetidos ao longo do desenvolvimento capitalista brasileiro. Este é um dos objetivos do modelo cooperativista

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utilizado pelo MST nos assentamentos, onde se coloca em prática um conjunto de atividades para fazer da cooperativa um instrumento de luta.

O modelo cooperativista moderno teve como berço a pequena cidade de Rochdale, na Inglaterra, no ano de 1844. E resultou da organização de uma sociedade cooperativa com grande capacidade de sobrevivência, dotada de princípios justos e de amadurecido bom senso dos métodos administrativos nela aplicados.

A cooperativa é caracterizada por possuir dupla natureza, partindo do fato da mesma ser simultaneamente uma entidade social (um grupo organizado de pessoas) e uma unidade econômica (uma empresa, administrada e controlada comunitariamente), tendo como objetivo principal o de ser utilizada diretamente pelos associados como meio para prover bens e serviços que necessitam e que não conseguem obter individualmente em condições semelhantes. (RECH, 2000, p. 22).

A cooperativa é um empreendimento que se constitui numa sociedade de pessoas, que se unem voluntariamente, e tem por objetivo agregar os indivíduos com a finalidade de melhorar as condições de vida, eliminando a figura do intermediário na obtenção dos recursos.

Segundo PINHO (1966), as cooperativas começaram a se multiplicar e a se concentrar nos países de estrutura capitalista a partir do século XX, tornando-se mais importantes depois da primeira guerra mundial.

São princípios básicos do cooperativismo: o livre acesso e adesão voluntária; controle, organização e gestão democrática; autonomia e independência; educação, capacitação e informação; cooperação entre as cooperativas, e por fim, compromisso com a comunidade.

Nos assentamentos as cooperativas assumem um papel peculiar, isso porque, não se tratam apenas de cooperativas, mas na verdade, trata-se de algo ainda mais amplo e complexo, pois são assentamentos coletivos, onde as relações de trabalho estão sedimentadas nesta perspectiva.

Durante a implantação do Assentamento Santa Maria os assentados tiveram muitas dificuldades, tanto para serem aceitos pela população da cidade, como para se manterem trabalhando exclusivamente no assentamento, sendo necessário neste momento trabalharem fora, como boia fria, ajudante de pedreiro, e outros trabalhos temporários, porém, com muita dedicação foram conseguindo conquistar a confiança da população.

Hoje vivem no assentamento 22 famílias, sendo que, destas 12 estão desde o início e vieram basicamente das regiões oeste e sudoeste do estado do Paraná. Todos estão ocupados

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no assentamento, ou seja, não há mais necessidade de trabalhar para vizinhos ou em atividades na cidade, pois há trabalho na COPAVI para todos, isso porque, a produção esta sólida e já conseguiu espaço no mercado para comercializar seus produtos.

Os assentados têm liberdade para consumirem os produtos da cooperativa, cada família pode consumir o necessário para sua subsistência, não há uma divisão em partes iguais, ou seja, uma família pode consumir dez litros de leite por semana, enquanto outra apenas dois, porém, as duas têm os mesmos direitos, não sendo cobrado da família o consumo maior. Como nem todos os gêneros alimentícios necessários à sobrevivência das famílias são produzidos no assentamento, cada família compra a parte que falta no comércio local, porém, o café da manhã e o almoço são realizados na cozinha coletiva, sendo estas despesas custeadas pelo caixa da cooperativa.

A infraestrutura é composta pela agrovila onde moram todos os assentados, um barracão onde fica a cozinha coletiva, a panificação e o minimercado destinado à venda de produtos aos visitantes e também a população das cidades vizinhas que vão até o assentamento para comprá-los. Também há uma horta bem estruturada, que produz pelo sistema orgânico, uma área destinada à produção leiteira, com ordenha mecânica, hoje a produção de leite é a segunda atividade mais lucrativa do assentamento, contando com setenta cabeças de gado.

A primeira atividade da cooperativa é a produção de derivados da cana de açúcar, a cachaça e o açúcar mascavo destacam-se entre os demais. Existe também a criação de suínos. Parte da produção da COPAVI é vendida in natura e parte é industrializada na própria cooperativa, no caso do leite, uma parcela é pasteurizada e a outra vira derivados como iogurte e queijo.

A divisão interna do trabalho se dá pela aptidão de cada associado, não se busca o rodízio das tarefas, isso só acontecerá caso seja necessário por algum motivo específico. No total há no assentamento 84 pessoas, sendo que todas trabalham, com exceção, das menores de quatorze anos.

As crianças se dedicam exclusivamente aos estudos, todos os dias um ônibus da prefeitura de Paranacity passa pelo assentamento para buscar os alunos. Os maiores de quatorze anos podem trabalhar, porém tem a obrigação de manter-se estudando. O assentamento já possui alguns membros que terminaram curso superior, são cinco pessoas, nas áreas de educação e agronomia. Neste caso, o assentamento libera estas pessoas para o interesse do MST, sendo assim, eles são enviados a outras regiões do país para desempenharem suas funções no sentido de contribuírem para o movimento, porém, não há

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assentados com ocupações voltadas para o mercado ou para beneficio próprio, como por exemplo, pedagogos ou professores formados no assentamento trabalhando em escolas na cidade.

No assentamento existe a função de coordenador geral da cooperativa, voltado a assuntos administrativos, como compra e venda de mercadorias, atendimento aos órgãos de fiscalização, pagamento de tributos, etc., sendo que, cada atividade também tem um coordenador, ou seja, entre as pessoas que trabalham na atividade leiteira escolhe-se uma para coordenar, que terá a função, por exemplo, de marcar as horas trabalhas de cada associado envolvido naquela atividade. Os coordenadores também terão que desenvolver as tarefas junto com os demais, o fato de estarem na coordenação das atividades não exclui as outras obrigações.

Vale ressaltar que todas estas decisões são tomadas em assembleias, desde a escolha dos coordenadores, decisão sobre a liberação de associados para atender as necessidades do movimento, troca de ocupação, etc., tudo passa pela assembleia. Segue a mesma lógica com os custos e lucros, tudo é exposto e discutido em grupo.

O ganho financeiro atingido por cada família gira em torno de R$ 700,00. Porém o cálculo que deve ser feito tem que considerar que, além deste valor, acrescente-se moradia de boa qualidade, as casas são quase todas de alvenaria, água, alimentos produzidos na cooperativa, as duas refeições diárias servidas na cozinha coletiva e a segurança que o assentamento proporciona, tudo isso sem custos, o assentado não paga por estes benefícios, sendo assim, consegue um padrão de vida razoável.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modelo de desenvolvimento capitalista brasileiro possibilitou que a propriedade da terra se mantivesse estável nas mãos de uma pequena parcela da população, com isso, a luta pela reforma agrária ganhou importância e representatividade, os movimentos sociais foram os maiores responsáveis pela espacialização e territorialização da luta pela terra. Sendo assim, não podemos deixar de ressaltar a sua importância, pois, se alguma reforma agrária esta ocorrendo é fruto da luta cotidiana dos movimentos sociais.

O capitalismo é contraditório, de um lado temos os grandes latifundiários, e de outro, temos uma grande massa de camponeses desprovidos dos meios de produção, que encontram na organização em movimentos sociais uma forma de resistir e lutar pela terra de trabalho.

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Neste sentido, os assentamentos rurais coletivos são porções do território reconquistado, onde há possibilidade do camponês se realizar como sujeito, e assim sendo, criar condições para sua reprodução. O avanço do capitalismo, não leva a extinção do campesinato, mas a sua recriação, dentro da própria contradição do capitalismo, o camponês não é um sujeito de fora do capitalismo, mas de dentro dele.

Na COPAVI foi possível observar que o camponês, ao se territorializar, mostrou que a concretude da reforma agrária esta na sobrevivência do assentamento. Sendo assim, podemos dizer que só haverá uma reforma agrária efetiva se buscarmos, além de desconcentrar as terras, maneiras para viabilizar a sustentabilidade socioeconômica dos assentamentos.

A organização interna do assentamento busca que todas as ocupações sejam desenvolvidas proporcionando satisfação ao camponês, que ele não se sinta um empregado da cooperativa, mas que estabeleça vínculo com o lugar e assim realize-se no trabalho. O trabalho na cooperativa não é apenas uma forma de produzir riqueza, mas também de se realizar como pessoa.

Um dos principais objetivos da COPAVI é contribuir com o fortalecimento da luta pela terra, consequentemente, resultado na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, servindo como exemplo na busca de formas de trabalho em que prevaleça a figura do sujeito sobre o objeto, o que se contrapõe a total privação dos meios de produção imposta aos agricultores camponeses pelo modo de produção capitalista. E também, caminhando ao encontro dos anseios do MST que faz da luta pela terra não só uma forma de acesso a ela, mas sim, considera a questão de como fazê-la produzir.

REFERÊNCIAS

FABRINI, J. E. A escala da luta e resistência camponesa. UNESP – NERA. Artigo do mês: setembro/outubro 2006.

FERNANDES, B. M. A formação do MST no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. _________________. MST, formação e territorialização. São Paulo: Hucitec, 1996.

OLIVEIRA, A. U. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e reforma agrária. In: Estudos avançados. Universidade de São Paulo. vol.15 n.43. São Paulo. Sept./Dec. 2001.

___________________. A geografia das lutas no campo. 6 ed. São Paulo: Contexto, 1994. ___________________. Modo capitalista de produção agrícola. São Paulo: Ática, 1986.

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PINHO, D. B. A Doutrina Cooperativa nos Regimes Capitalista e Socialista. São Paulo: Pioneira, 1966.

RECH, D. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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