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Os Hospitais da Colina de Sant Ana Uma rota urbana

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Academic year: 2021

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antiga de Lisboa. O casco urbano entre a Avenida da Liberdade e a Avenida Almirante Reis, ou seja uma das colinas de Lisboa, está pejada de património histórico, artístico e científico.

Os hospitais da Colina de Sant´Ana –Lisboa

Este património poderá ser objecto de mil rotas. Os vestígios materiais e imateriais multiplicam-se indefinidamente. Hoje vamos percorrer um caminho que nos conduz a muitas portas que escondem séculos de história e de vida, mas que falta desvendar estudar e divulgar.

Tudo terá começado, no início do séc. XIV, com a instalação da Gafaria de S. Lázaro, por iniciativa da Ordem dos Hospitalários. Desta leprosaria constava ”uma cerca murada com capela, casa dos gafos e cruzeiro”.

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Cruzeiro da Gafaria de S. Lázaro. Depositado no Museu do Convento do Carmo

Mas no Rossio, em 1492, no enfiamento da Igreja de S. Domingos, D. João II lança a primeira pedra do Hospital Real de Todos-os-Santos (HRTS). Será uma “obra do regime” e tornar-se-á num símbolo na inovação em medicina, arquitectura e organização.

Hospital Real de Todos-os-Santos (1492-1775)

Este local foi o ponto de encontro dos santos padroeiros de dezenas de pequenas instituições que acolhiam pobres e doentes. Será também aqui o nosso ponto de encontro e de partida para a “peregrinação” à Colina de Sant´Ana.

Em 1775, com o terramoto, o HRTS sofre grandes danos e será substituído, anos mais tarde, pelo Hospital Real de S. José. Este hospital foi ocupar o edifício do Colégio de Santo Antão-o-Novo (1579-1759), colégio jesuíta que, segundo Henrique Leitão, foi “uma das mais importantes instituições de ensino da capital e da história do nosso país”.

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Colégio de Santo Antão-o-Novo Hospital de S. José - entrada principal

A “Aula da Esfera” deste Colégio, hoje Salão Nobre do Hospital de S. José, é considerada pelos estudiosos da história da ciência um grande pólo europeu onde se ensinava, entre outras disciplinas: cosmografia, astronomia, geometria, aritmética, náutica, óptica e engenharia militar.

Hospital de S. José. Painel de azulejos da Aula da Esfera

O Hospital Real de S. José herdou não só o saber de 283 anos do Hospital Real de Todos-os-Santos mas também 180 anos da história de ensino jesuíta. Estamos perante um património material e imaterial de duas instituições maiores da ciência e do ensino em Portugal.

A Capela do Hospital, antiga sacristia da igreja do Colégio, é monumento nacional e o conjunto edificado do antigo colégio foi classificado como imóvel de interesse público.

Sacristia da Igreja do Colégio de Santo Antão-o-Novo. Actual Capela do Hospital de S. José

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O Hospital de S. José, irá honrar, durante 233 anos, a memória da herança recebida tendo-se revelado uma instituição de grande prestígio científico.

Em 1857, é anexado ao Hospital de S. José o edifício do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro, mesmo ali ao lado, que durante 164 anos tinha pertencido à Ordem dos Frades Bernardos e passa a chamar-se Hospital do Desterro (1857-2007).

Hospital de Nossa Senhora do Desterro

Para além deste passado conventual, o Hospital do Desterro, encerrado em Março de 2007, esteve ao serviço dos doentes durante 150 anos e destacou-se particularmente na disciplina de Dermatovenereologia. Em 1955 foi aí criado o Museu da Dermatologia Portuguesa, Dr Sá Penella . Do espólio deste museu ressalta a Colecção de Figuras de Cera representando patologia dermatológica que pela sua qualidade e por ser única em Portugal deveria ser considerada património nacional.

Figura de cera da Colecção de Dermatologia

Continuando o percurso, encontramos, à esquerda, o Instituto de Medicina Legal de Lisboa (1879). A este encostado, o edifício da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, 1ª Faculdade de Medicina de Lisboa (1911-1953). Do outro lado da rua, os pavilhões do Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana (1902-2008).

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Instituto de Medina Legal Faculdade de Ciências Médicas Instituto Bacteriológico Câmara Pestana Atravessando o Campo Mártires da Pátria avistamos o Hospital de Santo António dos Capuchos.

Hospital de Santo António dos Capuchos. Fachada da Igreja

Este hospital, integrado nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) em 1928, é constituído por diversos edifícios e de várias épocas: edifícios do Convento, do Asilo da Mendicidade de Lisboa e do Palácio Mello. Este último alberga nos seus salões, revestidos a azulejo, uma enfermaria de doentes de cirurgia.

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Hospital S. António dos Capuchos: Painel de azulejos do Palácio Mello

Desde 1997 que as caves do Palácio Mello albergam um espólio científico a que foi dado o nome de Núcleo Museológico do Hospital de Santo António dos Capuchos.

Caminhando em direcção ao Hospital Dona Estefânia somos surpreendidos pelos altos muros do Hospital Miguel Bombarda (1848). Esta instituição, antigo Convento da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo, posteriormente convertido no 1º hospital psiquiátrico em Portugal com a designação de Hospital de Alienados em Rilhafoles, alberga um património histórico assinalável.

Hospital Miguel Bombarda. Pavilhão de Segurança

Após este momento inesperado poderemos retomar o percurso e chegar ao Hospital Dona Estefânia (1877), única instituição da Colina construída de raiz como hospital.

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Hospital de D. Estefânia

Se continuarmos um pouco mais chegamos ao Hospital de Arroios (1892-1992), edifício já em elevado estado de degradação. Este hospital foi instalado no antigo Convento de Freiras Concepcionistas Franciscanas (1756-1890), anterior Colégio Jesuíta de Formação de Missionários para o Oriente (1756-1755).

Hospital de Arroios

Regressando e descendo a Colina de Sant´Ana passamos pelo Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (1889) com destino ao Hospital de Santa Marta.

O Hospital de Santa Marta (1903) ocupou o antigo Convento de Religiosas Clarissas de 2ª regra sob a invocação de Santa Marta. A igreja deste mosteiro, classificada como imóvel de interesse público é considerada por Victor Serrão “…um dos mais saborosos exemplares maneiristas que subsistem em Lisboa…”.

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Hospital de Santa Marta

O Hospital de Santa Marta exerceu as funções de hospital escolar até 1953, ano em que a Faculdade de Medicina do Campo de Santana foi transferida para as instalações do Hospital de Santa Maria. Em 1957 este hospital recebe o primeiro museu da história da medicina em Portugal, designado Museu dos HCL - Doutor Alberto Mac Bride.

Museu dos HCL Doutor Alberto Mac-Bride Mac

(Hospital de Santa Marta)

Se em Portugal, durante séculos, a vida da cultura, da educação e da ciência esteve intimamente ligada à vida do cristianismo e à história da Igreja, os HCL tiveram o privilégio de ser os sucessores de instituições religiosas que, no conjunto, somam cerca de 1200 anos de vida.

Durante mais de 5 séculos estas instituições foram também actores da história social e política da cidade e do país: nos descobrimentos, na ocupação filipina, nas invasões francesas, no liberalismo, na 1ª república. Dessas intimidades existem vestígios, memórias, património. Para além do rico e diverso património cultural construído e classificado, há ainda um património científico que se inicia no Hospital Real de Todos-os-Santos e se continua na Escola

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Monumentos e dos Sítios (ICOMOS) consideram a situação actual do património público português muito preocupante “ …quando se inicia um processo de alienação de património público de que não havia memória desde a privatização dos bens do clero e da igreja, no século XIX e no início da República” (Jornal Público,23-05-08), vem-nos imediatamente à memória os edifícios dos hospitais de Arroios e do Desterro.

Também os hospitais Miguel Bombarda, S, José, Santo António dos Capuchos e Santa Marta já foram vendidos à empresa Parpública/Estamo/Sagestamo, holding pública que tem por missão pôr no mercado o património público excedentário.

Poderíamos pensar que se 4 destes hospitais têm edifícios classificados, o Igespar garantiria a sua protecção. Quanta ingenuidade!

Então, que fazer com esta herança?

Alberto Mac-Bride foi o primeiro a responder, em 1912:

“…é por isso que eu peço para que nelle (Hospital de S. José) que possui as grandes tradições da medicina nacional, as effective e se esforce para as perdurar e que numa Sala se vão coleccionando todos os objectos, livros de registo que os tem preciosos, não só para o estudo da história da medicina, mas dos costumes populares, livros antigos escritos pelos seus clínicos, papeletas, antigos ferros que possua, alguns d´invenção muito original, tudo quanto seja interessante para o estudo da evolução da medicina nacional”

“…Será o primeiro museu da história médica, e estou certo, mercê das condições do Hospital de S. José, o único possível de realizar em Portugal”

Luis Campus e Cunha, em 2010, opina:

“…Avançar com auto-estradas, TGV, ponte sobre o Tejo, aeroporto, implica não haver recursos para tapar um buraco numa estrada secundária, reparar uma ponte, manter um monumento ou fazer um jardim…

Se fosse líder de um partido propunha como objectivo nacional: fazer de Portugal um país mais bonito e mais agradável para se viver. Fazer o jardim, requalificar os centros das grandes cidades, manter o património, construir o património cultural do futuro, arranjar as pequenas vias de comunicação, reparar as pontes…medidas que criariam emprego, viabilizariam muitas pequenas empresas e não implicariam a paralisia do país.”

Antes que este processo de alienação do futuro do país atinja este património, não há tempo a perder para o inventariar, estudar, divulgar e defender.

Senhores arquitectos, urbanistas, universidades, centros de investigação, artistas, associações de defesa do património, cidadãos de Lisboa, do Mundo, contribuam com estudos, projectos,

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ideias…

Nós sim somos os herdeiros deste património!

Célia Pilão

Administradora hospitalar

Comunicação apresentada no Seminário: Património Hospitalar de Lisboa: Que futuro? Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa

2 de Dezembro de 2010

Bibliografia:

-Cunha, Luis Campos, Tsunami, in Jornal Público, 1 de Outubro de 2010

-Leitão, Henrique. Spaera Mundi: A Ciência na Aula da Esfera, Catálogos, Biblioteca Nacional, Lisboa, 2008.

-Leone, José. Subsídios para a História dos Hospitais Civis Lisboa e da Medicina em Portugal, 1948-1990”, Ed. da Comissão Organizadora das Comemorações do V Centenário do Hospital de Todos-os-Santos, Lisboa, 1992.

Mac-Bride, Alberto, “Actualidades – A História da Medicina em Portugal”. Revista A Medicina

Contemporânea (Fevereiro 1912), Ano 30, nº7.

Salta, Ana Maria, FACTORES ESTRUTURANTES DA COLINA DE SANT´ANA em Lisboa, séculos XIV a XVI.

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Desenho Urbano, ISCTE, Lisboa 2001.

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Referências

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