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O ENSINO DA HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS. Palavras chaves: Ensino da História. Relações étnico-raciais. Formação acadêmica.

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O ENSINO DA HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Nilvaci Leite de Magalhães Moreira¹

Resumo: Mesmo após 12 anos da promulgação da Lei nº 10.639/03, a História e cultura

afro-brasileira ainda são muito pouco difundidos nas escolas afro-brasileiras, espaços em que são cotidianamente marcados por conflitos raciais, manifestados por comportamentos preconceituosos e discriminatórios que vem contribuindo historicamente para a exclusão escolar e desigualdades raciais. Buscando uma nova forma de recontar a história do povo negro no âmbito educacional, este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos alunos do curso de Licenciatura em História sobre as questões raciais na sua formação acadêmica. Para isso, recorreu-se a abordagem qualitativa, bibliográfica e de campo com aplicação de um questionário para consubstanciar as discussões suscitadas. Com os dados da pesquisa foi possível perceber que a maioria dos alunos possui pouco conhecimento a respeito da lei nº 10.639/03, e desta forma, reconhecem a relevância de uma disciplina no curso de História que promova o desenvolvimento de aportes teóricos e práticos específicos que tratem das discussões sobre as questões étnico-raciais na sociedade brasileira, como forma de melhor compreenderem a dinâmica do racismo, preconceito e discriminação racial no espaço escolar e a sua forte permanência nas relações sociais.

Palavras chaves: Ensino da História. Relações étnico-raciais.Formação acadêmica. Introdução

A herança deixada pelos povos africanos foi ao longo dos tempos, sendo reproduzida nas escolas como algo sem valor, uma cultura atrasada e associada a tudo que é negativo. Isso possibilitou a sociedade brasileira a terem uma visão errônea e estereotipa do negro, a qual vem perpetuando de geração a geração, colocando o negro em condição eminentemente desfavorável.

A invisibilidade e a depreciação pelos valores históricos e culturais do povo negro, veiculados e reproduzidos nos livros didáticos de História contribuíram ao logo dos tempos na internalização de uma imagem negativa da população negra, reforçando comportamentos preconceituosos e discriminatórios, contribuindo na cristalização de um ideal de superioridade branca, resultando historicamente na sociedade brasileira em desigualdades raciais.

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¹ Graduanda em História pela Universidade Federal de Mato Grosso- UFMT e professora da rede municipal de ensino de Cuiabá –MT. nilvacimagalhaes@gmail.com , 1-Etnias e movimentos sociais

Portanto, buscar uma nova forma de recontar a história do povo negro em sala de aula faz uma grande diferença, tendo em vista que o aluno tem a possibilidade de reconstruir e redescobrir suas identidades, tendo acesso à outra versão da historiografia da escravidão, isto é, mostrando que embora os africanos estivessem na condição de escravos, eram dotados de cultura, conhecimentos, afetividade e reagia a situação de escravizados, partindo em busca da sua liberdade por meio das lutas e resistências.

Desta forma, o estudo tem como objetivo analisar a percepção dos alunos do curso de Licenciatura em História em relação às questões raciais na sua formação acadêmica. Busca ainda abordar sob a perspectiva do ensino da História nas escolas brasileiras e da sua relevância na inclusão do ensino da História da África e da Cultura Afro Brasileira tendo como foco o que preconiza a Lei 10.639/03, a qual alterou o art. 26 da Lei 9394/06 -Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Fundamentação teórica

Ao longo de sua história, o Brasil instituiu um sistema educacional excludente e de negação de identidade racial, implicando no processo de escolarização de milhares de brasileiros negros. A História do povo negro na sociedade brasileira foi intencionalmente construída e reproduzida nos bancos escolares, impregnada de carga racista e preconceituosa, reduzida ao sistema de escravidão, exploração do trabalho, submissão e passividade, direcionada sob forte negação de sua identidade, desprovida de sentimento familiar e de vida social.

Certamente, essa visão vem se perdurando por mais de quatro séculos, e sua permanência deve se ao fato da educação escolarizada no Brasil incorporar uma concepção europeia, que ao longo dos tempos vem fortemente cultuando e valorizando a cultura dos colonizadores e inferiorizando a cultura dos colonizados.

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De acordo com Munanga (2008) o resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra, mas também deve interessar aos alunos de outras ascendências, pois para o autor:

[...] essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual alimentamos cotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional. (MUNANGA, 2088, p. 12).

Munanga afirma que, o grande desafio da educação está em discutir e mostrar o racismo como um dos graves problemas de nossa sociedade, e que vem comprometendo a vida da população negra em nosso país. Desta forma, ele acrescenta que:

Se nossa sociedade é plural, étnica e culturalmente, desde os primórdios de sua invenção pela força colonial, só podemos construí-la democraticamente respeitando a diversidade do nosso povo, ou seja, as matrizes étnico-raciais que deram ao Brasil atual sua feição multicolor composta de índios, negros, orientais, brancos e mestiços, (MUNANGA, 2008, p. 14).

Considerando o Brasil constituído de uma sociedade multirracial e pluriétnico, nos faz pensar a importância do ensino da História na reversão de valores centrados em uma única cultura e buscar valorizar o legado de outros povos que também se fizeram presentes na formação do povo e da cultura brasileira, como é o caso do povo africano.

Ao revisitarmos a trajetória do ensino da História na educação brasileira, a partir da década de 60, a história lecionada nas escolas favorecia conteúdos que contemplavam a formação cívica no intuito de ajustar os jovens para os interesses do Estado, pautada no ideal de progresso, tendo como base teórica a historiografia tradicional positivista e eurocêntrica, e desta forma, os alunos não eram vistos como protagonistas de história.

Para Fonseca (2009) as escolas brasileiras, embora vivenciando inúmeras mudanças no século XXI no processo de redemocratização e de reorganização da sociedade brasileira, ainda vem ensinando a história nesses mesmos moldes, por meio de reprodução de materiais curriculares e didáticos. O autor aponta que é importante que os professores através de suas

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práticas pedagógicas diferenciadas, contribuam na formação do aluno na apropriação e a incorporação de valores de que ele é o centro das transformações sociais. É imprescindível que os professores de História compartilhem ideia da relevância de apontar caminhos que conduzam os alunos à transformação da sociedade brasileira, dando condições a eles de exercerem sua cidadania de forma global e significativa.

Kátia Abud (2004) expressa forte crítica à forma como os currículos são conduzidos no Brasil, enfatizando que estes foram historicamente sendo utilizados como instrumento ideal para a disseminação do discurso do poder e para a propagação de ideologias. Para a autora os discursos históricos dominantes são veiculados e introjetados nos conteúdos escolares que de forma eficiente e em sintonia com a mídia, disseminam valores na produção de um imaginário coletivo.

De fato, ao pensar no contexto das relações raciais no Brasil e considerar que a construção de uma memória coletiva é resultado de processos sociais, podemos dizer que em nosso país foi construída um imaginário social de representação negativa do negro e propositalmente difundida. Essa ideologia foi historicamente construída a partir da metade do século XIX, tendo como base as teorias racistas que postulavam a hierarquização das raças e afirmavam a superioridade ariana tanto na capacidade intelectual como no aspecto moral.

Essas teorias foram abraçadas pelas elites brasileiras, e os intelectuais da época como Nina Rodrigues, Silvio Romero, Euclides da Cunha e Oliveira Vianna absorveram e legitimou em seus escritos enaltecendo a construção de uma nação eminentemente branca calcada no modelo europeu.

Esse modo de pensar o negro no Brasil trouxe graves problemas a população negra em diversos aspectos, dentre eles o acesso e permanência na educação, ocasionando em desigualdades. Tais desigualdades vêm sendo insistentemente reveladas em estudos e pesquisas estatísticas, em que comprovam a diferença educacional entre negros e brancos em todos os níveis de ensino. Assim, as representações simbólicas criadas em torno do ser negro tem colocado a população negra em situação desvantajosa na sociedade, ocupando patamares

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inferiores na escala social, sendo que homens e mulheres negros para conquistar a sua ascensão social tem que romper diversas barreiras imposta pelas múltiplas faces do racismo.

Portanto, buscar uma nova forma de recontar a história do povo negro em sala de aula faz uma grande diferença, tendo em vista que o aluno tem a possibilidade de reconstruir e redescobrir suas identidades, tendo acesso à outra versão da historiografia da escravidão, isto é, mostrando que embora os africanos estivessem na condição de escravos, eram dotados de cultura, conhecimentos, afetividade e reagia a situação de escravizados, partindo em busca da sua liberdade por meio das lutas e resistências.

Contribuindo com essa questão, Silva (2008, p. 21) salienta que:

A presença do negro nos livros, frequentemente como escravo, sem referência ao seu passado de homem livre antes da escravidão e às lutas de libertação que ele desenvolveu no período da escravidão e desenvolve hoje por direitos de cidadania, pode ser corrigida se o professor contar a história de Zumbi dos Palmares, dos quilombos, das revoltas e insurreições ocorridas durante a escravidão; contar algo do que foi a organização sócio-político-econômica e cultural na África pré-colonial; e também sobre a luta das organizações negras, hoje, no Brasil e nas Américas.

Brito (2011) nos informa que a história do povo negro brasileiro vai além das suas contribuições na dança, na culinária e na música, isto é, foram nos legados diversos aspectos do seu modo de vida e organização político-social, como também sua tecnologia, religião, sua filosofia e uma vasta manifestação cultural vivenciado em cada Estado brasileiro.

Sobre o lugar do povo negro na História do Brasil, a autora enfatiza que “as elites brasileiras estabeleceram através dos livros de história, o mito de uma nação cordial, formada por um povo pacifico, amante da ordem e da paz, optando por omitir os conflitos e a violência que marcaram esses encontros (ou confrontos)”. (p. 6).

Contudo, Brito prossegue afirmando que, além de omitir esses conflitos que assinalaram o enredo da história nacional, as elites brasileiras, que continham o poder de escrever a história do Brasil, também conferiram diferentes papéis e valores a índios, negros e brancos. Portanto, a identidade nacional foi produzida a base da exclusão, invisibilidade e omissão dos povos indígenas e africanos.

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E ainda, esses homens e mulheres negros foram ocultados dos livros de história com a abolição em 1888 cedendo espaço aos imigrantes europeus considerados mais apropriados para um país que buscava o progresso, já que os escravos traduziam o atraso. Desse modo, a autora ainda utilizando dessa lógica interpretativa ressalta que:

[...] a história oficial tratou esses grupos de forma desigual, omitindo exclusões, violência e as contribuições de cada um deles para a formação do povo brasileiro e do país. [...] Portanto, foi atribuído ao europeu o papel de colonizar e formar um país, além de implementar uma língua nacional e organizar a nação social e politicamente. Nesta versão da história, ser branco no Brasil carregava significados como ser superior, bonito, civilizado e ser dotado de um poder natural sobre a maioria da população, que era inferior. Em contrapartida, ser negro, por exemplo, significava ser escravo, feio, africano e atrasado. (BRITO, 2011, p. 7).

Analisando a relevância política dos debates historiográficos sobre a escravidão no Brasil, Brito observa que é importante que o professor tenha conhecimento e repassem a seus alunos aspectos relevantes trazidas a partir de documentos históricos como da existência de vínculos familiares e de amizade, fugas organizadas, revoltas, quilombos, tentativas de negociar a liberdade e tantas outras estratégias políticas utilizadas por homens e mulheres para sobreviver numa sociedade escravista.

Contudo, ao pensar não só no processo de escravidão, mas também na história do negro e seus feitos na construção do Brasil, torna-se necessário refletir sobre como vem sendo proposto os currículos de História nos livros didáticos a cerca da compreensão das relações com os tempos e saberes históricos apreendidos ao longo das décadas pelas gerações, na perspectiva de entender a interligação entre o passado e o presente.

Com o advento da Lei 10.639, a partir de janeiro de 2003, em que tornou obrigatório nos estabelecimentos de ensino públicos e particulares, o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil, abriu-se as portas para uma nova proposta de se ensinar a história do povo negro para as novas gerações.

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Oliveira (2003) ao tratar das relações raciais no espaço da escola e dessa interação com a prática pedagógica, chama a atenção para a relevância da atuação do professor como agente de poder para contribuir num novo modo de pensar das crianças e jovens em relação as questões raciais.

Para isso, a autora salienta a importância da inserção dos estudos raciais na formação de professores, defendendo a necessidade da inclusão de estudos obrigatórios sobre questões raciais em todos os cursos de graduação, possibilitando que os profissionais saibam e tenham domínio de conhecimentos sobre as razões que culminaram na construção das desigualdades raciais na sociedade brasileira. Segundo ela, “esta medida fortalecerá a formação na área de ciências sociais e humanas e dará aos demais profissionais uma visão político-social indispensável a sua atuação em uma pretensa sociedade democrática [...]”. (OLIVEIRA, 2003, p. 117).

Contudo, é relevante ressaltar que, o ensino da História pode contribuir na mudança desse ideal imaginário que se instalou na sociedade brasileira, buscando evidenciar outro lado da história, uma história positiva do povo africano no Brasil, e a valorização do negro como protagonista de sua própria história, a sua cultura, da sua contribuição em todas as áreas sociais, na tentativa de desconstruir preconceitos e de preparar as novas gerações para o pleno convívio com as diferenças culturais.

Metodologia

Para isso, recorreu-se a abordagem qualitativa, que segundo Minayo (2007) se preocupa em trabalhar com o “universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, e que o universo da produção humana no mundo das relações, das representações e intencionalidade dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos” (p.21).

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Com o objetivo de verificar a percepção dos alunos do curso de Licenciatura em História em relação às questões raciais na sua formação acadêmica, foi aplicado um questionário a 50 acadêmicos do curso de História. Optou-se pela aplicação de questionário, por considerar uma técnica de investigação, que segundo Gil (1999, p. 128) é composto por um número mais ou menos elevado de questões apresentados por escrito às pessoas, tendo por objetivo “o conhecimento de opiniões, crença, sentimentos, interesse, expectativa, situações vivenciadas, etc.”.

O questionário constou de quatro questões, sendo duas abertas e fechas e duas fechadas. É bom ressaltar que o questionário foi voluntário e anônimo.

Foi organizado da seguinte forma: a questão 1 buscou verificar se o aluno possuía conhecimento da Lei 10.639/03 e do que se tratava; a questão 2 teve a função de saber a opinião do aluno se considera necessária a implantação de uma disciplina específica sobre as questões raciais no Brasil no Curso de Licenciatura em História , a questão 3 buscou a identificação racial do aluno de acordo com a classificação racial do IBGE; e a questão 4 a obter informação sobre em que semestre se encontrava o aluno.

Os dados foram coletados, tabulados e analisados. Para consubstanciar as discussões suscitadas recorreu-se a pesquisa bibliográfica.

Resultado e discussão

O questionário foi aplicado aos alunos do 1º, 3º, 5º e 7º semestre do Curso de licenciatura em História de uma universidade pública no município de Cuiabá/MT, com a finalidade de avaliar a percepção dos alunos em relação às questões raciais na sua formação acadêmica.

Foram coletados dados de 50 estudantes, sendo que deste total, 10 estão matriculados no 1º semestre, 16 no 3º do semestre, 12 no 5º semestre e 12 no 7º semestre. Em relação a questão sobre a classificação racial dos alunos, conforme definido pelo IBGE ( branco, preto, pardo, amarelo e indígena), 20% se identificaram como preto, 48% como pardo, 28% como branco e 2% como amarelo.

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Como já foi explicado, a questão 1 (um) teve a intenção de verificar se o aluno possuía conhecimento da Lei 10.639/03 e do que se tratava. Do número total de participantes, 82% responderam que não conhecem e nem do que se trata a lei e 18% disseram que conhecem, porém 7 (sete) sabem do que se trata, 2 (dois) não responderam.

Percebe-se que 68% dos estudantes participantes desta pesquisa são negros9, o que

demonstra que as discussões sobre relações raciais nas universidades devem ser fomentadas em todos os cursos, principalmente nos cursos de licenciaturas. Nota-se que a maioria dos alunos (82%) não conhece a lei 10.639/03 e nem sequer sabem do que se trata. Tendo em vista que estes possivelmente estarão atuando como professores da educação básica, é de suma importância que seja oportunizado o estudo sobre a História e cultura afro-brasileira e africana na sua formação acadêmica, para que possam refletir sobre as problemáticas causadas pelo racismo e seus derivados na sociedade brasileira e a necessidade de descontruir mitos, buscando trabalhar o respeito à diversidade racial na escola.

Para Azevedo (2011) o professor de História precisa contextualizar práticas e representações para que os alunos consigam compreender conceitos e tenham condições de analisar a sua realidade. Desta forma, pode-se dizer que as representações sociais em relação aos povos africanos foram veiculadas historicamente de forma estereotipada e desfavoráveis à prática de políticas igualitárias que viabilizam um trabalho educativo que sensibilizem as transformações das desigualdades.

Assim, a autora contribui afirmando que:

Ao trabalhar a pluralidade cultural presente em sala de aula o docente de História pode promover a desconstrução do mito da democracia racial e ao mesmo tempo ensinar como se constituíram as diferenças no decorrer do tempo e como foram historicamente usadas para a inclusão de uns e a exclusão de outros. (AZEVEDO, 2011, p.88)

9 Neste estudo, o termo negro é empregado para definir a população brasileira composta pelos grupos raciais pretos e pardos.

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Como podemos perceber, é importante que ainda na graduação, os futuros professores em História devem ser preparados para atuar em sala de aula na perspectiva de promover uma educação antirracista, implementando o que preconiza a lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. De acordo com as Diretrizes, nas instituições de ensino superior, a educação das relações étnico-raciais e o estudo de história e cultura afro-brasileira e africana poderá ser desenvolvidos, entre outros, como disciplinas curriculares.

Na organização curricular dos cursos superiores (licenciaturas) destinados à formação de professores para a educação básica a História e Cultura Afro-Brasileira deve ser disciplina obrigatória, em especial nas áreas de Educação Artísticas e de Literatura e História Brasileira. (MEC, 2004)

Nesse contexto, as Diretrizes aponta a importância da inclusão de disciplina sobre a História e Cultura Afro-Brasileira como forma de contribuir na redução das desigualdades raciais, evidenciando preocupação com a formação do professor que atuará na educação básica, cujo espaço é marcado pela reprodução de imagens negativas do negro, e consequentemente, culminando em relações raciais conflituosas, trazendo sérios problemas na trajetória escolar de crianças e jovens negros.

Corroborando com esse pensamento, Brito (2011) considera que a forma como a história do povo negro é contada na sala de aula é que faz a diferença. Nesse sentido, faz se necessário que o professor de História aborde as questões raciais propiciando um espaço rico de debates e reflexões que desmistifique os tabus e mitos que foram enraizados na sociedade ao longo dos anos.

Na questão 2 foi perguntado sobre a opinião dos alunos se há a necessidade de implantar uma disciplina específica sobre as questões raciais no Brasil no Curso de Licenciatura em História. 72% disseram que sim, 26% responderam que não e 2% não opinou.

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envolvam atitudes preconceituosas e discriminatórias, na tentativa de contribuir no combate ao racismo e as desigualdades raciais em nossa sociedade.

Em relação aos estudantes que responderam que não há a necessidade de implantar uma disciplina que trate das questões étnico-raciais, verifica-se que esta opção é devido não conhecerem a lei 10.639/03, e não acreditarem ainda que há racismo na escola e de que nós professores, temos a função social de educar para a diversidade e de contribuir na formação de cidadãos mais tolerantes e que valorizem e respeitem as diferenças. Daí a necessidade da formação dos professores de História desde a graduação, para que possam desenvolver um bom trabalho tanto no ensino fundamental como médio nas escolas brasileiras, e em especial, em Mato Grosso.

Considerações finais

Entender o imaginário social brasileiro sobre as atitudes e comportamentos acerca do universo do racismo e seus derivados está ligado a construção social de inferioridade do negro em nosso país, desde o processo de escravidão. A invisibilidade do negro como sujeito histórico foi constante na historiografia brasileira.

A presença do negro nos livros didáticos de História sempre foi marcada como escravo, sem referência de cultura, conhecimentos, lutas e resistências. Nesse cenário, os professores também se fizeram presentes contribuindo com práticas pedagógicas na reprodução de uma ideologia racista e preconceituosa em relação a população negra. Dessa forma, a Lei 10.639/03 se apresenta como um valioso instrumento de enfrentamento ao grave problema das desigualdades raciais na educação brasileira e no combate ao racismo, porém, precisa que os professores estejam engajados nesta luta de valorização da História e da cultura negra.

Neste sentido, este estudo buscou evidenciar a percepção dos estudantes do curso de licenciatura em História sobre a importância das questões étnico-raciais na sua formação acadêmica. Com os dados da pesquisa foi possível perceber que a maioria dos alunos possui pouco conhecimento a respeito da lei nº 10.639/03, porém a maioria argumenta que há a

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necessidade de uma disciplina no curso de História que promova o desenvolvimento de aportes teóricos e práticos específicos sobre as questões étnico-raciais na sociedade brasileira, como forma de melhor compreenderem os motivos e razões da existência do racismo, preconceito e discriminação racial que imperam na sociedade e refletem no espaço escolar.

Referências

ABUD, Kátia. Currículos de História e políticas públicas: os programas de história do Brasil na escola secundária. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 9ª Ed. São Paulo: Contexto, 2004. P. 28-41.

AZEVEDO, Cristiane Barbosa. Educação para as relações étnico-raciais e ensino de

História na Educação Básica. SABERES: Revista Interdisciplinar de Filosofia e Educação,

Natal-RN, V.2, n. esp., jun., 2011. Disponível em:

http://periodicos.ufrn.br/saberes/article/view/1097. Acesso em 11/06/2014. P. 174-194. BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. .Brasília: MEC,

2004.

BRITO, Luciana da Cruz. Tópicos sobre a História do negro na sociedade brasileira. Módulo 4. (Relações Raciais e Educação na Sociedade Brasileira). Cuiabá: EdUFMT,2011. FONSECA, Selva Guimarães. Fazer e Ensinar História. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2007.

MUNANGA, Kabengele. Apresentação, in: Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008.

OLIVEIRA, Iolanda de. A prática pedagógica de especialistas em relações raciais e educação. In: Iolanda de Oliveira (org.). Relações raciais e educação novos desafios. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

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SILVA, Ana Célia. A desconstrução da discriminação no Livro Didático. In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o Racismo na escola. 2ª edição, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008.

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