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Universidade Federal de São Carlos. Aciepe- Direitos Humanos pelo Cinema Trabalho final sobre o filme: Mississipi em Chamas

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Academic year: 2021

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Universidade Federal de São Carlos Aciepe- Direitos Humanos pelo Cinema

Trabalho final sobre o filme: “Mississipi em Chamas”

Cíntia de Melo Dias RA:346179

Ficha Técnica:

Mississipi em Chamas (Mississipi Burning, no original) é um filme norte-americano de 1988, do gênero drama, dirigido por Alan Parker e com roteiro de Chris Gerolmo.

Contexto:

O Sul dos Estados Unidos, no período posterior a segunda guerra mundial, sofreu um processo de mecanização da produção de algodão, resultando no abandono das zonas rurais por milhares de trabalhadores agrícolas afro-americanos e, consequente a urbanização desses indivíduos que migraram do sul para o norte do país e também dos que migraram da zona rural do sul dos EUA para a urbana da mesma região sulista.

Com a saída do negro do campo, há uma tentativa de manutenção de sua situação de inferioridade, por parte dos brancos, que ainda os via como merecedores de serem sobrepujados, com base numa teoria de raça menos evoluída. Essa teoria possuía três alicerces: raça, progresso e hierarquia social, isto é, a aplicação do darwinismo para reforçar uma questão social. Os defensores desta, eram chamados de racialistas, pois, acreditavam na submissão das raças inferiores, ou na sua eliminação. Alegavam haver uma inferioridade inata e irremediável.

Cansados de tanta discriminação, privação e violência sofrida, muitos negros começam a agir de forma individual, como Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, se recusou a obedecer a lei de apartheid racial no Alabama, marcando o início da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.

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O início desse movimento tem como pauta a dessegregação das escolas públicas, que em 1954 contou com o apoio do Supremo Tribunal dos Estados. Os jovens negros contaram com o apoio dos jovens brancos liberais, principalmente de grupos de mulheres. Eles eram reconhecidos pela Liga das Mulheres Votantes, Associação Cristã de Moças e aos grupos unidos das mulheres, representando as Igrejas Católicas, Protestante e Judaica. A maior parte desses apoiadores, via a emancipação negra como algo inevitável na vida americana, alguma coisa que deveria acontecer sem muito esforço direto de sua parte. Esses brancos eram acusados muitas vezes de “amantes dos negros”.

Não é possível adentrar na temática do filmes “Mississipi em Chamas” sem levar em consideração a luta pela dessegregação e a reivindicação da extensão dos direitos civis aos negros ocorrida nas décadas de 50 e 60 nos EUA. Várias movimentações e protestos são fundamentais para se pensar o tema, tais como: em 1956 com os boicotes de linhas de ônibus, e o envio de tropas federais para garantir a integração de jovens estudantes negros, em 1963 com a grande marcha sobre Washington por emprego e liberdade, bomba em igreja negra, em 1964 três jovens militantes dos direitos civis desaparecem depois de presos e são assassinados (foi história inspiradora deste filme), em 1965 Malcolm X é assassinado, em 1968 Martin L. King é assassinado, causando distúrbios em 125 cidades.

As lutas de independência da África tiveram um peso importante para a mobilização da juventude. O triunfo das lutas africanas despertou um sentimento de vergonha por sua passividade diante da segregação e motivaram sua admiração por líderes e assimilação com o continente.

Em 2 de julho 1964 o congresso norte americano aprovou a Lei dos Direitos Civis, a qual estabelecia o fim da discriminação racial nas acomodações públicas, no emprego, na educação e no registro de eleitores. A confirmação da lei passou por longos debates no Congresso, tendo o Senado que determinar a votação imediata sobre o assunto após 75 dias de debates. Através dessa Lei, o processo de registro de eleitores passava a ser igual a todos os requerentes, tendo direito a voto americanos alfabetizados sujeitos a

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uma prova escrita e que tivessem até o sexto grau de alfabetização. A discriminação racial e religiosa foi proibida em lugares de acomodação pública, como restaurantes, postos de gasolina, lojas, teatros, quadras esportivas, hotéis e outros alojamentos. As escolas com programas de dessegregação deveriam receber assistência técnica e financeira, entretanto a lei não ordenava o transporte de alunos de um distrito escolar a outro.

O governo federal foi determinante em muitos aspectos para a aplicação e manutenção da lei dos direitos civis para os negros. No filme isto é retratado, já que somente por tentar levar a investigação a diante, o governo já estava batendo de frente com a cultura racista de certos estados.

Filme:

Durante os meses de verão de 1964, férias escolares nos Estados Unidos, um grupo de mais de cem estudantes voluntários pelos direitos civis do norte do país, brancos e negros, dirigiram-se ao sul para iniciar uma campanha pelo direito de voto negro e para a formação de um partido pela liberdade do Mississippi.Isto é, foi durante o Verão da Liberdade, em que estudantes universitários do norte dos Estados Unidos partiram para o sul segregacionista na missão de inscrever os negros para eleição que três jovens ativistas dos "Direitos Humanos" desapareceram misteriosamente. Dois agentes federais, um recém-formado, interpretado por Willem Defoe e outro veterano do sul, feito por Gene Hackman, são designados para desvendar o caso. No dia anterior a chegada dos agentes, uma igreja onde os negros congregavam havia sido incendiada, e ao chegarem na cidade. Entre os negros , a religião tinha basicamente duas funções: levar conforto e relaxamento e , ao mesmo tempo, dar força para enfrentar situações . As igrejas eram vítimas constantes em ataques racistas nos EUA, pois, constituíam um espaço para se discutir suas condições de vida. Foi nesse âmbito, do canto gospel, que a musicalidade negra se desenvolveu, surgindo dali o blues e o jazz, músicas de lamentos e histórias de vidas.

Durante as primeiras andanças na tentativa de saber algum fato sobre o caso dos jovens desaparecidos, a grande segregação e o racismo extremamente

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presente já foram percebidos, como já esperava a personagem de Gene Hackman. Estava infiltrado na Polícia local, na igreja, em todos os lares.

A história gira em torno dos dois agentes do FBI que investigam o caso de três garotos desaparecidos. São enviados ao estado norte-americano do Mississipi para investigar o desaparecimento de três jovens engajados na luta pelos Direitos Civis, sendo eles: dois brancos e um negro. São encarados com hostilidade pela comunidade local, inclusive pelas autoridades políticas e policiais, envolvidas nos desmandos que preservam e estimulam o preconceito. A comunidade negra local, por seu lado, acuada diante da possibilidade de sofrerem novas perseguições e de ocorrerem novas mortes depois do final das investigações, prefere ficar em silêncio, pouco se pronunciando sobre os desaparecimentos, mesmo quando se sabe algo a respeito. Os dois possuem métodos totalmente diferentes e não conseguem se entender. Na verdade, cada um pensa que deve proceder às investigações a seu modo.

Anderson (Gene Hackman) é o agente da velha guarda. Temos a impressão de que para ele é mais importante resolver o caso do que seguir as regras. Ele mesmo já morou numa cidade como aquela e sabe como as coisas funcionam. Ele vai discretamente interrogando os locais como se fosse um deles. Inclusive flertando com a mulher de um policial (Frances McDormand). Claro que não é por acaso,pois a mulher é o única que o policial tem como álibi para a hora do desaparecimento.

Ward (Willen Dafoe) faz tudo de acordo com a burocracia do FBI. Ao invés da discrição, ele aluga um cinema e convoca centenas de agentes do FBI para trabalharem no caso e procurarem os corpos desaparecidos. Sem contar que não faz a menor idéia de como lidar com a população do local, isto é, tenta se impor como uma autoridade do Estado perante um estado sulista.

Depois de muito trabalho e de muitos feridos durante a investigação, já que os negros com quem falavam, mesmo que por poucos minutos, eram humilhados e espancados numa tentativa de intimidar mais ainda a população, conseguem com a ajuda de um deles, que havia perdido a família e não a esperança, descobrir o carro dos jovens humanistas e depois seus corpos. Descobrem

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também os culpados, dentre eles o xerife, o prefeito e o pastor da cidade. Os sete envolvidos diretamente são presos e condenados, menos o pastor.

Considerações:

Se levarmos em consideração a importância da denuncia feita pelo filme que trata da discriminação racial, sendo uma importante ferramenta de denuncia ao racismo, surgem então algumas perguntas, tais como: por que os negros são expostos de forma secundária no decorrer do filme? A questão do filme ser baseado em fatos reais, e que talvez os agentes fossem realmente brancos, isto é, influenciou na escolha dos atores, não muda porém, a seguinte critica: não vemos uma movimentação negra no filme. Não vemos reuniões, envolvimentos com movimentos de luta. Não obstante o filme tratar da discriminação racial é importante salientar que o mesmo é feito sob a ótica do homem branco e que apesar do tema central do filme ser a violência contra a população negra, o mesmo dá destaque a ação do FBI, pondo dois agentes brancos, interpretados por Gene Hackman e Willem Dafoe, como heróis da história. A luta negra que conhecemos pelos livros e citada em alguns casos no início desde, na parte de contexto não é bem apresentada no filme. Vemos uma população negra com medo e acuada, que somente quando perde todos seus entes, decidem denunciar algo.

Podemos nos questionar porque os agentes do FBI são expostos como heróis, se diversas autoridades e instituições do país, tais como: a polícia, as

prefeituras, entre outras, foram coniventes com as agressões feitas pela Ku Klux Klan por muito tempo.

Frases do filme:

Selecionei algumas frases que aparecem no filme que merecem ser comentadas.

Anderson: Sabe, seu eu fosse negro, eu provavelmente pensaria como eles. Ward: Se você fosse negro, ninguém daria a mínima para o que você pensa.

Talvez Anderson tenha dito que negros pensam diferente, por uma questão racial, e Ward por ser de outra região, isto é, um observador, além de policial reconhece que existem problemas no trato dos negros na região.

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Xerife Ray Stuckey: Você gosta de beisebol, Anderson? Anderson: Sim, muito. Sabe, esse é o único momento em que um negro pode agitar um bastão na direção de um branco sem começar uma revolta.

Anderson tentando se misturar a população local para retirar informações.

Ward: Vale a pena morrer por algumas coisas. Anderson: Por aqui, é um pouco diferente: aqui, eles acreditam que vale a pena matar por algumas coisas.

Ward se refere ao ideal de luta por direitos civis nos EUA como uma boa causa. E Anderson o alerta que será uma dura luta, pois alguns estão dispostos a lutar até o fim para que isso não ocorra.

Deputado Pell:Você não tem o direito de estar aqui. Isso é uma reunião política. Ward: Não está me cheirando a reunião política nenhuma. Pell: Mas é uma maldita reunião política, Hoover Boy Ward: Bem, até parece uma reunião política, mas está me cheirando mais a Klan... com ou sem as fantasias de Halloween.

O agente Ward, como um agende federal, invade uma reunião, de forma a impor sua presença, representando o Governo da época, adentrando os clãs sulistas de dominação.

Comparação com A “Declaração universal dos direitos humanos”*: Artigo II*

“Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem

nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.” Artigo III*

“Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS :Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

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Os direitos iguais e inalienáveis considerado o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, não haviam nem mesmo em constituição até a década de 60 nos EUA. Assim como as punições inexistentes para aqueles que possuíam o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos, e que resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade lutando contra o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor não foram cumpridas. Um Estado que não assegurou direitos iguais a todos a partir de direitos civis, nem punições para quem descumprisse leis, resultando em punição penal que não existiu.

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Bibliografia:

FRANKLIN, J. H. MOSS Jr. Da Escravidão a Liberdade: a historia dos negros norte americanos. Rio de Janeiro. Nordica. 1989 .p. 456.

Santos, Gislene. A. A Invenção do Ser Negro: um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros1ª ed. – São Paulo: Educ/Fapesp; Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

SYRETT, Harold C. Documentos históricos dos Estados Unidos. São Paulo: Cultrix, 1980. p.337-338.

Referências

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