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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARTIGO CIENTÍFICO

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

2 IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS ASSOCIADAS À QUEDA NA COBERTURA DE

IMUNIZAÇÃO NA POPULAÇÃO DE MESQUITA

FABIANA DA SILVA OLIVEIRA – fabianasilva@id.uff.br – UFF/ICHS SIMONE SILVA S. DE OLIVEIRA – simotekaa@gmail.com – UFF/ICHS

Resumo

A aceitação e a adesão ao Calendário Nacional de Imunização é quase uma unanimidade entre a sociedade brasileira; porém, nos últimos anos, os órgãos de Saúde Pública Nacional e, inclusive, entidades internacionais como a UNICEF e OMS, têm observado uma sensível queda na vacinação mundial. A ausência de conhecimento e conscientização da importância da imunização podem ser as causas para a hesitação vacinal. Sendo assim, este artigo científico busca investigar a relação entre a queda da cobertura de vacinação no município de Mesquita com advento das notícias falsas e na comunicação das campanhas de vacinação de nível educacional. Com a finalidade de identificar o motivo pelo qual as pessoas passaram a recusarem a vacinação, já que isso dificulta uma gestão pública de qualidade, e a não vacinação leva a propagação de doenças. A pesquisa será feita utilizando o questionário semiestrutura como ferramenta para alcançar o objeto do trabalho. Após investigação do perfil populacional dos indivíduos que se recusaram a vacinar em Mesquita, o artigo mostrou que a queda na cobertura vacinal independe de classe social e escolaridade. Os presentes resultados colaboram para a investigação das causas da queda da cobertura vacinal. Este que é considerado o maior problema de saúde pública no ano de 2019 pela Organização Pan-Americana de Saúde.

Palavras-chave: saúde pública, notícias falsas, vacinação, gestão pública de saúde.

1 Introdução

A vacinação é um método de imunização no qual é feita uma intervenção imunológica contra uma doença infecciosa. Ocorre a imunização quando o sistema imune do indivíduo entra em contato com um antígeno e responde produzindo anticorpos e memória imunológica. Os anticorpos produzidos combatem doenças infecciosas, tornando o indivíduo imune às mesmas (ABBAS, 2012).

Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (2019), estima-se que a imunização evite entre 2 a 3 milhões de mortes por ano. A vacinação pública evita mortes por difteria, tétano, tosse convulsa e sarampo anualmente em todas as faixas etárias. É uma das intervenções de saúde pública mais bem-sucedidas mundialmente.

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3 As campanhas de vacinação de combate ao Sarampo são exemplo da importância da imunização no contexto mundial. A sua introdução se deu na década de 1960 através do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, tendo como objetivos principais organizar, implementar e avaliar as ações de imunização em todo o país sem distinção de qualquer natureza. No ano de 1974 foram realizadas campanhas de vacinação em áreas urbanas de vários estados. Essa estratégia foi logo substituída pela valorização dos serviços de rotina e expansão dos serviços básicos de saúde. No ano de 1986 foi considerado como sendo ode maior epidemia de sarampo, da década, sendo notificados 129.942 casos, representando uma incidência de 97,7 por 100.00 habitantes (FUNASA 2017).

Mesmo com a introdução da vacina no país, foram observadas epidemias a cada 2 e 3 anos, com uma incidência de 42 por 100.000 habitantes, no fim da década de 90. Em 1992 foi iniciado o plano estratégico de erradicação do sarampo que teve sucesso após longos anos de campanhas de vacinações obrigatórias com o uso das carteiras de vacinação (FUNASA 2017).

Apesar de ter sido considerada uma doença erradicada no Brasil em 2016, em agosto de 2019 o número de indivíduos acometidos pelo sarampo triplicou, chegando ao número de 1.045 casos (dados atualizados em agosto de 2019, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Esse aumento no número de indivíduos acometidos pela doença pode ser explicado pela queda na cobertura vacinal, que de acordo com a Organização Mundial de Saúde representou uma queda de 96% no ano de 2016 para 91% no ano de 2019. Além das informações que remetem um cenário de queda da cobertura vacinal, muito tem se falado das notícias falsas a respeito de eventuais problemas provocados pela administração de vacinas em crianças, promovendo um desinteresse pela aplicação do imunobiológico. Estes movimentos anti-vacinas, tiveram início na Europa e EUA e em sua maioria deram início após a divulgação de dados da revista The Lancer, uma vez que a pesquisa apresentada sugeria uma associação entre a vacina MMR (tríplice viral – sarampo, caxumba e rubéola) a casos de Autismo e Inflamação intestinal (Wakefield et al.1998).

No Brasil a saúde é um direito de todos os indivíduos e garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (Lei 8080/90). E conforme estabelece o Estatuto da Criança e do

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4 Adolescente (Lei 8609/90) é de obrigação legal dos pais a vacinação legal das crianças (CONSTITUIÇÃO, 1988). Embora seja evidente que mesmo a proteção dada às crianças e adolescentes, ainda faltam articulações legais para punição aos pais que se recusam vacinarem seus filhos, já que a obrigatoriedade não está vinculada a nenhuma punição em caso de descumprimento da Lei, o que acaba tornando o direito infantil sujeito a vontade de seus representantes legais.

Este artigo pretende abordar as motivações dos indivíduos que recusaram a vacinação tanto para si quanto para seus filhos. Será apresentado neste artigo um referencial teórico abordando os aspectos históricos das campanhas de vacinação e sua relação direta com a falta de saneamento básico existente no princípio do século XX.

Sendo assim por meio de questionário, como ferramenta, será feito neste artigo um levantamento do perfil dos indivíduos resistentes às vacinações coletivas buscando conhecer as reais motivações para o desinteresse em relação à imunização ativa promovida pelos principais imunobiológicos disponíveis no SUS. Como objetivo secundário, será avaliado se existe relação das motivações de não vacinação com as falsas notícias acerca das vacinas. Para atingir esses objetivos será necessário identificar o perfil social, educacional, renda e também o processo de comunicação promovido pelas campanhas. Para que assim possa ser traçado estratégias que a gestão pública de saúde possa atuar para reverter esse quadro de aumento no número de pessoas que rejeitam a imunização, problema que é considerado pela Organização Pan-Americana da Saúde como um dos maiores problemas de saúde a ser enfrentado no ano de 2019.

1. Objetivo Geral

Investigar as possíveis causas na recusa à imunização em indivíduos residentes em Mesquita, buscando relação entre o perfil social-econômico e a queda da cobertura vacinal.

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2 Referencial Teórico

Este referencial teórico traz um apanhado histórico que mostra o sucesso das imunizações no Brasil ao longo dos anos e traz ainda, programas que facilitaram essa cobertura das imunizações e as causas atuais das quedas nos índices de vacinação no país.

2.1 Importância do Sistema Único de Saúde na imunização do

Brasil.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu os princípios e diretrizes para uma completa reorganização do Sistema de Saúde a partir da formalização de um princípio igualitário e do comprometimento público com a garantia desta, isso permitiu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

O SUS é entendido como a principal política pública para o setor de saúde e o projeto maior do movimento sanitário brasileiro. No momento histórico atual tem o desafio principal de efetivar-se como Política de Estado. Isso representa ressignificar que o SUS como a expressão da negociação Estado/sociedade consagrada na Constituição Federal e, portanto, imune em seus fundamentos às naturais alternâncias de poder. É um grande desafio, a julgar as práticas políticas históricas e correntes, vigentes nas três esferas de governo (Legislativo, Executivo e Judiciário), de partidarização da máquina pública e apropriação das políticas sociais pelos governantes em prol da lógica de sua reprodução política (ELIAS, 2004).

No Brasil, a evolução histórica da medicina e das ciências biológicas se sobrepõem de maneira mais abrangente do que nas demais nações, isso se deve à relevância que os institutos biomédicos fundados no final do século XIX conquistaram no estabelecimento das ciências de forma geral (PÔRTO, 2003).

Esse momento da história foi chancelado pelos debates que se iniciaram no século XIX e perduraram até o século XX, formatando um pensamento higienista que promovia a saúde (SILVA; SENA, 2010). Durante essa época nasceram conceituações de medicina social e saúde voltada para a coletividade, fundamentados na correspondência entre saúde e condições de vida, partindo do reconhecimento do aumento da mortalidade em virtude

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6 das questões sociais oriundas da revolução industrial. No entanto, os avanços da ciência ratificando o pensamento de natureza biológica de enfermidades, continuaram conduzindo os esforços de prevenção, mudando o pensamento até então existente (ANDRADE; BARRETO, 2003).

Toda essa evolução ocorrida no desenho epidemiológico das populações com o crescimento dos casos de doenças crônicas contribuiu com a preocupação dos paradigmas relacionados ao sistema de saúde existente até então, surgindo assim, novos modelos de intervenção, promovendo assim a promoção da saúde (SILVA; SENA, 2010).

Esse processo se desenrolou e evoluiu até alcançar um entendimento igualitário promovido pela Constituição Cidadã, aonde foi possível a ampliação de políticas básicas de saúde primária, levando em conta a importância das políticas públicas de saúde primária como saneamento básico, água tratada e a imunização, creditando a estas, inclusive, um provável aumento na expectativa de vida de pelo menos 30 anos (LEVI 2013).

É dentro do conceito e preceitos do SUS que encontra-se a necessidade da atenção à saúde básica primária, onde as Campanhas Nacionais de Imunização estão inseridas.

A gestão do SUS é uma tarefa de alta complexidade, dadas as características particulares de cada região do Brasil e sua extensão territorial continental. Os Gestores são obrigados a desenvolver reflexões variadas como: as necessidades de saúde da comunidade, questões políticas, culturais, econômico-financeiras, organizacionais, gerenciais, científico-tecnológicas, educacionais e de formação dos recursos humanos.

2.2 Vacinação: Contexto histórico

A propagação da vacina só foi introduzida nacionalmente, muitos anos depois da descoberta que imortalizou Eduardo Jenner. Documentos históricos oficiais confirmam o ano de 1805 como o marco da inoculação da vacina no Brasil (LOPES, 2007).

Conforme citado anteriormente, no início do século XX, a falta de saneamento básico e as péssimas condições de higiene no Rio de Janeiro faziam da cidade um foco de epidemias, principalmente no que diz respeito à febre amarela, varíola e peste. Estas pragas tropicais deram à capital do país o triste apelido de “túmulo de estrangeiros” (PORTO, 2003).

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7 No Governo do Presidente Rodrigues Alves (1902-1906), teve início uma ampla reforma sanitária e remodelação da Capital, Rio de Janeiro, a exemplo de cidades europeias. A população da cidade revoltou-se contra o plano de saneamento, mas, sobretudo, com a remodelação urbana feita pelo presidente. Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares parisienses. A população local foi desalojada, refugiando-se em barracos nos morros cariocas ou em bairros distantes na periferia. As favelas começaram a se expandir.

Em 1904, a cidade foi assolada por uma epidemia de varíola. Oswaldo Cruz impôs, por força de lei, a vacinação obrigatória. Brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam pessoas à força. Tal ação causou enorme repulsa pela maneira como foi feita. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção de líquidos desconhecidos poderia causar no corpo das pessoas. A indignação levou ao motim popular, que explodiu em 11 de novembro de 1904 e ficou conhecido como a “Revolta da Vacina”.

A Revolta da Vacina em 1904 talvez tenha sido, até os dias de hoje, a maior dificuldade enfrentada pela Saúde Pública. Cerca de 3.500 pessoas morreram de varíola naquele ano. Dois anos depois, esse número caía para nove e em 1910, foi registrada uma única vítima. A cidade estava, enfim, reformada e livre do nome de “túmulo dos estrangeiros”. Apesar de todas as dificuldades de aceitação, a vacinação representou um avanço considerável na saúde pública.

O Programa Nacional de Imunizações do Brasil é um dos maiores do mundo, ofertando 45 diferentes imunobiológicos para toda a população. Há vacinas destinadas a todas as faixas etárias e campanhas anuais para atualização da caderneta de vacinação. No caso brasileiro, a cesta de vacinas disponíveis gratuitamente pelos serviços públicos de saúde é maior do que aquela recomendada pelas organizações de saúde internacionais como, por exemplo, a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) e maior ainda do que é ofertado pelos demais países da América Latina e países da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCED).

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8 Os processos históricos confirmaram essa "cultura da imunização" no Brasil. O sucesso da imunização certamente reforçou sua credibilidade social (HOCHMAN, 2011).

2.3 A mobilização mundial em relação as quedas das coberturas

de imunobiológicos.

Em 1974, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu um programa de vacinação mundial (Expanded Program on Immunization) para garantir o acesso universal a todas as vacinas infantis rotineiramente recomendadas com o objetivo de reduzir a incidência de doenças. Entretanto, como estas doenças se tornaram extremamente raras, e até mesmo desconhecidas pela maioria da população em geral, criou-se um paradoxo na conquista sanitária mundial, a qual tem sido motivo de preocupação dos governos em todo mundo: a atenção do público não está mais centrada nas doenças imunopreveníveis, mas sim na segurança e eficácia das vacinas e na questão ética implicada pela sua utilização (LESSA & SCHRAMM 2015).

Dados preliminares, até agosto de 2018, mostram que a cobertura vacinal de crianças menores de dois anos, ainda não é a ideal, gira em torno de 50% e 70%. O Ministério da Saúde preconiza a cobertura acima de 90% ou 95%, a depender da vacina (acessado em 10 de Outubro de 2019 <pni.datasus.gov.br/>)

Importantes Jornais e revistas têm publicado matérias a respeito dos índices de imunização preocupantes no Brasil apoiados em pesquisas divulgadas pela OMS e UNICEF.

Segundo a Revista PESQUISA FAPESP, publicada em agosto de 2018, traz na capa a seguinte manchete: "As razões da queda na vacinação: Ao menos nove fatores contribuem para a redução na imunização infantil e aumentam o risco de doenças graves ressurgirem".

A matéria traz ainda:

“A cobertura vacinal no país, considerada modelo, caiu significativamente nos últimos dois anos (até 21 pontos percentuais). A proporção de crianças vacinadas

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em 2017 contra poliomielite, rotavírus, hepatites A e B e meningite foi a mais baixa em anos e ficou bem inferior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde, tornando o país mais suscetível a epidemias. Uma consequência da redução no número de crianças vacinadas se tornou evidente com o surto de sarampo em Roraima e no Amazonas. A taxa de cobertura do tríplice viral, que protege da doença e alcançava 96% das crianças em 2015, baixou para 84% em 2017 e abriu caminho para o retorno da infecção ao país.

O vírus do sarampo havia sido eliminado do Brasil em 2016 e voltou agora via Venezuela. De fevereiro a 23 de julho, deixou 822 pessoas doentes – foram 272 casos em Roraima, 519 no Amazonas, 14 no Rio de Janeiro, 13 no Rio Grande do Sul, 2 no Pará, 1 em São Paulo e 1 em Rondônia – e causou cinco mortes.” A cobertura recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 90% para a BCG e a vacina contra o rotavírus, causador de diarreia severa. Para os demais imunizantes, é de 95%.” (FAPESP, 2018)

2.4 O impacto da proliferação das notícias falsas para a Saúde

Coletiva.

Desde os tempos do Império, passando pela República e por várias reformas e ideologias como o Paternalismo, Burocratização, Desburocratização e Gestão Pública Moderna baseada em conceitos empreendedores como: eficiência e eficácia, além de outros inerentes ao setor público como: Governança e Governabilidade, a Administração Pública passou por várias fases e desafios característicos de seu tempo e de sua sociedade. Hoje, Gestores Públicos enfrentam um desafio volátil, altamente mutável, sem raízes e de difícil detecção: as notícias falsas (TORRES, 2016).

É identificado alguns dos protagonistas da queda nos índices de vacinação, cerne deste trabalho: “médicos não prescritores, motivos religiosos e ideológicos, os que optam seletivamente pela não vacinação e os indivíduos que não vacinam-se e não vacinam seus filhos por influência de notícias falsas (fake news) sem nenhum apelo científico” (LEVI, 2013, p.72).

As fake news são talvez, até hoje, o desafio mais difícil a ser superado, pois mostra-se capaz de alterar o comportamento coletivo da sociedade, pondo em risco a saúde pública e traz ainda consequências como a volta de doenças anteriormente erradicadas, a exemplo do sarampo e poliomielite. É possível observar a ausência de legislação eficaz para coibir sistematicamente a difusão destas fake news. Tal prática, hoje, influencia pleitos eleitorais, inflamam a opinião pública, desorganizam estruturas e,

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10 como abordado neste trabalho, são responsáveis, junto com a desinformação, pelo declínio no índice de imunização por vacinação na rede pública de saúde. Portanto, deu-se início aos primeiros estudos a respeito do poder influenciador das fake news surgiram nos EUA, em Harvard, após as suspeitas de manipulação das eleições presidenciais americanas em 2016. A partir daquele momento, as fakes news começaram a ser tratadas como um perigo real e ganharam status de "problema" (MARSHAL, 2003).

Eleita em 2017 como a palavra do ano pelo dicionário Collins, o neologismo fake news, foi definido como “informações falsas, muitas vezes sensacionalistas, disseminadas como se fossem notícias” (MARSHAL, 2003).

Fake news podem ser caracterizadas pelo conceito de imprensa marrom segundo a descrição dada por Leandro Marshal aonde relata que a imprensa marrom inaugurou a era dos escândalos, do denuncismo gratuito, do jornalismo mexeriqueiro, das sessões de fofocas, das notícias dos bastidores da sociedade, para artificialmente produzir-se um ambiente de espetacularização. Estão associadas a esta etapa as reportagens de caráter especulativo e espetacular sobre o mundo da política, dos artistas, das personalidades públicas. Este tipo de imprensa é, sobretudo, aquele que manipula arbitrariamente os fatos, imaginando, inferindo, especulando, inventando, elucubrando, para deles extrair e artificializar o máximo de sensacionalismo (MARSHAL, 2003).

Já segundo Henriques:

“à saúde é um bom meio de cultura para boatos e rápida circulação de notícias. Isso acontece, em parte, porque a maior parte da população tem pouco conhecimento sobre a área e, em parte, pela ansiedade que causam as notícias sobre doenças e epidemias. O alastramento é ainda mais rápido quando o assunto é doença grave e ameaçadora. A combinação mais perigosa acontece quando informações e orientações que contrariam o conhecimento científico são difundidas numa situação em que existe algum fato real, como uma epidemia ou uma campanha de saúde pública. (HENRIQUES, 2018, p.9)

Pode-se citar um dos casos mais escandalosos de fraude científica que aconteceu justamente quando o pesquisador britânico Andrew Wakefield publicou, com outros doze autores, um artigo na importante revista Lancet, em que afirmava uma correlação causal entre a vacina tríplice viral (contra rubéola, sarampo e caxumba) e a ocorrência de autismo. Anos depois, foi constatado que a pesquisa era fraudulenta, o que motivou uma retratação pela revista e a cassação do registro médico do autor na Inglaterra.

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11 Investigações concluíram que haviam relevantes interesses econômicos envolvidos. No entanto, o estrago foi feito; muitas crianças deixaram de receber a vacina, em especial na Europa, por causa da boataria. A ação, que poderia ser chamada de criminosa, contribuiu para a ocorrência de surtos de sarampo, com internações e mortes (HENRIQUES, 2018). A publicação de Wakefield, ainda é apontada como responsável pelo movimento da "Não Vacinação" que teve início nos EUA e Europa, porém, hoje, conta com adeptos também aqui no Brasil. Geralmente a adesão a esses movimentos está muito ligada a convicções filosóficas ou religiosas, está associada também, a um público de maior poder aquisitivo e maior nível de escolaridade.

3 Procedimentos Metodológicos

3.1 Classificação da Pesquisa

Trata-se de uma pesquisa aplicada, onde busca-se, através de análise descritiva-exploratória identificar os motivos responsáveis pela redução nos níveis de imunização no Município de Mesquita., além de quantificar a confiabilidade da população-alvo nas vacinas e nas campanhas educativas de imunização.

A Cidade de Mesquita é o Município mais jovem do Estado do Rio de Janeiro e o 20º no ranking populacional deste. Em Mesquita existem 09 Unidades Básicas de Saúde, 01 Clínica Médica de Saúde, 02 Clínicas da família e 01 Policlínica onde estão disponibilizadas as vacinas priorizadas no Calendário de Vacinação. Segundo o IBGE, a população estimada para 2019 é de 176.103 pessoas e a renda per capita média é de 2,2 salários mínimo (IBGE, 2019).

3.2 Procedimento para Coleta de Dados

Utilizou-se neste artigo, modelo de questionário com perguntas descritivas já que, segundo Triviños (1987) e Manzini (1995), essas perguntas descritivas têm grande importância para a descoberta dos significados dos comportamentos das pessoas de determinados meios culturais. Junto com o levantamento obtido no referencial teórico,

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12 foi montado uma linha histórico-cultural (dialética), contendo as perguntas que poderiam ser designadas como explicativas ou causais. Estes tipos de perguntas têm como objetivo determinar razões imediatas ou mediatas do fenômeno social.

3.3 Instrumento de coleta de dados

Realizou-se levantamento bibliográfico em diversas fontes, sendo elas: base de dados Scielo, artigos no google acadêmico, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da criança e do adolescente (ECA) Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, relatórios publicados pelo Ministério da Saúde, além de manchetes de jornais e revistas de ampla circulação no país, para maior amplitude na pesquisa.

Foi enviado questionário contendo questões abertas e fechadas por meio eletrônico (Whatsapp, e-mail, link via facebook) para fazer um levantamento da média de indivíduos que recusaram a vacinação e suas motivações para isto.

Este questionário foi elaborado, na plataforma Google Forms, de forma a traçar o perfil de indivíduos que não participaram de campanhas de vacinação adultas ou infantis, levando em consideração o poder aquisitivo e o nível de instrução destes.

O link para responder ao questionário foi disponibilizado por 10 dias e, nesse período, foi respondido por indivíduos do sexo masculino e feminino, com idades entre 18 e 60 anos, com ou sem filhos e residentes no Município de Mesquita.

Prioritariamente a pesquisa buscou alcançar o maior número possível de participantes, totalizando 135 pessoas.

Após o fim da coleta de dados, houve a separação dos dados obtidos, alinhando-os com o resultado pretendido.

3.4 Análise dos dados

Foram realizados cruzamentos que seguem no curso e apresentados em formato de gráficos e tabelas, a seleção de dados da amostragem utilizou estatística geral para alcançar a estimativa a respeito da população definida.

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Resultados

Inicialmente o questionário buscou avaliar o nível de escolaridade dos indivíduos entrevistados, no qual pôde-se ver que 8,8% dos indivíduos que responderam o questionário tinham especialização completa, 31,2 % o superior. E também que 44,8% tinham nível médio e 15,2% tinham o ensino fundamental.

Em seguida, foram questionados sobre a renda per capita familiar 19,2% dos indivíduos possuíam renda menor que um salário mínimo enquanto que 35,2% tinham renda per capita familiar maior que um salário mínimo e 45,6% renda per capita de um salário mínimo.

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Esses dois resultados iniciais mostram a heterogeneidade dos indivíduos que responderam ao questionário tanto em relação a escolaridade quanto a classe social.

Em seguida, fomos avaliar a quantidade de indivíduos que continham filhos e foi visto que no total das 135 pessoas entrevistadas, 64% tinham filhos menores de 12 anos, ou seja, aproximadamente 86 pessoas.

A partir dessas informações a próxima pergunta do questionário tinha como objetivo fazer um levantamento do conhecimento desses indivíduos acerca do movimento antivacinas. O resultado nos mostrou que a maioria dos participantes conhece ou já ouviu falar pela mídia televisionada, escrita ou internet (mensagens, facebook…).

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15 Quando perguntados se achavam as campanhas informativas, 62,4 % concordam que as campanhas são esclarecedoras e informativas.

Satisfatoriamente o número de indivíduos que não estavam com a caderneta de vacinação dos menores em dia e que haviam deixado de vacinar seus filhos menores de 12 anos era apenas de 14,5%.

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16 A maioria desses indivíduos, 94.6%, também responderam que confiam nas vacinas oferecidas pelo serviço público de saúde.

A última pergunta questionava ao participante se ele, alguém da família ou seu(s) filho não se vacinaram nas campanhas de vacinação dos últimos 2 anos. 36,6% dos participantes responderam: “SIM. Eu, algum membro da minha filha ou meu filho (a) deixaram de se vacinar”. Nesse caso, solicitamos justificativa.

Contagem de Acreditam nas Vacinas oferecidas nos Postos de Saúde

Sim (94,6%) Não (5,4%)

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17 As mais diversas respostas surgiram para explicar o motivo de não se vacinarem. Vê-se a seguir.

Na figura 1 pode-se observar as palavras que mais surgiram como motivações:

5 Discussão

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18 Para um maior poder de discussão dos resultados, foram feitos quadros comparativos relacionando os níveis de escolaridade com os outros itens do questionário. Buscando assim, fazer um levantamento socioeconômico dos que participaram do questionário e investigar se existe uma correlação entre esses dados.

Foi feito inicialmente então a relação do grau de escolaridade dos indivíduos entrevistados com a renda per capita como apresentado na Tabela 1 a seguir.

Grupos Escolaridade + 1 Salário

Mínimo 1 Salário Mínimo

- 1 Salário Mínimo I Especialização 12 0 0 II Superior 10 28 4 III Médio 4 24 32 IV Fundamental 0 09 12

Tabela 1: Relação do grau de escolaridade dos indivíduos entrevistados com a renda per capita. Fonte: Informações de pesquisa deste artigo

Visualiza-se que a maior renda contempla 100% daqueles com maior escolaridade (especialização, nesse caso). Enquanto os grupos I e II somam 22 pessoas em um universo de 135 indivíduos, ou seja, apenas 17% (aproximadamente) possuem uma renda per capita maior que 1 salário mínimo por membro da família.

Nessa tabela analisou-se a porcentagem de indivíduos e familiares que deixaram de se vacinar (36,6%), a seguir fizemos uma contagem destes por grupo de escolaridade.

Grupo Escolaridade N % Por grupo (n de

indivíduos = 100%)*

I Especialização 08 indivíduos 5,9 73,3

II Superior 19 indivíduos 14,1 45,2

III Médio 28 indivíduos 20,7 46,6

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19 IV Fundamental 05indivíduos 3,7 23,8

Tabela 2: Relação do grau de escolaridade dos indivíduos entrevistados com a resistência à imunização. Fonte: Informações de pesquisa deste artigo * nesse cálculo utilizou-se como 100% a quantidade de indivíduos dentro de cada grupo, assim permitiu-se comparar a porcentagem de não vacinados dentro do próprio grupo e com o resultado da porcentagem total de participantes (100%)

Analisamos nessa tabela, que quando comparamos todos os indivíduos participantes, o maior índice de não vacinados está entre os que possuem nível médio. Ao comparar os indivíduos de cada grupo com eles mesmos, observa-se que o maior índice não vacinados está entre os de maior escolaridade, ou seja, entre 12 indivíduos, 08 não se vacinaram. Enquanto que no grupo do nível médio, entre 60 indivíduos, 28 não se vacinaram.

A partir das respostas abertas dadas pelas pessoas que não se vacinaram e percebendo as palavras mais utilizadas para justificar tal escolha (figura 1), pode-se dividir os participantes em dois perfis:

I - O perfil daqueles que não confiam nas vacinas, seja por boatos ou falta de esclarecimento das campanhas; e

II- Aqueles que não se vacinaram simplesmente porque não quiseram, sem nenhum motivo ou justificativa aparente. Esse grupo fica ainda mais claro ao constatarmos que mais de 90% dos participantes confiam na eficácia das vacinas e, ainda assim, 36,6% não se vacinaram.

No grupo I nota-se a necessidade de campanhas mais esclarecedoras, com informações simples em linguagem popular, onde seja possível transmitir a importância da vacina, suas possíveis complicações e conscientizar sobre a responsabilidade do ato coletivo e responsabilidade social.

O comportamento identificado no grupo II pode ser atribuído ao sucesso das campanhas de vacinação, apesar de parecer contraditório, a eficácia das vacinas permitiu que mais de uma geração de pessoas desconheça a gravidade de doenças como a varíola, a gripe espanhola e a poliomielite.

As vacinas podem ser consideradas vítimas do seu próprio sucesso. Com a disponibilidade de novas e eficazes vacinas, a epidemiologia das doenças infecciosas sofreu grandes modificações. Médicos formados há menos de 20-30 anos, excepcionalmente viram ou tiveram que cuidar de pacientes com poliomielite, difteria,

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20 meningite por Haemophilus influenzae; aqueles com menos de 40 anos de formados não viram casos de varíola. A falta de memória dessas doenças, de sua gravidade e das suas sequelas, faz com que a necessidade de as prevenir seja menos marcante (Succi, 2018).

Em 135 indivíduos participantes, apenas 63,4% estão imunizados, índice muito abaixo da média preconizada pelo Ministério da Saúde que é de 90 a 95% de cobertura vacinal.

Seria motivo para uma nova pesquisa buscar identificar se há migração de não vacinados de maior poder aquisitivo para as clínicas de vacinação privadas.

grupo Escolaridade N % Por grupo (n de

indivíduos = 100%)

I Especialização 06 4,4 50

II Superior 22 16,3 52,4

III Médio 38 28,1 63,3

IV Fundamental 18 13,3 85,7

Tabela 3: Relação do grau de escolaridade dos indivíduos entrevistados com o descontentamento com as campanhas de vacinações. Fonte: Informações de pesquisa deste artigo

Ao analisar a quantidade de pessoas que acham as campanhas de vacinação veiculadas por mídia escrita, televisiva ou digital; percebemos que o nível de escolaridade não interferiu no resultado. Entre 135 participantes o total de 62,4% respondeu que “SIM, as campanhas são informativas e esclarecedores” e apenas 37,6% não acham as campanhas informativas o suficiente.

Seria então, possível concordar com Sacramento, que afirma: a vacinação está submetida ao processo contraditório de uma sociedade com excesso de informação disponível tornar-se especialista de si mesma. As pessoas cada vez mais buscam informações on-line, algumas vezes como fonte exclusiva de pesquisa e nesse processo

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21 estamos mergulhados em uma sociedade onde falta educação, conhecimento, capacidade interpretativa e cheia de excessos (SACRAMENTO, 2018).

Provavelmente, os 37,6% que não são informados o suficiente pelas campanhas, buscam informações complementares em fontes não confiáveis, encontrando em redes sociais, muitas vezes, as respostas para as dúvidas que as campanhas de vacinação não foram capazes de sanar. Nesse momento a população sofre a influência negativa de notícias falsas e sem fundamento científico.

Para Levi a grande batalha a favor da vacinação deverá ocorrer basicamente na área da informação e do esclarecimento, já que a maior procura por informações relativas à área da saúde ocorre na internet (LEVI, 2013).

As campanhas de vacinação não ocupam seu lugar de maior fonte de informação sobre seus objetivos e benefícios. Aparecem periodicamente, em momentos de surto com uma postura conceitual imperativa e pouco informativa e nesse campo surgem as fakes news, interpretando e divulgando notícias duvidosas, mas que encontram nos indivíduos pouco afeitos às campanhas um público-alvo suscetível.

grupos Escolaridade N ( indivíduos

por grupo) % de 135 Por grupo (n de indivíduos em cada grupo = 100%) I Especialização 12 9 100 II Superior 39 29 93 III Médio 58 43 96,6 IV Fundamental 19 14 90,4

Tabela 4: Relação do grau de escolaridade dos indivíduos entrevistados com desconfiança nas vacinas oferecidas pelo serviço público. Fonte: Informações de pesquisa deste artigo

No grupo I a crença na eficácia das vacinas ofertadas no serviço público é uma unanimidade, ou seja, 100% confiam nas vacinas.

O índice de confiabilidade nas vacinas e na sua eficácia é de 94,6%, porém a adesão à imunização não alcança esse mesmo índice, ficando abaixo do preconizado pelo Ministério da Saúde.

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22 Seria motivo para uma nova pesquisa buscar identificar se há migração de não vacinados, de maior poder aquisitivo, para as clínicas de vacinação privadas.

Em 135 participantes, aproximadamente 47 indivíduos ( 64%) responderam que possuem crianças até 12 anos na família. Quando relacionado às crianças, o índice de vacinação sobe para 85,5%. Esses números demonstram uma maior preocupação dos pais em relação à imunização infantil. É possível perceber que esses mesmos pais, negligenciam as campanhas direcionadas a eles e aos parentes próximos adultos.

Durante as revisões bibliográficas acerca da queda nos índices de vacinação, nota-se que são raros os artigos que nota-se dedicam a associar a queda nos índices de vacinação aos quesitos: nível de escolaridade e renda per capita.

Considerações finais

Esse trabalho teve como objetivo principal de pesquisa investigar a percepção de indivíduos moradores de Mesquita sobre as campanhas de vacinação, a eficácia e necessidade da imunização relacionando a escolaridade e renda per capita á decisão de vacinarem-se ou não, buscando assim avaliar o perfil populacional desses indivíduos que se negaram a se vacinar.

Em relação especificamente a Mesquita, a renda per capita e não influenciou na escolha pela não vacinação, porém foi fato que entre os de menor escolaridade estão aqueles que buscam, em maior número, o serviço público de saúde onde estão ofertadas as vacinas. Residências onde existem crianças, o índice de vacinação também é maior.

Os resultados mostraram que, interessantemente, apesar do alto índice de confiabilidade, em todos os níves socioeconômicos, na eficácia das vacinas, e grande número de indivíduos que acham as campanhas de vacinação esclarecedoras e satisfatórias, os índices de imunização coletiva ainda são abaixo do preconizado de 90 a 95% pelo Ministério da Saúde.

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23 Cabe uma pesquisa, ainda mais esclarecedoras, sobre onde as pessoas buscam informações sobre saúde pública e se estas deixam-se influenciar por notícias falsa e sem fundamentação teórico-científica.

O tom imperativo e emergencial das campanhas de vacinação que surgem sazonalmente e sempre acompanhadas de notícias alarmantes de surtos pode ser considerada a principal falha de comunicação na gestão pública de saúde. Além disso, quando ocorrem campanhas de vacinação dá-se prioridade aos grupos de risco e muitos destes deixam de se vacinar, fazendo com que as pessoas de fora desse grupo fiquem mais tempo do que deviam na espera pela vacinação.

Um exemplo que mostra essa ineficiência nas campanhas de vacinação devido à má gestão de distribuição é o caso que aconteceu em Cachoeira do Sul em julho de 2019, aonde as vacinas contra febre amarela foram aplicadas fora da validade já que o ciclo de vacinações com prioridade nos grupos de risco foi muito longo. Esse problema foi tão significativo que a população de Cachoeira do Sul recebeu um alerta que possivelmente terão que se vacinar contra febre amarela novamente.

Mesmo que o Ministério da Saúde utilize estratégias como o bolsa família, para fazer com que a população se vacine, os índices de vacinação não têm subido.

Buscando soluções para a melhora nos índices de vacinação, algumas práticas podem ser válidas e eficazes, como a vacinação na população institucionalizada (escolas, universidades, empresas, indústrias e hospitais) e em lugares com alta concentração de pessoas, aproveitando-se de aglomerações como shoppings centers, terminais de ônibus, praças, comércios, igrejas, mercados populares, entre outros. Promover também, a busca de casa em casa, em horários noturnos, finais de semana e feriados. Unidades básicas de saúde funcionando em horários alternativos, diferente do horário comercial e alguns sábados e domingos.

Países como a Itália já estipulam multas para responsáveis que não vacinem seus filhos, para a realidade brasileira, onde as cargas tributárias são elevadas, a economia instável e uma maioria pobre, esse tipo de medida não traria resultados; a educação e a

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24 informação, ainda são os caminhos possíveis, utilizar as mídias com mais frequência e não apenas em períodos de campanha ou surto.

Por fim, esse artigo considera a desinformação e o desinteresse os principais propulsores contra as vacinas, mas para combater essa onda de notícias falsas que desestimulam a vacinação em todas as faixas etárias, classes sociais e de escolaridade, será preciso um estudo de ações que interfiram diretamente na conversão desses ideais anti-vacinas da população. Faz-se urgente investimentos em saúde de base, que se converteram em economia para a saúde pública ao prevenir doenças de alta complexidade preveníveis e detectáveis precocemente. Além disso, deve-se atualizar a legislação vigente criando monitoramento de compartilhamento de notícias falsas e aplicação de punições para quem propaga informação sem base científica comprovada com o claro objetivo de causar desconfiança em relação aos benefícios e necessidade da imunização. O Ministério da Educação em conjunto com o Ministério da Saúde poderia promover palestras educacionais e interativas para indivíduos em escolas e instituições de ensino superior sobre a importância da vacinação. Muito ainda deve ser estudado e elaborado para que se obtenham resultados positivos. No entanto, este artigo trouxe a discussão em torno da queda dos índices de vacinação, e abriu novos caminhos a serem traçados para lidar com a propagação de desinformação dinâmica da atualidade e a necessidade da modernização na postura da Gestão Pública de Saúde diante de surtos de patologias preveníveis.

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Apêndice 1

Questionário semi-estrutural utilizado por este artigo como ferramenta de coleta de dados. 1 – Você reside em Mesquita?

SIM NÃO

2 – Qual a sua idade?

3 - Qual seu nível de escolaridade? ___ Fundamental

___ Médio

___ Superior completo

___ Especialização, Mestrado ou Doutorado

4 - Qual a renda per capita (soma das rendas dividida pelo número de pessoas na mesma residência) da sua família?

___ menor que um salário mínimo

___ igual a um salário mínimo por pessoa ___dois ou mais salários mínimos por pessoa 5- Você possui filhos com idades entre 0 e 12 anos? SIM

NÃO

6 - Você conhece ou já ouviu falar no Movimento da Não Vacinação? SIM

NÃO

7 - Você as campanhas de vacinação informativas e esclarecedoras? SIM

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30 8 - Você ou alguém outro adulto da sua família deixou de se vacinar nas últimas campanhas ( febre amarela, gripe, sarampo)?

SIM NÃO

Se a sua resposta for sim, explique o motivo:

9 – Se você tem filhos entre 0 e 12 anos, responda: A caderneta de vacinação está em dia?

SIM NÃO

Caso a caderneta não esteja em dia, explique o motivo:

10 - Você confia nas vacinas oferecidas no serviço público? SIM

NÃO

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