EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA*
Ana Rosa Salvalagio1
Clarice Ana Ruedieger Marise Waslawosky Christmann Neida Maria Chassot
INTRODUÇÃO: A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de
educação, que tem como finalidade atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo que procura imprimir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, pois todos têm direito a um meio ambiente saudável, bem como o dever de preservá-lo. Entretanto a preocupação com uma educação voltada as questões ambientais é muito recente, as discussões relativas a essa temática ocorreram somente a partir da década de 70. Um dos obstáculos a preservação do meio ambiente é ideologia dominante do sistema capitalista de produção, onde a natureza é um elemento que pode ser privatizado e transformado em mercadoria, pois o produto ambiental pode ser apropriado individualmente. Dessa forma, autonomia, emancipação, participação, cidadania e justiça, são meios que devem ser construídos no nosso cotidiano para alcançar a sustentabilidade do meio ambiente.
OBJETIVOS: Este artigo tem como objetivo fazer um breve resgate histórico da
educação ambiental e mostrar como esta se apresenta no processo de construção da cidadania, pois ela deve ser entendida como educação política, no sentido de preparar os cidadãos para exigirem justiça social e ética na relação homem-natureza, já que o meio ambiente saudável é um direito social.
* Trabalho realizado na disciplina de Núcleo Temático “Meio Ambiente, Desenvolvimento e Educação
ambiental”, ministrada pela professora Dr. Marli Renate von Borstel Roesler, do Curso de Serviço Social da UNIOESTE, campus de Toledo.
1 Acadêmica da 3º série do Curso de Serviço Social da UNIOESTE campus de Toledo, bolsista
PIBIC-PRPPG da Unioeste. Endereço: R. Nilo Cairo, nº 476, Jd. Maracanã. Toledo-PR. Cep: 85910-140. Telefone Residencial: (45) 3379-1050. Celular: (45) 9917-3291. E-mail: arolagio@hotmail.com.
METODOLOGIA: Para que pudéssemos desenvolver nosso trabalho foi de
fundamental importância uma aproximação teórica sobre o tema. Assim, através de revisão bibliográfica, buscamos colher concepções que discutem a educação ambiental no sentido de ampliar nossa percepção acerca dos diferentes aspectos que envolvem a temática e ultrapassar limites de possíveis interpretações sumárias. Neste sentido também nos serviram as discussões da disciplina Núcleo Temático “Meio Ambiente, Desenvolvimento e Educação Ambiental”, do Curso de Serviço Social da UNIOESTE campus de Toledo.
RESULTADOS/DISCUSSÃO: A Educação ambiental é uma das mais importantes
exigências das políticas educacionais, no entanto a expressão “educação ambiental” surgiu somente em 1948, introduzida por Thomas Pritchard, no seu estudo “Environmental Education” divulgado em Paris, por ocasião da Conferência da União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos. O propositor desejava representar um enfoque educativo síntese entre as ciências naturais e as ciências sociais. A preocupação mundial com uma educação para o Meio Ambiente foi influenciada pelas conseqüências do período pós-guerra e com o resultado da Revolução Industrial iniciado em 1779. Entretanto a temática Educação ambiental apenas figurou no discurso oficial após a sua inserção no texto da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, celebrada em 1972 em Estocolmo. A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano enfocava a preservação e melhoria deste ambiente, gerando um plano de ação mundial. Em 1977 houve uma Conferência Intergovernamental de Educação ambiental em Tbilisi na URSS realizada pela UNESCO e foi o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação ambiental, iniciado em 1975, em Belgrado, sendo indicada esta ação no Ensino Formal. Essa conferência concede à Educação ambiental o estatuto de política internacional, estabelecendo princípios e diretrizes gerais para os programas a serem elaborados em todo o mundo. Em 1992, a Conferência Mundial no Rio de Janeiro (RJ), conhecida como Rio-92, reforçou a atenção mundial sobre o Meio Ambiente. No Brasil,
a Constituição Federal de 1998, no Cap. VI ao Meio Ambiente, artigo 225, inciso VI, determina: "Cabe ao poder público promover a Educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente". Sendo que o Estado não exime a responsabilidade individual e coletiva. A participação popular é essencial no processo e, nesse assunto, a responsabilidade é comum a todos. Com o passar do tempo às práticas educacionais voltadas para as questões ambientais foram adquirindo novas adjetivações na década de 90, assim além da nomenclatura Educação ambiental, segundo LAYRARGUES (2002), tem-se: Educação para o desenvolvimento sustentável; Ecopedagogia; Educação para a cidadania; Educação para a gestão ambiental. Assim, faz-se necessário tratar da transição da educação conservacionista para a Educação ambiental, sendo que na educação conservacionista o foco é no ambiente não humano e na Educação ambiental há a articulação entre o mundo natural e o social. A nomenclatura educação para a gestão ambiental é mais recente, segundo LAYRARGUES (2002) ela foi formulado em âmbito governamental no Brasil por QUINTAS e GUALDA, educadores da divisão de Educação ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA). Eles definem meio ambiente como o fruto do trabalho dos seres humanos, conectando o meio natural ao social, desse modo há uma visão mais crítica da Educação ambiental, que busca a transformação da visão dualista onde os homens e as mulheres que são vistos como seres à parte e superiores à natureza. Porém, o que se discute no Brasil e na América Latina, é distinto das práticas realizadas nos países desenvolvidos europeus e da América do Norte. Enquanto lá, a abordagem é naturalista, buscando o conhecimento dos aspectos ecológicos da questão ambiental, com campanhas em favor de espécies ameaçadas de extinção (ao estilo da educação conservacionista); aqui, ao contrário, apesar de existirem também essas práticas, promove-se maior integração entre os aspectos econômicos, sociais e culturais, numa abordagem mais adequada aos princípios expressos pela Agenda 21, já que busca, por meio da interação com o cidadão, a democracia e a construção de modelos de desenvolvimento sustentável. Enfim, é pensada e refletida como meta, o deslanchar da
cidadania, em defesa dos interesses coletivos de bem-estar e de proteção ambiental. Devido o sistema capitalista de produção e padrões dominantes de consumo, o desenvolvimento sustentável é incompatível com as forças do mercado de trabalho, onde a preocupação com o meio ambiente é tida como uma estagnação para o avanço tecnológico e conseqüentemente para o desenvolvimento econômico. Um exemplo claro disso é a assinatura do Tratado de Kyoto, onde tivemos a negação de uma grande potência econômica ao tratado, o que acaba tendo significativa repercussão quanto aos mecanismos de produção poluidora nos países em desenvolvimento. A visão ainda deturpada proporcionada pelo sistema capitalista de produção, de que a natureza deve ser explorada e o ser humano deve dominá-la, passa a gerar um grande conflito ambiental que se reflete na contaminação dos recursos hídricos, poluição atmosférica, desmatamento das florestas, a caça indiscriminada, a redução ou destruição do habitat faunístico, além de provocar uma grande desigualdade social. Desta maneira, o risco ambiental sinaliza um alarmante a força de trabalho da natureza que já não encontra mais condições de exercer suas funções produtivas, sendo somente neste contexto de periculosidade que os serviços ambientais começam a ser percebidos, mesmo tendo que enfrentar grandes obstáculos. Porém com a introdução do enfoque dos serviços ambientais cria-se uma nova percepção, onde os serviços ambientais são patrimônio coletivo. A Educação ambiental luta por um desenvolvimento sustentável e democrático, visando um dialogo planetário que se concretize na cidadania ambiental, que expressa a relação homem – natureza.
CONCLUSÃO: A crise ambiental deste fim de século é resultante, entre outros fatores,
da invasão do espaço coletivo pelos interesses privados com usos abusivos, advindos da ideologia do sistema capitalista de produção. Assim, o que é de todos, acaba sendo de ninguém. Os termos ecopedagogia, educação para a cidadania, para gestão ambiental e para o desenvolvimento sustentável são reflexo da política de democratização da sociedade brasileira, e fruto do debate entre autoritarismo versus democracia no controle ambiental. Mas, estes conceitos podem ser compreendidos como componentes da
educação ambiental e não como substitutos, pois seria um retrocesso alterar o nome de uma prática já consagrada. A educação ambiental voltada para os direitos sociais, pode ser um instrumento pedagógico para a ação coletiva, a participação democrática, onde o interesse coletivo pode se sobrepor ao individual. Assim, a alfabetização da sociedade no sentido do risco ambiental é um instrumento valioso na sua capacitação para a participação na gestão ambiental democrática, que só se fundamenta com mobilização social. Dessa forma, são de suma importância a sensibilização e engajamento coletivo na questão ambiental, que deve ser praticada de acordo com a educação ambiental, questionando e refletindo sobre valores culturais e proporcionando aos seres sociais a possibilidade de tomarem atitudes necessárias à preservação e melhoria do meio ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
REIGOTA, M. O que é Educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001.
BARCELOS V.; ZAKRZEVSKI, S. B.(Org.). Educação ambiental e Compromisso
Social: pensamentos e ações. Rio Grande do Sul: Edifapes, 2004. LAYRARGUES. P.
P. (Org.). Sociedade e Meio Ambiente: a educação ambiental em debate. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.