Aluísio Azevedo (1857-1913)
Quando naturalista, escritor modular;
Primeiro escritor profissional do Brasil;
Escreveu: folhetins romanescos, contos,
teatro, crônicas e romances naturalistas;
Obra heterogênea (mistura de gêneros),
foi do Romantismo ao Naturalismo;
Principais Romances
Naturalistas
“O Mulato” – 1881
Romance de personagem
“Casa de Pensão” – 1884
Romance de transição
“O Cortiço” – 1890
Romance coletivo
O Cortiço - 1890
"Desistindo de montar um enredo em função de pessoas, Aluísio atinou com a fórmula que se ajustava ao seu talento: ateve-se à seqüência de descrições muito precisas, onde cenas
coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance
naturalista." (Prof. Alfredo Bosi)
Todas as existências se entrelaçam e
repercutem umas nas outras. O Cortiço é o
núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma.
O Cortiço - 1890
a) Foco Narrativo:
Narrador onisciente
- Terceira pessoa;
- Permite observar as cenas diretamente ou por
meio dos protagonistas;
- Afinado com o distanciamento dos fatos;
- Privilegia o detalhismo e a minúcia descritiva; - “age como se tivesse à mão uma câmera
cinematográfica dotada de lente grande
angular e de microfone ultra-sensível” (Dácio
O Cortiço - 1890
b) Tempo:
Segunda metade do século XIX;
Embora não forneça data precisa, o
contexto histórico aponta
(industrialização, Guerra do Paraguai, Lei
do Ventre Livre – 1871);
Ação entre 1872 e 1880;
c) Enredo:
Enredo Linear
Acompanha a trajetória de João Romão;
Uso de digressões e progressões
O Cortiço - 1890
d) Espaço:
O cortiço (Bairro de Botafogo, próximo de
um morro onde existe uma pedreira)
MEIO
PROTAGONISTA DA OBRA
"E naquela terra encharcada o fumegante,
naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar
espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multiplicar-se como larvas no esterco. “
O Cortiço - 1890
Como uma narrativa centrada em modelos
conscientes e interessados ideologicamente em defender uma tese determinada, O Cortiço
reduplica, numa série de quadros, seus
modelos principais. Por exemplo, o modelo da evolução e da entropia (=desordem dum
sistema) exemplifica-se agora no confronto
entre os dois cortiços: São Romã o e Cabeça de Gato.
Carapicus (peixe) --- Cabeça de Gato (gato)
Assinalada a rivalidade nos símbolos totêmicos, ela se confirma nas cores da bandeira:
O Cortiço - 1890
a estrutura de O Cortiço: (Affonso Romano de Sant’ana) 1. Localizam-se aí dois grandes conjuntos: o
conjunto 1 (O cortiço São Romão) e o conjunto 2 (a casa do Miranda), que definindo-se como conjunto
simples e conjunto complexo, respectivamente, mantêm entre si um restrito e controlado regime de trocas.
2. Ambos os conjuntos estão sujeitos a um sistema de transformações. Essas transformações ocorrem num sentido ascendente e descendente, conforme os
elementos se identifiquem com as leis da evolução e de entropia de seu universo.
3. Todo esse sistema de transformações é
exemplificado por personagens protótipos, que são reduplicados em uma série de outros personagens secundários. Como uma célula que se multiplica por meios e a narrativa vai se reduplicando simetricamente na realização de modelos inspirados na série científica.
O Cortiço - 1890
O conjunto 1 – cortiço de São Romão – define-se por sua composição elementar. Seus elementos têm uma constituição primária e estão ao nível da natureza e do instinto.
O conjunto 2 – casa do Miranda – mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.
Existe entre seus elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas, que indica a predominância de outros interesses
que não o puramente instintivo. Portanto, ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado da Natureza e o conjunto 2 está do lado da
O Cortiço - 1890
Conjunto 1
Conjunto 1 –– simples simples –– instinto instinto –– animal animal –– horizontal horizontal –– VIOLÊNCIA
VIOLÊNCIA
a) Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte.
b) Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha, e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo.
c) Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão, Bertoleza cometa violência contra si mesma e rasga a barriga derramando vísceras no chão da cozinha.
d) Relação Rita/Piedade: reduplicando o conflito
Firmo/Jerônimo, brasileiro/português, branco/mulato xingando-se as personagens com os mais diferentes nomes de animais, reafirmando o primitivismo de seu conjunto.
O Cortiço - 1890
Conjunto 2
Conjunto 2 –– complexo complexo –– racional racional –– cultural cultural –– vertical vertical –– TROCA
TROCA
Já o outro conjunto – o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos do que dons, uma vez que o romance se
esforça por cumprir os preceitos naturalistas
ressaltando sempre o aspecto físico/objetivo das relações.
a) Relação Estela/Miranda: Apontada desde o princípio da narrativa como uma associação de interesses onde a mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência, destaca-se a função do dote, na formação dessa sociedade econômico-sentimental.
Os outros relacionamentos repetem a mesma permissividade. Botelho sabe das relações
Henriquinho/Estela, mas não fala porque precisa
agradar ao marido e à mulher para permanecer na casa. Miranda tolera essa e outras infidelidades por questão de dinheiro e para manter as aparências.
O Cortiço - 1890
e) Personagens: João Romão
"E seu tipo baixote, socado, de cabelos à
escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda para as
hortas até o capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meras, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas".
".. possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em
cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estepe cheio de palha".
O Cortiço - 1890
Bertoleza
“A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.” Miranda Estela Zulmira Jerônimo Piedade Rita Baiana
"Rita Baiana... uma cadela no cio“ Firmo
Leanda, a “Machona”
'Leandra... a ‘Machona’, portuguesa feroz, berradora,
O Cortiço - 1890
Pombinha Isabel Léonie Bruno Leocádia Paula, a “Bruxa”“Feia, grossa, triste, com olhos desvairados, dentes
cortados à navalhada, formando ponta, como dentes de cão.”
Libório Albino
"Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caía, numa só linha, até o pescocinho mole e fino. "
O Cortiço - 1890
Henriquinho Botelho
"Era um pobre-diabo caminhando para os
setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova, barba e bigode do mesmo teor, muito macilento, com uns óculos
redondos que lhe aumentavam o tamanho de pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes, mas, tão
gastos, que pareciam limados até ao meio ... foi lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina ".
Aluísio Azevedo (1857-1913)
Características:
Influência de Eça de Queirós e de Émile Zola; Aproximação com o falar português;
arcaísmos e lusitanismos com diálogos rápidos e precisos;
Vocabulário patológico e apego ao pormenor; Cromatismo;
Cuidado descritivo com valorização sensorial; Técnica do pintor e caricaturista;
Sinestesias, metáforas, aliterações, assonâncias e onomatopéias;
Aluísio Azevedo (1857-1913)
Retratos de “tipos” sociais e descrições sugestivas;
Preferência por retratos de habitações coletivas – descrição dinâmica;
Personagens psicologicamente superficiais
dada a influência determinista (os personagens são vistos de fora e orientados pelas “leis
naturais”) MEIO-RAÇA-MOMENTO;
A devoração do homem pelo próprio homem (espécie de “seleção natural”);
Zoomorfização agressiva;
Homossexualismo, adultério, violência urbana etc.