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A IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÔMICA DO EXTRATIVISMO DO BABAÇU NA MICRORREGIÃO DE ITAPECURU-MIRIM, ESTADO DO MARANHÃO

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Academic year: 2021

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A IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÔMICA DO EXTRATIVISMO DO BABAÇU NA MICRORREGIÃO DE ITAPECURU-MIRIM, ESTADO DO

MARANHÃO

Diego Glaysson Pantaleão Matos- Discente em Geografia/ UFMA (diegoufma@bol.com.br) Filipe Souza Martin Bernal- Discente em Geografia /UFMA

(felipebernal2007@hotmail.com) Marcelino Silva Farias Filho- Professor Assistente do Departamento de Geociências/UFMA

(marcelinobrasil@msn.com)

INTRODUÇÃO

O Maranhão possui uma diversidade imensa de vegetação, indo desde o cerrado (centro, sul e leste do Estado) até a vegetação amazônica ao oeste. Mesmo diante dessa variabilidade da vegetação, em 80% do território estadual há a ocorrência de coco babaçu (Orbygnya speciosa Mart.), palmácea nativa que historicamente tem assumido imensa importância econômica e social para o Maranhão em função da exploração de vários subprodutos seus, seja para a construção de moradias (palha e talo), como combustível (endocarpo, carvão) ou para o uso consultivo (amêndoa, mesocarpo e palmito).

Diante dessa conjuntura, o extrativismo do babaçu passa a representar importante temática a ser abordada pela Geografia, não apenas por sua importância econômica ou social, mas pela forma de organização das comunidades extrativistas com a figura marcante da quebradeira de coco ou pelos diversos conflitos que estas comunidades têm vivenciado para a garantia do acesso aos babaçuais, atualmente mais restritos às áreas de grandes fazendeiros. Ressalta-se que o Município de Vargem Grande está assentado sobre os solos do cerrado, cujas características (acidez, deficiência nutritiva) impossibilitam que as famílias agricultoras vivam exclusivamente da agricultura, encontrando como única alternativa econômica a extração do coco babaçu. Essa peculiaridade tem permitido que algumas pequenas manchas da vegetação dominadas pelo babaçu venham sendo conservadas e, mesmo em áreas onde a agricultura é desenvolvida, as palmeiras produtivas não sejam derrubadas, apesar de sofrerem os efeitos das queimadas.

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permanecer na terra. Estas mulheres vivem constantemente numa situação de exclusão e discriminação, enfrentando ao lado da família, uma rotina diária de trabalho que insere as atividades domésticas, a responsabilidade com os filhos aliado ao trabalho na roça e a quebra de coco. É desde cedo que elas aprendem um oficio que é passado de mãe para filha: o de quebradeira de coco que também beneficia as amêndoas e fabrica diversos subprodutos (Matos, 2005).

Historicamente a comunidade tem lutado pelo acesso aos babaçuais: inicialmente a comunidade vivia em terras pertencentes ao município de Nina Rodrigues (latifúndios voltados à pecuária extensiva), sendo constantemente ameaçada por fazendeiros o que obrigou os comunitários a se inserirem no programa Crédito Fundiário e se retirarem em direção a Vargem Grande, onde compraram sua propriedade. Tal processo representou inicialmente um enorme ganho (sem se considerar os problemas identitários), mas as mudanças ocorridas inicialmente no modo de vida e organização social vinculada a obrigação de ter que pagar anualmente o financiamento da propriedade forçou muitas famílias a deixarem a comunidade, o que resultou em desestruturação e perdas.

Contudo, as dificuldades enfrentadas pelas comunidades onde a extração do babaçu assume posição de destaque na economia doméstica, seja pelo acesso aos babaçuais seja na organização comunitária, têm impulsionado o surgimento de movimentos sociais engajados em diversas lutas que têm seus efeitos já reconhecidos com a criação da Lei do Babaçu Livre em diversos municípios. Neste sentido, esses movimentos sociais que se estruturam a partir da segunda metade da década de 1980, representam o enfretamento de tensões e conflitos específicos pelo acesso e uso comum das áreas de ocorrência de babaçu, que haviam sido cercadas e apropriadas injustamente por fazendeiros e empresas agropecuárias a partir das políticas públicas federais e estaduais para as regiões Norte e Nordeste, segundo o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB (1997).

Neste sentido, o presente trabalho faz uma abordagem da importância socioeconômica do extrativismo do babaçu para a comunidade rural Canto da Capoeira, localizada atualmente no município de Vargem Grande.

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Analisar múltiplos processos, particularmente conflitos, organização do movimento social e construção de identidades das quebradeiras de coco, quando tiveram a necessidade de lutar pelo direito de coleta e quebra do coco babaçu, junto à importância dessa atividade na reprodução familiar e pelo direito à terra.

METODOLOGIA

Área de Estudo

O Município de Vargem Grande está localizado na Mesorregião Norte Maranhense, Microrregião de Itapecuru-Mirim. Possui uma área de 1.957,77 km² em que predominam o domínio fitogeográfico do cerrado, abrigando uma população estimada em 45.630 habitantes, dos quais mais de 45% vivem na zona rural (IBGE, 2007).

Procedimentos Metodológicos

Para realização do presente trabalho de campo, fez-se uma abordagem qualitativa da temática em abordagem mediante a aplicação de entrevistas informais com as quebradeiras de coco da comunidade Canto da Capoeira, seguida de registro fotográfico in loco. Utilizaram-se relatos e memórias daquelas mulheres acerca de suas experiências (História Oral), discutindo os elementos que perpassam o seu cotidiano, principalmente em relação às suas lutas em defesa dos babaçuais e às questões de gênero e identidade.

RESULTADOS PRELIMINARES

No Brasil, a extração de produtos nativos é uma atividade constante na história que perpassou diversos ciclos econômicos. Diante desse contexto, em algumas épocas essa atividade se constituiu como principal atividade regional, como no período em que prevaleceu a extração das denominadas "drogas do sertão", borracha, madeira, castanha, cacau, entre outros produtos. Tal situação pode ser exemplificada em um contexto mais específico, a partir da análise do extrativismo do coco babaçu no Maranhão, atividade que durante as décadas iniciais do século XX foi o principal produto de exportação.

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O fruto da Orbygnya speciosa Mart. possui várias denominações, dentre as quais podem ser citadas: baguaçu, coco-de-macaco, coco-de-palmeira, coco-naiá, coco-pindoba, palha-branca, etc. Porém, a denominação mais popular e conhecida pela comunidade Canto da Capoeira, é coco babaçu. A palmeira e os frutos do babaçu possuem características peculiares que permitem diferentes usos, que vão desde a extração do fruto até a utilização de partes com alburme e os talos na construção civil (casas, cercas etc.) e artesanatos (cofo, abano, estreita etc.). Como características botânicas a:

Palmeira pode atingir até 20 m de altura. Estipe característico por apresentar restos das folhas velhas que já caíram em seu ápice. Folhas com até 8 m de comprimento, arqueadas. Flores creme-amareladas,aglomeradas em longos cachos. Cada palmeira pode apresentar até 6 cachos.surgindo de janeiro a abril (Biodiesel, 2010).

A Figura 01 apresenta aspectos de palmeiras maduras de babaçu presentes na área da comunidade de Canto da Capoeira.

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Figura 01: Aspectos de um babaçual degradado por queimada na comunidade Canto da Capoeira

Os frutos têm características ovais alongados, de coloração castanha, que são produzidos de agosto a janeiro, em cachos pêndulos. A polpa é farinácea e oleosa, envolvendo de 3 a 4 sementes oleaginosas (Biodiesel, 2010). As especificidades dos frutos e a grande quantidade de plantas produtivas na propriedade financiada pelos comunitários do Canto da Capoeira têm garantido a sua sobrevivência.

Extrativismo do babaçu e sua importância para a Comunidade Canto da Capoeira

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cerrado e da vegetação amazônica, a exemplo do estado do Maranhão. Porém, há de se ressaltar que, para além da importância econômica, o extrativismo assume enorme importância social, porque, em muitas realidades, representa a única alternativa alimentar e de renda não monetária para inúmeras famílias.

No Maranhão, onde a incidência do babaçu é bastante intensa, cerca de 300 mil famílias vivem da extração do babaçu para fins comerciais ou de subsistência. Neste sentido, esta palmeira nativa assume grande importância na vida das quebradeiras de coco, pois é daí que elas tiram o seu sustento e de suas famílias. Assim, as palmeiras do babaçu constitui-se num recurso de suma importância para a reprodução das quebradeiras de coco porque garantem alimento, renda e diversos materiais utilizados em atividade cotidianas (atividades domésticas, construção de casas e até produtos de beleza).

Entretanto, o extrativismo dessa espécie está comprometida pelo avanço da pecuária extensiva nos últimos 30 anos, pelo fato das extensas pastagens serem implantadas a partir do corte e queima da vegetação (inclusive do babaçu), gerando problemas para várias famílias que dependem dessa economia para sua renda mensal. Antes das implantações das fazendas, a coleta do coco era uma atividade livre e espontânea. Entretanto, atualmente além de cercar as áreas de suas propriedades “latifúndios” e derrubarem a maioria dos babaçuais, os fazendeiros impedem o acesso dessas comunidades à vegetação (Shiraishi Neto, 2005).

Na comunidade Canto da Capoeira, as quebradeiras de coco não enfretam esse problema atualmente, porque adquiriram a terra por meio do Programa Crédito Fundiário. Porém, as dificuldades vivenciadas por essas mulheres centram-se na impossibilidade do não pagamento do financiamento da terra, que exige esforço adicional na captação de R$ 500,00 anuaia para amortização de dívida.

Na comunidade Canto da Capoeira, as quebradeiras de coco historicamente estiverem imersas numa luta constante para garantir deus direitos de acesso à terra e aos babaçuais e essa luta tem construído uma identidade dos comunitários enquanto extrativistas que é fragilizada pelas péssimas condições de trabalho (Figura 02) a que se submetem na exploração do babaçu, pelo baixo valor de mercado das amêndoas e pela obrigação de terem que pagar para que a terra cumpra o seu papel social, quando na verdade esse é um dever do Estado no cumprimento de suas obrigações constitucionais.

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Figura 02: Quebradeira de coco babaçu em atividade sob condições inadequadas de trabalho.

As quebradeiras de coco e a Lei do Babaçu Livre

A luta das quebradeiras pelo livre acesso aos babaçuais desencadeou diversos movimentos que têm pressionado fazendeiros e demais proprietários de terra a permitirem que estas pessoas possam adentrar irrestritamente nas áreas de ocorrência do babaçu para realizarem a coleta e quebra do coco. Tais movimentos ganharam tanta notoriedade que legisladores se viram forçados a proporem e aprovarem leis que garantam às reivindicações das quebradeiras.

A discussão política em torno desse tema atingiu novo patamar a partir de 1997, quando foi aprovada, no município de Lago do Junco, região central do Maranhão, a Lei do Babaçu Livre. Basicamente, ela garante às quebradeiras de coco do município e às suas famílias o direito de livre acesso e de uso comunitário dos babaçus (mesmo quando dentro de propriedades privadas), além de impor restrições significativas à derrubada da palmeira. Essa iniciativa vem se alastrando e, atualmente, 13 municípios (oito no Maranhão, quatro no Tocantins e um no Pará) possuem legislação do gênero. CAMPOS, 2006.

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Em 2003, o debate sobre o assunto passou a integrar a agenda política nacional, com a criação de um projeto de lei que, em resumo, estende a Lei do Babaçu Livre para todas as áreas de ocorrência dos babaçuais (Campos, 2006). A existência da lei foi ratificada pelas quebradeiras de coco da comunidade Canto da Capoeira na escola construida pelos moradores da área (Figura 03), que afirmaram que, apesar de sua existência, suas exigências não são cumpridas.

Figura 03: Diálogo com as quebradeiras de coco de Canto da Capoeira

Outro aspecto salientado pelas quebradeiras de coco do Canto da Capoeira foi o de que a identidade construída em torno do extrativismo do babaçu, apesar de peculiar, não é suficiente para manter essas pessoas no campo, de forma que os movimentos sociais também se vêem na obrigação de lutar não apenas pelo acesso à terra e aos babaçuais, mas pela valorização do trabalho das quebradeiras e do produto que elas manuseiam a partir da sensibilização do Estado e suas esferas Federal, Estadual e municipais para a melhoria das condições de vida das milhares de quebradeiras de coco da região por meio de ações em favor de políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável (Jornal Pequeno, 2010).

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REFERÊNCIAS

Agência de Informação Frei Tito para América Latina (ADITAL). MATOS, Micheline.

Quebradeiras de coco do Maranhão: Lutas e Conquistas, 18/01/05. Disponível em: < http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=15040>, acesso em 14/06/10;

Biodieselbr. Babaçu. Disponível em:

<http://www.biodieselbr.com/plantas/babacu/babacu.htm>, acesso em 25/06/10;

CAMPOS, André. Babaçu livre. Repórter Brasil: Agência de Notícias. 03/04/2006. Disponível em: <http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=521>, acesso em 25/06/10.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades – Vargem Grande – MA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=211270>, acesso em 12/06/10;

Jornal Pequeno. Quebradeiras de Coco realizam I Festival do Babaçu. Disponível em: <http://www.jornalpequeno.com.br/2005/11/10/Pagina23360.htm>, acesso em 13/06/10;

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). Quem Somos. Disponível em: <http://www.miqcb.org.br/quem_somos.html>, acesso em 15/06/10;

NETO, Joaquim Shiraishi. “Crise” nos Padrões Jurídicos Tradicionais: o direito em face dos grupos sociais portadores de identidade coletiva. Conselho Nacional de Pesquisa e

Pós-Graduação em Direito (CONPEDI). Disponível em:

<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Joaquim_Shiraishi_Neto.pdf>, acesso em 25/06/10.

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