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DINÂMICA DA OCUPAÇÃO E USO DA TERRA URBANA EM CHAPECÓ (SC): UMA ANÁLISE COM USO DE GEOPROCESSAMENTO

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Academic year: 2021

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DINÂMICA DA OCUPAÇÃO E USO DA TERRA URBANA EM CHAPECÓ (SC): UMA ANÁLISE COM USO DE GEOPROCESSAMENTO

Giovana Valentini1 Ederson Nascimento 2

RESUMO

O presente artigo analisa a urbanização e a configuração espacial do município de Chapecó/SC com o uso de geoprocessamento.Para tanto,mapeou-se a evolução da ocupação urbanaidentificando as áreas com ocupação urbana efetiva e não efetiva no período de 1957 a 2010, e caracterizando o espaço urbano atual com base nos principais padrões de ocupação e uso da terra urbana.

Palavras-chave: urbanização; ocupação urbana; geoprocessamento.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A análise da evolução dos modos de ocupação da terra urbana é fundamental para compreender a configuração atual de uma cidade.Tal investigação fornece elementos que permitem caracterizar, entre outros aspectos, a evolução da diferenciação espacial interna, com a conformação dos diferentes espaços de produção econômica e de acumulação do capital, assim como avaliar a distribuição dos segmentos sociais e, por conseguinte, a própria reprodução das relações sociais na cidade (CORRÊA, 1995 e 1998; LEFEBVRE, 2001).

O processo de ocupação da terra urbana representa a segunda fase da estruturação do espaço urbano, subsequente à produção de novas áreas urbanizadas, e consiste na implantação de edificações e elementos de infraestrutura técnica que darão subsídios à posterior implementação de usos urbanos da terra, sejam eles dedicados ao desempenho de atividades econômicas e à acumulação do capital (áreas industriais, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, equipamentos de apoio à produção etc.) ou voltados à reprodução da

1 Acadêmica do curso de graduação em Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó,SC. Bolsista (Auxiliar de Pesquisa) no referido projeto. Contato: jova.tini@hotmail.com.

2Professor adjunto no curso de graduação em Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul,

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força de trabalho e ao exercício da vida (áreas residenciais diversas, escolas e locais de ócio e de lazer, como praças e parques).

A dinâmica da ocupação da terra urbana estará vinculada diretamente às possibilidades de aquisição, principalmente via pagamento, de terras urbanizadas, bem como pela expectativa de implementar, nas áreas adquiridas, usos que atendam as necessidades de seu ocupante. Logo, a velocidade e a intensidade da ocupação urbana, bem como os padrões de uso da terra empreendidos, dependerão da correlação de ações dos seguintes agentes produtores e consumidores de espaço: o capital industrial e comercial, interessados no uso produtivo que a terra, através de sua localização, pode fornecer (SINGER, 1982); o da população em geral, na condição de força de trabalho e de consumidores, interessados nos meios necessários ao desenvolvimento da vida (oferta de infraestrutura, acessibilidade a bens e serviços, conforto, segurança etc.) (VILLAÇA, 1998); dos proprietários fundiários e do capital imobiliário, os quais têm na produção de novas áreas urbanizadas a sua própria fonte de riqueza, através do parcelamento e da venda da terra na forma de lotes ou de empreendimentos; o Estado, que influencia na dinâmica de ocupação por meio da legislação, da taxação diferencial de áreas e da implantação de infraestrutura, além de ser ele mesmo, em muitas ocasiões, consumidor de terras urbanas (CORRÊA, 1995).

O município de Chapecó (Figura 1), foco de análise neste trabalho, tem se destacado por sua dinâmica de urbanização, especialmente nos últimos quarenta anos. Com cerca de 168,1 mil habitantes (conforme o censo demográfico de 2010, do IBGE), a cidade é o principal centro urbano e polo demográfico do oeste Catarinense, apresentando um importante setor industrial e uma rede variada de serviços, de alcance regional. Possui uma base industrial sólida, com destaque para o complexo agroindustrial de carnes e derivados, abrigando em seu território unidades das principais empresas processadoras e exportadoras de suínos, aves e derivados do Brasil. O dinamismo da economia industrial causou efeitos multiplicadores nos demais setores econômicos do município, especialmente sobre o comércio, que vem crescendo e se diversificando nas últimas décadas (ALBA, 2002; PERTILE, 2007).

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Figura 1: Localização de Chapecó no estado de Santa Catarina.

A estrutura econômica fez também da cidade um centro polarizador de população, atraindo, de um lado, camadas de médio e alto poder aquisitivo interessadas em realizar

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investimentos imobiliários ou em determinadas atividades econômicas, e de outro – e principalmente –, contingentes de mão de obra migrante, provenientes em sua maioria de áreas rurais da própria região ou de municípios gaúchos, ou ainda de outras pequenas cidades, que chegam em busca de melhores oportunidades de emprego e melhor qualidade de vida. O resultado deste dinamismo econômico e demográfico se refletiu na expansão do tecido urbano do município, que foi significativamente ampliado a partir da década de 1960 (NASCIMENTO; VIEIRA; DEIMLING, 2012). Contudo, junto com a expansão física, a evolução da ocupação das diferentes áreas, com a produção de formas espaciais com funções e características específicas, bem como a própria valorização diferencial do solo urbano desencadeada nesse âmbito, contribuiu para a conformação de uma estrutura espacial crescentemente desigual na cidade. Surgem, neste contexto, diferenciais de densidade de ocupação urbana (verticalização, ocupação horizontalizada, áreas desocupadas retidas para valorização) e de uso, estas últimas combinando a heterogeneidade funcional das zonas residencias e industriais, com a segregação dos grupos sociais (BEDIN; NASCIMENTO, 2013).

Diante disso, este ensaio apresenta uma análise da evolução da ocupação da terra para fins urbanos em Chapecó, bem como uma caracterização os principais padrões de uso da terra na cidade atual. Objetiva-se, com isso, fornecer uma contribuição para o conhecimento geográfico sobre a evolução urbana do referido município.

2. A PESQUISA: ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia empregada na pesquisa resume-se nas seguintes etapas:

− Levantamento e sistematização bibliográfica e de dados estatísticos e cartográficos; − Análise da legislação que normatiza a ocupação da terra urbana;

− Construção de uma base de dados georreferenciados, contendo imagens aéreas e temas cartográficos digitais de interesse para a área de estudo, de acordo com o encaminhamento metodológico proposto por Zeiler (1999);

− Interpretação de mosaicos aerofotogramétricos referentes aos anos de 1957 e 1988 (escalas aproximadas de 1:50.000 e 1:10.000 respectivamente) e de imagem do satélite

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QuickBind de 2010 (resolução espacial de 0,6 m), para identificação das áreas com e sem ocupação urbana efetiva, e cálculo das respectivas áreas mapeadas, a partir de procedimento automatizado em Sistema de Informações Geográficas;

− Caracterização do padrão de ocupação da terra urbana atual (ano base de 2013), a partir da tipificação da área urbana nas seguintes classes de ocupação:

a) Edificação em lote com até quatro pavimentos: inclui as residências unifamiliares e demais construções de pequenas dimensões físicas;

b) Edifício: inclui as edificações em lotes com cinco ou mais pavimentos.

c) Usos institucionais: inclui edificações e terrenos de instituições públicas, tais como escolas, hospitais, postos de saúde e prédios administrativos;

d) Grandes plantas industriais: inclui unidades industriais e, quando foi o caso, equipamentos de apoio à produção espacialmente contíguos às primeiras, tais como estacionamentos, galpões e armazéns;

e) Universidades;

f) Grandes estabelecimentos comerciais: estabelecimentos com grandes dimensões físicas e uso exclusivamente comercial, caso de supermercados, centros atacaditas e shopping center;

g) Equipamentos poliesportivos, tais como ginásios e quadras; h) Praças e parques;

i) Desocupados: correspondente a lotes sem edificações, internos a loteamentos ocupados ou em áreas em processo de loteamento, ou ainda glebas sem o predomínio de vegetação arbórea, não parcelada e cercada por usos urbanos, isto é, os chamados “vazios urbanos”;

j) Outros: outros tipos de ocupação da terra distintos das classes anteriores (caso, por exemplo, de igrejas e cemitérios), ou cujo uso não pôde ser identificado.

− Realização de trabalhos de campo para registro fotográfico e documental e observação da organização espacial.

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Os resultados da pesquisa evidenciam importantes aspectos da dinâmica de ocupação da terra urbana e da estrutura espacial diferencial da cidade na atualidade. A sequência de cartogramas da Figura 2 mostram a evolução da ocupação urbana efetiva e não-efetiva nas áreas urbanizadas do municipio em 1957, 1988 e 2010. Em 1957, momento em que a expansão horizontal começava a se acelerar no município, a área urbanizada totalizava 1,42 km², sendo que praticamente a metade de sua superfície (47,8%) mantinha-se desocupada. Naquele momento, o tecido urbano correspondia ao atual centro principal e a bairros de seu entorno (Jardim Itália e Passo dos Fortes), com estes últimos, em sua maioria, desocupados.

Entre os anos 1960 e 1980, a cidade, impulsionada principalmente pela dinâmica da economia agroindustrial instaurada no município (ALBA, 2002), apresenta expressivo crescimento horizontal, paralelamente à manutenção de muitos lotes desocupados e vazios urbanos, situação que diminui apenas nos anos 1980, após mudanças nas legislações federal (Lei nº 6.766/1979) e municipal (lei de uso do solo, de 1980), de modo que em 1988 a área urbanizada já totalizava 19,94 km², com desocupação de 14,2%. Dos anos 1990 em diante,

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prossegue a veloz expansão do tecido urbano – que já totalizava 32,89 km² em 2010 –, ainda fundada em uma forte especulação fundiária e imobiliária (a desocupação, em 2010, subira para 17,2%), a qual, associada ao crescimento das migrações de populações empobrecidas, concorreu para uma crescente segregação socioespacial na cidade.

As áreas de ocupação mais rarefeita situam-se nos quadrantes nordeste, onde estão situadas grandes chácaras de recreio e sedes de clubes entremeados a vazios urbanos, e sudeste, onde estão têm sido criados diversos lotesmentos. É notória, porém, a existência de um grande número de lotes desocupados em praticamente todos os setores periféricos da área urbanizada, tanto em 1988 como em 2010, evidenciando a existência de um forte e permanente processo de especulação fundiária (Cf. Figura 2).

Com relação à estruturação espacial atual, a Figura 3 permite constatar que a principal zona de verticalização da cidade se encontra na porção central da cidade, cujo processo se iniciou ainda nos anos 1970.3É nesta porção da cidade que permanece concentrada a maior parte dos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, bem a maior parcela das residências dos segmentos populacionais de mais alta renda, sendo que a maioria dos edifícios combina salas comerciais no térreo com o uso residencial unifamiliar nos pavimentos superiores.

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Nos últimos anos, contudo, tem crescido o número de edifícios em bairros circunvizinhos ao centro principal (Jardim Itália, Maria Goretti), bem como em algumas áreas mais afastadas deste, sobretudo no quadrante nordeste (bairros Líder e Passo dos Fortes) e no vetor Oeste no bairro Efapi.

As unidades industriais de maior porte estão concentradas na porção centro-norte (bairro São Cristóvão) e Oeste (bairros Engenho Braun e Efapi). Estes dois últimos segmentos do espaço urbano abrigam, desde a década de 1970, as principais unidades agroindustriais da Brasil Foods S.A (antiga Sadia S.A) e da Cooperativa Aurora Alimentos, e se consolidaram como “bairros operários” (RECHE, 2008), com ocupação residencial horizontalizada e adensada e voltada para camadas de baixa renda. Nas demais áreas circunvizinhas ao centro e nas periferias da cidade, o predomínio é da ocupação horizontalizada, mas com diferenciais de densidade em diferentes vetores.

Finalmente, cabe chamar a atenção para importantes equipamentos de uso coletivo que geram e/ou reforçam centralidades fora da área central, algo ainda recente na cidade mas que vem se tornando cada vez mais presente. No segmento comercial, os principais são o shopping center, instalado no bairro Líder (porção norte) e um hipermercado (bairro Engenho Braun). Destacam-se ainda três campi universitários implantados nos últimos dez anos: as unidades do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e da Universidade Estadual de santa Catarina (UDESC), situados na porção sul, além do campus da Universidade Federal da Fronteira Sul, no limite de expansão ocidental da cidade (bairro Efapi). Estes se somam aos já consolidados campi da UNOESC (bairro Seminário) e UNOCHAPECÓ (Efapi).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se com este estudo contribuir com o conhecimento sobre o crescimento e estruturação da cidade, utilizando-se do potencial analítico do geoprocessamento. Como polo regional, Chapecó apresenta um espaço urbano com intenso cresscimento e constantes transformações, e a velocidade e a intensidade da ocupação urbana, bem como os padrões de uso da terra empreendidos, dependerão da correlação de ações e agentes produtores e consumidores de espaço, moldando assim a organização espacial. O uso do geoprocessamento

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no mapeamento do espaço urbano ajuda a acompanhar essa dinâmica e a entender suas (re)configurações.

REFERÊNCIAS

ALBA, Rosa Salete. Espaço urbano: os agentes da produção em Chapecó. Chapecó: Argos, 2002.

BEDIN, Mayling V.; NASCIMENTO, Ederson.Urbanização e segregação socioespacial em Chapecó, Santa Catarina, Brasil: bases histórico-geográficas In: ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS DE AMÉRICA LATINA, 14, 2013. Anales... Lima: Unión Geográfica Internacional, 2013. v.14.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995. ______. Região e organização espacial. 6. ed. São Paulo: Ática, 1998. LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

NASCIMENTO, Ederson, VIEIRA, Élida, DEIMLING, Cristiane D. Mapeamento da evolução da área urbanizada no município de Chapecó/SC In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 17, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2012.

PERTILE, Noeli. Espaço, técnica e tempo em Chapecó/SC. In: SCHEIBE, Luiz F.; DORFMAN, Adriana (Org.). Ensaios a partir de “A Natureza do Espaço”. Florianópolis: Boiteux, 2007, p. 153-178.

RECHE, Daniella. Leis e planos urbanos na produção da cidade: o caso de Chapecó/SC. Florianópolis: UFSC, 2008 (Dissertação de mestrado).

SINGER, Paul. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO, Ermínia (Org.). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. 2. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1982. p. 21-36.

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, FAPESP, Lincoln Institute, 1998.

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Referências

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