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A tecnologia como vetor e bússola no processo de desenvolvimento chinês

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE ECONOMIA

SILAS THOMAZ DA SILVA

A tecnologia como vetor e bússola no processo de

desenvolvimento chinês

Campinas

2019

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INSTITUTO DE ECONOMIA

SILAS THOMAZ DA SILVA

A tecnologia como vetor e bússola no processo de

desenvolvimento chinês

Prof. Dr. Célio Hiratuka – orientador

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas na área de concentração: Teoria Econômica.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO SILAS THOMAZ DA SILVA E ORIENTADA PELO PROF. DR. CÉLIO HIRATUKA.

Campinas

2019

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Biblioteca do Instituto de Economia Luana Araujo de Lima - CRB 8/9706

Silva, Silas Thomaz da, 1983-

Si38t A tecnologia como vetor e bússola no processo de desenvolvimento chinês / Silas Thomaz da Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

Orientador: Célio Hiratuka.

Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia.

1. Desenvolvimento econômico - China. 2. Tecnologia. 3. Pesquisa e desenvolvimento. 4. Patentes. I. Hiratuka, Célio, 1970-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Technology as vector and compass in the chinese development process

Palavras-chave em inglês: Economic development – China Technology

Research and development Patents

Área de concentração: Teoria Econômica Titulação: Doutor em Ciências Econômicas Banca examinadora:

Célio Hiratuka [Orientador] Adriana Marques da Cunha Antonio Carlos Diegues Junior Fernando Sarti

Ricardo Dathein

Data de defesa: 30-09-2019

Programa de Pós-Graduação: Ciências Econômicas

Identificação e informações acadêmicas do aluno: ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-9352-7570

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INSTITUTO DE ECONOMIA

SILAS THOMAZ DA SILVA

A tecnologia como vetor e bússola no processo de

desenvolvimento chinês

Prof. Dr. Célio Hiratuka – orientador

Defendida em 30/09/2019

COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. Célio Hiratuka - PRESIDENTE

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof.ª Dr.ª Adriana Marques da Cunha Faculdade de Campinas (FACAMP)

Prof. Dr. Antonio Carlos Diegues Junior

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Fernando Sarti

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Ricardo Dathein

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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A meus pais, a quem dedico essa tese, Manoel Simplicio da Silva e Claudeodete Aparecida Thomaz da Silva, sou imensamente grato ao amor que sentem e revelam por mim e pelos valores que me passaram, como humildade, honestidade, amor ao próximo, dentre muitos outros. Embarcando na esfera familiar, agradeço a meus irmãos Saulo Thomaz da Silva e Samuel Thomaz da Silva, pela cumplicidade e por tê-los como extensão de muito do que sou. Christianne Busso é alguém que tem um espaço especial nessa caminhada em família. Roberta Heitsman também é um nome especial a ser destacado, por todos pensamentos positivos e o crescimento mútuo que temos em uma amizade de décadas.

Agradeço a minhas afilhadas Mariana Rodrigues Fernandes Manha e Soraya Guariente pelo carinho incondicional de sempre e por fazerem de nossa amizade uma planta regada constantemente por um “tudo bem?”. À Família Manha (Dinho, Dinha, Sérgio, Ana Vitória, Sofia, Edsandro e demais) agradeço por serem pessoas que demonstraram amor, apreço e alegria pela minha presença. Daniela e Otacília também são família pra mim. Sempre acreditaram em mim, desejando sucesso em tudo o que fiz. Ao grupo Escalada tenho imensa gratidão por ser um espaço onde continuamente agreguei pessoas em minha vida e onde tive a oportunidade de expressar muitas dimensões da minha pessoa, inclusive em 2015, quando estive na China. Eu seria injusto em apenas mencionar um ou outro nome aqui, pois a família Escalada é gigantesca. Entretanto, é injusto não mencionar alguns nomes: Daniel Amorim, Julia Amorim (cujos nomes estão escritos na muralha da China) e Ricardo Melo Roccia; Luana Oliveira, Marina Rezante e Rafael Jose dos Santos (que estiveram no dia da defesa); e Carolina Leandro, Gabriela Leandro, Lívia Leandro, Vinícius Caroli, Soraia Rodrigues Santos, Juliane Teixeira de Araújo, Carlos Eduardo de Almeida, Andreia Luz, Juliete Lino, Vanessa Demétria (Demi) e Izabel Demetrio (com quem pude ter um contato maior após meu retorno da China e que contribuíram para o meu amadurecimento no domínio da língua inglesa e para o processo de escrita da tese ser mais leve).

Foram mais de sete anos para o término do doutorado. Nesse interim, muitos laços foram criados e alguns fortalecidos. Sobre as pessoas que entraram na minha vida nesse interim, são nomes importantes: Arthur Chioramital, Tiago Luna (que me ajudou com algumas questões burocráticas para minha ida à China), Marcus Razuk, Dênis Goyos, Luiz Fernando Angi, Patrícia Lopes, Camila Breviglieri, dentre outros. Diego

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incrível) estão dentro desse grupo de amigos, mas já os conhecia bem antes do doutorado. Em Barão Geraldo tive um contato diário com pessoas a quem sou muito grato pela parceria e por compartilhar a vida universitária. Tive o prazer de morar com pessoas incríveis e passar momentos dos mais diversos tipos, que me fizeram crescer como pessoa. Foram vítimas dos meus impulsos humorísticos diários de qualidade duvidosa: Caroline Nascimento Pereira, Fernanda Fernandes, Kelin Cristina, Paula Omena, Dolores Setuval e Christini Caselli. Em especial, Caroline Nascimento Pereira é uma espécie de irmã que a vida acadêmica me trouxe. Fizemos a graduação juntos e nos reencontramos no doutorado, onde passamos pelas mesmas correrias da bolsa sanduíche e dos prazos de qualificação e defesa da tese. Para além disso, é alguém que tenho gratidão imensa por tudo que me ensinou e por ser um abrigo onde sempre encontrei um ombro amigo. No Instituto de Economia também tive o prazer de fazer muitas amizades na pós-graduação. Patrícia Andrade, Bruno Marchetto, Victor Young, Marília Bassetti, Fernanda Ultremare são alguns dos amigos que ganhei. Entretanto, muitos outros estão guardados na mente e no coração. Quero ter a alegria de futuramente ter encontros e reencontros com todos.

Durante o ano de 2015 tive a oportunidade de passar 9 meses na China, como parte da bolsa-sanduíche concedida pela CAPES. Sou muito grato a essa instituição, pois esses 9 meses foram fundamentais para a presente tese, em função das bases de dados conseguidas na ECNU (East China Normal University) e pela apreensão de entendimentos sobre o desenvolvimento chinês que apenas foram possíveis por eu estar lá. Essa minha estada foi recheada de desafios e descobertas. Tive a oportunidade de conhecer estudantes de outros países, que me ajudaram em diversas questões burocráticas, uma vez do pouco conhecimento de chinês que eu tinha. Sou grato a Naveed, Faig, Moses, Yodgor, Zeeshan, Abduraulf, Ali, Joele, Petrus, Bonea e Daossa. Em especial, agradeço a Pablo e Ghareeb. O primeiro por me ajudar a conhecer Xangai e ser o único com quem eu podia ter insights e conversas em Português. Ao último, por ser um irmão que eu ganhei na China. Uma pessoa que a despeito de inúmeros problemas pessoais e dos conflitos em seu país, tinha esperança em um amanhã melhor e dispunha de seu tempo para se preocupar comigo. Agradeço ao professor Yang Laike por ter me recebido e possibilitado meu acesso a bibliotecas, serviços da ECNU e interação com alunos de graduação e pós-graduação. Gabriel Vital também não poderia ficar de fora dos

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insights importantes para a presente tese. Da turma de mestrado, Marina Sequetto e Bartira Koch são pessoas cuja amizade permaneceu no doutorado e que pretendo cultivar. Referente ao conteúdo dessa tese, agradeço aos professores que me orientaram em toda a trajetória acadêmica que construí desde a graduação em estudos sobre China. São eles, em sequência cronológica: Antônio Carlos Macedo e Silva, André Biancarelli, Marco Antonio Macedo Cintra (um eterno Mestre em uma acepção que vai muito além do sentido denotativo dessa palavra) e Ricardo Dathein. Em especial, agradeço a Célio Hiratuka, meu orientador para esta tese, pela paciência que teve comigo, pelos insights e por todos projetos acadêmicos que a mim confiou. Também sou grato à contribuição de Simone de Deos, Giuliano Contento de Oliveira e Roberto Alexandre Zanchetta Borghi, com quem participei em um projeto sobre formação e internacionalização de grandes grupos. Eles me ajudaram a ter melhor entendimento a respeito desse tema em relação à China.

Agradeço também aos funcionários do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, pela atenção, cuidado e gentileza, sempre exemplares. De forma particular, aos funcionários Camila Ventura, José Ricardo Vulto, Régis Caetano S. Nascimento, Regina Voloch Santin, Andrea Fernanda Tonhatti, Julian Ribeiro Nogues, Marinete da Silva Correia e Fátima de Lourdes Dias; e para o Centro de Documentação “Lucas Gamboa”, agradeço a Clayton Waldomiro Moreira e Kelly Regina Duarte. Sem eles, tudo teria sido muito mais difícil. Por fim, agradeço às agências de fomento. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) - que me financiou por um período do doutorado. E à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O presente trabalho foi realização com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. A partir da CAPES pude realizar o meu doutorado sanduíche, o que significou poder avançar na tese estando 9 meses na China, na East China Normal University (ECNU). A todos que citei aqui ou que contribuíram para meu crescimento (com ou sem a minha ciência), de coração, somente tenho a dizer: MUITO OBRIGADO.

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“Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos [e/ou da sociedade]”

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tecnológico na China. Esse país estudado possui uma história bem particular. O impacto da tecnologia no desenvolvimento econômico depende da estrutura política interna e do contexto internacional. A principal questão que perpassa todos os capítulos é “A China entrou em uma nova trajetória de crescimento após 2005, na qual o papel da tecnologia endógena pode ser visto como o motor e a bússola do desenvolvimento?”. Para esse objetivo, primeiro serão explorados os distintos estágios históricos, com seus regimes políticos, no sentido de buscar entender a relação entre desenvolvimento e tecnologia em cada um deles. Em um segundo momento, serão apresentados alguns debates que conduzem a ideia de que a China esteja em uma nova trajetória econômica. Em seguida, apresenta-se uma análise da dinâmica tecnológica a partir de variáveis de inovação posteriores a 2006, no sentido de avaliar o andamento da política tecnológica iniciada a partir do Plano 2020. Também é realizada uma interpretação das principais características do desenvolvimento inovativo na China. Todos os capítulos apontam para a ideia de que a China está em uma nova trajetória de desenvolvimento, embora ainda exista um caminho a ser trilhado para que se alcance os níveis tecnológicos de alguns países desenvolvidos.

Palavras-chave: Desenvolvimento econômico - China; Tecnologia; Pesquisa e Desenvolvimento; Patentes.

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progress in China. This country studied is of a particular history. The impact of technology in the economic development depended on the specific domestic political structure and on the international context. The main question across the chapters is “Did China entered a new development path after 2005 in which the roll of indigenous technology can be seen as being the engine and the compass for the development?”. For this objective, first there is one attempt to explore the historical stages of different political regimes to see how in these different perspectives the relation between technology and development can vary. Secondly, a presentation of some debates leads to the idea that China is in a new economic path. After comes an analysis of the dynamics of technology variables after 2006 to verify the outcomes of the technology policy started with the Plan 2020. Also is done an interpretation of the main features of the innovation development in China. All chapters point to the idea that China is in a new development path, although the journey to reach the level of modernization of some developed countries goes on. Key words: Economic development - China; Technology; Research and Development; Patents.

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Figura 1 – Participação no PIB das províncias entre 1983 e 1986 (%) ... 92 Figura 2 - Mão de obra em P&D por agentes e categoria tecnológica* (2015) ... 124 Figura 3 - Relação P&D/PIB em países selecionados em 2014 (%) ... 142 Figura 4 – Uso de fundos do governo (RMB milhões) por Institutos de Pesquisa e percentual destes fundos no total de gastos em P&D desse agente (%) dos para o triênio 2013-2015 ... 191 Figura 5 – Fundos governamentais em P&D para Ensino Superior (RMB milhões) e percentual destes fundos no total de gastos em P&D desse agente (%) dos para o triênio 2013-2015 ... 192 Figura 6 – Total de pessoas trabalhando com Pesquisa & Desenvolvimento em 2015 (valores absolutos e % nacional) ... 205 Figura 7 – Total de gastos com Pesquisa & Desenvolvimento para o triênio 2013-2015 (RMB bilhões) ... 206 Figura 8 – Número de solicitações de patentes das Empresas* para o triênio 2013-2015 ... 207

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Quadro 1 – Períodos de desenvolvimento na China ... 29

Quadro 2 - Dinastias imperiais na China e respectivas capitais ... 31

Quadro 3 – Conflitos do século XIX envolvendo a China ... 42

Quadro 4 – Tipos de empresa a partir de sua propriedade e base legal ... 103

Quadro 5 – Categorização possível no universo de empresas privadas, segundo propriedade, requerimento de capital, status fiscal e base legal ... 104

Quadro 6 – Principais características dos escritórios patentários de respaldo na Europa, Japão, Coreia do Sul, China e EUA ... 147

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Gráfico 1 – Consumo das famílias (rural e urbana, em RMB bilhões) na “era maoísta”75 Gráfico 2 – Receita total (RMB trilhões) e dividida entre governos central e local (%),

de 1953 a 2017 ... 95

Gráfico 3 – Gasto total (RMB trilhões) e dividido entre governos central e local (%), de 1953 a 2017 ... 96

Gráfico 4 – Investimento total (RMB trilhões) e dividido entre governos central e local (%), de 1995 a 2017 ... 96

Gráfico 5 – Saldo fiscal total e de governos central e local (RMB bilhões) ... 97

Gráfico 6 – Investimento total (RMB trilhões) e por tipo de empresa (%), de 1993-2005 ... 100

Gráfico 7 – Investimento total (RMB trilhões) e por tipo de empresa (%), de 2006-2017 ... 105

Gráfico 8 – PIB pela ótica da demanda (%), de 1978 a 2017 ... 113

Gráfico 9 - P&D por instituições do Estado e por categorias em 2015 (RMB bilhões) 122 Gráfico 10 - Dados de cooperação acadêmica internacional (anos selecionados) ... 126

Gráfico 11 - Dados sobre o mercado de Venture Capital na China (RMB bilhões) ... 128

Gráfico 12 - Gasto com P&D total (RMB bilhões) e a relação P&D/PIB ... 129

Gráfico 13 - P&D por tipo de agentes (RMB bilhões) ... 130

Gráfico 14 - P&D por tipo de agentes e categoria tecnológica (RMB bilhões) ... 131

Gráfico 15 - Gasto com P&D por tipo de empresa (RMB bilhões)... 132

Gráfico 16 - Gasto com P&D por tipo de empresa de 2006 a 2017 (%) ... 133

Gráfico 17 - P&D por tipo de fonte de financiamento (RMB bilhões) ... 134

Gráfico 18 - P&D em países selecionados em 2013 por agentes (US$ bilhões e %) ... 138

Gráfico 19 - P&D em países selecionados por categoria tecnológica (US$ bilhões), 2013 ... 139

Gráfico 20 - P&D em países selecionados por origem de financiamento ... 140

Gráfico 21 - Solicitações de Patentes no mundo ... 149

Gráfico 22 - Solicitações de Patentes no mundo por escritórios patentários ... 150

Gráfico 23 - Depósitos de patentes por grupo tecnológico (milhões), volume até 2014 ... 152

Gráfico 24 - Depósitos de patentes por grupo tecnológico (%), volume até 2014 ... 152

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Gráfico 28 – Número de depósitos de patentes na WIPO tendo China como destino . 166

Gráfico 29 - Concessão de patentes do SIPO por origem e agente (1986-2017) ... 168

Gráfico 30 - Número de solicitações de patentes no SIPO (1986-2014) ... 169

Gráfico 31 - Número de concessões de patentes no SIPO (1985-2014) ... 170

Gráfico 32 - Solicitações de patentes no SIPO empresas industriais acima de um tamanho específico* por origem e tipo de propriedade (2006-2017) ... 172

Gráfico 33 – Gasto público em C&T por divisão administrativa (RMB bilhões) ... 190

Gráfico 34 - de entrada e saída de IDE da China (US$ bilhões) ... 217

Gráfico 35 – Anúncios de IDE chinês greenfield por regiões (US$ bilhões) ... 218

Gráfico 36 – IDE chinês por F&A separado por regiões (US$ bilhões) ... 219

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Tabela 1 – PIB Per Capita chinês e europeu para períodos selecionados (1990 $) ... 36

Tabela 2 – Crescimento populacional em regiões selecionadas (milhões) ... 38

Tabela 3 – Dados sobre crescimento econômico chinês para períodos selecionados .... 47

Tabela 4 – Categorização de subperíodos da “era maoísta” ... 59

Tabela 5 – Produção industrial (RMB bilhões) e sua composição na “era maoísta” ... 74

Tabela 6 – População e trabalhadores com recorte rural-urbano na “era maoísta” ... 74

Tabela 7 – Receitas e Gastos do Governo e suas composições (anos selecionados) ... 76

Tabela 8 – Receita e Gasto do Governo (RMB bilhões) e composição (Central x Local) ... 76

Tabela 9 – Indicadores de Comércio Exterior na “era maoísta” (US$ bilhões) ... 77

Tabela 10 – Produção industrial (RMB trilhões) e número de empresas (milhões), para anos selecionados** ... 90

Tabela 11 – Investimento por tipos de empresas de 1981 a 1993 (RMB bilhões) ... 91

Tabela 12 – Percentual de membros do PCC com curso superior e média de idade .... 111

Tabela 13 - Gastos com programas de C&T (RMB bilhões) ... 123

Tabela 14 - Gastos com programas de C&T (RMB bilhões) ... 123

Tabela 15 - Pós-graduandos na China e o fluxo internacional desses profissionais .... 125

Tabela 16 – Origem das empresas que mais gastam com P&D (2004 a 2009) ... 135

Tabela 17 – Empresas chinesas pertencentes ao grupo da 1000 maiores em gasto com P&D e suas respectivas indústrias ... 136

Tabela 18 – Indicadores de Patentes (volume até 2014) ... 151

Tabela 19 – Representantes chineses entre os maiores depositantes na WIPO ... 167

Tabela 20 – Depósito e uso de patentes no SIPO por empresas industriais acima de um tamanho específico* segundo origem (valores absolutos e % do total por categoria) . 171 Tabela 21 - Produção acadêmica de alguns agentes (2006-2015) ... 175

Tabela 22 – Dados de publicações internacionais (países selecionados)... 177

Tabela 23 – Mercado tecnológico na China por campo técnico e categorias de propriedade intelectual ... 179

Tabela 24 – Compras e vendas de produtos tecnológicos por tipo de empresa ... 181

Tabela 25 – Variáveis output envolvendo Ensino Superior e Institutos de Pesquisa ... 182

Tabela 26 – Mega projetos do Plano 2020 ... 188

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Tabela 29 - P&D e solicitação Patentes para Empresas Industriais por tamanho ... 197

Tabela 30 – Gastos extramurais em P&D por agentes em 2015 (RMB bilhões) ... 201

Tabela 31 – Importação tecnológica para a China (US$ bilhões) ... 213

Tabela 32 - Participação em variáveis tecnológicas por indústria em 2015 (%) ... 214

Tabela 33 – Participação em variáveis tecnológicas por indústria em 2015 (%) ... 214

Tabela 34 – IDE chinês nos EUA por modo de entrada e tipo de empresa (2000 a 2017) ... 221

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ACC: Academia de Ciências Chinesa

ACCA: Academia Chinesa de Ciências Agrícolas APEC: Asia-Pacific Economic Cooperation BRI: Belt and Road Initiative

C&T: Ciência e Tecnologia CEO: Chief Executive Officer

CFIUS: Committee on Foreign Investment in The United States DOC: Departamento de Organização Central

ECNU: East China Normal University EPEs: Empresas de Propriedade Estatal EPO: European Patent Office

ES: Ensino Superior

ESI: Essential Science Indicators F&A: Fusão e Aquisição

GEIs: Grandes Empresas Industriais GPNs: Global Production Networks GSA: Grande Salto Adiante

GVCs: Global Value Chains

IDE: Investimento Direto Estrangeiro IoT: Internet of Things

IPs: Institutos de Pesquisa JPO: Japan Patent Office

KIPO: Korean Intellectual Property Office KMT: Kuomintang

MNCs: Multinational Companies

MOFCOM: Ministério de Comércio Chinês MOST: Ministry of Science and Technology OMC: Organização Mundial do Comércio

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P&D: Pesquisa e Desenvolvimento PCC: Partido Comunista Chinês PCT: Patent Cooperation Treaty PIB: Produto Interno Bruto PQQ: Plano Quinquenal PRD: Pearl River Delta RMB: Renminbi

SASAC: State Asset Supervision and Administration Commission SCI: Science Citation Index

SI: Sistema de Inovação

SIPO: State Intellectual Property SNI: Sistema Nacional de Inovação SOEs: State Owned Enterprises SRI: Sistema Regional de Inovação

TIC: Tecnologia da Informação e Comunicação TNCs: Transnational Corporations

TRIPS: Trade-Related Intellectual Property Rights TVEs: Township and Village Enterprises

TVPS: Township, Village and Private Enterprises

UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development USPTO: United States Patent and Trademark Office

VC: Venture Capital

WIPO: World Intellectual Property Organization

ZEDTs: Zonas Econômicas e de Desenvolvimento Tecnológico ZEE: Zona Econômica Especial

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1 - A INFLUÊNCIA MARGINAL DA TECNOLOGIA NO

DESENVOLVIMENTO CHINÊS PRÉ-1978 ... 26

1.1 Império ... 30

1.1.1 Características não econômicas do período ... 31

1.1.2 Centralidade/Isolamento chinês e distanciamento em relação à Europa 33 1.1.3 Desenvolvimento econômico e tecnológico ... 35

1.1.4 Declínio do Império ... 40

1.2 República da China ... 44

1.3 Período Maoísta ... 47

1.3.1 O caráter cíclico do período e suas fases ... 50

1.3.2 Análise geral das mudanças institucionais... 60

1.3.3 Análise de particularidades de Mao ... 66

1.3.4 Dados do período ... 73

1.3.5 Análise tecnológica do período ... 77

1.4 Considerações parciais ... 82

2 - O PAPEL DA TECNOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO CHINÊS PÓS-1978 ... 84

2.1 O processo de desenvolvimento econômico pós-1978 ... 86

2.2 Avanços tecnológicos a partir de 1978 ... 106

2.3 Debates acerca de um novo momento ... 109

2.3.1 Fatores relevantes para a política tecnológica de 2005 ... 109

2.3.2 Políticas e eventos a reboque da política tecnológica ... 112

2.4 Considerações parciais ... 116

3 – ANÁLISE DO PLANO 2020 PARA BALIZAR A EXISTÊNCIA DE UM NOVO ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO ... 119

3.1 Potencialidade do Plano ... 121

3.1.1 Políticas Tecnológicas ... 121

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3.2 Variáveis input ... 128

3.2.1 Dados de P&D na China... 129

3.2.2 Perspectiva internacional do P&D realizado na China ... 134

3.3 Variáveis output ... 143

3.3.1 Patentes: definições, características gerais e correlação com a atividade tecnológica ... 143

3.3.2 Cronologia da dinâmica da propriedade intelectual ... 155

3.3.3 As metas do Plano 2020 para patentes ... 162

3.3.4 Outras variáveis output ... 173

3.4 Considerações parciais ... 182

4 - DINÂMICA E DILEMAS DO PLANO 2020 ... 185

4.1 O papel do Estado como agente de fomento tecnológico ... 187

4.2 Característica do setor não-estatal como dinamizador tecnológico ... 193

4.2.1 A empresa chinesa a partir de seu tamanho e interações ... 194

4.2.2 Integração tecnológica internacional da empresa chinesa ... 209

4.3 Considerações parciais ... 223

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 227

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INTRODUÇÃO

慢慢來 (man man lai) significa “devagar” (advérbio) no sentido de que algo deva ser paulatino. A princípio, em função do seu uso cotidiano como apenas mais um aforismo chinês (dentre tantos existentes), essa expressão pode parecer apenas um conjunto de caracteres desprovido de um olhar filosófico profundo. Mas pelas lentes de um estrangeiro é nítido como esses caracteres têm um peso grande para o entendimento da China sob diversas de suas dimensões. A começar pelo aprendizado da língua deste país, é comum ouvir de um chinês que o Mandarin standard (putonghua) é também muito complicado para eles e que, portanto, “man man lai” é o melhor caminho para se avançar no seu domínio. A medicina chinesa é outro campo de estudo no qual há subjacente uma perspectiva na qual a análise contínua e disciplinada de si é a chave para uma vida saudável. Outros exemplos não são difíceis de serem visualizados.

Em especial para o conteúdo desta tese é importante verificar que o processo de desenvolvimento econômico chinês é complexo em sua dinâmica e que sua complexidade provém de algumas questões, como o fato de se tratar de um processo que avança cautelosa e continuamente - “man man lai”. Isso não significa dizer que na dinâmica do desenvolvimento chinês não seja possível encontrar momentos com mudanças abruptas e intensas em algumas variáveis econômicas (o que poderia soar como oposto à ideia de gradual, mas que não é).

A ideia de “man man lai” está implícita em uma das frases mais conhecidas de Deng Xiaoping acerca do processo de modernização/desenvolvimento – “Cross the

river by feeling/stepping the stones”. Nessa frase, Deng chama a atenção para a ideia de

trajetória como algo que se constrói de acordo com os contextos que vão surgindo. Passo a passo, pedra por pedra. É nesse sentido que se encontra a ideia de Desenvolvimento como um processo gradual, de tentativa e erro. Mas não apenas isso está presente nessa frase de Deng. Ao considerar a possibilidade de se criar o caminho por si, testando pedra por pedra, tem-se a ideia de que o caminho terá as características determinadas por quem está caminhando. E por mais que isso seja óbvio, de fato, o desenvolvimento chinês tem se construído de forma peculiar, diferente de qualquer outra experiência de desenvolvimento.

O processo de desenvolvimento chinês a partir de características chinesas foi presente nos discursos de Mao Tse-tung, Deng Xiaoping, Jiang Zemin e outros grandes

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líderes do país. O uso dessa ideia expressa a grande importância dada ao Nacionalismo e a Soberania na China pós-Império. Por muitos séculos a China foi o país mais desenvolvido economicamente do mundo e com uma estrutura político-administrativa que promovia estabilidade social e tendia a isolar o país em suas relações internacionais. Esse isolamento, por sua vez, impediu a China de acompanhar os avanços de outros países. E foi a partir de guerras com países do Ocidente, Rússia e Japão, que a China percebeu seu atraso tecnológico e teve sua sociedade desestruturada e sua soberania infringida. Os conflitos com países estrangeiros não cessaram e até o final da Segunda Guerra Mundial. Em 1949, o Partido Comunista Chinês (PCC) assume o poder do país e, com auxílio e influência da União Soviética, começa a se estruturar do ponto de vista institucional, produtivo e tecnológico. Entretanto, mediante divergências ideológicas entre Mao e líderes da União Soviética, o líder chinês opta por cortar relações diplomáticas entre os dois países no final da década de 1950. O isolamento internacional do período maoísta agrava o lag tecnológico entre a China e os países desenvolvidos.

Em 1978, inaugura-se um momento de reformas e abertura econômica ao capital estrangeiro. No decorrer dos anos 1980 e 1990, as exportações aparecem como um vetor central ao desenvolvimento econômico. A partir da segunda metade dos anos 1990, o investimento começa a ganhar importância como dinamizador da economia. Entretanto, essas duas variáveis (exportação e investimento) encontram limitações nos anos 2000 para promover a continuidade de altas taxas de crescimento econômico. Associado a essas limitações, a insatisfação do governo chinês com a velocidade de transferência tecnológica por parte das empresas estrangeiras presentes na China e em função de outras mudanças institucionais, políticas e internacionais, estabelece-se um novo momento.

Destarte, em 2005 ocorreu a quarta conferência nacional de Ciência & Tecnologia, com base na qual se formulou a política tecnológica chinesa vigente. Dessa conferência resultou o Plano de Médio e Longo Prazo de Ciência e Tecnologia para o período de 2006-2020. Este plano possui metas voltadas a uma proposta de mudança no modelo de desenvolvimento econômico chinês, qual seja, o de crescimento da economia mediante Inovação Endógena. Fabre e Grumbach (2012, p.5) encaram esse ponto de inflexão como o início da segunda etapa do processo de abertura e reforma iniciado após a ascensão de Deng Xiaoping ao poder em 1978. Para os autores, nesse sentido, se em um primeiro momento do processo de abertura, a partir da dimensão do atraso tecnológico

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chinês e uso de tecnologia estrangeira, há um reconhecimento da tecnologia como fundamental (motor) ao crescimento, a partir de 2005 o desenvolvimento tecnológico endógeno passa a ser entendido como a bússola para a continuidade do processo de crescimento.

A partir de um olhar de longo prazo, segundo Aglietta e Bai (2013), o pano de fundo das políticas e ações do PCC é a busca pela retomada de soberania e por melhores condições de vida para os chineses. O processo de desenvolvimento chinês, nesse sentido, sempre passa por essas duas variáveis. Entretanto, as estratégias e ferramentas do PCC para alcançar tais objetivos variam. Inicialmente, na década de 1950, como mencionado, caminhou-se para uma proximidade em relação à União Soviética, com posterior isolamento internacional. Esse isolamento intensificou a distância tecnológica da China em relação ao mundo. Por sua vez, ao atentar para as duas fases de desenvolvimentos pós-1978 apresentadas por Fabre e Grumbach (2012), de uma perspectiva tecnológica, observam-se distintas preocupações. Logo após a subida ao poder de Deng Xiaoping, em virtude de um longo período anterior de isolamento, o processo de abertura e reforma coloca em evidência a preocupação de diminuição da brecha tecnológica existente entre a China e os países desenvolvidos. O mantra da modernização da primeira fase de desenvolvimento pós-1978, portanto, traduz-se como a busca pelo catching up. A segunda fase, pós-2005, é mais complexa, no sentido de trazer outros debates. A preocupação com o catching-up continua, uma vez que em muitas indústrias a China ainda possui atraso tecnológico em relação às empresas de outros países. Mas para além do catching up, outras análises emergem nessa segunda fase. O padrão de crescimento é uma delas. O mercado externo e o volume de investimento sem uma preocupação de gastos com tecnologia aparecem como limitantes a altas taxas de crescimento no longo prazo. Em outras palavras, aumentar gastos com ciência e tecnologia potencializariam os vetores exportação e investimento. Além disso, a partir da segunda metade dos anos 2000 começa a se desenhar no campo teórico o surgimento de um novo paradigma tecnológico (indústria 4.0), para o qual há uma correspondência no lançamento de políticas tecnológicas em alguns países desenvolvidos (Alemanha e Estados Unidos, por exemplo). Nesse sentido, pode-se dizer que a segunda fase de desenvolvimento chinês é um amalgama de 3 objetivos, pois a ideia de modernização passa a compreender tanto a busca por catching up, como o intento de um padrão

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crescimento sustentável no longo prazo (dependendo menos da tecnologia externa) e o objetivo de se estar na fronteira tecnológica do novo paradigma que se desenha.

A dinâmica dessa segunda etapa do desenvolvimento chinês tem recebido a influência de conjunturas internacionais, como os efeitos da crise de 2008 (tanto na diminuição da demanda externa como no reposicionamento geográficos das empresas transnacionais), a crescente preocupação com o meio ambiente e pressão multilateral para a intensificação do uso de energia renovável, os possíveis embates comerciais e medidas protecionistas em relação a produtos chineses (sobretudo ao se analisar a política externa dos Estados Unidos do governo Trump), dentre outros. Esses debates que se relacionam com a discussão do processo de desenvolvimento chinês ressaltam a importância do tema a ser tratado nessa tese.

Uma vez salientada a importância de entender de forma paulatina o desenvolvimento chinês a partir de sua história e dada a influência atual da China no cenário internacional, a presente tese propõem-se a explorar a temática da relação entre tecnologia e desenvolvimento na China. Mais especificamente, tem-se como objetivo principal analisar se o ano de 2005 configura-se como um ano de ruptura, no sentido de apontar um novo modelo de desenvolvimento. Baseado na hipótese de que há um novo modelo de desenvolvimento no qual a tecnologia é a variável-chave, os capítulos irão analisar o impacto da tecnologia no desenvolvimento para diferentes períodos da história chinesa. O primeiro capítulo busca entender o impacto da tecnologia anteriormente a 1978. O segundo avança no mesmo sentido para o período posterior a 1978, dividindo esse período em duas partes. O capítulo 3 faz uma análise de resultados da política tecnológica de 2005 no sentido de avaliar em que medida a China, de fato, está avançando em um novo modelo de desenvolvimento pautado na tecnologia. O quarto capítulo busca entender os agentes econômicos envolvidos nesse processo, com o intuito de averiguar suas principais características e, consequentemente, a capacidade de impulsionarem um modelo de crescimento pautado no avanço tecnológico. Seguem as considerações finais.

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1 - A INFLUÊNCIA MARGINAL DA TECNOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO CHINÊS PRÉ-1978

Na História do Pensamento Econômico, o tema “Desenvolvimento” é amplamente difundido. Muitas são as variáveis trazidas para o seu entendimento, bem como existem diferentes formas de abordagem do tema entre as diversas escolas de pensamento econômico. Entretanto, não faz parte do escopo desta tese realizar um resgate bibliográfico teórico sobre os determinantes do desenvolvimento. Isso, por sua vez, não significa dizer que a tese não possua delimitações conceituais.

Uma primeira delimitação conceitual é a de que “a História importa”. Do ponto de vista geopolítico, isso significa dizer que a conjuntura internacional e sua dinâmica influenciaram a trajetória de desenvolvimento chinês. São exemplos, nesse sentido: os conflitos com países ocidentais, Japão e Rússia no período de declínio do Império (1840-1911), que culminaram em vários tratados portuários e resultaram na fragilização da soberania chinesa e em uma desestruturação social; a influência Soviética na absorção da ideologia socialista e na construção da estrutura de governo pós 2ª Guerra Mundial; o processo de globalização produtiva ser contemporâneo ao contexto de abertura econômica chinesa nos anos 1980 de forma a contribuir para que a China avançasse no seu processo de modernização; dentre outros. Um segundo modo de ponderar que a história importa é através de uma análise interna, enxergando o processo produtivo doméstico como cumulativo – evolutivo no sentido de que cria uma trajetória

path dependence1. Uma das frases mais conhecidas de Deng Xiaoping, “Groping for

stones to cross the river”2, exemplifica o período de abertura econômica como algo

pragmático e experimental e que, assim, encara o desenvolvimento como um processo evolutivo. O processo produtivo cumulativo, entretanto, carrega influências de outros períodos, e não apenas posterior ao momento de abertura dos anos 1980. Um exemplo, dentre muitos outros, é o da análise do desenvolvimento regional, na qual avanços iniciados desde o período imperial, que impulsionaram algumas cidades e regiões a se desenvolverem mais rapidamente, geraram uma desigualdade no desenvolvimento interno que se perpetua até os dias atuais. Cabe a ressalva, entretanto, que evolução não

1 Conceito extraído de Freeman e Soete (2008).

2 Essa expressão possui algumas variantes como: “cross the river by feeling the stones”, “grope the stepping

stone to cross the river”, dentre outras. Conforme Vogel (2013, p.3), esse aforismo de Deng não foi criado por ele e seu primeiro registro data de 22 de março de 1966.

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necessariamente significa avanços contínuos, sejam eles produtivos, tecnológicos ou de produtividade. No período maoísta, por exemplo, algumas estruturas institucionais e produtivas foram completamente modificadas, implicando em novas trajetórias de desenvolvimento, com períodos de estagnação e até de declínio produtivo e tecnológico.

Uma segunda delimitação conceitual diz respeito ao processo de desenvolvimento tecnológico ser dependente de algumas variáveis. Entendendo-o como cumulativo, tal qual o desenvolvimento das forças produtivas, observa-se que o estágio de desenvolvimento do país (agrário ou industrial), a configuração político-econômica (que influencia as indústrias e os paradigmas tecnológicos a serem priorizados) e a interação tecnológica com outros países (brecha tecnológica) foram variáveis cruciais para a velocidade do desenvolvimento e da disseminação de tecnologias no caso chinês.

A partir das variáveis que interferem no desenvolvimento tecnológico, observa-se que para o período imperial, no qual a China era um país agrário, as grandes invenções chinesas tiveram um protagonismo na geração e difusão tecnológica. A pólvora, a fabricação de papel, a bússola e a impressão (as quatro grandes - sì dà fāmíng) são exemplos muito conhecidos e esboçam bem o caráter cumulativo da tecnologia. Durante esse período, por exemplo, a impressão possibilitou a difusão de práticas agrícolas para aumentar a produção de forma intensiva. O período imperial era dotado de uma institucionalidade governamental que não impulsionava a tecnologia a desenvolver-se de forma incessante. A estrutura social composta de uma elite intelectual, os valores confucianos e o isolamento internacional foram a base dessa institucionalidade governamental que promoveu uma dinâmica de “crescimento tecnológico marginal”, na qual os maiores avanços tecnológicos surgiriam a partir de invenções esporádicas.

No período maoísta, por sua vez, sob uma economia de comando, houve um esforço de industrialização com difusão de tecnologia soviética e a criação de instituições para promoção do desenvolvimento tecnológico, ainda que em meio a uma economia majoritariamente agrária. Todavia, a institucionalidade segmentada entre os órgãos criados não propiciou a comunicação entre estrutura produtiva e desenvolvimento tecnológico e, assim, o impacto da tecnologia no desenvolvimento foi marginal, sendo mais visível apenas no final do período maoísta, quando trouxe ganhos de produtividade à agricultura. Quanto à segmentação dos órgãos, as universidades estavam mais voltadas à formação de técnicos enquanto os institutos de pesquisas realizavam estudos destinados

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a questões militares ou vinculados aos projetos de investimento – logo, não havia muita conexão entre universidades e institutos de pesquisa e destes com as demandas das unidades produtivas (comunas e brigadas). Essa estrutura institucional segmentada seguiu o modelo soviético. Da mesma forma, a estrutura de produção coletiva também foi importada e possuía um caráter autárquico, uma vez que as unidades produtivas foram pensadas para serem autossuficientes (atomizadas). Com essa estrutura de produção autossuficiente, reforçou-se a ideia de separação entre produção e desenvolvimento tecnológico. Assim, a economia de comando do período maoísta não teve em suas engrenagens o desenvolvimento tecnológico como motor do desenvolvimento.

Além da segmentação dos órgãos científicos e do caráter autárquico das comunas e brigadas, a instabilidade política (que em alguns momentos questionou e suprimiu o desenvolvimento intelectual) e o endurecimento das relações internacionais com a União Soviética (e embate com os países do bloco capitalista) também contribuíram para que a China estagnasse em uma mesma matriz tecnológica, com avanços apreendidos mais no setor agrícola.

O período posterior a abertura econômica a partir de Deng Xiaoping (1978) configura-se em um momento onde o grande lag tecnológico entre China e países desenvolvidos, o baixo custo de mão de obra chinesa, e o advento da globalização produtiva (com as cadeias globais de valor) permitem um upgrade tecnológico que revolucionaria o desenvolvimento das forças produtivas na China. A oficialização de uma Economia de Mercado com o reconhecimento da propriedade privada e a entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) foram eventos que chancelaram uma dinâmica produtiva em que o uso da tecnologia como forma de revolucionar a produção está nas próprias engrenagens/dinâmica do sistema econômico, para o qual, segundo Schumpeter (1934), a inovação é o motor do desenvolvimento. Esse presente trabalho, como exposto na introdução, busca defender que 2005 é um marco no sentido de haver um reconhecimento por parte do Estado chinês da importância de buscar protagonismo na constante revolução produtiva via inovação, no sentido de que o desenvolvimento econômico nacional não pode avançar apenas pelas absorção e difusão de novas tecnologias, mas também a partir da geração endógena de conhecimento e tecnologia. Em outras palavras, a partir de 2005 busca-se uma nova interação entre desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento econômico.

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Uma forma de categorizar o impacto tecnológico no desenvolvimento econômico é caracterizando cada período como de crescimento intensivo ou extensivo, como realizado de forma descritiva em Maddison (1998, 2007). O binômio extensivo-intensivo é um parâmetro interessante para se avaliar como a dinâmica do padrão tecnológico foi determinante na velocidade do crescimento. Os períodos de crescimento extensivo, na história chinesa, denotam momentos em que o país estava fechado internacionalmente e/ou ampliando sua produção ao longo de seu território, de forma que o avanço tecnológico era baixo e repercutia em um crescimento produtivo lento. São característicos dessa configuração o período Imperial de 960 a 1280, de 1700 a 1840 e parte do período Maoísta.

Quadro 1 – Períodos de desenvolvimento na China

Fonte: Maddison (1998, 2007). Elaboração própria.

Por sua vez, o período de abertura e reforma chinês, a partir de 1978, assistiu a passagem de uma sociedade agrária para uma industrial, na qual a tecnologia impacta no desenvolvimento através de uma modernização da estrutura produtiva. Inicialmente, foi por meio da chegada de empresas estrangeiras que se teve acesso a novas tecnologias (depois de um período de isolamento chinês de quase 20 anos). Essas elevaram o crescimento produtivo a patamares muito superiores aos dos períodos anteriores. Em meados dos anos 2000, a busca por modernização passa a ter um enfoque no desenvolvimento tecnológico endógeno.

O Quadro 1 é importante para explicitar que o crescimento econômico não necessariamente vem a reboque do desenvolvimento tecnológico. Por muitos séculos, inclusive, na China, o primeiro avançou a despeito do segundo. 1978, nesse sentido, é um ano-chave, pois a partir dele a busca por modernização explicita uma nova dinâmica de impacto da tecnologia no desenvolvimento, seja pela possibilidade de diminuição na brecha tecnológica de todas industrias já presentes na China (catching up), seja pela

960-1280 Crescimento Extensivo

1368-1644 Crescimento Intensivo

1700-1840 Crescimento Extensivo

Declínio e Queda do Império 1840-1912 Estagnação produtiva e tecnológica

República da China 1912-1949 Estagnação produtiva e tecnológica

Período Maoísta 1949-1978 Instável e segmentado tecnologicamente

Período de abertura e reformas 1978-2006 Crescimento Produtivo e tecnológico Império chinês

Tipo de Dinâmica Econômica Período de

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abertura à entrada de novas indústrias características da terceira Revolução Industrial (acesso a um novo paradigma tecnológico). Destarte, nesta tese, optou-se por separar a análise do desenvolvimento chinês em duas partes: pré-1978 (capítulo 1) e pós-1978 (capítulo 2).

A partir do recorte temporal supracitado, este capítulo está dividido em 3 partes mais considerações sobre o capítulo. A primeira apresenta o processo de desenvolvimento da China em seu período imperial: por meio de características não-econômicas; identificando a relação entre tecnologia e crescimento produtivo; e sumarizando os conflitos internos e externos que levaram à mudança do sistema de governo. A segunda parte analisa a formação da República da China, também com a perspectiva de entender as principais características do período e de averiguar o impacto da tecnologia no desenvolvimento econômico. A última parte do capítulo trata do período maoísta, buscando explorar a complexidade, a heterogeneidade e os avanços tecnológicos entre 1949 e 1978, a partir das mudanças institucionais e da concentração de poder em um único líder - fatos que ocorreram com a chegada do Partido Comunista ao poder. As três partes deste capítulo, portanto, seguem uma análise cronológica, apontando características peculiares a cada período histórico e examinando a relação entre tecnologia e desenvolvimento em cada um deles.

1.1 Império

O período imperial da China data de 221 a.C. até 1911. São mais de 2 mil anos de uma mesma forma de governo. Nesse interim há diversas alterações no território pertencente à China, mudanças de dinastias, intervalos com ausência de governo imperial, momentos com controle dividido entre Norte e Sul do país, dentre outras mudanças que impedem de configurar o período como homogêneo (Quadro 2). Entretanto, a manutenção de uma mesma forma de governo por mais de 2 mil anos se justifica por características que foram sendo implementadas ao longo do tempo e que possibilitaram uma estabilidade da organização social chinesa. Nesse sentido, a filosofia de Confúcio, a construção de uma burocracia meritocrática e o isolamento internacional foram fatores que contribuíram para esse equilíbrio social. E se, por um lado, esse equilíbrio social possibilitou que o crescimento econômico avançasse, por outro, o engessamento dessas estruturas sociais, sobretudo o isolamento a influências internacionais, inviabilizou que o

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país, a partir do século XV, avançasse tecnologicamente na mesma velocidade de outras regiões do Ocidente.

Quadro 2 - Dinastias imperiais na China e respectivas capitais

Fonte: Maddison (1998, 2007). Elaboração própria.

1.1.1 Características não econômicas do período

Apesar do Confucionismo ter sido influente no comportamento social, ético e de ensino político chinês, esse não esteve presente desde o início do Império. Confúcio viveu de 551 a.C até 479 a.C. O imperador Qin Shi Huangdi, primeiro reconhecido como autoridade de uma China unificada, tinha suspeitas sobre os estudiosos confucianos, a ponto de perseguir alguns deles e queimar seus livros. Ele favoreceu a escola de filosofia Legalista, a qual primava por leis duras em contraposição ao Confucionismo, a partir do qual a moralidade é a base para a autoridade dos dirigentes/governantes (JOSEPH, 2014a, p.10).

Confúcio foi um filósofo chinês e grande parte de suas ideias atrelavam-se a questões políticas e de governo. Como Platão e outros filósofos, Confúcio focava no “bom” Estado, o qual ele acreditava ser a melhor instituição para organizar e governar a sociedade (SCHOPPA, 2014, p.42). Ele não enveredava a examinar questões como imortalidade, alma, vida após a morte ou Deus, portanto, não se aproximando de um arcabouço teológico. Nesse sentido, conceitos como pecado, salvação e divisão social não aparecem em suas obras. Seu foco político, na verdade, conferia uma crença nas ideias de harmonia providencial e obediência ao Estado. Isso não significa dizer que a partir do momento que o Confucionismo ganha importância para o governo imperial, no século

Período Dinastia Capital

221-206 A.C. Qin Hsien-yang

206 A.C. - 8 D.C., 23-220 D.C. Han Chang-an/Loyang

220-589 Império Desintegrado

589-617 Sui Chang-an

618-906 Tang Chang-an

906-960 Império Desintegrado

960-1127 Sung Kai-feng

1127-1234 Jurchen (Chin) ao Norte Pequim

1234-1279 Mongol (Yuan) ao Norte Karakorum

1127-1279 Sung meridional Hangzhou

1279-1368 Yuan (Mongol) Pequim

1368-1644 Ming Nanquing/Pequim

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IX, ele neutraliza o exercício religioso. Houve tolerância a uma extensa variedade de práticas religiosas, incluindo Budismo, Taoísmo, Islamismo, entre outras (MADDISON, 2007, p.25).

A dinastia Han foi quem começou a reunir as ideias e a abordagem de Confúcio. Ela institucionalizou um sistema de seleção para serviços civis cujo teste para o ingresso tinha uma grande ênfase no domínio do Confucionismo. Na dinastia Song (960-1279) esse processo seletivo tornou-se mais relevante ao conferir aos aprovados a ocupação de oficial do governo. Os que passavam na prova entravam para a elite social do Império. Esse sistema criou uma burocracia representativa dos maiores intelectuais do país no que diz respeito ao domínio do confucionismo. Ao alcançar o poder político, esses oficiais balizavam suas condutas de acordo com os valores de obediência ao Estado. A unidade de uma China diversificada culturalmente e regionalmente foi possível graças a esse sistema de formação da burocracia mediante a um processo seletivo, embora a substituição de processos por indicações ou hereditário tenha sido gradual3 (ZHA, 2011,

p.41; MADDISON, 2007, p.24).

Esse sistema foi abolido em 1905. Ele é considerado como uma inovação organizacional de suma importância para a organização do Estado, que, então, perdurou através da imposição de uma ordem política e social por uma elite intelectual. A partir da dinastia Han também houve um investimento grande em educação, a ponto de possibilitar a capacitação de muitos para pleitearem cargos burocráticos através de exames oficiais. A existência de exames e de foco na educação corroborou para a classificação do sistema de formação da burocracia imperial como um sistema meritocrático, um motivo a mais para a sustentação da estabilidade social (ZHA, 2011, p.21).

A burocracia imperial era um grupo seleto e pequeno em relação a população chinesa. Entretanto, nos séculos XVI e XVII representava praticamente todo o aparato governamental. Segundo Maddison (2007, p.25):

The bureaucratic elite was always small in relation to the size of the country. In the sixteenth century and the first half of the seventeenth, there were ten to

3 Segundo Ho (1962, p. 259): “In the Han dynasty, they were recruited on a recommendatory basis, as a

supplement to military and aristocratic minions. Thereafter there was a relapse into predominantly feudal regimes in a multistate polity, which lasted for nearly 370 years. Bureaucratic enrolment by examination was initiated at the beginning of the seventh century. The role of bureaucracy expanded under the Tang when the political power of the hereditary aristocracy was gradually broken. Under the Sung, procedures for examination were improved to ensure anonymity of candidates”.

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fifteen thousand officials for the whole of the empire. They staffed the Grand Council and Secretariat, the six ministries and the specialized departments in Peking and serviced the provincial, prefectural and district administration. At the lowest level (the district — hsien), the magistrate was tax collector, judge, record keeper, administrator of public works and regularly present at ceremonial observances […] Below the district level, control was exercised by derogation and delegation. The local gentry played an important role in settling disputes and acting as informal agents of officialdom. Neighbourhood associations were collectively responsible for local policing and tax collection. Não havia advogados nem litígio e, portanto, a possibilidade de desafiar/contrariar decisões de burocratas era muito pequena. Nesse sentido, na tentativa de inibir a corrupção, os oficiais eram apontados para funções em regiões que não de sua origem natal, além de serem sujeitos a uma rotatividade regular de seus locais de ofício a fim de se evitar a criação de laços com os interesses locais. Essa relação de troca entre burocracia e população local mais tarde seria nomeada de Guanxi e esse processo de rotatividade de oficiais do governo se assemelha ao usado na organização de funções governamentais do período Maoísta conhecido como Nomenklatura (trazido da União Soviética).

Outras classes/categorias permeavam o Império, tais quais a aristocracia, os eunucos, os militares e líderes religiosos. Entretanto, a burocracia não era desafiada por essas classes. Nas palavras de Maddison (2007, p.40): “Officialdom had a powerful role

in dictating the layout of cities, it controlled communications and was not challenged by a countervailing judicial, military, aristocratic or ecclesiastical power”.

1.1.2 Centralidade/Isolamento chinês e distanciamento em relação à Europa

O ponto anterior apresentou a criação de uma burocracia meritocrática formada por uma elite intelectual e mostrou a extensão do seu poder político. Enquanto Maddison (2007, p.26) argumenta que essa classe foi um instrumento do Imperador para imprimir um governo autocrático e não se submeter à aristocracia, Zhao (2004, p.67) defende que, frente ao poder político da burocracia meritocrática, o Imperador nunca conseguiu exercer o poder autocrático pretendido de herdeiro divino. Ambos autores, todavia, concordam que o sistema burocrático foi a principal força para a manutenção do Estado chinês por séculos, por sua simplicidade e por carregar o espírito confuciano de união, dentre outros valores pró-coesão, como harmonia, obediência e disciplina.

Tais valores confucianos fundamentais à formação de toda a burocracia imperial corroboraram para a construção de uma visão particular de mundo da China na

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qual a dinâmica interna seria, em grande parte do período imperial, indiferente aos acontecimentos externos. Segundo Maddison (2007, p.27) “the ideology, mindset and

education system of the bureaucracy promoted an ethnocentric outlook, which was indifferent to developments outside China”. Nesse olhar etnocêntrico, a China se

pretendia autossuficiente e autárquica em seu desenvolvimento. A cultura chinesa foi indiferente ao comércio internacional, olhando para si como “o Reino/Nação do Meio/Central” (ou zhōngguó, que também é a forma de se falar “China” em Mandarim/Putonhua) e como estando “diretamente abaixo do divino/céus” (tiānxià) e, portanto, autossuficiente para todas as coisas importantes (SCHOPPA, 2014, p.44).

Alguns casos exemplificam essa postura chinesa. No início da dinastia Ming, o Imperador Yung-lo construiu uma frota de navios para viagens pelo oceano e enviou seu Almirante Cheng Ho para expedições entre 1405 e 1433 (LEVATHES, 1994). Posteriormente a esse fato, a indústria naval foi abandonada e o comércio internacional, em certa medida, proibido. Alguns séculos depois, entre 1792-3, Lord Macartney carregou 600 caixas de presentes do Rei da Grã-Bretanhã, George III, para entregar para o Imperador chinês Chien-lung. Dentre os presentes havia planetários, globos, instrumentos matemáticos, de medição e químicos, cronómetros e telescópios. A resposta oficial aos presentes ofertados foi a de que não havia nada que os chineses precisassem (HSU, 1975, p. 207).

A forma de organização chinesa autárquica decorrente da estrutura burocrática já mencionada possibilitou estabilidade social e unidade nacional que, por sua vez, favoreceram a difusão de novas técnicas produtivas e, logo, o desenvolvimento econômico por muitos séculos em meio a uma sociedade agrária. Essa mesma organização, todavia, ao estabelecer um isolamento em relação ao Ocidente, significou não se beneficiar das invenções surgidas no período das Grandes Navegações e do avanços tecnológicos contínuos decorrentes da 1ª Revolução Industrial. Nesse sentido, a partir de transformações ocorridas no continente europeu e do isolamento chinês, a distância tecnológica entre essas regiões foi se ampliando. Abaixo seguem alguns pontos que contribuem para o entendimento dessa dinâmica de atraso tecnológico e produtivo da China frente a países europeus. São eles:

- Movimentos na Europa, como o Renascimento e o Iluminismo, que foram fundamentais para o abandono de superstições, valorização da ciência e diminuição da

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submissão a autoridades religiosas. Essa mudanças culminaram na criação de uma tradição cientificista no sistema educacional e impactaram em avanços econômicos excepcionais em alguns países europeus entre os séculos XV e XVIII, intervalo no qual a China deixa de ser a maior economia do mundo.

- Na China, o ensino superior era de natureza holística que, então, buscava tratar seus temas de forma mais panorâmica, priorizando áreas do conhecimento como história, filosofia e literatura. O modelo europeu, por sua vez, tinha uma natureza de especialização, com maior domínio em áreas como direito, medicina e teologia dentro de suas grades curriculares;

- O sistema educacional chinês era engessado. Havia um autoridade intelectual que conferia poder a burocracia e aos estudiosos, mas não havia uma liberdade acadêmica.

- Apesar da longa tradição de Estado centralizado intervencionista na China Império, a intervenção na China era pequena se comparada à capacidade organizacional dos modernos Estados-Nação do Ocidente (LI, 2015, p.21-2).

1.1.3 Desenvolvimento econômico e tecnológico

Os dois itens anteriores explicitaram a estrutura organizacional do período imperial, pautada em uma burocracia movida por valores confucianos, como um mecanismo de organização social que contribuiu ao isolamento do país frente às influências externas. Por um tempo, isso repercutiu em um avanço econômico superior chinês, mas com o advento da formação de Estados-Nação europeus, movimentos culturais (como o Renascimento e o Iluminismo) e revoluções (como a Francesa e as Industriais), a mudança técnica e tecnológica europeia avançou significativamente a ponto de promover um crescente atraso chinês. Neste item pretende-se abordar os avanços econômicos característicos do período de superioridade econômica chinesa. O próximo item, por sua vez, tratará do período de declínio do Império, que decorre, em grande medida, da superioridade econômica/tecnológica estrangeira.

A China imperial configurou-se como um período de predominância agrícola. Em 1890, por exemplo, 68% do produto interno e 75% da mão de obra estavam na agricultura, com o adendo de que nos dois milênios anteriores a esse ano, essas porcentagens devem ter sido maiores (MADDISON, 2007, p.31). Nesse sentido, é

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imprescindível examinar esse setor da economia para entender o período de supremacia econômica chinesa. Os avanços na agricultura tiveram incentivos provenientes de políticas da burocracia. Imperadores e burocracia atribuíam à agricultura o papel de setor-chave da economia (também por ser o espaço ao qual o Estado podia lançar taxas e estabelecer arrecadação compulsória). O fomento da burocracia ao desenvolvimento da agricultura pode ser observado pelo Estado em diversas ações, como: nortear os trabalhos hidráulicos para irrigação; ajudar a desenvolver e disseminar novas sementes e grãos; alocar produtores em novas regiões promissoras; criar um sistema de estocagem e mitigar períodos de escassez de alimentos; e distribuir manuais sobre técnicas agrícolas, calendários e outros materiais impressos (MADDISON, 1998, p.27). Dado o extenso território chinês, as grandes invenções, como a do papel e a da impressão, foram fundamentais para a difusão do conhecimento no país como um todo, não apenas na área agrícola, mas também para outros campos4. A estrutura da burocracia que moldou o

Estado a promover fomento à agricultura, conforme as medidas já citadas, conseguiu difundir as melhores técnicas produtivas e impulsionar o aumento da produtividade e, logo, do crescimento do país, alçando a China a país com maior produção per capita entre os séculos X e XV. Nesse interim, a China foi superior à Europa no nível tecnológico, na intensidade de uso de seus recursos naturais e na sua capacidade administrativa de seu território.

Tabela 1 – PIB Per Capita chinês e europeu para períodos selecionados (1990 $)

* Exclusive Turquia e União Soviética

Fonte: Maddison (1998, 2007). Elaboração própria.

Contrário à agricultura, o impacto da burocracia foi negativo no desenvolvimento industrial urbano. Burocracia e proprietários de terras eram, por excelência, rentistas. Esses dois grupos dominavam a vida urbana e inibiam o surgimento de atividades empreendedoras (e, de certa forma, de uma burguesia industrial e/ou

4 The first complete printed book was a Buddhist Sutra of 868 and printing became fully developed in the

Sung dynasty. This facilitated the functioning of the bureaucracy, greatly increased the reading matter available in cheap form to the education process and helped to diffuse technical know–how. Editions of the Confucian classics, encyclopedias, dictionaries, histories, medical and pharmaceutical books, works on farming and arithmetic were officially sponsored. Private firms and booksellers also promoted the spread of knowledge (TSIEN, 1985).

1 960 1300 1700

China 450 450 600 600

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comercial) por não garantirem a propriedade privada e por exaurir os lucros das atividades nascentes. Segundo Maddison (2007, p.16) “Entrepreneurial activity was insecure in a

framework where legal protection for private activity was exiguous. Any activity that promised to be lucrative was subject to bureaucratic squeeze”. No âmbito da propriedade

rural isso não era um problema. Ao contrário, a separação entre propriedade e administração a partir de arrendamento era um processo que estimulava o agricultor a buscar maior produtividade por poder gerir sua produção de acordo com seus planejamentos e cujo sucesso era do interesse dos arrendatários e da burocracia. Havia uma ordem institucional na agricultura que se construiu com o tempo. Nessa ordem proprietários e arrendatários podiam comprar e vender terras livremente e os produtores podiam ofertar sua produção nos mercados locais.

A conjuntura na qual a atividade industrial urbana foi continuamente desestimulada e o setor agrícola avançou no aumento de sua produtividade, culminou na liberação de mão de obra rural para atividades não-agrícola5. Na verdade, não

necessariamente a mão de obra se deslocava de uma atividade para outra. Por vezes, os mesmos trabalhadores dividiam seu tempo em diferentes atividades. São alguns exemplos dessas atividades não-agrícolas: fiação e tecelagem; sericultura; produção de couro e vestuário em geral; moagem de grãos e produção de óleos; secagem e preparação de folhas de chá; produtos com tabaco; produção de molho de soja, vinhos e licores; confecção de velas e extração de óleo de tungue; uso de palha e bambu na criação de objetos; manufatura de tijolos e azulejos; carroças e pequenos barcos. Em outras palavras, no período imperial, as atividades industriais foram desenvolvidas, majoritariamente, em domicílios rurais. Elas registraram maior importância no total das atividades rurais a partir da dinastia Sung e, no século XVIII, um quarto do PIB foi decorrente de manufaturas, transporte, comércio e construção.

Com relação aos tipos de crescimento apresentados no Quadro 1, o período imperial é composto da alternância entre crescimento extensivo e intensivo para 3 momentos: crescimento extensivo a partir da dinastia Sung (960-1279), intensivo na dinastia Ming (1368-1644) e novamente extensivo na dinastia Qin/Manchu (1644-1911).

5 Segundo Skinner (1964) os produtores chineses não viviam em uma economia de subsistência, mas

engajavam-se em atividades comerciais em mercados nas áreas rurais. A importância relativa dessa atividades rurais cresceu na dinastia Sung, junto com a melhora na produtividade da terra e aumento do padrão de vida.

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Um dos motivos já levantado para essa alternância foi o estabelecimento de relações internacionais, o qual foi de suma importância na dinastia Ming não apenas para internalização tecnológica, como também para a introdução de novos grãos e alimentos encontrados no continente americano (milho, amendoim, batata, tabaco, dentre outros). A abertura à relações com o exterior, portanto, contribuiu para um avanço econômico intensivo, pelo ganho de produtividade via mudança técnica. Outro motivo a contribuir para o entendimento desses períodos, é o crescimento da população. Para os períodos de crescimento extensivo, observou-se um aumento considerável de indivíduos, enquanto que para o período intensivo, a população não apresentou grande variação. Na medida em que a população não varia e aufere-se crescimento, o trabalho se realiza de forma mais intensiva, ceteris paribus.

Tabela 2 – Crescimento populacional em regiões selecionadas (milhões)

* Exclusive Turquia e União Soviética ** Somatória de Índia, Bangladesh e Paquistão Fonte: Maddison (1998, 2007). Elaboração própria.

Na dinastia Sung, de crescimento extensivo, há uma mudança no centro gravitacional econômico chinês do norte para o sul. No século VIII, 75% da população encontrava-se no norte do país. No século XIII a mesma porcentagem de chineses estava ao sul do rio Yangtzé e trabalhando no cultivo de arroz. Essa mudança de concentração foi acompanhada por uma expansão na exploração de áreas cultiváveis. Segundo Maddison (1998), resume-se o período como tendo 5 principais explicações do crescimento: aumento da população; mudança regional do centro de gravidade; difusão de técnicas agrícolas por livros ilustrados (é nessa dinastia que se cria o sistema burocrático meritocrático que fomenta a distribuição de obras); aumento do comércio interno, especialização, produtividade e manufatura (sobretudo fiação e tecelagem com o algodão de insumo) pelo aumento da densidade populacional, com introdução do papel moeda; e melhoras na indústria marítima e na navegação no sul como proteção aos mongóis, que propiciou comércio externo ao sul (o que relativiza que houve um isolamento total de relações internacionais neste período).

1 1000 1300 1500 1700 1820 2003 China 60 59 100 103 138 381 1.288 Europa* 30 32 52 71 100 170 516 Índia** 75 75 88 110 165 209 1.344 Japão 3 7,5 10,5 15,4 27 31 127 Mundo 226 267 372 438 603 1.042 6.279

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