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Da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil: análise jurídica face a relação de consumo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

HARLLEY MATHEUS PEDROSA BARRETO

DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA NO

BRASIL: ANÁLISE JURIDICA FACE A RELAÇÃO DE CONSUMO

SOUSA - PB

2011

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DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA NO

BRASIL: ANÁLISE JURIDICA FACE A RELAÇÃO DE CONSUMO

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS da

Universidade

Federal

de

Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Profª. Esp. Monnizia Pereira Nóbrega.

SOUSA - PB

2011

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DA DESCONSIDERAQAO DA PERSONALIDADE JURIDICA NO BRASIL: ANALISE JURIDICA FACE A RELAQAO DE CONSUMO

Aprovada em : de d e 2 0 1 1

BANCA EXAMINADORA

Prof3. Monnizia Pereira Nobrega - UFCG

Professora Orientadora

Prof3. Jacyara farias Souza - UFCG

Professor

Prof3. Petrucia Marques Moreira Sarmento - UFCG

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Luzimar e Maciel, exemplos de vida dedicagao e amor, sem os quais nadc seria.

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A Deus, primeiramente, por sempre por em minha mente a vontade de lutar pelos meus sonhos, fornecendo-me perseveranga e forga nos momentos dificeis.

A minha professora orientadora Monnizia Pereira Nobrega, pela colaboracao e apoio dedicados a realizagao desse trabalho.

A minha esposa Monalisa, pelo amor, a paciencia, a compreensao e a extrema dedicagao nos momentos em que mais necessitei.

As minhas irmas Veruska e Anuska por cada uma, a sua maneira e de acordo com as suas vivencias, passaram-se ensinamentos para a vida.

A todos os demais que de qualquer forma colaboraram e apoiaram na realizagao desta etapa da minha vida.

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O acatamento aos direitos do consumidor e fruto da adaptagao dos institutes jundicos a realidade social, sendo produto do esforgo dos operadores do Direito, pois o fato juridico e fato social. Instrumentos legais para minimizar os danos aos direitos do consumidor tornam-se cruciais para a propria manutengao do status de cidadao pelo consumidor. O proprio Estado, por si ou por meio dos seus concessionaries e responsavel tanto pela prestagao de um servigo continuo e eficaz como pelas lesoes aos direitos do consumidor. Sendo assim, busca a presente pesquisa analisar a relagao de consumo, seus principios informadores assim como seu desenvolvimento historico. Bem como, verificar a participagao da pessoa juridica na relagao de consumo, enfocando sua capacidade juridica, sua configuragao como fornecedora e sua responsabilizagao decorrente de vicios, de qualidade ou quantidade, do produto ou servigo. A fim de constatar a incidencia da desconsideragao da personalidade juridica na relagao de consumo, como mecanismo de protegao ao consumidor, ante as irregularidades praticadas pelo fornecedor. Para tanto, usa-se do metodo indutivo como metodo de abordagem; e o historico-evolutivo, o comparativo e o exegetico-juridico, como metodos de procedimento.Alem da pesquisa bibliografica como tecnica de pesquisa. De forma a demonstrar nao so a possibilidade, mas tambem a necessidade da desconsideragao da personalidade da pessoa juridica, com fulcro no §5°, do artigo 28, do CDC, nao apenas nos casos em que o patrimonio da sociedade seja insuficiente para arcar com suas obrigagoes sociais, mas principalmente em defesa do consumidor, de forma a promover aplicabilidade efetiva do citado instituto face as relagoes consumeristas.

Palavras-chave: Relagao de consumo. Pessoa juridica. Desconsideragao da

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The deference to consumer rights is the result of the adaptation of legal institutions in social reality, being the product of the effort of law practitioners, as the legal fact is a social fact. Legal instruments to minimize the damage to consumer rights become crucial for the proper maintenance of the status of a citizen by the consumer. The State itself, by itself or through its licensees is responsible both for providing a continuous and effective as the injuries to consumer rights. Thus, this research seeks to analyze the relationship of consumption, its principles informants as their historical development. And to verify the participation of legal entity in relation to consumption, focusing on their legal capacity, configuration and accountability as a supplier due to defects in quality or quantity of the product or service. In order to establish the incidence of piercing the corporate veil in relation to consumption, as a mechanism for consumer protection, against the irregularities committed by the supplier. For this purpose, we use the inductive method as a method of approach, and the historical evolution of the exegetical and comparative-legal, as methods of procedimento.Alem literature as a research technique. In order to demonstrate not only the possibility but the necessity of piercing the corporate entity, with focus on § 5 of Article 28, the CDC, not only in cases where the company's assets is insufficient to cope with their social obligations, but mainly in the consumer, to promote effective applicability of the said institute relations face consumerism.

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CC - Codigo Civil

CDC - Codigo de Protegao e Defesa do Consumidor CF - Constituicao Federal

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1INTRODUQAO 9 2 DA R E L A Q A O DE CONSUMO 13 2.1 Conceito e historicidade 13 2.2 Sujeitos Contratantes 18 2.3 Principios informadores 22 3 A P E S S O A JURIDICA F A C E A R E L A Q A O DE CONSUMO 27 3.1 Da personalidade juridica 27 3.2 Da pessoa juridica enquanto fornecedora na relagao de consumo 31

3.3 Da responsabilidade decorrente da relagao de consumo 33

4 DA D E S C O N S I D E R A Q A O DA P E R S O N A L I D A D E JURIDICA NA

R E L A Q A O DE CONSUMO 38

4.1 Conceito e previsao legal 38 4.2 Do fundamento constitucional 45 4.3 Da efetividade juridica no ordenamento brasileiro 47

5 C O N C L U S A O 52 R E F E R E N C E S 55

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A persecugao implacavel pelo desenvolvimento economico, principalmente nas sociedades que tem o capitalismo como modelo de desenvolvimento economico, evidencia-se de forma marcante e por nao dizer, por diversas vezes dolorosa, principalmente para o proletariado durante a aurora da Revolugao Industrial no seculo XVIII nos paises da Europa, certa marginalizagao dos mesmos, vistos, portanto, como uma pequena e insignificante pega de uma maquina chamada sistema produtivo.

Visto como parte de urn sistema produtor como figurante, o integrante das classes sociais menos favorecidas economicamente, nao possuia direitos perante os integrantes da classe social emergente, a burguesia. Como o fortalecimento da classe dos trabalhadores por meio de sindicatos, notadamente na sociedade americana do inicio do seculo XX, o ganho de direitos por parte dessa classe social resultou em um processo de aumento da massa salarial e concomitantemente a massificagao do consumo: evidencia-se o aumento de poder da classe consumidora. O consumidor tem o reconhecimento por parte do mercado produtivo de sua importancia para o incremento da atividade economica.

Em se tratando de uma mudanga parcial de com portamento, o sistema juridico nao acompanhou de imediato, porem inegavel que a ciencia juridica deve acompanhar as transformagoes sociais. A historia tem demonstrado que esse processo, na maioria das vezes, e lento e gradativo, e varia no tempo e no espago. A adequagao dos institutos jurfdicos a realidade subjacente e fruto do trabalho dos operadores do Direito, devendo-se encarar com necessidade de sua revisao, pois, o fato juridico e fato social. Por isso e que a ciencia juridica sofre constantes modificagoes. Como ciencia humana, submete-se a mudangas de comportamento e de conceitos.

A luz desse pensamento explica-se o motivo pelo qual a ciencia juridica demorou quase 200 anos apos o inicio da Revolugao Industrial para reconhecer os direitos do consumidor conforme as suas peculiaridades; pois economicamente e socialmente esta localizado abaixo dos produtores e fornecedores, restou para os comandos normativos distorcer essa realidade

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da Pd&anh&eimente da infarioridada fatica do consumidor e por isso the conceder vantagens na esfera judicial.

Nao se deve olvidar da importancia do processo industrial e da utilizacao das maquinas e dos servigos que contribuiram muito para o progresso da civilizagao, concedendo ao ser humano maior comodidade e satisfagao na percepgao de produtos e servigos. Contudo, a quantidade de acidentes e a gravidade dos infortunios aumentaram drasticamente com a utilizagao diaria das maquinas, mesmo com a adogao de dispositivos e medidas de seguranga como procedimento necessario a redugao dos riscos. Chega-se a afirmar que as tecnicas de prevengao de acidentes nao colocam a salvo o empregado e o consumidor.

Medidas legais para minimizar os riscos e danos aos direitos do consumidor tornar-se-iam cruciais para a propria manutengao do status de cidadao pelo consumidor. O proprio Estado, por si ou por meio dos seus concessionaries e responsavel pela lesao aos direitos do consumidor. Diante desse quadro medidas protetivas, alicergadas em principios que concedessem uma posigao juridica favoravel ao consumidor eram urgentes. Dentre elas a desconsideragao da personalidade juridica, fator que justifica a presente pesquisa, posto ser urn dos mecanismos de defesa do consumidor, face sua situagao de vulnerabilidade e hipossuficiencia frente ao fornecedor, que na condigao de pessoa juridica, serve de escudo para a pratica de abusos por parte dos socios.

Sendo assim, o presente estudo tera como problematizagao a seguinte: Pode-se afirmar que ha efetividade juridica quando da aplicagao da desconsideragao da personalidade juridica nas relagoes de consumo? E como hipotese para a pesquisa ver-se-a a efetividade na aplicabilidade do instituto em tela pelos tribunais brasileiros como mecanismo de defesa dos consumidores.

Desta feita, buscara a presente pesquisa analisar a estrutura da relagao de consumo, sua importancia juridica, bem como compreende-la como uma relagao juridico-obrigacional que estabelece ligagao entre um consumidor e um fornecedor, tendo como objeto o fornecimento de um produto ou da prestagao de um servigo com base nos conceitos de consumidor e fornecedor presentes na legislagao consumerista.

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D e f o r m a a v e r i f i c a r a c o n c e p ^ o , a f o r m a e a capacidade fornecidas pelo legislador brasileiro a pessoa juridica, sua fundamentagao legal, classificagao e importancia como agente integrante do sistema produtivo; demonstrar o instituto da desconsideragao da personalidade juridica como instrumento pelo qual se torna ineficaz, para o caso concreto, a personificagao societaria atribuindo-se ao socio condutas que, se nao fosse a superagao dos atributos da personalidade juridica, entre os quais a separagao dos patrimonios dos socios e da sociedade; para assim, constatar no campo fatico, as possibilidades materiais de aplicagao do instituto conforme a legislagao consumerista especialmente em prol do consumidor.

Para tanto, sera utilizado como metodo de abordagem, o indutivo voltado a analise de dados particulares para se explicar dados mais abrangentes. E como metodos de procedimento, o historico-evolutivo, que servira para analisar a origem e o desenvolvimento dos institutos responsaveis pela defesa dos direitos do consumidor e demonstrar as consequencias positivas para um Estado democratico quando os direitos do mesmo sao respeitados, por meio desse metodo analisar-se-a o surgimento de orgaos e comandos normativos responsaveis por aquela esfera protetiva e do instituto da pessoa juridica. E o exegetico-juridico, voltado a analise das normas contidas na Constituigao Federal de 1988, no CDC as quais se destinam a privilegiar o consumidor diante de situagoes em sua posigao economica poderia Ihe trazer prejuizos juridicos. E como tecnica de pesquisa, a bibliografica, como forma de coleta de material a ser abordado para fundamentar os argumentos apresentados.

Assim, o presente trabalho sera estruturado em tres capitulos. O primeiro, destaca a relagao de consumo conforme os mandamentos da legislagao consumerista, onde o consumidor e fornecedor estabelecem um pacto onde havera o fornecimento de produto ou servigo em troca de contraprestagao financeira. Na sequencia o desenvolvimento historico do instituto desde a Grecia Antiga ate a contemporaneidade onde se destacam a protegao constitucional e o advento do CDC a Lei n° 8.079/90, que estruturados com base nos principios informadores, a se destacar o da transparencia, da vulnerabilidade e da boa-fe, os quais devem nortear as relagoes de consumo.

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O s e g u n d o o a p l t u l o a b o r d a r a o i n s t i t u t o da pessoa juridica, por meio da sua conceituagao e sua a capacidade, sua limitacoes enquanto pessoa juridica e a necessidade de representacao. Tratar-se-a da pessoa juridica enquanto participe da relagao de consumo, como fomecedora e consumidora conforme os mandamentos dos arts. 2° e 3° do CDC; na sequencia abordar-se-a a possibilidade de responsabilizagao por vfcio no produto ou servigo, seja por qualidade ou quantidade.

No ultimo capitulo tratara do instituto da desconsideragao da pessoa juridica por meio de sua conceituagao, fundamento constitucional e previsao legal na lei de protegao ao consumidor, na Lei 11.101/2005 Lei de falencia e recuperagao empresarial e por fim da o tema sera a efetividade juridica no ordenamento brasileiro, onde a previsao legal do artigo 28 do CDC sera abordada com base no posicionamento dos tribunais brasileiros.

O CDC e diploma notadamente inovador tanto no que se refere a

protegao do direito material do consumidor e quantos aos metodos de aplicagao no que se refere ao Direito Processual e mais precisamente quando destaca a necessidade protegao ao consumidor quanto aos atos obscuros

praticados sob o manto da pessoa juridica . O art. 28 desse vem de encontro

as necessidades de se evitar a violagao do ordenamento juridico naquilo que possui de mais caro, seus valores e seus principios asseguradores da paz, da boa fe, do convivio social harmonioso e da justiga.

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2 DA RELAQAO DE CONSUMO

A sociedade capitalista tem como base um modelo consumista para promover o desenvolvimento economico, e em consequencia disso o consumidor ficou relegado a segundo piano, posicionado-o como apenas uma etapa, nesta caso, a o final da cadeia produtiva. Em virtude dessa visao se procurou respeitar, ao menos no piano juridico, o consumidor, considerando-o como fundamental para o desenvolvimento economico e social, porem em uma posicao vulneravel e hipossuficiente em relagao ao fornecedor.

2.1 Conceito e historicidade

Entende-se por relagao de consumo aquela existente entre o consumidor e o fornecedor na compra e venda de um produto ou na prestagao de um servigo. Consoante Nunes (2011) o Codigo de Defesa do Consumidor (CDC) tutela as relagoes de consumo e sua abrangencia esta adstrita as relagoes negociais, das quais participam, necessariamente, o consumidor e o fornecedor, transacionando produtos e servigos, excluindo destes ultimos os gratuitos e os trabalhistas.Ve-se, portanto, que a sua caracterizagao decorre da presenga dos dois sujeitos, quais sejam o consumidor e fornecedor, a serem descritos mais adiante.

A primeira denotagao normativa acerca do direito do consumidor apresenta-se no antigo Codigo de Hammurabi onde havia determinados comandos que, indiretamente, tinham por escopo proteger o consumidor, conforme leciona Filomeno (1991), segundo o qual na india, no seculo XIII a.C, o sagrado Codigo Manu ja apontava pena de multa e punigao, alem do ressarcimento de todos os danos causados, aqueles que adulterassem generos ou entregassem coisa de especie inferior aquela acertada, ou ainda vendessem bens de igual natureza por pregos diferentes.

Em um momento posterior observa-se que na Grecia conforme aponta Filomeno (1991) havia uma preocupagao com a defesa do consumidor, pois

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eram designados, via sorteio, os denominados fiscais, os quais deviam analisar as mercadorias a fim de que os produtos vendidos nao contivessem misturas ou sofressem adulteragao.

Tal fase foi marcada pelas trocas comerciais, o que proporcionou a elaboragao de normas especificas direcionadas a protegao do consumidor, a se destacar o respeito a qualidade e a quantidade dos generos negociados. Demonstrando assim uma postura mais firme no tocante a repressao das fraudes nas relagoes comerciais por meio da adogao de fiscalizagao das atividades comerciais. A designagao de fiscais atraves de sorteios torna mais nitido a exigencia de relagoes transparentes entre fornecedores e consumidores.

Em um momento posterior, na Europa medieval, observa-se que na Espanha e na Franga, havia a previsao de penas bastante severas com o fito de punir quern adulterasse substancia alimenticia, dentre estas destaca-se a manteiga e o vinho importantes devido a grande quantidade comercializada nesta epoca. Consoante Lerner (apud, ROLLEMBERG, 1987), na Franga do seculo XV, o rei Luiz XI punia com pena de banho escaldante quern vendesse manteiga acrescida de pedra no seu interior para aumentar o peso, ou leite com agua para aumentar o volume. A severidade da pena aplicada demonstra o repudio do Estado as praticas que visem o ganho de lucros desmedidos realizados perante o prejuizo do consumidor.

Com o incremento populacional das metropoles europeias ocorrido entre os seculos XVIII e XIX possibilitou uma mudanga nos meios de produgao e nas relagoes com os seus potencias compradores. Diante deste cenario a industria passou a querer produzir mais e vender a um numero maior de pessoas, a fim de lograr tal exito, ocorreu o aperfeigoamento dos meios de produgao por meio da criagao e da produgao em serie, a qual possui como caracteristicas essenciais a diminuigao drastica nos custos de produgao e um aumento tambem na oferta de produtos atingindo uma camada enorme de pessoas.

Esse modelo de produgao em larga escala proporcionou a consolidagao do capitalismo como sistema produtivo, notadamente no periodo posterior a Segunda Grande Guerra, pois se criou um caminho para seu aperfeigoamento com o aparecimento da tecnologia de ponta, fortalecimento da informatica e incremento das telecomunicagoes, dentre outros avangos (NUNES, 2011).

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Em virtude da nova posigao do produtor no sistema economico modificaram-se as relagoes com o consumidor visto em coletividade como uma sociedade de massa, que segundo Nunes (2011, p. 4):

[...] a produgao e planejada unilateralmente pelo fabricante no seu gabinete, isto e, o produtor pensa e decide fazer uma larga oferta de produtos e servigos para serem adquiridos pelo maior numero possivel de pessoas. A ideia e ter um custo inicial para fabricar um unico produto, e depois reproduzi-lo em serie. Assim, por exemplo, planeja-se uma caneta esferografica unica e a partir desta reproduzem-se milhares, milhoes de vezes em serie.

Por sua vez no Brasil, antes do aparecimento do CDC, Lei n° 8.079/90, as relagoes de consumo eram tema da legislagao comum, nao existia uma norma especifica para o tratamento das questoes do consumidor, as quais eram tratadas de maneira uniforme no ambito das relagoes civis. Tanto e que o Direito Civil proporcionava uma posigao de inferioridade do consumidor perante o produtor, haja vista que partia do pressuposto de que as partes envolvidas no contrato possuiam igualdade de condigoes, e transmitem o seu elemento subjetivo volitivo, exteriorizado por um contrato, que em tese possui a convergencia de interesses das partes contratantes, e por isso deveria ser respeitado conforme o principio de que os contratos devem ser respeitados,

pacta sunt servanda.

De acordo com Nunes (2011, p. 4), no que tange as relagoes de consumo isso deve ser esquecido na medida em que:

Esse esquema legal privatista para interpretar contratos de consumo e completamente equivocado, porque o consumidor nao senta a mesa para negociar clausulas contratuais. Na verdade, o consumidor vai ao mercado e recebe produtos e servigos postos e ofertados segundo regramentos que o CDC agora pretende controlar, e de forma inteligente. O problema e que a aplicacao da lei civil assim como a memoria dos operadores do direito geram toda sorte de equivocos. Ate a oferta, para ilustrarmos com mais um exemplo, e diferente nos dois regimes: no direito privado e um convite a oferta; no direito do consumidor, e uma oferta que vincula o ofertante.

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Sem duvida, o grande avango verificado na orbita consumerista, a nivel de Direito Brasileiro foi a Constituigao Federal de 1988 posto que algou ao patamar de principio fundamental a protegao efetiva aos direitos do consumidor. Incluindo dentre o principios que regem a ordem economica, o que tem por fim garantir a todos uma existencia digna, conforme os ditames da justiga social (art. 170, V CF/88).

Mas foi com a Lei n° 8.078/90, que instituiu o Codigo de Defesa do Consumidor, que emerge no ordenamento juridico brasileiro de acordo com Nunes (2011, p. 86), "um subsistema juridico proprio, lei geral com principios especiais voltada para a regulagao de todas as relagoes de consumo". E acrescenta o citado autor (ibidem) que:

Na medida em que a Lei n. 8.078/90 se instaura tambem com o principio da ordem publica e interesse social, suas normas se impoem contra a vontade dos participes da relagao de consumo, dentro de seus comandos imperatives e nos limites por ela delineados, podendo o magistrado, no caso levado a juizo, aplicar-Ihe as regras ex officio, isto e, independente do requerimento ou protesto das partes.

Assim, na interpretagao das normas contidas na lei de defesa do consumidor se deve ter em mente que as mesmas sao decorrentes de preceitos constitucionais e qualquer interpretagao contraria constitui ofensa a propria Constituigao Federal, posto que de acordo com o Diploma Constitucional vigente os principios que regem o CDC tem como objetivo equilibrar as relagoes de consumo na medida em que o consumidor e a parte hipossuficiente da relagao de consumo sob a otica economica ja que nao dispoe dos recursos financeiros necessarios para, por exemplo, contratar bons advogados para confrontar os detentores dos meios de produgao na busca pelos seus direitos.

Alguns mecanismos de protegao e fiscalizagao previstos no Estatuto Consumerista consoante Grinover (2007) devem ser ressaltados, tais como o poder de policia administrativo nas relagoes de consumo que tem como caracteristica a discricionariedade na aplicagao das penalidades, ou seja as infragoes contra as relagoes de consumo podem sofrer sangoes mais brandas,

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como as multas e apreensao de produtos, ou sangoes mais pesadas como a interdigao do estabelecimento ou da atividade do fornecedor.

Alem da responsabilidade administrativa, o fornecedor de produtos ou servigos pode, de forma cumulativa, responder civil e penalmente por seus atos. As infragoes tipificadas no mesmo Codigo se harmonizam com outras infragoes previstas no Codigo Penal, e em Leis Especiais, mas o referido codigo preve apenas circunstancias agravantes dos crimes neles tipificados. Os tribunals brasileiros, de acordo com Silva (2003, p. 116), tem se posicionado no sentido de penalizar o fornecedor quando este adota conduta voltada a repor pegas e componentes usados, sem conhecimento do

consumidor, conforme dispoe o TRF 5a Regiao no julgado que segue:

CRIME CONTRA A RELAQAO DE CONSUMO. LEI N. 8078/90 (CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC). Emprego na reparagao de produtos, pegas e componentes de reposigao usados, sem autorizagao do consumidor. Crime previsto no art. 70 da Lei n. 8078/90. Responsabilidade do acusado, ex w'do art. 75 do mesmo diploma. Prova de autoria e materialidade do fato que dos autos exsurge a toda evidencia. Apelagao improvida. Sentenga confirmada.

(TRF da 5a. Regiao, AP. Crim. 973, RN, Rel. Juiz Francisco Falcao,

julg. Em 11.4.95, DJ, 12.5.95)

Ve-se que, tendo em vista o artigo 70 da legislagao consumerista no qual se baseia a decisao ha um cuidado com o patrimonio violado do consumidor por quern exerce atividade comercial e nao entrega algo que se propos a entregar (a mercadoria em perfeitas condigoes de uso), posto que a determinagao busca a troca de pegas usadas o que gera lucro para o fornecedor e um claro prejuizo para o consumidor.

No mesmo sentido tem-se a decisao proferida pela 1a Turma do STF

citada pelo autor acima (2003, p. 117) na qual caracteriza como conduta dolosa, o fornecedor que coloca a disposigao do consumidor produtos vencidos, como bem se observa na decisao que se segue:

CONSUMIDOR. CRIME CONTRA AS RELACOES DE CONSUMO.

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Turma do Supremo Tribunal Federal o ato de expor produto com prazo de validade vencido caracteriza a conduta tipica prevista no art. 7°., IX da lei 8137/90. e dispensavel a ocorrencia de efetivo prejuizo para a configuragao do delito, posto tratar-se de crime formal e de mero perigo presumido. ("Art. 7°. Constitui crime contra as reacoes de consumo... IX - vender, ter em deposito para vender ou expor a venda ou, de qualquer forma, entregar materia-prima ou mercadoria, em condigoes improprias para o consumo"). (RHC 80.090-SP, Rel. Min. Ilmar Galvao, julg. Em 9.5.2000)

Da analise dos julgados acima, pode-se afirmar que os crimes conectados as relagoes de consumo podem, e na maioria das vezes sao cometidos, em consonancia com o disposto na Lei Consumerista no artigo 7°, dentro da compreensao de crimes contra a ordem economica, tributaria e relagoes de consumo, por pessoas juridicas, sejam elas de direito publico ou de direito privado. O que se verifica, portanto, que e plenamente aplicavel as pessoas juridicas os dispositivos contidos no CDC e na Lei de Crimes contra a Ordem Economica, Tributaria e Relagoes de Consumo, tratando-se de materia exaustivamente julgada pelos Tribunals pathos.

Portanto, verifica-se que mesmo diante do modelo de produgao industrial, tipico da sociedade capitalista e necessaria que o empresario, enquanto fornecedor da relagao de consumo deve incluir em seu planejamento estrategico atengao ao consumidor, no sentido de procurar respeitar os postulados consumerista.

2.2 Sujeitos Contratantes

Como sucedaneo do modelo capitalista adotado pela sociedade e economia brasileiras os conceitos de consumidor e fornecedor estao relacionados a aspectos economicos. Desta forma o conceito de consumidor adotado pelo CDC se amolda a tal aspecto, portanto, tendo com norte tao-somente o personagem que no mercado de consumo adquire bens ou contrata a prestagao de servigos, como destinatario final, pressupondo-se que assim age com vistas ao atendimento de uma necessidade propria e nao para o

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desenvolvimento de uma outra atividade negocial, consoante explica Grinover (2007).

De forma objetiva o legislador conceituou no artigo 2° da Lei Consumerista a figura do consumidor, sendo este, toda pessoa fisica ou juridica que adquire ou utiliza produto ou servigo como destinatario final, bem

como a coletividade de pessoas, ainda que indeterminaveis que intervenha nas relagoes de consumo, conforme determina o paragrafo unico do dispositivo legal mencionado.

Porem, de acordo com Grinover (2007) nao se incluem na conceituagao adotada pelo diploma legal em estudo componentes de natureza sociologica no conceito de consumidor para os quais o consumo se estabelece como um fenomeno social, gerado a partir de necessidades que sao geradas e satisfeitas com base no grupo ou status social em que o individuo se insere, o que poderia exteriorizar suas expectativas e interpretagoes sociais, nao podendo tambem determinar a que determinada categoria ou classe social o individuo pertence. Bern como, nao se verificam conceitos psicologicos, os quais concebem o consumidor como o individuo a respeito do qual se examinam as reagoes a fim de se individualizarem os criterios para a produgao e as motivagoes intemas que o levam ao consumo, nao se busca questionar se havera para o consumidor alguma utilidade em adquirir aquele produto ou servigo.

Assim de acordo com o carater economico que envolve o conceito de consumidor, enquadra-se no mesmo qualquer pessoa fisica ou juridica que, isolada ou coletivamente, contrate para consumo final, em beneficio proprio ou de outrem, a aquisigao ou a locagao de bens, bem como a prestagao de um servigo.

No outro extremo dessa relagao juridica economica encontra-se o fornecedor, que de acordo com o art. 3° do CDC, vem a ser toda pessoa fisica ou juridica, publica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produgao, montagem, criagao, construgao, transformagao, importagao, exportagao, distribuigao ou comercializagao de produtos ou prestagao de servigos, desprestigiando outros conceitos como industrial, comerciante, banqueiro, segurador, importador. Sendo de acordo com Grinover (2007, p. 47) "o sujeito que poe a disposigao no mercado produtos e servigos economicamente uteis ao consumidor".

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Nessa acepgao sao abarcados todos quantos propiciem a oferta de produtos e servigos no mercado de consumo, de maneira a atender as necessidades dos consumidores, sendo desnecessario indagar-se a que titulo. Sendo, porem relevante a distingao que se deve fazer entre as varias especies de fornecedor nos casos de responsabilizagao por danos causados aos consumidores, ou entao para que os proprios atuem na via regressiva e em cadeia da mesma responsabilizagao, visto ser vital a solidariedade para a obtengao efetiva de protegao que se visa a oferecer aos consumidores.

Delimitados os conceitos de consumidor e fornecedor como participes da relagao de consumo e levando-se em conta que o consumidor esta em situagao de manifesta inferioridade ante o fornecedor de bens e servigos ha uma necessidade por parte do legislador propor meios legais para equilibrar a relagao obrigacional, seja por meio de principios norteadores na elaboragao das normas que regem a dita relagao obrigacional, seja na sua efetiva aplicagao por meio dos tribunals corrigindo as distorgoes que prejudicam o consumidor.

Ante o exposto, ve-se que toda relagao de consumo abarca necessariamente duas partes bem definidas: em um extremo, o individuo que adquire um produto ou servigo, consumidor e; de outro, o fornecedor de um produto ou servigo e tal relagao destina-se a satisfagao de uma necessidade privada do consumidor; o qual nao se dispoe, por si so, de controle sobre a produgao de bens de consumo ou prestagao de servigos que Ihe sao destinados, arriscando-se a submeter-se ao poder e condigoes dos produtores daqueles mesmos bens e servigos.

Destaca Grinover (2007, p. 32) que:

O trace- marcante da conceituagao de "consumidor", no nosso entender, esta na perspectiva que se deve adotar, ou seja, no sentido de se o considerar como vulneravel, nao sendo, alias, por acaso, que o mencionado "movimento consumerista" apareceu ao mesmo tempo que o sindicalista, principalmente a partir da segunda metade do seculo XIX, em que se reivindicaram melhores condigoes de trabalho e melhoria da qualidade de vida, e, pois, em plena sintonia com o binomio "poder aquisitivo/aquisigao de mais e

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Nesse sentido, a Constituigao Federal de 1988 ao dispor sobre as regras que regem as relagoes de consumo equipara, no piano legal, atraves de principios que consagram a inferioridade do consumidor, as forgas dos que compoe as relagoes de consumo. E isto pela simples constatagao de que dispoem as pessoas juridicas, os principals fornecedores de produtos e servigos de forga suficiente para sua defesa, enquanto o consumidor, ou, ainda, a coletividade de consumidores ficam inteiramente desprotegidos e imobilizados pelos altos custos e morosidade cronica da justiga comum. Dai certos direitos consumeristas serem dispostos como difusos e outros como coletivos

Constitucionalmente refere-se aos direitos difusos como aqueles cujo objeto nao pode ser dividido e cujos titulares nao se podem determinar, ja que nao sao ligados por nenhuma relagao juridica base, mas sim por circunstancias de fato. Temos como exemplo, o direito decorrente de uma publicidade enganosa veiculada na televisao, onde toda a coletividade e afetada. Por sua vez, os direitos coletivos sao aqueles cujo objeto tambem nao pode ser dividido e, ao contrario dos direitos difusos, seus titulares sao determinaveis, ja que possuem entre si ou com a parte contraria uma relagao juridica base anterior. A determinagao dos titulares dos direitos coletivos e o aspecto que o diferencia dos direitos difusos. Como exemplo, tem-se o direito contra o reajuste abusivo das mensalidades escolares em que somente os alunos e pais sao afetados.

Destaca-se que, o julgamento de demandas de massa realizado pelo Judiciario se caracteriza pelo exame dos direitos coletivos, entendidos como aqueles, conforme Moraes (2005), cuja titularidade e subjetivamente indeterminada na medida que sao titulares dos mesmos grupos ou classes de pessoas, transcendendo a esfera individual, podendo receber feigoes de direito difuso, coletivo ou individual homogeneo, os quais segundo Moraes (2005) passam a ser denominados direitos metaindividuais, transindividuais ou ainda supra-individuais.

Assim, como os direitos coletivos nao podem ser eficazmente tutelados pelos meios habitualmente utilizados pelo Direito Processual comum, destinados, precipuamente, a decidir litigios individuals, houve, de fato, uma grande necessidade do surgimento de instrumentos processuais novos, que

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pudessem tutelar, nao apenas o individuo, mas sim, toda a coletividade nas chamadas demandas de massa.

2.3 Principios informadores

Sao os principios pautas genericas que regulam e orientam o entendimento e a interpretagao do ordenamento juridico no que tange a sua explicagao e integragao quanto ao momento de elaboragao de novas normas. E ingressam no ordenamento juridico por intermedio do processo legislative, da atividade jurisdicional, principalmente, e em e menor escala por meio dos usos e costumes peculiares da pratica negocial. Nao se destinam, simplesmente, a suprir as hipoteses de lacuna da legislagao bem como destinam-se a revelar o pleno significado das normas legais, consuetudinarias, jurisprudenciais e negociais. No processo hermeneutico, o interprete deve servir-se dos principios que orientam a fungao de julgar.

Assim sendo, o estudo dos principios que norteiam determinada materia jundica e de sobremodo fundamental, pois se torna impossivel aclarar o significado dos institutos juridicos sem leva-los em consideragao. E no que se refere a relagao de consumo tem-se como principios norteadores os elencados no art. 4° do CDC, in verbis.

Art. 4° A Politica Nacional das Relagoes de Consumo tem por objetivo 0 atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, saude e seguranga, a protegao de seus interesses economicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparencia e harmonia das relagoes de consumo, atendidos os seguintes principios:

1 - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II - agao governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos a criagao e desenvolvimento de associagoes representativas;

c) pela presenga do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e servigos com padroes adequados de qualidade, seguranga, durabilidade e desempenho;

III - harmonizagao dos interesses dos participantes das relagoes de consumo e compatibilizagao da protegao do consumidor com o

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desenvolvimento economico e tecnologico, de modo a viabilizar os principios nos quais se funda a ordem economica (art. 170, da Constituigao Federal), sempre com base na boa-fe e equilibrio nas relagoes entre consumidores e fornecedores;

VI - educagao e informagao de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas a melhoria do mercado de consumo;

V - incentivo a criagao pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e seguranga de produtos e servigos, assim como de mecanismos alternatives de solugao de conflitos de consumo; VI - coibigao e repressao eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrencia desleal e utilizagao indevida de inventos e criagoes industrials das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuizos aos consumidores;

VI - racionalizagao e melhoria dos servigos publicos;

VII - estudo constante das modificagoes do mercado de consumo.

Assim pela leitura do caput do citado artigo retira-se dois principios, o primeiro e o da transparencia, o principio democratico existe tanto no piano politico quanto no campo economico, e tem como finalidade garantir na esfera juridica do consumidor a clareza qualitativa e quantitativa da informagao que cabe as partes concederem reciprocamente. E no que se refere a relagao de consumo a transparencia pode ser alcangada mediante a adogao de medidas que importem no fornecimento de informagoes verdadeiras pelas partes, aliado ao conhecimento da situagao pessoal das partes principalmente nos contratos de longa duragao.

De acordo com Silva (2003) verifica-se a previsao de tal premissa nao apenas no dispositivo mencionado, posto que o CDC em outros de seus artigos a citar os arts. 6°, III, 8°, caput, 3 1 , 37, § 32, 42, 46 e 54, § 3°, assegura ao consumidor o pleno conhecimento da exata extensao das obrigagoes assumidas perante o fornecedor. Cabendo a este nao apenas abster-se de modificar a verdade, mas de comunicar ao consumidor em potencial todas as informagoes necessarias a decisao de consumir ou nao.

Destaca-se tambem o principio da harmonia das relagoes de consumo lastreado pela Politica Nacional de Relagoes de Consumo que tem por objetivo harmonia das relagoes consumehstas, isto e, a busca do equilibrio, da conciliagao dos interesses dos fornecedores, das necessidades dos consumidores e da protegao do meio ambiente, de forma a assegurar o desenvolvimento tecnologico e economico do Pais.

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Ainda no que se refere aos principios informadores da relagao de consumo destaca-se o principio da vulnerabilidade o qual de acordo com Silva (2003, p. 14):

A vulnerabilidade do consumidor, partindo do principio de que ele, por ser a parte economica, juridica e tecnicamente e mais fraca, nas relagoes de consumo, encontra-se, normalmente em posigao de inferioridade, na administragao de seus interesses com o fornecedor. A Lei n. 8.078/90, ao contrario do Codigo Civil, parte do pressuposto de que, nas relagoes de consumo, existe desigualdade fatica, uma relagao vertical e de poder, entre fornecedores e consumidores, razao por que, ao estabelecer uma serie de direitos e vantagens para o consumidor, tenta igualar sua posigao juridica na relagao contratual.

Importante consectario deste principio e a inversao do onus da prova em favor do consumidor, atribuido como direito basico no art. 6°, VIII, do CDC, e, segundo o qual a inversao do onus da prova subordina-se aos requisitos da verossimilhanga das alegagoes ou da hipossuficiencia do consumidor.

Decorrente de uma previsao constitucionai, busca o principio em tela equacionar a situagao processual das partes contratantes. E conforme preleciona Silva (2003, p. 39):

O fundamento esta no principio da isonomia (art. 5, caput, da CF), no sentido de que a igualdade somente pode ser alcangada entre os desiguais, desde que sejam tratados de modo distinto, no que diz respeito as suas diferengas. Segue que o fornecedor, conhecedor das tecnicas de produgao e fornecimento dos produtos ou servigos, tem mais condigoes de provar os fatos diretamente relacionados a sua atividade do que o consumidor, reconhecido como vulneravel pelo art. 49, J, do CDC.

Refere-se o inciso III do artigo 4°, do diploma legal em analise ao principio da boa-fe objetiva por meio do qual se exige a boa-fe por parte dos contratantes, posto que o contrato, como um instrumento de convergencia de interesses entre as partes, as quais devem se comportar com lealdade e lisura. Assim a nao observancia da boa-fe na realizagao dos contratos pode gerar a nulidade conforme enuncia o art. 5 1 , IV do CDC. Tambem preve o inciso III,

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pnncfpio do equiiiOrio contratual, por meio do qual o contrato nao pode prever vantagens ao fornecedor, sem fixar iguais vantagens ao consumidor.

Percebe-se que o CDC e fruto de um Estado que segue o modelo dito do bem-estar social e, portanto, intervencionista como preceitua o principio da intervengao. Que conforme indica Grau (1991), ha tres modalidades de intervengao do Estado no dominio economico, quais sejam: a) por absorgao ou participagao, quando o Estado desenvolve agao direta no dominio economico, como e o caso da alinea "a", do inciso II, do art. 4° do CDC, protegendo o direito do consumidor por iniciativa direta; b) por diregao, quando atua sobre o dominio economico, mediante normas de carater coativo, por meio do qual a agao governamental incentiva a promogao de agoes representativas, bem como pela presenga do Estado no mercado consumidor; como e o caso do disposto nas alineas "c" e "d" do dispositivos mencionado e, c) por indugao, quando o Estado manipula os instrumentos da intervengao no sentido do estimulo e nao da coagao. Assim contempla o autor mencionado (1991 ,p 162) que:

Absorvendo ou participando do dominio economico, e utilizando-se do instrumental publicitario, o Poder Publico esta sujeito as mesmas normas que os sujeitos do setor privado, por determinacao constitucional expressa no art. 173 § 1°. Agindo sobre o dominio economico, compete ao Poder Publico, administrativa ou jurisdicionalmente, o controle e a repressao a publicidade ilicita.

Visa, portanto o CDC, evitar litigios, tanto e que conforme ja apontado anteriormente, instituiu como obrigagao do fornecedor o dever de informar ao consumidor nao so sobre as caracteristicas do produto ou servigo, como tambem, sobre o conteudo do contrato, refletido por meio do principio da educagao e da informagao. Posto que, objetivam impedir qualquer tipo de lesao ao consumidor, pois, sem possuir informagao do conteudo contratual, poderia vincular-se e futuramente nao poder arcar ou diferir do seu desejo inicial.da mesma forma ao adquirir um produto sem ter informagoes suficientes, claras e precisas a respeito das qualidades e atributos o que o conduziria a adquirir um produto que nao fosse adequado ao que pretende, ou que nao possuia as

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qualidades que o fornecedor afirma ter, ensejando mais facilmente o desfazimento do vinculo contratual.

Assim como, consequencia do principio da transparencia deve-se buscar a harmonia nas relagoes de consumo, pois assevera Lisboa (1992, p. 58) que:

O dever que advem do principio da transparencia e secundario ou correlato ao vinculo juridico, porque ele sequer precisa se encontrar expresso na clausula contratual. Consubstancia uma obrigacao de fazer, pois trata-se de dever vinculado a conduta que se exige das partes na relagao de consumo.

Portanto, as premissas esculpidas no art. 4° do CDC nao tem por finalidade evocar para o ambito da defesa do consumidor a tutela da concorrencia e da propriedade industrial, mas somente propiciar meios para o nao florescimento de praticas ilicitas nesses campos, na medida em que ofendam os principios da corregao, da veracidade e da clareza, sejam, tambem, reprimidas, porquanto ofendem, tambem, os interesses dos consumidores exteriorizando-se dessa forma o principio da Repressao aos abusos praticados no mercado de consumo previstos no citado dispositivo em seu inciso IV.

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3 A PESSOA JURIDICA FACE A RELAQAO DE CONSUMO

Para entender a existencia das pessoas juridicas e necessario partir da ideia de que, muitas vezes, o homem sozinho nao consegue alcangar certos fins, sendo indispensavel a uniao com outros indivfduos para a consecugao desses objetivos. Atribui-se, dessa forma, capacidade a um ente para que este possa servir como elemento conjunto de forcas com a finalidade de superar as diversas limitagoes que um so individuo encontraria.

Para a realizagao de alguns empreendimentos, por vezes e imperativo a adesao de varias pessoas, as quais, todavia, nao querem simplesmente entregar recursos para que outra pessoa os administre, as mesmas querem assumir responsabilidades e atuar diretamente na condugao do empreendimento. Visando incentivar o desenvolvimento de atividades economicas produtivas, e conseqiientemente aumentar a arrecadagao de tributos, produzindo empregos e incrementando o desenvolvimento economico e social das comunidades, o instituto da pessoa juridica, ou mais exatamente, a criagao de sociedades personificadas torna-se determinante.

3.1 Da personalidade juridica

Considerando o ser humano eminentemente social, para que consiga lograr seus fins e objetivos une-se a seus semelhantes formando agrupamentos. Perante a necessidade de personalizar tais grupos, para que tenham capacidade de participar da vida juridica, com determinada individualidade e em nome proprio, a propria norma juridica Ihes atribui personalidade e capacidade juridica, tornando-os sujeitos de direitos e obrigagoes. Desse modo, tem-se o surgimento das chamadas pessoas juridicas, que de acordo com as ligoes de Venosa (2005) constitui um corpo social diverso dos membros integrantes. Deve existir uma multiplicidade inicial de membros que, por sua vontade, se transforma numa unidade, na pessoa juridica que futuramente passara a existir como ente autonomo. No instante em

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que passa a existir o vinculo de unidade caracteriza precisamente o momento da constituigao da pessoa juridica.

E, portanto a pessoa juridica conforme preleciona Diniz (2005, p. 221) "a unidade de pessoas naturais ou de patrimonios, que visa a consecugao de certos fins, reconhecida pela ordem juridica como sujeito de direitos e obrigagoes". Ha de se acrescentar tres requisitos indispensaveis para a configuragao da pessoa juridica, quais sejam organizagao de pessoas ou de bens; liceidade de propositos ou fins; e capacidade juridica reconhecida por norma.

Ha, destarte, um direcionamento da vontade de varias pessoas tendo como objetivo uma finalidade comum a ser lograda por meio da constituigao de um novo organismo. Ressalta-se que a pessoa juridica tambem pode nascer da destinagao de bens visando atingir a finalidade buscada por seu instituidor e possuira natureza altruistica, visando estimular a cultura e investigagao cientifica, artistica e literaria, ora realizando finalidades filantropicas.

Ressalte-se que, a atividade da pessoa juridica deve convergir para um fim licito. Nao se adequa a imposigao da ordem juridica a criagao de uma pessoa que nao tenha finalidade licita, contrariando dispositivos legais como o CDC. Nao pode a ordem juridica admitir que uma figura criada com seu consentimento contra ela atente. Se a pessoa juridica, em suas atividades, desviar-se das finalidades licitas, o ordenamento apresenta meios para cercear e extinguir sua personalidade e responsabilizar, caso precise os seus dirigentes.

Ao conferir personalidade propria a pessoa juridica concebe-se um ente capaz um sujeito de direitos e obrigagoes na orbita social, com atuagao na esfera juridica independente daqueles membros que a compoe. Consoante Venosa (2005), essa atuagao destacada das pessoas que a compoe e o trago fundamental que a particulariza, qual seja a autonomia de sua personalidade em relagao aos sujeitos fisicos que dao forma ao ente coletivo. O ordenamento concebe, dessa forma a pessoa juridica com ente distinto, juridicamente diferenciado daquelas pessoas que se reuniram para constitui-la.

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Para que essa pessoa juridica possa gozar de suas prerrogativas na vi civil, cumpre observar o segundo requisito, qual seja, a observancia das determinagoes legais. E a lei que diz a quais requisitos a vontade preexistente deve obedecer, se tal manifestagao pode ser efetivada por documento particular ou se sera exigido o documento publico, por exemplo. E a lei que estipula que determinadas pessoas juridicas, para certas finalidades, so podem existir mediante previa autorizagao do Estado. E o ordenamento que regulamenta a inscrigao no Registro Publico, como condicao de existencia legal da pessoa juridica. E, pois, por forga da lei que aquela vontade se materializa definitivamente num corpo coletivo.

Quanto a capacidade no que se refere a pessoa juridica mesma deriva necessariamente da personalidade Ihe atribuida pela ordem juridica, que a reconhece por ocasiao de seu registro. E aplica-se a todos os campos do direito, sendo decorrencia logica da personalidade atribuida a pessoa. Se, por um lado, a capacidade da pessoa natural e plena, para pessoa juridica e limitada a finalidade para a qual foi criada, abrangendo tambem aqueles atos que direta ou indiretamente servem ao proposito que envolva sua existencia e finalidade.

Assim, como consequencia recorrente da aquisicao de sua personalidade juridica passa a ter pessoa juridica a pode exercer segundo Venosa (2005) todos os direitos subjetivos, nao se limitando apenas a esfera patrimonial. Portanto, passa a ter direito a identificacao, sendo dotada de uma denominacao, de um domicilio e do uma nacionalidade que a distingue dos individuos que as integram. Logo, passa a ter direito a personalidade, como o direito ao nome, a marca, a liberdade, a imagem, a privacidade, a propria existencia, ao segredo, a honra objetiva ou a boa reputacao. E caso sejam violados faz decorre a reparagao por dano moral e patrimonial, pois de acordo Diniz (2005, p. 261) pode-se afetar:

Sua credibilidade social, idoneidade empresarial, potencialidade economica, capacidade de produgao de lucros, qualidade do fundo de comercio etc. (CC art. 52). E, ate mesmo para a cessagao da lesao ou da ameaga sofrida podera ajuizar medidas cautelares, mandado de seguranga, agao ordinaria com pedido de tutela antecipada etc.; b) direitos patrimoniais ou reais (ser proprietaria, usufrutuaria etc.); c) direitos industrials (CF, art. 52, XXIX) d) direitos obrigacionais (de contratar, comprar, vender, alugar etc.) e e) direitos a sucessao, pois pode adquirir bens causa mortis. Tais direitos Ihes sao reconhecidos no mesmo instante de seu assento no registro

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competente, subsistindo enquanto atuarem e terminando com o cancelamento da inscrigao das pessoas juridicas.

Nao se trata, pois de direitos comparaveis aos da pessoa natural, pois possuem limitacoes impostas por sua propria natureza, como tambem impostas pela ordem legal. Quanto as primeiras, falta-lhe a capacidade para ser titular por exemplo, de direitos de familia e de parentesco, inerentes as pessoas naturais, bem como, para a pratica de atos juridicos por ser necessaria a presenga de um representante e indispensavel para a ocorrencia. E quanto as limitagoes de natureza legal estao incluidas em geral os ramos empresariais em que podem atuar, por exemplo, conforme a determinagao prevista na Constituigao Federal, segundo a qual, as pessoas juridicas de origem estrangeira nao podem explorar recursos minerals (CF/88, art.81, III).

No que se refere a necessidade de um representante legal que exteriorize a vontade da pessoa juridica, esclarece Diniz (2005, p. 261) que:

Os atos dos administradores obrigam a pessoa juridica se exercidos dentro dos limites estabelecidos no ato constitutive (CC, art. 47). A pessoa juridica devera cumprir os atos praticados pelos administradores, exceto se houver desvio ou excesso dos poderes confendos a eles. Nesta ultima hipotese, deverao responder, pessoalmente e com seu patrimonio pelos atos lesivos causados as pessoas com quern negociaram.

A pessoa juridica necessita ser representada, ativa e passivamente, em juizo ou fora dele, na medida em que o exercicio dos direitos e que a diferencia das pessoas naturais, pois a pessoa juridica nao esta apta a agir senao atraves de uma pessoa fisica, e manifestar-se pela vontade por intermedio de alguem. Esta devera ser administrada por quern o estatuto indicar ou por quern seus membros elegerem bem como ressalta o art. 48 do Codigo Civil, uma vez que e a pessoa juridica e administrada de forma coletiva, as decisoes se tomarao por maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutive dispuser de modo di verso.

Assim, os anseios do diretor ou administrador que se manifesta pela pessoa juridica podem nao convergir com os interesses desta, pois ele e apenas um instrumento da pessoa juridica por meio do qual ha uma

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exteriorizagao, entendendo-se, assim, que ha duas vontades que nao se confundem. A vontade da pessoa juridica e autonoma, como decorrencia de seu proprio conceito. Por isso, se a administragao da pessoa juridica vier a faltar, ocorrendo um desvio de finalidade, o juiz, a requerimento de qualquer interessado (socio, credor), nomeara conforme seu criterio, dentre os socios idoneos, ou, se todos forem inaptos, pessoa estranha, um administrador provisorio (CC, art. 49; CPC, art. 986).

Mas vale ressaltar que o exercicio da capacidade juridica e limitado, como bem acentua Moraes (2005) pela propria norma juridica, na esfera patrimonial, seja em virtude de seguranga publica, a exemplo das pessoas juridicas estrangeiras nao poderem receber concessao para o aproveitamento de recursos minerals, nem adquirir propriedade no pais.

3.2 Da pessoa juridica enquanto fornecedora na relagao de consumo

Conforme ressaltado no capitulo anterior o conceito de fornecedor esta definido no caput do art. 3° do CDC. Pelo enunciado presente no referido artigo, observa-se uma extensao das pessoas enumeradas como fornecedoras, pois consoante Nunes (2011) todas as pessoas capazes, fisicas ou juridicas, alem dos entes desprovidos de personalidade possuem potencial para ser um fornecedor de produto ou servigo. Assim ressalta o referido autor (2011, p. 131) que:

Nao ha exclusao alguma do tipo de pessoa juridica, ja que o CDC e generico e busca atingir todo e qualquer modelo. Sao fornecedores as pessoas juridicas publicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com sede ou nao no Pais, as sociedades anonimas, as por quotas de responsabilidade limitada, as sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as fundacoes, as sociedades de economia mista, as empresas publicas, as autarquias, os orgaos da Administracao direta etc.

Assim, seja exercendo regularmente a atividade tipica descrita em seu estatuto ou mesmo uma atividade atipica, quando, por exemplo, age, de fato,

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em situacao diversa da prevista em seu estatuto, o que pode ocorrer de modo rotineiro ou eventual, pratica o fornecedor atividade economia organizada.

Consoante Nunes (2011) tanto no caso do conceito de consumidor quanto no de fornecedor, a alusao a "toda pessoa juridica", independentemente de sua condicao ou personalidade juridica, isto e, toda e qualquer pessoa juridica. Assim, tem-se como fornecedor de acordo com art 3° do CDC, toda e qualquer pessoa juridica, publica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividades de produgao, montagem, criagao, construgao, transformagao, importagao, exportagao, distribuigao ou comercializagao de produtos ou prestagao de servigos.

Portanto, conforme a redagao do art. 3° do Codigo de Protegao ao Consumidor, o fornecedor pode ser tanto publico como privado, sendo que o primeiro caso o proprio Poder Publico, por si ou atraves das suas empresas publicas que dedique a atividade produtiva, enquadra-se tambem as concessionaries de servigos publicos. Bem como, o dispositivo referido dispositivo nao faz distingao entre fornecedores nacionais e estrangeiras que exportem produtos ou servigos para o pais, arcando com a responsabilidade por eventuais danos ou reparos o importador que posteriormente podera regredir contra os fornecedores exportadores, consoante o disposto no art. 12 do diploma legal em estudo.

Consoante Grinover (2007), entre a categoria de fornecedores podem ser incluidos os denominados entes despersonalizados, assim abrangidos os que, embora desprovidos de personalidade juridica, quer no ambito empresarial, quer no civel, exercem atividades produtivas de bens e servigos, prossegue a autora mencionada (2007, p. 48) expondo que na seara empresarial exemplos significativos de entes despersonalizados e a massa falida e o espolio do empresario, pois, sao enquanto massa falida "e autorizada a continuar as atividades comerciais da empresa sob regime de quebra, para que se realizem ativos mais celeremente, fazendo frente ao concurso de credores" o espolio por sua vez, tratando-se de um empresario individual, e quern respondera pelas duvidas decorrentes da atividade empresarial, sucedendo o empresario.

O termo massa falida consoante Ulhoa (2007) esta presente na lei em dois sentidos distintos um subjetivo e outro objetivo. O primeiro pode ser

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tambem denominado de massa passiva ou dos credores e e o sujeito de direito despersonalizado que se destina a defesa dos interesses dos credores de uma sociedade empresaria falida. Por se tratar de um ente despersonalizado nao e pessoa juridica, apta a pratica dos atos juridicos em geral, mas um sujeito de direito despersonalizado, que exclusivamente pratica atos compativeis com as suas finalidades. E mesmo atuando na defesa dos interesses da empresa a massa nao podera exercer os direitos do que esta possua antes da quebra, nem mais obrigagoes perante terceiros por negocio, ato ou fato anterior a declaragao da falencia.

Por sua vez a massa falida objetiva e o conjunto de bens arrecadados do patrimonio da empresa falida tambem denominada de massa ativa. Nao se confunde com a comunhao de interesses dos credores (massa falida subjetiva), embora a lei chame esta e aquele indistinta e simplesmente de massa falida. Pois tem como unico intuito a satisfagao dos credores.

Embora a pessoa juridica configure como fornecedora, na maioria das vezes, acertadamente pode-se intuir que a mesma e uma figura complexa na medida em que se apresenta tambem como consumidora, conforme o conceito estabelecido no caput, do art. 2°, CDC. Assim, para ser configurada como consumidora, basta que a pessoa juridica adquira produto ou servigo que nao esteja destinada aos meios de produgao; posto que a finalidade deve voltar-se para o consumo.

3.3 Da responsabilidade decorrente da relagao de consumo

No que tange a responsabilidade das pessoas juridicas, poder-se-a pronunciar que tanto a pessoa juridica de Direito Privado como a de Direito Publico, no que se refere a concretizagao de um negocio juridico dentro dos limites do poder autorizado pelas normas de carater geral que regem tais negocios ou pelo sue estatuto, deliberado pelo orgao competente e realizado pelo legitimo representante, e responsavel, devendo cumprir o disposto no contrato, respondendo com seus bens pelo inadimplemento contratual 217, conforme prescreve o art. 389 do Codigo Civil segundo o qual "nao cumprida a obrigagao, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizagao

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monetaria segundo indices oficiais regularmente estabelecidos, e honorarios de advogado".

E acrescenta a Constituigao Federal em seu art. 173, § 5°, que a lei, sem prejuizo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa juridica, estabelecera a responsabilidade desta, sujeitando-a as punigoes compativeis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem economica financeira e contra a economia popular.

Assim, o CDC em seus artigos 12 a 25 comina nao so a responsabilidade objetiva das pessoas juridicas pelo fato e por vicio do produto e do servigo, independentemente da existencia de sua culpabilidade bem como estao elas incumbidas de reparar os danos fisicos ou psiquicos causados aos consumidores; destaca-se tambem a responsabilidade subjetiva para garantir a incolumidade economica do consumidor ante os incidentes de consumo que podem diminuir seu patrimonio em razao de vicio de quantidade e de qualidade por inadequagao. Estao excluidas dessa norma as sociedades formadas por profissionais liberals os quais nao terao responsabilidade subjetiva, por fato do servigo, mas sim a objetiva, tendo-se em vista que nao se confunde com a personalidade fisica de seus membros, exercendo, depois, o direito de regresso contra o culpado (art. 14, § l° ao 4°, do CDC).

Assim de acordo com Grinover (2007) a colocagao de bens ou servigos no mercado de consumo a cargo dos fornecedores in genere gera a relagao de responsabilidade decorrente do inadimplemento de obrigagao contratual (responsabilidade contratual) ou da violagao de direitos tutelados pela ordem juridica de consumo (responsabilidade extracontratual). Nesta hipotese, invertem-se os papeis dos respectivos participes, pois sao os consumidores que figuram no polo ativo da relagao de responsabilidade, com vistas a reparagao dos vicios de qualidade ou de quantidade dos produtos ou servigos, bem como dos danos decorrentes dos acidentes de consumo. Pois ressalta a citada doutrinadora (2007, p.183) que:

E justamente essa inversao de papeis, signo indelevel da relagao juridica de consumo, que permite aludir a superagao da velha dicotomia das responsabilidades contratual e extracontratual. Segundo a doutrina corrente, o tratamento dado a materia pelo Codigo de Defesa do Consumidor afasta a biparticao derivada do

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contrato ou do fato ilicito, rendendo ensejo a unificacao da summa divisio.

O CDC, disciplina em sua Secao III do Capitulo IV a responsabilidade por vicios de qualidade ou quantidade dos produtos e servigos, os quais sao denominados de vicios por inadequagao. Esta orbita de protegao esta voltada para a integridade economica do consumidor, procurando resguardar o patrimonio dos prejuizos causados com a qualidade e quantidade dos produtos introduzidos no mercado.

Consoante Monteiro (2003) fala-se em defeito de vicio de qualidade a qualificagao negativa atribuida a um produto ou servigo por nao obedecer a legitima espera do consumidor, quanto a sua utilizagao ou fruigao (falta de adequagao), bem como por adicionar riscos a integridade fisica (periculosidade) ou patrimonial (inseguranga) do consumidor ou de terceiros. Assim, um produto ou servigo pode ser considerado defeituoso quando nao corresponde a legitima expectativa do consumidor a respeito de sua utilizagao ou fruigao, ou seja, quando as qualidades ou falta delas, do produto ou servigo comprometem o seu adequado uso, a sua prestabilidade ou servibilidade. Nesta hipotese, pose-se aiudir a um vicio ou defeito de adequagao do produto ou servigo.

Os vicios de qualidade segundo o artigo 18 do CDC apesar de mencionar expressamente os vicios de quantidade, trata das regras de reparagao dos vicios de qualidade do produto tornam os produtos inadequados ao consumo ou Ihes diminuam o valor podem ser ocultos ou aparentes. O artigo 18, § 6° elenca quais os possiveis defeitos de qualidade ao dispor que sao improprios para o uso e o consumo os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; tambem os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos a vida e a saude, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricagao, distribuigao ou apresentagao; assim como os que por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Como exemplo de vicios ocultos pode ser considerado o defeito no sistema de freio de veiculos; um ferro de engomar que nao aquece adequadamente. Os vicios aparentes

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sao os que decorrem do vencimento do prazo de validade, adulteragoes sendo, portanto mais facilmente detectaveis peio consumidor.

Por sua vez os vicios de quantidade estao regulados pelo artigo 19 do CDC sendo aqueles que possuem um defeito economico que ocorre quando o produto encontra-se com o conteudo ou com a medida inferior as indicagoes da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitaria. Conforme o artigo 19, os vicios de quantidade ocorrem quando, respeitadas as variagoes decorrentes de sua natureza, seu conteudo liquido for inferior a indicagoes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitaria.

Conforme esse raciocinio, um produto ou servigo e considerado defeituoso, quando sua utilizagao ou fruigao e capaz de adicionar riscos a seguranga do consumidor ou de terceiros. Nesta hipotese, ha um vicio ou defeito de seguranga do produto ou servigo.

Conforme dispoe o caput do artigo 18 da legislagao consumerista os fornecedores de produtos de consumo duraveis ou nao duraveis respondem solidariamente pelos vicios de qualidade ou quantidade. Desta forma no polo passivo desta relagao de responsabilidade estao todas as especies de fornecedores, coobrigados e solidariamente responsaveis pelo ressarcimento dos vicios de qualidade ou quantidade eventualmente apurados no fornecimento de produtos.

Nada impede que o consumidor apresente sua demanda diante de somente um dos fornecedores dentro da cadeia de produgao, posto que os fornecedores respondem solidariamente pelos vicios de qualidade ocultos ou aparentes. No que tange aos vicios de quantidade, o artigo 19 do CDC repete o mandamento legal, ou seja, os fornecedores respondem solidariamente pelos vicios de quantidade do produto. Destaca-se que o § 2° do artigo 19 dispoe que o fornecedor imediato sera responsavel quando fizer a pesagem ou a medigao e o instrumento utilizado nao estiver aferido segundo padroes oficiais.

Por sua vez configura-se a responsabilidade pelo fato do produto ou servigo quando ocorre um acidente de consumo em virtude de um defeito no produto ou no servigo que, por sua vez, e a causa eficiente dum dano ao consumidor (art. 12 e art. 14, CDC). Consoante Nunes (2011) nestes casos parte-se de um dano emergente, confere-se ao consumidor um direito e uma pretensao a indenizagao destes prejuizos, patrimoniais e extrapatrimoniais. A

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responsabilidade pelo vicio, se verifica quando ha uma inadequacao, uma disparidade frente as indicagoes na embalagem, rotulagem ou mensagem publicitaria, que torna o produto ou o servigo inadequado, improprio ao consumo ou, ainda, Ihe diminuem o valor (arts. 19 e 20, CDC).

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4 DA DESCONSIDERAQAO DA PERSONALIDADE JURlDICA NA RELAQAO DE CONSUMO

A lei aponta a pessoa juridica como um extraordinario instrumento para o exercicio da atividade empresarial, nao a posicionando com algo intangivel A personalidade juridica das sociedades deve ser usada em conformidade com os propositos legitimos para os quais fora criada. Contudo, caso tais propositos sejam distorcidos, nao se pode fazer prevalecer o dogma da separagao patrimonial entre a pessoa juridica e os seus membros.

A desconsideragao e, pois a forma de adequar a pessoa juridica aos fins para os quais fora criada, de forma a limitar e coibir o uso indevido deste privilegio vale dizer, e uma forma de reconhecer a relatividade da personalidade juridica das sociedades. Pois tal privilegio so se justifica quando a pessoa juridica e usada adequadamente, sendo o desvio da fungao faz com que deixe de existir razao para a separagao patrimonial.

4.1 Conceito e previsao legal

Para o sistema juridico vigente a pessoa juridica e acertadamente considerada uma realidade autonoma, competente para possuir direito e obrigagoes, distintos daqueles membros que a compoem, com os quais nao apresenta nenhum vinculo, atuando por si so, comprando, vendendo, alugando sem qualquer relagao com a vontade individual das pessoas fisicas que dela fazem parte.

Consoante Requiao (2005), seus membros somente responderao por seus debitos dentro dos limites do capital social com o qual contribuiram para integrar o capital social, ficando protegido o patrimonio individual. Essa limitagao da responsabilidade ao patrimonio da pessoa juridica e uma consequencia logica de sua personalidade juridica, constituindo uma de suas maiores vantagens na medida em que possui capacidade juridica que a individualiza em comparagao aos seus integrantes, possuira responsabilidade distinta daquela dos seus membros.

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A pessoa jundica nao se enlaga em direitos e obrigagoes com as pessoas fisicas que a compoem. O patrimonio da sociedade personalizada nao se confunde com o patrimonio individual dos socios, desta feita consoante Diniz (2005) seria facil burlar as regras juridicas vigentes e lesar credores, ou ocorrer abuso de direito, para subtrair-se a um dever, ma medida em que os bens particulars dos socios nao podem ser executados antes dos bens sociais, havendo divida da sociedade. Notadamente diante de sua independencia e autonomia devido ao fato da isengao da responsabilidade dos socios, a pessoa juridica, as vezes, tem-se afugentado seus principios e fins, cometendo fraudes e desonestidades, provocando reagoes doutrinarias e jurisprudenciais que visam coibirtais abusos.

A Teoria da Desconsideragao da pessoa juridica foi uma construgao jurisprudencial dos tribunals norte-americanos, diante dos fatos acima citados e tendo em vista aqueles casos concretos, onde o controlador da sociedade a desviava de suas finalidades, assim os tribunals buscaram uma forma de penalizar os infratores com o intuito de impedir fraudes mediante o uso da personalidade juridica responsabilizando os seus membros.

Dentre as finalidades encontradas no instituto em estudo, encontra-se de acordo com Diniz (2005, p. 287):

Impedir a fraude contra credores, levantando o veu corporative desconsiderando a personalidade juridica num dado caso concreto, ou seja, declarando a ineficacia especial da personalidade juridica para determinados efeitos, portanto, para outros fins permanecera incolume. Com isso alcangar-se-ao pessoas e bens que dentro dela se escondem para fins ilicitos ou abusivos, pois a personalidade juridica nao pode ser um tabu que entrave a agao do orgao judicante

Nos Estados Unidos essa doutrina so encontra fundamento legal nas fraudes comprovadas, em que se utiliza a sociedade empresaria como simples instrumento ou agente do acionista, como forma de encobrir as fraudes por meio de uma agao encoberta pelas agoes da pessoa juridica. De acordo com Diniz (2005), nesse caso, pode-se apontar uma confusao do patrimonio da sociedade com os bens dos socios, o que pode induzir terceiros ao erro, sendo cabivel nessas hipoteses a desconsideragao, para responsabilizar

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pessoalmente o controlador. A desconsideragao ou penetragao proporciona ao magistrado que desconsidere os atos da personificagao ou da autonomia juridica da sociedade para abranger e amarrar a responsabilidade dos socios, com o intuito de impedir a consumagao de fraudes e abusos de direito cometidos, por meio da personalidade juridica, que causem prejuizos ou danos a terceiros.

Nesse aspecto conclui Venosa (2005, p.313) que:

Assim, quando a pessoa juridica, ou melhor, a personalidade juridica for utilizada para fugir a suas finalidades, para lesar terceiros, deve ser desconsiderada, isto e, nao deve ser levada em conta a personalidade tecnica, nao deve ser tomada em consideracao sua existencia, decidindo o julgador como se o ato ou negocio houvesse sido praticado pela pessoa natural (ou Dutra pessoa juridica). Na realidade, nessas hipoteses, a pessoa natural procura um escudo de legitimidade na realidade tecnica da pessoa juridica, mas o ato e fraudulento e ilegitimo. Imputa-se responsabilidade aos socios e membros integrantes da pessoa juridica que procuram burlar a lei ou lesar terceiros. Nao se trata de considerar sistematicamente nula a pessoa juridica, mas, em caso especifico e determinado, nao a levar em considerada.

Dessa feita, os tribunals decidem por meio de uma sentenga declaratoria que existe diferenga de personalidade entre a sociedade e os seus socios, porem nao considera a pessoa juridica detentora de um direito absoluto por estar sujeita as teorias da fraude contra credores e do abuso do direito.

Durante decadas o instituto da desconsideragao restringiu-se ao ambito jurisprudencial conforme leciona Venosa (2005). Contudo, a Consolidagao das Leis do Trabalho, no art. 2°, § 2°, sugestiona aplicar a Teoria da Desconsideragao quando preve que sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade juridica propria, estiverem sob a diregao, controle ou administragao de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade economica, serao, para os efeitos da relagao de emprego, solidariamente responsaveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. Trata-se de franca aplicagao do principio da desconsideragao em prol de maior protegao ao trabalhador. Levantando-se o veu de uma empresa, encontra-se outra, responsavel pelas obrigagoes trabalhistas.

Referências

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