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Representações Sociais da gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família

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Vera Lúcia de Moura Sena Filha

Representações Sociais da

gravidez na adolescência para

profissionais de Unidades de

Saúde da Família

Recife, 2013

Universidade Federal de Pernambuco Programa de Pós-graduação em Psicologia

Centro de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Mestrado em Psicologia

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA PARA PROFISSIONAIS DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Ramos Castanha

RECIFE 2013

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva CRB-4 1291

S474r Sena Filha, Vera Lúcia de Moura.

Representações sociais da gravidez na adolescência para profissionais de unidades de saúde da família / Vera Lúcia de Moura Sena Filha. – Recife: O autor, 2013.

138 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alessandra Ramos Castanha.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Pós-Graduação em Psicologia, 2013.

Inclui bibliografia e anexos.

1. Psicologia. 2. Psicologia social. 3. Representações sociais. 4. Gravidez na adolescência. 5. Pessoal da área de saúde pública. I. Castanha, Alessandra Ramos (Orientadora). II. Título.

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REPREENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA PARA PROFISSIONAIS DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia. Aprovada em: _____/____/_____

Comissão Examinadora:

Profª. Drª. Alessandra Ramos Castanha - UFPE 1° Examinador/Presidente

Profª. Drª. Ana Alayde Werba Saldanha Pichelli -UFPB

2° Examinador

Profª. Drª. Maria de Fátima de Souza Santos - UFPE 3° Examinador

Profª. Drª. Fatima Maria Leite Cruz – UFPE Suplente interna

Profª. Drª. Licia Barcelos de Souza Suplente externo

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Estou imensamente feliz por finalizar uma etapa importante da minha vida. Passei por diversos obstáculos na minha vida pessoal durante a realização desse trabalho, mas Deus, a minha família e os meus amigos me ofereceram amparo nos momentos de luto e situações difíceis pelas quais passei. Não poderia deixar de homenagear as pessoas que contribuíram para a realização dessa dissertação. Agradeço primeiramente a Deus que sempre me deu força em todos os momentos. Agradeço a minha irmã, minha mãe e meu pai por estarem sempre presentes e me preencherem com o seu amor, carinho e cuidados. Agradeço também a meu namorado e amigo Romero Brito por mostrar companheirismo e afeto nos momentos que eu mais precisei.

Agradeço aos meus amigos, em especial à Vivian Lemos que me ajudou e incentivou-me a participar da seleção do mestrado e à Bruna Gabriela Oliveira que conheci durante o mestrado e foi uma pessoa muito especial para mim. Não posso deixar de citar meu eterno agradecimento pelo companheirismo, amor e amizade aos já falecidos, durante a elaboração dessa dissertação, Rafaela Santiago, amiga de infância e “irmã do coração”, e Lamartine Moura, primo querido. Sou grata a todos os amigos que não mencionarei um por um, mas sempre estiveram comigo na minha jornada e no meu coração, aguentando meus aborrecimentos, manias e momentos de “loucura”, assim como me confortam e alegram a minha vida.

Agradeço a minha orientadora Profª Drª Alessandra Ramos Castanha por realmente estar presente em todas as etapas da elaboração dessa dissertação e ser uma pessoa disponível e dedicada. Além de estar sempre incentivando seus alunos a buscarem superar suas metas e progredirem. Também agradeço imensamente à Profª Drª Maria de Fátima de Souza Santos por desde a graduação inspirar seus alunos a buscarem o conhecimento de forma prazerosa e proporcionar o nosso crescimento intelectual, assim como transmite segurança, simpatia e zelo aos seus discentes. Sou agradecida a todos os meus professores do curso de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco que, direta ou indiretamente, contribuíram na minha caminhada e escolhas acadêmicas.

Agradeço a João Cavalcanti, secretário do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPE pela sua dedicação e por estar sempre presente para

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Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) pela aprovação do projeto, por ter dado o incentivo financeiro necessário para seu desenvolvimento e conclusão.

Agradeço aos colegas do Labint, em especial à Edclecia Morais, Yuri Sousa e Karina Vasconcellos por dividirmos ideias, experiências e conhecimentos nos nossos encontros e discussões. Meus agradecimentos também à Cecilia Sales, Míryam Bessa e Paloma Luna pelas contribuições na elaboração da pesquisa realizada e na coleta dos dados, assim como sou grata aos profissionais de saúde participantes da pesquisa. Enfim, a todos que foram e são importantes na minha vida, citados ou não, o meu eterno agradecimento, muito obrigada por tudo.

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(Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer) Bebida é água!

Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida A gente quer comida

Diversão e arte

A gente não quer só comida A gente quer saída Para qualquer parte...

A gente não quer só comida A gente quer bebida

Diversão, balé

A gente não quer só comida A gente quer a vida Como a vida quer...

Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comer A gente quer comer

E quer fazer amor A gente não quer só comer

A gente quer prazer Pra aliviar a dor...

A gente não quer Só dinheiro A gente quer dinheiro

E felicidade A gente não quer

Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade...

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

Desejo, necessidade, vontade Necessidade, desejo, eh! Necessidade, vontade, eh!

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Esta pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado “Gravidez na Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais” financiada por: FACEPE (em conjunto com a Secretaria da Mulher) e CNPq. A presente dissertação teve como objetivo geral apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família. A gravidez na adolescência foi abordada através de um enfoque psicossociológico, por meio do arcabouço teórico da Psicologia Social, conduzido pela Teoria das Representações Sociais, visto que esta oferece suporte para a compreensão dos sentidos construídos coletivamente que norteiam práticas e comportamentos acerca do objeto estudado. A pesquisa foi desenvolvida em duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco (Mesorregião Metropolitana do Recife e Mesorregião da Mata Pernambucana) e teve como participantes os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família dessas regiões. O estudo utilizou-se de uma abordagem plurimetodológica e contemplou, como instrumentos, o questionário de associação livre e as entrevistas semi-estruturadas. Os dados obtidos através do questionário de associação livre foram analisados com o suporte do software EVOC e para as entrevistas empregou-se a análise de conteúdo temática. Ao comparar-se os dados obtidos através dos dois instrumentos, apreendeu-se que as representações sociais transitaram entre as experiências de “ser adolescente” e de “ser mãe” em meio às construções histórico-sociais que estabeleceram papéis e lugares ao adolescente e à mulher na sociedade. De uma maneira geral, a maternidade, foi ancorada numa concepção de mulher colocada no lugar de responsável pela criação e cuidado com os filhos. Essa ideia é proveniente do modelo patriarcal em que a mulher tem a função de procriação e cuidadora do lar. Porém, a gravidez na adolescência é objetivada enquanto um momento complicado, marcado por dificuldades e perdas. Tal concepção parte da visão negativa atribuída ao período da adolescência. No que tange à aplicabilidade desta investigação, pensa-se que ela pode contribuir para uma compreensão acerca dos conceitos que permeiam as práticas dos profissionais de saúde perante as adolescentes grávidas.

Palavras-Chave: Representações Sociais; Gravidez na Adolescência; Profissionais de Saúde; Unidades de Saúde da Família.

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This research is part of a greater project titled “Pregnancy in adolescence: Perceptions of different social actors” supported by: FACEPE (together with the Board of Women) and CNPq. The present dissertation had, as general aim, learning the Social Representations of pregnancy in adolescence to the health professionals from the Family health Units. The pregnancy in adolescence was handled through a psycho-sociological approach, by means of a theoretical framework of the Social Psychology, conducted by the Social Representations Theory, due to the fact that it offers a pillar to comprehend the meanings built collectively, which leads the practice and behavior about the studied object. The research was developed in two Mesoregions of Pernambuco State (Metropolitan Mesoregion of Recife and the Mesoregion of the Forest of Pernambuco) and it had the participation of the health professionals from the Family Health Units of those regions. The study made use of a multi-methodological approach and regarded as tools the free association questionnaire and the semi-structured interviews. The data achieved through the free association questionnaire was analyzed with the EVOC software support and for the interviews a thematic analysis of the content was employed. When the data achieved was compared through both two tools, it was learned that the Social Representations transit between the experiences of being “an adolescent” and being “a woman” in the midst of social-historical constructs which determined the roles and place of the adolescent and woman into the society. In general, the motherhood was anchored on a conception of woman as being in charge of the upbringing and care of their children. This idea arises from the patriarchal role model in which the woman has the role of the reproduction. However, pregnancy in adolescence is aimed while a tough moment, marked by difficulties and loss. Such a conception comes from the negative view attributed to the adolescence. Regarding the applicability of this investigation, it is thought that it can contribute to a comprehension about the concepts which it permeates and the health professionals’ practices before the pregnant adolescents.

Keywords: Social Representations; Pregnancy in Adolescence; Health Professionals; Family Health Units.

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FIGURA 1. Plano de análise das entrevistas ... 65

FIGURA 2. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (categoria - maternidade), elaboradas pelos profissionais de saúde ... 89

FIGURA 3. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (Categoria – Maternidade na Adolescência), elaboradas pelos profissionais de saúde. ... 94

TABELA 1. Perfil Sócio-demográfico dos Profissionais de Saúde ... 58

TABELA 2. Classes Temáticas, Categorias e Subcategorias

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QUADRO 1. Distribuição dos termos evocados nos quadrantes ... 67

QUADRO 2. “Ser Mãe adolescente é...”, em função da frequência e ordem média de evocação ... 68

QUADRO 3. “O que motiva a adolescente a engravidar é...”, em função da frequência e ordem média de evocação ... 73

QUADRO 4. “As principais consequências da gravidez na adolescência são...”, em função da frequência e ordem média de evocação ... 80

QUADRO 5. Maternidade de um modo geral ... 87

QUADRO 6. Maternidade na adolescência ... 90

QUADRO 7. Fatores associados à gravidez na adolescência ... 95

QUADRO 8. Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ... 98

QUADRO 9. O parceiro e a família no contexto da gravidez na adolescência... 100

QUADRO 10. Repercussão da gravidez para a adolescente ... 102

QUADRO 11. Efeitos da gravidez na vida do pai da criança... 106

QUADRO 12. Efeitos da gravidez na família ... 108

QUADRO 13. Serviços de apoio direcionados à gestação na adolescência... 110

QUADRO 14. Atuação do profissional de saúde no contexto da gravidez na adolescência ... 111

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ACS – Agentes Comunitários de Saúde

AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DST – Doença Sexualmente Transmissível

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ESF – Estratégia de Saúde da Família

FACEPE – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

LabInt – Laboratório de Interação Social Humana OMS – Organização Mundial de Saúde

PE – Pernambuco

RS – Representações Sociais SUS – Sistema Único de Saúde

TALP – Teste de Associação Livre de Palavras TRS – Teoria das Representações Sociais UFPE – Universidade Federal de Pernambuco USFs – Unidades de Saúde da Família

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APRESENTAÇÃO ... 14

1. CAPÍTULO I - CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ... 17

1.1 Objetivo Geral ... 20

1.2 Objetivos Específicos ... 20

2. CAPÍTULO II - ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ ... 22

2.1 A adolescência como construção coletiva... 22

2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência ... 26

2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social” ... 29

2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde... 33

3. CAPÍTULO III - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ... 42

3.1 O estudo da Teoria das Representações Sociais ... 42

3.2 Um breve panorama da Abordagem Estrutural ... 50

3.3 Algumas considerações acerca da abordagem moscoviciana ... 52

4. CAPÍTULO IV - MÉTODO ... 56

4.1 Local da Pesquisa ... 56

4.2 Participantes da Pesquisa ... 57

4.3 Instrumentos ... 58

4.3.1 Questionário de associação livre de palavras ... 58

4.3.2 Entrevistas Semi-estruturadas ... 60

4.4 Aspectos Éticos ... 61

4.5 Coleta de Dados ... 61

4.5.1 Questionário de Associação Livre... 62

4.5.2 Entrevistas Semi-estruturadas ... 62

4.6 Análise dos Dados ... 62

4.6.1 Questionário de Associação Livre de Palavras ... 62

4.6.2 Entrevistas Semi-estruturadas ... 64

5. CAPÍTULO V - RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 67

5.1Associações livres ... 67

5.1.1 Ser mãe adolescente é... ... 68

5.1.2 O que motiva a adolescente engravidar é... ... 73

5.1.3 As principais consequências da gravidez na adolescência são... ... 80

5.2Entrevistas... 85

5.2.1 Classe temática: Gravidez na adolescência ... 87

5.2.1.1 Categoria: maternidade ... 87

5.2.1.2 Categoria: maternidade na adolescência ... 90

5.2.1.3 Categoria: Fatores associados à gravidez na adolescência ... 94

5.2.1.4Categoria: Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ... 98

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5.2.2Classe temática: Repercussões da Gravidez na adolescência ... 101

5.2.2.1 Categoria: Consequências da gravidez para a adolescente ... 102

5.2.2.2 Categoria: Consequências da gravidez para o parceiro ... 106

5.2.2.3 Categoria: Efeitos da gravidez na família ... 108

5.2.3 Classe temática: Atuação dos profissionais de saúde ... 109

5.2.3.1 Categoria: Serviços de apoio direcionados à gestação ... 109

5.2.3.2 Categoria: Possibilidades de atuação do profissional de saúde 111 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 114

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 118

ANEXOS...133

Anexo I- Parecer do Comitê de Ética ... 134

Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido... 135

APÊNDICES...135

Apêndice I – Questões Sociodemográficas – Profissionais de Saúde ... 136

Apêndice II – Roteiro do Questionário de Associação Livre ... 137

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APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa foi parte de um projeto maior, intitulado “Gravidez na Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais”, aprovado e financiado pelo CNPq, FACEPE e Secretaria da Mulher. Nesse sentido, o projeto enfoca as representações sociais da gravidez na adolescência dos seguintes atores sociais: adolescentes grávidas, parentes e pessoas próximas, professores e profissionais de saúde, ao procurar identificar o impacto da gravidez na adolescência, dentro de um aspecto biopsicossocial, abordando as implicações físicas, sociais, afetivas, psicológicas e financeiras.

O enfoque dado na pesquisa aqui desenvolvida, a partir do projeto maior, foi nas representações sociais dos profissionais de Unidades de Saúde da Família acerca da gravidez na adolescência. Assim, essa pesquisa pretendeu responder a seguinte questão: como são construídos e compartilhados os conhecimentos que permeiam a gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família de duas Mesorregiões do estado de Pernambuco?

Para tal, a matriz teórica das Representações Sociais (TRS) será utilizada no sentido de apreender como as representações destinadas à gravidez na adolescência acontecem e se estruturam, ao considerar as particularidades que cada realidade possui. Nesse sentido, Moscovici (2001, p. 49), afirma que “[...] é impossível explicar os conjuntos de crenças e de ideias a partir do pensamento individual.” Assim, particularizar o contexto da gravidez na adolescência, não significa entendê-lo sob uma ótica individual, mas compreendê-lo no cenário que ele se inscreve.

Esse estudo faz-se relevante para a sociedade uma vez que permite compreender os conceitos que cercam as práticas de saúde destinadas às adolescentes grávidas. E do ponto de vista acadêmico, fornece uma possível contribuição teórica no campo das representações socais e nas pesquisas relacionadas à gravidez na adolescência com enfoques psicossociológicos.

A fim de realizar a proposta do presente estudo, será apresentado nos próximos capítulos um breve panorama teórico sobre algumas questões que cercam a gravidez na adolescência como objeto de representações para o grupo de profissionais de saúde.

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Nesse sentido, o estudo desenvolveu-se em cinco capítulos, de modo que o primeiro capítulo refere-se à Introdução e aos objetivos do estudo. Já o segundo capítulo faz alusão às questões sócio-históricas e psicossociais que cercam o período da adolescência, assim como abrange o cenário de interação e problemática da gravidez na adolescência. O terceiro capítulo explora a Teoria das Representações Sociais com suas abordagens e implicações perante o contexto do objeto de estudo.

O quarto capítulo apresenta o Método, no qual se encontra delineado o local, participantes, aspectos éticos e instrumentos empregados no procedimento da pesquisa, como também menciona o processo de coleta e análise dos dados. O quinto capítulo expõe os resultados obtidos pela coleta de dados e traz a discussão dos achados para cada instrumento utilizado. Posteriormente, são exibidas as considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento da pesquisa.

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

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CAPÍTULO I

– CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) delimita a adolescência como o período de vida que vai dos 12 aos 18 anos de idade (BRASIL, 1991a). A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, faz um recorte cronológico que vai dos 10 aos 19 anos. No campo da Saúde, atribui-se, de modo geral, que a adolescência é uma etapa da vida que marca a passagem da infância para a fase adulta e engloba um conjunto de mudanças físicas e biopsicossociais (WAIDEMAN, 2003; LEAL e WALL, 2005).

No que se refere ao âmbito da Psicologia, há concepções que colocam a adolescência como uma fase natural e inerente do desenvolvimento humano, caracterizada por conflitos e crises próprias dessa faixa etária. Assim, essa perspectiva deposita uma visão universalizante ao período da adolescência, o qual contempla particularidades que assumem um caráter negativo, de modo que os adolescentes, independentemente da sua inserção histórica e cultural, passam por momentos de sofrimentos, tensões e turbulências considerados típicos dessa fase (ANDRIANI et al., 2003; MESQUITA, 2008).

Entretanto, muitas peculiaridades agregadas atualmente à adolescência fizeram parte de construções sociais constituídas ao longo da história e foram registradas, por vários estudiosos, em documentos históricos. Desse modo, não se pode conferir características universais à adolescência, uma vez que ela é vivenciada de diferentes formas devido às diversidades das interações e contextos (sociais, históricos, políticos e econômicos) que permeiam as experiências do adolescente. Assim, faz-se necessário ultrapassar perspectivas naturalizantes e compreender a adolescência como etapa construída, ao longo da história, nas interações e processos sociais (AGUIAR et al., 2001; HEILBORN et al., 2002; REIS, 2004; COLE e COLE, 2004; OLIVEIRA, 2007; FERREIRA et al., 2007; PANTOJA et al., 2007).

Nessa perspectiva, a Psicologia Social vai além das teorias psicológicas existentes, visto que concebe a adolescência como uma construção sócio-histórica-cultural que transcorre perspectivas psicológicas e biológicas juntamente com o contexto social. Dessa forma, o cenário social adota grande influência no percurso da adolescência, pois o contexto de interações dos adolescentes colabora na

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constituição dos seus comportamentos, estilos de vida, tomadas de decisão e condutas (OZELLA, 2003).

Diante do exposto, a gravidez na adolescência aparece como assunto de discussão social e no campo da saúde assume um caráter de problema social e de saúde pública. As expectativas em torno da adolescência, da mulher e da família ostentam demandas sociais e político-econômicas que reforçam o olhar negativo sobre a maternidade adolescente para a sociedade de modo geral e para as próprias mães. Embora diversos estudos demonstrem os sentidos positivos conferidos à gravidez pelas adolescentes (GONTIJO e MEDEIROS, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; MAGALHÃES, 2007; MESQUITA, 2008; MAZZINI et al., 2008; TORRES et al., 2010).

Vale ressaltar que a gravidez na adolescência não se limita aos aspectos biológicos ou emocionais da gestante, pois a adolescente que engravida está imersa em uma construção social historicamente e geograficamente contextualizada que interfere na sua subjetividade e na forma como se apropriam dos acontecimentos da sua vida. Desse modo, aspectos culturais e sociais interferem na constituição dos valores, rituais, imagens e tradições que permeiam os sentidos atribuídos e compartilhados acerca da gestação na adolescência (BARKER e CASTRO, 2002; DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al., 2009).

Ao longo do tempo, as compreensões e práticas em volta da gravidez na adolescência não ocorreram do mesmo modo e passaram por transformações que foram fruto das mudanças no contexto de interação social. Nesse sentido, as construções sócio-históricas permeiam a maternidade e os rituais que cercam a gestação, assim como guiam ideias, crenças e padrões que asseveram os papéis e funções da mulher. Assim, a maternidade é associada às mulheres, mas as concepções vigentes em torno da fase ideal para gerar filhos vão estar relacionadas às construções sociais que circulam no contexto em que a mulher vive. (HEILBORN et al.,2002; MOURA e ARAUJO, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; PANTOJA et al., 2007; MAZZINI et al., 2008).

Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência surge como um acontecimento cujos significados modificam-se conforme influências do momento histórico e contexto social vivenciado. Há um tempo, as mulheres se organizavam para casar e procriar bem jovens, pois a faixa etária que é atualmente destinada a cumprir-se com as incumbências apresentadas como próprias da adolescência -

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estudar e amadurecer para a vida adulta - já foi considerada um período adequado para a procriação (MOURA e ARAUJO, 2004; MAGALHÃES, 2007; MOREIRA et al., 2008).

Dessa forma, alguns fatores como, por exemplo, comunidade de pertença, classe social e escolaridade, aliados ao contexto de interação e experiência subjetiva, influenciam as construções de sentidos, constituídas por determinados grupos populacionais, em torno da gravidez na adolescência. De tal modo, a rede de profissionais de saúde destaca-se como um grupo de fundamental importância no que diz respeito à promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. A compreensão que os profissionais de saúde possuem sobre a gravidez/maternidade na adolescência fornece contribuições ao entendimento das práticas direcionadas ao público adolescente (FERRARI et al., 2006; DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al., 2009).

Vale ressaltar que o olhar técnico dos profissionais de saúde a respeito da maternidade nesse período de vida está permeado por visões presentes nas relações estabelecidas com a conjuntura social, as quais contribuem na forma como esses profissionais organizam teorias, encaram, agem e constituem práticas perante a gestação adolescente (DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al., 2009).

Para conceber tal discussão, o presente estudo foi desenvolvido com a contribuição teórica da Teoria das Representações Sociais que, segundo Santos (2005), se volta para a compreensão da elaboração dos conhecimentos e práticas socialmente compartilhados, por um grupo social específico, acerca de um determinado objeto. Dessa forma, ela oferece subsídios para entender os sentidos produzidos pelos profissionais de saúde, enquanto sujeitos sociais, acerca da gravidez na adolescência, como objeto de relevância social, no emaranhado das suas interações.

Conforme Moscovici (2003), as representações sociais diferem de acordo com as peculiaridades de cada sociedade, de modo que são constituídas nos sistemas de pensamentos preexistentes através de influências mútuas nas convenções implícitas no percurso dos diálogos que apontam conjuntos de crenças aportados em costumes, princípios e conceitos que perpassam o homem na sua interação com o mundo. Diante do exposto, a presente pesquisa, ao abordar o universo de

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interações entre os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família e as adolescentes grávidas, recorre aos objetivos apresentados a seguir.

1.1 Objetivo Geral

Apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família.

1.2 Objetivos Específicos

 Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais acerca da gravidez na adolescência para os profissionais de saúde;

 Compreender em que se ancoram e como são objetivadas as representações sociais dos profissionais de saúde a respeito da gravidez na adolescência;

 Conhecer os sentidos compartilhados pelos profissionais de saúde em relação à gravidez na adolescência.

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CAPÍTULO II

ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ

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CAPÍTULO II

– ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ

2.1 A adolescência como construção coletiva

A adolescência, como categoria identitária, refere-se a modos peculiares de subjetivação que estão em constante mudança. Assim é impossível defini-la de forma estática, o que indica a existência de adolescências, no plural, caracterizadas pela interação do indivíduo no seu contexto histórico-cultural, marcado por determinadas características de gênero, classe social, religião, raça, entre outras. Nesse sentido, não se torna viável uma compreensão unívoca da adolescência, já que ela é vivenciada de modo peculiar ao levar-se em consideração a diversidade e pluralismo cultural do contexto social de cada sujeito que compartilha referências identitárias, linguagens, comportamentos e formas de socialização diversas (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).

Vale lembrar que ao longo da história, o período considerado como adolescência nem sempre existiu e também não era reconhecido como uma etapa específica do desenvolvimento humano. Havia distinção somente da puberdade como um período em que aconteciam transformações corporais típicas da biologia humana, de modo que as mudanças corporais da puberdade eram contempladas independentemente de um olhar acerca da sociedade, cultura ou período histórico (AVILA, 2005).

Martins et al. (2003) observam que é equivocada a noção de uma visão universal a respeito da adolescência, pois ela está inserida num momento histórico, cultural e social que constrói como também molda as diversas formas de vivenciar determinada etapa da vida, além de ter influência sobre as crenças, o gênero, o grupo social, a geração, entre outros fatores que perpassam a constituição do indivíduo.

Em épocas passadas da história ocidental, a adolescência não era apreciada como uma etapa especial do desenvolvimento e não havia uma construção cultural e social em torno dessa fase. Durante um bom tempo, as crianças mantiveram-se inseridas nas tarefas do trabalho desde os sete anos. Assim, elas não tinham como meta o estudo, e o modelo educativo existente não dividia o ensino de acordo com

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as diferenças de idade. Nesse sentido, a concepção de adolescência só começou a ser formada no final do século XVIII e se perpetuou no século XX (ARIÈS, 1981).

Ao passar do tempo, a família também sofreu transformações sócio-históricas em que o domínio da figura paterna que configurava o padrão hierárquico de obrigações familiares rigidamente determinadas foi aos poucos substituído por uma postura de padrão igualitário que preza o atendimento à individualidade e liberdade. Nessa perspectiva, o novo modelo familiar contribui para que os adolescentes sintam-se mais livres para vivenciar suas descobertas e experimentações, pois o diálogo entre os membros da família tomou o espaço do peso da autoridade familiar (PEIXOTO e CICCHELLI, 2000; SCAVONE, 2001; SARTI, 2007).

Vale ressaltar que a ideia do que atualmente é concebido como adolescência está relacionada aos novos modelos de grupo social que começaram a surgir, no fim do século XVIII, associados às aspirações modernas de individualidade e liberdade. Nesse sentido, o final do século XIX culminou com mudanças notáveis na cultura ocidental, associadas às demandas da sociedade industrializada, o que trouxe modificações em relação ao tempo de formação escolar, que incluiu uma maior permanência do indivíduo na escola. Assim, a maior duração do período escolar trouxe um espaçamento na firmação da denominada idade adulta e resultou no prolongamento do espaço entre a fase da infância e a etapa adulta. Então, formou-se a adolescência, uma etapa de deformou-senvolvimento com peculiaridade própria e formou-sem abarcar os encargos que abrangia a vida adulta, de modo que se consolidou como um momento de conflitos e transformações do indivíduo na passagem para tornar-se adulto (GROSSMAN, 1998; AVILA, 2005).

Somente no século XIX começou-se a distinguir a adolescência como um período em que o indivíduo passa a ter conflitos com ele mesmo e com as determinações sociais. Vale lembrar que esse século foi um período caracterizado pela consolidação dos Estados Nacionais, pelas transformações dos papéis sociais atribuídos às crianças e às mulheres e pelo progresso rápido da industrialização. Portanto, apenas nos séculos XIX e XX, surgem episódios culturais, sociais e demográficos que parecem ter corroborado com a compreensão da adolescência enquanto etapa característica do desenvolvimento humano (ARIÈS, 1981; KIMMEL e WEINER, 1998).

Desse modo, observa-se que a psicologia do adolescente é uma construção recente que analisa o fenômeno da adolescência por meio de teorias diversas, as

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quais apresentam suas peculiaridades. As teorias psicológicas acerca da adolescência apresentam entendimentos diferentes a respeito dessa fase. Há abordagens universalizantes e naturalistas que colaboram com a ideia de comportamento patológico da adolescência. Assim como, também existem perspectivas que compreende essa etapa implicada numa visão histórica e social. (AVILA 2005, STEINBERG e LERNER, 2004).

Nesse sentido, Sifuentes et al. (2007) referem que a adolescência, assim como as outras fases do ciclo vital, abrange aspectos psicológicos e sociais, cujas características entrelaçam-se ao contexto de interação ao qual se está inserido. Essa perspectiva é de grande valor para a compreensão do desenvolvimento humano e, particularmente, da adolescência.

Bock (2004) ressalta que a adolescência não é uma etapa típica do desenvolvimento que marca o período entre a infância e a vida adulta, pois as mudanças corporais do indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento, vêm acompanhadas de uma rede de sentidos e significações disseminadas no meio social. Dessa forma, a adolescência é vista como uma construção social que abrange as relações sociais e históricas que culminam com o aparecimento da adolescência na sociedade ocidental.

Diante do exposto, as relações sociais, os meios de comunicação e as teorias formuladas acerca da adolescência constroem modelos de juventude que interferem na maneira como essa fase é interpretada, assim como influenciam a realidade dos adolescentes. De tal modo, as redes de significações sociais intervêm na constituição da identidade do adolescente através da absorção das noções e padrões sociais (BOCK, 2004).

Vale salientar que o século XXI, devido ao crescimento da taxa de natalidade no Brasil, foi marcado por um amplo número de pessoas que estavam na faixa etária da adolescência. Nessa época, o panorama econômico, devido às crises sociais e problemas urbanos que o país enfrentava, propiciou dificuldades para os adolescentes encontrarem emprego, o que acarretou mudanças de valores sociais em torno da adolescência. (MATHEUS, 2003).

Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos

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valores sociais e diminuição das influências e autoridades tradicionalmente desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (VARGAS e NELSON, 2001; BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Diante disso, a adolescência, na atualidade, obteve o caráter de um momento crucial para o desenvolvimento do indivíduo que geralmente é visto, nessa etapa, como alguém que apresenta conflitos existenciais próprios de quem está vivenciando uma fase de indefinição de espaço no mundo social. Ao mesmo tempo, o adolescente torna-se um sujeito de direitos que está sob cobertura do estado, o qual mantém e formula leis que o protejam integralmente dentro de um entendimento que a adolescência é uma etapa crucial do desenvolvimento que apresenta determinadas peculiaridades (ESPINDULA e SANTOS, 2004; AVILA, 2005).

O olhar voltado ao adolescente enquanto sujeito protegido pelas leis governamentais passou a acontecer no Brasil desde 1900, porém o alcance do poder jurídico na proteção integral do adolescente se perpetua de forma diferenciada de acordo com a classe social e região geográfica do país. Assim, as populações mais carentes ainda são as menos contempladas com ações de proteção do governo. (TORRES et al., 2010; BUCHER-MALUSCHKE, 2007).

Diante do exposto, a adolescência não deve estar limitada à visão de um conjunto de fenômenos universais implicados no crescimento e desenvolvimento somático-mental, uma vez que as transformações pelas quais passam os adolescentes também resultam de processos inerentes aos contextos sociais (históricos, políticos e econômicos) nos quais esses indivíduos estão imersos (FERREIRA et al., 2007).

Conforme AVILA (2005) e MESQUITA (2008), ao estudar as nuances que cercam a adolescência apreende-se também o meio social e as diversas questões que a cercam. Por outro lado, as compreensões que permeiam a adolescência, a qual é um fenômeno construído coletivamente, sofrem variações de acordo com a cultura e sociedade. Assim, um olhar voltado para as interações sociais faz-se essencial para a compreensão dos fenômenos psicossociais que permeiam esse período da vida. Ao tomar a adolescência como ligada às influências sócio-históricas bem como aos sentidos que regem em torno da puberdade e dos processos fisiológicos que esta manifesta, o episódio da gravidez nessa fase da vida é assunto que ganha destaque no âmbito público.

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2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência

A sexualidade é um componente da condição humana e abrange um conceito vasto que ultrapassa a genitalidade, de modo que as diversas sociedades possuem valores culturais sobre as questões acerca da sexualidade e estas permeiam ao longo das diversas gerações. As ideias compartilhadas sobre a sexualidade estão presentes nos signos culturais que circulam e são reforçados pela mídia e práticas sociais. Nesse contexto, os meios de comunicação trazem diversas mensagens acerca dos valores que permeiam e direcionam a sexualidade humana, o que pode reforçar normas sobre determinados aspectos da vida sexual dos adolescentes (HENNIGEN e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).

Vale salientar que desde o nascimento, as pessoas são educadas sexualmente para aprenderem quais os comportamentos e atitudes são socialmente adequados, porém surgem atritos decorrentes das repressões às manifestações sexuais que fogem dos padrões sócio-históricos construídos. Na Grécia Antiga, por exemplo, as garotas costumavam casar entre 15 e 16 anos. Elas se preparavam fisicamente com exercícios e prática esportiva com a finalidade de obter disposição e saúde nas futuras tarefas domésticas e da maternidade. A puberdade era considerada uma fase de preparo para as atividades da fase adulta, que consistiam na maternidade para o sexo feminino (MAZEL, 1988; CATONNÉ, 1994; HENNIGEN e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).

Conforme Hercowitz (2002), a sexualidade traz uma importante influência para o desenvolvimento do indivíduo e sua inclusão no arcabouço social. Nesse sentido, alguns temas vêm se destacando quando se trata da sexualidade dos adolescentes, dentre os quais se pode destacar o avanço da epidemia do HIV/AIDS e o aumento da incidência de gravidez entre os mais jovens. Diante disso, a atenção dos profissionais de saúde torna-se relevante aos adolescentes no que se refere à vulnerabilidade e repercussões que perpassam a saúde sexual e reprodutiva desses jovens (CASTANHA et al., 2006; SANTOS et al., 2009).

De acordo com Mesquita (2008), a gestação na adolescência torna mais explícitas para a família as questões referentes à sexualidade do adolescente, a qual costuma ser negligenciada e ainda é considerada tabu no âmbito familiar. Dessa forma, quando a adolescente se torna mãe desperta repulsa por parte da sociedade, pois a maternidade nesse período é socialmente vista como um evento negativo que

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traz perda das oportunidades e “diversões” da vida juvenil. Nesse contexto, a gravidez adolescente é considerada um problema para a futura geração devido às responsabilidades que ela acarreta ao adolescente que não é considerado apto para prover os cuidados que requer a chegada de um bebê.

Conforme o exposto, a gestação na adolescência é permeada pelo estigma da negatividade que a coloca como empecilho para os adolescentes construírem um projeto de vida estável quando adultos. Entretanto, algumas pesquisas realizadas com público de camadas pobres da população constatam que a maternidade não condiz, para as mães adolescentes, numa perda ou descontinuidade dos seus projetos de vida. Desse modo, a gravidez muitas vezes aparece enquanto um valor de status social que não é assumida como um fato que impeça os planos para o futuro e o prosseguimento dos estudos para as adolescentes gestantes (PANTOJA, 2003; BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Vale ressaltar que a sexualidade do adolescente encontra-se menos vinculada ao matrimônio e mais destinada à autonomia, ganho de experiência e interação com os outros. Ter uma vida sexual é uma forma de o adolescente expressar sua autonomia perante os pais, assim é preciso cuidado ao depositar a falta de informação como fator primordial para a ocorrência da gravidez na adolescência, pois gerar um filho na adolescência pode ser a pretensão e escolha de alguns adolescentes. Dessa forma, faz-se essencial conhecer os contextos socioculturais que cercam o fenômeno da gravidez na adolescência. (CICCHELLI, 2001; BOZON, 2004; MESQUITA, 2008).

Nesse sentido, a vivência da sexualidade dos adolescentes, assim como os aspectos ligados à reprodução, devem ser percebidos dentro do contexto das transformações ocorridas, ao longo do tempo, na conjuntura intergeracional que englobam o conjunto das mudanças fruto da construção social que permeia a adolescência, a sexualidade, e a gestação na adolescência. Assim, a sexualidade do adolescente está atrelada às práticas sociais e representações de uma dada cultura (MESQUITA, 2008; BOZON, 2004).

Lima et al. (2004) ressaltam que para entender o fenômeno da gravidez na adolescência é preciso compreender um pouco da realidade dos atores sociais. No que se refere à complexa rede de inter-relações que configura a gravidez na adolescência, ganham destaque: a impulsividade, o imediatismo, os sentimentos de onipotência e indestrutibilidade, a idade cada vez mais precoce da menarca e da

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iniciação sexual, a falta de informação sobre concepção e contracepção, a baixa auto-estima das jovens, a aspiração à maturidade para concorrer em nível de igualdade com os pais e o fato da gravidez fazer parte do projeto de vida, na tentativa de alcançar autonomia econômica e emocional em relação à família de origem.

Apesar dos adultos geralmente perceberem a gravidez na adolescência como indesejada, muitas vezes a adolescente deseja, planeja e se frustra quando constata que a gravidez não ocorreu. Há que se ter uma atitude cuidadosa ao avaliar a gravidez na adolescência, pois um pré-julgamento pode interferir na escuta aos/às adolescentes e na qualidade da relação que se poderia estabelecer na escola ou outros espaços de convivência juvenil (PANTOJA, 2003; FOLLE e GEIB, 2004; RANGEL e QUEIROZ, 2008; GONTIJO e MEDEIROS, 2008).

As condições materiais da existência e os significados e expectativas que cercam a gravidez, torna-se para algumas adolescentes parte do projeto de vida, constituindo-se para outras em um evento não planejado, em uma surpresa desagradável que gera temores e conflitos ou acentua os já existentes. Desse modo, é preciso considerar o receio de assumir a gravidez diante dos familiares, do grupo de iguais e dos demais membros da rede de relações sociais e de enfrentar as novas responsabilidades trazidas por essa situação, que podem provocar mudanças profundas na vida cotidiana (RIBEIRO e UHLIG, 2003; RANGEL e QUEIROZ, 2008; GONTIJO e MEDEIROS, 2008).

Entre as mães adolescentes são mais frequentes o abandono da escola, o afastamento do grupo de amigos e das atividades próprias da idade e as limitações de oportunidade de emprego. Nessas circunstâncias, adquirem relevância o aumento na frequência de abortamentos provocados nesse grupo populacional, o início tardio de consultas pré-natal com número menor do que o esperado (RIBEIRO e UHLIG, 2003; FOLLE e GEIB, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; SILVA et al., 2009; VIEIRA et al., 2010).

Vale considerar que, na gravidez, independente da idade, a mulher passa por uma crise situacional decorrente da mudança de papel social, da necessidade de novas adaptações, e dos reajustes interpessoais e intrapsíquicos que interferem na sua identidade. Os diferentes padrões de relações afetivo-sexuais coexistem com a responsabilização da mulher na esfera da contracepção e as suas dificuldades para negociar o sexo seguro, quando não faz a opção pelo uso de métodos

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contraceptivos femininos. Além disso, na vivência da gravidez, a adolescente defronta-se com alterações corporais que afetam sua autoimagem e autoestima. (FELICIANO, 2001; FOLLE e GEIB, 2004; SILVA et al., 2009).

Porém, as práticas de saúde pública não estão voltadas para incluir os adolescentes no próprio cuidado em relação à sua saúde sexual e reprodutiva. De modo que o público adolescente acaba por não levar, aos serviços de saúde, seus questionamentos em relação à sexualidade com receio de não serem compreendidos e por medo de sofrer preconceitos e discriminações (BRASIL, 2006b).

Segundo Altmann (2009), o progresso da liberdade sexual aproximou os adolescentes das questões da sexualidade. Porém, a educação sexual ainda não preenche o espaço adequado em relação aos cuidados referentes à contracepção e responsabilização advinda da gravidez na adolescência, a qual é considerada nas últimas décadas fonte de problemas sociais, mesmo não sendo um fenômeno recente no panorama brasileiro. A gestação de adolescentes adquiriu a designação de problema social que demanda cuidados específicos dos poderes públicos e da sociedade de um modo geral. (HEILBORN et al., 2006).

2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social”

A gravidez na adolescência é exibida como um problema no andamento do adolescente e prende-se a um olhar de sobressalto e moralista. Porém, como já foi discutido anteriormente, ter filhos antes dos dezenove anos não designava uma questão de esfera e preocupação pública como ocorre na atualidade. Mas, o novo panorama sociocultural existente, que perpassa o trajeto para a vida adulta, torna-se “impróprio” para a maternidade da adolescente, pois ele é nutrido pelas diversas tecnologias de informação inovadoras, pela dispersão dos vínculos sociais, pela busca ao consumo, entre outros valores capitalistas (BRANDAO e HEILBORN, 2006; HEILBORN et al., 2006).

Dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de partos em adolescentes de 10 a 19 anos caiu 22,4% de 2005 a 2009. Na primeira metade da década passada, a redução foi de 15,6%. De 2000 a 2009, a maior taxa de queda anual ocorreu em 2009, quando foram realizados 444.056 partos em todo

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o País, 8,9% a menos que em 2008. E ao longo da década, a redução total foi de 34,6%. Já o Norte e o Nordeste apresentaram os índices de quedas de fecundidade mais altos em relação às outras regiões do país. Ao realizar-se uma análise da quantidade de partos registrados em Pernambuco, levando-se em consideração a faixa etária de 10 a 19 anos, observa-se que também houve uma queda no número de partos. Em 2000 foram 39.183, no ano de 2005 foram 32.981 e em 2009 foram registrados 26.419 partos (BRASIL, 2010).

Vale destacar que mesmo havendo uma queda na fecundidade em todo o Brasil, a gravidez de adolescentes em situação de vulnerabilidade social é apresentada de modo alarmante. Foi a partir dos anos 80 que se adicionaram discussões sobre as implicações geradas pela gravidez na adolescência na conjuntura social. Discute-se que o desdobramento da família monoparental chefiadas por mulheres provoca o adensamento da pobreza, pois contribui para a evasão escolar das adolescentes que engravidam e gera dificuldades para ingressar ou manter-se no mercado de trabalho, o que consequentemente contribui para a situação de marginalização social e prejuízo econômico. Nesse sentido, a idade socialmente considerada como ideal para uma pessoa ter filhos parece estar vinculada aos ideais a respeito do ingresso na profissão, da formação escolar e da vida sexual sem fins de reprodução (ALTMANN, 2007; HEILBORN et al., 2006).

De acordo com Altmann (2007) e Heilborn et al. (2006), o destaque social atribuído à gravidez na adolescência está atrelado às demandas sociais em torno da adolescência, da mulher e da maternidade. A adolescência é apreciada como uma época imprópria para engravidar porque se considera que a maternidade e a paternidade devem ocorrer no período em que os futuros pais da criança tenham estabilidade financeira e maturidade para criá-la adequadamente sem obstáculos para sua vida profissional e pessoal. Nessa perspectiva, utilizam-se os termos não planejada, precoce e indesejada para aludir à gravidez na adolescência, visto que há demandas sociais sobre como a adolescência deve ser vivida e, assim, consideram-na incompatível com a experiência da gravidez (UNBEHAUM e CAVASIN, 2006; FERRARI et al., 2008; SILVA e CAMARGO, 2008; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).

Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos

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valores sociais e diminuição das influências e autoridade tradicionalmente desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (BAJOS et al., 2002;

HEILBORN et al., 2006).

Vale ressaltar que as mudanças no modelo de fecundidade do público feminino do Brasil tiveram influências das transformações ocorridas no papel social ocupado pelas mulheres, o que trouxe novas possibilidades para os adolescentes, no que diz respeito à vida escolar e profissional. Assim, a preocupação social em torno da gravidez na adolescência sofreu influência das transformações ocorridas na compreensão do gênero que trouxe perspectivas sociais para os adolescentes da atualidade, principalmente os do sexo feminino (BRANDAO e HEILBORN, 2006; HELBORN et al., 2006).

A sociedade demanda que a mulher se programe e se prepare antes de ter seus filhos, o que decorre de uma expectativa social em relação ao papel da mulher e uma preocupação em não transformar a gravidez na adolescência num evento problemático. Nesse sentido, a gestação na adolescência é considerada como um empecilho social, principalmente no que concerne às classes populares. Essa gestação, de um modo geral, é vista pela sociedade como um acidente na trajetória do adolescente, um obstáculo para o ganho da autonomia, uma dificuldade na vida escolar e profissional, que podem contribuir para a manutenção da pobreza e marginalização social (ABRAMO e BRANCO, 2005; HEILBORN et al., 2006; MESQUITA, 2008; ALTMANN, 2009).

Desse modo, a gravidez na adolescência torna-se uma preocupação política, pois as adolescentes de comunidades pobres comumente cuidam dos seus filhos sem auxílio do pai da criança e provavelmente precisarão do apoio de políticas sociais para viver com dignidade. Nessa perspectiva, as adolescentes pobres necessitarão de maternidades e postos de saúde adequados que coloquem o planejamento familiar como prioridade. Vale ressaltar que o custo para inserir esses serviços de saúde nas populações carentes é baixo, ao comparar-se com as despesas geradas por gravidezes no período da adolescência (VARELLA, 2002;

ALTMANN, 2007; MESQUITA, 2008).

De maneira geral, a gravidez de adolescentes que pertencem a camadas populares acarreta modificações no estatuto social dos pais da criança, pois eles começam a formar outros arranjos sociais devido à chegada de um bebê, o que lhes confere um maior destaque nas suas comunidades e uma alteração na posição que

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mantinha com a sua família de origem. Os pais adolescentes, geralmente, almejam independência na construção da sua própria família e o episódio da gravidez na adolescência constitui, de forma simbólica, uma nova etapa que inclui ascensão no local onde vivem (BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Diante da complexa rede de construções discursivas acerca do tema da gravidez na adolescência encontra-se o profissional de saúde que lida com o aparecimento de gestantes adolescentes, ao mesmo tempo em que compartilham conhecimentos e compreensões sobre essa gravidez. Assim, sobrevém sobre esses profissionais uma responsabilidade em promover e orientar as questões da vida reprodutiva do adolescente, mas não livre das ideias e sentidos compartilhados acerca da temática (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).

Nesse sentido, há uma necessidade de organização da saúde pública para administrar os problemas decorrentes da gravidez na adolescência em populações mais pobres, pois quando uma adolescente engravida não existem somente questões individuais envolvidas, mas também demandas sociais que podem ser abarcadas no âmbito da saúde coletiva com um olhar voltado para as configurações dessa população (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).

O crescimento da fecundidade entre o público adolescente exige uma atenção adequada das políticas públicas, visto que pode constituir não apenas um rejuvenescimento definido da fecundidade, mas também uma deficiência na promoção do acesso a orientações e a métodos contraceptivos. Desse modo, os sistemas de atenção básica à saúde dos adolescentes exigem ajustes para acompanhar as transformações por que passam as práticas sexuais (BERQUÓ e CAVENAGUI, 2004; MESQUITA, 2008).

No que concerne à promoção da saúde do adolescente, destacam-se os assuntos referentes à saúde sexual e reprodutiva que vêm alcançando novas perspectivas no âmbito da saúde coletiva, ao partir do princípio que a prevenção da gestação na adolescência e das doenças sexualmente transmissíveis (DST) deve ser enfocada por ações coletivas que desmistifiquem o olhar voltado para responsabilização individual do adolescente pela sua saúde (BORGES et al., 2006; MESQUITA, 2008).

Diante do exposto, as Unidades de Saúde da Família são locais próprios para o desenvolvimento de orientações, intervenções e ações educativas para as adolescentes grávidas, apesar do contexto da saúde pública não se encontrar bem

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estruturado para lidar com as diversas demandas que advém da gravidez na adolescência (FERRARI et al., 2006; OLIVEIRA, et al., 2008).

2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde

O Ministério da Saúde observa que a idade materna inferior a 15 anos é um fator de risco gestacional (BRASIL, 2005). Na visão da saúde pública há mais riscos materno-infantis quando a gravidez ocorre entre 10 e 14 anos (COSTA e HEILBORN, 2006). Nesse contexto, as equipes de saúde das Unidades de Saúde da Família funcionam como uma importante fonte de apoio social no enfrentamento da gravidez na adolescência. Elas devem, dentre outras funções, compartilhar o conhecimento e ações que favoreçam a autonomia das adolescentes no cuidado com o bebê. Dessa forma, possuem um lugar de destaque na educação sexual e reprodutiva, ao incorporar a necessidade e a possibilidade de adotar uma atitude comunicativa que permita reforçar os vínculos de cooperação com os adolescentes (FELICIANO, 2001; FERRARI et al., 2006, OLIVEIRA, et al., 2008).

As Unidades de Saúde da Família (USFs) compõem o primeiro nível de assistência local, designado atenção básica, que oferece promoção e prevenção em saúde aos adolescentes e suas famílias. As USFs precisam estar vinculadas à rede de serviços de modo a garantir a referência e a contra-referência para os serviços de maior complexidade, de acordo com a condição de saúde de cada pessoa atendida. Elas configuram-se na atenção básica com equipes multiprofissionais formadas, no mínimo, por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS), podendo contar também com um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental (BRASIL, 2006c).

Os outros profissionais de saúde, como por exemplo, os psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas, podem ser agrupados a essa equipe mínima ou serem integrados a equipes de apoio dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs), conforme as possibilidades de cada local. Todas as equipes de Saúde da Família são responsáveis pelo acompanhamento de um determinado número de famílias, a depender da concentração de famílias no território, situadas em uma delimitada área geográfica.

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Vale destacar que o surgimento das equipes de profissionais das Unidades de Saúde da Família partiu do Programa Saúde da Família (PSF), conhecido atualmente como Estratégia de Saúde da Família (ESF), que foi uma proposta do governo federal, em 1994, para implementar a atenção primária nos municípios e oferecer assistência universal, integral, equânime, e contínua nas comunidades com acesso às residências da população através de visitas domiciliares (BRASIL, 2004).

Nesse sentido, a Estratégia de Saúde da Família enfoca a atenção à família a partir de intervenções que ultrapassam as práticas curativas com o intuito de permitir que as equipes de saúde tenham um olhar ampliado para o processo saúde-doença através da compreensão do contexto físico e social da população (RODRIGUESet al., 2008).

Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006c), a ESF pretende contribuir com um novo modelo de saúde por meio de ações integrais e contínuas de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos, saudáveis ou doentes, de todas as faixas etárias. Assim como visa reverter o modelo assistencial vigente, voltado para o atendimento hospitalar, práticas curativas e especializadas. Desse modo, a ESF propõe-se a estruturar serviços de saúde pautados num vínculo entre os profissionais de saúde e a comunidade, a fim de desenvolver ações intersetoriais que preconizem a qualidade de vida da população, de modo a democratizar o acesso aos serviços de saúde.

As alianças do sistema de saúde, preconizadas pela ESF, com os setores da educação, saneamento, transporte, entre outros implicam na quebra da dicotomia entre as práticas de saúde pública e a prática médica centrada no atendimento clínico, bem como reforça a aproximação entre as práticas assistenciais e educativas. Assim, a ESF traz uma nova configuração de trabalho na saúde, baseado na interdisciplinaridade e não só na multidisciplinaridade, de forma que a função do profissional de saúde é vincular-se às famílias da comunidade estabelecendo com ela uma comunicação horizontal. Essa nova organização dos sistemas de saúde requer profissionais de saúde capacitados para realizarem novas práticas fundamentadas na integralidade e visão holística do indivíduo, mediante um olhar voltado para o contexto social da comunidade e subjetividade do indivíduo (OLIVEIRA, 2006; RODRIGUESet al., 2008).

No que diz respeito aos adolescentes, o Ministério da Saúde, em 1989, organizou o Programa de Assistência Integral à Saúde do Adolescente (PROSAD), a

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fim de oferecer cuidados integrais à saúde do adolescente, destacando-se a atenção às mulheres diante dos riscos da gravidez na adolescência e suas implicações psicossociais, biológicas e econômicas. Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde determinou estratégias, objetivos e diretrizes do PROSAD com intuito de gerar e incentivar práticas de redução de riscos, promoção à saúde e reabilitação de adolescentes pautadas na atenção integral, interdisciplinar e multissetorial (BRASIL, 1991b; BRASIL, 1996).

Em 1993 houve a criação das Normas de Atenção à Saúde Integral do Adolescente, fundamentada nos princípios e diretrizes do SUS. Posteriormente, foi construída, em 2005, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens a partir de um processo de mobilização da sociedade em busca de uma política que abarcasse as necessidades de saúde e os anseios dos adolescentes e jovens. O objetivo dessa política foi gerar atenção integral à saúde de adolescentes e jovens, entre 10 a 24 anos, no campo da Política Nacional de Saúde, a fim de promover saúde, prevenir agravos e diminuir a morbimortalidade dessa faixa etária (RAPOSO, 2009; BRASIL, 2010).

Nesse sentido, a política exprime um novo olhar na atenção à saúde do adolescente, principalmente por considerar as características culturais e socioeconômicas da comunidade que os adolescentes fazem parte, assim como as necessidades específicas do adolescente mediante as questões relacionadas à raça, gênero, e religião (RAPOSO, 2009).

Apesar dos investimentos do Ministério da Saúde em instituir Programas de Atenção à Saúde Integral do Adolescente, o atendimento à saúde destinado ao público adolescente enfrenta diversos entraves, visto que as práticas cotidianas mostram dificuldades em estabelecer estratégias e ações pautadas numa visão holística e na abordagem sistêmica das necessidades desse grupo etário. As práticas de saúde, muitas vezes, não se mostram voltadas a incluir os aspectos psicossociais nos cuidados ao adolescente (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002; BRASIL, 2006b).

Traverso-Yépez e Pinheiro (2002) observam que há uma disposição em negligenciar o contexto social nas práticas de saúde voltadas aos adolescentes, como por exemplo, nas ações voltadas à gravidez na adolescência ou às doenças sexualmente transmissíveis, o que resulta em implementações de programas verticais voltados exclusivamente para a saúde reprodutiva do adolescente, sem

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levar em consideração as diversas variáveis sociais (raça, classe social, gênero, religião, entre outros) que influenciam no seu comportamento sexual.

Os programas de intervenção para o público adolescente mantêm atenção destinada à saúde reprodutiva sem a preocupação em construir ações intersetoriais e interfederativas que colaborem com estratégias de saúde integral destinadas a explorar o caráter multifacetado da saúde humana. Essa forma de conceber a saúde do adolescente é fruto de uma lógica que foi pautada no modelo biomédico, o qual contraria os preceitos legais do Sistema Único de Saúde (SUS), que se colocam como um desafio nas práticas dos profissionais de saúde, pois estas ainda permanecem com forte influência da visão clínica respaldada apenas nos aspectos orgânicos do adoecimento (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).

O Sistema Único de Saúde (SUS), nos seus princípios constitucionais, reconhece que o processo saúde-doença sofre, diretamente ou indiretamente, influências de determinantes econômicos, sociais e políticos. Desse modo, o SUS amplia a visão de saúde a partir da integração dos setores de saúde com os setores sociais e políticos, o que se tornou essencial para a garantia da qualidade de vida da população através da oferta de serviços acessíveis ao contexto de vida populacional (BRASIL, 2010).

No entanto, há um grande desafio a ser alcançado na organização das práticas de saúde, pois o processo de descentralização aproximou os serviços de saúde e a realidade social, administrativa e política de cada região, trazendo um maior diálogo entre diversos setores assistenciais, assim como, barreiras a serem superadas devido às dificuldades em cumprir de forma satisfatória os princípios e diretrizes do SUS (BRASIL, 2010).

Conforme Pinheiro e Luz (2003), a eficácia das práticas de saúde está diretamente relacionada com a atuação das terapêuticas e dos terapeutas, que permanece submetida aos limites institucionais de um determinado modelo de saúde, o qual é seguido, mantido e disseminado por diversas instituições ou corporações. Nesse sentido, para haver o estabelecimento de mudanças na organização das práticas de saúde, é preciso conhecer os interesses que regem a lógica vigente nesse contexto.

A racionalidade médica, por exemplo, surge como uma lógica dominante e busca priorizar ações curativas provenientes de saberes especializados e focados em intervenções farmacológicas para a resolutividade dos problemas de saúde.

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Desse modo, a integralidade não é uma prioridade da atenção à saúde proveniente do modelo biomédico. (PINHEIRO e LUZ, 2003).

Segundo Merhy (2007), a construção de um modelo de saúde cujo foco está no corpo biológico que adoece, foi elaborada ao longo do tempo nas sociedades ocidentais e reflete um campo de disputa de saberes em que se destacam modelos de normatização das práticas de saúde.

Entretanto, Pinheiro e Luz (2003) observam que para haver um alcance da complexidade das necessidades de saúde da população, é preciso ultrapassar os limites da objetividade do modelo biomédico e abranger a subjetividade dos indivíduos nas discussões acerca da organização das práticas de saúde, o que permitirá entender as configurações que perpassam as relações entre agente social e sociedade, visto que essa compreensão é essencial na dinâmica condutora das ações integrais em saúde.

Diante do que foi exposto, Mattos (2001) argumenta que há dificuldade em oferecer ações integrais em saúde também é parte de uma lógica de relações sociais utilitaristas que não oferecem abertura para dialogar com o outro nas práticas dos serviços de saúde, nos debates acerca da organização desses serviços e nas discussões sobre as políticas que os regem.

Vale destacar que os adolescentes do Brasil procuram pouco os serviços de saúde, o que é em parte explicado pelo fato das instituições de saúde refletirem relações de poder que não aproximam o adolescente do serviço e não correspondem às suas expectativas, como também não atraem essa faixa etária no sentido de prevenção e promoção de saúde (BRASIL, 2006b).

Dessa forma, Campos et. al (2004) trazem a importância de conceber, na organização das práticas de saúde, uma visão voltada para a subjetividade do sujeito e o seu contexto social, visto que cada indivíduo possui uma singularidade, a qual sofre influência das relações sociais estabelecidas. Assim, o profissional de saúde deve estar atento a todos esses fatores que exercem influência na saúde do sujeito.

Segundo Uchôa e Vidal (1994), os universos social e cultural desempenham uma grande influência sobre a adoção de comportamentos de prevenção ou de risco, como por exemplo, a não adesão de diversas populações a um determinado programa. Desse modo, a efetividade de um programa de saúde está relacionada à sua aceitação e adesão da população, o que depende da relação que o programa

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