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CRIANDO TEORIA DA ARQUITETURA: O

PAPEL DAS CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS

NO PROJETO AMBIENTAL (LIVRO)

(CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN1)

JON LANG

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CAPÍTULO 9

PROCESSOS

FUNDAMENTAIS DO

COMPOR TAMENTO

HUMANO

O trabalho dos projetistas ambientais é fortemente influenciado por seus conceitos de natureza humana. Esses conceitos variaram ao longo da história. Num certo momento da história desse conceito, as pessoas eram percebidas como dotadas de vontade própria e livre, em outro momento, como controladas por seus ambientes. Essa última visão parece ter sido central a determinadas manifestações da chamada

1 Capítulo 9 (Processos Fundamentais do Comportamento Humano) do livro

CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN, de JON LANG (Primeira edição: Van Nostrand Reinhold Company Inc., Nova York, 1987, pp. 84-99).

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arquitetura e urbanismo modernistas, e permanece solidamente associada a parte da teoria arquitetônica contemporânea. Ao longo de certo período, as pessoas são vistas como agentes racionais, em outros como agentes de pouca ou nenhuma racionalidade (Neisser, 1977). Essa diferença se reflete naquelas outras diferenças entre os modelos de primeira e de segunda geração relativos ao processo de projetação. As pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas nos campos da antropologia, da sociologia, da psicologia, em especial, reduziram boa parte do enorme mistério que há em torno do comportamento humano – mas muitas coisas permanecem sem pesquisa, sem o mesmo esclarecimento. Nossa compreensão, no presente, contudo, em muito tem contribuído para esclarecer pontos da interface entre o conhecimento das pessoas e o conhecimento do ambiente – e, daí, o conhecimento que podemos usar no projeto ambiental.

O ambiente é, potencialmente, rico em possibilidades de apropriação (affordances) pelo comportamento humano e por nossa experiência. Os processos básicos envolvidos nas interações entre as pessoas e seus ambientes são mostrados na Figura 9.1. A informação acerca do ambiente é obtida através de processos de percepção guiados por schemata (N.T.: schemata, plural de schema, em ciência cognitiva ou em psicologia, é uma espécie de estrutura mental que representa algum aspecto do ambiente ou externalidade; as pessoas formam e usam seus schemata para organizar seu conhecimento sobre o mundo, para absorver novos conhecimentos – como no caso dos arquétipos, dos papéis sociais, dos estereótipos, entre outros notáveis

schemata) acionados ou motivados por necessidades. Esses esquemas de ação

apresentam aspectos em parte inatos e em parte aprendidos. Eles são uma importante ligação entre a percepção e a cognição. Eles guiam não apenas os processos de percepção, mas também as respostas emocionais (afetividade) e as ações físicas (comportamento espacial) que, por sua vez, afetam os schemata na medida em que os objetivos ou desfechos dos comportamentos são explicitados e compreendidos. As ações e os sentimentos humanos são limitados pelas circunstâncias e potenciais de apropriação e ação dos ambientes natural e construído, pelo ambiente cultural, e pelos estados intra-psíquicos das pessoas envolvidas.

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A explicação desses processos de comportamento é, inevitavelmente, guiada por um conceito geral ou schema. Esse estudo tem sido chamado de “abordagem da percepção ambiental e do comportamento” (Patrícios, 1975). Trata-se de modelo que focaliza os indivíduos e os grupos de indivíduos. Esse foco pode ser contrastado com os modelos que lidam com fatores que trabalham com agregados de pessoas, como se fossem indivíduos. A abordagem aqui lida com os fatores subjacentes ao

comportamento na escala das edificações ou de frações / complexos urbanos, e espaços abertos, mas não em escalas mais amplas, regionais.

Figura 9.1 - Os Processos Fundamentais do Camportamento Humano (Fonte: Gibson, 1966). PERCEPÇÃO COGNIÇÃO E AFETO COMPORTAMENTO ESPACIAL RESPOSTA EMOCIONAL Schemata MOTIVAÇÕES E INTERESSES PERCEPÇÕES DOS RESULTADOS DO COMPORTAMENTO

POSSIBILIDADES (affordances)

DO AMBIENTE

Dentro da abordagem de “percepção e cognição”, encontramos diferentes teorias da percepção, da cognição e do comportamento espacial. Essas teorias, ainda que baseadas em pesquisas, são ainda altamente especulativas e não-testadas. É importante que o projetista as compreenda, de modo que as implicações que tais teorias têm para os trabalhos de projeto ambiental possam ser adequadamente compreendidas. Ao

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apresentarmos essas questões teóricas, devemos colocar a devida ênfase nos conhecimentos que os projetistas devem deter, no equacionamento do que realmente fazemos e do que não fazemos, para que não haja equívocos, para que possamos esclarecer a teoria positiva do projeto ambiental. A discussão que faremos a seguir se desenvolve desde a motivação até a percepção, passando pela cognição e afeto, até chegarmos ao comportamento espacial a ser submetido, em sua compreensão, às

diferenças individuais no comportamento.

MOTIVAÇÃO

A motivação é a força diretora a atuar sob o comportamento observado. O comportamento é direcionado para a satisfação de necessidades. Portanto, é importante que a teoria do projeto ambiental seja baseada em alguma conceituação das necessidades humanas. Várias dessas conceituações já foram propostas (como as de H. Murray, 1938; Maslow, 1943, 1954; Erikson, 1959; Fromm, 1950; Whiting & Child, 1953; A. Leighton, 1959). Todas elas tentaram explicar “as forças internas” – fisiológicas e psicológicas, conscientes e inconscientes – e os tipos de necessidades que sentimos, desde os mais básicos aos mais sofisticados. Dois dos modelos citados têm sido enfaticamente utilizados por projetistas ambientais, ao buscar definições sobre o que o ambiente construído deveria oferecer / permitir às pessoas: a escala PROPOSTA POR Alexander Leighton, de “sentimentos motivadores essenciais” (essential striving

sentiments), de 1959; e a “hierarquia de necessidades humanas” de Abrahan Maslow

(1943, 1954).

O modelo de Leighton tem sido considerado como um instrumento “de notável conveniência” para a compreensão da natureza do ambiente construído em relação às pessoas (Alexander, 1969; Perin, 1970). Leightom identifica as seguintes necessidades: (1) segurança física, (2) satisfação sexual, (3) a expressão de hostilidade, (4) a expressão de amor, (5) proteção do amor, (6) o reconhecimento do valor pessoal pelo grupo, (7) a expressão de espontaneidade, (8) a orientação social, em termos da posição do indivíduo e das demais pessoas na sociedade, (9) a atribuição e consolidação da posição de membro de um grupo definido, e (10) a pessoal pertinência a uma determinada ordem moral. Alguns dessas necessidades se relacionam ao que o ambiente permite / limita / oferece, de forma prática, instrumental (por exemplo, a segurança pessoal, ou a

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expressão de espontaneidade), assim como de forma simbólica (por exemplo, o reconhecimento, a condição de membro do grupo).

Essa lista, no entanto, é algo deselegante, desajeitada, sem um ordenamento criterioso. O modelo de Maslow, apesar de assemelhado ao de Leighton, é mais fácil de relacionar às questões propostas pelo projeto ambiental.

Maslow sugere que há uma hierarquia de necessidades, desde aquelas mais fortes até aquelas mais fracas – e as fortes teriam precedência sobre as fracas. Sua hierarquia do tipo “forte-fraco” é a seguinte: em primeiro lugar, as fortes necessidades fisiológicas, tais como a fome e a sede; em segundo lugar, as necessidades de segurança, de garantia de integridade física e de proteção contra agressões e agravos à saúde provocados por agente patológico; em terceiro lugar, as necessidades de amor e pertencimento (belonging), como a integração a grupos sociais, a formação de relações afetivas, receber e dar afeto; a seguir [quarto lugar] as necessidades de auto-estima, ou de ser visto de forma positiva, afirmativa, por si mesmo e pelos demais; em quinto lugar, as necessidades de realização, ou de desenvolver e aplicar plenamente as capacidades pessoais; a seguir, necessidades de conhecer e saber (cognição e experiência estética), como o desejo por conhecimento e por elegância, beleza e gozo, por si mesmos.

Essa classificação oferece um ponto de partida para a nossa reflexão acerca dos interesses do projeto ambiental, assim como acerca dos interesses do próprio projetista. O ambiente construído é essencial para satisfazer as necessidades fisiológicas das pessoas, tais como o abrigo; para as necessidades de segurança, física psicológica; para firmar o sentimento de pertencimento a um grupo e a um lugar, para a sua auto-estima, o que se alcança através de elementos simbólicos, mas também de determinados conjuntos de atividades; para a realização pessoal, através de liberdade de escolha; para as necessidades cognitivas, através do acesso a oportunidades de desenvolvimento pessoal; e para as necessidades estéticas, através da beleza formal. Boa parte das coisas que contribuem para a satisfação dessas necessidades, contudo, tem muito pouco a ver com o ambiente construído.

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Algumas necessidades têm natureza fisiológica, algumas têm natureza social ou psicológica, algumas são compostas por natureza. As necessidades mais básicas têm natureza fisiológica; a necessidade de pertencimento pode ter um componente fisiológico, mas é influenciado por fatores sociais e culturais, ao passo que a necessidade de realização pessoal (self-actualization), de satisfação de necessidades cognitivas e estéticas é especialmente psicológica (Moleski, 1978). O grau em que cada necessidade deve ser satisfeita varia pessoa a pessoa, dependendo do estilo e filosofia de vida individual, de sua personalidade, cultura e experiência – ou habituação, aquilo a que está mais acostumado em seu cotidiano. Nem todos buscam condições de vida fartamente confortáveis, sedentárias; algumas pessoas buscam satisfazer suas necessidades estéticas às custas de sua própria saúde e fisiologias. Alguns de nós sentimos-nos preparados para morrer pelo que acreditamos. As pessoas, no entanto, não agem por compreender o ambiente apenas em termos de suas necessidades; é certo que o que elas discernem no ambiente é amplamente baseado em suas necessidades, de forma associada ao que aprenderam a perceber ambientalmente.

PERCEPÇÃO

A percepção é parte do processo de obtenção de informação desde – e acerca de – o ambiente. É o domínio onde a cognição e a realidade se encontram (Neisser, 1977). É um processo ativo, orientado, organizado. É o domínio onde a cognição e a realidade se encontram (Neisser, 1977). Registram-se várias importantes tentativas para descrever e explicar porque nós percebemos o que percebemos. Essas tentativas influenciaram as teorias do projeto ambiental, sobretudo por seus esforços de desenvolvimento de filosofias estéticas. Os projetistas não entenderam, em todos os casos, o quanto havia de meras conjecturas, de interessantes fabulações, nessas teorias. O resultado tem sido o de derivarem conclusões de enorme força acerca dos propósitos da projetação ambiental, com base em evidências de enorme fragilidade.2

2 Esse parece ser o notável caso da professora Maria Elaine Kohlsdorf, da Universidade de

Brasília, que elaborou, desenvolveu e divulgou uma abordagem de apreensão da forma da cidade fortemente baseada em princípios da gestalt, apropriados de forma conjectural, com artesanal embasamento na abordagem científica da psicologia da percepção. Esse tipo de

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Há dois tipos básicos de teorias da percepção. Um primeiro tipo se concentra nos fenômenos de recepção sensorial, na experiência sensorial, e o outro tipo se concentra nos diversos sentidos como um sistema ativo e inter-relacionado. O primeiro conjunto tenta explicar como os dados dos sentidos, ou as supostas unidades de percepção, acabam por ser coordenados pelo cérebro. O empiricismo (Titchner, 1910; Helmholtz, 1925; Carr, 1935) sugere que ocorre por associação. O transacionalismo (Ames, 1960; Ittelson & Cantrel, 1954), que veio a influenciar os escritos sobre o tema do projeto ambiental, de autores como Walter Gropius (1947), Lewis Mumford (1952), e Christopher Moller (1968), enfatiza o papel da experiência. As teorias do nativismo e do

racionalismo (Cassirer, 1954; Piaget, 1955; Chomsky, 1957) enfatizam o papel das

idéias inatas e do desenvolvimento de inferências racionais a partir das sensações. O discurso de Christian Norberg-Schulz sobre o projeto (1964) foi muito influenciado por essa abordagem teórica da percepção. A teoria da Gestalt argumenta que a base para a integração é a organização espontânea dos dados sensoriais dentro do cérebro (Köhler, 1929; Koffka, 1935; Wertheimer, 1938; Ellis, 1939), ao passo que as teorias de

informação-processamento sugerem que no cérebro ocorrem processos computacionais.

A teoria da Gestalt influenciou a teoria do projeto (Kepes, 1944; Ushenko, 1953; de Sausmarez, 1964; Isaac, 1971; Arnheim, 1977) mais que qualquer outra teoria da percepção, enquanto que as teorias da informação-processamento são a base para os escritos sobre estética de autores como Abraham Moles (1966).

abordagem é aceita com facilidade por arquitetos que desejam instrumentos mais interpretativos, que lhes permitam usar conhecimentos científicos de forma mais amigável, sensível a determinadas visões do mundo não-científicas por definição – mas interpretativas por arte e ofício. Essa atitude é perfeitamente compreensível, entre arquitetos e artistas, mas temos graves problemas, em alguns casos, ao confundir da fantasia das interpretações – que nos estimulam e guiam no difícil processo decisório de projeto – e a ciência “dura”, produzida por pesquisas qualificadas. Diversos cursos universitários de urbanismo e programas de pós-graduação brasileiros adotam o método

Kohlsdorf, que chegou a ser recomendado por peritos do IPHAN. Seu pioneirismo no

casamento aplicativo da ciência psicológica com o desenho urbano é digno de reconhecimento. Ver KOHLSDORF, M. E. A apreensão da forma da cidade. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1996. (Nota do Tradutor).

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Em contraste com essas teorias, apresenta-se a abordagem ecológica de James Gibson (1966, 1979) e Eleanor Gibson (1969), que sugerem que a percepção é baseada em informação. Isso não pode ser confundido com os modelos cibernéticos de informação-processamento, da percepção. Os Gibsons reconhecem a realidade da experiência sensória, mas a entendem como um produto colateral, mais que os “blocos construtores da percepção”. Ulrich Neisser (1977) acrescentou à teoria básica o conceito de schema como uma “ligação entre a percepção e os processos mentais superiores, mais complexos”.

Enquanto a teoria da Gestalt influenciou fortemente as idéias dos projetistas ambientais durante o século 20, ela também foi seriamente desafiada em seu papel de explicadora do modo como o mundo é percebido, pelas teorias transacionalista e

ecológica. É importante que compreendamos bem essas três interpretações do processo

de percepção, pois elas exerceram enorme influência – e continuarão a influenciar o nosso pensamento acerca da natureza do projeto ambiental em todas as escalas.

A TEORIA DA GESTALT

A formulação feita pela Bauhaus do projeto básico foi considerada factual, dado que ela se apoiou pesadamente em (assim como foi corroborada por) a teoria da Gestalt. Artistas como Kandinski (Overy, 1969) e Kepes (1944) devem ter sido atraídos pela ênfase dada pela Teoria da Gestalt na percepção de padrões. A natureza especulativa de boa parte da Teoria da Gestalt não foi, contudo, claramente reconhecida. Para compreender a Teoria da Gestalt, sua poderosa atração sobre artistas e arquitetos, e o que essa teoria ainda nos oferece para que continuemos a criar uma teoria positiva do projeto ambiental, devemos entender os seus conceitos de forma, isomorfismo, e campo

de forças.

A forma é fundamental. É aquilo que permanece, que persiste como um elemento definido, fechado, estruturado, no mundo visual (Katz, 1950). “A figura sólida surge como algo apartado, sobre um fundo que se estende atrás dela, ininterruptamente, como se fosse um plano homogêneo (Köhler, 1929). Os psicólogos da Gestalt elaboraram uma lista de fatores que influenciam a percepção da forma. Sete desses

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de tensão.

ortantes, a depender do foco adotado.

fatores são importantes para a teoria do projeto ambiental, pois eles nos informam acerca de como elementos, unidades componentes do ambiente, são percebidas. Elas são as “leis” da proximidade, similaridade, fechamento, boa continuidade, totalidade, área

e simetria.

A Proximidade é a mais simples condição de organização (Hochberg, 1964). De acordo com a Teoria da Gestalt, os objetos que são próximos entre si tendem a serem agrupados visualmente; a aproximação parece oferecer a menor resistência à inter-conexão dos dados sensoriais. Essa lei é ilustrada na Figura 9-2a. As linhas e colunas são vistas com igual facilidade no desenho (i), mas no desenho (ii) o padrão visual é percebido como um conjunto de linhas.

A proximidade pode se associar ou ser sobreestada por outros fatores de organização. A Figura 9-2b ilustra a lei de Similaridade. Se os elementos apresentam qualidades similares – tamanho, textura, cor, e assim por diante – eles tendem a ser percebidos como unidades singulares, como na Figura 9-2b(i), distintamente da Figura 9-2b(ii). Na Figura 9-2c, uma situação conflituosa é exibida. Aqui é possível impor uma organização baseada na similaridade ou na proximidade. Os artistas descrevem esta situação como

tensa, ou

A lei do Fechamento (closure) coloca que as unidades óticas tendem a ser reconhecidas como “TODOS”, fechados (Köhler, 1929). Na Figura 9-2d, dois desses casos são ilustrados. O padrão do diagrama (i) tende a ser visto como um círculo completo, e a ver o diagrama (ii) como um triângulo. As aberturas das figuras parecem ser insignificantes – ou extremamente imp

(i)

(ii)

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Figura 9-2b - Lei da Similaridade

Figura 9-2c - Conflito entre as Leis

da Similaridade e da Proximidade

A lei da Boa Continuidade propõe que as pessoas tendem a perceber elementos contínuos em termos de unidades singelas. Na Figura 9-2e nós percebemos (i) como duas linhas que se cruzam, e não como dois “L”s. Nós percebemos (ii) como uma onda em forma de sino sobre um fundo de torres acasteladas, apesar de a lei da Totalidade (closedness) sugerir que nós devemos ver essas partes como um conjunto de formas fechadas. Nós vemos (iii) como uma representação bidimensional de uma superfície que se estende atrás de duas outras.

As outras leis de organização não são tão fundamentais quanto essas. A lei da Área estabelece que, quanto menor for uma área fechada, mais ela tende a ser vista como uma figura. A lei da Simetria estabelece que, quanto mais simétrica for uma área fechada, mais ela tende a ser vista como uma figura. A lei da Totalidade sugere que áreas com contornos fechados tendem a ser vistas como unidades, de uma forma mais universal que quando não têm contorno fechados. Assim, em 9-2f(i) a forma com um contorno fechado tende a ser vista como uma unidade; nós tendemos a ver a moldura em (ii) e a janela em (iii), ao passo que em 9-2g as áreas sombreadas parecem ser vistas como colunas escuras contra um fundo branco.

Todas essas leis são explicadas em termos de isomorfismo, um hipotético paralelo entre a forma dos processos neurológicos subjacentes e em ação, e a forma da experiência perceptual (Kohler, 1929). Rudolf Arnheim (1965) observa:

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“As forças que experimentamos ao olhar para objetos visuais (sic) podem ser consideradas como os equivalentes das forças fisiológicas que estão em atividade no centro de visão de nossos cérebros. Apesar de esses processos ocorrerem fisiologicamente no cérebro, eles são propriedades dos próprios objetos percebidos”.

Todas essas forças ocorrem em certo

campo, ou ambiente. As Forças de Campo,

como no conceito matemático, possuem uma área de aplicação, uma direção e uma magnitude. O estado do campo é o resultado de todas as forças que nele agem (Koffka, 1935). Todas essas forças são regidas pelo princípio da

Pragnanz. De acordo com esse princípio, as

percepções assumem as formas mais estáveis que as circunstâncias permitirem.

Em resumo, a teoria da Gestalt sugere que todas as nossas percepções são organizadas em figuras – este livro é uma figura que tem a mesa em que está eventualmente apoiado, e o ambiente em volta, como seu fundo. Além disso, os padrões de linhas, de planos e de objetos parecem portar determinadas qualidades dinâmicas – pois parecem mover-se, ou possuírem peso ou leveza, estarem excitados ou tristes. Isso é explicado pelo isomorfismo entre a experiência perceptual e os processos neurológicos humanos. Essa é a base para a teoria da Gestalt da expressão na arte e na

(i)

(ii)

Figura 9-2d - Lei do

Fechamento (Closure)

Figura 9-2e - Lei da

Boa Continuidade

(iii)

(i)

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ão dos padrões. Arnheim (1968) escreveu:

mos”.

arquitetura (Arnheim, 1949, 1968, 1977, Levi, 1974). De acordo com a teoria da Gestalt, não se trata de associações subjetivas com padrões visuais. Trata-se de algo que precede a percepç

“a teoria parece explicar porque, em nossa experiência pessoal, os aspectos dinâmicos ou mais expressivos se mostram como as qualidades mais poderosas e imediatas das coisas que percebe

Essa observação gera controvérsia, mas encontra-se implicitada – e freqüentemente explicitada – em boa parte da arte cubista e na ideologia da arquitetura moderna – em sua teoria normativa.

O conceito de isomorfismo tem sido fortemente questionado nos tempos recentes. R. L. Gregory (1966) observa que:

Figura 9-2e - Lei da

Boa Continuidade

(ii)

(i)

(iii)

“Não há evidência independente de tais processos cerebrais, assim como não há uma forma independente de descobrir suas propriedades. Se não há essa maneira de descobrir suas propriedades, então [tais processos] são altamente duvidosos”.

Há evidências experimentais que devem ser consideradas nesse assunto controverso (tais como dadas por Lashey, Chow e Semmes, 1951). As análises introspectivas dos teóricos do projeto também lançaram dúvidas sobre esse isomorfismo (Colquhoun, 1967). Teorias mais recentes da percepção sugerem que se trata de

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conceito desnecessário (Gibson, 1966, 1979). As descobertas podem ser explicadas em termos de associações que são aprendidas, entre padrões visuais e sensações.

O legado da teoria da Gestalt é de grande importância, tanto para a psicologia (Gibson, 1971) quanto para o projeto ambiental. Suas observações empíricas acerca das formas pelas quais nós ordenamos o ambiente ainda oferecem muito para as questões do projeto ambiental em que a unidade de concepção é importante. Essa teoria forma a base sobre a qual a abordagem ecológica para a percepção se desenvolveu (Gibson, 1950). Ao mesmo tempo, muitas questões sobre o processo de percepção têm sido mais satisfatoriamente respondidas por teorias mais recentes.

A TEORIA TRANSACIONAL DA PERCEPÇÃO

A teoria transacional da percepção enfatiza o papel da experiência na percepção, com foco na relação dinâmica entre a pessoa e o ambiente. A percepção é considerada como uma transação, na qual o ambiente, a pessoa, e a percepção dependem mutuamente um do outro. William Ittelson (1960) define o processo da seguinte forma:

“A percepção é a parte do processo vivo através do qual qualquer um de nós, desde o nosso particular ponto de vista, cria para si mesmo o mundo no qual... cada um de nós busca ganhar sua satisfação.”

Os fundamentos intelectuais dessa posição podem ser encontrados na filosofia transacional (Dewey & Bentley, 1949), na psicologia de Adelbert Ames (1960), e na sociologia de George Mead (1903). A teoria transacional faz uma série de suposições acerca dos processos de percepção, algumas das quais somente são sustentadas por essa visão teórica, e outras que são amplamente aceitas:

• A percepção é multimodal;

• A percepção não é um processo passivo, mas ativo;

• A percepção não pode ser explicada em termos comportamentos separados, centrados num percebedor e na coisa percebida;

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• A percepção não pode ser explicada em termos de respostas condicionadas em face de estímulos;

• A relação entre pessoa e ambiente é dinâmica;

• A imagem do ambiente que um observador apreende depende de experiências passadas, assim como de sua motivação presente e de suas atitudes;

• As experiências passadas são projetadas na situação presente, e com relação às necessidades da pessoa que a percebe;

• A percepção é governada pelas experiências e pré-disposições das pessoas percebedoras.

O resultado é que a informação que uma pessoa obtém do ambiente tem uma natureza probabilística, que é validada através da interação com o ambiente (Ittelson, 1960).

A informação obtida do ambiente tem propriedades simbólicas que lhe dão significado, e que reconhecem qualidades ambientais que evocam respostas emocionais, e que portam mensagens motivacionais que estimulam e dão perspectiva às necessidades. Um indivíduo também atribui valores e propriedades estéticas a essas informações e derivações. Dado que os seres humanos têm a necessidade de experienciar o ambiente como um padrão de relações significativas, as experiências passadas formam a base para essa compreensão das novas experiências.

As pessoas descrevem as suas experiências tanto de forma experiencial quanto de forma estrutural, de acordo com os estudos que seguem a abordagem transacional (Ittelson e cols., 1976). As descrições experienciais consistem em expressões de humores, de sentimentos, de auto-relatos. As descrições estruturais envolvem relatos do que é efetivamente percebido em termos da estrutura física ou social do mundo. Projetistas ambientais pensam no mundo em termos estruturais, num grau mais intenso do que as pessoas normalmente o fazem.

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Donald Appleyard, um arquiteto e planejador, assume o que é, essencialmente, uma visão transcional da percepção – apesar de suas idéias serem mais diretamente relacionadas àquelas de Jerome Bruner (1966) do que as de Ittelson (Appleyard, 1973). Ele organiza a informação perceptual em três categorias: operacional, aquelas necessárias às pessoas, para que atinjam seus objetivos; responsivas, aquelas que desencadeiam respostas em forma de ação; e as inferenciais, que formam as bases para os sistemas de codificação necessários para o reconhecimento dos elementos do mundo.

A importante contribuição da teoria transacional para a teoria do projeto ambiental é o reconhecimento de que a experiência modela aquilo que é eleito pelas pessoas para nelas focar sua atenção, em meio a inúmeras escolhas possíveis em nossos ambientes cotidianos, assim como modela os valores que associa a essas coisas. Qualquer teoria positiva da estética é obrigada a reconhecer essas ações. Isso também nos lembra que ao olharmos para o mundo como um ambiente o torna diferente de quando olhamos para o mundo como um objeto, apesar de nós podermos interagir produtivamente dessa forma. Há ainda área da perquisa no campo da percepção que podem enriquecer a teoria do projeto ambiental, e que não foram discutidas ou explicadas nem pela teoria da Gestalt nem pelo transacionismo. Devemos considerar uma teoria que coexiste com essas, ainda que seja parcialmente contraditória, no campo do estudo da percepção: a abordagem ecológica, que lida com alguns problemas especiais.

A TEORIA ECOLÓGICA DA PERCEPÇÃO

A abordagem ecológica da percepção é radical (Cutting, 1982). Ela contradiz o conceito da Gestalt de isomorfismo e a interpretação transacional do papel desempenhado pela experiência na percepção. Em vez de considerar os sentidos como canais condutores de sensações, essa teoria ecológica compreende os sentidos como sistemas perceptuais (Gibson, 1966). Esses sistemas são listados na tabela a seguir.

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TABELA: OS SENTIDOS CONSIDERADOS COMO SISTEMAS PERCEPTUAIS Sistema Modo de atenção Unidade de Recepção Anatomia do órgão Atividade do órgão Estímulos presentes Informação externa que é adquirida Sistema de Orientação (Básico) Orientação geral Receptores mecânicos Órgãos vestibu-lares Equilíbrio do corpo Forças de gravidade e aceleração Direção da força de gravidade Sistema Auditivo Audição Receptores mecânicos Órgãos cocleares no ouvido médio e em aurícula Orientação por sons, captura de vibrações Vibrações do ar ou do meio em contato com o ouvido Localização e tipo dos eventos vibratórios Sistema Háptico (Tato) Tato Receptores mecânicos e termore-ceptores A pele (NOTA 1) Exploração física do ambiente Deformação dos tecidos, forças sobre as juntas, esforço muscular passivo / ativo Contato com o solo e objetos, contato mecânico, forma dos objetos, estados da matéria (viscosidade, volatilidade) Sistema Olfato-Paladar Sentir os cheiros Receptores químicos Cavidade

nasal (nariz) Cheirar

Composição do meio e do ar Natureza das fontes de volatilidade Sentir os sabores Receptores químicos e mecânicos Cavidade oral (boca) Saborear / degustar Composição dos materiais ingeridos / degustados Valores bioquímicos e nutricionais

Sistema Visual Ver Fotorecep-tores Mecanismo ocular (Nota 2) Acomodação ótica, ajuste da pupila, fixação de foco, convergência, exploração. Variáveis estruturais da luz ambiente Tudo o que puder ser especificado pelas variáveis da estrutura ótica (NOTA 3)

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NOTA 1: (incluindo seus apêndices e aberturas), juntas (incluindo ligamentos), músculos (incluindo tendões).

NOTA 2: (olhos, com os músculos intrínsecos e exytrínsecos, inclusive os relacionados aos órgãos vestibulares, aos movimentos de cabeça, e aos movimentos de todo o corpo).

NOTA 3: (informações sobre os objetos, animais, movimentos, eventos e lugares).

Enquanto o reconhecimento de que a percepção é multimodal é universal (apesar de ser frequentemente negligenciada pelos projetistas ambientais), a hipótese de que a estrutura da luz, das ondas sonoras e outras fontes de percepção podem carrear informação acerca do mundo de forma direta, sem que a mente se torne responsável pela reconstrução de “dados sensoriais sem sentido” é controversa. Em termos da percepção visual, os Gibsons3 observaram que a iluminação do ambiente implica na formação de padrões de feixes de luz em função das faces e facetas dos objetos e terreno em volta, determinando o modo como convergirão para um ponto de observação. Quando uma pessoa se move nesse ambiente, esses padrões se alteram, previsivelmente. Os Gibsons argumentam que esses padrões possuem informação, que é coerentemente

3 NOTA DO TRADUTOR: Lang se refere ao casal de psicólogos Eleanor J. Gibson

(1910-2002) e James Jerome Gibson (1904-1979). A psicóloga Eleanor fez importantes contribuições ao estudo da percepção pelas crianças e recém-nascidos. Um seu experimento famoso é chamado “abismo virtual”, em que colocava crianças (também realizou o experimento com animais jovens) sobre um mesa que tinha um vidro muito resistente e transparente embutido, que permitia ver o chão. Quando as crianças eram postas a engatinhar sobre essa mesa (suas mães as chamavam na outra ponta) elas se recusavam imediatamente a cruzar o vidro, pois percebiam o “abismo” que havia abaixo. Isso demonstrou que tinham como detectar a profundidade desse abismo visual imediatamente, e o temiam. Para a estudiosa Eleanor, isso demonstrou que a percepção é um processo adaptativo, que tornou possível a sobrevivência de espécies como a nossa. Como ela também escreveu, Nós percebemos para que possamos aprender, assim como aprendemos a

perceber. James Gibson, seu marido, foi um dos mais importantes psicólogos do século 20,

no campo da percepção visual. Foi um importante crítico do behaviorismo numa area antes dominada por essa abordagem, que foi rejeitada em trabalhos como “The Perception of The Visual World’, de 1950. Entre suas idéias seminais estava a de que os animais “viam por amostragem” de aspectos do ambiente em que estavam. Ele também foi responsável pela criação do neologismo AFFORDANCE, que se refere às oportunidades ou possibilidades de ação proporcionadas pelo ambiente, pelos objetos que nele se encontram, por um aspecto particular dele.

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alterada em todas as suas transformações. Não importa o nível ou intensidade de iluminação considerada, ainda que em níveis muito fracos, detalhes dessas faces dos objetos do mundo físico desapareçam ou se percam.

As pessoas exploram o ambiente e, para perceber seus detalhes, movem suas cabeças, seus olhos, seus corpos. Todos nós aprimoramos, com o tempo, essa habilidade exploratória, e nos tornamos cada vez mais aptos à identificação de sutis detalhes do mundo, e na articulação de relações amplas, mais complexas e abrangentes (Gibson & Gibson, 1955). Com a experiência de vida, uma pessoa aprende a dar a devida atenção a detalhes do mundo que, previamente, não atentava. Do mesmo modo, qualquer ênfase normativa que se dê ao processo de projetação ambiental, também atrairá a atenção seletiva, mais sobre determinadas variáveis que sobre outras.

De acordo com esse modelo, o mundo consiste em superfícies cujos ângulos de observação e posicionamento variam do longitudinal ao transversal, do vertical ao horizontal – ver a Figura 9-3. A textura dos elementos horizontais de superfície apresenta padrões variáveis, de intensificação, com a distância do observador. A habilidade de reconhecimento esse sinal fundamental para a percepção da profundidade parece ser inata (E. Gibson e Walk, 1960) e não é aprendida através de transações com o ambiente. Os arquitetos, ao longo do tempo, propositalmente manipularam esses gradientes de texturas para criar ilusões de profundidade. Essa manipulação era especialmente empregada pelos arquitetos renascentistas. O pano de fundo permanente (que era usado, caso outros panos de fundo não fossem empregados) no Teatro Olímpico, em Vicenza, por Palladio, é um exemplo dessa manipulação. Palladio alcançou uma ilusão de grande profundidade em um espaço muito limitado.

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ÂNGULO de 15 X 7º

Figura 9-3

canto V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 H7 H6 H5 H4 H3 H2 H1 H7 H6 H5 H4 H3 H2 H1 De for m aç õe s n o pl an o Ve rti cal ( as d ife re nç as n as a ltu ra s dos horizonte s sã o m ais h o m o gê ne as ) D efo rmaçõ es n o pl an o Hor izon tal (a s difer en ça s n as di st ân ci as dos h o rizon tes sã o mais hetero gêneas) ca nt o

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De particular importância na percepção da estrutura do ambiente, tanto artificial quanto natural, é o reconhecimento de que algumas superfícies podem ocultar outras superfícies (Figura 9-4).

OCLUSÃO DE SUPERFÍCIES DADO UM PONTO DE VISTA NO AMBIENTE

Figura 9-4

Mesmo quando consideramos a ampla visão que temos de um mundo perfeitamente esférico, quando podemos ficar sobre um plano sem qualquer irregularidade imediata, temos necessariamente um horizonte a cortar o mundo em dois. A parte do mundo oculta por uma superfície, por um objeto qualquer, diante de nós, muda, na medida em que o ponto de visão muda (bem, há notável exceção dada pela situação em que o observador está em um cubículo totalmente fechado, sem janelas, quanto todo o mundo exterior está eclipsado por essas paredes). Quando uma pessoa passa através de um dado ambiente, pode-se dizer que vê esse ambiente cena-a-cena. Isso ocorre de forma saliente quando nos movimentamos de um compartimento para outro, em uma edificação, assim como na aproximação de uma montanha, ou quando viramos uma esquina nas ruas de nossa cidade. O autor Rex Martiessen (1956) faz análises da arquitetura grega nesses termos, e Philip Thiel (1961), Gordon Cullen (1962) e Edmund Bacon (1974) oferecem muitos exemplos desse fenômeno na escala urbana, e enfatizam sua importância na experiência estética. Boa parte do trabalho do paisagista Lawrence Halprin reflete uma cuidadosa consideração desse conceito no

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projeto (Halprin, 1965). A análise psicológica do papel que o movimento tem para a nossa experiência ambiental é uma das maiores contribuições dos Gibsons para a teoria da percepção (Gibson, 1950, 1966, 1979).

Outra importante contribuição tanto à psicologia ambiental quanto à teoria do projeto ambiental já foi preliminarmente apresentada. Trata-se do conceito de

Affordance4. A habilidade para perceber algumas das affordances do ambiente parece ser inata ou mesmo função do amadurecimento psicológico das pessoas. Outras

affordances são aprendidas pela experiência, ou por se tornarem objeto de nosso

interesse a partir de certo momento. Gibson (1979) observa:

“O observador humano aprende a detectar o valor ou sentido das coisas, percebendo seus distintos aspectos, categorizando-os e subcategorizando-os, evidenciando suas similaridades e diferenças, e mesmo estudando cada uma delas por pura curiosidade, sem a intenção de aprender imediatamente o que fazer com isso”.

Para detectar o significado, um observador não deve se sujeitar a cada variável contida no arranjo ótico. A atenção que se dá às coisas é seletiva. As pessoas atentam para aquilo que conhecem, para aquilo que as motiva à tentativa de reconhecimento. Tudo isso depende de suas experiências prévias.

4 NOTA DO TRADUTOR: A palavra AFFORDANCE é um neologismo criado por

James Gibson. Existe a forma “affordability” na língua inglesa corrente, derivada do verbo “to afford”, que significa (1) ter os meios financeiros para custear algo, poder pagar por algo, (2) poder economizar, poupar, reservar, (3) ser capaz de fazer ou suportar algo, sem sofrer desvantagem ou risco considerável, (4) tornar acessível, alcançável, possível, factível. No sentido usado por Gibson e seguido por Lang, “affordance” significa (a) os potenciais de uso, apropriação ou significação dos objetos e situações ambientais concretas, (b) variedades de uso efetivo de um aspecto físico do ambiente, inclusive aquelas não autorizadas, não ortodoxas, não esperadas. Tal como com o construto de behavior settings, essa expressão não é passível de tradução tal que mantenha a sua força, originalidade, significado original. Não traduzir é amaldiçoar o não-tradutor, por vezes, mas nesses dois casos (aos quais se junta o construto do SELF) a tensão gerada parece ser favorável à ampliação de nossa compreensão. Nesse caso, a palavra não tem gênero, portanto não é errado atribuir o feminino nesta tradução.

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As ligações entre os processos de percepção e os processo de cognição são pouco claras nessa abordagem da teoria da percepção. O que se passa na cabeça do observador? O que guia a percepção? Como vemos o que vemos? O autor Ulrich Neisser (1977) acredita que as estruturas cognitivas cruciais para a percepção são

schemata antecipatórios5. As pessoas somente podem perceber aquilo que sabem como perceber, como encontrar, em meio aos estímulos do mundo. O processo de busca é guiado por schemata, alguns dos quais são inatos e outros são desenvolvidos por aprendizado. Uma criança recém-nascida se volta para a origem de um som que chama a sua atenção6. Mas não temos dúvidas de que temos de empregar um bom esforço para discernir as diferenças entre vinhos – e certamente um esforço ainda maior precisa ser empregado para que possamos discernir as diferenças entre as filosofias estéticas da arquitetura. Um schema direciona e organiza a nossa exploração do mundo; as experiências daí advindas modificam os nossos schemata. Esse processo envolve aprendizado, um processo cognitivo básico.

CONCLUSÃO QUANTO À DISCUSSÃO DA PERCEPÇÃO

A coexistência de teorias contraditórias acerca da percepção mostra o caráter conjectural de nossa atual compreensão dos processos de percepção. Há, apesar disso, um bom número de pontos em que há concordância. A percepção é multimodal; o movimento tem um papel de grande importância na percepção do ambiente; nós

5 NOTA DO TRADUTOR: A palavra Schema é um outro construto que não traduziremos,

por respeito ao modo como é usado na literatura, que usa a forma latinizada, mas cuja origem é grega. Schemata é forma plural de Schema. Significa várias coisas, mas sempre com os sentidos de ser estrutura mental de representação / explicação / projeto do mundo. Temos esquemas relacionados a papéis comportamentais, a percepções, a cognições. No sentido usado por Lang, que se refere ao autor Neisser, schemata são os nossos algoritmos mentais que nos levam a perceber formas ou a criar padrões de reconhecimento capazes de processar os dados sensoriais, transformando-os em informação que podemos pensar.

6 NOTA DO TRADUTOR: “Chamar a atenção” pode ser um bom título provisório para

o esquema que temos de “não deixar passar em branco um ruído, pois ele pode representar um perigo, pode avisar da movimentação ou de atividade próxima, pode ser uma oportunidade de contato”. Como temos essa sucinta “teoria” sobre ruídos nessa primeira infância, desatamos comportamentos que modelam a nossa atenção e outras ações, como a de nos voltarmos para a fonte do ruído, criando um modelo de reação que é mental em sua forma.

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aprendemos a diferenciar os detalhes mais específicos e a reconhecer as categorias mais amplas dos fenômenos ambientais, na medida em que os experienciamos e testamos essas categorizações; as leis da Gestalt podem não ser as bases da percepção, mas elas parecem bem representar as formas pelas quais nós ordenamos a nossa experiência ambiental; os conceitos gestaltistas de forças de campo e de campos de forças, assim como de isomorfismo e, daí, os conceitos arquiteturais que partilhamos, de “universalidade da expressividade” das linhas e planos ficam evidentemente sujeitos a um sério questionamento; a maneira com que olhamos para o ambiente em que vivemos depende de nossos propósitos e de nossa experiência de vida. Acima disso tudo, a premissa de que a percepção é amplamente – ou completamente – determinada pelas características dos estímulos externos é duvidosa. Esses fatores citados devem ser levados em consideração quando desenvolvermos teorias positivas acerca da interface pessoa-ambiente, assim como teorias positivas da estética.

COGNIÇÃO E AFETO

A Psicologia Cognitiva estuda a aquisição, a organização e a retenção – ou, digamos, a armazenagem – de conhecimentos. Esse campo de estudos enfatiza as questões do pensamento, do aprendizado, da memória, do sentimento, do desenvolvimento mental. O afeto relaciona-se à emoção e diz respeito às coisas de que gostamos e de que não gostamos. Isso, por sua vez, envolve uma compreensão dos valores e do processo de formação de atitudes das pessoas. Uma compreensão dos processos de cognição e afeto pode trazer importantes contribuições para a compreensão da estética ambiental e das escolhas que as pessoas podem fazer no uso do ambiente.

Desde a Primeira Guerra Mundial, o estudo da cognição foi dominado pelas escolas de psicologia comportamentalista e psicanalítica. Esta última enfatiza a mente subconsciente, enquanto a primeira enfatiza o impacto dos padrões de reforço no aprendizado. Recentemente, os modelos de processamento de informação relacionados à cognição se tornaram proeminentes. Nenhum deles explica e engloba plenamente as razões das ações das pessoas, e de suas recíprocas interações. As respostas às várias questões que um projetista ambiental deve fazer, e faz, são, ainda, essencialmente especulativas. Como as pessoas compreendem o ambiente? Como as pessoas aprendem

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os significados dos fenômenos ambientais, e qualificam a sua importância? Como se desenvolvem, em nós, nossas preferências e aversões com relações a aspectos do ambiente? Por que lembramos de alguns lugares – e de seus detalhes – melhor, mais intensamente, do que de outros? Essas são questões que envolvem os processos básicos de aprendizado e de recordação.

APRENDIZADO E MEMÓRIA

O comportamento humano é altamente plástico. Tão marcante é essa plasticidade, que não faltam exemplos do “esquecimento” demonstrado por arquitetos, urbanistas, paisagistas, designers, entre outros, quanto aos limites da própria adaptabilidade humana. Efetivamente, as pessoas têm e demonstram ter uma grande capacidade de se adaptarem aos novos ambientes construídos, a descobrir suas possibilidades de apropriação, suas affordances, assim como de adaptar os ambientes construídos às suas necessidades, e de aprender / elaborar novos valores estéticos. Os processos centrais a essa poderosa capacidade adaptativa são: o aprendizado, a memória e a generalização (generalization).

De acordo com os comportamentalistas (por exemplo, ver Skinner, 1938, 1953), o aprendizado ocorre quando um indivíduo associa uma nova resposta a um determinado estímulo, resultando daí uma mudança permanente no comportamento. Isso ocorre quando o evento que se segue à resposta é positivo, como, digamos, a aprovação dos pais por uma ação do filho. A punição, por outro lado, concorre para extinguir aquelas respostas não desejadas. Além disso, outros psicólogos propõem que as pessoas aprendem não só por essa modelação exterior do comportamento, mas por sua satisfação subjetiva, também.

Aquilo que foi assim aprendido pode não se manifestar no comportamento evidenciado (Manis, 1964). Assim, o princípio comportamentalista de reforço parece ser primariamente relacionado com o desempenho, e não com o aprendizado. O que aprendemos, contudo, parece envolver algum conhecimento das conseqüências do nosso próprio comportamento, de dos reforços que se seguem, sejam internos, sejam externos. Isso se aplica às atitudes ambientais, assim como aos padrões de atividades. Essas

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atitudes afetam o nosso comportamento futuro. Algumas coisas, no entanto, são esquecidas, enquanto outras perduram na memória.

Relembrar e esquecer são coisas seriamente consideradas no plano da vida cotidiana, na prática de todas as esferas da existência humana. A maneira como usamos as nossas cidades dependem parcialmente do modo como suas estruturas são relembradas desde as visitas ou experiências vividas (Lynch, 1960; Appleyard, 1969; Passini, 1984). As pessoas tendem a esquecer as coisas ao longo do tempo – mas o tempo, por si mesmo, não causa o esquecimento. Algumas coisas são esquecidas com maior facilidade, outras são relembradas mais facilmente. A razão de esquecimento das coisas depende de sua importância para nós, o quão bem organizadas e bem categorizadas (e observe-se que as leis da Gestalt, de organização, se aplicam a essa assertiva sobre o ambiente construído), e quão “a-normais” parecem ser. Por exemplo, como observa Lynch (1960), os marcos visuais de uma cidade são fenômenos visuais “desviantes” em relação à sua paisagem ordinária.

CATEGORIZAÇÃO E GENERALIZAÇÃO

Uma variedade de estudos tem demonstrado a maneira pela qual nós categorizamos e denominamos as coisas pode reforçar ou distorcer a nossa memória. Isso é particularmente verdadeiro se houver alguma ambigüidade no objeto a que nos referimos. Por exemplo, nós desenvolvemos categorizações paras os projetistas ambientais (nós os chamamos de arquitetos, paisagistas, urbanistas, planejadores

urbanos, etc.), assim como sub-categorizações (modernistas, pós-modernistas, brutalistas, metabolistas, comunitaristas, etc.), com base em determinadas

“comunalidades” que observamos em seu trabalho. Um projetista pode ser classificado em uma ou outra dimensão de seu trabalho, mas essa tentativa pode representar uma série incompreensão do conjunto de seu trabalho. Isso pode acarretar o enviesamento das percepções futuras, das classificações a serem empreendidas, de seu trabalho.

A habilidade de aprender como as coisas se relacionam em categorias, e de como usar categorias, é central para a existência humana. Essa habilidade depende de processos cognitivos de generalização. Sem a habilidade de generalizar desde as experiências passadas, as pessoas não se comportariam com se comportam. Não

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podemos esquecer que, eventualmente, generalizações incorretas levam a erros no comportamento.

Há dois tipos básicos de generalização: a generalização orientada por estímulo, na qual as mesmas respostas são dadas para uma variedade de objetos ou ambientes ou comportamentos; e a generalização orientada por resposta, na qual diferentes respostas são dadas para uma mesma situação. As pessoas respondem de forma excitada, vibrante, amistosa ou positivamente interessada a uma grande variedade de ambientes: cenas naturais, determinados edifícios, determinadas organizações espaciais envolvendo objetos, mobiliário, planos divisórios, planos de fundo, etc.. Esse é um exemplo de generalização orientada pelo estimulo. Ao mesmo tempo, as pessoas aprendem a responder de diferentes maneiras às mesmas características ou possibilidades de apropriação (affordances) do ambiente. Essa resposta pode ser devida a variáveis contextuais, ao humor da pessoa, ou ao fato de a pessoa ter diferentes motivações ao mesmo tempo, ou em diferentes momentos no tempo. A teoria do projeto ambiental deve reconhecer que o comportamento humano – aberto, explícito, ou emocional, menos explícito – não pode ser explicado simplesmente em termos do ambiente fenomênico, apesar de muitos dos pressupostos que os projetistas assumem, incluindo-se nisso as ingênuas crenças no determinismo arquitetônico, são baincluindo-seados nessa visão [fenomênica, do ambiente]. O modo pelo qual as pessoas respondem aos padrões do ambiente depende de como elas categorizaram esse ambiente e seus elementos, das associações que elas construíram ao longo do tempo, e dos reforços e confirmações que elas receberam.

Boa parte de nosso comportamento é vinculado à cultura. Esse vínculo depende do modo como fomos socializados a acatar ou rejeitar determinados padrões ambientais, e o sucesso que obtivemos no passado ao lidarmos com esses padrões. O processo de educação de projetistas ambientais socializa os aprendizes de modo que absorvam e utilizem certos valores. Com freqüência, esses valores se desviam, ou não coincidem, com aqueles valores que essas pessoas mantinham e empregavam antes de sua formação profissional. Essa mudança envolve o desenvolvimento de novos esquemas que buscam criar novas maneiras de explorar e de lidar com o mundo.

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SCHEMATA

Schemata7 nos oferecem algoritmos para a percepção, para o aprendizado e para o comportamento. Nós não sabemos o que, analogicamente, um schema pode ser compreendido – ou traduzido – em termos biológicos. Nós pressupomos sua existência apenas por ser uma maneira consistente de compreender padrões fundamentais do aprendizado e do comportamento. A natureza conjectural do conceito de schema fica bem clara desde a definição dada por Ulrich Neisser:

“Um schema ... é interno ao percebedor, e modificável pela experiência, e ainda específico, de certo modo, à coisa percebida. O

schema aceita informação adicional ... e é transformado ou alterado

por essa informação: o schema direciona as ações da pessoa, suas atividades exploratórias [do ambiente], atividades que tornam mais informação ao alcance da pessoa, o que faz com que o schema em uso seja novamente modificado” (Neisser, 1977).

Schemata podem ser considerados como planos de ação, como fórmulas ou

roteiros utilizados para o alcance de determinados objetivos. Schemata complexos são formados de schemata simples, articulados de forma especialmente “funcional”. Isso explica nossas ações, como as planejamos, como planejamos nossos movimentos no mundo, nossas relações com as outras pessoas – e como avaliamos e apreciamos tudo isso, ao mesmo tempo. Se os schemata que se mostram alternativos a uma determinada situação são compatíveis entre si, eles se reforçarão. Se não são, um deles preponderará. Os schemata que nós utilizamos num determinado momento oferecem possibilidades para o desenvolvimento de determinados atos, segundo determinados enredos, parâmetros, limites; contudo, os cursos de ação que efetivamente ocorrerão são determinados pelas interações com o ambiente. A experiência das pessoas influencia

7 N.T.: Schemata é palavra latina (de origem grega), forma plural de schema. Ver Nota de

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diretamente o que elas aprendem, o que esquecem, assim como modificam os significados dos elementos presentes no ambiente, que o constituem. Isso nos leva a crer que qualquer teoria da estética deve reconhecer a relatividade da experiência individual com respeito às qualidades do ambiente.

As imagens que as pessoas têm do ambiente são também um tipo de schema. Essas imagens podem ser compreendidas como estruturas icônicas (mapas cognitivos), tal como foi seminalmente discutido por Kevin Lynch na obra A Imagem da Cidade (1960), ou como imagens associativas (ou, mais apropriadamente, como significados simbólicos), como foi discutido por Anselm Strauss, na obra Images of the American

City (1961).

SIGNIFICADO

A questão do significado é fundamental para a teoria estética. O confuso estado da literatura relacionada à teoria do projeto e à teoria estética reflete bem a confusão que reina na literatura da ciência da psicologia sobre o mesmo assunto. Há uma diversidade de níveis de significado, e uma diversidade também considerável de abordagens acerca desse tópico. As teorias empiricistas propõem que o significado deve ser atribuído aos eventos após o registro que o percebedor faz de sua estrutura. As teorias

transacionalistas acreditam que o significado é dado no momento em que há a

percepção e, instantaneamente, ela é interrompida pela experiência passada detida pelo indivíduo, conferindo à percepção um determinado significado. A análise introspectiva sugere que os significados são dados a priori, antecipadamente. A teoria da Gestalt propõe que os significados expressivos de um determinado nível são função da natureza geométrica do ambiente. Os psicanalistas postulam que um componente inconsciente da mente, no qual as memórias são depositadas é passivo de estímulo, ou de “despertar”, acordado pela psique. Freud postulava um inconsciente individual, ao qual Jung adicionou, que continha determinados “nodos de energia” atemporais, que denominava arquétipos, e com a capacidade de evocar imagens, idéias e comportamentos. Os símbolos – inclusive os significados simbólicos do ambiente construído, ofereciam o meio pelo qual os arquétipos se manifestariam. O mais básico dos arquétipos é o self, o centro interior de nosso ser, nossa alma, nossa individualidade. A casa em que a pessoa

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habita é símbolo do self, em especial (Cooper, 1974). A abordagem ecológica da percepção propõe que todos os usos potenciais e, presumidamente, os significados atribuídos a um objeto são direta e visualmente percebidos por nosso sistema de visão, assim como pela estrutura de informações não-visuais que podem ser obtidas por outros sistemas de percepção. As pessoas devem saber – ou aprender, mais apropriadamente – o que reconhecer. Também se pode dizer que a percepção de significados depende crucialmente de determinados schemata.

Há várias classificações dos significados. Gibson (1950) criou um polêmica diferenciação em seis níveis: em primeiro lugar, o concreto-primitivo; em segundo lugar, os significados de uso; em terceiro lugar, os significados instrumentais e mecanicistas; em quarto lugar, os significados emocionais e de valoração das coisas; em quinto lugar, os signos; em sexto lugar, os símbolos. O arquiteto Robert Herschberger (1974) apresenta uma listagem distinta, baseada em uma teoria mediacional da cognição, assemelhada à de Ulrich Neisser. Mostramos isso diagramaticamente na figura 9-5. Nessa visão, o desenvolvimento do significado é um processo de duas etapas.

Herschberger identifica cinco níveis de significado, alguns dos quais correspondentes aos níveis de Gibson. O primeiro deles é o nível do Significado de

Apresentação (Presentational), que envolve a percepção da forma e da configuração

(Shape and Form), que é, grosseiramente, assemelhado ao “primeiro nível” proposto por Gibson; o segundo nível é o do Significado de Referenciamento (que é, por sua vez, assemelhado ao “sexto nível proposto por Gibson); o terceiro é o Significado Afetivo; o quarto nível é o do Significado Avaliativo – que define, por exemplo, se algo é ou não valioso, se algo é bom ou mau, etc., um significado que se aproxima do quarto nível de Gibson; o quinto nível é o Significado Prescritivo. A diferença entre o conceito de

affordance e o conceito de significado prescritivo é que este último implica em certo

grau de coerção, de indução a que nos comportemos de uma determinada maneira, em função da estrutura do ambiente; a affordance do ambiente se refere às possibilidades comportamentais oferecidas / suportadas / “lidas” a partir da estrutura desse ambiente.

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al Estímulo (Objeto) Significado Arquitetônico Resposta Comportament (Abrir a Porta e Passar por Ela)

Figura 9-5. Teoria Mediacional do Significado Ambiental, de Herschberger (Porta

Retangular)

Representacional (Imagem de uma Porta) (A Idéia de Passar pela Porta)

Resposta

(Sentimento de Acolhida) (Julgamento de Beleza) (Decisão de Fazer Uso)

O ambiente construído, assim, pode ser percebido como comunicador de uma variedade de significados, desde sua utilização / utilidade, até seu simbolismo. O simbolismo do ambiente construído é algo que deve preocupar de forma especial os projetistas ambientais, pois é fator decisivo para a emergência de sentimentos positivos ou negativos com relação aos lugares que freqüenta, onde vive. O estudo do simbolismo tem sido abordado de diferentes formas, pelos mais diversos campos de pesquisa. É o caso dos lingüistas, como Saussure (1915), cujo trabalho parece ter influenciado decisivamente o pensamento dos arquitetos, em particular os Pós-Modernistas (Broadbent, 1975; Jencks, 1977). No campo da psicologia há um bom número de de abordagens a serem consideradas, inclusive a psicologia da Gestalt, a Psicanálise, o Comportamentalismo – entre outros enfoques que conquistaram seguidores entre os profissionais do projeto.

Há muitas conjecturas acerca das razões pelas quais – e como – esses significados simbólicos se desenvolveram. O papel do aprendizado e das diferenças culturais é particularmente importante para a compreensão e trabalho [projetual] com os significados simbólicos, assim como dos julgamentos positivos / negativos que sentimos acerca dos objetos e dos padrões que descortinamos no mundo. Qualquer artefato ou ambiente traz consigo uma variedade de significados, simultaneamente. Eles não são independentes. Um nível de significado – o valor das coisas, ou o significado afetivo das coisas – é central para uma teoria da estética.

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SIGNIFICADOS EMOCIONAIS E AFETIVOS

Pesquisas empíricas e experimentais sugerem existem, basicamente, a existência de três tipos de respostas emocionais: prazer, excitação e dominação (Mehrabian e Russel, 1974). O prazer se relaciona aos sentimentos de atração / repulsão, do gostar e do não-gostar; a excitação se relaciona com as qualidades ambientais que despertam os nossos interesses; a dominância se relaciona aos sentimentos individuais de liberdade de ação. O nosso foco, aqui, é sobre o interesse e o prazer que o ambiente evoca – seus significados afetivos.

Diferentes teorias da percepção e da cognição apresentam diferentes postulações acerca de como gostares e não-gostares, apegos e repulsas ou desapegos, surgem; de acordo com a teoria da Gestalt, o apego ou a simpatia com respeito a determinados aspectos do ambiente ocorreriam devido a uma ressonância entre os processos neurológicos e as formas ambientais. As teorias psicoanalíticas poderiam explicar a preferência em termos dos valores das associações feitas entre formas e memórias do inconsciente individual – ou do inconsciente coletivo. As teorias behavioristas explicariam essas preferências em termos do processo de socialização e daqueles padrões do ambiente a que as pessoas foram positivamente condicionadas, que tiveram sua preferência reforçada. Uma coisa essencial para a nossa compreensão do que as pessoas consideram “desejável”, aprazível, simpático, no ambiente é, no entanto, uma compreensão das atitudes que elas portam, e como essas atitudes se desenvolveram.

Uma atitude resulta da combinação de uma crença acerca de algo com uma premissa de valor acerca desse algo.

Há uma variedade de definições de crença. Muitos psicólogos sociais consideram que uma crença é uma afirmação acerca de uma característica associativa de uma coisa a outras coisas, mais do que uma característica definidora dessa coisa. Assim, arcos ogivais podem ser uma característica definidora dos edifícios góticos: essas

janelas vão muito bem em uma arquitetura eclesiástica. Isso é uma característica

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o de valor a uma crença.

edificações inteiras e de interiores, mas algumas outras somente podem ser inferidas a partir do que, efetivamente, o projetista criou.

Os valores são relacionados com as motivações, pois eles definem os elementos atrativos e repulsivos do mundo. Os padrões do ambiente construído que as pessoas consideram atrativos possuem valor positivo para elas. Tudo o que desdenham possui um valor negativo. Os valores representam ligações entre as motivações pessoais, os sentimentos emotivos, e o comportamento. As atitudes com relação a ambientes específicos e a determinados padrões ambientais surgem da atribuiçã

As pessoas lutam por assegurar a consistência cognitiva nas atitudes que mantêm sobre si mesmas e seus ambientes social e físico, onde vivem (Festinger, 1957; Brehm e Cohen, 1962). Um bom número de modelos de consistência cognitiva auxilia os projetistas ambientais a compreender as imprecisões e volubilidades da análise estética. Esses modelos nos auxiliam a compreender porque gostos e

desgostos se desenvolvem, e como são

mantidos.

O mais simples dos modelos propostos é o da teoria da propagação do equilíbrio (Heider, 1946). Se uma pessoa tem uma atitude positiva (gosta, promove, apóia, busca, projeta)

Figura 9-6. Teoria do Equilíbrio

(a)

(b)

(c)

(d)

+

+

+

Referente

Símbolo

Pessoa

+

-Referente

Símbolo

Pessoa

-

+

-Referente

Símbolo

Pessoa

-

+

+

Referente

Símbolo

Pessoa

(33)

com relação a outra pessoa ou, digamos, determinadas idéias (que vamos denominar como referente), então a atitude positiva da primeira pessoa se propaga, também é positiva, com respeito a um objeto inanimado que se relaciona positivamente com o referente. De outra forma, o sistema não estará em equilíbrio. Isso indica a importância das atitudes com respeito ao referente, para que compreendamos as atitudes das pessoas quanto aos significados simbólicos do ambiente construído. A Figura 9-6 retrata o relacionamento entre uma pessoa e suas atitudes com respeito a um referente e um determinado padrão ambiental. As Figuras 9-6a, b e c mostram relacionamentos inconsistentes, ao passo que a figura 9-6d mostra um relacionamento inconsistente. A tese básica aqui é que nós nos esforçamos por eliminar os relacionamentos incongruentes. A força com que nós sustentamos e mantemos as nossas atitudes indica qual delas mais provavelmente mudará, para que a incongruência seja eliminada (Osgood e Tannebaum, 1955), apesar de, algumas vezes, nós isolarmos atitudes que são inconsistentes entre si, e nos recusarmos a reconhecer a discrepância (Rosenberg e Abelson, 1960). Por exemplo, uma pessoa pode admirar um determinado conjunto de princípios projetuais, mas não admira os projetos feitos de acrodo com esses princípios. Essa é uma relação claramente inconsistente. A pessoa pode negar a inconsistência, ou pode lutar por obter consistência entre suas atitudes ao mudar sua atitude com relação aos alegados princípios projetuais.

CONCLUSÕES ACERCA DOS PROCESSOS DE COGNIÇÃO E DE AFETIVIDADE

É difícil separar os processos de percepção e cognição; ambos são regidos por

schemata. Nós sabemos bastante acerca desses processos e de como eles se relacionam,

mas a nossa compreensão não está, de forma alguma, plenamente desenvolvida.; há teorias alternativas, que não foram ainda testadas, sistematicamente examinadas, que concorrem para essas explicações em profundidade. Como resultado desse estado de coisas, as teorias dos projetistas ambientais acerca das reações e respostas humanas aos estímulos do ambiente construído são meramente conjecturais. Há alguns insights de inegável relevância acerca do relacionamento entre pessoas e o ambiente, que foram produzidos pelas teorias modelos das ciências comportamentais. O aprendizado é de fundamental importância, dado que os seres humanos são criaturas altamente

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adaptativas, que desenvolvem novos conhecimentos, novos valores, novos símbolos, novos padrões de atividades. As pressões sociais e as normas culturais exercem uma força estabilizadora sobre os padrões de comportamento e nas atitudes que formam as bases do trabalho do projetista ambiental. Esse não é um quadro estático, contudo. Ele evolui ao longo do tempo. O trabalho dos projetistas ambientais reflete essas mudanças, e contribui para que ocorram.

COMPORTAMENTO ESPACIAL

Como, e por que, as pessoas usam o leiaute do ambiente do modo como o usam, ao longo de suas vidas ou de um dia de atividades? Essa é uma questão central para a teoria do projeto ambiental, devido às ligações que são identificadas entre esse comportamento ambiental e as teorias normativas do funcionalismo, na arquitetura e em outros campos do projeto. O comportamento ambiental ostensivo das pessoas é algo diretamente observável, por definição. Assim, num nível descritivo, não está sujeito às controvérsias que acompanham as tentativas de descrever e de explicar os processos de percepção e de cognição.. os economistas, os sociólogos, os antropólogos, os etologistas (estudiosos do comportamento social e individual das pessoas e dos animais), no entanto, fazem foco em diferentes aspectos do comportamento, e oferecem diferentes explicações para ele. Observa-se duas escalas de pesquisa nesses esforços (Patricios, 1973). A primeira escala lida com agregados de pessoas e com a localização de atividades em uma escala metropolitana e regional. Uma compreensão da distribuição de atividades, e as razões para distribuições desse tipo, são de interesse dos planejadores urbanos e regionais. Os arquitetos, os paisagistas, os urbanistas estão mais preocupados com a compreensão do comportamento numa micro-escala - desde compartimentos de uma edificação a vizinhanças e outros tipos de setores urbanos.

MICRO-MODELOS DE COMPORTAMENTO ESPACIAL

A abordagem dos estudos comportamentais e de percepção ambiental no estudo do comportamento dos seres humanos sugere que o comportamento de um indivíduo é uma função de suas motivações, das possibilidades de apropriação do ambiente, e das imagens do mundo exterior, que direcionam as percepções e os significados que essas

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imagens têm para o indivíduo. Nessa abordagem do estudo do comportamento humano e do ambiente construído há uma variedade de abordagens teóricas distintas.

Uma abordagem etológica sugere que alguns dos comportamentos que nós entendemos como caracteristicamente humanos são os mesmos ocorrentes em alguns outros animais. Esses comportamentos são ditos inatos apesar de poderem ser modelados pela cultura. Essa é a explicação que se dá ao comportamento territorial (Hall, 1960). Um bom número de pesquisadores (como Newman, 1972, 1973; Greenbie, 1976) desenvolveram seus achados ao ponto de contribuírem para a formulação de princípios de projetação. A tradição comportamentalista contrasta diretamente com essa abordagem, ao enfatizar o aprendizado de padrões de comportamento como resultado padrões de reforço.

Recentemente, um grande número de estudos voltados ao ambiente urbano tem sido feito - desde o mobiliário dos ambientes até o comportamento ambiental exibido pelas pessoas, mas de uma forma que não demonstra uma orientação teórica muito clara. Esses estudos parecem ser influenciados por teorias da etologia e da corrente comportamentalista, assim como teorias psicanalíticas. Isso inclui boa parte do trabalho de Edward T. Hall (1966) e de Robert Sommer (1969, 1974a), que possuem fortes referências etológicas, mas que são teoricamente muito mais ecléticos. Eventualmente abrigados sob a rubrica da teoria da Proxemia8 , seus estudos acerca de como as pessoas se relacionam espacialmente umas com as outras, como reagem espacialmente à presença de outras pessoas, e como controlam o espaço através do comportamento territorial, têm influenciado o pensamento de projetistas acerca da organização dos espaços das edificações, da forma dos edifícios e dos conjuntos arquitetônicos, das vizinhanças urbanas e setores das cidades.

8 Nota do Tradutor: Proxemia é termo criado por Edward T. Hall, e pode ser compreendido

como uma teoria das proximidades, das normas de uso do espaço entre as pessoas, nas relações inter-pessoais ou em determinadas situações em que seu comportamento público deve respeitar códigos de distâncias e posturas corporais

Referências

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