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A monetização da saúde do trabalhador: adicional de insalubridade

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GRANDE DO SUL

LUÍS FERNANDO VASCONCELLOS

A MONETIZAÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Ijuí (RS) 2015

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LUÍS FERNANDO VASCONCELLOS

A MONETIZAÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. João Maria Oliveira Mendonça

Ijuí (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha família, pois com o incentivo e a dedicação de todos, a luta foi conjunta, e a batalha mais branda.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela sorte que tenho quanto a presença das pessoas que fazem parte do meu convívio diário.

Aos meus pais pelo incentivo sempre incondicional e permanente, o qual se estende por toda uma vida, e não de forma diferenciada na vida acadêmica.

As minhas irmãs e colegas de trabalho, sempre me orientando e trocando idéias de qual o melhor caminho a ser trilhado.

A minha esposa, colega de trabalho, e dos estudos da vida acadêmica, presente em quase 24 horas do dia, incansável amiga e companheira, e responsável também em grande parte por esta trajetória.

Ao meu orientador, o qual tenho grande apreço, por ter realizado ponderações e diálogos de forma tranqüila.

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“A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.” Rui Barbosa

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O presente trabalho faz uma análise sobre os critérios utilizados no adicional de insalubridade e se estes representam apenas a monetização da saúde do trabalhador, ou se apresentam uma solução para efetivar a implantação de métodos que evitem a exposição dos empregados aos agentes nocivos no ambiente laboral. São apresentados conceitos. É analisado sobre o percentual incidente, sobre as questões referentes a inacumulatividade de adicionais. Também é tratado sobre os limites de tolerância, o enquadramento, os critérios defasados e soluções encontradas. É demonstrado o comportamento das diferentes faces, empregado e empregador, frente ao adicional, e as diferentes interpretações de perícias para averiguar a insalubridade. O sistema normativo nacional é analisado e também pontos importantes das Convenções 148 e 155 da OIT, a qual traz novos conceitos quanto critérios a serem utilizados, bem como a implementação da educação e informação, e os reflexos destas convenções para a sobreposição de adicionais de insalubridade.

Palavras Chave: Monetização da Saúde do Trabalhador. Adicional de Insalubridade. Cumulatividade.

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The present work is an analysis of the criteria used in hazard pay and these represent only the monetization of workers' health, or present a solution to effect the implementation of methods to prevent the exposure of employees to harmful agents in the workplace. Concepts are presented. It is analyzed on the percentage incident, on issues relating to additional inacumulatividade. It is also treated on the limits of tolerance, the environment, the lagged criteria and solutions found. It is shown the behavior of different faces, employee and employer, opposite the additional, and different interpretations of expertise to investigate the unsanitary. The national regulatory system is analyzed and also important points of the Conventions 148 and 155 of the ILO, which brings new concepts as criteria to be used, as well as the implementation of education and information, and the consequences of these agreements for the additional overlay unhealthy.

Keywords: Monetization of Occupational Health. Additional for Unhealthy. Cumulative.

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INTRODUÇÃO ... 9

1 TRABALHO INSALUBRE ... 11

1.1 Adicionais compensatórios quanto a exposição da saúde do trabalhador ... 11

1.1.1 Adicional de periculosidade ... 11

1.1.2 Adicional de penosidade ... 13

1.1.3 Adicional de horas extras ... 14

1.1.4 Adicional noturno ... 15

1.2 Conceito do adicional de insalubridade ... 16

1.3 Os percentuais dos adicionais de insalubridade e a inacumulatividade por mais de um agente ... 18

1.4 O enquadramento do adicional de insalubridade e a defasagem dos limites de tolerância ... 21

1.5 A eliminação ou neutralização da insalubridade e os equipamentos de proteção individual como medida paliativa ... 25

2 A EFETIVIDADE DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR ... 27

2.1 A postura do empregado e do empregador frente ao adicional de insalubridade ... 27

2.2 A insegurança do enquadramento do adicional de insalubridade para a saúde do trabalhador frente às contradições ... 30

2.3 As convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) quanto à proteção jurídica da saúde do trabalhador ... 38

2.3.1 Alguns aspectos relevantes da convenção n. 148 quanto à proteção da saúde do trabalhador ... 40

2.3.2 Alguns aspectos relevantes da convenção n. 155 quanto à proteção da saúde do trabalhador ... 43

2.4 Argumentos e recentes mudanças quanto à cumulatividade do adicional de insalubridade e periculosidade ... 48

CONCLUSÃO ... 53

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INTRODUÇÃO

Para o cumprimento deste trabalho de conclusão do curso de Bacharel em Direito, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí foram realizadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, buscando amparo em doutrinas, artigos, tanto jurídicos quanto técnicos, usando-se do método hipotético-dedutivo.

O trabalho aqui tratado apresenta um estudo sobre os critérios adotados pelo sistema normativo quanto ao adicional de insalubridade, e se há efetividade destes critérios em relação à implantação de uma política de mudança de comportamento da exposição dos empregados a agentes nocivos à saúde.

O adicional de insalubridade perante o sistema normativo pátrio ocorre quando há o enquadramento da exposição do trabalhador no ambiente laboral a agentes químicos, físicos, ou biológicos, conforme prevê a norma regulamentadora n. 15 da portaria 3214/78, do Ministério do Trabalho e Emprego, a qual trata de atividades e operações insalubres.

Os adicionais com percentuais de 10, 20 ou 40 % sobre o salário mínimo não são cumulativos atualmente e não incidem de forma distinta, independente de quanto os limites de tolerância forem ultrapassados.

Atualmente boa parte da doutrina se mostra descontente com o adicional de insalubridade trazendo a tona como solução ao invés da remuneração do adicional, a redução da carga horária, para o trabalhador ter um período maior de descanso.

O primeiro capítulo demonstra uma noção dos adicionais compensatórios quanto à exposição da saúde do trabalhador, dando ênfase para o adicional de insalubridade, do qual

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além de demonstrar o conceito, os percentuais, as discussões sobre tais percentuais, as medidas paliativas para proteção, bem como a eliminação e neutralização, relaciona-se também a necessidade de atualização das normas brasileiras que regulamentam a insalubridade, demonstrando que há defasagem dos limites de tolerância adotados, estando estes em descompasso com a evolução da ciência preventiva.

No segundo capítulo que trata da efetividade do adicional de insalubridade para a saúde do trabalhador, demonstram-se as posturas dos agentes da relação de trabalho, ou seja, do empregado e do empregador frente ao adicional de insalubridade, bem como é apresentado o tema da insegurança do enquadramento frente às contradições, e se demonstra aspectos relevantes em relação às convenções ns. 148 e 155 da OIT quanto aos assuntos pertinentes ao trabalho, além de argumentos sobre a sobreposição de adicionais de insalubridade e periculosidade como forma inovadora e possível propulsora de mudança na questão de cumulatividade de adicionais de insalubridade obtidos por exposições diversas.

O problema enfrentado com este tema busca verificar se os critérios adotados atualmente, com o acréscimo de remuneração em troca da exposição a agentes nocivos, são suficientes para que haja uma redução significativa dos trabalhadores expostos a condições nocivas a saúde.

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1. TRABALHO INSALUBRE

1.1 Adicionais compensatórios quanto à exposição da saúde do trabalhador

No Brasil a previsão normativa contém dispositivos que garantem o direito a remuneração para situações de trabalho consideradas mais gravosas.

Nessa linha, o doutrinador Maurício Godinho Delgado (2009, p. 685), traz o seguinte conceito quanto aos adicionais: “Os adicionais consistem em parcelas contraprestativas suplementares devidas ao empregado em virtude do exercício do Trabalho em circunstâncias tipificadas mais gravosas.”.

Na esfera dos adicionais onde as contraprestações são pagas aos empregados expostos a condições mais gravosas quanto a saúde e integridade, pode-se elencar os adicionais de insalubridade (art. 192 CLT); de periculosidade (art. 193 §1°, CLT); penosidade (art. 7º, XXIII, CF/88); noturno (art. 73, caput, CLT); de horas extras (art. 7º, XVI, CF/88).

1.1.1 Adicional de periculosidade

Quanto ao adicional de periculosidade, tal está previsto na Carta Magna no art. 7º, XXIII, o qual apresenta entre as obrigatoriedades elencadas neste artigo a de remuneração, no caso de realização de atividade periculosa, definida em lei regulamentar.

O conceito de atividade perigosa, a qual gera o direito ao adicional remuneratório apresenta-se definido Consolidação das Leis do Trabalho, no seu art. 193:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:

I-inflamáveis, explosivos ou energia elétrica

II- roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.

[...]§ 4º São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta. (BRASIL, 2015).

Além dessas atividades que são enquadradas como perigosas, para efeito de percepção de adicional remuneratório, temos ainda a exposição a radiações ionizantes ou substâncias

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radioativas. Nesta podemos trazer a baila o que foi descrito na obra de Sebastião Geraldo Oliveira (2011, p. 203):

Finalmente, pela Portaria n. 3.393, de 17 de dezembro de 1987, o Ministro do Trabalho assegurou o adicional de periculosidade, previsto no § 1º do art. 193 da CLT, aos trabalhadores expostos a radiações ionizantes ou substâncias radioativas. A Portaria n. 496 do Ministério do Trabalho e Emprego revogou a Portaria n. 3.393/1987, porém o adicional foi reinstituído pela Portaria n. 518, de 4 de abril de 2003.

Discute-se a legalidade desta Portaria, por ter criado o direito a um novo adicional de periculosidade sem previsão legal. Sedimentou-se, contudo, o entendimento de que a Portaria foi expedida por força da delegação normativa contemplada no art. 200 da CLT, revestindo-se, portanto, de plena eficácia. No TST a matéria já se encontra pacificada nesse sentido.

As operações perigosas são regulamentadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mais precisamente a norma regulamentadora NR 16–atividades e operações perigosas – a qual apresenta em seus anexos o enquadramento e as peculiaridades de cada risco passível de adicional de periculosidade, começando pelo anexo 1 - atividades e operações perigosas com explosivos; seguindo pelo anexo 2 - atividades e operações perigosas com inflamáveis; anexo 3 - atividades e operações perigosas com exposição a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial; anexo 4 - atividades e operações perigosas com energia elétrica; anexo 5 - atividades perigosas em motocicleta e anexo 6 -atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radioativas.

A previsão do adicional de periculosidade está previsto na CLT, artigo 193, parágrafo 1º: “O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa”.

O adicional de periculosidade tem o valor calculado em 30% do salário base do empregado, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros.

Quanto aos valores do adicional de periculosidade há diferença em relação aos empregados do setor de energia elétrica, para os quais o cálculo não incide sobre o salário contratual e sim sobre a integralidade das parcelas de natureza salarial.

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1.1.2 Adicional de penosidade

O adicional de Penosidade, também previsto no art. 7°, inciso XXIII, da Constituição Federal, não abarca trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), pois carece de regulamentação de lei ordinária, tornando-se de certa forma inócuo.

Quanto a servidores públicos federais a título de curiosidade, pode-se elencar o art. 71 da lei 8.212/90, a qual trata do regime jurídico dos servidores públicos Civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais; dispondo que: “o adicional de atividade penosa será devido aos servidores em exercício em zonas de fronteira ou em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, condições e limites fixados em regulamento”.

O conceito de trabalho penoso é de difícil definição, inclusive sequer há uma linha divisória precisa entre trabalho insalubre e penoso, o que levou de certa forma o legislador no âmbito da previdência social a elencar as atividades penosas ao invés de conceituá-la.

Alguns conceitos de trabalho penoso, em meio a vários outros na esfera trabalhista, são tratados por estudiosos do tema, como é o caso da autora da Obra- Proteção ao Trabalho Penoso, Christiani Marques (2007, p. 28):

Então considerando os contextos e significados ora trazidos, poder-se-á conceituar trabalho penoso como aquele relacionado à exaustão, ao incômodo, à dor, ao desgaste, à concentração excessiva e à imutabilidade das tarefas desempenhadas que aniquilam o interesse, que leva o trabalhador ao exaurimento de suas energias, extinguindo-lhe o prazer entre a vida laboral e suas atividades a serem executadas, gerando sofrimento, que pode ser revelado por dois grandes sintomas: insatisfação e ansiedade.

Como conceito aparece também no projeto de lei 4.243/2008, do Deputado Maurício Rands:

Art. 196-A. Considera-se penoso o trabalho exercido em condições que exijam do trabalhador esforço físico, mental ou emocional superior ao despendido normalmente, nas mesmas circunstâncias, ou que, pela postura ou atitude exigida para seu desempenho, sejam prejudiciais à saúde física, mental e emocional do trabalhador.

Assim, em meio às definições, o que se sabe é que na prática trabalhista, não há aplicabilidade até o momento, pois inexiste lei infraconstitucional atualmente que regule a

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penosidade frente ao trabalhador celetista; o que significa realmente tal trabalho; quem tem direito; em quais condições; qual o percentual remuneratório; e sobre o que deve incidir o mesmo.

1.1.3 Adicional de horas extras

As longas e exaustivas jornadas despendidas pelo trabalhador que exerce trabalho extraordinário pode ocasionar fadiga no obreiro, e acarretar ou contribuir para o surgimento de doenças neste.

A agressão do trabalho extraordinário quanto à conservação da saúde do trabalhador é demonstrada na obra de Sebastião Geraldo de Oliveira (2011, p. 175):

Em razão das calorias consumidas na execução do trabalho, mais o dispêndio energético para manter o organismo em equilíbrio homeoestático, sobrevêm o cansaço e a necessidade de descanso para recomposição.

O prosseguimento das atividades nesse quadro acarretará o agravamento crescente da fadiga, a qual representa uma reação do organismo, sinalizando para a interrupção do trabalho, como mecanismo de conservação da vida. O esforço adicional, como ocorre no trabalho constante em horas extras, aciona o consumo de reservas energéticas e o aceleramento da fadiga pode levar à exaustão ou esgotamento. [...]

A Carta Magna dispõe de limites para as jornadas diárias, o que influência no regramento para a redução dos efeitos da exaustão e esgotamento do trabalhador em horário extraordinário.

Conforme Renato Saraiva (2011, p.213), o parâmetro de limite da jornada de trabalho está estabelecido na Constituição:

Estabelecida como parâmetro a jornada constitucionalmente assegurada de 8 horas diárias e 44 horas semanais para os trabalhadores urbanos e rurais, e de 6 horas para os obreiros que laboram em turnos ininterruptos de revezamento, qualquer trabalho acima do fixado na Carta Maior importará em prorrogação da jornada, [...]

Assim, como na insalubridade e na periculosidade há previsão de adicionais perante a presença destas situações, o horário extraordinário, ou seja, aquele em horário que extrapola a previsão acima descrita, também tem na Carta Magna dispositivo, e neste caso o adicional é de no mínimo 50% superior a hora normal, conforme leciona Renato Saraiva (2011, p. 213):

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Toda vez que o empregado prestar serviços ou permanecer à disposição do empregador após esgotar-se a jornada normal de trabalho haverá trabalho extraordinário, que deverá ser remunerado com adicional de, no mínimo, 50% superior ao da hora normal (CF/1988, art. 7°, XVI, c/c art. 59, § 1º, da CLT).

O adicional devido ao trabalho realizado em horário extraordinário, de forma indireta também se relaciona com a saúde do trabalhador, porém apresenta valores diferenciados aos previstos para periculosidade e insalubridade.

1.1.4 Adicional noturno

O adicional noturno, é um acréscimo pago ao trabalhador que labora em horário noturno, sem entrar no mérito de categorias específicas, apresenta-se de forma diferenciada para o trabalhador urbano e rural. Aquele tem o horário noturno previsto no § 2 ° do art. 73 da CLT, com horário fixado entre as 22h de um dia e 5h do dia seguinte; já quanto ao trabalho noturno no meio rural apresenta-se uma divisão em que o horário noturno será das 21h ás 5h em relação aos trabalhadores que exercem suas atividades na lavoura e das 20h às 4h horas aos trabalhadores que exercem suas atividades na pecuária.

A diferença no valor das horas extras quanto ao trabalhador urbano e rural também se faz presente e pode ser verificado nas palavras de Sergio Pinto Martins (2002, p. 485):

A legislação ordinária foi recepcionada pela Lei Maior, sendo que o art. 73 da CLT determina que “o trabalho noturno terá remuneração superior à do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20%, pelo menos, sobre a hora diurna.

Em relação aos trabalhadores rurais, o adicional noturno foi fixado em 25% sobre a hora normal (parágrafo único do art. 7º da Lei n° 5.889/73). O adicional noturno do advogado é de 25% (§3° do art. 20 da Lei n° 8.906/96).

O trabalho noturno pode influenciar no surgimento de doenças:

A rigor, não existe doença específica daquele que trabalha à noite ou em turnos, mas as diversas pertubações à saúde física e mental propiciam o surgimento da fadiga, que pode evoluir para a fadiga crônica, provocando o agravamento de outras doenças pela baixa resistência imunológica, bem como sofrimento mental e envelhecimento precoce. A Lista B das doenças ocupacionais contida no Regulamento da Previdência Social, conforme Anexo II do Decreto n. 3.048/1999, relaciona entre os transtornos mentais e do comportamento e as doenças do sistema nervoso os transtornos e os distúrbios do ciclo vigília-sono, devidos a má adaptação à organização do horário daqueles que trabalham em turnos ou à noite. (OLIVEIRA, 2011, p.189).

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Assim, com adicionais variáveis entre trabalhadores urbanos e rurais, e horários noturnos previstos de forma diferenciada também quanto ao horário, o que se sabe é que há influência desta espécie de trabalho, mesmo que às vezes de forma indireta, na saúde do trabalhador.

1.2 O conceito do adicional de insalubridade

Antes mesmo de demonstrar o conceito e enquadramento do adicional de insalubridade diante das normatizações, deve-se verificar primeiramente os destinatários da norma: “são destinatários do adicional de insalubridade os empregados urbanos, rurais e os trabalhadores avulsos (art. 7º, caput, inciso XXXIV, da Constituição da República de 1988)”. (BARROS, 2011, p.621).

Passa-se a fazer a análise do adicional de insalubridade, onde já tendo sido extraído o conceito do “adicional” como parcela contra prestativa, resta verificar o conceito de “insalubre”, o qual de forma sucinta, mas clara, Sérgio Pinto Martins (2002, p. 222), diz que: “insalubre é o prejudicial à saúde, que dá causa à doença”.

Nesta senda, Sebastião Geraldo de Oliveira (2011, p. 194), denomina trabalho insalubre:

O trabalho insalubre é aquele exposto a agentes que podem afetar ou causar danos à saúde, provocar doenças, ou seja, é o trabalho não salubre, não saudável. Muitas enfermidades estão diretamente relacionadas e outras são desencadeadas, antecipadas ou agravadas pela profissão do trabalhador ou as condições em que o serviço é prestado.

Ainda, quanto ao conceito de insalubridade:

As atividades ou operações insalubres, definidas em quadro aprovado pelo Ministério do Trabalho (art. 190 da CLT), são aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho expõe os empregados a agentes químicos, físicos ou biológicos nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância (art. 189 da CLT). (BARROS, 2011, p. 621).

Como descrito na citação acima, o adicional de insalubridade envolve agentes químicos, físicos ou biológicos, dos quais se pode buscar o conceito na NR-9, norma

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regulamentadora da portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais:

9.1.5.1. Consideram-se agentes físicos diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom e ultrassom.

9.1.5.2. Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza de atividades de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.

9.1.5.3. Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. (BRASIL, 2015).

Quanto ao conceito descrito no sistema normativo temos art. 189 do Capítulo V do Título II da CLT, o qual cabe transcrevê-lo:

Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância, fixados em razão da natureza e de intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 2015).

O conceito previsto no art. 189 da CLT é esclarecido por Mara Camisassa (2012, p. 3):

1ª parte: “Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados à agentes nocivos à saúde...”.

Os agentes nocivos à saúde podem ser de natureza física (ruído, pressões anormais, calor, frio, dentre outros), química (gases, vapores, poeira, dentre outros) ou biológica (fungos, bactérias, parasitas, dentre outros).

2ª parte: “... acima dos limites de tolerância...”.

Limite de tolerância é concentração de intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante sua vida laboral.

Ou seja, qualquer valor superior ao limite de tolerância caracterizará atividade insalubre.

3ª parte: “... fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos efeitos...”.

A caracterização atividades pode ser feita de forma quantitativa ou qualitativa.

O que se sabe é que o adicional de insalubridade é uma contraprestação remuneratória decorrente da exposição do trabalhador a determinadas situações laborais insalutíferas, as quais vão minando a sua saúde do obreiro. Estas situações estão regulamentadas na Norma Regulamentadora n. 15 da Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

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Assim, o conceito de insalubridade é de certa forma restringido pela legislação pátria no enquadramento do adicional de insalubridade, pois nem tudo que é prejudicial à saúde, que dá causa a doença está regulamentado como passível de percepção do adicional, a exemplo das questões ergonômicas inadequadas que como se sabe podem decorrer doenças graves como as Lesões de Esforços Repetitivos (LER).

As condições mais gravosas apresentam uma forma pecuniária de contraprestação, o trabalhador se expõe, coloca em risco a sua saúde, e ao invés de receber a proteção e a redução de riscos, recebe o incentivo para permanecer laborando na mesma.

Cabe verificar se o incentivo dado ao trabalhador pode proporcionar ao empregador gasto suficiente a ocasionar o desestimulo da manutenção de condições nocivas à saúde no ambiente laboral.

1.3 Os percentuais dos adicionais de insalubridade e a inacumulatividade por mais de um agente

Assim como os outros adicionais remuneratórios previstos em virtude de situações mais gravosas, como é o caso do adicional da hora extra, do adicional noturno, e de periculosidade, a insalubridade também tem seus índices regulamentados pela lei.

A legislação infraconstitucional, CLT, elenca as porcentagens de adicionais assegurados ao trabalhador exposto à condição insalutífera:

Art . 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo. (BRASIL, 2015)

Os adicionais são variáveis, com percepções de 10, 20 e 40% sobre o salário mínimo, de acordo com o agente nocivo e a condição do trabalho a qual está exposto o trabalhador.

A previsão dos diferentes adicionais, seja ele de grau mínimo, médio ou máximo, encontra-se classificada na Norma Regulamentadora n° 15, da portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), da qual se pode extrair a previsão dos graus de insalubridade,

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onde os níveis de ruído contínuo ou intermitente superiores aos limites de tolerância tem percentual de 20%; os níveis de ruído de impacto superiores aos limites de tolerância tem percentual de 20%; a exposição ao calor com valores I.B.U.T.G superiores aos limites de tolerância tem percentual de 20%; os níveis de radiações ionizantes com radioatividade superior aos limites de tolerância, tem percentual de 40%; o trabalho sobre condições hiperbáricas tem percentual de 40%; as radiações não ionizantes consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho tem percentual de 20%; as vibrações consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho tem percentual de 20%; o frio considerado insalubre em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho tem percentual de 20%; a umidade considerada insalubre em decorrência de inspeção no local de trabalho tem percentual de 20%; os agentes químicos cujas concentrações sejam superiores aos limites de tolerância tem adicional de 10, 20 ou 40%, conforme o agente químico do caso concreto; as poeiras minerais cujas concentrações sejam superiores aos limites de tolerância tem percentual de 40%; as atividades ou operações, envolvendo agentes químicos, consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho tem percentuais de acordo com agente químico do caso concreto, de 10, 20 ou 40%; e por último os agentes biológicos, que podem apresentar percentuais de 20 ou 40% conforme o enquadramento.

A NR-15 traz também a proibição da cumulatividade do adicional pela exposição a mais de um agente: “15.3 No caso de incidência de mais de um fator de insalubridade, será apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de acréscimo salarial, sendo vedada a percepção cumulativa.” (BRASIL, 2015)

Posicionamentos contrários ao item antecedente podem ser encontrados na doutrina:

Entendemos que, se as condições do trabalho são duplamente gravosas, é cabível o pagamento dos dois adicionais, pois houve exposição a dois agentes insalubres diferentes, que podem ocasionar prejuízos a diversos órgãos do corpo humano. Nesse sentido, pronunciamo-nos favoravelmente ao pagamento de dois adicionais a empregado que trabalha operando raios x e ainda mantinha contato com portadores de moléstia contagiosa. (BARROS, 2011, p. 623).

Pode-se verificar que para a legislação pátria não há previsão de cumulatividade dos adicionais de insalubridade, e de outra forma, consideram alguns doutrinadores, ser passível

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esta cumulação, até mesmo porque os efeitos de diversos agentes podem provocar danos ainda maiores à saúde do trabalhador.

Partindo-se da citação de Alice Monteiro de Barros, podemos verificar que se configurada a insalubridade do operador de raios-X, sendo que esta é enquadrada na NR 15, no anexo 5, radiação ionizantes, em relação a este agente o trabalhador teria direito a percepção do adicional de insalubridade em valor equivalente a 40% do salário mínimo. Já em relação ao contato com portadores de doenças, se esta for referente aos portadores de doenças infectocontagiosas em isolamento, haverá novamente o valor incidente de 40% sobre o salário mínimo, só que agora em relação ao anexo 14, agentes biológicos.

Portanto, pela legislação atual o trabalhador do exemplo teria direito a um adicional de 40%, mesmo estando exposto a radiações ionizantes (grau máximo) e agentes biológicos (grau máximo). Porém, se for seguido o posicionamento de Alice Monteiro de Barros, o trabalhador teria direito ao somatório dos adicionais, ou seja, o percentual equivalente à 80% do salário mínimo.

Ainda, é relevante dizer que para o agente descrito na NR 15, onde o limite de tolerância é ultrapassado, e fica o direito ao adicional configurado, este percentual não altera, independente do limite de tolerância ter sido excedido uma, duas, ou dez vezes; demonstrando-se o assim o risco quanto aos critérios dos percentuais aplicados em nossa legislação.

Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira (2011, p. 119), os trabalhadores expostos a agentes insalubres sofrem desgastes quanto à saúde, e para haver uma compensação, quando não for possível a eliminação, a tendência moderna recomenda a concessão de um maior período de descanso para a recuperação.

Assim, cabe a análise se os percentuais aplicados no Brasil são apenas uma forma de monetização da saúde, ou se são efetivos, se atingem o objetivo de incentivar a implantação de medidas preventivas e protetivas de saúde no ambiente laboral.

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1.4 O enquadramento do adicional de insalubridade e a defasagem dos limites de tolerância

O enquadramento do adicional de insalubridade passa pela delegação ao MTE da regulamentação da insalubridade, como previsto na CLT:

Art. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. (BRASIL, 2015).

O Ministério do Trabalho e Emprego regulamentou através da NR 15, as atividades e operações insalubres, caracterizando o enquadramento dos respectivos agentes e o grau de insalubridade devido:

Nesta norma existem 13 (treze) anexos: ruído contínuo ou intermitente; ruído de impacto; calor; radiação ionizante; condições hiperbáricas (trabalhos sob ar comprimido e submersos); radiações não ionizantes; vibrações; frio; umidade; agentes químicos com limites de tolerância; poeiras minerais; agentes químicos sem limites de tolerância e agentes biológicos. Há, também, um quadro com os graus de insalubridade para cada agente agressivo. São utilizados critérios quantitativos e qualitativos, tendo como fundamento legal o art. 200 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, que outorga ao Ministério do Trabalho o poder de baixar normas que completem os claros deixados pela Lei, o que torna possível a permanente e contínua adequação das normas legais à realidade dos ambientes de trabalho. (VIEIRA; JÚNIOR; WEBSTER, 2010, p. 89).

O art. 189 da CLT estabelece a configuração da insalubridade quanto à exposição do trabalhador ao agente em níveis acima dos limites de tolerância, ou seja, quantitativos.

Cabe salientar a conceituação de limites de tolerância, a qual é demonstrada pela própria NR 15: “15.1.5 Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral.” (BRASIL, 2015).

Os conceitos da análise qualitativa e quantitativa do ponto de vista técnico:

A análise qualitativa verificará a presença do agente, os meios de contato, as vias de penetração e seu potencial de causar dano ao trabalhador. Nesta avaliação o tempo de exposição e os meios de proteção coletiva e individual existentes são detalhados. [...] A análise quantitativa ocorre com os riscos para os quais possuímos meios para quantificá-los por meio de equipamentos e técnicas especializadas. Os equipamentos

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e técnicas empregados devem ser devidamente descritos conforme prevê a legislação. Os dados obtidos serão tabulados e comparados com os limites de tolerância estabelecidos pelos anexos existentes nas NR-15 e 16 da Portaria n. 3214/1978. (JÚNIOR, 2010, p. 185).

Com a regulamentação prevista na NR15, pelo MTE, pode-se vislumbrar também que os anexos enquadrados como quantitativos são os descritos no item 15.1.1:

15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem: 15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e 12; 15.1.2 (Revogado pela Portaria MTE n.º 3.751, de 23 de novembro de 1990) 15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º 6, 13 e 14;

15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e 10. (BRASIL, 2015).

Se por um lado os agentes quantitativos são os anexos descritos no item 15.1.1, os quais elencamos: ruído contínuo ou intermitente – anexo 1; ruído de impacto – anexo 2; calor – anexo 3; radiações ionizantes – anexo 5; vibrações – anexo 8; agentes químicos – anexo 11; e poeiras minerais anexo 12. Por outro lado, temos os anexos previstos como avaliação qualitativa na NR-15: condições hiperbáricas – anexo 6; radiações não ionizantes – anexo 7; frio – anexo 9; umidade – anexo 10; agentes químicos sem limites de tolerância especificados – anexo 13.

Conforme súmula 47 do TST, mesmo que a exposição do trabalhador a agentes nocivos ocorra de forma intermitente, não afastará, só por este motivo, a caracterização da condição insalutífera.

Independente da insalubridade ser considerada qualitativa ou quantitativa, a caracterização e classificação desta depende de perícia, conforme descrito na CLT:

Art . 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. (BRASIL, 2015)

Após a perícia realizada, e verificada a presença de agente insalutífero, de acordo com o enquadramento dos anexos da NR 15, tem assim o empregado o direito a percepção do adicional de insalubridade.

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Cabe salientar que o enquadramento dos agentes descritos nos vários anexos da NR 15, na sua maioria, há muito tempo apresentam parâmetros ultrapassados e consequentemente representam risco a saúde dos trabalhadores.

A maior parte dos limites de tolerância presentes na NR 15 tem como base os limites de tolerância de 1977, estabelecidos pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists):

É importante salientar que praticamente todos os limites fixados foram baseados nos limites de tolerância estabelecidos, em 1977, pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists), devidamente corrigidos para jornada de trabalho no Brasil e que permanecem, na sua maioria, inalterados. (SALIBA; CORRÊA, 2011, p. 13).

Estudos sobre doenças ocupacionais decorrentes da exposição à agentes presentes no ambiente laboral, tem demonstrado a defasagem dos limites de tolerância adotados atualmente pela NR 15:

Observa-se, ademais, que a NR-15 da Portaria n. 3214/1978 do Ministério do Trabalho não vem sendo atualizada de acordo com os novos conhecimentos nacionais e internacionais e, por essa razão, muitas exposições consideradas como toleráveis, comprovadamente, causam danos à saúde dos trabalhadores. Esclarece o Engenheiro Químico José Manuel Gana Soto, presidente da Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais – ABHO -, que a NR-15 está defasada mais de 32 anos, quando são comparados os limites de tolerância brasileiros com os preconizados atualmente pela ACGIH (American Conference of Governmental Hindustrial Hygienists), sendo que há casos de limites de tolerância fixados mais de 100vezes acima do que estabelece a norma da referida organização. Destaca o pesquisador da FUNDACENTRO José Possebon que três anexos da NR-15 são os mais desatualizados: o anexo 11 que trata dos agentes químicos, cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e inspeção no local de trabalho, o anexo 12 que aborda limites de tolerância para as poeiras minerais e o anexo 13 que trata dos produtos químicos que não foram contemplados nos dois anexos anteriores. (OLIVEIRA, 2011, p. 198).

São vários os agentes com limites de tolerância desatualizados na NR 15; a ciência avançou muito quanto à saúde do trabalhador, mas esta norma permanece com muitos índices estagnados, contrapondo até mesmo a NR 9, norma esta também regulamentada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que embora não trate de insalubridade, trata de programa de prevenção de riscos ambientais:

“9.1.5. Para efeito desta NR consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua

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natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes da causar danos à saúde do trabalhador” ( BRASIL, 2015).

Como se pode verificar, tanto os agentes analisados na NR 15, como na NR 9, são agentes físicos, químicos e biológicos, mas a NR9 é mais zelosa quanto a saúde do trabalhador, pois prevê que no caso de ausência de índices da NR 15, há a possibilidade do uso de valores da ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Higienists), a Conferência Norte-Americana de Higienistas Industriais Governamentais:

9.3.5.1 Deverão ser adotadas as medidas necessárias suficientes para a eliminação, a minimização ou o controle dos riscos ambientais sempre que forem verificadas uma ou mais das seguintes situações:[...].

c) quando os resultados das avaliações quantitativas da exposição dos trabalhadores excederem os valores dos limites previstos na NR-15 ou, na ausência destes os valores limites de exposição ocupacional adotados pela ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Higyenists, ou aqueles que venham a ser estabelecidos em negociação coletiva de trabalho, desde que mais rigorosos do que os critérios técnico-legais estabelecidos;[...]. (BRASIL, 2015).

Na reportagem presente na revista proteção pode-se verificar que opiniões técnicas caminham na necessidade de modificação da NR 15, e da utilização de índices da ACGIH, a qual é atualizada anualmente:

Além da maior atenção à prevenção, a renovação da NR 15 também deve buscar uma maior agilidade na atualização dos limites de tolerância, na avaliação do engenheiro de Segurança do Trabalho e higienista ocupacional Paulo Roberto Oliveira, diretor-executivo da consultoria ambientec. Ele defende que seja estabelecido em lei o emprego dos limites de tolerância da ACGIH. “A legislação estaria atualizada anualmente, assim que fossem divulgados os limites da ACGIH”, sugere.(GUEDES, 2015, p.57).

Os impactos quanto a saúde do trabalhador é exemplificado na reportagem de João Guedes (2015, p. 54):

Não faltam exemplos desse descompasso que expõe os trabalhadores a agravos sérios, sem qualquer proteção da legislação. O chefe do Serviço de Agentes Físicos do Centro Técnico Nacional da Fundacentro, Irlon de Ângelo da Cunha, cita o caso do cloreto de vinila. A substância utilizada no setor industrial tem limite de tolerância, fixado pelo Anexo 11 da NR 15, 156ppm (partes por milhão). Já a ACGIH é mais rigorosa, com um teto de 1ppm para o agente, que pode provocar câncer de pulmão e dano ao fígado. “Os reflexos negativos devido à utilização de limites desatualizados impactam o trabalho de vários modos: na caracterização do risco, no respectivo pagamento do adicional de insalubridade, na adoção das medidas de controle e na utilização desses limites para fins de aposentadoria especial”, avalia Cunha.

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Assim, o enquadramento dos agentes aos quais os trabalhadores estão expostos no dia à dia, devem sofrer uma reanálise geral a nível nacional, adotando critérios embasados nas mudanças científicas, primando pela saúde dos obreiros independente se a norma é emitida pelo MTE, e se está prevista na NR 15, ou se faz parte de parâmetros internacionais comprovadamente mais atualizados e seguros.

1.5 A eliminação ou neutralização da insalubridade e os equipamentos de proteção individual como medida paliativa

Os agentes agressivos podem ser eliminados ou neutralizados através de processo que retirem do ambiente o agente nocivo, através de mudanças nos processos realizados, substituição de substâncias ou o uso efetivo de equipamento de proteção.

O equipamento de proteção deve ser fornecido e utilizado sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção aos riscos de acidente e de danos a saúde, em situações de emergência, em situações onde as medidas coletivas estão sendo implantadas. Trata-se de medida paliativa, pois o correto é a mudança do ambiente de trabalho para que este ofereça condições salubres sem a necessidade do incômodo equipamento de proteção.

A súmula n° 289 do TST, demonstra que são necessárias medidas além do fornecimento do aparelho de proteção:

O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado. (BRASIL, 2015).

A NR 6 (BRASIL, 2015), elenca uma série de obrigações do empregador quanto ao Equipamento de Proteção Individual (EPI):

6.6.1 Cabe ao empregador quanto ao EPI: a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; b) exigir seu uso;

c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde;

d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;

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f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e, g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada;

h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico.

Os EPIs devem ser adequados para a atividade, em decorrência do ambiente de trabalho e do agente ao qual o trabalhador está exposto; devem será provados pelo MTE, contendo o devido Certificado de Aprovação (CA); devem ser exigidos, fiscalizados, e fornecida às orientações e treinamentos para que os obreiros tenham a consciência dos riscos aos quais estão expostos e a forma adequada de proteção; e ainda, deve ocorrer o registro do fornecimento de EPIs, proporcionando um maior controle do tempo médio de substituição de cada equipamento.

Os aspectos psicológicos também são importantes no uso de EPIs:

Antes de fornecer o EPI ao trabalhador, é preciso que a empresa faça um trabalho de conscientização sobre os motivos que justificam o uso do equipamento e a sua real utilidade. A finalidade dessa conscientização é estabelecer uma condição psicológica positiva em relação à utilização do equipamento pelo trabalhador, como algo intrínseco à sua atividade. Caso contrário, ele poderá rejeitar o uso, ou mesmo aceitar como imposição, dando origem a um conflito ou condição psicológica negativa que certamente prejudicará sua segurança e seu desempenho no trabalho. (MELO, 2011, p. 359).

O não uso do equipamento de proteção individual quando necessário sua utilização e quando fornecido o adequado pelo empregador, constitui em ato faltoso do empregado de acordo com Renato Saraiva (2011, p. 344): “Impende ressaltar que constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos ao empregador (CLT, art. 158, parágrafo único, b).”

Nesta senda, Maurício Godinho Delgado (2012, p. 1226), também trata o não uso de equipamento de proteção como infração trabalhista:

É claro que esta infração é daquelas que mais fortemente atraem os critérios objetivos, subjetivos e, principalmente circunstanciais de aplicação de penalidades no âmbito empregatício. A meta da ordem jurídica, mesmo quanto tipifica esta infração trabalhista, e favorecer o eficaz cumprimento de uma política de redução dos riscos inerentes ao ambiente laborativo, atenuando ou suprimindo as causas e circunstâncias ensejadoras da insalubridade e periculosidade. Desse modo, o exercício do poder disciplinar com intuito educacional, pedagógico, formador de consciências antirrisco, e que constitui o ponto central enfocado pela ordem jurídica. A gradação de penalidades impõe-se aqui, regra geral, nos contrapontos a conduta censurada pelo art. 158, parágrafo único, da CLT.

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Desta forma, as medidas para proteção à saúde do trabalhador devem ser adequadas à situação analisada do caso concreto, de preferência com eliminação do agente insalubre, e somente como última alternativa serem fornecidos EPIs para a atividade a qual está exposto o trabalhador, sabendo que o empregador não só deve oferecer a proteção, mas exigir, e como visto tem meios legais para isto, inclusive podendo punir aquele que descumpre, e põe a saúde e a vida em risco.

2. A EFETIVIDADE DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR

Os adicionais de insalubridade implantados como forma de redução da exposição do trabalhador a agentes nocivos, não são suficientes, até mesmo porque a legislação nacional está em descompasso com a evolução da medicina preventiva, bem como as decisões judiciais na sua grande maioria são tomadas pura e simplesmente nesta legislação nacional retrógrada, sem levar em conta convenções internacionais ratificadas pelo país.

2.1 A postura do empregado e do empregador frente ao adicional de insalubridade

Na visão do empregador, bem como na do empregado, os objetivos tomam viés diferente do pretendido pelo adicional de insalubridade, conforme Nogueira (apud OLIVEIRA, 2011, p.154):

[...] Os empregadores, por sua vez, verificando que a modificação das condições em que o trabalho insalubre era realizado implicava, na maioria das vezes, em despesas extremamente vultuosas, preferiram o pagamento do adicional de insalubridade, transferindo para seus produtos a parcela do acréscimo salarial. Por outro lado, o pagamento do adicional de insalubridade teve uma conseqüência inesperada e de extrema gravidade: verificando que o trabalho em locais insalubres redundava em salário maior, os trabalhadores, ignorantes dos riscos a que se expunham, procuravam-no com grande interesse, arriscando dessa forma a saúde e mesmo a vida em troca de dinheiro. O reconhecimento dessa complexa e grave problemática levou, desde logo, à abolição do pagamento desse adicional nas indústrias européias e, mais tarde, nas norte-americanas, canadenses etc.

O Brasil, ao contrário das indústrias européias e norte-americanas, não aboliu o adicional de insalubridade e permanece com grande número de trabalhadores recebendo adicional sem sequer haver tentativa de redução dos riscos provocados, proporcionando, a primeira vista, um aumento de ganho financeiro ao trabalhador, o que posteriormente em

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decorrência desta exposição pode ocorrer o surgimento de doenças, limitações, e até mesmo algo mais grave.

Ainda, nesta senda, a aposentadoria especial, também se apresenta como fator relevante e que contribui para a exposição de trabalhadores pouco informados das consequências a que as condições de um ambiente laboral insalubre podem causar:

Criada no Brasil na década de 60 pela Lei 3.807, de 26.08.1960, a aposentadoria especial tinha como objetivo principal propiciar aos trabalhadores – que executam suas atividades sujeitos a riscos à integridade física e à saúde no ambiente de trabalho – a aposentadoria antecipada, aos 15, 20 ou 25 anos, conforme a atividade. Acreditava-se que a aposentadoria precoce contribuiria para a preservação da saúde do trabalhador, na medida em que reduziria a sua exposição ao agente nocivo. É evidente que foi uma política ineficaz. Ela se prestou somente para quebrar a resistência do trabalhador em se sujeitar ao trabalho sujeito ao risco, funcionando como “moeda de troca” de sua saúde. Não é raro encontrar ainda trabalhadores que silenciam sobre os riscos suportados no ambiente de trabalho, na esperança de poder gozar de uma aposentadoria mais cedo. Por outro lado, algumas empresas contataram com esse argumento compensatório da saúde para manter as precárias condições de trabalho e, assim, impor o trabalho prejudicial à saúde sem grandes resistências. (MACHADO, 2005, p.90).

Se por um lado os empregadores buscam reduzir custos, não implantando os planos de prevenção de saúde do trabalhador de forma adequada, por outro os empregados se sujeitam a exposição a agentes com intuito de conquistar uma complementação de seus salários.

Os programas de prevenção muitas vezes são ignorados, ou até mesmo burlados pelo empregador para evitar o acréscimo de custos.

A NR-9 do MTE, que como já relatado neste trabalho, trata do programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA), e se fosse devidamente cumprida por todas as empresas, seria de grande relevância para a mudança do cenário da insalubridade:

9.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visando a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. (BRASIL, 2015).

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Como transcrito acima o PPRA visa a preservação da saúde dos trabalhadores através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle dos agentes químicos, físicos e biológicos, os quais são considerados pela norma como riscos ambientais.

Os riscos ambientais que deveriam ser tratados com seriedade pelo PPRA, tem neste documento, muitas vezes, mera formalidade; prova disso são as inúmeras ações judiciais procedentes em termos de deferimento do adicional insalubridade, e, diga-se de passagem, que na maioria destes casos, estes programas se bem executados poderiam ter evitado a exposição dos obreiros e também a monetização da saúde.

Em reportagem realizada na Revista Proteção, revista esta conhecida no meio técnico de saúde e segurança do trabalho, pode-se verificar a divergência quanto ao pagamento do adicional representar um custo menor ao empregador em relação a investimentos da implantação da efetiva proteção do trabalhador:

O consultor e perito judicial Antonio Carlos Vendrame, entretanto, discorda da idéia de que pagar um adicional possa ser mais barato do que investir em proteção dos trabalhadores, embora reconheça que ainda tem gente que acredita nisso. Para ele seria menos oneroso conceder o benefício, caso a única despesa fosse o adicional de insalubridade ou periculosidade. Mas quem expõe o trabalhador a riscos de saúde pode ter de pagar indenizações e ter problemas com Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho. “Quem opta por isso (pagar o adicional em vez de investir em eliminação do risco) está perdendo produtividade qualidade e bem-estar do seu empregado”, afirma Vendrame. (GUEDES, 2015, p.48).

Os custos dos adicionais na verdade vão além da implantação de programas efetivos de segurança e saúde no trabalho, pois se somam ainda a estes as indenizações decorrentes de danos à saúde dos obreiros em virtude da exposição a agentes nocivos, bem como possíveis multas aplicadas pelo Ministério do Trabalho Emprego em virtude do descaso com as condições de trabalho.

As indenizações não necessariamente têm em seu bojo doença ocupacional ou profissional como causa, podendo ser fruto das condições precárias de trabalho, onde a insalubridade visivelmente é uma delas:

Tem despontado ainda ações judiciais de dano moral coletivo contra empresas que exercem atividades de risco, perigosas ou fortemente insalubres, porem sem adotarem as medidas profiláticas obrigatórias ou recomendáveis para o alcance de melhor ambientação dos locais de trabalho. (DELGADO, 2012, p. 656).

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Na análise das discussões doutrinárias e jurisprudenciais o que se traz a tona de forma majoritária é a mesma visão dos empregadores e empregados, ou seja, o direito do adicional e não o da saúde, conforme informa Süssekind (Apud OLIVEIRA, 2011, p.155):

As grandes discussões doutrinárias e jurisprudenciais nesta área referem-se à base de cálculo para pagamento, direito adquirido, ampliação ou redução das atividades que propiciam os adicionais. A luta, na realidade, tem sido travada em busca do direito ao adicional e não o direito à saúde; o adicional, que foi instituído como sanção, lamentavelmente se tornou o preceito... Como assevera Arnaldo Sussekind, “é incompreensível que se permita ao trabalhador vender saúde em troca de um sobressalário”.

Seja empregado, seja empregador, ou até mesmo magistrados e doutrinadores, o que se vislumbra de regra no Brasil é uma sociedade onde a preocupação está no enquadramento do agente em insalubre ou não; se o adicional será de grau mínimo, médio ou máximo; ou ainda se a percepção será sobre o salário base ou salário mínimo; deixando-se em segundo plano o cerne da questão: se a saúde do obreiro poderá sofrer danos em virtude da exposição aos agentes insalubres e quais os métodos eficazes para reduzir os riscos.

2.2 A insegurança do enquadramento do adicional de insalubridade para a saúde do trabalhador frente às contradições

A análise do direito a percepção da insalubridade parte na sua grande maioria de preceitos contidos na NR 15 da portaria 3214/78 do MTE, porém as interpretações são variadas, fazendo com que a mesma questão possa ter enquadramentos diferentes.

Em demandas judiciais onde os empregados buscam adicionais de insalubridade aos quais julgam ter direito e que não foram pagos, a matéria é tratada através de inspeção realizada por perito nomeado pelo juiz.

Os peritos do juízo deverão ser nomeados de acordo com o critério técnico a ser aferido e no caso do adicional de insalubridade ficam a cargo de engenheiro de segurança do trabalho ou médico do trabalho. Embora o art. 195 da CLT preveja, não necessariamente os peritos devem ter registro no Ministério do Trabalho e Emprego para verificação de condições insalubres:

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Ressalta-se, entretanto, que na época de sua edição, o dispositivo legal, objeto da Lei 6.514, de 22.12.1977, o art. 195, fazia menção de que estes profissionais deveriam estar registrados no Ministério do Trabalho. Atualmente está operacionalmente modificado, em face do surgimento da regulamentação dos cursos e das atribuições de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, com atribuições específicas definidas junto aos respectivos Conselhos. (ARAÚJO; BUCHARLES, 2008, p. 163).

O perito judicial nomeado tem por objeto dar embasamento técnico ao juiz com relação ao caso concreto analisado:

O perito judicial, através de suas diligências, representa o juiz. Costuma-se dizer que ele tem os “olhos e ouvidos” do juiz, devendo apresentar, em seu parecer técnico, as condições de trabalho e caracterizar o tipo de exposição existente para que o mesmo possa tirar conclusões sobre o processo a ser julgado. (ARAÚJO, BUCHARLES, 2008, P. 163).

O laudo emitido pelo técnico em decorrência da perícia realizada pode ser considerado como conclusivo pelo juiz, ou de outra forma ser acolhido com ressalvas, ou até mesmo desconsiderado.

O Magistrado poderá não considerar o laudo pericial com base no art. 436 do CPC, o qual dispõe que: “o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos” (BRASIL, 2015).

Ainda, o juiz poderá se valer para recusa do laudo, do dispositivo previsto no art. 437 do CPC: “O juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer suficientemente esclarecida”.

As contradições em termos de enquadramento da insalubridade na via judicial são inúmeras, tanto entre os peritos, quanto em relação aos Magistrados, que como já demonstrado não estão adstritos ao laudo pericial.

As discrepâncias ocorrem por motivos variados, entre elas podemos destacar os critérios utilizados na interpretação, onde uns adotam o critério qualitativo de análise, e outros o critério quantitativo; onde uns analisam criteriosamente os EPIs, de acordo com a descrição da NR 6 da Portaria 3214/78 do MTE, e outros desconsideram ou consideram parcialmente os critérios para averiguar a efetividade da proteção de tais equipamentos; onde uns utilizam

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como embasamento somente a defasada NR 15 da Portaria 3214/78 do MTE, e outros vão além desta norma, utilizando de outros critérios técnicos para o enquadramento.

O critério quantitativo sendo aquele que é necessário aferir, mensurar, de acordo com o critério técnico a ser adotado conforme o tipo de agente do caso concreto é muitas vezes ignorado nas perícias judiciais.

A inspeção local pelo Expert deixa de ser aferida de forma quantitativa e passa a ser analisada de maneira qualitativa, devido a primeira ser mais trabalhosa, ou até mesmo por questões de custos, onde podemos descrever como exemplo a questão da sobrecarga térmica e dos agentes químicos:

[...] A avaliação de calor é trabalhosa e evitada pela maioria dos profissionais peritos, que preferem cotejar aquelas contidas no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) da empresa.

[...]No caso dos agentes químicos a coisa se complica ainda mais. Receosos de não receber os honorários, os peritos quase sempre não realizam avaliações químicas quantitativas, preferindo somente as qualitativas”.(VENDRAME, 2015, p. 92).

O anexo 13 da Portaria n. 3.214/1978, é aquele que trata de agentes químicos de forma qualitativa, porém há contradições nos critérios da apuração da insalubridade, onde alguns interpretadores da norma consideram ser importante verificar o tempo de exposição e outros desconsideram tal fator:

Na avaliação qualitativa, a inexistência do limite de tolerância não significa que qualquer exposição seja insalubre, exceto para aquelas substâncias consideradas cancerígenas. Assim sendo, a intensidade do contato, a natureza e o tempo de exposição são fatores importantes para a caracterização da insalubridade, conforme preceituam o artigo 189 da CLT. Muitos intérpretes desconsideram o tempo de exposição do trabalhador ao agente para caracterização da insalubridade, alegando que tal análise não está explícita no anexo 13, Portaria n. 3.214/1978. Deve-se ressaltar que todo o estudo deverá ser embasado numa interpretação sistemática da legislação, e dela precedido, bem como de regulamentações posteriores acerca do assunto. (SALIBA, CORRÊA, 2011, p. 115).

Além do enquadramento dos agentes, por suas características qualitativas e quantitativas temos como critério a polêmica interpretação do uso efetivo de EPIs.

Detectado o agente insalubre presente nas atividades dos obreiros, verifica-se quanto à presença do uso efetivo de EPIs que impeçam a ação agressiva à saúde.

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Quando se fala em EPIs se traz a tona o conceito da efetividade da proteção que se relaciona com eficácia e eficiência, conceitos os quais na obra Perícias do Trabalho, podemos verificar:

Para que a proteção seja dada como efetiva é necessário que sejam entendidas as diferenças entre eficiência e eficácia.

A eficiência está relacionada ao equipamento, especificamente suas características próprias, finalidade e habilitação para elidir ou neutralizar algum agente prejudicial, físico, químico, biológico ou mecânico.

A eficácia está relacionada a outros fatores, dentre eles, a adaptabilidade, a forma de uso, o estado de conservação, a saturação de filtros e outros fatores diversos. (PIANTÁ, p. 88, 2011).

A efetividade dos EPIs não depende só do fornecimento, é cercado por uma série de outros requisitos, como ter o certificado de aprovação (CA) para a função a que se destina; ser fornecido com periodicidade adequada, de acordo com a durabilidade do EPI frente à exposição do caso concreto; ter o empregado usuário do EPI o treinamento adequado quanto ao uso, guarda e conservação e quanto aos riscos; verificar a adaptabilidade do EPI para usuário em questão, entre outros.

De acordo com Ricardo Resende (2013, p. 857): “No tocante à aquisição do EPI, o empregador somente pode comprar os equipamentos devidamente certificados pelo Ministério do Trabalho através do chamado “CA” (certificado de aprovação)”.

Nessa mesma linha, a NR 6 da portaria 3214/78, traz entre as obrigações do empregador o fornecimento do EPI, somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, o qual é o dotado de certificado de aprovação – CA, sendo que este de regra deve estar gravado no próprio EPI:

“6.9.3. Todo EPI deverá apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o nome comercial da empresa fabricante, o lote de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador, o lote de fabricação e o número do CA.” (BRASIL, 2015).

Ainda, podemos verificar que a súmula 80 do TST, traz a necessidade do uso de EPIs aprovados pelo MTE: “A eliminação da insalubridade mediante fornecimento de aparelhos protetores aprovados pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a percepção do respectivo adicional.” (BRASIL, 2015).

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Portanto, o certificado de aprovação é um dos requisitos para análise da existência ou não da insalubridade, a exemplo podemos citar o uso de luvas como equipamento de proteção individual, que se disponibilizadas as inadequadas podem se tornar imprestáveis em pouco tempo:

Com as luvas acontece o mesmo. A especificação errada faz com que a luva dure alguns minutos quando exposta a determinado agentes químico, e a sua troca se torna tão freqüente que o próprio trabalhador acaba entrando em contato direto com o agente químico para não requisitar luvas no almoxarifado. ( VENDRAME, 2013, p. 82).

Outro fator quanto ao EPI, é o prazo de durabilidade, que está pautado na periodicidade de entrega:

A periodicidade de troca de EPI é ditada pelo próprio histórico de substituições da empresa, ou seja, com informação pretérita de quantos equipamentos foram fornecidos em determinado período é possível estimar a durabilidade média do EPI válido para aquela atividade e local. (VENDRAME, 2013, p.82).

Tratando-se de histórico de substituições de EPIs realizados pela empresa, o controle de recibos de entrega de EPIs pode ser passível de averiguação pelo Expert, e em alguns casos demonstrar a regularidade do fornecimento. Tal controle está previsto no item 6.6 da NR 6 do MTE, entre as responsabilidades do empregador:“ h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico”.

Na inspeção pericial nem sempre há fichas de EPIs, e quando há nem sempre as mesmas refletem os fatos ocorridos:

Inúmeras vezes há recibos de fornecimento de EPI´s adequadamente preenchidos e assinados, mas isso não comprova que os Reclamantes tenham feito uso permanente e adequado dos mesmos. Simplesmente são assinados em bloco, ou antecipadamente, para facilitar as coisas e depois, não são entregues ou recebidos e, por via de conseqüência, não utilizados.

Também há casos de uso adequado e contínuo de EPI’s sem assinaturas em recibos. Os empregados buscam os equipamentos no almoxarifado, ou esses são colocados e disponibilizados livremente, e utilizados sem os correspondentes Recibos de Entrega de EPI. (PIANTÁ, 2011, p. 89).

O treinamento e informação, quanto ao uso de EPIs frente à nocividade dos agentes aos quais devem atuar como barreira, é fundamental para efetividade da proteção da saúde do trabalhador.

Referências

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