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Pânico: nas perspectivas da psicanálise e da psiquiatria

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Academic year: 2021

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ENEIDA MARIA FIEGENBAUM

PÂNICO: NAS PERSPECTIVAS DA PSICANÁLISE E DA PSIQUIATRIA

IJUÍ, DEZEMBRO DE 2015

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PÂNICO: NAS PERSPECTIVAS DA PSICANÁLISE E DA PSIQUIATRIA

Monografia apresentada para obtenção de graduação no curso de Psicologia da Unijuí.

Orientadora: Ana Maria de Souza Dias

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PÂNICO: NAS PERSPECTIVAS DA PSICANÁLISE E DA PSIQUIATRIA

Eneida Maria Fiegenbaum

Banca Examinadora:

_____________________________________________ Ana Maria de Souza Dias

_____________________________________________ Angela Maria Schneider Drüngg

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Este trabalho é resultado do incentivo dos meus filhos enquanto pessoas essencialmente lindas e admiráveis. Agradeço por terem me oportunizado a realização de um desejo a muito adormecido.

Ao meu esposo Valdir por ter apostado no meu potencial, pela sua paciência, companheirismo o seu carinho por todo esse meu percurso, para que essa etapa fosse concretizada.

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À minha família por acreditar no meu potencial.

Aos professores pela contribuição para a minha formação.

À minha orientadora Ana Dias pelo seu acolhimento generoso que fez com que eu sustentasse a construção do meu trabalho.

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Eneida Maria Fiegenbaum Orientadora: Ana Dias

RESUMO

Este trabalho tem o intuito de trazer reflexões da psiquiatria e da psicanálise sobre a psicopatologia chamada de síndrome do pânico, tão frequente hoje nos consultórios médicos e na clínica de psicologia. Para tanto, em primeiro lugar, traz alguns elementos sobre a construção dessa patologia ao longo dos tempos. Nesse mesmo capítulo realiza uma análise sobre as concepções da síndrome do pânico elaboradas pela psiquiatria e, em um segundo capítulo, traz os estudos da psicanálise. Ao considerar a leitura de Freud, a pesquisa busca ainda analisar o transtorno na cultura como um sintoma social. O trabalho revela que a emergência do excesso não assimilado pelo sujeito pode originar psicopatologias, que para a psicanálise estão relacionadas com a angústia, e que na psiquiatria são chamadas de ataques de pânico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

CAPITULO I... 9

Reflexões iniciais sobre o pânico ... 9

CAPÍTULO II ... 18

O que aponta a psicanálise sobre o pânico ... 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 33

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INTRODUÇÃO

A abordagem do tema sobre a síndrome do pânico pelo presente trabalho visa buscar uma maior aproximação do contexto teórico da psicanálise e da psiquiatria e suas abordagens com relação ao psicodiagnóstico e seu tratamento. A realidade hoje nos mostra a grande incidência de pessoas com a doença. Atualmente houve um grande aumento na procura pelo tratamento dessa patologia na expectativa de encontrar alívio para este sofrimento.

Falar da síndrome do pânico nos leva a pensar imediatamente em medo. Embora se saiba que o medo é um fenômeno que acompanha o homem desde os primórdios, sabemos que sem o medo o homem não sobreviveria. Na síndrome do pânico, o corpo reage como se estivesse frente ao perigo de morte eminente, porém não há nada visível que possa justificar a reação de ansiedade frente às sensações do próprio corpo. Há um grande estranhamento e um imenso susto em relação ao que é sentido internamente, ou seja, existe uma ameaça que literalmente vem de dentro, algo aterrorizante. Segundo o médico psiquiatra Valença, às repetições das crises surge um medo de ter novos ataques de pânico, uma ansiedade antecipatória. (VALENÇA, 2013).

No campo da psicologia existem tratamentos, e por essa razão, a importância de abordar o tema da síndrome do pânico pelo olhar da psicanálise. Também é fundamental estudar o quadro, enquanto um sintoma social, pois esta análise reflete sobre os possíveis fatores que poderão desencadear o quadro. Por outro lado, pode trazer a visão da psiquiatria, o que essa ciência pensa teoricamente a respeito da síndrome do pânico, possibilita maior clareza sobre o tratamento dessa psicopatologia.

Desta forma, esta proposta de monografia busca maior entendimento sobre o pânico com relação à abordagem da psicanálise e da psiquiatria, trazendo elementos retirados das duas ciências, a partir das referências bibliográficas sobre o tema.

O primeiro capítulo iniciará com um pequeno percurso histórico sobre o assunto e transcorrerá sobre questões relacionadas às diferenças, tanto teórica como clínica, e as possíveis formas de tratamento da psiquiatria e da psicanálise. No segundo capítulo pretende-se aprofundar o tema a partir da abordagem psicanalítica, quando a leitura de Freud pretende-será trazida através de comentadores contemporâneos. Assim, este trabalho de conclusão de curso configura-se como um trabalho de pesquisa teórica.

A psiquiatria desde os primórdios cuida das patologias mentais originadas pelo distúrbio orgânico, enquanto o psicólogo ou terapeuta se ocupa de cuidar do sofrimento

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humano através da escuta. Partindo dessa ideia, passa a ser evidente a importância de articular outras áreas do conhecimento, pois é sabido das influencias do social da cultura e da política sobre o sujeito. Sendo assim os profissionais precisam saber de onde o sujeito se enuncia, para distinguir o que é que produz o sofrimento e o que é da organização da sua cultura, pois o social, o econômico e o político definem as patologias.

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CAPITULO I

REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O PÂNICO

O capítulo aborda um breve resumo sobre a história da psiquiatria, partindo da ideia de que a humanidade desde a sua Pré-história sempre fez uso das plantas e seus princípios ativos ou substâncias na tentativa de curar as doenças, pois o homem primitivo atribuía tudo à ação das forças sobrenaturais, como bruxaria, os demônios e os deuses. Acreditava-se que nessa época as pessoas que portassem algum distúrbio de comportamento, deveriam ser atendidas em rituais tribais, para que fossem corrigidos os supostos distúrbios. Não obtendo cura a pessoa era abandonada a mercê de sua própria sorte.

Hipócrates pai da medicina passou a ser considerado o pioneiro na classificação das doenças mentais (9384-322 a.C), por ser o primeiro a compreender a doença mental como algo natural, livre das implicações religiosas, considerando o cérebro como sendo o centro das atividades mentais, fazendo um ponto de corte nesse momento da história, entendendo a doença não mais como algo diabólico, sobrenatural, e sim advindas de origem cerebral, ou seja, desmistificando a epilepsia como um mal sagrado passando a ser como todas as doenças uma causa natural.

A partir da Idade Média, todo o conhecimento científico ficava retido nos mosteiros. Nesse momento histórico as pessoas acreditavam nas superstições, no sobrenatural, enquanto o conhecimento ficava restrito a poucos. Essa situação contribuiu fortemente para a repressão sexual acabando por propiciar surtos catárticos na época. Como ilustra Pieter Brueghel, em suas pinturas, se trata de célebres casos de possessões demoníacas coletivas.

Era comum nessa época a Igreja controlar a sexualidade conduzindo e determinando quando e onde o sexo devia ser feito, já que o sexo era considerado pecado e deveria servir apenas para procriação.

Para Freud os seres humanos nascem com impulsos vitais para a busca do prazer, por ele denominado de libido. Contudo as mulheres dessa época eram reprimidas pela Igreja. Visto por esse prisma, era muito difícil para as mulheres da época liberarem as suas fantasias eróticas e, consequentemente, era comum o aparecimento de sofrimentos neuróticos.

No renascimento a forma de pensamento sobre as doenças não se altera muito, com relação ao período medieval, as possessões demoníacas continuam sendo atribuídas aos distúrbios mentais. Portanto a psiquiatria passou um longo período ligado à religião e a magia.

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A partir do século XVIII, nasce com Philippe Pinel o modelo nosográfico classificando, catalogando e descrevendo os quadros clínicos, sua contribuição foi de grande importância para o desenvolvimento da psiquiatria moderna. Lembra-nos Neto:

Com Pinel. (1745-1826) na chefia do hospital de Bicêtre e Salpêtriere, os pacientes psiquiátricos passaram a ser liberados das sangrias, purgativos e vesicatórios e também das cadeias e dos grilhões a que eram submetidos, passando a receber um tratamento humanitário e psicologicamente orientados. (NETO, 2003: 26).

Em outras palavras Neto (2003) lembra-nos que Pinel o fundador da psiquiatria moderna libertou os doentes das correntes com que os prendiam junto aos criminosos descrevendo os quadros clínicos. Com essa separação das outras formas de desrazão, a loucura tornou-se uma doença. E dessa maneira fez com que os loucos passassem a ser tratados adequadamente de uma forma humanizada.

O termo psiquiatria, deriva do grego clássico Psyché que significa alma e Íatros que quer dizer médico. Por esse viés a psiquiatria é a mais antiga das especialidades médicas, pois o ato de tratar e cuidar estão entre os mais remotos recursos da medicina tradicional. Por outro lado, é muito recente a sua separação da neurologia e a aquisição de seus próprios conceitos, pois a psiquiatria se fundamenta de todo o conhecimento psicopatológico e por definição múltipla, ou seja, é um campo de pesquisa e interlocução composta por múltiplas posições como a psicologia e por outras áreas do conhecimento.

Segundo Roudinesco (1998), esse termo psicopatologia, utilizado no final do século XIX pela medicina, psicologia, psiquiatria e psicanálise, serve para designar o sofrimento da alma. Ou seja, são distúrbios do psiquismo humano diagnosticado a partir de uma distinção entre o normal e o patológico, variável de acordo com cada época.

No fim do século XIX, surge a psiquiatria científica, que passa a se dedicar aos estudos da anatomia cerebral neuronal, afastando o orgânico do psíquico que passam a tomar rumos antagônicos. Não é mais concebido um como complemento do outro, como se não fossem uma só unidade.

Na passagem do século XIX para o século XX, Sigmund Freud (1856-1939) altera o modo de pensara vida psíquica do homem, construindo sua teoria do inconsciente, sendo motivado pelas influências vindas do social, nos seus aspectos econômicos, político e cultural. Ele afirma que os homens contribuem para alterarem o desenvolvimento do conhecimento relacionado ao seu tempo. Freud propõe investigar os mistérios obscuros do psiquismo, constituídos pelas fantasias, sonhos, esquecimentos, ou seja, pela interioridade do homem, e

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torná-los problemas científicos. A sua dedicação investigativa e sistemática desses problemas o levou a criação da psicanálise. (BOCK. 2009:46). Lembra-nos Berlinck:

Final do século XIX e início do século XX, que Freud descobriu o inconsciente sexual, inicialmente entendido como um conjunto de conteúdos representativos que é desalojado de nossa consciência porque produz sofrimento, e mais tarde, como uma dimensão de nossa alma que é diretamente inacessível por nossos recursos racionais, o homem passou a ser concebido como um sujeito propriamente dito psicopatológico, ou seja, portador de um excesso, de uma dor, de um sofrimento psíquico a respeito do qual falassem parar, ainda que não o diga constantemente. (BERLINCK, 2000: 27).

Por outro lado, Pereira afirma que Freud teve uma importante influência para a Classificação Internacional das Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando ele apresenta a neurose de angústia sob duas formas: um como estado crônico e a outra como um ataque de angústia. Segundo Freud “as duas formas podem combinar-se facilmente; e um ataque de pânico nunca ocorre sem sintomas crônicos”. (PEREIRA, 199:45). E dessa forma Freudiana de organizar o quadro clinico foi assimilada pela psiquiatria, até a poucos anos atrás, a categoria por ele criada de “neurose de angústia” ainda fazia parte de um sistema nosso gráfico.

A partir de 1980 com a reformulação do termo ataque de pânico e transtorno de ansiedade generalizada, substituindo as descrições de Freud, o transtorno passa a ter um caráter biológico, pois não eram compreendidos os ataques com relação aos seus conteúdos psíquicos apresentados pela psicanálise. E assim descrito no DSM-III, veio substituir a neurose de angústia descrita por Freud.

Pereira discorre que tanto no transtorno do pânico como na neurose de angústia, os sintomas são os mesmos, tanto no caso da neurose de angústia descrita por Freud em sua época, como o quadro descrito pela psiquiatria na atualidade.

As psicopatologias são descritas e classificadas pelos seus sintomas no CID 10, que tem como objetivo orientar sobre os diagnósticos no mundo todo, sendo de extrema importância para que todos possam falar a mesma linguagem ao que se refere às doenças.

Para refletir sobre a gênesis dos traumas e das neuroses, faz-se necessário um breve percurso pelo texto de Berlinck, intitulado “Catástrofe e representação”. Segundo o autor, a era glacial, fala sobre o resfriamento da terra onde o homem faber (homem da ação) foi extinto para mais tarde surgir o homem sapiens (homem do saber). Na visão Freudiana o estado que correspondia a uma normalidade, foi perdida pela catástrofe glacial e o hominídeo foi obrigado a se transformar em humano. Dito de outra forma, deixando como herança dessa

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época, a depressão, um estado que acompanha essa transformação, o homem se deprimiu, pois desapareceu o objeto primitivo de satisfação, a sensorialidade. E passou a se organizar pela regularidade sexual e não mais pela sensorialidade, ou melhor, pela pulsão, isto é, o homem acaba entrando num estado de vazio e deprime-se, lhe produzindo dor e angústia. Não conseguindo dar conta desse estado de vazio, do que lhe ocorreu se recolhe e busca um parceiro que lhe dê sensação de estar reencontrando o objeto perdido. Aponta-nos Berlinck:

Assim, por exemplo, foi obrigado a abandonar a posição quadrúpede e adquirir a posição bípede para alcançar alimentos em arbustos e árvores, já que o verde que nascia rente à superfície da terra ficou congelado. A aquisição da posição ereta não ocorreu sem perdas. O hominídeo perdeu contato com a regularidade sexual que se sustentava pelo olfato. Numa conhecida nota de rodapé existente em “O mal-estar na civilização” (1930/1974) Freud diz: A periodicidade orgânica do processo sexual persistiu, é verdade, mas seu efeito sobre a excitação sexual psíquica foi invertido. Parece mais provável que essa modificação se tenha vinculado à diminuição dos estímulos olfativos, através dos quais o processo menstrual produzia efeito sobre a psique masculina. Seu papel foi assumido pelas excitações visuais, que, em contraste com os estímulos olfativos intermitentes, conseguiram manter um efeito permanente... A própria diminuição dos estímulos olfativos parece ser consequência de o homem ter-se erguido do chão, de sua adoção de uma postura ereta; isso tornou seus órgãos genitais, anteriormente ocultos, visíveis e necessitados de proteção, provocando desse modo sentimento de vergonha nele. (BERLINCK, 2000: 28-29).

Essa ameaça de extermínio da espécie pela catástrofe glacial quando o hominídeo teve de ir a busca do alimento, andar em posição ereta a qual levou a perda da regularidade sexual. O cheiro da hominídea fértil hoje perdido encoberta por outros aromas artificiais deixou o hominídeo perdido e angustiado. Berlinck (2000) lembra-nos de que Freud, no texto “neuroses de transferência”, apresenta que o psiquismo humano é psicopatológico, a partir da catástrofe glacial. Segundo autor nos aponta para as neuroses: Histeria de angústia – Histeria de conversão – Neurose obsessiva – Demência precoce – Paranóia – Melancolia-mania.

Com relação à neurose de angústia, ou seja, ao transtorno do pânico, uma patologia bastante comum na nossa contemporaneidade, é importante lembrar que mesmo sendo uma patologia descrita com muita semelhança, tanto para a psicanálise como para a psiquiatria, algo é diferente e essa diferença está na dimensão do afeto. Freud já falava a respeito do afeto, quando em seu estudo sobre a histeria, dizendo que a emergência do afeto é a rememoração do recalcado, para que possamos diferenciara visão da psicopatologia e da psicanálise. Pois é da ordem dos afetos que se constitui o que é da ordem do sofrimento. (PEREIRA, 1999: 23). Pereira nos diz:

Trata-se de conferir de um estado psicopatológico central aos ataques repentinos e inexplicáveis da mais intensa angústia. Esses são acompanhados de sintomas físicos e psíquicos pronunciados tais como taquicardia, palpitações, dores torácicas,

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sensações de sufocamento, vertigens, tremores, náusea, vômito, sudorese, impressão de estar caindo sem parar, despersonalização e desrealização. Frequentemente, o paciente descreve a sensação de estar morrendo e tem medo de ficar louco e perder o controle. (PEREIRA, 1999: 45).

Valença (2013), em seu artigo sobre transtorno do pânico, ressalta a existência de três características importantes com relação aos ataques de pânico. A primeira é a mais importante, se caracterizando pela ansiedade súbita, um medo intenso de morrer. Os sintomas físicos são incontroláveis, são sintomas automáticos de forma crescente que criam uma sensação subjetiva de terror, com duração de 10 a 30 minutos.

A segunda característica é a ansiedade antecipatória. Nesta fase a pessoa desenvolve uma preocupação de vir a ser acometido por um novo ataque, surgindo um estado crônico de ansiedade. A ansiedade antecipatória ocorre no intervalo entre os ataques de pânico, sendo uma ansiedade constante e difusa. Segundo Valença (2013), esta forma de ansiedade tem muitas características encontradas no Transtorno de Ansiedade Generalizada: aumento da atenção sobre sensações somáticas, apreensão e hiperatividade. E na terceira fase, surge a evitação fóbica, pois as pessoas ficam com muito medo de sofrer um novo ataque de pânico evitando estar em lugares ou situações de onde seja difícil ou embaraçoso escapar ou obter ajuda, caso o ataque de pânico volte.

O autor nos mostra como estão catalogadas essas três características do transtorno do pânico no CID-10.

Como expressa Valença:

Com a abolição do termo “neurose” e consequente reclassificação dos transtornos de ansiedade, os ataques recorrentes de ansiedade (ataques de pânico), associados ou não a agorafobia, passaram a ter uma nova classificação nosológica: DSM-III1, DSM-III-R2, DSM-IV3, DSM-IV-TR4 e CID-105. O diagnóstico do Transtorno de Pânico (TP) é baseado na existência de três síndromes clínicas importantes: o ataque de pânico, a ansiedade antecipatória e a esquiva ou evitação fóbica. De acordo com Faravelli e Paionni6, o TP parece ter uma prevalência ao longo da vida de aproximadamente 1,5 a 2% da população, estando associada a maior morbidez psiquiátrica depressão, alcoolismo, risco de suicídio. (VALENÇA, 2013: 6).

A síndrome do pânico, na linguagem psiquiátrica chamada de transtorno do pânico, é uma enfermidade que se caracteriza por crises absolutamente inesperadas de medo e desespero. Uma ansiedade excessiva causando sofrimento e prejuízo à vida das pessoas acometidas por essa patologia. A pessoa tem a impressão de que vai morrer na crise de um ataque cardíaco, porque o coração dispara, sente falta de ar e tem sudorese abundante. As semelhanças dos sintomas do transtorno do pânico e da ansiedade de angústia descrito pelos psiquiatras são similares aos que Freud descreveu em sua teoria neurose de angústia.

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Nas palavras de Bernik:

Os sintomas são relativamente similares. As sensações físicas da ansiedade são uma reação normal, por exemplo, caso a pessoa tenha fobia de lagartixa ou de falar em público e se veja diante de uma dessas situações. O que caracteriza o pânico é a forma abrupta e inesperada que os sintomas aparecem e o fato de a crise atingir o ápice em dez minutos. Na verdade, bastam 30 segundos para o paciente, que estava se sentindo bem, ser tomado inexplicavelmente por sintomas que, de certa forma, todos conhecemos: boca seca, tremores, taquicardia, falta de ar, mal-estar na barriga ou no peito, sufocamento, tonturas. Muitas vezes, tudo isso vem acompanhado da sensação de que algo trágico, como morte súbita ou enlouquecimento, está por acontecer. Nesses casos, é comum a pessoa ter uma reação comportamental de pânico e sair à procura de socorro. Aliás, a sala de espera dos prontos-socorros é um dos lugares onde o médico mais se depara com transtornos de pânico. (BERNIK, 2015: 2)

O autor mencionado acima nos aponta que a pessoa acometida pelo ataque de pânico fica à espera de uma nova crise acontecer, sem saber quando ela poderá se manifestar, acarretando em ansiedade antecipatória. Ela fica preocupada que a crise possa emergir em um local onde não possa sair ou ser socorrido, como dentro de elevadores, metrô, avião, salas de espera de médicos e dentistas, congestionamentos de trânsito. Se reagir de forma a evitar esses lugares a partir dessa experiência, desenvolverá uma segunda doença, a agorafobia, um quadro fóbico provocado pelo pânico não tratado, que se caracteriza por fugir de situações nas quais uma crise de pânico possa representar perigo, causar embaraça ou a sensação de estar presa numa armadilha. Geralmente os pacientes com pânico sofrem mais pela agorafobia do que pelo pânico em si, ou seja, o medo de sentir medo.

Segundo o psiquiatra Bernik (2015), grande parte dos pacientes desencadeia a primeira crise entre 15 a 20 anos sem motivo aparente, sendo mais frequente em mulheres, mas a doença também pode ocorrer com evolução e sintomas idênticos nos homens. Segundo o autor, atribui-se essa frequência maior no sexo feminino pela sensibilização das estruturas cerebrais provocadas pela flutuação hormonal, visto que a incidência de pânico aumenta no período fértil da vida.

Bernik afirma que geralmente depois da primeira crise, ocorrem outras duas a quatro por semana que vêm e passam. A partir de então, num período que se estende de um até cinco anos, uma série de consequências começa manifestar-se. A pessoa tranquila de antes se torna tensa por dois motivos especiais: a expectativa da próxima e inesperada crise e, paradoxalmente, porque a tensão protege contra o pânico. Se antes possuía uma personalidade relaxada e autoconfiante, fica insegura e leva uma vida mais restrita por causa da fobia que se

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instalou. Em longo prazo, 60% dos pacientes com pânico apresentam depressão e 12% tentam suicídio.

Sobre a participação do sistema nervoso central na crise do pânico, Bernik afirma que nada é puramente psicológico, porque os fenômenos psicológicos passam pelo cérebro. As estruturas que deflagram o pânico num indivíduo são as mesmas que existem em todos nós para desencadear uma reação de fuga e luta numa situação de emergência.

Ao longo da evolução da espécie humana, o cérebro humano desenvolveu sistemas fundamentais para responder a perigos próximos ou distantes que levam à destruição imediata do organismo. O pânico resulta da hiperatividade desse sistema cerebral, que foi desenhado para produzir respostas imediatas ao perigo iminente.

Bernik descreve que na crise de pânico deve-se, verificar se as crises não estão sendo provocadas por uso exagerado de medicamentos, como corticoides e anfetaminas. Ainda deve-se ficar atento se o quadro de pânico não está relacionado a outras patologias. O autor faz uma observação com relação ao tratamento das crises do pânico. Afirma Bernik:

O pânico pode indicar um problema primário próprio do transtorno de pânico ou ser a manifestação secundária do uso exagerado de medicamentos que podem provocar crises de pânico em pessoas propensas, como os corticóides e a maioria das anfetaminas, no Brasil, largamente usados por mulheres jovens que querem emagrecer. É preciso pesquisar também o uso de psico-estimulantes, como a cocaína e o ecstasy, uma anfetamina halogenada de ação serotonérgica extremamente rápida. Portanto, é fundamental verificar se o quadro de pânico é secundário a outras patologias. O hipertireoidismo, por exemplo, pode provocar sintomas muito parecidos com os das crises de pânico.

Uma vez afastadas essas possibilidades, é relativamente simples firmar o diagnóstico clínico do transtorno de pânico. Os sintomas são muito claros. Deve-se, ainda, tentar fazer uma análise funcional para estabelecer as limitações que a doença acarretou a fim de estimular uma melhora na qualidade de vida do paciente. (BERNIK, 2015: 4)

Com relação ao tratamento, o autor acima recomenda a combinação das seguintes técnicas, o uso do medicamento aliado à terapia. Manter o tratamento por seis meses no mínimo, sendo que o ideal deve ser por um ano. A melhora costuma ocorrer entre duas e quatro semanas, porem na maioria das vezes, segundo o autor, muitos pacientes acabam desistindo do tratamento, devido aos efeitos colaterais imediatos, ao contrário dos efeitos positivos que demoram de três a quatro semanas para aparecerem. Como se não bastasse, as crises de pânico pioram nas primeiras 48 horas do tratamento com remédios.

Nesses casos são de fundamental importância o apoio e a conscientização da família no entendimento da doença. Não entender como fraqueza moral e falta de personalidade, já que o ataque de pânico não deixa marcas físicas visíveis no corpo.

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O autor faz uma ressalva com relação aos efeitos da maconha para as pessoas predispostas a crises de pânico. Afirma Bernik:

Um dos mecanismos de ação da maconha é o estímulo serotonérgico, também provocado pelo LSD, uma droga alucinógena ligada às crises de pânico. Não há quem não tenha ouvido falar em badtrip, a viagem sem volta, caracterizado por um mal-estar intenso que pode levar ao suicídio.

Embora haja relatos de que a maconha é relaxante, dá sono e fome, está demonstrado que pode desencadear crises de pânico em pessoas predispostas. Por isso, pacientes com transtorno de pânico não devem fumar maconha. (BERNIK, 2015: 6).

Atualmente algumas vertentes da psiquiatria acabam reduzindo o problema patológico a um neurotransmissor, como a serotonina que age no controle das emoções. Portanto a medicação exerce uma função fundamental com relação ao controle dos ataques de pânico, proporcionando as pessoas certo domínio sobre o sintoma físico, possibilitando a elas equilíbrio emocional, para que se sintam mais seguras e ter uma melhor qualidade de vida, pois de maneira geral as crises são incapacitantes. Por outro lado, o discurso psiquiátrico facilita ao sujeito entender o seu problema da ordem biológica, mas dificulta o entendimento dos seus sintomas. As pessoas acabam apostando no medicamento a reorganização de suas vidas, deixando de implicar-se subjetivamente.

Mario Eduardo Pereira, em seu texto “O desamparo e a clínica psicanalítica” (1999), nos faz refletir acercada problemática levantada por ele. A hipótese é de que o uso inadequado de medicação pode produzir o apagamento da subjetividade do sujeito, por outro lado, apresenta também a relevância da própria medicação, na medida em que em momento de crise, esta entra como fundamental enquanto possibilitadora do próprio tratamento. Faz uma alerta com relação ao discurso intelectualizado da psiquiatria, o qual desconsidera a imperação subjetiva do sujeito, dito de outra forma, de maneira geral não é levado em consideração o fator subjetivo do paciente. Na medida em que a medicação se coloca como ferramenta substancial, o pânico é visto apenas como patologia.

O problema é que, nesse sentido, a pessoa acometida pelo ataque de pânico permanece com um temor sem explicação, de que as crises de pânico possam a qualquer momento ressurgirem. No entanto, autora firma a importância da medicação, desde que este saber da psiquiatria possa dar lugar também à palavra, à elaboração subjetiva do sujeito. O autor nos diz que o tratamento pela palavra, com estas pessoas acometidas pelo pânico, fundamenta-se em três dimensões consideradas principais. São elas:

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1). Encontro do sujeito com um gozo até então desconhecido e irredutível a uma tradução completa pela palavra. 2). Produção na transferência, das determinações históricas e simbólicas desse sintoma através de uma enunciação que possa ser reconhecida pelo sujeito como portadora de uma verdade pessoal. 3). Reengendramento de uma narrativa aberta que inscreva o sujeito, seu desejo e seu sintoma em um contexto significativo, transformável, que permita um trabalho constante de auto significação, sem cristalizar-se em nenhuma de suas formulações parciais. Estas devem manter o caráter de construções provisórias. (PEREIRA, 1999: 282).

Com relação à clínica, o autor faz uma alerta sobre o perigo ao qual o psicanalista se depara, frente à necessidade de não responder a demanda do paciente. E nos aponta ainda, que para obter sucesso no tratamento analítico se faz necessário, conforme as palavras do autor: “sua arte técnica repousará em manter a situação analítica nesse tênue espaço entre acolhimento e falta, que contenha o desespero, mas não impeça a linguagem”. (PEREIRA, 1999: 288).

“O homem deprimido não acredita mais na validade de nem uma terapia. No entanto, antes de rejeitar todos os tratamentos ele busca desesperadamente vencer o vazio do seu desejo”. (RUDINESCO, 1999: 13). Em outras palavras, o sujeito contemporâneo busca formas mais imediatas para obter alívio ao seu sofrimento e acaba optando pela medicação, pois acredita ser mais eficaz. Porém a medicação traz outro lado que muitas vezes não é levado em conta pelo discurso médico, além da medicação ser de extrema importância acaba tamponando o sofrimento psíquico não deixando a pessoa refletir sobre a origem do seu sofrimento.

Constantemente o terapeuta se depara com essa patologia na clínica psicanalítica. O pânico parece estar mais ligado à ideia de inibição e angústia, que não são sinônimos. Ambos se produzem em momentos de crise, de chegada aos extremos, onde ocorre uma desorganização do psíquico que demanda ao sujeito dar conta da sua castração, momento que pode resultar em um ataque de pânico.

Na atualidade vive-se um fenômeno em que as pessoas não têm mais tempo para as tristezas e decepções, correndo em busca de uma eterna identidade, já que essa identidade muda a cada momento, pois os valores sociais estão em constante transição.

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CAPÍTULO II

O QUE APONTA A PSICANÁLISE SOBRE O PÂNICO

Falar sobre pânico é necessário juntamente abordar sobre a angústia. Para Freud, a angústia é um afeto, que faz parte da subjetividade da humanidade, sendo esse afeto um fenômeno universal, sem ele as espécies não sobreviveriam, pois é através desse afeto que sentimos as mais diversas sensações, por um lado sensações desagradáveis e por outro, essas mesmas sensações, ou melhor, emoções fazem parte da vida do homem.

Portanto, a angústia entende-se como sendo um estado emocional onde o sentimento humano se manifesta, seja da forma física ou psíquica, estar angustiado, isto é, sentir a presença de uma sensação de sofrimento por razões desconhecidas e não acessíveis a nossa consciência.

Freud aponta dois conceitos principais os quais estão entrelaçados nesse afeto: pulsão e a angústia. Portanto, esse afeto se entende como sendo um estado emocional onde o sentimento humano, irá manifesta-se de duas forma tanto física como psíquica, causando extremo desprazer ao sujeito.

Porém, mesmo sendo um afeto o qual caracteriza a existência do humano, há situações onde assume uma intensidade transbordante, paralisando o sujeito diante do medo da loucura ou da morte, em meio a uma diversidade de manifestações físicas que lhe fogem ao controle.

Segundo Freud, em “Inibição, Sintoma e Ansiedade” (1996), o autor trabalha a angústia como tema central, sendo considerado por ele, o sintoma como, consequência da repressão emergindo como um sinal contra o perigo pulsional, dizendo-nos que:

Existe um mecanismo pelo qual o ego restringe a geração de experiências dolorosas: Dessa maneira, a liberação do desprazer fica restringida em quantidade, e seu início atua como um sinal ao ego a fim de fixar uma defesa normal em funcionamento. (FREUD, 1996: 86).

O autor explica que a inibição restringe a função do ego, mas não necessariamente é de ordem patológica sendo à inibição uma tentativa de evitar a angústia advinda de diferentes origens, pode ser uma tentativa do ego de evitar conflito com o id ou superego, o empobrecimento de energia. “O ego renuncia a essas funções, que se acham dentro da sua esfera, afim de não ter de adotar novas medidas de repressão a fim de evitar entrar em conflito com o id”. (FREUD, 1996: 93).

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A angústia é um afeto resultante da excitação sexual não consumada, aparece como uma forma de defesa, ela é desligada dos representantes pulsionais. Assim não tendo como simbolizar, vira angústia, sendo o eu o produtor, ou seja, o lugar da angústia pela sua própria imaturidade não encontra representação, ou pelo modo inadequado de satisfação ou recalque. A angústia se manifesta na neurose de angústia, como uma energia livre flutuante que gera uma ansiedade expectante em busca de um objeto para que possa se amalgamar.

Para Freud (1996) a angústia é a impossibilidade do sujeito de elaborar psiquicamente a excitação sexual, ou seja, a impossibilidade de transformar sua energia em algum sentido. A segunda forma que se apresenta na angústia neurótica é na forma de fobias que está vinculada a determinados objetos e situações.

Em sua segunda teoria, Freud anuncia que o eu é o lugar da angústia, ou seja, passa a admitir que as marcas arcaicas da relação do bebê com a mãe se vinculam com a perda de objeto, sendo a angústia um afeto ligado a uma situação traumática, onde o eu não só percebe a angústia, como também a produz como forma defensiva dessa situação arcaica.

Portanto, quando há um excesso de angústia, podemos pensar que se trata de uma patologia quando uma pessoa assustada, ansiosa e com medo, chega ao ponto de estar em pânico.

O sofrimento psíquico e real faz parte da história humana, mas é importante entender a origem de cada dor, e ser capaz de construir uma narrativa sobre ela. Para a psicanálise é fundamental lembrar, como o sujeito se constitui, e relaciona com o outro e como constrói o seu próprio sintoma. A psicanálise deve ser capaz de identificar os sintomas sociais.

Freud já relatava em seus estudos da histeria em um mundo totalmente patriarcal, ousou ouvir as mulheres, e viu na histeria uma manifestação psíquica, como uma forma de significar o corpo e o mundo considerado por ele como um sintoma da condição do social da época resultante da repressão, nessa época, as mulheres tinham um lugar muito limitado, onde a feminilidade era extremamente controlada, algumas vezes estas mulheres surtavam. Dessa maneira mostraram o que não funcionava, ocupando este lugar tão restrito sem saber o que estava fazendo, um sofrimento muito grande a ponto de não suportarem. Portanto a psicanálise é a única linha teórica que traz a angústia atrelada à sexualidade.

Na contemporaneidade, pode-se afirmar que os sintomas sociais como o pânico e a depressão são os mais comuns, portanto todos os sintomas são sociais, todos os modos de comportamentos e pensamentos que vão ao caminho contrário ao de seu tempo são causas de estranheza.

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Pensando um pouco a forma como se configura o pânico na clínica, pode dizer-se que ele é resultado do declínio paterno onde o pânico comparece como fobia para fazer suplência a lei simbólica que ficou extremamente fragilizada. Para que haja uma instituição da lei é importante que em algum momento da relação narcísica mãe e filho, o pai se coloque com a função de interditar, frustrar e privar.

Para Lacan (1999), o pai não existe a não ser como função, o que vai prover o corte fazendo com que se interdite o incesto, dito de outra forma é a metáfora paterna, o nome do pai. Nesse momento a criança com o declínio do Édipo que se coloca a simbolização da lei, pois o filho entende que a mãe direcionou o seu desejo ao pai, não sendo mais ele o detentor da fala da mãe. Começa a se questionar acerca da sua identificação imaginária com o objeto de desejo da mãe, esse é o enigma que leva a criança a se confrontam com a sua castração.

Para Freud a angústia é sempre angústia de castração, ou seja, é o encontro com a ausência do objeto, a falta estruturante, pois é essa falta que vai fazer do sujeito um sujeito desejante, para buscar fora outro objeto de desejo.

Na sua obra, o autor citado acima, deixa explícita a imaturidade do eu com relação aos ataques de pânico, sendo o eu submetido a um estado de angústia brutal. Porém a angústia tanto pode ser um sinal de perigo, como também poderá emergir de tal intensidade, impossibilitando a pessoa de fugir deixando a paralisada. Essa situação é entendida como que nesse momento houvesse o domínio da pulsão sobre o eu limitando as suas funções, e a angústia então acaba se desenvolvendo de uma forma muito intensa, se tornando incontrolável não havendo chance de uma preparação para o perigo ficando o eu em total desamparo. (COSTA EQUEIROZ, 2011: 450).

Freud em psicologia das massas e análise do eu (1921), diz que o pânico é modelo da situação traumática que gera angústia, é como se a pessoa não tivesse condição de subjetivar a sua condição de desamparo. O desamparo fundamental diz em relação à linguagem, que "entrar em pânico seria uma forma particular e desesperada de desamparo e de falta de garantias no que concerne à inscrição simbólica da sexualidade". (PEREIRA, 1999: 31).

Entende-se que na visão psicanalítica, o pânico corresponde a um afeto extremo de angústia despertado pelo confronto súbito do sujeito com seu desamparo, pois somos seres desamparados. Não há garantias absolutas de nada na vida. Podemos morrer a qualquer momento, mas nem por isso deixamos de levar a vida, ou melhor, de viver o cotidiano, incorporando os riscos em jogo neste movimento do viver.

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A garantia simbólica fornecida pelo adulto a partir do lugar de referência onipotente que ocupa em relação à criança é essencial para a constituição da imagem do corpo-próprio. Se tal garantia não for dada ou se ela vier a faltar muito precocemente, antes que o indivíduo tenha podido subjetivar a ausência, teremos então a instalação de estados de angústia extremos, acompanhados de experiência de desorganização da imagem corporal. Para esse sujeito, o adulto que outrora garantia o lugar de um reconhecimento fundador do sujeito nunca pôde ser de fato simbolizado, isto é, sustentado em sua ausência. Cada vez que este lugar permanece vazio de um ser protetor “em pessoa”, o risco de mergulhar num estado de mais brutal angústia torna-se máximo. (PEREIRA, 1999: 265).

Nos estudos de Freud, a teoria da angústia está relacionada ao desamparo colocando como uma descarga de excitação sexual acumulada que não encontra um modo de ab-reagir adequada a qual chamou de ausência de libido psíquico, tendo como consequência essa ausência de libido à aparição de sintomas, pois é através desses sintomas que o sujeito tem a possibilidade de diminuir ou descarregar a excitação sexual. (FREUD, 1969: 89).

O autor mencionado acima passa a pensar à angústia como um registro da vida psíquica, onde ele vai destacar a angústia pulsional, pois todos os estímulos sentidos pelo sujeito não elaborados são sentidos como ameaça ou sinal de perigo no eu. Ele nos explica que; “a ansiedade como sinal é a resposta do ego a ameaça da ocorrência de uma situação traumática”. Isso demonstra uma situação de perigo. (FREUD, 1969: 132-133).

Em outro momento, Freud introduz a pulsão de morte fazendo com que ele passe a repensar a sua teoria de angústia pulsional a qual era causada segundo ele, pelo perigo pulsional. Em sua nova reflexão nos aponta que há uma angústia fundamental e originária, tendo como protótipo o nascimento. E que esse modelo serve de modelo para todas as angústias às quais irão se repetir ao longo da vida. Surge para Freud uma nova ideia a de que é a angústia que promove o recalque e não ao contrário como pensava antes.

Freud postula sobre a angústia do nascimento, quando o bebê nasce ele precisa de cuidados, pois ainda não dispõem de recursos psíquicos necessários para sobreviver, é por esse motivo que o bebê precisa de um outro que a ampare.Para ele, essa é uma condição que possibilita ao sujeito uma estruturação psíquica, e é a partir desse momento vivenciado pelo bebê vai se colocar a falta. Ao longo de nossas vidas substituiremos o objeto primeiro de prazer por outro, tornando-nos, consequentemente um ser desejante.

Ser desejante é o mesmo que dizer o movido pela falta. Só há movimento e vida quando há algo que falta. Suportar a perda é também suportar a falta do objeto vivenciando a angústia de castração. A angústia, portanto, Freud é sempre angústia de castração, é encontrada com a ausência do objeto.

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Segundo o autor citado, o desamparo primário é inerente à constituição do sujeito, pois a experiência de angústia é o rompimento de um escudo protetor, fazendo com que o sujeito se depare com a angústia em uma situação qualquer de perigo. Dito de outra maneira pode-se dizer que na contemporaneidade, com relação aos sintomas sociais destacando o pânico tão presente na clínica psicanalítica, o qual se apresenta como um transbordamento de angústia levando ao extremo do suportável, tendo muito presente os sintomas fóbicos. Portanto todo o sujeito dependendo do momento de fragilidade psíquica que por algum motivo estiver vivenciando poderá se deparar com o protótipo originário do nascimento, dito de outra forma, um encontro com o desamparo. Pode se pensar que os perigos internos vão se modificando conforme os contextos sociais, políticos e culturais atravessados por cada pessoa.

Freud (1996) nos aponta para o desamparo na atualidade onde algumas situações, como a perda de objeto e o excesso de permissividade no contexto social, dificultando a instalação da lei. Nesse momento, o sujeito poderá se deparar com sua fragilidade, sendo levando ao um sofrimento psicopatológico. O autor nos traz como exemplo, a perda de um objeto amado, ou uma separação repentina. Portanto, segundo a teoria freudiana o pânico na atualidade é uma versão contemporânea do quadro fóbico.

Refletindo pelo viés do social atual, as famílias passam por constantes transformações onde é percebível um declínio da lei simbólica como desamparo. Portanto é esse excesso de angústia que surge de maneira repentina e inesperada deixando o sujeito, completamente desamparado e o pânico encontra espaço para se instalar.

O pânico tem como uma das características mais demonstradas na clínica, à conversão da angústia, para sensações corporais uma ameaça experimentada pelo sujeito no real do seu próprio corpo. Os sintomas físicos relatados como: dores de cabeça, diarreia, vômitos, congestão, tremores e alterações no apetite. Todos os relatos dizem a respeito de uma sensação de ansiedade extrema e de morte eminente, algo aterrorizante. Em pânico e desamparo, Pereira nos esclarece a respeito do terror relatado pelos pacientes.

O terror o qualifica como o desamparo sem limites, onde lhe faltam as imagens, uma dimensão representacional, dito de outra forma um encontro com o olhar vazio, que está em todo lugar em todo momento, e cuja marca fundamental é o não senso. O terror “implica paralisia, entrega de si mesmo ao mortífero”. É do lado da vida que se tem pânico; este seria a forma de tornar apreensível a experiência inominável do desamparo. (PEREIRA, 1999: 38).

Para certas pessoas esta condição de desamparo insuperável, fica enuviada pela ilusão de um ideal protetor onipotente, que garante a estabilidade do mundo, do mundo psíquico,

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organizado longe das incertezas, da falta de garantias e de indefinições, longe da angústia e do desamparo. A angústia é consequência da impossibilidade do sujeito em elaborar psiquicamente a excitação sexual, a impossibilidade de transformar sua energia em algum sentido. A angústia surge como uma reação a um estado de perigo. Para Freud ela tem um caráter de desprazer, o primeiro objeto de amor que falta. Já Lacan afirma que a angústia é um pré-sentimento, algo anterior a qualquer sentimento e que anuncia alguma coisa. Segundo lacam, concebe a angústia como sinal da aparição de algo da ordem do objeto “a” o irredutível do real, sendo a angústia algo que não engana, pois a aparição de um representante do objeto é a condição do surgimento da angústia, ou seja, a falta da falta.

Angústia possui três aspectos: um deles é o de desprazer, atos de descarga e percepção, além do alerta constante, o autor se refere à angústia dizendo que é um afeto resultante de uma excitação sexual não consumada, assim não tendo como simbolizar vira angústia sendo o eu o produtor, ou seja, o lugar da angústia pela sua própria imaturidade que não encontra representação, ou pelo modo inadequado de satisfação ou recalque. Como um afeto solto flutuando em busca de um objeto para que possa se amalgamar, o que vai se dar a nível do real como exemplo as fobias, a maneira que o sujeito encontra para se defender da angústia.

Para explicar a angústia Freud nos diz que o objeto “a” se coloca como falta, buraco na estrutura, ou seja, uma peça faltante para sempre perdida e nenhum significante poderá ser colocado, mesmo sendo assinalado pela angústia, pois o objeto “a” é o objeto perdido causador da angústia.

Para Ivam Corêa (2008), em seu texto “distância assintótica e objeto a” a angústia é o sinal do eu para o sujeito, algo que vem do real, mas não se trata de uma perda de objeto, e sim a presença dele, ou melhor, a falta da falta, sendo para o autor, a angústia algo que não engana, ou seja, o sujeito é afetado pelo desejo do outro, sendo que esse outro não tem como responder, sendo assim o sujeito não tem como simbolizar, pois a angústia é interna, algo que vem de dentro não tendo como nomear, aparecendo o objeto fóbico, dito de outra forma a angústia o sujeito fica preso ao gozo do outro. Como expressa Iam Corrêa em seu texto distância assintótica e objeto a.

O objeto freudiano manifesta-se essencialmente como falta, buraco na estrutura, peça originalmente faltante. Enquanto tal é para sempre objeto perdido, ausência que nenhum significante pode tornar. Não pode, portanto, ser assimilado a um significante (é ausência pura), mesmo sendo assinalado pela angústia. O a é de fato esse objeto da angústia, mas inaparente, ou faltando ao sujeito. A relação do sujeito a esse objeto só pode se produzir numa vacilação do sujeito em sua relação ao a, do qual a angústia é o sinal. Para Freud, a angústia é sinal de uma perda. Lacan, concebendo a angústia como sinal da aparição de algo da ordem do objeto a no

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campo do objeto comum, dá-nos a fórmula da angústia: quando a falta vem a faltar; isto é, quando aparece sob uma fórmula positiva, quando faz imagem, quando qualquer coisa aparece no seu lugar; na fórmula freudiana, quando há perda “do objeto enquanto objeto perdido”. Nunca é, porém, o próprio objeto que aparece, pois, sendo essencialmente falta, escapa sempre, está sempre em outro lugar. (CORÊA, 2008: 36).

Dito de outra forma, a angústia, na relação do sujeito ao objeto, ou na relação do sujeito ao desejo do outro, sempre midiatizada pelo objeto a, que representa o único modo de acesso ao outro.

Em 1895, Freud escreve um texto sobre a neurose de angústia, onde ele relata os sintomas desse afeto, exatamente iguais aos que hoje são relatados na clínica. Atualmente na área da psiquiatria, a angústia passou a ser chamada de ansiedade, na classificação do CID dez, sendo vista como transtorno do pânico.

Nos quadros fóbicos é visível a apresentação carregada de angústia e medo, pois em um quadro normal a pessoa não teria todo esse medo. A fobia para a psicanálise vem se colocar como suplência do declínio paterno, ou melhor, o declínio da lei simbólica, tendo o sujeito que lutar internamente com seus conflitos emocionais em uma tentativa de recalcar os impulsos e os pensamentos perturbadores. Se esta tentativa de recalcar as emoções conflitantes não der certo, então restará ao sujeito deslocar para um objeto do mundo externo na tentativa de concentrar a sua angústia. (COSTA E QUEIROZ, 2011: 451).

E dessa forma, o objeto passará a ser um representante simbólico de seu conflito interno, todo esse processo tem como finalidade diminuir a ansiedade, ou seja, a formação de compromisso falhou, não conseguindo manter a ideia recalcada, tendo o ego que projetar para fora o perigo direcionando o conflito para um representante, ou seja, um objeto fóbico. A fobia então serve como um mecanismo de defesa, servindo de ajuda no processo de simbolização. Porém esse processo é temporário, pois a qualquer momento poderá haver um deslocamento e o surgimento de novas fobias.

No pânico o sujeito tenta deixar para traz uma realidade insuportável, não tendo como fugir dessa situação, fica preso no seu desamparo.

O indivíduo acometido por ataques de pânico é alguém que vive sob a constante ameaça de desabamento de seu mundo, fato que ele experimenta diretamente no real do seu corpo. Seus sintomas físicos intensos e incontroláveis lembram-lhe a cada instante a possibilidade de algo terrível, contra o qual nada pode fazer. (PEREIRA, 1999: 248).

Para Freud a angústia advém dos acontecimentos ocorridos nas diversas fases do desenvolvimento do eu. Durante o desenvolvimento psíquico do sujeito, a sensação de

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desamparo será repetida quando ameaçado em situações posteriores que seria a ameaça de perder o seu objeto de amor, ou seja, o seu objeto psíquico materno, o objeto.

A angústia aparece para a criança quando ela ainda não sabe diferenciar a sua relação com a mãe, pois o afastamento temporário vai lhe causar a angústia, porem à angústia de desamparo está ligada à angústia da castração, servindo de alerta, como um sinal de perigo de desprazer sentido pelo eu. A angústia surge como uma reação a um estado de perigo. Ela tem um caráter de desprazer.

De acordo com o autor mencionado acima, elucida que a angústia é um pré-sentimento, algo anterior a qualquer sentimento e que anuncia alguma coisa.

Assim o perigo de desamparo psíquico é apropriado ao perigo de vida quando o ego do indivíduo é imaturo; o perigo da perda de objeto até a primeira infância, quando ele ainda se acha na dependência de outros; o perigo de castração, até a fase fálica; e o medo de seu superego, até o período de latência. Não obstante, todas essas situações de perigo e determinantes de ansiedade podem resistir lado a lado e fazer com que o ego a elas reaja com ansiedade num período ulterior ao apropriado; ou, além disso, várias delas podem entrar em ação ao mesmo tempo. (FREUD, 1969: 140).

A primeira ideia Freudiana da angústia enfatiza que a emergência da angústia está associada à ideia de uma libido transformada. Reformula em “Inibição, sintoma e angústia” (1926), o tema vai sendo articulando ao desamparo, condição primária do ser humano, sendo a angústia definida como um estado afetivo uma quantidade de energia, com um caráter acentuado de desprazer que é liberada, seja automaticamente, na vivência traumática, ou seja, como um sinal que possibilita ao eu uma espécie de preparo cuja função é evitar o reviver da situação traumática ou do desamparo originário.

Freud em seu texto “Inibição, sintoma e angústia”, traz a análise de histeria de angústia pelo caso Hans como um modelo de fobia por se tratar de uma neurose infantil por excelência.

A força motriz da repressão as ideias contidas na ansiedade deles a de ser mordida por um cavalo e a de ser devorado por um lobo, eram substitutos, por distorção, da ideia de serem castrados pelo pai. Esta foi a ideia que sofreu repressão. Mas o afeto de ansiedade, que era a essência da fobia, proveio não do processo de repressão, não das caquexias libidinais dos impulsos reprimidos, mas do próprio agente repressor. A ansiedade pertencente às fobias a animais era um medo não transformado de castração. Um medo julgado real. Foi à ansiedade que produziu repressão e não, como eu anteriormente acreditava a repressão que produziu a ansiedade. (FREUD, 1969: 110).

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Destacando alguns pontos importantes sobre o desenvolvimento psicossexual de toda a criança, permito-me chegar à conclusão de que é a angústia que surge primeiro, antecedendo ao recalque e produzindo repressão, tendo como resultado desta operação a formação do sintoma.

Segundo Otávio Nunes para revista da APPOA, em seu artigo intitulado “Peterpânico”, é bastante comum aparecer nos relatos dos pacientes que sofrem de síndrome do pânico a imagem do excesso, do transbordamento, de um afeto angustiante que invade o corpo. Afirmar o que excesso numa crise de pânico encontra um inevitável desdobramento corporal: o corpo parece que vai explodir frente à possibilidade da implosão do sujeito.

No pânico, no epicentro da crise, o sujeito aparece como um todo, como um objeto positivado. A melhor imagem que encontra para ilustrar isso é a referência feita por Peter Pânico sobre o desencadeamento de suas crises. Pensa sempre em sair correndo sem direção alguma, correndo, provavelmente, em direção à morte. Ou seja, o oferecimento do seu corpo, em forma real, ao que o outro desejaria.

A angústia irromperia frente à ameaça da castração, que: “o neurótico recua, não é diante da castração, é de fazer da sua castração, a sua, o que falta ao Outro, é de fazer de sua castração algo de positivo que é a garantia desta função de Outro” (Lacan, [1962-63] 2001, p. 56). E nesse sentido, o que faz castração imaginária a Peter é sua impotência, seu esmorecimento frente ao Outro. Oferece seu corpo para preencher o que falta ao Outro, pois a morte não seria, nesse caso, relativa à castração, mas, sim, ao Real. (NUNES, 2007: 9).

Segundo Pereira (1999) na tradição grega o “pânico” é um fenômeno causado por Pã, além de ser, intimamente, relacionado à sexualidade, causador da angústia da forma mais brutal. Como nos lembra Pereira, o deus Pã, significa filho de todos e de ninguém simbolizando o abandono.

A figura desse deus aterrador com sexualidade ilimitada vem nos lembrar da dimensão de gozo sexual desenfreado que é co-substancial ao pânico, como Freud o sugeriu em várias ocasiões no decorrer de sua obra. O pânico coloca em primeiro plano o lado apavorante do sexual que se apresenta quando este não encontra mais pontos de referência simbólicos onde ancorar. (PEREIRA, 1999: 66).

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Para Freud (1996) no texto “Inibição, sintoma e angústia”, o sintoma é causado pela repressão, como um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional, ou seja, formando um elo de compromisso, colocando algo no lugar do processo pulsional que a ameaça. Quando a pulsão falha nos diz que o sintoma encontra “um substituto muito mais reduzido, descolado e inibido, e que não mais reconhecido como uma satisfação. E quando o impulso substitutivo é levado a efeito, não há qualquer sensação de prazer, sua realização apresenta, ao contrário, a qualidade de uma compulsão”. (FREUD, 1969: 98).

A angústia é a herança da humanidade, a problemática central da angústia está no temor da perda do objeto, seja ele materno ou de amor, deixando exposto o sujeito ao temor da castração e da morte, Portanto suportar a perda é também suportar a falta do objeto. Para Freud a angústia é sempre a angústia de castração, ou seja, o encontro com a ausência do objeto, pois esse afeto faz parte do ser humano, e só será considerada patológica, quando emergir de forma desproporcional deixando a pessoa amedrontada, paralisada, com muito medo a ponto de prejudicar a sua vida no convívio com as pessoas ao seu redor.

Partindo da ideia de que o sintoma é da ordem do social, e que cada período da sociedade vai surgindo novas dificuldades próprias das suas angústias, hoje podemos qualificar por transtorno do pânico o desamparo. Vários autores definem o desamparo ao declínio paterno, ou seja, há uma falha na lei simbólica, porém é essa mesma lei que estrutura o sujeito, se essa lei que priva e limita, protege e ampara não se colocar vir a falhar ou enfraquecer, implicara na angústia de desamparo chamado na atualidade de ataque de pânico, o qual tem como determinante fundamental uma situação traumática, dito de outra forma, é uma experiência de desamparo vivido pelo ego devido ao acumulo de excitação interna a qual o ego ainda não tem maturidade psíquica para lidar. (FREUD, 1996: 87).

Enfim, o discurso psiquiátrico contribui para que se criem novos objetos imaginários, sendo os mesmos usados como amuletos para aliviar as suas patologias, ou melhor, dizendo, como uma forma de garantia, pois são muitas as pessoas sendo tratadas com psicofarmacos, mesmo com o desaparecimento doas crises não conseguem se desfazer de suas medicações com medo de ter novos ataques, sendo pegos desprevenidos, dito de outra forma ,seria como se a pessoa estivesse sem algo que lhe pudesse lhe dar garantia e Amparo. Como afirma Pereira. “Nessa condição o ataque de pânico constitui um perigo desesperado de socorro dirigido a este outro pré-histórico e inesquecível que ninguém poderia igualar”. (PEREIRA, 1999: 38).

O que aponta a psicanálise para o tratamento do pânico? Espera-se que através da escuta do discurso do paciente, o terapeuta identifique uma estrutura, atento a quem o

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paciente se endereça e que lugar ele coloca o analista ou psicólogo. Todo esse processo só será possível quando já estiver estalada uma transferência a partir de uma demanda da parte do analisando, e ao longo do tratamento possa se identificar ao seu sintoma como sua particularidade subjetiva, em outras palavras a subjetividade é definida como uma formação simbólica.

Portanto o pânico é um estado afetivo exagerado, que aparece ao sujeito de forma inesperada, e de proporção excessiva fazendo com que o sujeito se sinta em uma condição de completo desamparo. Essa fragilidade mostra que o sujeito em pânico é surpreendido pela dimensão da falta, viabilizada pela função paterna, escrita através da lei simbólica, mas se houve falha desse processo pelos representantes da lei. Automaticamente surgi o desamparo colocando o sujeito em uma falta de garantias de uma dimensão tão grande que ele entra em pânico.

Segundo as autoras Costa e Queiros (2011), nos mostram um paralelo entre o pânico e a psicose com relação ao desencadear das crises, dizendo que o momento que desencadeia a crise não frequente nos quadros neuróticos, quadro esses que se irrompe subitamente, tão peculiares nos quadros fóbicos onde algo do exterior mobiliza a angústia.

Vemos que algo semelhante acontece no momento anterior ao ataque de pânico: o sujeito é convocado a comparecer ou a reagir com as insígnias paternas que lhe dão garantias e segurança, e como elas lhe foram delegadas de modo débil e falho, caindo no desamparo e entra em pânico. O que dá singularidade ao sujeito em pânico e o diferencia do psicótico é que, enquanto neste, a inscrição da lei é ausente, for concluída, naquele, ela se faz presente, mas de modo falho. Poderíamos avançar um pouco e acrescentar que, durante a crise de pânico, a referência à lei aparece soba forma de sintoma corporal, o qual também emerge como uma espécie de conversão para, corporal, no extremo, limita o sujeito, e esse limite passa a ser vivido no real do corpo paralisado. (COSTA / QUEIROZ, 2011: 454).

Porém se sabe que o sucesso do tratamento vai sedar através de duas dimensões, uma delas pela medicação, a outra pela psicoterapia, de nada adiantará o tratamento medicamentoso, se não for conciliado com a terapia.

Sob esse prisma, a melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta, podendo lidar com os sentimentos internos, se reencontrando com os fatores internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um modo mais satisfatório. Sendo está uma saída para a pessoa que sofre desse mal-estar na contemporaneidade.

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Segundo Besset (2001), nos faz refletir sobre o pânico e as fobias no contexto clínico psicanalítico contemporâneo levando em conta questões da atualidade onde nos aponta da necessidade das pessoas de resoluções rápida para os seus sofrimentos, em busca de medicamentos mais eficazes para a cura e o mal estar na cultura. Tempos de respostas rápidas para uma necessidade de nomear o seu sofrimento. Segundo a autora, alguns pensarão que, apesar das semelhanças, não há identidade entre a crise de angústia e o ataque de pânico. Porém não se podem desvincular esses fenômenos, pois há um saber inconsciente o qual se vincula ao sintoma.

Entretanto, sabemos que, embora haja no pânico um apelo ao olhar do Outro, numa espécie de pantomima do desamparo, o próprio sujeito parece dele elidido, como ocorre na inibição. Apesar disso, é possível tomar o pânico como um sintoma, para além de sua dimensão médica de signo, signo de algo que vai mal, de uma disfunção. Imprescindível, para tanto, partir da suposição da presença da angústia na base desta nova patologia. A partir disso, diante de alguém tomado pelo pânico, é possível oferecer um sentido para acalmar a angústia, aplacar o excesso. Essa é a aposta da psicanálise: diante do que escapa à palavra, reafirmar sua proposta de trabalho pela via da fala, no campo da linguagem. (BESSET, 2001).

O tratamento medicamentoso até proporciona melhora do quadro, mas não garante que o sintoma de ansiedade não volte, como uma sensação, segundo ele de desamparo. Para o autor o ataque de pânico é uma tentativa de subjetivação da verdade que surge sem que o sujeito estivesse preparado para suportá-la e tornar apreensível no horizonte de desamparo sobre o qual se desenrola o funcionamento psíquico. (PEREIRA, 1999: 366).

Segundo Basset (2001), nos aponta que o sujeito contemporâneo está em busca da felicidade, lembrando-nos que Freud em 1930, onde diz que a busca da felicidade está fadada ao fracasso, pois o sujeito busca incessantemente pelo prazer na tentativa de evitar a dor e o desprazer, pensando em obter o máximo de prazer e gozo, mas a que preço? Mesmo hoje sendo quase tudo permitido, tem consequências, pois o sujeito não sabe o que fazer com a sua liberdade e fica perdido sem referenciais.

Junto à modernidade surge uma nova concepção sobre o transtorno do pânico de cunho biológico de causalidade médica, ou seja, sendo visto basicamente como uma manifestação sintomática diretamente ligada aos aspectos cerebrais, sendo suspensos os aspectos psicológicos. Sendo que a neurose de ansiedade foi para Freud classificado como uma neurose atual, se diferenciando das neuroses de defesa, caracterizando-as por um retorno

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de um impulso sexual reprimido, contra o qual o ego se defende em última instância por meio de formação de sintoma.

No final do século XIX, Freud relata o caso de Ana O, uma jovem paciente e descreve seus males, lembramo-nos bastante as queixas que comparecem hoje nos consultórios de psicanalistas, psicólogos e médicos, psiquiatras. Esses transtornos, aparentemente contemporâneos, que Freud entendia como “crises de angústia”.

O ataque de pânico é uma tentativa de subjetivação da verdade, que surge sem que o sujeito estivesse preparado para suportá-la e tornar apreensível no horizonte de desamparo sobre o qual se desenrola o funcionamento psíquico. “O pânico constitui, desse ponto de vista, uma tentativa extrema do aparelho psíquico para tornar o desamparo [Hilflosigkeit] acessível ao pensamento” (PEREIRA: 1999.314).

Dessa forma é importante lembrarmos a trajetória teórica desse afeto, vinda de longa data com percurso teórico e de tradição, tanto da perspectiva da psiquiatria como da psicanálise, que essa patologia angústia tem sua particularidade se apresenta da forma mais extrema, com relação às outras formas de ansiedade. Portanto o pânico corresponde à configuração da angústia, como se a existência ficasse reduzida ao próprio sujeito, ou seja, como alguns autores já mencionaram, ao mundo do deus Pã, ao real ao concreto, a sua própria morte. Como se o corpo fosse o limite último para a angústia desaparecendo o auxílio do deus idealizado onipotente ao qual o sujeito poderia recorrer.

Seguindo a complexa teoria do desamparo como protótipo dos estudos de Freud com relação ao pânico, nos coloca à reflexão a respeito da fragilidade do bebê ao nascer e sua relação com o outro, e com o mundo ao seu redor.

O desamparo constitui muito mais que um simples dado biológico dizendo respeito às condições de entrada na vida ou que no mero acidente traumático, contingente e até certo ponto evitável. (PEREIRA, 1999: 364).

Seria então o desamparo a inexistência de garantias, sendo a linguagem incapaz de dar uma compreensão definitiva ao registro do sexual no corpo, e a impossibilidade de instituição do traumático.

Daí o apelo, nas circunstâncias implicadas pelo pânico, a um fiador onipotente, que através da sua própria pessoa e, sobretudo através da sua palavra fundadora, servisse de alicerce último à constituição simbólica do sujeito, garantindo, entre outras, a realidade da experiência do corpo próprio. (PEREIRA, 1999: 364).

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A partir da citação acima, esse afeto se problematiza pela fragilização da linguagem fundamental, pois não encontra recursos para que possa fornecer um mundo simbólico organizado, pois é na linguagem que o sujeito constrói o mundo simbólico, porém esse mundo simbólico é constantemente reconstruído. É importante lembrar que o pânico não é uma expressão direta do desamparo, mas tem uma relação particular com o desamparo. O autor mencionado nos apresenta que, pelo viés da psicanálise o mais importante “é justamente pelo ato da palavra que a linguagem expõe sua precariedade de modo mais agudo.”. (PEREIRA, 1999:365).

E é sob essa perspectiva que a psicanálise acredita na importância da escuta e do acolhimento, pois é através da linguagem, onde a palavra aparece da forma mais explícita, trazendo à tona a angústia.

O pânico se apresenta como sendo a expressão da falta de garantias na tentativa de neutralizar a incerteza da linguagem, ou seja, em busca de uma certeza que está além da linguagem, mesmo que esta certeza esteja fundada no próprio morrer, onde o eu busca antecipar e compreender, com as palavras do autor o “simulacro do morrer”, para não ser surpreendido pela própria morte. Essa tentativa de antecipação é a representação fantasmática que acaba levando o sujeito à repetição em um esforço desesperado com o real que não quer deixar- se escrever.

O pânico constitui, portanto, um esforço do psíquico para situar-se diante de uma terrível verdade, descoberta sem que estivesse preparado para tolerá-la: á da falta de garantias definitivas para tudo o que está ancorado sobre a linguagem; um ataque de pânico tenta “fazer alguma coisa” para tornar subjetivamente apreensível esse horizonte de desamparo sobre a qual se desenrola o funcionamento psíquico. (PEREIRA, 1999: 366).

Na perspectiva do tratamento psicanalítico, ao percorrer os textos, os autores são unânimes em afirmar que, o pânico está ligado a linguagem, não existe a cura e sim uma reelaboração, ou seja, é pela palavra que o sujeito se esforça em dizer a verdade sobre si mesmo, momento este onde o desamparo inerente à linguagem se mostra da maneira mais explícita se desvelada.

Para Pereira (1999), o sucesso do tratamento vai sedar através de duas dimensões: uma delas pela medicação, e a outra pela psicoterapia, de nada adiantará o tratamento medicamentoso, se não for conciliado com a terapia, preocupa-se menos em descrever a forma dos chamados ataques de pânico e aprofunda-se no estudo das causas que determinam

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