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ENEGEP 2006 ABEPRO

A Biodiversidade e a geração de novas oportunidades para a indústria

farmacêutica nacional

Vera Maria Costa Marinho (EQ/UFRJ) veramarinho@ig.com.br

Resumo

O debate sobre a necessidade do fortalecimento das indústrias farmacêutica e farmoquímica brasileiras não é recente, sendo um dos argumentos mais utilizados a função do Estado em garantir o acesso da população a medicamentos, parte do direito constitucional à saúde. Nos últimos anos, tais indústrias vêm retomando o interesse na busca de insumos a partir de elementos da flora em diferentes ecossistemas, bem como na pesquisa relacionada a novas tecnologias voltadas para diminuição dos custos e riscos tradicionalmente associados às atividades de coleta, determinação de atividade biológica e definição de estruturas moleculares. A diversidade biológica em território brasileiro, principalmente a encontrada na Floresta Amazônica e nos redutos remanescentes da Mata Atlântica, tem atraído a atenção de pesquisadores e empresas em todo o mundo, tornando as questões relacionadas ao “Acesso a Recursos Genéticos” e à “Repartição Justa e Eqüitativa dos Benefícios Oriundos do Uso da Biodiversidade” de extrema relevância para o governo e a sociedade. No presente trabalho, é discutida a opção de fortalecimento da indústria doméstica a partir dos insumos presentes na flora brasileira, priorizando a conservação, o uso racional e os direitos dos detentores do conhecimento tradicional, segundo as orientações básicas contidas na Convenção da Diversidade Biológica.

Palavras-chave: Fármacos, Biodiversidade, Acesso.

1. Introdução

O Brasil possui uma riquíssima biodiversidade, representa um dos maiores mercados de medicamentos do mundo e tem estabelecida uma boa estrutura em ciência e tecnologia para pesquisa em produtos naturais. Apesar de tais fatores, o país se mantem em extrema dependência da importação de insumos (fármacos) e produtos prontos (medicamentos).

No mundo, as big pharmas, grandes empresas transnacionais, detentoras de mercados milionários tem retornado, nos últimos anos, à busca de fontes naturais para a pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.

A pesquisa em produtos naturais ocorre, basicamente, através de duas formas distintas de acesso: coleta aleatória e coleta baseada no acervo representado pelas várias formas de conhecimento tradicional (em que a pesquisa é norteada pelo prévio conhecimento de atividades terapêuticas associadas a determinadas espécies, por uma dada comunidade). A partir da Convenção da Diversidade Biológica em 1992, foi acirrado o debate sobre o legítimo direito associado ao conhecimento tradicional, trazendo à discussão questões relativas à titularidade e formas de repartição de benefícios sobre resultados comerciais. Os países signatários, entre eles o Brasil, a partir da Convenção, começaram a buscar formas para implementar mecanismos legais que dispusessem sobre o uso dos recursos e sobre as condições de acesso ao patrimônio natural.

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2. A indústria farmacêutica

É um segmento da indústria química, concentrado em grandes empresas transnacionais que ocupam posições de lideranças globais. É fortemente caracterizada pela necessidade contínua de pesquisas de novos insumos e introdução de inovações em suas linhas de produtos como forma de diminuição de custos e/ou acesso a produtos com significativo diferencial competitivo, representando um dos setores industriais mais fortemente vinculados a atividades acadêmicas de pesquisa. Segundo Gadelha et al (2001), a indústria farmacêutica pode ser analisada como um “oligopólio diferenciado baseado nas ciências”.

As atividades realizadas no âmbito da indústria podem ser agrupadas em 4 estágios básicos, abaixo relacionados, que incorporam conjuntos de conhecimentos diferenciados. Tais estágios podem ser realizados pelas empresas na sua integralidade( ou não), dependendo do grau de disponibilidade dos recursos financeiros e do nível do desenvolvimento tecnológico e competências que elas possuam:

− P&D de novos fármacos: identificação de potencialidade terapêutica, análises (estruturais e dos efeitos) e testes;

− Produção de fármacos: desenvolvimento de processo de produção a partir de laboratórios e plantas-piloto;

− Produção de medicamentos: tratamento físico dos fármacos (trituração, mistura, dissolução, compactação, etc...);

− Marketing e comercialização de medicamentos: demanda de grandes recursos financeiros. É voltada para os profissionais de saúde e para o público em geral.

Quanto à evolução da indústria, a eclosão da 2ª. Guerra Mundial representa o marco principal, significando uma real mudança de paradigma. No período anterior a ela, toda a produção de medicamentos era feita a partir de produtos naturais, utilizando-se pouco conteúdo tecnológico. Logo após a Guerra, os Estados Unidos despontam como o grande locus da indústria, superando a Europa e agregando alto teor de tecnologia oriundas de atividades de P&D mais sofisticadas e recursos de síntese química.

No Brasil, o descompasso tecnológico com relação aos países líderes no pós-guerra acarretou a desnacionalização de várias empresas. Nos anos 70, mais de 75% do mercado doméstico era dominado por empresas multinacionais que realizavam somente as etapas finais de produção no Brasil (BERMUDEZ, 1995). O governo decidiu, então, implementar algumas políticas para fomentar o setor e diminuir o gap tecnológico entre as empresas nacionais e as estrangeiras. Talvez as mais importantes ações da época tenham sido: a não inclusão de produtos e processos farmacêuticos no Código de Propriedade Industrial de 1971 e a criação da Central de Medicamentos (CEME). Segundo Lucchesi (1993), a CEME era parte essencial de uma ampla estratégia para o “desenvolvimento de uma indústria farmacêutica genuinamente nacional e alcançar autonomia na produção de fármacos”.

Na década de 80, novos fabricantes entraram no setor sendo, na sua maioria oriundos de outros segmentos da indústria química, fazendo com que, no ano de 1990, o Brasil contasse com mais de 30 empresas voltadas para a produção de fármacos. Além disso, a CEME, através do programa de pesquisa em plantas medicinais, fez uma importante atuação no estímulo ao uso da biodiversidade brasileira para produção de medicamentos. Embora descontinuado posteriormente, tal programa propiciou o surgimento de grupos de pesquisa, principalmente nas áreas de farmacologia e toxicologia das plantas brasileiras.

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mudanças estruturais causadas, sobretudo, pela abertura econômica do país, pelo fim da política de controle de preços sobre os medicamentos, pela entrada em vigor de uma nova legislação de propriedade industrial (a Lei 9.279/96 reintroduziu a proteção patentária para produtos e processos farmacêuticos) e pelas mudanças no mercado global com relação aos medicamentos genéricos. Em Hasenclever (2002) é observado que a liberalização dos mercados foi o fator de maior impacto para a indústria brasileira, causando um aumento drástico na importação de princípios ativos e medicamentos prontos e promovendo, conseqüentemente, o desmantelamento da indústria de química fina no país.

Recentemente, o lançamento da Política Industrial e de Comércio Exterior (PITCE), em março de 2004, representa um novo marco para a indústria nacional, ao definir a indústria de fármacos e medicamentos como um dos setores prioritários para uma nova agenda governamental, voltada para a retomada do desenvolvimento tecnológico e industrial no Brasil.

3. O uso dos produtos naturais pela indústria farmacêutica

O primeiro grande marco da indústria farmacêutica foi o isolamento do princípio ativo contido em plantas. O isolamento da morfina pura a partir do ópio, em 1806, deflagrou a ocorrência de várias pesquisas, as quais acabaram por resultar no isolamento e aplicação terapêutica de centenas de outras entidades químicas de origem vegetal.

A chamada 5ª. Geração da indústria farmacêutica, surgida nos anos 80, é a era dos blockbusters - medicamentos com volumes de venda extraordinários - e de mudança foco da pesquisa – das atividades clássicas da química orgânica, farmacologia e síntese molecular para a adoção de novas disciplinas ligadas às life sciences, tais como biologia, enzimologia, etc..Com relação à indústria, as empresas começaram a se organizar de forma diferente, entrando em novos mercados (tais como genéricos e produtos tipo over-the-counter), terceirizando atividades e localizando seus centros de produção e/ou de P&D em países ou regiões que oferecessem melhores atrativos financeiros. As empresas que optaram por manter estratégias relacionadas à busca de produtos inovadores voltaram seus esforços de pesquisa para descoberta de novas fontes naturais e para o uso da biotecnologia.

De acordo com Newman et al. (2003), dentre as 1.031 novas entidades químicas introduzidas entre 1981 e 2002: 23% são derivadas de produtos naturais (normalmente através de processos de semi-síntese), 10% são produtos de síntese elaborados a partir da observação de produtos naturais e 5% derivados de fontes naturais sem alterações.

A pesquisa de produtos naturais normalmente é realizada buscando obter princípios ativos com estruturas desconhecidas que podem conduzir a novos medicamentos através de rotas de síntese ou semi-síntese. O primeiro passo na pesquisa de fármacos derivados de plantas é decidir qual (ou quais) espécies deverão ser pesquisadas, o que pode ser feito através de métodos diferentes, mas não mutuamente exclusivos (FABRICANT & FARNSWORTH, 2001): via conhecimento tradicional (conhecimento sobre o uso de plantas medicinais em práticas terapêuticas tradicionais); através de consultas a bancos de moléculas existentes ou através de coleta aleatória.

O recente interesse da indústria farmacêutica na pesquisa de produtos naturais, apesar dos altos custos, dificuldades e riscos inerentes, se deve principalmente à utilidade intrínseca que apresentam, à sua grande diversidade e aos avanços tecnológicos na elucidação de estruturas moleculares. Como maiores dificuldades para o aproveitamento da biodiversidade para o desenvolvimento de novos medicamentos podem ser apontadas: a ausência e/ou indefinição de leis específicas de acesso, o grau de complexidade das moléculas isoladas de fontes

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naturais, os grandes custos associados à descoberta de novas moléculas e a pouca disponibilidade de bibliotecas de compostos naturais (STROBL, 2000).

Em termos de mercado, o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, nos âmbitos nacional e internacional, tem crescido de forma bastante expressiva nos últimos 20 anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 60% dos medicamentos lançados nos últimos anos foram obtidos, de forma direta ou indireta, a partir de pesquisas realizadas na flora (MARINHO, 2004).

4. A biodiversidade brasileira

Existem variados conceitos sobre o que seja Biodiversidade. Termo utilizado por estudiosos de várias áreas do conhecimento e, atualmente, incorporado ao vocabulário do cidadão comum, a Biodiversidade aqui é entendida como a variedade de vida, no número de suas diferentes categorias ou na abundância relativa de cada uma delas. A função da natureza de preservação do equilíbrio biológico é, sob o ponto de vista econômico, responsável pela manutenção de diversas atividades humanas, tais como: agricultura, pecuária, pesca, etc.. O Brasil conta com importantes ecossistemas, representando uma “megadiversidade” biológica onde se estima existirem incontáveis exemplares de plantas com uso terapêutico comprovado ou com percebido potencial para tal.

O país possui ecossistemas diversos que incluem representantes de mais de 70% dos organismos vivos do planeta, dos quais cerca de 20% são encontrados somente aqui. Mesmo sem contar com um inventário preciso das espécies existentes, considera-se que existam 55.000 tipos de plantas superiores, muitas delas com uso terapêutico tradicionalmente adotado por determinadas comunidades, além de outras mais com princípios ativos já identificados por pesquisadores, capazes de atuar em diversas enfermidades. Tem sido amplamente debatido como tal potencial terapêutico, utilizado de forma racional e sustentável, pode ser fonte geradora de vantagem competitiva para as empresas nacionais.

A Floresta Amazônica, geralmente apontada como o mais importante ecossistema do planeta, contem espécies da flora, cujos princípios ativos estão em uso ou em estudo pela indústria farmacêutica, muitos dos quais pesquisados e, posteriormente, identificados a partir de relatos de uso das populações nativas. Infelizmente, muitas das ações de coleta realizadas no ambiente amazônico não primaram pela abordagem ética e sustentável, comportando-se de forma predatória e não promovendo o reconhecimento dos direitos aos detentores do conhecimento.

Contudo, a dimensão do território brasileiro e a diversidade de biomas existente ainda representam desafios quando se fala em conservação e gerenciamento de recursos biológicos. Alguns pontos, em particular, devem ser tratados com maior profundidade, como, por exemplo, a adequação das instituições publicas às peculiaridades de cada bioma e a disponibilização de informação científica referente a mapeamento e localização de diferentes espécies.

Quanto ao conhecimento tradicional, é entendido como informação dinâmica acumulada por gerações, dentro de uma determinada comunidade, sobre plantas, seus usos e o meio ambiente no qual estão inseridas. Um conceito de tecnologia tradicional também pode ser adequado quando se estuda a aplicação do conhecimento pela comunidade na resolução de questões locais. A transferência do conhecimento tradicional pode ser tarefa não tão fácil e, por muitas vezes, a dificuldade de absorvê-lo vem da indefinição dos reais detentores, da perda das suas origens através dos processos de aculturação, da ausência de algum tipo de documentação. Em algumas situações, a tecnologia tradicional faz uso de um arranjo específico de diferentes

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elementos da flora, cuja sinergia ainda não é de todo compreendida.

Adotando-se o conceito de “janelas de oportunidade” - pelo qual, em situações de mudança de paradigma, o aprendizado ocorre (durante um determinado período no tempo) de forma relativamente homogênea para todos os países (PEREZ & SOETE, 1988) – torna-se possível estimular uma nova trajetória para os crescimentos industrial, econômico e tecnológico nos países em desenvolvimento. Tais janelas podem ser utilizadas para benefício de tais países se neles existirem determinadas condições adequadas (por exemplo: políticas industrial e tecnológica articuladas, boa infra-estrutura instalada em ciência e tecnologia, condições formais para absorção de novas tecnologias, etc...)

5. Legislação sobre uso da biodiversidade

Alterações no equilíbrio dos ecossistemas presentes na biodiversidade, na maioria das vezes, são resultantes de intervenções diretas do homem, seja pela modificação de habitats originais, pela introdução de espécies exóticas ou pela contaminação ambiental, dentre muitas outras. O Princípio da Precaução, aprovado na Declaração do Rio (resultante da United Nations Conference on Environment and Development – UNCED- realizada no Rio de Janeiro em 1992) pode ser entendido como resultado objetivo da percepção da urgência de ações preventivas, onde ainda fosse possível, de modo a evitar-se a adoção futura de ações corretivas que poderão não conseguir reverter situações agravadas.

Historicamente, os recursos naturais eram considerados patrimônio comum da humanidade e, portanto, os países em desenvolvimento não costumavam receber qualquer tipo de retorno das empresas farmacêuticas que comercializavam produtos desenvolvidos a partir de recursos biológicos neles encontrados (REID ET AL, 1993). Somente após a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada em 1992 durante a UNCED, os direitos sobre tais recursos foram reconhecidos.

A CDB entrou em vigor em dezembro de 1993 incorporando questões relativas a acesso, direitos de propriedade dos detentores do conhecimento tradicional e formas de repartição de beneficos. Os países que aderiram à Convenção se dispuseram a seguir as diretrizes estabelecidas, mantendo a condição de soberania sobre os recursos biológicos em territórios próprios.

Apesar de ter ratificado a CDB em 1994, o Brasil não possuía uma legislação de acesso e uso dos recursos biológicos de acordo com as diretrizes da Convenção até a edição da Medida Provisória 2.052 de 2000 (substituída pela MP 2.186 de 2001, que foi regulamentada pelo Decreto 3.495). As Medidas Provisórias estabeleciam que qualquer pesquisa em recursos biológicos necessitava de registro prévio no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, onde o pesquisador teria que informar o material a ser coletado, o local e data da coleta e se haveria envolvimento de conhecimento tradicional (caso em que se faz necessária a comprovação de consentimento prévio). Tais Medidas causaram profundo impacto na comunidade cientifica, chegando a interromper diversas pesquisas em curso. O debate posterior resultou na publicação do Decreto 4.946 em 2003, que buscou resolver algumas questões, embora ainda permaneça como desafio a dificuldade de diferenciação entre pesquisa de caráter puramente científico e a que busca resultados comerciais futuros.

Atualmente ocupando a pasta do Ministério do Meio Ambiente, a então senadora Marina Silva propôs um Projeto de Lei (PL 306/95) onde são estabelecidas as regras e definidos os instrumentos de controle para regulamentar a atividade de acesso aos recursos genéticos pertencentes à biodiversidade brasileira. Tal projeto possui, nas suas bases, as diretrizes apontadas na Convenção, ou seja, a garantia do uso adequado da biodiversidade e repartição

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justa e eqüitativa de resultados comerciais oriundos da bioprospecção, respeitando-se e se valorizando o conhecimento tradicional. Em 1996, o PL 306/95 incluiu algumas modificações encaminhadas pelo Senador Osmar Dias, através de substitutivo.

No Brasil, anteriormente à CDB, data de 1933 a primeira incursão na legislação sobre produtos da natureza (Decreto 22.698). No ano de 1969, através do Decreto 65.057, foram estabelecidas as normas referentes à fiscalização de expedições de caráter científico. O Decreto 98.830/90 se refere à coleta de dados e materiais científicos em território nacional, por estrangeiros.

Apesar das recomendações feitas na CDB, poucos dentre os 17 países que, no seu conjunto detem 70% da diversidade biológica do planeta (Brasil, Indonésia, Colômbia, México, Austrália, Madagasgar, China, Filipinas, Índia, Peru, Papua Nova Guiné, Equador, Estados Unidos, Venezuela, Malásia, África do Sul e República Popular do Congo), conseguiram estabelecer suas legislações específicas sobre bioprospecção e repartição de benefícios. As questões mais polêmicas giram em torno da dificuldade de definição de titularidade, da competência na aplicação dos instrumentos legais, na formalização dos acordos de “Consentimento Previo Fundamentado e Termos Mutuamente Acordados” e na definição dos procedimentos em condições de acesso in-situ e ex-situ.

A definição de uma legislação de acesso nacional, portanto, precisa equacionar os problemas de controle e fiscalização das atividades de acesso e de moderação/supervisão das relações entre a indústria e os detentores do conhecimento com a manutenção da pesquisa científica. A coleta de espécies da natureza para finalidades puramente científicas também é uma atividade importante para diversos setores econômicos nacionais.

6. Conclusões

A atual tendência de crescimento na demanda de fontes naturais para desenvolvimento de medicamentos pode ser utilizada como uma oportunidade ímpar para os países em desenvolvimento que possuem grande volume e diversidade de espécies biológicas, não somente através do retorno financeiro oriundo da disponibilização de tais recursos para a grande indústria, mas, principalmente, como base para uma estratégia de desenvolvimento neles baseada, de forma a diminuir a dependência tecnológica e possibilitar o acesso da população a medicamentos. Para usufruir plenamente de tal oportunidade, é necessário conduzir políticas industriais e tecnológicas, intensificar a formação de competências através de capacitação interna e criar ambiente regulatório favorável.

O Brasil pode usar a “janela de oportunidade” representada pela biodiversidade para desenvolver sua indústria farmacêutica, utilizando os elementos biológicos nela presentes sem dissociar a necessidade da continuidade no esforço público e privado, em termos da produção em escala de produtos genéricos e na busca da inovação na área da síntese química. O uso racional da biodiversidade, com apropriados mecanismos de controle, associados à geração de competências e capacidades relacionadas à absorção de nova tecnologias pode ser uma real fonte de futura vantagem competitiva e de diminuição da dependência estrangeira.

Referências

BERMUDEZ, J.A.Z. Indústria Farmacêutica, Estado e Sociedade. São Paulo. Hucitec., 1997.

FABRICANT, D.S. & FARNSWORTH, N. The value of plants used in traditional medicine for drug

discovery. Environmental Health Perspectives Vol.109, s1, p 69-75, 2001.

GADELHA, C.A.G; QUENTAL, C.; FIALHO, B. Saúde e inovação: uma abordagem sistêmica das

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HASENCLEVER, L. Diagnóstico do Setor Farmacêutico Brasileiro. Relatório Final de Pesquisa. Instituto de

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REID, W. ET AL. Biodiversity Prospecting: using genetic resources for sustainable development. Washington

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LUCCHESI, G. Medicamentos: nova orientação. INFARMA, 1993

MARINHO, V.M.C. Como as empresas brasileiras de cosméticos estão utilizando o conhecimento tradicional e

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