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As Teses e Dissertações dos Docentes dos Cursos de Educação Física do Estado de Alagoas: Contradições e Possibilidades Frente às Necessidades Humanas na Região Nordeste

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CAPÍTULO IX

As teses e dissertações dos docentes dos

cursos de Educação Física do estado de

Alagoas: contradições e possibilidades frente às

necessidades humanas na região Nordeste

Joelma de Oliveira Albuquerque

Luana dos Santos Silva Pedro Henrique Ferreira de Melo

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Introdução

E

ste capitulo se refere ao trabalho investigativo iniciado em 2012 no Estado de Alagoas, o qual se refere ao balanço da produção do conheci-mento em nível de teses e dissertações produzidas pelos professores dos cursos de Educação Física que atuam nas instituições de ensino superior do Estado de Alagoas. É ligado a uma pesquisa de caráter matricial, realizada em rede de colaboração entre universidades do Sudeste, Sul (Unicamp, Ufscar e Furb) e Nordeste (nos nove estados da região), coordenado pela Rede Lepel e Paideia/Unicamp, financiada pela Fapesp, intitulada: Produção científica em

Educação Física no Nordeste do Brasil: os impactos do sistema de pós-graduação - região Sudeste - na produção de docentes, mestres e doutores e na implementação da pesquisa nas instituições formadoras da região Nordeste.

O projeto foi contemplado, em nível local (na Universidade Federal de Alagoas), com o financiamento de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), nos ciclos de: 2012-2013; 2013-2014; 2014-2015; e 2015-2016 (em andamento, com aprofundamentos das análises acerca dos dados coletados).

Alagoas (Ufal), enquanto partícipe da rede de intercâmbio que constitui o Grupo Lepel, teve oficialmente seus trabalhos iniciados em 2001 com con-tinuidade até 2005, sob a coordenação da profa. Dra. Márcia Chaves Gamboa. Em 2010 o grupo Lepel/Ufal é retomado, desta vez no Campus Arapiraca, e com isso a intenção de manter a “vigilância epistemológica” sobre as pesquisas em Educação Física, uma vez que a principal problemática investigada pelo grupo durante sua existência entre os anos de 2001 e 2005 foi a da produção do conhecimento da Educação Física no Nordeste Brasileiro, especificamente em quatro estados (Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe). Foram produzidos três relatórios finais do Pibic (2002-2003; 2003-2004; e 2004-2005), contan-do, no ano de 2003, com a visita científica do prof. Dr. Silvio Sánchez Gamboa (Unicamp), com vasta experiência com este tipo de estudo, impulsionando o trabalho do grupo Lepel, e da linha Epistef (Epistemologia da Educação Física).

Foram analisadas 70 teses e dissertações defendidas pelos professo-res/pesquisadores dos quatro estados (de um universo de 122 pesquisas identificadas, das quais, 18 em Alagoas), culminando com a defesa da tese de Pós-doutorado da Profa. Márcia Chaves-Gamboa que, além de mapear a produção em nível de teses e dissertações da região, analisou: as temáticas abordadas; as metodologias utilizadas; as teorias desenvolvidas; e as possibili-dades de avanço do conhecimento no nordeste, especificamente nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe. É importante destacar, para efeito deste artigo, um dado relevante da etapa anterior da pesquisa: dentre as 70 pesquisas analisadas, a maioria dos pesquisadores (51%) se titularam em

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programas da área de Educação, 6% em outras áreas, e 43% na Educação Física, em outras regiões do Brasil ou fora do país. A inexistência de progra-mas de pós-graduação em Educação Física na região impôs a adoção de bases epistemológicas e explicativas da pesquisa na área específica, com limites e possibilidades para o enfrentamento das problemáticas locais e regionais. Hoje já se conta com pelo menos dois programas de pós-graduação em Educação Física no Nordeste que formaram os primeiros mestres na região (um fruto da parceria entre a universidade Federal da Paraíba e a Universidade de Per-nambuco; e outro na Universidade Federal do Rio Grande do Norte), o que nos indicou a necessidade de ampliarmos as análises, pois já haviam estudos da etapa anterior que não foram analisados, os quais se somaram aos novos estudos defendidos mais recentemente.

Além disso, a ampliação da rede de universidades federais na região por meio do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), com a exigência de contratação de professores adjuntos e assistentes, também é uma realidade que deve ser considerada. Faz-se necessário questionar de que forma, com que base técnica e científica, e a partir de que trabalho pedagógico, esses planos para formação, atrelados às suas metas de produção científica, considerando às políticas públicas colocadas para o setor, procuram responder às demandas colocadas em relação à produ-ção e ao acesso ao conhecimento na região. De acordo com os dados coletados entre 2012 e 2013, o quadro de Alagoas se modificou, identificando-se 48 dissertações e 16 teses (total de 64), dentre as quais foram localizados e anali-sados 35 textos completos.

O objetivo deste artigo, portanto, é apresentar os principais resultados e análises acerca da produção científica dos docentes da IES, mestres e dou-tores, que tem formação inicial em Educação Física, e atuam nos cursos de formação superior em Educação Física do estado de Alagoas, considerando e confrontando cos desafios de humanização no estado e na região, em especial a problemática da saúde.

A preocupação com estas bases epistemológicas das pesquisas se dá frente ao desafio concreto colocado na educação alagoana e brasileira. De acordo com o censo 2010, em Alagoas residem 3.120.494 pessoas, das quais, 1.641.579 pessoas, com 10 anos ou mais de idade não tinham instrução e o ensino fundamental incompleto. No Brasil, há 43 milhões de estudantes na rede pública de ensino do total de 55 milhões de matriculados na educação básica, o que nos aponta a necessidade de indagarmos acerca das concepções sobre a função social da escola e nela, a função social da Educação Física no contexto local, regional e nacional, uma vez que a Educação Física é compo-nente curricular obrigatório em todos os níveis e modalidades de ensino.

Este desafio também se coloca à universidade pública quando esta se pergunta pelas respostas científicas que tem sido dadas em nos programas de

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pós-graduação do país. A hipótese/tendência que vem se desenhando, do ponto de vista da formação dos novos profissionais pode restringir a compreensão de formação humana (objeto do trabalho educativo) a partir da tendência episte-mológica que predomina nessas áreas, com consequências, por exemplo, para a seleção do conhecimento para o currículo da Educação Física na Educação Básica. Estes elementos podem ser confrontados com a exigência colocada na realidade atual. Está colocado o desafio para a constituição de Programas de Pós-Graduação em Educação Física para o Nordeste que superem os limites impostos pela fragmentação do conhecimento entre as ciências humanas e so-ciais, e as ciências biológicas e da saúde, limites estes sustentados nas linhas de pesquisa e temáticas privilegiadas e nas tendências epistemológicas hegemôni-cas, que expressam perspectivas de projeto histórico e de formação humana.

A hipótese/tendência que vem se desenhando, do ponto de vista da formação dos novos profissionais pode restringir a compreensão de formação humana (objeto do trabalho educativo) a partir da tendência epistemológica que predomina nessas áreas, com consequências, por exemplo, para a seleção do conhecimento para o currículo da Educação Física na Educação Básica.

Quanto à investigação, esta se pauta no método materialista histórico dialético, e com base na análise epistemológica, por meio do Esquema Pa-radigmático (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007). Com base neste instrumento analisamos os estudos no que diz respeito aos níveis de articulação lógica [técnico, teórico, metodológico e epistemológico] e aos pressupostos [gno-siológicos e ontológicos] que caracterizam as pesquisas. Essas características que são selecionadas nas pesquisas trazem em si os elementos fundamentais do pensamento expresso pelo pesquisador, sua concepção de ciência, de educação e ser humano, que não se dá fora de uma concepção de sociedade, articulados a uma visão de mundo, de projeto histórico. E para elaborar as respostas foram selecionados três tipos de fontes: O grupo os dados sobre os 48 pesquisadores que atendem o perfil da pesquisa e do levantamento das 64 pesquisas por eles produzidas. O grupo das informações referentes à caracterização e análise das pesquisas produzidas e são coletadas através de uma ficha de análise de cada obra localizada de acordo ao roteiro de análise do Esquema Paradigmático. Com base nesse esquema foi elaborada uma planilha em formato Excel para coleta de dados, a Planilha III–instrumento de registro da caracterização da produção científica, composta de três partes: III/A; III/B e III/C.

Atualmente registram-se 35 arquivos completos da produção de mes-tres e doutores de Alagoas, adquiridos em bibliotecas digitais diversas (BDTD; Universidades; Domínio Público) e em sites especializados, além do grupo de informações que se refere às condições da produção no contexto dos cursos de pós-graduação e do desenvolvimento da pesquisa científica da Educação Física no Brasil. O preenchimento da planilha é orientado pelo protocolo de preenchimento das planilhas Excel relativo ao instrumento de registro da ca-racterização da produção científica. Cabe ressaltar que os principais objetos do

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estudo são as dissertações dos portadores dos títulos de mestre e doutor que atuam no campo do ensino e da pesquisa (registrados nos currículos Lattes). O preenchimento da planilha é orientado pelo protocolo de preenchimento das planilhas Excel relativo ao instrumento de registro da caracterização da pro-dução científica. As sistematizações apresentadas neste texto tomam também como fontes secundárias os relatórios finais Pibic/Ufal.

A produção científica em Educação Física no estado de Alagoas:

os desafios teóricos frente às necessidades reais

Apresentamos em primeiro lugar um panorama do crescimento do número de estudos entre a primeira fase da pesquisa (CHAVES, 2005) e a segunda fase, que tem como marco de referência o ano de 2013, quando os dados da segunda fase estavam consolidados, prosseguindo-se com a análise dos textos completos até o ano de 2015. Em seguida, ressaltaremos algumas das características principais dos 35 textos completos analisados (de um uni-verso de 64 dissertações e teses identificadas). Cabe registrar que há ainda uma dificuldade no que se refere à disponibilização dos textos completos das teses e dissertações nos bancos de dados nacionais: BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações); domínio público; Banco de Teses e Dissertações da Capes; e bibliotecas digitais dos programas de pós-graduação.

No que se às duas fases da pesquisa (que estamos chamando de fase 1 e fase 2), comparando o número de pesquisas registradas no estado de Alagoas, na fase 1, 2005, o número de dissertações eram de 15 (quinze) e o número de teses eram 4 (quatro), totalizando 18 estudos. Em 2015 o número é de 48 (quarenta e sete) dissertações e de 16 (dezesseis) teses. Isto se deu, pelo aumento do número de docentes titulados atuantes nos cursos (exigência do estado – MEC/SESu – para abertura e manutenção de cursos de ensino superior), que passou de 15 distribuídos em 4 (quatro) IES na fase 1, para 75 distribuídos em 6 (seis) IES na fase 2, que explica o aumento de 18 estudos identificados na fase 1, para 64 na fase 2.

Quanto às regiões e universidades onde os 64 estudos do universo da pesquisa foram desenvolvidos, os docentes de Alagoas se titularam princi-palmente no Sudeste (26 ou 40,63%); Nordeste (22 ou 34,38%); Sul (4 ou 6,25%) e no Exterior (12 ou 18,75%). Não houveram registros de estudos desenvolvidos no Norte ou Centro-Oeste do país. No Sudeste se destacam o Rio de Janeiro com doze trabalhos (18,75%), e a Universidade Gama Filho é a principal do estado com 11 estudos (91,66% do estado, e 42,3% da região); e o Estado de São Paulo com onze (17,19%), sendo a Universidade Estadual de Campinas a que mais se destaca com quatro produções (36,36% da região). No Nordeste se destacam a Alagoas com 13, e Sergipe com 5. Da amostra, esse número cai consideravelmente pela indisponibilidade dos textos

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com-pletos nas bibliotecas e principalmente nos bancos de dados virtuais: Sudeste (de 26 para 20); Nordeste (de 22 para 8); Sul (de 4 para 2) e no Exterior (de 12 para 5). É notório que o Sudeste apresente maior número de estudos à disposição da comunidade científica: tem o maior número de programas e de financiamento. Um exemplo é dado por Yamamoto (2000), ao destacar que no edital n.01/2000 do CNPq, para o qual foi destinado um montante de re-cursos da ordem de R$ 15 milhões de reais, a demanda foi de R$ 269 milhões de reais. Em outras palavras, o total alocado pelo Tesouro Nacional permitiu o atendimento de 612 projetos, ou seja, pouco mais de 6% da demanda. E a partir destes 612, é possível verificar:

[...] é impossível não mencionar a questão das desigualdades regionais, dada a brutal concentração registrada nessa distribuição: 63% do total dos recursos do edital foram destinados aos pesquisadores da região sudeste. Para se aquilatar a extensão da concentração, se tomarmos apenas o estado do Rio de Janeiro, os 34,5% do total do edital estarão pouco abaixo da soma de todos os 16 estados das demais regiões do Brasil, contemplados com aproximadamente 37% dos recursos! (YAMAMOTO, 2000, p. 1). Portanto, o financiamento de pesquisa é um indicador relevante na manutenção dos programas de pós-graduação, suas pesquisas e seu grau de organização para disponibilização dos trabalhos em seus bancos de dados.

Em relação às áreas dos programas de pós-graduação, é possível consta-tar o aumento do número de áreas entre as fases 1 e 2, passando de seis para 21 respectivamente, estas últimas a saber: um estudo em cada uma das seguintes áreas (total de dez áreas) – Ciências Sociais; Sociologia; Educação Especial; Genética e Bioquímica; Filosofia Política; Saúde e Ambiente; Atividade Física e Saúde; Atividade Física para terceira idade; Fisiologia Endócrino Metabólica e Exercício e ciência do movimento humano. Em seguida, aparecem três estudos na seguinte área: Ciências da Motricidade/Ciências da Motricidade Humana. Seguem-se sete estudos em Ciência do Desporto/Ciências do Esporte, e Nu-trição cada uma; São nove estudos nas áreas da Educação/Educação Brasileira, assim como em Ciências da Saúde/Ciências da Saúde Humana; e 19 (Dezeno-ve) em Educação Física/Educação Física e Esporte.

Constata-se que cerca de 50% dos estudos identificados estão ligados à área da Educação Física. Enquanto área do CNPq, estas são 19 (29,7%), e se considerarmos as diferentes concepções epistemológicas que dão sustentação aos programas são 33 ao todo (Atividade Física e Saúde; Atividade Física para terceira idade; Ciências da Motrici-dade/Ciências da Motricidade Humana; Ciência do Desporto/Ciências do Desporto e Educação Física/Ciências do Esporte; Educação Física/Educação Física e Esporte). Este quadro é um for-te indício que ainda predomina o colonialismo episfor-temológico (SÁNCHEZ GAMBOA, 2010) das ciências biológicas e da saúde que tem um total de 21 estudos (32,8%), maior que a quantidade de estudos na área da Educação

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Física, por exemplo, sem falar do recorte epistemológico dos programas em motricidade e ciências do esporte que é evidente e denota a restrição de compreensão acerca dos fenômenos estudados. Além desses, 12 estudos (18,75%) se localizam na área das ciências humanas e sociais, o que demonstra a discrepância entre as grandes áreas.

Neste artigo iremos aprofundar as análises acerca das teses e disser-tações desenvolvidas nos programas de pós-graduação da área da saúde, de forma a exemplificar os limites postos para a compreensão da área, e para a formação humana que responda às necessidades educacionais concretas da re-gião nordeste, em especial do estado de Alagoas. Se considerarmos a área das Ciências da Saúde do CNPq: Medicina; Odontologia; Farmácia; Enfermagem; Nutrição; Saúde Coletiva; Fonoaudiologia; Fisioterapia e Te-rapia Ocupa-cional; Educação Física; e a área 21 da Capes: Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional; constatamos na amostra 15 trabalhos relacionados com essas áreas, sendo 13 dissertações e duas teses produzidas nos anos de 1998 até 2012. Das treze dissertações analisadas, sete trabalhos se aproximam da abordagem empírico-analítica, quatro da abordagem feno-menológico-hermenêutica, e dois da abordagem crítico-dialética. Quanto às duas teses destacamos que uma segue a abordagem empírico-analítica, e outra a abordagem fenomenológico-hermenêutica.

É notório que há uma grande predominância e forte influência do campo das ciências naturais (médicas/biológicas da saúde) na consolidação da Educa-ção Física enquanto área da produEduca-ção do conhecimento científico. Na década de 1970 do século XX, com a ampliação da perspectiva analítica nas ciências da saúde e biológicas, a relação entre as concepções de ser humano e educação física se estreita a partir do domínio de uma ideologia positivista. Esse movi-mento ideológico predomina a produção científica e o meio acadêmico pela promoção da saúde, baseado primordialmente na Carta de Ottawa 1, onde se

coincidiu com o desmantelamento das políticas de saúde e bem-estar social, ante o recuo da social-democracia no continente europeu. Com isso, houve a transferência da responsabilidade do Estado para o indivíduo nas Políticas Públicas, o que se reflete também no cuidado com a saúde. Porém, no final da década de 1980 e início de 1990, houve uma mudança sob forte influência das ciências humanas e sociais em relação à saúde, em que essa perspectiva parte de discussões mais aprofundadas buscando responder as problemáticas causadas pelo modo de produção capitalista que foram mencionadas e expli-citadas anteriormente por Sánchez Gamboa (2010) acerca do colonialismo da flutuação epistemológica.

1. A Carta de Ottawa é um documento apresentado na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, no Canadá, em novembro de 1986. Trata-se de uma Carta de Intenções que foi realizada com a finalidade de contribuir com as políticas de saúde em todos de forma equânime e universal. Sua proposta gira em torno da defesa da promoção da saúde como fator fundamental de melhoria da qualidade de vida, defendendo a responsabilidade da “comunidade” nesta tarefa, devendo ser capacitada para tal, salientando que tal promoção não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, mas é “responsabilidade de todos, em direção ao bem- estar global”.

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Segundo Della Fonte (1996), a ideia de que Educação Física promove saúde não é recente, ela retoma a antiguidade clássica, aonde já encontramos “esta concepção implícita no aforismo platônico ‘ginástica para o corpo e música para a alma’”. (DELLA FONTE, 1996, p. 20). Entretanto, segundo a autora, a atividade corporal como promotora de saúde não se explica por si mesma, só se podem compreender as razões da disseminação e preservação desta concepção se buscarmos as suas raízes no modo de como os homens se organizam para produzir a vida em determinado momento histórico. Deste modo, discutirmos os pressupostos ontológicos através dos paradigmas da saúde por meio das contribuições de Taffarel (2010, p. 159-160) que afirma:

A relação “atividade física-saúde” é uma construção sócio-histórica que depende do modo de vida, do modo de organizar a produção dos bens materiais e imateriais e isso não pode ser visto de forma isolada, a partir de um indivíduo, mas, sim, deve ser encarado historicamente, a partir da totalidade da espécie humana, do gênero humano. [...]

Ainda, Taffarel (2010, p.166) conceitua o termo saúde através da con-cepção da Salutogênese que vem do latim saluto e significa saúde; e gênese, a origem, e desta forma:

A luta para manutenção da vida digna de todos e a interpretação positiva da própria vida é um baluarte poderoso contra fatores de risco, um im-portante recurso de resistência e um fator de proteção fundamental para a manutenção e o fortalecimento da saúde, não somente individual, mas coletiva. No que se refere às atividades físicas, nem todas as formas de prática contribuem como fator de resistência. Determinadas atividades físicas, esportivas, construídas com certas finalidades, podem colaborar para que o fator de proteção “sentido da vida” seja ativado ou não. Então não basta seguir recomendações médicas para correr, andar de bicicleta ou nadar diariamente para que o sistema cardíaco-circulatório mantenha-se saudável. Entra aí o “sentido da vida” e esse sentido não está desvinculado de condições objetivas da existência humana. E se existe algo cujo sentido deve ser questionado é o rumo que nossas vidas assumem no modo do capital organizar a produção subsumindo o trabalho humano, em um modo de vida individualista, egoísta, competitivista, alienado e altamente explorador. Em um modo de vida em que o planeta está sendo destruído. (TAFFAREL, 2010, p.168-169).

Identificamos que as concepções de ser humano a partir das dissertações e teses apontam “[...] limitações que as transformam em mecanismo ideoló-gico para a ocultação das contradições sociais [...]”. (PINHO, 2011, p. 77). Outro fator é que as dimensões psicológicas e biológicas da saúde e que a consideração de fatores sociais, até então, não avançou além de relacionar a pobreza à falta de saúde. Neste sentido é necessário construir uma perspectiva superadora na abordagem da relação concepção de ser humano/educação

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físi-ca, em que a saúde é vista como primeira premissa da história, neste sentido, e, portanto, ter saúde, significa ter todas as suas necessidades satisfeitas.

Pode-se verificar que dos 35 trabalhos, 26 estão direcionados para um processo de formação humana hegemônica pautada no sistema econômico vigente, que segundo o Coletivo de Autores (2012) historicamente, os estu-dos fundamentaestu-dos principalmente no desenvolvimento a aptidão física do homem contribui para a defesa dos interesses da classe detentora do poder, pois enfatizam o aporte biofisiológico da aptidão física, sem considerar a natu-reza histórico-social dos envolvidos na pesquisa, alienando-os da sua condição de sujeito histórico e fragmentando o conhecimento, como apresentado nos estudos que analisam o desempenho físico, participação em competições, es-tado nutricional, frequência cardíaca, programa de treinamento físico, dentre outros. E se distanciam das problemáticas significativas de pesquisa que são a produção do conhecimento, a prática pedagógica, as políticas públicas e a formação de professores que em conjunto dizem respeito às necessidades educacionais de Alagoas, da região nordeste e do Brasil.

Considerações finais

Fica explícito pelos dados apresentados, que há uma necessidade de ampliação da compreensão de ser humano, de sociedade, para que de fato, as necessidades concretas do estado e da região sejam atendidas. A começar pelo alto número de pesquisas nas ciências da saúde, cujo fenômeno não é explicado a partir das múltiplas determinações do modo de produção dos bens necessários à existência humana, que na sociedade do capital são produzidos coletivamente, porém apropriados privadamente por uma parcela limitada da população. O grau de miserabilidade da região nordeste que tem em Alagoas o pior índice de desenvolvimento humano em 2013 (maior índice de mor-talidade infantil do país; mais baixa expectativa de vida do país; terceira pior renda per capta do país; mais de 30% da população na linha da pobreza e nível de extrema pobreza acima de 15% da população, e os maiores índices de analfabetismo do Brasil, chegando a 2/3 da população). 2

Os principais resultados e análises acerca da produção científica dos docentes, mestres e doutores, dos cursos de Educação Física da IES Alagoanas apresentam uma forte tendência a não atender as necessidades humanas do Estado. Os dados precisar ter as análises ampliadas e aprofundadas, de forma a possibilitar uma visão de conjunto dos dados referentes ao Estado de Alagoas em relação aos outros estados do Nordeste, assim como comprar com outros estudos realizados em outras regiões do país.

A análise crítica e sistematização dos dados encontrados revelou aquilo que nossas hipóteses haviam estruturado. De que a Educação Física enquanto

2. Disponível em: <http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/maceio/2013/07/29/258153/alagoas-tem-o-pior-indice-de- desenvolvimento-humano-do-pais >Acesso em: 15 de outubro de 2015.

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área do conhecimento científico no Estado de Alagoas se direciona a fragmen-tação das tendências biologicistas. A maioria dos trabalhos estão limitados às temáticas das ciências da saúde sob a abordagem empírico-analítica, Silva (1990, 1997, s/d). No entanto, a prevalência desse paradigma reduz o sujeito a dimensão unicamente biológica. E essa formação em áreas afins corrobo-ram o colonialismo epistemológico e a flutuação epistemológica (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007) existente na área.

Esta tendência do ponto de vista da formação dos novos profissionais pode restringir a compreensão de formação humana (objeto do trabalho edu-cativo) a partir da tendência epistemológica que predomina nessas áreas, com consequências, por exemplo, para a seleção do conhecimento para o currículo da Educação Física na Educação Básica. Estes elementos podem ser confron-tados com a exigência colocada na realidade atual, de uma ampla formação para atuação em diferentes campos de atuação como a escola, as equipes de saúde, os clubes e academias. Diante disso, podemos constatar de acordo com os resultados que as necessidades concretas e objetivas no âmbito educacio-nal no que diz respeito às problemáticas históricas são pouco presentes nas produções dos mestres e doutores que atuam nos cursos de Educação Física do Estado. Mesmo, levando em consideração a necessidade de socialização do conhecimento produzido nos programas de pós-graduação no Brasil

Referências bibliográficas

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DELLA FONTE, S. S. Cultura corporal e saúde: um discurso ideológico. 1996. 210 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia e História da Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Metodista de Piracicaba.

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Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.18, n.2, p.126-132, jan. 1997.

PINHO, C. S. B. de. Educação Física e Saúde: necessidades nos currículos de for-mação profissional. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas: SP, 2011.

SÁNCHEZ GAMBOA, S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. Chapecó: Argos, 2007.

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TAFFAREL, C. Z. Sobre o sistema de complexos homem-esporte-saúde: reflexões a partir de contribuições da Alemanha. In: JÚNIOR, E. M.; CAPELA, P.; BREILH, J. Ensaios alternativos latino-americanos de educação física, esporte e saúde. Florianópolis: Copiart, 2010. p. 159-183.

Referências

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