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Desenvolvimento de metodologia para a detecção pré-ictal de crises epilépticas utilizando biomarcadores derivados da variabilidade da frequência cardíaca

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Academic year: 2021

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Desenvolvimento de Metodologia para a

Detecção Pré-Ictal de Crises Epilépticas

Utilizando Biomarcadores Derivados da

Variabilidade da Frequência Cardíaca

Jonatas Pavei

Universidade Federal de Santa Catarina

Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Elétrica

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DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA A DETECC¸ ˜AO PR´E-ICTAL DE CRISES EPIL´EPTICAS UTILIZANDO BIOMARCADORES DERIVADOS DA VARIABILIDADE DA FREQUˆENCIA CARD´IACA

Tese submetida ao Programa de P´ os-Gradua¸c˜ao em Engenharia El´etrica para a obten¸c˜ao do Grau de Doutor. Orientador

Universidade Federal de Santa Cata-rina: Prof. Ph.D. Je↵erson Luiz Brum Marques

Coorientador

Universidade Federal de Santa Cata-rina: Prof. Dr. Edson Roberto de Pi-eri

Florian´opolis 2018

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Pavei, Jonatas

Desenvolvimento de Metodologia para a Detecção Pré-Ictal de Crises Epilépticas Utilizando Biomarcadores Derivados da Variabilidade da Frequência Cardíaca / Jonatas Pavei ; orientador, Jefferson Luiz Brum Marques, coorientador, Edson Roberto de Pieri, 2018.

160 p.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós

Graduação em Engenharia Elétrica, Florianópolis, 2018.

Inclui referências.

1. Engenharia Elétrica. 2. Epilepsia. 3. Crises Epilépticas. 4. Variabilidade da Frequência Cardíaca. 5. Processamento de Sinais. I. Luiz Brum Marques, Jefferson. II. Roberto de Pieri, Edson . III. Universidade Federal de Santa Catarina.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica. IV. Título.

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Em primeiro lugar, gostaria de agradecer `aquelas pessoas que fazem sentido a vida. Aos meus pais, Jacinto e Luciane, que me deram todo o apoio e incentivo para eu conseguir atingir os objetivos. A minha fam´ılia, Thiele e Eduardo, por todo apoio, incentivo e compreens˜ao pelos meus momentos de ausˆencia. Meus irm˜aos Guilherme e Maiara, companheiros de todas as horas.

Gostaria de agradecer em especial ao Professor Je↵erson pela orienta¸c˜ao, colabora¸c˜ao, paciˆencia, amizade e seus conhecimentos re-passados desde antes dessa tese. Por todo esse per´ıodo, tive a opor-tunidade me aprofundar em temas que antes achava inalcan¸c´avel. Sou muito grato pelas oportunidades que tive durante este per´ıodo. Ao meu co-orientador Professor Edson, agrade¸co tamb´em pela colabora¸c˜ao, paciˆencia e seus conhecimentos repassados.

Ao meu colega Renan, pelo apoio, amizade e pelas incont´aveis horas de discuss˜oes sobre a implementa¸c˜ao dos algoritmos e pelos ´otimos momentos de descontra¸c˜ao. Aos meus colegas Lucas e Gabriel, cuja amizade, apoio e colabora¸c˜ao vem desde a ´epoca de gradua¸c˜ao.

Agrade¸co ainda ao CNPq pelo apoio financeiro nesse per´ıodo de trabalho. O mesmo para o Instituto de Engenharia Biom´edica e todos os seus professores, funcion´arios e colaboradores.

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A Epilepsia ´e uma desordem neurol´ogica com uma ocorrˆencia em torno de 0.5 2% da popula¸c˜ao mundial, que pode causar consequˆencias f´ısicas, psicol´ogicas e sociais negativas, incluindo a perda de consciˆencia, les˜oes e at´e a morte. Assim, existe um grande interesse no desenvolvi-mento de ferramentas confi´aveis para a detec¸c˜ao e predi¸c˜ao das crises, a fim de permitir uma interven¸c˜ao ou, pelo menos, dar aos pacientes a oportunidade de se prepararem para uma crise. A maioria das t´ecnicas atuais para a predi¸c˜ao e detec¸c˜ao autom´atica de crises epil´epticas uti-lizam sinais de eletroencefalograma (EEG). Entretanto, essas t´ecnicas est˜ao associadas a utiliza¸c˜ao de diversos eletrodos no couro cabeludo ou eletrodos intracranianos, dificultando a sua utiliza¸c˜ao. Uma outra t´ecnica ´e utilizar a an´alise da atividade do sistema nervoso autˆonomo que pode ajudar a identificar e gerenciar a Epilepsia. Uma das medi¸c˜oes que traz informa¸c˜oes sobre o seu funcionamento ´e a variabilidade da frequˆencia card´ıaca (VFC). De modo geral, a VFC ´e uma medi¸c˜ao temporal das varia¸c˜oes sucessivas de intervalos RR de um sinal de ele-trocardiograma (ECG) e ela reflete a regula¸c˜ao da frequˆencia card´ıaca pelo sistema nervoso autˆonomo (i.e, ramos simp´atico e parassimp´atico). Nesse sentido, alguns estudos apresentaram an´alises do comportamento de parˆametros extra´ıdos da VFC nos per´ıodos pr´e-ictal e interictal que indicam diferen¸cas significativas nos diferentes per´ıodos. Desta ma-neira, com o objetivo de contribuir na evolu¸c˜ao da predi¸c˜ao de crises epil´epticas utilizando t´ecnicas menos invasivas e mais acess´ıveis, o pre-sente trabalho apresenta uma proposta de metodologia para a predi¸c˜ao de crises epil´epticas utilizando parˆametros derivados da VFC. Atrav´es desses parˆametros, aplicaram-se t´ecnicas avan¸cadas de processamento digital de sinais, identifica¸c˜ao e classifica¸c˜ao de sistemas lineares e n˜ao-lineares para o desenvolvimento da metodologia proposta. A fim de mi-nimizar a variabilidade fisiol´ogica, foram utilizadas apenas grava¸c˜oes de sinais de ECG com ocorrˆencias de crises focais de pacientes com epilep-sia do lobo temporal. O desempenho da metodologia ´e analisado por m´etricas consolidadas na literatura como a sensibilidade e a taxa de falso positivo. Em estudos de predi¸c˜ao de crises, uma crise ´e conside-rada como predita corretamente se houver pelo menos um aviso dentro de um horizonte de predi¸c˜ao precedente. Nesta tese, a sensibilidade foi calculada com base na predi¸c˜ao de crises a partir de 5 minutos an-tes da crise at´e o in´ıcio da crise. Os resultados obtidos apresentaram

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de componentes principais, atingindo uma sensibilidade de 92, 2% e uma taxa de falso positivo de 0, 10h 1. Os resultados sugerem que ´e

vi´avel usar a dinˆamica dos parˆametros de VFC para a predi¸c˜ao de crises epil´epticas e obter resultados similares aos baseados no sinal de EEG. Palavras-chave: Epilepsia, Crises Epil´epticas, Variabilidade da Frequˆencia Card´ıaca, Processamento de Sinais.

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Epilepsy is a neurological disorder with an occurrence around 0.5 2% of the world population, which can cause negative physical, psychologi-cal and social consequences, including loss of consciousness, injury, and even death. Thus, there is a great interest in the development of reliable tools for early seizure detection, and potentially for seizure prediction, in order to allow acute intervention or, at least, to give patients an op-portunity to prepare themselves for a seizure. Most techniques for the detection and prediction of epileptic seizures use electroencephalogram (EEG) signals. However, these techniques are associated with the use of a larger number of electrodes attached to the scalp or intracranial elec-trodes, making it difficult to use. Another technique is the analysis of autonomic nervous system (ANS) activity that can help to identify and handle Epilepsy. One of the measurements that provides information about its operation is the heart rate variability (HRV). In general, HRV analyses are based on the measurement of the time intervals between successive QRS complexes of the electrocardiogram (ECG), which re-flect the regulation of the heart rate by the ANS via its sympathetic and parasympathetic control mechanisms. The di↵erences between interic-tal and preicinteric-tal HRV parameters have been noted in several studies. Thus, to contribute to the evolution of seizure prediction using non-invasive and more accessible techniques, the current work presents a purpose of a methodology for epileptic seizure prediction using HRV parameters. With these parameters, we applied advanced techniques of digital signal processing, identification and classification of linear and nonlinear systems for the development of the proposed methodology. In order to minimize physiological variability, we focused exclusively on ECG recordings capturing occurrences of focal seizures from pati-ent with temporal lobe epilepsy. The performance of the methodology is analyzed by consolidated metrics such as sensitivity and false posi-tive rate. In seizure prediction studies, a seizure is considered to be correctly predicted if there is at least one warning within a predictive prediction horizon. In this thesis, the sensitivity was calculated based on the prediction of seizures from 5 minutes before the seizure until the beginning of the seizure. The results obtained presented the best confi-guration of the methodological approach for the use of the classifier by artificial neural networks combined with a principal components analy-sis, reaching a sensitivity of 92.2% and a false positive rate of 0.10h 1.

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to methods based on the EEG signal.

Keywords: Epilepsy, Epileptic Seizure, Heart Rate Variability, Signal Processing.

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Figura 1 Prov´aveis caminhos de propaga¸c˜ao de uma atividade el´etrica epil´eptica para os sistemas l´ımbico e autonˆomico. (Pr´oprio

autor) . . . 39

Figura 2 Vias autonˆomicas simp´atica e parassimp´atica (adaptado de Silverthorn (2010)). . . 41

Figura 3 Centros de controle autonˆomico do enc´efalo (adaptado de Silverthorn (2010)). . . 43

Figura 4 Efeitos das atividades simp´atica e parassimp´atica na des-polariza¸c˜ao das c´elulas excit´aveis (adaptado de Silverthorn (2010)). 44 Figura 5 Efeitos das atividades simp´atica e parassimp´atica na des-polariza¸c˜ao das c´elulas excit´aveis (adaptado de Silverthorn (2010)). 45 Figura 6 Componentes de um tra¸cado de ECG. . . 46

Figura 7 Etapas da modula¸c˜ao dos canais iˆonicos (adaptado de S ´Ccepanovi ´C (2011)). . . 48

Figura 8 Defini¸c˜ao de um intervalo RR. . . 49

Figura 9 Sinal de ECG (acima) e a s´erie temporal de RR (abaixo) correspondente. . . 50

Figura 10 Exemplo de um sinal de EEG contendo uma crise ( ALO-TAIBY et al., 2014). . . 56

Figura 11 Exemplo de uma s´erie RR (A) e VFC (B) contendo uma crise. . . 60

Figura 12 Distribui¸c˜ao de densidade de amostra de VFC.. . . 63

Figura 13 An´alise frequencial da VFC durante os per´ıodos interictal (A) e ictal (B). . . 65

Figura 14 Gr´afico de Poincar´e durante os per´ıodos interictal (A) e ictal (B) (adaptado de Ponnusamy, Marques e Reuber (2012)). . . . 77

Figura 15 Ilustra¸c˜ao dos componentes principais. . . 79

Figura 16 Modelo geral do neurˆonio artificial (adaptado de ( HAY-KIN, 2009)). . . 81

Figura 17 Modelo de rede neural feedforward com uma camada oculta e uma de sa´ıda (adaptado de (HAYKIN, 2009)). . . 83

Figura 18 Modelo ideal de SVM. . . 86

Figura 19 Limite de decis˜ao com margens r´ıgidas. . . 87

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Figura 23 Passos para a extra¸c˜ao da s´erie RR. . . 100

Figura 24 Wavelet-m˜ae primeira derivada da gaussiana. Extra´ıdo de (PALODETO, 2006). . . 102

Figura 25 Sinais para detec¸c˜ao da onda R. . . 103

Figura 26 Extra¸c˜ao das amostras da s´erie RR no tempo. . . 104

Figura 27 Rela¸c˜ao entre Wo e Wp. Os dados de intervalo RR fo-ram extra´ıdos de v´arias janelas de observa¸c˜ao sobrepostas de Wo segundos de grava¸c˜ao de ECG. Posteriormente, um conjunto de parˆametros de VFC foi calculado e inserido na matriz de predi¸c˜ao X (que ´e apresentada na ´area sombreada da matriz), com a dura¸c˜ao de Wp (ou seja, a dura¸c˜ao do per´ıodo analisado pelo classificador). k: o ´ultimo passo da janela deslizante em uma amostra de ECG; S: passo, em segundos, que ´e o deslocamento da janela de observa¸c˜ao entre o per´ıodo de extra¸c˜ao atual e o in´ıcio do pr´oximo; Wo: janela de observa¸c˜ao, em segundos, o comprimento do segmento de ECG usado para extrair os parˆametros de HRV; Wp: janela de predi¸c˜ao, em segundos, a dura¸c˜ao do per´ıodo analisado pelo classificador; xp(n): o parˆametro p ´esimo extra´ıdo na n ´esima amostra. . . 106

Figura 28 Correla¸c˜ao de Dimens˜ao (CD) [ ] . . . 110

Figura 29 Coeficiente de Lyapunov ( ) [ ] . . . 110

Figura 30 Dimens˜ao Fractal de Higuchi (DFH) [ ] . . . 111

Figura 31 LF [ms2] . . . 111

Figura 32 Entropia Amostral (SampEn) [ ] . . . 112

Figura 33 SDNN [ms] . . . 112

Figura 34 Evolu¸c˜ao da dinˆamica dos parˆametros de VFC para 1 paciente. . . 120

Figura 35 Evolu¸c˜ao da dinˆamica dos parˆametros de VFC para 36 pacientes. . . 121 Figura 36 Predi¸c˜ao de crises epil´epticas. Cada gr´afico apre-senta os resultados do modelo de predi¸c˜ao, com resultado positivo (indicando predi¸c˜ao de crises) indicado pelas linhas verticais ha-churadas. O in´ıcio da crise ´e representado pelas linhas vermelhas verticais. Os dois gr´aficos superiores mostram a predi¸c˜ao bem-sucedida em dois pacientes diferentes. Os gr´aficos inferiores s˜ao de um terceiro paciente: o gr´afico esquerdo mostra uma predi¸c˜ao bem-sucedida e no gr´afico direito, um exemplo de uma crise que

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apresenta os resultados do modelo de predi¸c˜ao, com o falso positivo (indicando predi¸c˜ao de crises) indicado pelas linhas verticais hachu-radas. Cada um dos gr´aficos mostra uma s´erie RR de um registro diferente de ECG de um per´ıodo interictal. . . 123

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Tabela 1 Classifica¸c˜ao de crises (BERG et al., 2010) . . . 36

Tabela 2 Faixas de frequˆencia . . . 46

Tabela 3 Tabela de contingˆencia.. . . 54

Tabela 4 Fun¸c˜oes Kernel mais comuns. . . 90

Tabela 5 Portrait, single page table . . . 95

Tabela 6 Resumo dos dados dos pacientes estudados. . . 108

Tabela 7 Matriz de correla¸c˜ao. . . 109

Tabela 8 Valores Wo para cada parˆametro de VFC selecionado . . 109

Tabela 9 Resultados para S = 10s, Wp = 60s, classificador RNA e pr´e-processamento derivado da matriz de covariˆancia. . . 124

Tabela 10 Resultados para S = 10s, Wp = 60s, classificador RNA e pr´e-processamento por PCA. . . 124

Tabela 11 Resultados para S = 10s, Wp = 60s, classificador SVM e pr´e-processamento derivado da matriz de covariˆancia. . . 125

Tabela 12 Resultados para S = 10s, Wp = 60s, classificador SVM e pr´e-processamento por PCA. . . 126

Tabela 13 Resultados para S = 10s, Wp = 90s, classificador RNA e pr´e-processamento derivado da matriz de covariˆancia. . . 126

Tabela 14 Resultados para S = 10s e Wp= 90s, classificador RNA e pr´e-processamento por PCA. . . 127

Tabela 15 Resultados para S = 10s e Wp= 90s, classificador SVM e pr´e-processamento derivado da matriz de covariˆancia. . . 128

Tabela 16 Resultados para S = 10s e Wp= 90s, classificador SVM e pr´e-processamento por PCA. . . 129

Tabela 17 Tabela de trabalhos de predi¸c˜ao de crises com ECG. . . . 130

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CCTG Crises clˆonicas tˆonicas generalizadas SUDEP Morte s´ubita inesperada em epilepsia EEG Eletroencefalograma

ECG Eletrocardiograma

SNA Sistema Nervoso Autˆonomo

VFC Variabilidade da Frequˆencia Card´ıaca CCTG Convuls˜oes Clˆonicas Tˆonicas Generalizadas SUDEP Morte S´ubita Inesperada em Epilepsia ILAE International League Against Epilepsy MRI Imagem por Ressonˆancia Magn´etica SNC Sistema Nervoso Central

SA Sinoatrial AV Atrioventricular bpm Batimentos por Minuto

TDW Transformada Discreta Wavelet VP Verdadeiro Positivo

FP Falso Positivo VN Verdadeiro Negativo FN Falso Negativo

VPP Valor Preditivo Positivo VPN Valor Preditivo Negativo

DME Decomposi¸c˜ao em Modos Emp´ıricos ICA An´alise de Componentes Independentes SDNN Desvio Padr˜ao dos Intervalos Normais de RR SDRR Desvio Padr˜ao dos Intervalos de RR

SDSD Desvio Padr˜ao das Diferen¸cas entre Intervalos Normais de RR Adjacentes

RMSSD Raiz Quadrada da M´edia da Soma do Quadrado das Di-feren¸cas Sucessivas dos Intervalos Normais de RR

pNN50 Porcentagem de Intervalos Normais de RR Normais Su-cessivos Superiores a 50 Milissegundos

TINN Interpola¸c˜ao Triangular de Histograma de Intervalos Nor-mais de RR

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LF Baixa Frequˆencia VLF Muito Baixa Frequˆencia

FFT Transformada R´apida de Fourier H Expoente Hurst

DFA An´alise das Flutua¸c˜oes Depuradas de Tendˆencias CD Dimens˜ao de Correla¸c˜ao

DF Dimens˜ao Fractal

DFH Dimens˜ao Fractal de Higuchi DFP Dimens˜ao Fractal de Petrosian ApEn Entropia Aproximada

SampEn Entropia Amostral MH Mobilidade de Hjorth CH Complexidade de Hjorth CVI ´Indice Cardiovagal CSI ´Indice Cardiosimp´atico

PCA An´alise de Componentes Principais RNA Redes Neurais Artificiais

SVM M´aquina de Vetores de Suporte V-ECG V´ıdeo-Eletroencefalograma

CEPESC Centro de Epilepsia de Santa Catarina LOOCV Leave-one-out Cross-validation

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1 INTRODUC¸ ˜AO . . . 25 1.1 OBJETIVOS . . . 28 1.1.1 Objetivo Geral . . . 28 1.1.2 Objetivos Espec´ıficos . . . 28 1.2 RESULTADOS DO TRABALHO . . . 29 1.3 ESTRUTURA . . . 30 2 ASPECTOS BIOL ´OGICOS . . . 33 2.1 EPILEPSIA . . . 33 2.1.1 Classifica¸c˜ao de Crises e Epilepsias . . . 35 2.1.1.1 Classifica¸c˜ao de Crises . . . 35 2.1.1.2 Classifica¸c˜ao de Epilepsias . . . 36 2.1.1.3 Per´ıodos da Crise . . . 37 2.1.2 Epilepsia e o Sistema Nervoso Autˆonomo . . . 38 2.1.2.1 Efeitos da Epilepsia no Sistema Nervoso Autˆonomo . . . 39 2.2 SISTEMA NERVOSO AUT ˆONOMO . . . 40 2.2.1 Divis˜ao do Sistema Nervoso Autˆonomo . . . 41 2.2.2 Centros de Controle Autonˆomico . . . 42 2.3 SISTEMA CARDIOVASCULAR . . . 42 2.3.1 Sistema Cardiovascular e Epilepsia . . . 47 2.3.2 Variabilidade de Frequˆencia Card´ıaca . . . 47 2.3.2.1 Variabilidade de Frequˆencia Card´ıaca e Epilepsia . . . 49 2.4 CONCLUS ˜AO . . . 51 3 AN ´ALISES E M´ETODOS . . . 53 3.1 M´ETODOS DE PREDIC¸ ˜AO E DETECC¸ ˜AO . . . 53 3.1.1 Termos de Avalia¸c˜ao dos Testes . . . 54 3.1.2 Eletroencefalograma . . . 56 3.1.3 Eletrocardiograma . . . 58 3.2 AN ´ALISE DA VARIABILIDADE DE FREQUˆENCIA CARD´IACA 61 3.2.1 M´etodos no Dom´ınio do Tempo . . . 62 3.2.1.1 Parˆametros Estat´ısticos . . . 62 3.2.1.2 Parˆametros Geom´etricos . . . 63 3.2.2 M´etodos no Dom´ınio da Frequˆencia . . . 64 3.2.3 M´etodos N˜ao-Lineares . . . 66 3.2.3.1 Expoente de Lyapunov . . . 66 3.2.3.2 Expoente de Hurst . . . 68 3.2.3.3 An´alise das Flutua¸c˜oes Depuradas de Tendˆencias . . . 69 3.2.3.4 Dimens˜ao de Correla¸c˜ao . . . 70

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3.2.3.7 Entropia . . . 73 3.2.3.8 Parˆametros de Hjorth . . . 75 3.2.3.9 Gr´afico de Poincar´e . . . 76 3.3 PR´E-PROCESSAMENTO . . . 77 3.3.1 An´alise de Componentes Principais . . . 77 3.4 CLASSIFICADORES . . . 79 3.4.1 Redes Neurais Artificiais . . . 80 3.4.1.1 Modelo Geral do Neurˆonio Artificial . . . 80 3.4.1.2 Arquiteturas de Redes Neurais . . . 82 3.4.1.3 Processo de Aprendizagem . . . 82 3.4.1.4 Principais Caracter´ısticas . . . 84 3.4.2 M´aquina de Vetores de Suporte . . . 85 3.4.2.1 SVMs Lineares . . . 86 3.4.2.2 SVMs N˜ao-Lineares . . . 89 3.5 CONCLUS ˜AO . . . 90 4 METODOLOGIA PARA PREDIC¸ ˜AO DE

CRI-SES EPIL´EPTICAS . . . 91 4.1 DETALHAMENTO DA PROPOSTA . . . 93 4.1.1 Base de dados . . . 94 4.1.2 Grava¸c˜ao do Sinal de ECG . . . 98 4.1.3 Extra¸c˜ao da VFC . . . 99 4.1.3.1 Detec¸c˜ao com Transformada Wavelet Cont´ınua . . . 100 4.1.3.2 Extra¸c˜ao da s´erie RR a partir da detec¸c˜ao . . . 102 4.1.3.3 Elimina¸c˜ao de artefatos e batimentos card´ıacos ect´opicos . 103 4.1.3.4 Extra¸c˜ao das amostras da s´erie RR no tempo . . . 103 4.1.4 An´alises da VFC . . . 104 4.1.4.1 Defini¸c˜ao dos Parˆametros de VFC . . . 105 4.1.5 Pr´e-processamento . . . 108 4.1.5.1 Matriz de Covariˆancia . . . 109 4.1.5.2 PCA . . . 113 4.1.6 Classifica¸c˜ao . . . 114 4.1.6.1 M´aquina de Vetores de Suporte . . . 114 4.1.6.2 Redes Neurais Artificiais . . . 115 4.2 TREINAMENTO E AVALIAC¸ ˜AO . . . 115 4.2.1 Constru¸c˜ao da matriz de predi¸c˜ao . . . 116 4.2.2 Configura¸c˜ao de Treinamento . . . 116 4.2.3 Avalia¸c˜ao do desempenho da predi¸c˜ao . . . 118 4.3 CONCLUS ˜AO . . . 118 5 RESULTADOS E DISCUSS ˜OES . . . 119

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5.3 CONCLUS ˜AO . . . 131 6 CONCLUS ˜OES E PERSPECTIVAS . . . 133 REFERˆENCIAS . . . 137 APˆENDICE A -- Parecer Consubstanciado do Co-mitˆe de ´Etica em Pesquisa em Seres Humano . . . 157

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1 INTRODUC¸ ˜AO

A Epilepsia ´e uma desordem neurol´ogica com uma ocorrˆencia em torno de 0.5 a 2% da popula¸c˜ao mundial. H´a poucos estudos sobre a prevalˆencia e incidˆencia de Epilepsia no Brasil (NETO; MARCHETTI,

2005). Estima-se que, em nosso pa´ıs, exista em torno de 1,8 milh˜ao de pacientes com Epilepsia ativa, e que pelo menos 9 milh˜oes de pessoas j´a apresentaram crise epil´eptica alguma vez na vida (MARANH ˜AO; GOMES;

CARVALHO, 2011).

Esta condi¸c˜ao ´e caracterizada por s´ubitas perturba¸c˜oes recor-rentes e transit´orias de percep¸c˜ao ou de comportamento decorrentes da sincroniza¸c˜ao excessiva das redes neuronais corticais. ´E uma condi¸c˜ao neurol´ogica em que um indiv´ıduo experimenta uma ativa¸c˜ao anormal dos circuitos neuronais e de descargas el´etricas no c´erebro (TZALLAS et al., 2012), caracterizada por v´arios tipos de crises, s´ındromes e apre-senta¸c˜oes.

Embora uma grande variedade de medicamentos e tratamentos cir´urgicos estejam dispon´ıveis, as crises permanecem imprevis´ıveis em mais de 25% de pacientes (VALDERRAMA et al., 2012), e os

mecanis-mos desencadeadores da crise s˜ao pouco conhecidos. A maioria das cri-ses epil´epticas s˜ao auto-limitantes, mas ocasionalmente se transformam em uma condi¸c˜ao potencialmente fatal (status epilepticus). Embora a maioria das crises, incluindo as crises clˆonicas tˆonicas generalizadas (CCTG), n˜ao causem danos duradouros ao c´erebro, elas est˜ao associa-das a um pequeno risco de morte devido a complica¸c˜oes card´ıacas ou respirat´orias (morte s´ubita inesperada em epilepsia (SUDEP)). O risco de SUDEP ´e particularmente elevado em indiv´ıduos que dormem sozi-nhos e tˆem CCTG durante o sono (LAMBERTS et al., 2012). Estudos tˆem demonstrado que os indiv´ıduos com epilepsia muitas vezes permanecem inconscientes de suas pr´oprias crises, especialmente as crises mais leves e associadas ao sono (HOPPE; POEPEL; ELGER, 2007). Assim, existe um grande interesse no desenvolvimento de ferramentas confi´aveis para a detec¸c˜ao precoce das crises e potencialmente para a previs˜ao de crises, a fim de permitir uma interven¸c˜ao aguda ou, pelo menos, dar aos pacien-tes a oportunidade de se prepararem para uma crise (CARNEY; MYERS; GEYER, 2011). Atualmente, a t´ecnica de estimula¸c˜ao do nervo vago

(VNS, Vagal Nerve Stimulation, Cyberonics c ) tem se popularizado por se mostrar eficaz no controle das crises epil´epticas, principalmente nos casos onde os tratamentos farmacol´ogicos e cir´urgicos n˜ao resolvem (NG et al., 2010;CONNOR et al., 2012).

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A maioria das t´ecnicas atuais para a predi¸c˜ao e detec¸c˜ao au-tom´atica de crises epil´epticas, que s˜ao consideradas como o estado-da-arte, envolve transforma¸c˜oes lineares e n˜ao-lineares de sinais de eletro-encefalograma (EEG). Estas t´ecnicas, em quase toda sua totalidade, utilizam esses sinais por refletirem as atividades el´etricas do c´erebro (RANA et al., 2012; ACHARYA et al., 2012a; DUQUE-MUNOZ;

ESPINOSA-OVIEDO; CASTELLANOS-DOMINGUEZ, 2014; HASSAN; SIULY; ZHANG,

2016;LI et al., 2016). Por´em, alguns estudos tˆem utilizado outros sinais

biom´edicos para a identifica¸c˜ao precoce das crises epil´epticas, em espe-cial o eletrocardiograma (ECG). Recentemente, rela¸c˜oes entre os sinais de ECG e EEG tˆem sido estudadas para a utiliza¸c˜ao na detec¸c˜ao de crises epil´epticas (VALDERRAMA et al., 2012; NASEHI; POURGHASSEM, 2012;MPORAS et al., 2015). Neste sentido, algoritmos complexos para a detec¸c˜ao de crises utilizando sinais de EEG e ECG tˆem trazido bons resultados, por´em com excessiva complexidade, alto custo computaci-onal, dificuldade na usabilidade pelos pacientes, entre outros.

Estudos anteriores indicaram que a an´alise da atividade do sis-tema nervoso autˆonomo (SNA) pode ajudar a identificar e gerenciar a Epilepsia. Uma das medi¸c˜oes que traz informa¸c˜oes sobre o seu fun-cionamento ´e a variabilidade da frequˆencia card´ıaca (VFC). De modo geral, a VFC ´e uma medi¸c˜ao temporal da varia¸c˜ao sucessivas de inter-valos RR de um sinal de ECG e ela reflete a regula¸c˜ao da frequˆencia card´ıaca pelo SNA (ramos simp´atico e parassimp´atico) (PONNUSAMY; MARQUES; REUBER, 2012). Isso significa que as an´alises de VFC podem ser usadas para fornecer pistas indiretas sobre a atividade do sistema nervoso. Desta maneira, o uso da VFC para a predi¸c˜ao de crises se torna fact´ıvel e de grande usabilidade.

Entretanto, um grande n´umero de pesquisas tˆem utilizado o sinal de EEG para a detec¸c˜ao e an´alises de crises epil´epticas (ACHARYA et al., 2013). Alguns deles conseguiram excelentes resultados, chegando a uma acur´acia de 100% para a detec¸c˜ao de crises (ALAM; BHUIYAN, 2013). J´a em rela¸c˜ao a predi¸c˜ao, Wang, Chaovalitwongse e Wong (2013) atingiram uma sensibilidade de 73% e uma especificidade de 67% e uma das melhores t´ecnicas alcan¸cou uma sensibilidade de 97,5% e uma taxa de falso positivo de 0,27 h 1 (

PARK et al., 2011).

Em rela¸c˜ao a detec¸c˜ao e previs˜ao de crises com base em sinais de ECG, o seu uso foi impulsionado inicialmente para a utiliza¸c˜ao em pacientes prematuros. Neste contexto, Malarvili e Mesbah (2009) con-seguiram em seu estudo o resultado mais expressivo para a detec¸c˜ao, com uma sensibilidade de 85.7% e especificidade de 84.6%. Posterior-mente, Varon et al. (2014) usou sinais de ECG para obter um valor

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preditivo positivo (VPP) de 86,2 % e uma sensibilidade de 100 % para crises parciais e um VPP de 84,3 % e uma sensibilidade de 93,1 % para crises generalizadas. Esse ´e o melhor resultado encontrado para a detec¸c˜ao de crises utilizando VFC.

Embora existam bons resultados na detec¸c˜ao de crises utilizando VFC, a predi¸c˜ao ainda ´e campo de estudo pouco explorado. Alguns es-tudos realizaram an´alises sobre o comportamento de parˆametros da VFC no per´ıodo pr´e-ictal (TOICHI et al., 1998;PONNUSAMY; MARQUES; REUBER, 2011, 2012;BEHBAHANI et al., 2014;PAVEI; WALZ; MARQUES, 2014) e tiveram bons indicativos. O ponto mais relevante nesses traba-lhos ´e a queda da atividade parassimp´atica no per´ıodo pr´e-ictal. Nesse sentido, recentemente surgiram os primeiros trabalhos para predi¸c˜ao de crises epil´epticas utilizando apenas a an´alise da VFC. Por exemplo, Fu-jiwara et al. (2016) descreveram um processo estat´ıstico multivari´avel para predi¸c˜ao de crises epil´epticas com uma sensibilidade de 91% e uma taxa de falso positivo de 0.7 h 1. No mesmo ano, um outro trabalho

apresentou atrav´es de um m´etodo de decis˜ao como limiar adaptativo, um resultado com sensibilidade de 78.59% e uma taxa de falso posi-tivo por hora de 0.21 h 1(BEHBAHANI et al., 2016). Ainda utilizando

um m´etodo baseado em limiares, Moridani e Farhadi (2017) apresentou um resultado com sensibilidade de 88.3% e uma especificidade de 86.2% para predi¸c˜ao de crises. Mais recentemente, j´a utilizando a metodologia proposta nessa tese, atingiu-se uma sensibilidade de 94.1% e uma taxa de falso positivo de 0.49 h 1 (PAVEI et al., 2017).

Os algoritmos de detec¸c˜ao de crises baseados em EEG dependem do reconhecimento de padr˜oes espec´ıficos do sinal no momento ictal da crise e esses padr˜oes se diferem para cada tipo de crise. Dessa maneira, para se detectar de uma forma mais confi´avel ´e necess´ario um sistema que envolva um maior n´umero de eletrodos ligados ao couro cabeludo ou eletrodos intracranianos que necessitariam ser implantados cirurgi-camente (e, portanto, estar˜ao associados a riscos como sangramento ou infec¸c˜ao). Por outro lado, os sinais de ECG s˜ao mais facilmente acess´ıveis e podem ser capturados de forma confi´avel usando meios n˜ao-invasivos. O sinal de ECG tamb´em ´e menos complexo do que os sinais EEG e pode ser interpretado com recursos computacionais mais limitados. Nesse sentido, as altera¸c˜oes da frequˆencia card´ıaca associa-das `as crises s˜ao mais gen´ericas e foram bem estudaassocia-das anteriormente (EGGLESTON; OLIN; FISHER, 2014), inclusive j´a utilizados em

equipa-mentos de VNS em malha-fechada. Portanto, a detec¸c˜ao e predi¸c˜ao de crises via ECG ´e atualmente mais promissora que as abordagens baseadas em EEG (BOON et al., 2015).

(29)

Dado o exposto, o desenvolvimento de uma metodologia para a predi¸c˜ao de crises epil´epticas utilizando apenas o ECG representa uma contribui¸c˜ao importante nessa linha de pesquisa. Essa metodologia deve considerar as caracter´ısticas fisiol´ogicas dos pacientes e das crises, assim como lidar com as limita¸c˜oes intr´ınsecas da an´alise da VFC. 1.1 OBJETIVOS

Na primeira etapa dessa tese, estudou-se o comportamento fisio-patol´ogico das crises epil´epticas e as conex˜oes existentes entre o sistema nervoso autˆonomo e o sistema cardiovascular. A partir desse estudo, pˆode-se realizar o embasamento cl´ınico para a utiliza¸c˜ao da VFC. Em seguida, foram implementadas uma s´erie de an´alises temporais, frequen-ciais e n˜ao-lineares para se avaliar o comportamento dos parˆametros derivados da VFC nos diferentes per´ıodos da crise. Por fim, foi im-plementado uma primeira proposta de metodologia para se verificar o potencial e limita¸c˜oes dessa solu¸c˜ao. Desta maneira, os objetivos geral e espec´ıficos da tese proposta s˜ao apresentados abaixo.

1.1.1 Objetivo Geral

O objetivo principal dessa tese ´e o desenvolvimento de uma meto-dologia para a predi¸c˜ao autom´atica de crises epil´epticas atrav´es an´alise da VFC, utilizando t´ecnicas avan¸cadas de processamento digital, iden-tifica¸c˜ao e classifica¸c˜ao de sistemas lineares e n˜ao-lineares.

1.1.2 Objetivos Espec´ıficos

Os objetivos espec´ıficos do desenvolvimento desta tese foram de-finidos baseados em 3 hip´oteses fundamentais: (1) existem diferen¸cas significativas nos parˆametros derivados da VFC entre os per´ıodos pr´e-ictal e interpr´e-ictal; (2) ´e poss´ıvel desenvolver uma metodologia baseada em parˆametros da VFC para a predi¸c˜ao de crises epil´epticas; e (3) a metodologia desenvolvida ir´a atingir n´ıveis de eficiˆencia comparados aos que utilizam EEG.

Dessa maneira, a fim de responder essas hip´oteses, foram defini-dos os seguintes objetivos espec´ıficos:

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diferen-ciam os per´ıodos pr´e-ictal e interictal das crises epil´epticas. A partir do melhor entendimento do comportamento dinˆamico des-ses parˆametros em rela¸c˜ao `a resposta do SNA sobre as crises ´e poss´ıvel definir a viabilidade da utiliza¸c˜ao desses parˆametros e selecionar os melhores;

• Propor uma metodologia para a predi¸c˜ao de crises epil´epticas, utilizando um classificador de per´ıodos de crise e considerando a dinˆamica dos parˆametros de VFC. Nessa metodologia, deve in-cluir desde o tratamento do sinal de ECG, extra¸c˜ao da s´erie RR, processamento dos dados e classifica¸c˜ao;

• Desenvolver um m´etodo com o foco na classifica¸c˜ao do per´ıodo pr´e-ictal, utilizando a metodologia proposta, que atinja uma sen-sibilidade e especificidade de predi¸c˜ao similares ou melhores que os m´etodos de predi¸c˜ao utilizando EEG.

1.2 RESULTADOS DO TRABALHO

Os resultados deste trabalho focaram principalmente na predi¸c˜ao de crises epil´epticas dentro de um horizonte de 5min, com base apenas na an´alise da VFC (PAVEI et al., 2017). Entretanto, eles se estendem aos n´ıveis de implementa¸c˜ao e estudo de diferentes patologias relacionados ao SNA. Essas contribui¸c˜oes s˜ao discriminadas conforme apresentado abaixo:

• A variabilidade da frequˆencia card´ıaca pode ser utilizada como uma ferramenta para fornecer informa¸c˜oes sobre o estado funci-onal do sistema nervoso autˆonomo (SEVCENCU; STRUIJK, 2010). Os parˆametros de VFC refletem a variabilidade batimento a timento dos osciladores intr´ınsecos, que s˜ao controlados pelo ba-lan¸co simpatovagal. Nesse sentido, a variabilidade da frequˆencia card´ıaca pode ser considerada como um biomarcador de disfun¸c˜ao autonˆomica causada pelas crises. Assim, como uma das contri-bui¸c˜oes dessa tese ´e o desenvolvimento de uma metodologia que pode ser utilizadas para a predi¸c˜ao de outras patologias que es-tejam relacionadas com o SNA;

• A dinˆamica dos parˆametros da VFC durante os per´ıodos interic-tal, ictal e pr´e-ictal ´e pouco explorada. As an´alises realizadas, normalmente, consideram intervalos fixos de pontos RR nos di-ferentes per´ıodos. Desta maneira, os resultados apresentam um

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momento destes per´ıodos. Um dos resultados dessa tese ´e analisar a dinˆamica dos parˆametros da VFC em todos os per´ıodos, sobre-tudo nos momentos de transi¸c˜ao entre os diferentes momentos (interictal, pr´e-ictal e ictal). Assim, se torna poss´ıvel identifi-car melhor o comportamento do dist´urbio fisiopatol´ogico causado pela crise. Al´em disso, possibilita o uso de t´ecnicas avan¸cadas de pr´e-processamento antes de se utilizar um classificador para a predi¸c˜ao.

• Em cada etapa da metodologia, diversas ferramentas matem´aticas foram desenvolvidas, como por exemplo: Um algoritmo via Wa-velet para detec¸c˜ao de picos R, diversos parˆametros de VFC, t´ecnicas de pr´e-processamento e diferentes ferramentas para clas-sificadores. Um dos resultados deste trabalho foi a compara¸c˜ao de diversas configura¸c˜oes e a defini¸c˜ao dos melhores parˆametros que melhor discriminam os grupos desejados;

• Uma das premissas desse trabalho foi atingir resultados simila-res ou melhosimila-res que os m´etodos de predi¸c˜ao via EEG. Um dos principais resultados dessa tese foi atingir resultados similares e at´e melhores que alguns utilizando EEG. Al´em disso, foi um dos melhores encontrados na literatura utilizando apenas o ECG. 1.3 ESTRUTURA

Esta proposta de doutorado foi estruturada da seguinte forma: Cap´ıtulo 1: Introdu¸c˜ao, este cap´ıtulo apresenta e caracteriza o

pro-blema de predi¸c˜ao de crises epil´epticas. Com isso, s˜ao evidenci-adas as motiva¸c˜oes para a implementa¸c˜ao de uma metodologia para predi¸c˜ao utilizando apenas o sinal de ECG;

Cap´ıtulo 2: Aspectos Biol´ogicos, cont´em as informa¸c˜oes essenciais para entender os efeitos da crise epil´etica no SNA e da rela¸c˜ao do SNA com o sistema cardiovascular. A partir dessas informa¸c˜oes se faz a liga¸c˜ao dos efeitos da crise sobre a VFC;

Cap´ıtulo 3: An´alises e m´etodos, apresenta as principais an´alises e m´etodos utilizados para a predi¸c˜ao e detec¸c˜ao de crises utilizando os sinais de EEG e ECG. Nesse cap´ıtulo, tamb´em s˜ao apresenta-dos os melhores resultaapresenta-dos obtiapresenta-dos na literatura, assim como as limita¸c˜oes dos m´etodos utilizados;

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Cap´ıtulo 4: Metodologia para Predi¸c˜ao de Crises Epil´epticas, apre-senta a metodologia proposta para se realizar a predi¸c˜ao de cri-ses. Nesse cap´ıtulo, todas as etapas da metodologia proposta s˜ao apresentadas e discutidas. Em cada etapas, s˜ao apresentadas as ferramentas e an´alises matem´aticas que foram utilizadas nesse tese;

Cap´ıtulo 5: Resultados e Discuss˜oes, apresenta os resultados obtidos dessa tese. Nesse cap´ıtulo, tamb´em ´e realizada a compara¸c˜ao dos resultados utilizando diferentes ferramentas matem´aticas e classificadores;

Cap´ıtulo 6: Conclus˜oes e Perspectivas, apresenta as conclus˜oes dessa tese e as perspectivas da continua¸c˜ao do trabalho.

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2 ASPECTOS BIOL ´OGICOS

Este cap´ıtulo objetiva `a apresenta¸c˜ao dos principais aspectos biol´ogicos que fundamentam o desenvolvimento deste trabalho, sobre-tudo o que tange o conhecimento sobre a Epilepsia e sua influˆencia no sistema cardiovascular e sistema nervoso autˆonomo.

2.1 EPILEPSIA

Epilepsia ´e uma doen¸ca neurol´ogica com uma ocorrˆencia em torno de 0.5 a 2% da popula¸c˜ao mundial. De maneira geral, a in-cidˆencia da Epilepsia em pa´ıses desenvolvidos ´e em torno de 50 por 100.000 habitantes enquanto que a incidˆencia em pa´ıses em desenvol-vimento ´e geralmente maior, em torno de 100 a 190 por 100.000 ha-bitantes (NELIGAN; SANDER, 2009). Estudos recentes tˆem discutido

os motivos pelos os quais a incidˆencia difere entre pa´ıses ricos e po-bres (BELL; NELIGAN; SANDER, 2014; MATHERN; BENINSIG; NEHLIG, 2015). V´arios aspectos influenciam nessa diferen¸ca como problemas metodol´ogicos, mortalidade prematura, fatores socioeconˆomicos e es-tigma (BEGHI; HESDORFFER, 2014).

Estima-se que, no Brasil, tenha a existˆencia de 1,8 milh˜ao de pacientes com Epilepsia ativa, e que pelo menos 9 milh˜oes de pessoas j´a apresentaram crise epil´eptica alguma vez na vida (MARANH ˜AO;

GO-MES; CARVALHO, 2011). Considerando o estudo de Neligan e Sander

(2009), o Brasil possui a mesma faixa de incidˆencia dos pa´ıses em de-senvolvimento.

A Epilepsia ´e caracterizada por s´ubitas perturba¸c˜oes recorren-tes e transit´orias de percep¸c˜ao ou de comportamento decorrenrecorren-tes da sincroniza¸c˜ao excessiva das redes neuronais corticais. ´E uma doen¸ca neurol´ogica em que um indiv´ıduo experimenta uma ativa¸c˜ao anormal dos circuitos neuronais e de descargas el´etricas no c´erebro (TZALLAS et al., 2012), caracterizada por v´arios tipos de crises, s´ındromes e apre-senta¸c˜oes.

A principal manifesta¸c˜ao da Epilepsia ´e a crise recorrente. As crises epil´epticas s˜ao ocasionadas devido ao desenvolvimento s´ubito da sincroniza¸c˜ao neuronal no c´ortex cerebral (TZALLAS et al., 2012). Embora haja tratamentos farmacol´ogicos e cir´urgicos, mais de 25% dos indiv´ıduos com Epilepsia possuem crises n˜ao control´aveis e impre-vis´ıveis (VALDERRAMA et al., 2012). A maioria das crises epil´epticas s˜ao

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auto-limitantes, mas ocasionalmente se transformam em uma condi¸c˜ao potencialmente fatal, mais persistente (crise convulsiva prolongada). Embora a maioria das crises, incluindo as convuls˜oes clˆonicas tˆonicas generalizadas (CCTG), n˜ao causem danos duradouros ao c´erebro (con-sequˆencias f´ısicas, psicol´ogicas e sociais negativas), elas est˜ao associadas a um pequeno risco de morte devido a complica¸c˜oes card´ıacas ou res-pirat´orias (Morte S´ubita Inesperada em Epilepsia (SUDEP)). O risco de SUDEP ´e particularmente elevado em indiv´ıduos que tˆem CCTG durante o sono (LAMBERTS et al., 2012). Estudos tˆem demonstrado que os indiv´ıduos com epilepsia muitas vezes permanecem inconscientes em suas crises, especialmente em crises mais leves e associadas ao sono

(HOPPE; POEPEL; ELGER, 2007).

A imprevisibilidade das crises ´e um dos aspectos mais debilitan-tes da Epilepsia, impactando seriamente na seguran¸ca e qualidade de vida (ZAVERI et al., 2010). At´e hoje, a ocorrˆencia de crise Epil´eptica ´e imprevis´ıvel e os mecanismos desencadeadores da crise s˜ao pouco co-nhecidos (GUO; RIVERO; PAZOS, 2010). Desta maneira, esfor¸cos para o seu diagn´ostico e tratamento s˜ao de grande importˆancia.

´

E importante ressaltar que a crise e Epilepsia possuem conceitos diferentes. Em 2015, a Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) definiu ambos da seguinte maneira (FISHER et al., 2005):

• Uma crise epil´eptica ´e uma ocorrˆencia transit´oria de sinais e/ou sintomas devido a uma atividade neuronal s´ıncrona ou excessiva no c´erebro;

• Epilepsia ´e uma doen¸ca caracterizada por uma predisposi¸c˜ao per-sistente a gerar crises epil´epticas e pelas consequˆencias neuro-biol´ogicas, cognitivas, psicol´ogicas e sociais desta condi¸c˜ao.

Essa defini¸c˜ao de Epilepsia ´e geralmente aplicada quando se tem duas ou mais crises n˜ao provocadas em um intervalo maior que 24 ho-ras. Por´em, recentemente a ILAE aceitou recomenda¸c˜oes para alterar a defini¸c˜ao pr´atica para incluir circunstˆancias especiais que n˜ao se ade-quavam `a definida em 2005 (FISHER et al., 2014).

A nova defini¸c˜ao prop˜oe que a Epilepsia seja considerada como uma doen¸ca do c´erebro definida por qualquer das seguintes condi¸c˜oes: 1. Pelo menos duas crises n˜ao provocadas (ou duas crises reflexas)

ocorrendo em um intervalo superior a 24 horas;

2. Uma crise n˜ao provocada (ou uma crise reflexa) e chance de uma nova crise estimada em pelo menos 60%, ocorrendo no per´ıodo de 10 anos;

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3. Diagn´ostico de uma s´ındrome epil´eptica.

Por fim, tamb´em foi definido que a Epilepsia s´o ser´a considerada como resolvida para indiv´ıduos que ou tiveram epilepsia relacionada a uma determinada faixa et´aria e que agora ultrapassaram essa idade ou n˜ao tiveram uma crise h´a mais de 10 anos e est˜ao livres de medica¸c˜oes antiepil´epticas nos ´ultimos 5 anos (FISHER et al., 2014).

2.1.1 Classifica¸c˜ao de Crises e Epilepsias

As classifica¸c˜oes de crises (PROPOSAL. . ., 1981) e epilepsias ( PRO-POSAL. . ., 1989) foram formalmente propostas no meio do s´eculo pas-sado e foram baseadas nos conceitos que tinham sido desenvolvidos nas d´ecadas anteriores. Devido aos avan¸cos tecnol´ogicos e cient´ıficos nos ´

ultimos anos, tornou-se necess´aria uma atualiza¸c˜ao no vocabul´ario e na abordagem na classifica¸c˜ao das crises e epilepsias (BERG; SCHEF-FER, 2011).

Em Berg et al. (2010), foram revisados conceitos, terminologia e abordagens para a classifica¸c˜ao de crises e formas de epilepsia.

2.1.1.1 Classifica¸c˜ao de Crises

Em Berg et al. (2010), foram classificadas as crises conforme apresentado na Tabela 1 e definidas como:

Crises epil´epticas generalizadas s˜ao conceituadas como origin´arias em algum ponto dentro de, e rapidamente envolvendo, redes dis-tribu´ıdas bilateralmente. Essas redes bilaterais podem incluir estruturas corticais e subcorticais, mas n˜ao necessariamente o c´ortex inteiro. Embora o in´ıcio de crises individuais possa pare-cer localizado, a localiza¸c˜ao e lateraliza¸c˜ao n˜ao s˜ao consistentes de uma crise `a outra. Crises generalizadas podem ser assim´etricas. Crises epil´epticas focais s˜ao conceituadas como origin´arias dentro

das redes limitadas a um hemisf´erio. Eles podem ser discreta-mente localizadas ou mais ampladiscreta-mente distribu´ıdas. Crises focais podem ser origin´arias de estruturas subcorticais. Para cada tipo de crise, o in´ıcio ictal ´e consistente a partir de uma crise `a outra, com padr˜oes de propaga¸c˜ao preferencial que podem envolver o hemisf´erio contralateral. Em alguns casos, no entanto, h´a mais

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de uma rede, e mais de um tipo de crise, mas cada tipo de crise individual tem um local consistente de in´ıcio.

Crises n˜ao classificadas n˜ao preenchem crit´erios para a classifica¸c˜ao acima. N˜ao raramente s˜ao crises que ocorrem em crian¸cas rec´em-nascidas.

Tabela 1 – Classifica¸c˜ao de crises (BERG et al., 2010) Crises generalizadas

Tˆonico-clˆonica (em qualquer combina¸c˜ao) Ausˆencia Mioclˆonica Clˆonica Tˆonica Atˆonica Crises focais Desconhecidos Espasmos epil´epticos

De acordo com Berg e Sche↵er (2011), os conceitos generalizada e focal quando usados para caracterizar crises se referem explicitamente a redes neuronais, uma constru¸c˜ao cada vez mais aceita em neurociˆencia onde as redes s˜ao estudadas diretamente por meio do uso de t´ecnicas como a imagem por ressonˆancia magn´etica (MRI) .

2.1.1.2 Classifica¸c˜ao de Epilepsias

Na classifica¸c˜ao definida em 1989 (PROPOSAL. . ., 1989), os ti-pos de epilepsia eram definidos etiologicamente como idiop´atica, sin-tom´atica e criptogˆenica. Entretanto, essas defini¸c˜oes foram recomen-dadas a serem substitu´ıdas por novos termos e conceitos (BERG et al.,

2010), conforme apresentado abaixo:

Gen´etica: O conceito de epilepsia gen´etica ´e que a Epilepsia ´e, da melhor forma entendida, como o resultado direto de uma falha gen´etica conhecida ou presumido em que as crises s˜ao o principal sintoma da doen¸ca. O conhecimento sobre contribui¸c˜oes gen´eticas podem derivar de estudos gen´eticos moleculares espec´ıficos que

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tˆem sido bem replicados e at´e mesmo se tornem a base de testes de diagn´ostico (e.g., SCN1A e s´ındrome de Dravet) ou a evidˆencia de um papel central de um componente gen´etico pode vir de es-tudos de fam´ılias adequadamente concebidos. A designa¸c˜ao da natureza fundamental do dist´urbio como gen´etico n˜ao exclui a possibilidade de que fatores do meio ambiente (fora do indiv´ıduo) possam contribuir para a express˜ao da doen¸ca. No presente mo-mento, n˜ao h´a virtualmente nenhum conhecimento espec´ıfico para apoiar as influˆencias ambientais como causas contribuintes a estas formas de epilepsia.

Estrutural/metab´olica: Conceitualmente, h´a uma condi¸c˜ao distinta ou estrutural ou metab´olica ou outra doen¸ca que demonstrou es-tar associada a um substancial aumento do risco de desenvolver epilepsia em estudos apropriadamente desenhados. Les˜oes estru-turais incluem dist´urbios adquiridos como acidente vascular ce-rebral, trauma e infec¸c˜ao. Eles tamb´em podem ser de origem gen´etica (e.g., esclerose tuberosa, malforma¸c˜oes do desenvolvi-mento cortical); no entanto, como atualmente compreendido, h´a um dist´urbio separado interposto entre a falha gen´etica e a epi-lepsia.

Causa desconhecida: ´e uma forma neutra para designar que a natu-reza da causa subjacente ´e ainda desconhecida; pode haver uma falha gen´etica fundamental, ou pode ser a consequˆencia de um dist´urbio separado ainda n˜ao reconhecido.

Essa nova classifica¸c˜ao recomendada ´e reconhecidamente imper-feita e segue talvez demasiadamente as antigas distin¸c˜oes idiop´atica-sintom´atica-criptogˆenica. Entretanto, ela foi concebida como parte de uma fase de transi¸c˜ao em dire¸c˜ao `a meta de desenvolver uma abordagem racional, cientificamente justific´avel para uma verdadeira classifica¸c˜ao (BERG; SCHEFFER, 2011).

2.1.1.3 Per´ıodos da Crise

Para melhor compreender os diferentes momentos que envol-vem uma ou mais crises epil´epticas, foram classificados os diferentes per´ıodos, como definido abaixo:

Per´ıodo ictal: Refere-se ao momento da crise epil´eptica propriamente dito;

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Per´ıodo p´os-ictal: S˜ao manifesta¸c˜oes cl´ınicas e eletroencefalogr´aficas que se seguem ao t´ermino da crise epil´eptica. Na pr´atica cl´ınica, admite-se que tenha dura¸c˜ao de no m´aximo 48 horas;

Per´ıodo interictal: Compreende o t´ermino do per´ıodo p´os-ictal e o in´ıcio da pr´oxima crise;

Per´ıodo pr´e-ictal: Refere-se ao momento imediatamente anterior ao per´ıodo ictal.

2.1.2 Epilepsia e o Sistema Nervoso Autˆonomo

As crises epil´epticas s˜ao frequentemente acompanhadas por al-tera¸c˜oes na fun¸c˜ao autonˆomica de tal modo, que qualquer sistema con-trolado pelo SNA tem potencial de ser afetado antes, durante e ap´os o per´ıodo ictal da crise (GOODMAN; STEWART; DRISLANE, 2008).

As rela¸c˜oes entre as atividades el´etricas epil´epticas e o SNA s˜ao muito complexas, o que envolve diversas estruturas cerebrais dentro do c´ortex, sistema l´ımbico e SNA. Considerando a grande interconex˜ao existente em todo o sistema nervoso central (SNC), ´e plaus´ıvel consi-derar que as descargas el´etricas vistas na Epilepsia estejam associadas a uma disfun¸c˜ao autonˆomica. Por´em, entender como essa rela¸c˜ao fun-ciona, sobretudo o caminho entre o foco da crise e suas manifesta¸c˜oes no SNA, ´e essencial para um entendimento melhor sobre suas mani-festa¸c˜oes.

Para que uma crise altere a fun¸c˜ao autonˆomica, ela deve se propa-gar para ´areas do c´erebro que comp˜oem a SNC. As estruturas l´ımbicas e corticais, presentes no SNC, controlam a sa´ıda dos ramos simp´aticos e parassimp´aticos do SNA atrav´es do hipot´alamo e tronco cerebral (

GO-ODMAN; STEWART; DRISLANE, 2008). Desta maneira, pode-se supor

que a an´alise do comportamento destes ramos pode trazer informa¸c˜oes relevantes sobre a crise.

Os prov´aveis caminhos de propaga¸c˜ao de uma atividade el´etrica epil´eptica focal s˜ao apresentados na Figura 1. Eles iniciam nos lo-bos temporais ou frontais (inicio da fase ictal da crise). A ´ınsula ´e ent˜ao envolvida em ambas poss´ıveis crises (temporal ou frontal) en-quanto o hipocampo ´e envolvido nas crises temporais. Essa atividade ´e ent˜ao propagada atrav´es do sistema l´ımbico que envolve a am´ıgdala, hi-pot´alamo e o t´alamo. Estes, por sua vez, estimulam os n´ucleos do SNA na medula. Por fim, ambos os sistemas eferentes simp´atico e paras-simp´atico s˜ao acionados. Obviamente, o sistema e suas interconex˜oes

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s˜ao mais complexos que apresentados na figura.

Figura 1 – Prov´aveis caminhos de propaga¸c˜ao de uma atividade el´etrica epil´eptica para os sistemas l´ımbico e autonˆomico. (Pr´oprio autor)

2.1.2.1 Efeitos da Epilepsia no Sistema Nervoso Autˆonomo

Muitos dos fenˆomenos cl´ınicos associados com crises s˜ao media-dos pelo SNA. Elas geralmente induzem taquicardia, hipertens˜ao, ap-neia, altera¸c˜oes na motilidade g´astrica, diminui¸c˜ao na resposta galvˆanica da pele, sudorese, midr´ıase, aumento das secre¸c˜oes, ou incontinˆencia

(BAUMGARTNER; LURGER; LEUTMEZER, 2001).

Durante os per´ıodos pr´e-ictal, ictal e p´os-ictal da crise, altera¸c˜oes induzidas por esta se reflete em diversas fun¸c˜oes controladas pelo SNA. Entre elas, podemos citar:

Cardiovascular: As manifesta¸c˜oes mais comuns no sistema cardio-vascular durante o per´ıodo ictal s˜ao a taquicardia e hipertens˜ao arterial, estando presente em quase todos os tipos de crise (

LEUT-MEZER et al., 2003; GOODMAN; STEWART; DRISLANE, 2008).

En-tretanto, existem casos mais raros, nos quais o paciente sofre uma bradicardia no per´ıodo ictal, normalmente associado a uma crise do lobo temporal esquerdo (TINUPER et al., 2001). Al´em disso, mudan¸cas na fun¸c˜ao cardiovascular tˆem uma especial aten¸c˜ao por

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sua poss´ıvel contribui¸c˜ao na SUDEP (LEUTMEZER et al., 2003;

DUNCAN; BRODIE, 2011).

Gastrointestinal: Os sintomas gastrointestinais n˜ao s˜ao os mais co-muns de uma crise mediada pelo SNA. Enquanto a manifesta¸c˜ao t´ıpica ´e o aumento da sensa¸c˜ao epig´astrica, outros sintomas po-dem ocorrer, como vˆomitos, c´olicas, incha¸co e diarreia. De ma-neira geral, as sensa¸c˜oes viscerais anormais podem acontecer a partir da atividade anormal do intestino devido `a atividade au-tonˆomica anormal (GOODMAN; STEWART; DRISLANE, 2008).

Geniturin´ario: A incontinˆencia urin´aria ´e mais comum em convuls˜oes generalizadas, ocorrendo frequentemente depois da fase clˆonica. Ocorre com menos frequˆencia em crises parciais, e em crises fo-cais pode induzir a sensa¸c˜ao de urgˆencia urin´aria (GOODMAN;

STEWART; DRISLANE, 2008).

Sexual: Embora muitos estudos apresentem a presen¸ca de mudan¸cas hormonais e desordens sexuais em pacientes epil´epticos, a dis-fun¸c˜ao sexual em pacientes epil´epticos ´e um problema multifato-rial sem uma defini¸c˜ao clara de uma causa. De modo geral, sexu-alidade e Epilepsia tem sido intimamente relacionadas, sendo que a hipersexualidade est´a mais relacionada com a atividade ictal enquanto a hiposexualidade com a interictal (SMALDONE et al., 2004;LUEF, 2008).

2.2 SISTEMA NERVOSO AUT ˆONOMO

O sistema nervoso autˆonomo ´e fundamental para a manuten¸c˜ao da homeostase do corpo humano atrav´es da regula¸c˜ao da frequˆencia card´ıaca, press˜ao sangu´ınea, respira¸c˜ao, digest˜ao e reprodu¸c˜ao. A res-posta do SNA ´e determinada pelo balan¸co dos reflexos medulares e influˆencias do c´ortex cerebral (JANSEN; LAGAE, 2010). Ele ´e divido em dois ramos, os sistemas nervosos simp´atico e parassimp´atico, que exercem efeitos opostos na maioria dos ´org˜aos. A Figura 2 apresenta a divis˜ao das vias autonˆomicas, onde as vias em azul representam a via parassimp´atica e em vermelho a simp´atica.

(42)

Figura 2 – Vias autonˆomicas simp´atica e parassimp´atica (adaptado de Silverthorn (2010)).

2.2.1 Divis˜ao do Sistema Nervoso Autˆonomo

Embora as vias simp´atica e parassimp´atica possam ser distin-guidas anatomicamente, n˜ao h´a um modo simples de separar as a¸c˜oes de ambas subdivis˜oes. A melhor forma ´e de acordo com o tipo de si-tua¸c˜ao na qual elas est˜ao mais ativas. De modo geral, a maior parte dos ´org˜aos internos est´a sob controle antagonista, no qual uma subdivis˜ao autonˆomica ´e excitat´oria e outra inibit´oria (SILVERTHORN, 2010).

O sistema nervoso parassimp´atico, que pode ser considerado como o controlador das fun¸c˜oes ”descan¸co e digest˜ao”, est´a associado com a queda da frequˆencia card´ıaca e press˜ao sangu´ınea e pelo

(43)

au-mento da atividade digestiva. Muitas vias parassimp´aticas originam-se no tronco encef´alico e seus axˆonios deixam o enc´efalo em v´arios nervos cranianos, em especial o nervo vago (SILVERTHORN, 2010). Este nervo possui cerca de 75% de todas as fibras parassimp´aticas e por esse mo-tivo, a a¸c˜ao parassimp´atica ´e geralmente referenciada como atividade do nervo vago (CLIFFORD, 2002).

O sistema nervoso simp´atico, por sua vez, ´e rapidamente ativado em situa¸c˜oes estressantes (f´ısico ou mental) e relacionados a resposta ”luta-ou-fuga”, na qual o enc´efalo dispara uma descarga simp´atica maci¸ca e simultˆanea em todo o corpo. Seus principais efeitos s˜ao o aumento da frequˆencia card´ıaca e press˜ao arterial, redu¸c˜ao do l´umem dos vasos e a queda da atividade do sistema digestivo (SILVERTHORN, 2010;CLIFFORD, 2002).

2.2.2 Centros de Controle Autonˆomico

O SNA trabalha em estreita rela¸c˜ao com o sistemas end´ocrino e comportamental para manter a homeostase corporal. A Figura 3 ilustra os centros de controle autonˆomicos ligados ao SNA. V´arias informa¸c˜oes sensoriais de todo o organismo s˜ao processadas no hipot´alamo, na ponte e no bulbo a fim de realizar o controle de fun¸c˜oes importantes como a press˜ao sangu´ınea, temperatura corporal, entre outros. Al´em disso, as informa¸c˜oes integradas no c´ortex cerebral e no sistema l´ımbico podem influenciar as respostas autonˆomicas. Desta maneira, ao se analisar os poss´ıveis caminhos de propaga¸c˜ao de uma crise epil´eptica (Figura 1), nota-se que ela interfere no sistema l´ımbico, incluindo o hipot´alamo. Portanto, se o hipot´alamo e o sistema l´ımbico influenciam nas res-postas autonˆomicas, consequentemente as crises epil´epticas tamb´em o influenciam.

2.3 SISTEMA CARDIOVASCULAR

A fun¸c˜ao do sistema cardiovascular ´e bombear o sangue oxige-nado para o corpo e o venoso para os pulm˜oes. A fim de atingir esse objetivo, um cora¸c˜ao normal deve contrair regularmente e responder a exigˆencias vari´aveis do organismo. Essa fun¸c˜ao ´e controlada n˜ao s´o por um ´unico sistema intr´ınseco, mas tamb´em ´e fortemente influenciada pelo SNA (GORDAN; GWATHMEY; XIE, 2015).

(44)

muscu-Figura 3 – Centros de controle autonˆomico do enc´efalo (adaptado de Silverthorn (2010)).

lares card´ıacas, ou mioc´ardio. A grande parte dessas c´elulas ´e contr´atil, por´em cerca de 1% delas s˜ao especializadas em gerar potenciais de a¸c˜ao1 espontaneamente. Essas c´elulas s˜ao respons´aveis pela

capaci-dade de iniciar a contra¸c˜ao do cora¸c˜ao sem qualquer sinal externo. O sinal para a contra¸c˜ao mioc´ardica ´e proveniente de c´elulas especializa-das conheciespecializa-das como c´elulas autoexcit´aveis, marcapasso. Sua principal propriedade resulta do seu potencial de membrana inst´avel, que a par-tir de um valor inicial, aumenta lentamente at´e atingir o seu limiar e gerar um potencial de a¸c˜ao.

As c´elulas autoexcit´aveis possuem canais de ´ıons especiais If

(Canais de ´Ions Especiais) , que s˜ao perme´aveis por K+e N a+. Quando

os canais If se abrem em potenciais de membrana negativos, existe um

influxo de N a+ maior que efluxo de K+, despolarizando as c´elulas

len-tamente. A medida que o potencial de membrana vai ficando positivo, os canais If se fecham e os canais de Ca2+ come¸cam a se abrir. Uma

vez abertos, o influxo de Ca2+ continua a despolariza¸c˜ao at´e atingir o

limiar de potencial da c´elula. Quando o limiar ´e atingido, mais canais de Ca2+s˜ao abertos, despolarizando rapidamente a c´elula. Esse canais

s˜ao fechados, no pico do potencial de a¸c˜ao e ent˜ao os canais lentos de K+ s˜ao abertos at´e a repolariza¸c˜ao da c´elula (SILVERTHORN, 2010).

1Potenciais de a¸c˜ao s˜ao disparados quando uma despolariza¸c˜ao inicial atinge o potencial limiar excitat´orio.

(45)

Esse processo se repete continuadamente, garantindo a contra¸c˜ao regu-lar do cora¸c˜ao.

O processo acima citado apresenta o funcionamento intr´ınseco das c´elulas excit´aveis, i.e. independente de qualquer est´ımulo externo, nas quais ir˜ao produzir potenciais de a¸c˜ao. A frequˆencia de produ¸c˜ao desses est´a relacionada pela velocidade de despolariza¸c˜ao das c´elulas e determinam a frequˆencia de contra¸c˜ao do cora¸c˜ao. Al´em disso, o SNA possui conex˜oes com as regi˜oes de marcapasso do cora¸c˜ao, influenciando na permeabilidade dos ´ıons K+, N a+ e Ca2+, e consequentemente na

velocidade de despolariza¸c˜ao. ´

E apresentado na Figura 4 o efeito das estimula¸c˜oes simp´atica e parassimp´atica nas c´elulas autoexcit´aveis. A estimula¸c˜ao simp´atica aumenta a velocidade de despolariza¸c˜ao da c´elula atrav´es do aumento do fluxo iˆonico nos canais If e de Ca2+. Desta maneira, aumenta a

frequˆencia de disparos dos potencial de a¸c˜ao e consequentemente au-menta a frequˆencia de contra¸c˜ao card´ıaca. J´a a estimula¸c˜ao paras-simp´atica diminui a velocidade de despolariza¸c˜ao da c´elula atrav´es do aumento da permeabilidade de K+e da diminui¸c˜ao da permeabilidade

de Ca2+. Assim, torna-se a despolariza¸c˜ao da c´elula mais lenta,

dimi-nuindo a frequˆencia card´ıaca.

Figura 4 – Efeitos das atividades simp´atica e parassimp´atica na despo-lariza¸c˜ao das c´elulas excit´aveis (adaptado de Silverthorn (2010)).

A contra¸c˜ao do cora¸c˜ao ´e coordenada pela condu¸c˜ao el´etrica deste. No sistema intr´ınseco de condu¸c˜ao, os batimentos card´ıacos se originam a partir da descarga de estimula¸c˜ao r´ıtmica do n´o sinoatrial (n´o SA), grupo de c´elulas autoexcit´aveis localizadas no ´atrio direito que atuam como o principal marcapasso do cora¸c˜ao (GORDAN; GWATHMEY; XIE, 2015). Apresenta-se na Figura 5 o caminho da condu¸c˜ao el´etrica do cora¸c˜ao e os seus principais componentes. O sinal el´etrico para a contra¸c˜ao come¸ca com a despolariza¸c˜ao no n´o SA (1) e se propaga

(46)

rapi-damente pelas vias internodais (2), por´em mais lentamente nas c´elulas contr´ateis do ´atrio (3). Nesse momento ocorre a despolariza¸c˜ao e con-tra¸c˜ao do ´atrio. Uma via internodal conecta o n´o SA ao n´o atrioven-tricular (n´o AV), outro grupo de c´elulas autoexcit´aveis. A partir do n´o AV, a despolariza¸c˜ao move-se para os ventr´ıculos. Ent˜ao, a condu¸c˜ao ´e transmitida muito rapidamente para fasc´ıculo atrioventricular e seus ra-mos at´e o ´apice do cora¸c˜ao (4). Nesse ponto, os ramos subendoc´ardicos (Fibras de Purkinje) transmitem os impulsos de modo que as c´elulas contr´ateis do ´apice se contraem (5) (SILVERTHORN, 2010).

Figura 5 – Efeitos das atividades simp´atica e parassimp´atica na despo-lariza¸c˜ao das c´elulas excit´aveis (adaptado de Silverthorn (2010)).

O processo apresentado acima se repete continuadamente, oca-sionando batimentos card´ıacos regulares. Na Tabela 2, apresenta-se as faixas de frequˆencia de ativa¸c˜ao intr´ınseca de cada estrutura de condu¸c˜ao. A frequˆencia card´ıaca ser´a determinada pela maior frequˆencia

(47)

entre as estruturas, geralmente associada a do n´o SA. Tabela 2 – Faixas de frequˆencia Estrutura Frequˆencia (bpm) N´o Sinoatrial 60 `a 100 N´o Atrioventricular 40 `a 60 Fibras de Purkinje 20 `a 40

A atividade el´etrica no cora¸c˜ao pode ser registrada atrav´es de eletrodos conectados `a superf´ıcie da pele para a capta¸c˜ao. Esses re-gistros, conhecidos como Eletrocardiograma, fornecem informa¸c˜oes in-diretas do funcionamento do cora¸c˜ao. O sinal de ECG apresenta a soma dos potenciais el´etricos gerados em todas as c´elulas do cora¸c˜ao. O seu tra¸cado ´e composto por alguns componentes que indicam des-polariza¸c˜ao ou repolariza¸c˜ao do ´atrio ou ventr´ıculo, conforme ilustrado na Figura 6.

Em um tra¸cado normal, a onda P reflete a despolariza¸c˜ao do ´atrio seguida pela contra¸c˜ao atrial. O complexo QRS reflete a despolariza¸c˜ao ventricular associada `a contra¸c˜ao ventricular e a onda T reflete a repo-lariza¸c˜ao ventricular associada ao relaxamento ventricular. Como pode ser observado, nenhuma estrutura reflete a repolariza¸c˜ao do ´atrio. Isso acontece pois a intensidade do sinal relacionado `a repolariza¸c˜ao do ´atrio ´e muito inferior `a despolariza¸c˜ao ventricular, ficando inserida dentro do complexo QRS.

(48)

2.3.1 Sistema Cardiovascular e Epilepsia

O controle autonˆomico cardiovascular ´e uma fun¸c˜ao da ativi-dade neuronal no c´ortex cerebral e de outros componentes do centro de controle autonˆomico. Por sua vez, a Epilepsia e as crises podem ter um efeito intenso sobre o sistema cardiovascular devido ao seu envolvi-mento justamente nos centros de controle autonˆomicos. Este fato pode ser um dos fatores da mortalidade excessiva dos pacientes com epilepsia em compara¸c˜ao com a popula¸c˜ao em geral.

Os efeitos da Epilepsia no sistema cardiovascular s˜ao percebidos em diferentes momentos das crises, em especial no per´ıodo ictal. ´E justamente nesse momento em que tem se reportado um quadro de ta-quicardia em quase todas as crises (JANSEN; LAGAE, 2010). Por exem-plo, Leutmezer et al. (2003) encontraram em seus estudos que 86, 9% das crises analisadas tiveram taquicardia ictal, enquanto a bradicardia foi encontrada em apenas 1, 4%. A diferen¸ca esteve associada com a localiza¸c˜ao do foco epil´eptico. Os raros casos de bradicardia ictal tˆem sido associados a casos de crises do lobo temporal esquerdo (TINUPER et al., 2001).

Outro aspecto importante na an´alise das influˆencias da Epilepsia no sistema cardiovascular ´e a poss´ıvel rela¸c˜ao das arritmias card´ıacas com a SUDEP (DUNCAN; BRODIE, 2011).

2.3.2 Variabilidade de Frequˆencia Card´ıaca

Conforme descrito anteriormente, o SNA possui conex˜oes com as regi˜oes de marcapasso do cora¸c˜ao, sobretudo com o n´o SA atrav´es dos efeitos causados nas correntes iˆonicas das c´elulas autoexcit´aveis. As propriedades dos canais de ´ıons das c´elulas do n´o SA s˜ao controladas pelo SNA realizando a modula¸c˜ao da frequˆencia card´ıaca. A Figura 7 apresenta como ´e realizada a conex˜ao entre o SNA e n´o SA.

A an´alise da atividade do SNA pode ajudar a identificar e geren-ciar a Epilepsia e diversas outras doen¸cas. Uma das medi¸c˜oes que traz informa¸c˜oes sobre o seu funcionamento ´e a variabilidade da frequˆencia card´ıaca. De modo geral, a VFC ´e uma medi¸c˜ao temporal das varia¸c˜oes sucessivas de intervalos normais RR de um sinal de ECG e ela traz in-forma¸c˜oes importantes sobre os sistemas que controlam a frequˆencia card´ıaca, principalmente o sistema nervoso autˆonomo (simp´atico e pa-rassimp´atico) (SUNKARIA, 2011).

(49)

Figura 7 – Etapas da modula¸c˜ao dos canais iˆonicos (adaptado de S ´Ccepanovi ´C (2011)).

um ponto espec´ıfico de cada complexo do tra¸cado de ECG, normal-mente o pico da onda R, e calcula-se a diferen¸ca temporal sucessiva de dois pontos consecutivos, chamado de intervalo RR, conforme apre-sentado na Figura 8. Como resultado, tem-se um s´erie temporal que traz a informa¸c˜ao da frequˆencia card´ıaca instantˆanea a cada batimento. Portanto, espera-se que esse sinal contenha intervalos normais de RR. Por´em essa s´erie pode possuir erros nos seus valores devido a irregu-laridades na identifica¸c˜ao causados por artefatos na aquisi¸c˜ao do ECG ou atividade ect´opica. Os batimentos ect´opicos s˜ao geralmente causa-dos por batimentos prematuros, taquicardia e outras arritmias, que n˜ao possuem sua origem no n´o SA, i.e. n˜ao s˜ao reflexos do SNA. A Figura 9 apresenta um sinal de ECG com o sua s´erie RR correspondente. Nota-se que existem dois pontos ect´opicos causados por atividade irregular que devem ser retirados da s´erie RR para a avalia¸c˜ao do SNA. Neste sentido, algoritmos tˆem sido desenvolvidos para identificar e corrigir esses pontos (WEN; HE, 2011;SKOTTE; KRISTIANSEN, 2014).

A VFC ´e um sinal n˜ao-estacion´ario, na qual, sua varia¸c˜ao pode conter indicadores de doen¸cas ou indica¸c˜oes sobre alguma disfun¸c˜ao card´ıaca (ACHARYA et al., 2006) e mesmo neurol´ogica (PONNUSAMY;

MARQUES; REUBER, 2011, 2012). Neste sentido, v´arios estudos tˆem

explorado t´ecnicas de an´alise deste sinal para a identifica¸c˜ao de diversas patologias que podem estar relacionadas ao sistema nervoso autˆonomo (ACHARYA et al., 2006;SUNKARIA, 2011;FAUST et al., 2012;KUNZ et al., 2012). Portanto, a an´alise da VFC poder´a ajudar a compreender n˜ao s´o o dist´urbio fisiopatol´ogico durante as crises, mas tamb´em ajudar a prever a ocorrˆencia destas.

(50)

Figura 8 – Defini¸c˜ao de um intervalo RR.

2.3.2.1 Variabilidade de Frequˆencia Card´ıaca e Epilepsia

As crises epil´epticas podem causar altera¸c˜oes bruscas na fun¸c˜ao autonˆomica e consequentemente no sistema cardiovascular. Nesse sen-tido, estudos utilizando a VFC para a avalia¸c˜ao da Epilepsia e outras doen¸cas neurol´ogicas tˆem sido cada vez mais frequentes (

CYGANKI-EWICZ; ZAREBA, 2013;EGGLESTON; OLIN; FISHER, 2014;PAVEI; WALZ;

MARQUES, 2014;JEPPESEN et al., 2015;REINSBERGER et al., 2015), em-bora tenha se iniciado j´a na d´ecada de 90 (TOICHI et al., 1998).

Lotufo et al. (2012) realizaram uma meta-an´alise sobre os estu-dos de VFC em Epilepsia, no qual foi conclu´ıdo que a Epilepsia est´a associada com valores reduzidos de VFC, sobretudo com a queda da atividade vagal. Tamb´em foi observado que, na maioria dos casos, acontece uma taquicardia no per´ıodo ictal das crises epil´epticas, com exce¸c˜ao das crises do lobo temporal esquerdo. A maioria desses es-tudos focam no per´ıodo ictal e interictal das crises e poucos trazem an´alises sobre o per´ıodo pr´e-ictal. Um dos primeiros estudos que abor-dou ambos os per´ıodos (TOICHI et al., 1998) encontrou em suas an´alises que a atividade parassimp´atica decai rapidamente 30 segundos antes da crise, enquanto a atividade simp´atica aumenta exponencialmente no momento exato do in´ıcio da crise. Esse resultado ´e evidenciado em outro estudo (BEHBAHANI et al., 2014), no qual mudan¸cas significantes

dos parˆametros de VFC no per´ıodo pr´e-ictal (5 minutos antes da crise) foram encontrados em compara¸c˜ao com o interictal.

Embora estudos apresentem diferen¸cas na VFC nos per´ıodos pr´e-ictal, ictal e interpr´e-ictal, ainda existe uma limita¸c˜ao no que se refere aos diversos tipos de crise, condi¸c˜oes do paciente e maneira de avalia¸c˜ao

(51)

Figura 9 – Sinal de ECG (acima) e a s´erie temporal de RR (abaixo) correspondente.

(DELAMONT; WALKER, 2011). As principais limita¸c˜oes s˜ao:

Tipos de Crise - A maioria dos trabalhos tem misturado na mesma an´alise tipos de crises diferentes. Behbahani et al. (2014) realizou um estudo para avaliar a diferen¸ca da VFC entre crises generali-zadas e focais e conclui que o n´ıvel de disfun¸c˜ao autonˆomica pode estar relacionado com o tipo de crise epil´eptica;

Dura¸c˜ao e Condi¸c˜oes da Amostra - A fun¸c˜ao autonˆomica pode va-riar consideravelmente durante um ciclo de 24h e pode alterar bruscamente por est´ımulos externos e internos, como medo e dor. Portanto, para se avaliar varia¸c˜oes no SNA, deve-se analisar as condi¸c˜oes do paciente e a dura¸c˜ao do registro;

Artefatos e Ect´opicos - A identifica¸c˜ao robusta de intervalos nor-mais de RR deve ser uma premissa para a an´alise do SNA. Em muitas crises, sobretudo as generalizadas, a movimenta¸c˜ao do pa-ciente contamina o sinal de ECG com in´umeros artefatos, preju-dicando consideravelmente a qualidade da s´erie RR. Al´em disso, complexos do ECG que n˜ao tenham sido iniciados pelo n´o SA devem ser desconsiderados, pois n˜ao possuem influˆencia do SNA.

(52)

2.4 CONCLUS ˜AO

Nesse cap´ıtulo foi realizada uma revis˜ao a respeito dos aspectos biol´ogicos que est˜ao envolvidos sobre os efeitos de uma crise epil´eptica na atividade card´ıaca. Como visto anteriormente, a VFC est´a intima-mente ligada aos mecanismos do SNA, e por conseguinte, sofre pro-fundas altera¸c˜ao durante uma crise epil´eptica. Nos cap´ıtulos seguintes, ser˜ao apresentados as ferramentas matem´aticas (Cap´ıtulo 3) utilizadas na metologia proposta (Cap´ıtulo 4) por essa tese.

(53)
(54)

3 AN ´ALISES E M´ETODOS

Este cap´ıtulo objetiva `a apresenta¸c˜ao dos principais m´etodos e an´alises utilizados atualmente para a predi¸c˜ao e detec¸c˜ao de crises epil´epticas, incluindo os usados nessa tese. Os sinais de EEG e ECG ser˜ao abordados nesse cap´ıtulo, com ˆenfase no ECG.

3.1 M´ETODOS DE PREDIC¸ ˜AO E DETECC¸ ˜AO

A maioria das t´ecnicas atuais para a predi¸c˜ao e detec¸c˜ao au-tom´atica de crises epil´epticas, que s˜ao consideradas como o estado-da-arte, envolve transforma¸c˜oes lineares e n˜ao-lineares de sinais de eletro-encefalograma (EEG). Estas transforma¸c˜oes incluem a transformada de Fourier, transformada discreta Wavelet (TDW), expoente de Lya-punov, entre outras (CARNEY; MYERS; GEYER, 2011; ALOTAIBY et al.,

2014). Estas t´ecnicas, em quase toda sua totalidade, utilizam sinais de EEG que refletem as atividades el´etricas do c´erebro (GRITSCH et al., 2011; RANA et al., 2012; ACHARYA et al., 2012a; PARVEZ; PAUL, 2014;

DUQUE-MUNOZ; ESPINOSA-OVIEDO; CASTELLANOS-DOMINGUEZ, 2014;

FAUST et al., 2015; BANDARABADI et al., 2015; HASSAN; SIULY; ZHANG, 2016; LI et al., 2016). Por´em, alguns estudos tˆem utilizado outros bio-marcadores para a identifica¸c˜ao precoce das crises epil´epticas, em es-pecial o ECG. Recentemente, rela¸c˜oes entre os sinais de ECG e EEG tˆem sido estudadas para a utiliza¸c˜ao na detec¸c˜ao de crises epil´epticas (VALDERRAMA et al., 2012;KHEIRI et al., 2012;NASEHI; POURGHASSEM, 2012; MPORAS et al., 2015; QARAQE et al., 2016). Estas rela¸c˜oes surgi-ram ap´os a identifica¸c˜ao de parˆametros derivados do sinal de ECG que s˜ao afetados pela ocorrˆencia das crises, e que podem ser muito ´uteis para a predi¸c˜ao destas (KHEIRI et al., 2012;MPORAS et al., 2015). Neste

sentido, algoritmos complexos para a detec¸c˜ao de crises utilizando si-nais de EEG e ECG tˆem trazido bons resultados, por´em com excessiva complexidade, alto custo computacional, dificuldade na usabilidade pe-los pacientes, entre outros.

Os algoritmos de detec¸c˜ao de crises baseados em EEG depen-dem da detec¸c˜ao de padr˜oes espec´ıficos do momento ictal, que dife-rem entre os tipos de crises. Essas s˜ao detectadas com mais confia-bilidade por sistemas que envolvem um grande n´umero de eletrodos anexados ao couro cabeludo ou eletrodos intracranianos que necessita-riam ser implantados cirurgicamente (e, portanto, est˜ao associados a

Referências

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