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Desastres ambientais: o direito dos desastres e os deslocados

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Academic year: 2021

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CAMILA SOARES

DESASTRES AMBIENTAIS:

O DIREITO DOS DESASTRES E OS DESLOCADOS

Três Passos (RS) 2020

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CAMILA SOARES

DESASTRES AMBIENTAIS:

O DIREITO DOS DESASTRES E OS DESLOCADOS

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Dra. Elenise Felzke Schonardie

Três Passos (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado saúde e força para superar todos os obstáculos e ter permitido que tudo isso acontecesse em minha vida, pois até mesmo as adversidades tem como propósito nos deixar mais fortes.

Agradeço a universidade, seu corpo docente, direção e administração, pelo ambiente de aprendizado que me proporcionou ao longo de minha jornada acadêmica.

À minha Professora Elenise Felzke Schonardie por sua orientação, apoio e dedicação que dispensou para que eu pudesse elaborar este trabalho.

Agradeço à minha mãe Salete, heroína que me deu apoio, incentivo nas horas de desânimo e desgaste, sendo minha base não apenas durante a graduação, mas em todos os anos de minha existência. Apesar de todas as dificuldades sempre me fortaleceu e nunca me deixou desistir.

Ao meu namorado Jonathan, que trilha esta caminhada comigo, e me ampara e dá forças para continuar.

Agradeço à minha cachorrinha e fiel companheira Laika, que em todos os momentos que dediquei à produção desse trabalho esteve ao meu lado e muitas das vezes quando não estava deitada ao lado de meus pés, estava em cima da escrivaninha. Em momentos de desespero me amparou e acalentou.

A todos que de alguma forma direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada.

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“O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada. Caminhando e semeando no fim terás o que colher.”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso versa sobre o direito dos desastres e tem como objetivo fazer uma análise dos desastres ambientais que já ocorreram e vem ocorrendo no Brasil de forma histórica, dando ênfase aos desastres ocorridos em Mariana e Brumadinho no estado de Minas Gerais, com o rompimento de barragens de rejeitos de mineração. Analisa as implicações dos desastres ao meio ambiente, a forma como afetam a vida das pessoas, bem como suas implicações legais. Aborda as implicações da Lei de Crimes Ambientais, que prevê a aplicação de penas privativas de liberdade, restritiva de direitos e multa ou prestação de serviços comunitários. Também, estuda os desdobramentos dos desastres na vida dos deslocados ambientais e de que forma tiveram sua saúde física e psíquica prejudicadas. Faz uma análise dos impactos que tais circunstâncias trazem para a sociedade como um todo, quando pessoas precisam deslocar-se e modificam toda a estruturação de outras cidades, trazendo incertezas. Investiga quais foram as atitudes das agências estatais tomadas em relação aos atingidos, de que forma eles foram reinseridos na sociedade e de quais maneiras essas pessoas tiveram seus direitos humanos violados. Finaliza concluindo com um olhar crítico a respeito da necessidade de mudanças em relação a valorização e preservação tanto da natureza, quanto da vida humana, onde a busca desenfreada por poder e riquezas já fez tantas vítimas, faz-se necessário punições mais rígidas aos responsáveis, para que tais eventos não voltem a se repetir.

Palavras-Chave: Desastres ambientais. Deslocados ambientais. Direitos Humanos. Lei

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ABSTRACT

The present work of conclusion of course deals with the law of disasters and aims to make an analysis of the environmental disasters that have already occurred and have been occurring in Brazil in a historical way, emphasizing the disasters that occurred in Mariana and Brumadinho in the state of Minas Gerais, with the rupture of mining tailings dams. It analyzes the implications of disasters for the environment, the way they affect people's lives, as well as their legal implications. It addresses the implications of the Environmental Crimes Law, which provides for the application of custodial sentences, restrictive rights and fines or the provision of community services. It also studies the consequences of disasters in the lives of environmental displaced persons, and how their physical and mental health has been impaired. It makes an analysis of the impacts that such circumstances bring to society as a whole, when people need to move and modify the entire structure of other cities, bringing uncertainty. It investigates what the state agencies' attitudes towards those affected were, how they were reinserted into society, and in what ways these people had their human rights violated. He concludes by concluding with a critical eye on the need for changes in relation to the valorization and preservation of both nature and human life, where the unbridled search for power and wealth has already claimed so many victims, stricter punishments of those responsible are necessary, so that such events do not happen again.

Keywords: Environmental disasters. Environmental displaced persons. Human rights.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...8 2 DESASTRES AMBIENTAIS...10

2.1 HISTÓRICO DE DESASTRES AMBIENTAIS NO BRASIL...11 2.2 DAS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS DOS DESASTRES AMBIENTAS DE MARIANA E BRUMADINHO, NO ESTADO DE MINAS GERAIS...18 2.3 INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL: AS SANÇÕES DA LEI 9.605/98...25

3 DESLOCADOS AMBIENTAIS E OS DIREITOS HUMANOS...30

3.1 DOS DESLOCADOS AMBIENTAIS...31 3.2 OS IMPACTOS À SAÚDE DOS ATINGIDOS PELO ROMPIMENTO DAS BARRAGENS: O IMATERIAL QUE NÃO SERÁ INDENIZADO...38 3.3 IMPACTOS PARA A SOCIEDADE LOCAL E REGIONAL E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS DESLOCADOS...41

4 CONCLUSÃO...48 REFERÊNCIAS...50

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico apresenta um estudo teórico acerca dos desastres ambientais ocorridos no Brasil, trazendo inicialmente uma abordagem histórica, para então apresentar como tema principal os desastres ocorridos nas cidades de Mariana e Brumadinho, no estado de Minas Gerais. Com o acontecimento de dois grandes desastres nos últimos anos, num pequeno intervalo de tempo e certa proximidade espacial, com causas e consequências semelhantes, faz-se necessário um entendimento em relação ao que ocorreu e como esses fatos afetaram a vida das pessoas, do ambiente natural e artificial, bem como suas implicações legais.

Esse tema é de vasta relevância social e jurídica, pois afeta diretamente uma parcela significativa da população, que precisa ter seus direitos assegurados, tanto os direitos humanos, quanto direitos básicos. O problema da presente pesquisa, no entanto, é: diante das consequências dos desastres ambientais à vida dos atingidos/deslocados, será que as sanções previstas na Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998) são adequadas ou suficientes para a obstar novas ocorrências advindas das atividades antrópicas?

Com a finalidade de responder o problema jurídico proposto, a pesquisa teórica utilizou-se do método de abordagem hipotético-dedutivo e como método de procedimento o bibliográfico, em meio físico e eletrônico, analisando também, as legislações específicas que abrangem o tema. E, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo dos desastres ambientais, observou-se o método de interpretação histórico e jurídico. O texto monográfico está organizado em dois capítulos. Inicialmente, no primeiro capítulo, efetuou-se uma abordagem histórica, sendo o Brasil um país que já foi palco de diversos desastres, sejam eles naturais ou provocados pela ação do homem, de grandes ou pequenas proporções, que de alguma forma afetaram a vida das pessoas atingidas direta ou indiretamente. Essas implicações, trazem consigo consequências sociais, jurídicas a ambientais, onde tantas vidas foram perdidas e também sofreram mudanças, além de danos ambientais imensuráveis e de difíceis ou impossível recuperação. Traz, também, os instrumentos jurídicos de proteção ambiental, com ênfase na Lei nº 9.605 (BRASIL, 1998), que dispõe sobre as sanções penais e administrativas que derivam de atividades lesivas ao meio ambiente.

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No segundo capítulo analisa mais profundamente os deslocados ambientais, quais medidas foram tomadas para dentro do possível auxiliar na recuperação da vida das pessoas que sobreviveram, mas perderam todos os seus bens e seus lares nas tragédias. Também são examinados os posicionamentos das autoridades frente às tragédias. Por fim, a partir de uma visão de violação dos direitos humanos dos deslocados, procura indicar quais os impactos trazidos pelos desastres de Mariana e Brumadinho que podem contribuir para a formação de uma cultura de proteção dos direitos humanos que seja pré-violatória.

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2 DESASTRES AMBIENTAIS

Atualmente os problemas ambientais preocupam as sociedades, tanto no Brasil quanto no exterior. A incidência de desastres ambientais tem sido cada vez mais frequente e os danos causados por esses têm se alastrado para os mais diversos setores da sociedade, modificando não apenas o ambiente natural e artificial, mas também a vida das pessoas atingidas. Os desastres e os deslocados ambientais – estes pensados como nova categoria jurídica – são problemas cada vez mais comuns no mundo globalizado e encontram-se diretamente relacionados às ações humanas na sociedade e as mudanças climáticas. É necessário a identificação dos efeitos destes desastres em face das pessoas que necessitam serem deslocadas diante dos acontecimentos, para tanto, é importante compreender qual o espaço destinado aos “Deslocados Ambientais” no mundo contemporâneo, a fim de, enfim, identificarem-se quais são os problemas comuns que envolvem esses deslocados, averiguando-se, ainda, eventuais propostas para a solução das consequências desses eventos.

Os desastres ambientais que ocorreram no Brasil são consequência, principalmente, da exploração dos recursos ambientais frente à grande demanda internacional pelos mesmos e, também, da ambição e necessidade de ascensão a todo custo de grandes empresas, o que acarreta, muitas das vezes, em estruturas e instalações com baixo nível de manutenção, aumentando o risco de acidentes. Além disso, a parca fiscalização pelos órgãos estatais competentes e a inexistência de leis mais severas, contribuem com o problema.

Os desastres ambientais são capazes de provocar danos irreparáveis, não só ao meio ambiente, mas também às pessoas. Conforme traz a Professora Francielle Benini Agne Tybusch (2019, p. 80):

[...] os rompimentos de barragens de mineração podem provocar, danos sócio espaciais e ambientais, em sua maioria, irreversíveis. Estes danos envolvem questões conexas às alterações nas atividades econômicas e sociais da sociedade atingida, bem como em seus estados de saúde mental e física, na perda de tradição, memória, e, na perda de sua moradia. (TYBUSCH, 2019, p. 80).

Diante dessa nova problemática global ambiental onde as transformações no meio ambiente em forma de risco de desastres ambientais condicionam as incertezas fabricadas por esta sociedade atual e que coloca em ameaça um contingente de pessoas que necessitam se deslocar em

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virtude do risco de desastre ou o desastre ambiental propriamente dito, surge a migração forçada. Esta migração, seja ela permanente ou temporária, tem sido sempre uma tradicional resposta ou estratégia de sobrevivência das pessoas ou populações que se confrontam com essa perspectiva, impacto ou consequência dos desastres ambientais.

2.1 HISTÓRICO DE DESASTRES AMBIENTAIS NO BRASIL

Para que seja possível definir o que são os desastres ambientais, fazendo uma linha do tempo da ocorrência dos maiores desastres que já aconteceram e marcaram época no Brasil, é necessário definir o que é, qual o significado de “dano”. Dano pode ser definido como um mal, causado por alguém, podendo derivar de uma ação ou omissão que gera prejuízos a um bem juridicamente protegido. Conforme define Elenise Felzke Schonardie (2016, p. 35)

Desse modo, pode-se afirmar que o “dano” é um prejuízo, uma alteração negativa causada a alguém por um terceiro, que se vê obrigado ao ressarcimento. Essa alteração negativa ocorre em virtude de uma ação ou de omissão de um terceiro. Em outras palavras, dano é a lesão de interesses juridicamente protegidos (SCHONARDIE, 2016, p. 35).

Todo dano desenvolve prejuízos, que põem ser materiais ou imateriais. Ainda segundo Schonardie (2016, p.36)

O dano acarreta lesão, diminuição ou destruição nos interesses (material ou imaterial) de outrem tutelados juridicamente, sejam econômicos ou não, em razão de um certo evento que sofre determinada pessoa contra sua vontade. Assim, como já referido, não há dano sem lesão a um bem protegido pelo ordenamento jurídico. Essa é a orientação de Bittar (1984), o qual ensina que o dano é o núcleo da responsabilidade e embasa seu entendimento na ideia de que o dano é um prejuízo ressarcível experimentado pelo lesado. (SCHONARDIE, 2016, p. 36).

Ainda segundo Schonardie (2016, p. 40) “podemos definir dano ambiental como sendo toda a degradação ao meio, seja em seus aspectos naturais, culturais e artificiais, que permitem e condicionam a vida em todas as suas formas.”

A expressão “meio ambiente”, pode ser definida como um conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos, que cerca os seres vivos. O artigo 3º da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981, p. 2) – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – traz definições importantes, como meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição e poluidor

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Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental [...] (BRASIL, 1981, p. 2).

Conforme o referido artigo supracitado, a poluição é toda e qualquer atividade que modifique o meio ambiente, transformando e degradando aquilo que é natural, afetando assim a vida dos animais, plantas e todos os seres que ali habitam. A degradação do meio ambiente afeta também a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Ainda em seu inciso III (terceiro), alínea “e”, do art. 3º, podemos lembrar aos desastres de Mariana e Brumadinho diretamente, pois fala sobre o ato de lançar matérias em desacordo com os padrões ambientais. No inciso IV (quarto), trata de quem pode ser responsável pela poluição e nele se enquadra tanto pessoa física, como jurídica, seja de direito público ou de direito privado, que sejam responsáveis direta ou indiretamente pelos danos.

Os danos ambientais estão intimamente ligados com o histórico do ser humano na terra, ou seja, desde os primórdios os danos vêm ocorrendo, pela busca do homem pela exploração, pela acumulação de riquezas, vem poluindo o meio ambiente, o devastando, destruindo o meio em que vive. Este dano ambiental é toda a degradação ao meio em que vivemos, seja em seus aspectos naturais, culturais e artificiais (SCHONARDIE, 2016).

Conforme explanam Deivit Pinheiro da Silva e Hebert Mendes de Araújo Schütz (2012), as atividades humanas que não apresentam diretamente um conteúdo econômico são, em sua maioria, decorrentes da atuação do Poder Público, como por exemplo: o implemento de novos bairros nas cidades, a construção de redes de transmissão elétrica, estradas, ferrovias, entre outras. As com finalidade econômica são, em sua maioria, decorrentes das atividades privadas, como por exemplo a exploração da atividade agrícola ou pecuária, a implantação de indústrias, comércio, entre outras. Essas atividades, seja as com finalidade diretamente econômica ou não, na sua quase

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totalidade, produzem grande quantidade de resíduos1 e de rejeitos2 ou necessitam de quantidades relevantes de insumos para seu funcionamento, o que acarreta maiores impactos ambientais (SILVA; SCHÜTZ, 2012).

Estas atividades, por mais simples e legítimas que sejam, alteram o meio ambiente, causam danos. Ocorre que muitos dos danos ambientais como são de baixo impacto acabam por ser assimilados socialmente, aceitos e em alguns casos até permitidos pelo sistema legal, como no caso do licenciamento ambiental de atividades consideradas potencial ou efetivamente poluentes. No entanto, conforme previsto no “caput” do artigo 225 da Constituição Federal em vigor (BRASIL, 1988), o meio ambiente, enquanto bem ambiental, pertence a toda coletividade, não podendo ser individualizado, sendo assim, considerado de natureza difusa.

Em relação aos desastres ambientais, podemos dizer que são incidentes cujo danos sejam de difícil reparação ou restituição e sua extensão, muitas vezes, incalculáveis. Eles são distinguidos a partir da sua origem, que podem ser naturais, antropogênicos ou mistos. Os desastres naturais são aqueles que tem origem climatológicas (estiagens, incêndios...), geofísicas (terremotos, deslizamentos...), biológicas (epidemias, pragas...) ou hidrológicas (enchentes, inundações...). Os desastres antropogênicos são associados principalmente ao avanço desenfreado da ciência, tecnologia e economia, além do uso irrestrito dos recursos naturais e a produção desenfreada de resíduos e rejeitos, que tem consequências dramáticas no solo, na água, no ar e na biodiversidade, influenciando na destruição da camada de ozônio e nas mudanças climáticas. Enfim, os desastres mistos resultam da intensificação de fenômenos naturais devido a atividades humanas, como chuva ácida, efeito estufa e inversão climática (DESASTRES..., 2017). Délton Winter de Carvalho e Fernanda Dalla Libera Damacena (2013, p. 27) conceituam os Desastres Ambientais

Os desastres consistem, conceitualmente, em cataclismo sistêmico de causas que, combinadas, adquirem consequências catastróficas. Por tal razão, o sentido de desastres ambientais (naturais e humanos) é concebido a partir da combinação entre eventos e causas e magnitudes específicas. Em outras tintas, trata-se de fenômenos compreendidos a partir de causas naturais, humanas ou mistas sucedidas por eventos de grande magnitude, irradiando danos e perdas significativas ambiental e socialmente. (CARVALHO; DAMACENA, 2013, p. 27).

1 Resíduo: É aquilo que sobra de um produto. Ele pode ser reciclado, reaproveitado dando origem a outro produto. 2 Rejeito: É quando não há possibilidade de reaproveitamento de um determinado material, não houve uma solução

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No Brasil, historicamente, os maiores desastres que ocorreram foram antropogênicos, ou seja, associados à ação do homem na busca incessante pela obtenção de lucro, descuidando das medidas técnicas de segurança ou até mesmo ignorando-as. Estes fatores têm contribuído para o aumento das situações de risco e de perigo ambientais. Nos últimos quarenta anos a grande quantidade de desastres ambientais acarretou em danos alarmantes tanto para o meio ambiente quanto para a vida das pessoas direta indiretamente ligadas a eles.

Em concordância, Schonardie (2016, p.22) relata que

Ao longo dos séculos, milhares de desastres ecológicos foram verificados no planeta. Com atitudes predatórias e agressivas à natureza, bem como com a invenção e uso incorreto de tecnologias cada vez mais aptas a dominá-la e destruí-la, o homem conseguiu que a situação ecológica mundial beirasse o caos. Por isso, nos dias atuais, afirma-se que a situação ambiental é grave, de externalidades irreversíveis e, caso sua velocidade de avanço não seja freada o planeta tornar-se-á um local de difícil viabilidade, pois ocorrerá o esgotamento dos recursos naturais imprescindíveis à manutenção da vida em suas mais variadas espécies. (SCHONARDIE, 2016, p. 22).

Entre os principais desastres ambientais que tiveram como causa direta ou indireta a ação do homem no Brasil, estão: o incêndio na Vila Socó, em Cubatão, estado de São Paulo (SP), no ano de 1984, quando uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras liberou 700 mil litros de gasolina, o que ocasionou em um incêndio que destruiu parte da favela, sendo contabilizados 93 mortos. Cerca de três anos mais tarde, em 1987, em Goiânia, estado de Goiás (GO), houve o que foi considerado um dos mais graves casos de exposição à radiação do mundo pelo material radioativo Césio 137. Ocorreu quando dois catadores de lixo abriram um aparelho radiológico nos escombros de uma clínica, abriram a cápsula e encontraram um pó branco com uma luz azul. Eles levaram o pó para casa contaminando várias pessoas, água, solo e ar. Quatro pessoas morreram devido à exposição, e outras centenas desenvolveram doenças que até hoje mais de 30 anos depois ainda geram consequências. Em 1996, a Justiça condenou, a três anos e dois meses por homicídio culposo, três sócios e um funcionário do hospital abandonado. As penas foram substituídas por prestação de serviços comunitários. (EBC, 2015)

No ano de 2000, um acidente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro (RJ), com um navio petroleiro resultou no vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicou duas multas à Petrobras, totalizando 2 milhões de reais. O incidente poluiu a água, causou a morte da fauna e flora aquáticas e poluiu

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inclusive o solo da área do entorno. No mesmo ano – 2000 – na refinaria de Presidente Getúlio Vargas, em Araucária, estado do Paraná (PR), ocorreu o vazamento de quatro milhões de litros de óleo. O Ibama aplicou três multas à Petrobras, totalizando R$168 milhões. Em ambos os desastres, o meio ambiente foi o maior prejudicado. Em 2003, em Cataguases, no estado de Minas Gerais (MG), aconteceu o rompimento de barragem de celulose, despejando 520 mil m³ de rejeitos compostos por resíduos orgânicos e soda cáustica, atingindo os rios Pomba e Paraíba do Sul, originando prejuízos ao ecossistema e à população ribeirinha. O Ibama aplicou multa de R$50 milhões à Florestal Cataguases e Indústria Cataguases de papel (EBC, 2015).

Em 2007, na região de Miraí (MG), houve o rompimento da barragem de mineração liberando 2.280.000 m³ de água e argila. Mais uma vez, o Ibama aplicou multa de R$75 milhões à empresa Mineração Rio Pomba Cataguases (EBC, 2015).

No dia 05 de novembro de 2015 houve o rompimento da barragem do Fundão, da Samarco em Mariana (MG), que provocou a liberação de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A Samarco, responsável pelas operações de mineração recebeu multas do Ibama e arcará com os custos indenizatórios individuais e coletivos e mais a recuperação ambiental da área impactada, de duração imprevisível (EBC, 2015). Segundo Beatriz Abrantes (2018, s/p), “os impactos ambientais pelo rompimento da barragem são enormes, podendo destacar a contaminação de rios e mares pela lama, a morte de milhares de espécies de peixes, soterramento de nascentes, destruição da vegetação, comprometimento do solo, entre outros.”

A historiadora Juliana Bezerra (2018), fez uma análise a respeito da forma como ocorreu o rompimento da barragem e como desencadeou-se o efeito dominó sobre a cidade de Mariana

No dia 5 de novembro de 2015, às 16:20, a Barragem do Fundão não conteve os 55 milhões de metros cúbicos de lama que armazenava em seu interior e arrebentou.

A lama chegou em apenas 15 minutos à pequena localidade de Bento Rodrigues, situada a 8 km da barragem, com uma população de 620 habitantes. Esta cidade desapareceu soterrada pela lama e hoje restam somente escombros daquilo que eram casas.

Por 16 dias, a lama seguiu o leito de 853 km do rio Doce e atingiu as cidades ribeirinhas provocando escassez de água, diminuição da pesca, do comércio e do turismo.

A lama chegou à bacia hidrográfica no dia 21 de novembro e os dejetos se espalharam num raio de 80 quilômetros causando graves prejuízos para a indústria local.

Ao todo, 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, onde moram 1,2 milhões de pessoas, habitam nestas cidades e viram suas vidas afetadas. Mais dois mil hectares de terras ficaram inundadas e inutilizadas para o plantio. (BEZERRA, 2018, s/p).

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À respeito dos impactos que o rompimento da barragem originaram no meio ambiente, podem ser citados os impactos nos rios, solo, na vida marinha, entre tantos outros que foram prejudicados. As consequências foram tão severas que os pesquisadores ainda buscam entender os efeitos da ação e como a natureza poderá se restabelecer. Ainda conforme Bezerra (2018, s/p)

A lama e os resíduos da mineração percorreram mais de 600 km até atingir o Oceano Atlântico, onde resultaram em impactos ambientais ao ecossistema marinho, especialmente aos recifes de corais.

Durante a avalanche de lama, a maioria dos peixes morreram e como resultado 26 espécies desapareceram da área. Enquanto isso, animais terrestres como pequenos mamíferos e anfíbios foram soterrados pela lama. As árvores próximas aos trechos dos rios foram arrancadas pela força da água ou ficaram submersas.

A lama também impediu a realização da fotossíntese pelo fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, e contaminou os peixes e outros organismos. Os rios atingidos ainda tiveram mudanças em suas características físicas como, diminuição da profundidade, destruição da mata ciliar e soterramento de nascentes.

O solo foi contaminado pela enxurrada de lama, tornando-se infértil e impedindo o desenvolvimento das espécies vegetais. A composição química do solo foi alterada e não se sabe de que forma e quanto tempo demorará para se restabelecer.

Muitas pesquisas apontam que a restauração da área é impossível. Assim, a biodiversidade local foi perdida de forma irreversível, com severas consequências ambientais para a natureza e a população humana que dependia dos recursos naturais. (BEZERRA, 2018, s/p).

Pouco mais de três anos após a tragédia de Mariana, parece que nada se aprendeu, sendo que o acontecimento mais recente de grandes proporções ocorreu em janeiro de 2019, em Brumadinho (MG), quando uma barragem onde estavam depositados rejeitos químicos da mineradora Vale rompeu-se. Thaís Leocádio (2020) conta que ao todo, 259 pessoas morreram, e 11 pessoas continuam desaparecidas. As buscas pelos desaparecidos foram interrompidas em março de 2020 devido à pandemia do Coronavírus (COVID-19) e a expectativa, de acordo com nota do corpo de Bombeiros, é de que sejam retomadas as buscas em 17 de junho (LEOCÁDIO, 2020).

Vanessa Sardinha dos Santos (2019) conta que de acordo com a Mineradora Vale, a barragem da Mina do Feijão que se rompeu, havia sido construída no ano de 1976 e estava inativa, não havendo nenhuma atividade operacional em andamento. Possuía cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos depositados, os quais foram despejados com seu rompimento, formando um mar de lama. Ainda de acordo com Santos (2019), apesar da mineradora afirmar que a lama liberada pelo rompimento da barragem não era tóxica, este fato desencadeou diversos problemas ambientais, que seguem sendo relatados pela jornalista (Santos, 2019, s/p)

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Em virtude da grande quantidade de rejeitos e da velocidade em que foram liberados, a lama destruiu grande parte da vegetação local e causou a morte de diversas espécies de animais. É importante salientar que a região abrigava uma grande área remanescente da Mata Atlântica, um bioma com grande biodiversidade. Houve, portanto, uma enorme perda. De acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) a área da vegetação impactada representa 147,38 hectares.

Os rejeitos da mineração atingiram ainda o rio Paraopeba, que é um dos afluentes do rio São Francisco. A grande quantidade de lama torna a água imprópria para o consumo, além de reduzir a quantidade de oxigênio disponível, o que desencadeia grande mortandade de animais e plantas aquáticas. Em relação ao rio São Francisco, a expectativa é de que a lama seja diluída antes de atingi-lo.

Em razão da grande quantidade de lama que foi depositada na região, o solo terá sua composição alterada, o que pode prejudicar o desenvolvimento de algumas espécies vegetais. Além dessa alteração, quando a lama seca, forma uma camada dura e compacta, que também afeta a fertilidade do solo. (SANTOS, 2019, s/p).

Todos estes desastres que ocorreram ao longo dos anos no Brasil, tiveram consequências irreparáveis às pessoas e ao meio ambiente. Como base para estudos, foram utilizados os mais recentes desastres de grandes proporções que ocorreram, que são os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho. Estes desastres tem diversas implicações, tanto sociais quanto jurídicas.

Com relação ao desastre ocorrido em Brumadinho, Nicolás Satriano (2019) relata que de acordo com a empresa Vale, no momento da tragédia, cerca de 300 pessoas trabalhavam no local do desastre. O refeitório e os escritórios da Mineradora Vale ficavam abaixo da barragem que se rompeu. Com o rompimento repentino, nenhum aviso sonoro foi dado, o que diminuiu a chance das pessoas que estavam lá saírem do local. O desastre atingiu ainda uma pousada, onde estavam cerca de 35 pessoas. Vidas foram ceifadas de maneira abrupta, e toda a realidade que as pessoas que moravam naquela região foi lhes tirada. Tudo o que construíram durante uma vida toda de um momento para o outro foi engolido pelo mar de lama que tomou toda a cidade.

Apesar de o desastre de Mariana ter sido maior em termos ambientais, em relação à quantidade de rejeitos que foram despejados, a tragédia que aconteceu em Brumadinho pode ser considerada maior em termos sociais e humanitários, pois o número de mortes foi extremamente maior. Ambas são esferas de suma importância, tanto o meio ambiente como vidas humanas têm um valor imensurável e para tanto, trazem consequências sociais e jurídicas, as quais merecem uma atenção para que se possa tentar compreender o quanto desastres dessas proporções afetam o país e até mesmo o mundo.

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2.2 DAS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS DOS DESASTRES AMBIENTAIS DE MARIANA E BRUMADINHO, NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Todas as ações e omissões do homem frente ao meio ambiente e ao planeta Terra trazem implicações, sendo elas sociais, jurídicas, ambientais e econômicas. Muitas vezes, o dano ambiental não pode ser visto imediatamente, pois ele apenas aparece com o passar do tempo. Este não é o caso dos desastres que ocorreram com o rompimento das barragens em Minas Gerais, onde as consequências foram visíveis – apesar de incalculáveis – imediatamente. Estes danos irão se prolongar por tempo indeterminado, causando a extinção de diversas espécies e ecossistemas, além das implicações causadas a vida das pessoas afetadas, tanto as que perderam as suas vidas, quanto as que perderam suas casas, familiares, sua história e identidade.

Mariana e Brumadinho, sem dúvida, foram os grandes desastres ambientais ocorridos no Brasil, nos últimos tempos. Ambos tiveram consequências imensuráveis para as pessoas que viviam naqueles locais, bem como, para o meio ambiente que foi afetado de tal maneira que dificilmente conseguirá ser restabelecido, pois em termos ambientais não há o status quo ante.

Segundo Schonardie (2016, p. 50), “como implicações sociais dos danos ambientais coletivos tem-se a degradação da vida de uma maneira geral, que pode se manifestar de diferentes formas e em momentos muitas vezes distintos e distantes daquele que originou o dano.”

Carolina Paaz e Leonardo da Rocha de Souza (2018), realizaram uma pesquisa de campo, entrevistando pessoas que viviam no Distrito de Bento Rodrigues e foram diretamente afetadas pelo rompimento da barragem do Fundão. Paaz e Souza (2018, p. 10) afirmam que a vida daquelas pessoas era simples, e sua subsistência dava-se a partir da agricultura

O Distrito de Bento Rodrigues, local onde a barragem se rompeu, foi totalmente devastado. Bento Rodrigues é um subdistrito de Santa Rita Durão, localizado no município mineiro de Mariana. Até 2015 cerca de 600 habitantes viviam no local e existiam cerca de 200 imóveis ocupados. Além de Bento Rodrigues, Paracatu, Pedras, Ponte do Gama, Camargos e Campinas também foram atingidas. O desastre provocado pelo rompimento da barragem de Fundão fez com que comunidades inteiras fossem forçadas a deslocarem-se de seus povoados. Conforme constatado na pesquisa de campo, essas pessoas tinham uma vida pacata em pequenos distritos, trabalhavam na terra, conviviam com os animais e formavam com os vizinhos uma grande família. A economia local dos distritos atingidos era formada por pequenos agricultores que plantavam para a sua subsistência. (PAAZ; SOUZA, 2018, p. 10).

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Conforme dados do censo demográfico do ano de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020a), a cidade de Brumadinho possuía no ano de 2010 cerca de 34.000 (trinta e quatro mil) habitantes. No ano da tragédia (2019), a estimativa do IBGE era de cerca de 40.000 (quarenta mil) habitantes e a principal fonte de renda vinha da mineração. Heloísa Mendonça (2019a) relata que no mês de janeiro de 2019, quando ocorreu o desastre, cerca de 60% da arrecadação do município de Brumadinho vinha da Mineradora Vale, que gerava cerca de dois mil empregos, seja de forma direta ou indireta. Dessa forma, além da degradação ao meio ambiente e das mortes que provocou, o desastre afetou também a renda do município.

A barragem que se rompeu na Mina do Feijão em Brumadinho, pertencia à mineradora Vale. Esta empresa dava emprego e era fonte de renda para muitas pessoas que ali viviam. Segundo a Plataforma Multimídia Organics News Brasil (ONB, 2016, s/p), as barragens, como as que se romperam em Mariana e Brumadinho podem ser definidas como

Uma barragem de rejeito é uma estrutura de terra construída para armazenar resíduos de mineração, os quais são definidos como a fração estéril produzida pelo beneficiamento de minérios, em um processo mecânico e/ou químico que divide o mineral bruto em concentrado e rejeito. O rejeito é um material que não possui maior valor econômico, mas para salvaguardas ambientais deve ser devidamente armazenado. As características dos rejeitos variam de acordo com o tipo de mineral e de seu tratamento em planta (beneficiamento). Podem ser finos, compostos de siltes e argilas, depositados sob forma de lama, ou formados por materiais não plásticos, (areias) que apresentam granulometria mais grossa e são denominados rejeitos granulares (Espósito, 2000). Os rejeitos granulares são altamente permeáveis e contam com uma boa resistência ao cisalhamento, enquanto os rejeitos de granulometria fina, abaixo de 0.074mm (lamas), apresentam alta plasticidade, alta compressibilidade e são de difícil sedimentação. (ONB, 2016, s/p).

Em Mariana, cidade com aproximadamente 54.000 (cinquenta e quatro mil) habitantes de acordo com o censo demográfico do IBGE de 2010 (IBGE, 2020b) e população estimada de cerca de 60.000 (sessenta mil) habitantes em 2019 de acordo com o IBGE, as marcas do desastre ambiental foram grandes e graves, mas não houve uma tragédia humanitária nos moldes de Brumadinho. A Empresa Samarco, à qual pertencia a barragem Fundão que se rompeu em Mariana, gerava muitos empregos e era fonte de riquezas e renda para a população que trabalhava na mineradora. Segundo Graça Caldas (2017, p. 66)

Antes do desastre ambiental, que paralisou as atividades da empresa, a capacidades de produção da Samarco era de 30,5 milhões de toneladas de ferro por ano. O principal produto da companhia eram as pelotas de minério de ferro, comercializadas para indústrias siderúrgicas no mundo inteiro. Além da unidade de Germano, em Mariana, a corporação

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está presente na unidade de Ubu, em Anchieta, no Espírito Santo. Há também escritórios de vendas em Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Amsterdã (Holanda) e Hong Kong (China). (CALDAS, 2017, p. 66).

Com o rompimento das barragens, toneladas de sedimentos foram despejados e avassalaram tudo o que havia em seu caminho. Foram rios, edificações, fauna e flora destruídos. Todo este processo destrutivo afetou e muito a vida das pessoas, muitos morreram e outros tantos tiveram suas vidas completamente modificadas, perdendo suas casas, seus locais de encontro, trabalho e fontes de renda. Quando uma tragédia dessas proporções acontece, as implicações sociais são as mais diversas.

As primeiras consequências que são observadas no momento de um desastre, além da destruição do meio ambiente, são em relação às vítimas diretas da tragédia: pessoas que estão desaparecidas em meio a todo o cenário de destruição. Quando as buscas iniciam não há possibilidade de saber qual as dimensões, quantas pessoas morreram, quantas estão desaparecidas e quantas estão isoladas em pontos específicos aguardando socorro. No desastre de Mariana foram contabilizados 19 mortos, enquanto em Brumadinho foram 259 mortos e 11 pessoas ainda continuam desaparecidas. Todas essas pessoas, faziam parte de um círculo social, tinham uma família, uma casa, para a qual não poderão retornar. Marcelo Kokke (2018, p. 782-783) relata sobre o desastre ocorrido em Mariana

Em relação às implicações humanas em sentido estrito, já que toda lesão ambiental atinge as espécies insertas no meio ambiente, dentre as quais o ser humano, destaca-se a perda de 19 vidas humanas, a destruição de Bento Rodrigues, já citada, o isolamento e desabastecimento de áreas habitadas, desalojamento de atingidos pelo evento, debilidades sobre as atividades socioeconômicas das regiões atingidas, com realce para a pesca, e um verdadeiro desequilíbrio psicossocial de roteiros de vida e expectativas de futuro. A par de efeitos imediatos, como o desalojamento, a população diretamente atingida conta reveses como o deslocamento forçado de residência e origem, somados ao abandono forçado dos respectivos bens pessoais materiais, além do comprometimento da memória pessoal e comunitária. Trata-se aqui de verdadeiro desenraizamento forçado e traumatizante, repercutindo na formação e desenvolvimento identitário dos seres humanos impactados. (KOKKE, 2018, p. 782-783).

Antes dos desastres, essas pessoas tinham uma vida social, um local para chamar de seu, no qual a maioria nasceu, cresceu e pretendia envelhecer. Com o ocorrido, foi lhes tirado muito além de bens materiais, de um “pedaço de terra”. Foi lhes tirado o modo de vida e o futuro no qual se viam não existe mais. Lembranças, deturpadas.

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Com isso, Paaz e Souza (2018, p. 24) dissertam que

Percebe-se que o rompimento da barragem de Fundão afetou seriamente o desenvolvimento social das comunidades atingidas, pois os moradores sofrem pelo deslocamento forçado para a cidade de Mariana, sentem que sofrem discriminação, sentem falta dos bens que foram perdidos, a perda de documentos, das lembranças, sofrem danos psicológicos, preocupação com o futuro e a perda de acesso aos recursos comuns. Para os moradores das comunidades atingidas, foi negado o direito à autodeterminação, ou seja, o direito de querer sair ou não da sua comunidade (PAAZ; SOUZA, 2018, p. 24).

Além das consequências sociais e ambientais, tais desastres tem implicações jurídicas. Vejamos o conceito legal de impacto ambiental, que se encontra previsto no artigo art. 1º da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 001, de 23 de janeiro de 1986 (BRASIL, 1986, p. 1)

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986, p. 1).

No caso dos desastres de Mariana e Brumadinho, estão amparados pela proteção constitucional ambiental conferida pelo art. 225 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, s/p), o qual garante que

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...]

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988, s/p).

O Caput do artigo supracitado, garante o meio ambiente como um bem de interesse difuso, ou seja, ele tem como titular um grupo indeterminado de pessoas, sendo o direito a um meio ambiente protegido e equilibrado um direito de todos. Também prevê ser o dever de todos, do

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Poder Público, Poder Privado, e da coletividade, a preservação desse meio para todos, inclusive para as futuras gerações (BRASIL, 1988).

Conforme traz o parágrafo 2º, ainda do artigo 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), as mineradoras ficam obrigadas a recuperar toda a área que foi devastada pelo desastre, bem como fornecer o suporte necessário às vítimas, pessoas que foram afetadas direta e indiretamente. Como nos casos de Mariana e Brumadinho os danos ambientais são irreversíveis, enquadra-se o parágrafo 3º, que traz as sansões cíveis, penais e administrativa a que estão sujeitos os administradores das mineradoras (BRASIL, 1988).

Além das implicações ambientais que ocorreram, não é imprescindível ressaltar que tal desastre afeta também um dos princípios fundamentais previstos na nossa Carta Magna. No seu Artigo 1º, III (BRASIL, 1988, s/p) diz: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;”. Os atingidos tiveram seu direito prejudicado, quando foram obrigados a abandonar tudo às pressas.

Como os desastres de Mariana e Brumadinho tiveram repercussão em todo o país, e porque não dizer mundialmente, diversos autores, Advogados, realizaram publicações analisando as consequências jurídicas, trazendo desdobramentos de sanções cíveis, administrativas e penais dos acontecimentos, e o possível desenrolar da história.

Segundo o Advogado e Professor de Direito Renato Campos Andrade (2019), a Vale estará sujeita às sanções administrativas nos termos da Constituição Federal que, em seu artigo 225, parágrafo 3º (BRASIL, 1988, s/n), determina que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Segundo ele, traz-se também a responsabilidade administrativa, responsabilidade civil de indenizar, e responsabilidade civil ambiental. Em conformidade com Andrade (2019, s/p)

A responsabilidade administrativa terá origem na mesma Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) e decorre do poder de polícia dos entes estatais. “Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. Destaca-se a ausência do elemento culpa, necessário para a punição no âmbito criminal.

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Há ainda a responsabilidade civil por indenizar e reparar as vítimas e seus familiares, com valores pecuniários medidos de acordo com o prejuízo comprovado, bem como por um montante compensatório a ser arbitrado judicialmente. Trata-se de responsabilidade objetiva, que independe da comprovação de dolo ou culpa em sentido estrito.

Também se extrai a evidente responsabilidade civil ambiental pelos danos causados ao meio ambiente, na qual a Vale responde objetivamente e ainda pelo risco integral, o que significa que não pode alegar as excludentes de responsabilidade (fato de terceiro, fato da vítima e caso fortuito e força maior) como forma de não ser responsabilizada. (ANDRADE, 2019, s/p).

A mineradora teve responsabilidade civil objetiva, ou seja, ela assumiu o risco e houve o dano. Essas tragédias vão muito além do dano ambiental, ela avassalou também a dignidade da pessoa humana, e quando duas grandes catástrofes ocorreram em tão pouco tempo há de se falar não apenas em responsabilidade civil, mas também penal, conforme trata Gabriela Venturelli Mesquita (2019, s/p) a respeito da tragédia de Brumadinho

Embora muito se tenha falado acerca da responsabilidade Civil e Ambiental, neste momento, mais do que nunca, é de suma importância a aplicação também da norma Penal. Muitos vêm tratando este triste ocorrido como mais uma “tragédia ambiental”, e é inaceitável ver, três anos depois, que a impunidade pelo rompimento em Mariana trouxe a reincidência em Brumadinho. Por isso, aplicar somente punições cíveis e ambientais certamente não é mais suficiente nesta questão. (MESQUITA, 2019, s/p).

Conforme Mesquita (2019), embora muito se fale da responsabilidade Civil e Ambiental, é de suma importância a aplicação também da norma Penal. Apesar de muitos tratarem o ocorrido em Brumadinho apenas como uma “tragédia ambiental”, ela considera inaceitável que apenas três anos depois, a impunidade pelo rompimento em Mariana trouxe a reincidência em Brumadinho. Portanto, segundo a advogada, aplicar somente punições cíveis e ambientais não é mais suficiente nesta questão.

Ainda segundo Mesquita (2019), estas tragédias vão além do Meio Ambiente, destruindo a dignidade e a vida das pessoas, por este motivo não deve ser tratada apenas como acidente, deve ser tratada e julgada também como homicídio e, segundo ela, em sua modalidade omissiva, conforme traz o Artigo 13 § 2º do Código Penal (BRASIL, 1940, s/p)

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

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c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (BRASIL, 1940, s/p).

Todos estes desastres trazem à tona a desvalorização da vida humana, vindo de uma omissão. Para que novas tragédias não ocorram, a impunidade não deve ser regra. Após dois acontecimentos, praticamente da mesma forma, com as mesmas circunstâncias, comprovou que os acordos feitos não foram eficazes para de fato repelir e prevenir com maior rigor danos futuros. Novas medidas mais rígidas e severas deverão ser tomadas, pois o meio ambiente e a vida das pessoas devem valer mais do que as atividades econômicas, sendo responsabilidade de todos a manifestação e cobrança neste sentido. À União e ao Judiciário cabe a aplicação de medidas mais rígidas, tendo em vista que os danos causados não podem ser reparados em sua forma plena. O ecossistema destruído e a vida de tantas pessoas jamais retornarão. (MESQUITA, 2019)

O Advogado Criminalista Tarcísio Maciel Chaves de Mendonça (2019b) fez uma análise a respeito da responsabilização criminal das empresas após a tragédia ocorrida em Brumadinho. Segundo ele, é necessário sim, que se tome um rumo mais expressivo nas condenações da Empresa, porém ele considera impossível que se tome, por exemplo, o rumo da pena mais extrema, pois com ela se daria a extinção da Vale, o que condenaria os municípios que dependem dela para sua subsistência a liquidez. Ainda de acordo com Mendonça (2019b, s/p)

Caso a Vale tenha cometido crimes ambientais e seja condenada por eles estaria sujeita, nos termos do artigo 21 da Lei 9.605/98, às penas de multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica, nos termos do artigo 22 da Lei 9.605/98, são: suspensão parcial ou total das atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público, bem como obter subsídios, subvenções ou doações. Em casos extremos, é possível aplicar a pena de liquidação forçada, prevista no artigo 24 da Lei 9.605/982. Conseguem imaginar algum juiz decretando a liquidação forçada ou suspensão total das atividades de uma empresa do tamanho da Vale? Se algum magistrado assim o fizer, estará condenando municípios à insolvência e determinando a eliminação de uma série de empregos diretos e indiretos. (MENDONÇA, 2019b, s/p).

Faz-se necessário, portanto, apesar da necessidade de punição das Empresas pelos danos causados às pessoas e ao meio ambiente, uma análise econômica do quanto seriam afetados todas as pessoas e munícipios com a aplicação de uma sentença extrema, como por exemplo, a liquidez. Neste momento nota-se que de certa forma o judiciário encontra-se de “mãos atadas”, pois ao mesmo tempo que o clamor popular e as consequências não indiscutíveis, uma pena extrema, apesar de coibir futuros desastres, traria também consequências graves em outros âmbitos.

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No Brasil, a análise dos impactos ambientais só começou no ano de 1981, com a publicação da Lei nº 6.938/81 (BRASIL, 1981), que ainda é a mais importante forma de regulamentação da proteção ao meio ambiente. Conforme Ribamar Junior (2015, s/p) “Essa análise só surgiu por meio da exigência de órgãos financeiros estrangeiros para aprovação de empréstimos há projetos do governo, assim como a pressão social para que o governo adota-se ações mais adequadas de gerenciamento das atividades que geram impacto negativo ao meio ambiente.” 2.3 INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL: AS SANÇÕES DA LEI 9.605/98

O meio ambiente é um bem fundamental a vida humana, portanto necessita de um amparo jurídico especial para que este bem não seja corrompido. Na Constituição Federal este princípio está previsto no caput do Artigo 225 (BRASIL, 1988, s/p), “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

No ano de 1998 a criação da Lei 9.605, trouxe um grande avanço na proteção do meio ambiente. Ela dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (BRASIL, 1998). Crime é uma violação de direito, sendo assim qualquer prejuízo causado aos elementos que compõe o meio ambiente serão crimes ambientais. Segundo o Jornal Oeco (2014, s/p)

Antes da sua existência, a proteção ao meio ambiente era um grande desafio, uma vez que as leis eram esparsas e de difícil aplicação: havia contradições como, por exemplo, a garantia de acesso livre às praias, entretanto, sem prever punição criminal a quem o impedisse. Ou inconsistências na aplicação de penas. Matar um animal da fauna silvestre, mesmo para se alimentar era crime inafiançável, enquanto maus tratos a animais e desmatamento eram simples contravenções punidas com multa. Havia lacunas como faltar disposições claras relativas a experiências realizadas com animais ou quanto a soltura de balões. (OECO, 2014, s/p).

Com o surgimento da Lei de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998), as penas agora têm uniformização e gradação adequadas e as infrações são claramente definidas. A lei define a responsabilidade das pessoas jurídicas, permitindo que grandes empresas sejam responsabilizadas criminalmente pelos danos que seus empreendimentos possam causar à natureza. Além das

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agressões que ultrapassam os limites estabelecidos por lei, também são considerados crimes ambientais as condutas que ignoram normas ambientais, mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente, é o caso dos empreendimentos sem a devida licença ambiental. Neste caso, há a desobediência a uma exigência da legislação ambiental e, por isso, ela é passível de punição por multa e/ou detenção. As penas previstas pela Lei de Crimes Ambientais se aplicam de acordo com a gravidade da infração, podendo ser privativa de liberdade restritiva de direitos, ou penalidades como a prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos, suspensão de atividades, prestação pecuniária e recolhimento domiciliar ou multa (OECO, 2014).

A Lei 9.605 (BRASIL, 1998) expõe ainda a previsão de quem pode ser punido pelos crimes que sejam cometidos contra o meio ambiente. A presente Lei (BRASIL, 1998, s/p) apresenta, em seus Artigos 2º a 4º

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. (BRASIL, 1998, s/p).

Quando o infrator é pessoa jurídica, ele não pode ter sua liberdade restringida como uma pessoa comum, conforme Oeco (2014, s/p)

A pessoa jurídica infratora, uma empresa que viola um direito ambiental, não pode ter sua liberdade restringida da mesma forma que uma pessoa comum, mas é sujeita a penalizações. Neste caso, aplicam-se as penas de multa e/ou restritivas de direitos, que são: a suspensão parcial ou total das atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. Também é possível a prestação de serviços à comunidade através de custeio de programas e de projetos ambientais; execução de obras de recuperação de áreas degradadas; contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. (OECO, 2014, s/p).

De acordo com a Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998), os crimes ambientais são classificados em cinco tipos, que são eles: Os crimes contra a fauna, que está previsto nos Artigos 29 a 37; Os

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crimes contra a flora, previsto nos Artigos 38 a 53; Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, previstos nos artigos 62 a 65; Crimes contra a administração ambiental, previsto nos Artigos 66 a 69 e o crime de Poluição e outros crimes ambientais, que estão previstos nos Artigos 54 a 61, nos quais se enquadram os desastres ambientais como de Mariana (MG) e Brumadinho (MG). De acordo com Oeco (2014, s/p)

Todas as atividades humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoque ou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Assim como, aquela que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. (OECO, 2014, s/p).

Os danos que foram causados pelos desastres de Mariana e Brumadinho foram de caráter irreversível, causando enorme prejuízo à fauna, flora e à vida das pessoas que residiam nos locais que foram afetados. Animais morreram, as consequências para os rios foram desastrosas, além das tantas pessoas que morreram. Estes desastres estão previstos no Artigo 54 da Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998, s/p), que enuncia

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;

IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. (BRASIL, 1998, s/p).

No Artigo supramencionado é possível ver previstas as implicações que ocorreram nos desastres de Mariana e Brumadinho. No Parágrafo 2º, estão estabelecidos as como crime

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consequências dos desastres ambientais, sendo que no inciso primeiro, que traz a destruição de uma área tornando-a imprópria para a ocupação humana, que foi o que aconteceu em ambos os desastres. No inciso terceiro traz a poluição dos rios, poluindo e impedindo o abastecimento de água, fato que também foi tido. Ainda, o inciso quinto prevê o lançamento de resíduos sólidos e detritos, a principal ocorrência nos desastres (BRASIL, 1998)

Sobre a aplicação das penas a respeito de crimes ambientais, a presente Lei também traz previsão. O artigo 6º da Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998), junto de seus incisos prevê os requisitos a serem observados para aplicação da pena. Além disso, o artigo 7º prevê momentos em que a pena privativa de liberdade poderá ser substituída por restritiva de direitos e o artigo 8º dispõe de quais são essas restritivas de direitos (BRASIL, 1998, s/p)

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;

II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;

III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando:

I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.

Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária;

V - recolhimento domiciliar. (BRASIL, 1998).

Conforme Inara Chagas (2019), pelo desastre de Mariana, em 2016 o Ministério Público Federal denunciou a Samarco e a empresa VOG BR – responsável pelo laudo que considerava a barragem Fundão como estável – além de outras 22 pessoas, foram denunciadas por inundação, crimes ambientais e desabamento, bem como outras 21 pessoas por homicídio. O processo já foi paralisado duas vezes na Justiça Federal, seguindo sem data para julgamento (CHAGAS, 2019).

No caso da barragem do Feijão em Brumadinho, as investigações ainda não foram concluídas e, até então, ninguém foi preso. No âmbito da Justiça Estadual, a mineradora Vale foi

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condenada a reparar os danos pela tragédia. Foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais com a finalidade de investigar as razões da tragédia. Em 12 de setembro de 2019, ela apresentou seu relatório final, pedindo o indiciamento de treze pessoas por homicídio e lesão corporal com dolo eventual, dentre outros crimes. Dentre esses treze indiciados, onze são integrantes da Vale (CHAGAS, 2019).

Enfim, passados quatro anos da tragédia que aconteceu em Mariana e mais de um ano do ocorrido em Brumadinho, pouco foi feito ou resolvido. Até o momento, não houve a condenação das Empresas no âmbito criminal. Elas estão prestando assistência, auxiliaram as pessoas atingidas com valor monetário, bem como com um novo local provisório para acomodação, porém, a reconstrução dos antigos locais de moradia, anseio dos deslocados, ainda não ocorreu.

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3 DESLOCADOS AMBIENTAIS E OS DIREITOS HUMANOS

Todos os anos, milhares de pessoas precisam se deslocar de suas casas por questões ambientais de cunho climático ou ambientais-econômicas. O número crescente de pessoas que se encontram em situação vulnerabilidade ambiental devido a catástrofes ou desastres ambientais vem causando extrema preocupação aos Estados e Organizações Internacionais, pois atualmente, esses eventos estão cada vez mais frequentes e extremos.

Quando ocorrem desastres como no caso do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, o que se vê são cenas de destruição, a lama que veio e levou tudo deixando mortos e desabrigados; devastando vilas, bairros e até mesmo cidades. Essas pessoas que perderam tudo com a tragédia, foram forçadas a deixar suas casas e necessitaram de um local para serem realocadas, a maioria, em ambos os acontecimentos foram realocadas em cidades próximas de suas residências de origem. Infelizmente tem-se a ideia de que como estão em situação de vulnerabilidade, essas pessoas não precisam ser ouvidas e precisam contentar-se em ter onde ficar, momento em que tem seus direitos humanos básicos desrespeitados.

A Constituição Federal em seu Artigo 5º, prevê que todos somos iguais perante a lei, não devendo haver distinções de qualquer natureza e temos direito a inviolabilidade de direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e à propriedade (BRASIL, 1988). A Organização das Nações Unidas (ONU), através da Declaração Universal de Direitos Humanos, traz diretrizes a respeito de como as pessoas devem ser tratadas, e quais direitos lhe são assegurados, tanto em seu Estado de origem quanto em outros lugares (ONU, 1948).

A vulnerabilidade das pessoas após um desastre, está diretamente relacionada à fatores socioeconômicos, pois estes perderam tudo o que haviam construído, sua fonte de renda, documentos, sua moradia; e dependem exclusivamente das ações implementadas pelo governo ou responsáveis pelo desastre. Os grupos mais vulneráveis, em especial as pessoas com condições econômicas mais desfavoráveis, são as que mais apresentam dificuldades para enfrentar os desastres e, consequentemente, são quem mais tem seus direitos humanos desrespeitados. Neste sentido, Tybusch (2019, p. 150) disserta

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[...] há a necessidade de proteção e assistência para que exista efetivamente a segurança legal e física dos deslocados internos, pois somente assim poderão ser garantidos seus direitos fundamentais. O direito a receber assistência humanitária, isto é, possuir a proteção jurídica necessária para abarcar todas as garantias e direitos humanos, econômicos, culturais e sociais que são considerados indivisíveis e complementares em relação aos direitos políticos e civis. (TYBUSCH, 2019, p. 150).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos traz uma visão ampla dos direitos conferidos à todas as pessoas, não trazendo direitos específicos às pessoas deslocadas por desastres ambientais, conforme traz Tybusch (2019, p. 143): “[...] no que se refere a proteção ao deslocado interno, assim como acontece com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, DIH também consta com poucas disposições no tratamento destes indivíduos, de forma conceitual”. Um desastre como o ocorrido em Mariana por exemplo, torna ainda mais visíveis as dificuldades enfrentadas por uma população. Assim, Tybusch (2019, p. 205) complementa

O desastre revelou as vulnerabilidades do local e da comunidade, acentuando-as. As problemáticas envolvendo o deslocamento vão além de uma gestão circular, perpassam pelo caráter social. Pois, quando estas pessoas se retiram forçosamente do local em que vivam em razão da tragédia, além de serem vítimas de várias formas de privação de liberdade, são a própria representação daquilo que se denomina injustiça ambiental. (TYBUSCH, 2019, p. 205).

Como se pode observar, os Direitos Humanos dos deslocados não estão sendo amplamente protegidos no momento em que eles precisam deixar suas casas, perdendo seus trabalhos, a vida como conheciam, como também sua saúde física e mental.

3.1 DOS DESLOCADOS AMBIENTAIS

Os deslocados ambientais podem ser considerados aquelas pessoas que necessitam deixar suas casas – ou as perderam – e precisam ser realocadas em local seguro, longe do perigo que lhes fez necessário a mudança. Tybusch (2019, p. 124) escreve sobre os deslocados internos através da definição do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e traz outras considerações

Em Relatório do deslocamento forçado da ACNUR, os deslocados internos são definidos como “(...) geralmente conhecidos pela sigla em inglês IDP, são forçados a fugir de suas casas para outro lugar em seu próprio país.” Isto é, estas pessoas não atravessam fronteiras internacionais, elas se movimentam forçadamente dentro do mesmo território, dentro do mesmo país. Ao contrário do que ocorre com os refugiados, por exemplo, que possuem uma normativa própria.

Dessa forma, a conceituação de deslocados internos envolve dois elementos de grande importância: a característica da mobilidade involuntária destes indivíduos e a sua

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