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Ação rescisória baseada na inconstutucionalidade superveniente no NCPC

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Academic year: 2021

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(1)AÇÃO RESCISÓRIA BASEADA NA INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE NO NCPC William Grégori Endl Moreira1. RESUMO O presente artigo aborda a alteração trazida no artigo 525, §15 do NCPC, Lei nº 13.105/15, o qual passa possibilitar o ajuizamento de ação rescisória contra decisão, baseada em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, afirmando ainda que o início da contagem do prazo para a rescisória se dá do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Analisarse-á ainda, os impactos de tal alteração na coisa julgada e consequentemente na segurança jurídica, os quais são pilares da nossa Constituição Federal, observando também o atual posicionamento do STF e a influência de tal redação neste posicionamento. PALAVRAS-CHAVE: Ação Rescisória. Inconstitucionalidade Superveniente. Coisa Julgada. Segurança Jurídica. ABSTRACT This article discusses the changes brought in Article 525, §15 NCPC, Law No. 13,105/15, which shall allow the filing of rescission action against decision based on normative law or act considered unconstitutional by the Supreme Court, even stating that the start of calculating the period for termination is given the final and unappealable decision by the Supreme Court. It will analyze also the impact of such change on res judicata and therefore legal certainty, which are pillars of our Federal Constitution, also noting the current position of the Supreme Court and the influence of such wording in this position. KEYWORDS: Reversal Action. Supervening Unconstitutionality. Thing Judged. Juridical Security. SUMÁRIO: Introdução – 1. Segurança Jurídica: A Autoridade da Coisa Julgada – 2. Relativização da Coisa Julgada: Ação Rescisória – 3. Ação Rescisória Baseada nos Arts. 525, § 15 e 535, § 8º do NCPC – 4. Posicionamento do STF Quanto a Relativização da Coisa Julgada – Conclusão – Referências Bibliográficas.. 1. Pós-Graduando em Processo Civil pela UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Campus Três Passos. Orientador Professor Antônio Augusto Marchionatti Avancini - Mestre em Direito pela UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos..

(2) 2. INTRODUÇÃO O presente trabalho trata da ação rescisória baseada na inconstitucionalidade superveniente no Novo Código de Processo Civil. Para o desenvolvimento do tema, aborda-se inicialmente, a imutabilidade da coisa julgada, a qual é fundamental para a segurança jurídica das decisões, tendo a coisa julgada função de pacificação, estabilidade e segurança social. Destaca-se também que embora a coisa julgada seja indispensável ao Estado Democrático de Direito e à estabilidade das decisões judiciais, pode, preenchidos determinados requisitos legais, ser desconstituída através de ação rescisória. Destaca-se, que a coisa julgada não é um instrumento de justiça, não assegurando a justiça das decisões, mas é sim, uma garantia de segurança, ao impor a definitividade da solução judicial acerca da situação jurídica que foi apreciada. Não se nega que a imutabilidade da coisa julgada pode perpetuar, em alguns casos, decisões injustas. No entanto, foi com a intenção de atenuar esses riscos que o ordenamento ofereceu instrumento hábil a contorná-los, a ação rescisória. Verifica-se, em especial, a alteração trazida pelo novo Código de Processo Civil em seus artigos 525, § 15 e 535, §8º, nos quais em impugnação ao cumprimento de sentença, poderá o executado alegar inexigibilidade do título, sendo que considera para fins de inexigibilidade, o título judicial baseado em lei ou ato normativo declarado inconstitucional pelo Supremo tribunal Federal, até aí, em nada mudou o que já determinava o antigo Código de Processo Civil. A mudança que será discutida no presente artigo, encontra-se no parágrafo 15 do referido diploma legal, pois aí sim, há uma alteração que impactará diretamente na coisa julgada e na segurança jurídica, como se mostrará no transcorrer do trabalho. A mudança trazida pelo art. 525, § 15 do NCPC, determina que o prazo, o qual é de dois anos, para interposição de Ação Rescisória passa a contar do trânsito em julgado da decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, e não do trânsito em julgado da decisão exequenda. Tal alteração impactará diretamente na coisa julgada, a qual é um dos pilares da Constituição Federal, juntamente com o direito adquirido e o ato jurídico perfeito,.

(3) 3. estando estabelecida no art. 5º, XXXVI da CF/88. Assim, sua relativização deve ser vista com cautelas, em respeito à segurança jurídica. A seguir, aborda-se a posição do Supremo Tribunal Federal em relação à relativização da coisa julgada, diante da segurança jurídica (coisa julgada), analisando especificamente alguns casos em que matéria foi enfrentada, bem como, se já há algum posicionamento do Supremo Tribunal Federal em relação a inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil. Diante disto, destacou-se que toda e qualquer possibilidade da relativização da coisa julgada só pode ser efetivada/realizada quando se verificar que não coloca em risco o princípio da segurança jurídica, devendo-se exigir um imperativo forte e imutável das decisões judiciais. Essa necessidade deriva da própria essência da origem do Direito e da própria necessidade de formação do Estado. 1. SEGURANÇA JURÍDICA: A AUTORIDADE DA COISA JULGADA No direito brasileiro, normalmente, garante-se aos interessados a possibilidade de discutir as decisões judiciais, seja por recurso, seja por outro meio de impugnação. Acontece que a discussão das decisões não pode ser oportunizada de forma irrestrita, pois a partir de certo momento, é preciso dar estabilidade àquilo que foi decidido, sob pena de perpetuar-se a incerteza sobre a situação jurídica submetida à apreciação do Poder Judiciário. O instituto jurídico da coisa julgada existe para tal fim, pois é uma garantia do jurisdicionado de não ser compelido, por via de nova ação, a rediscutir a decisão já proferida pelo judiciário, de modo que tal pronunciamento se torne efetivamente definitivo, eliminando, assim, as angústias e incertezas que caracterizam a lide. A coisa julgada está ligada diretamente a segurança jurídica, sendo esta, um elemento essencial ao Estado Democrático de Direito, ou seja, não se pode admitir a relativização diante da mera alegação de injustiça da sentença, devendo ser vista com cautela as possibilidades de sua revisão..

(4) 4. A coisa julgada é instituto pertencente também ao direito constitucional, sendo a mais notável manifestação, no nível das regras constitucionais, do princípio da segurança jurídica, representando, desta forma, o mais elevado grau de estabilidade dos atos estatais. A Constituição Federal brasileira traz consagrado o princípio da segurança jurídica, no seu art. 5º, inciso XXXVI. Para Fabricio dos Reis Brandão (2005), o direito brasileiro considera o princípio da segurança jurídica como basilar para nosso ordenamento jurídico, uma vez que instaura a “paz” e a estabilidade no mundo jurídico, que é um pressuposto básico que gera um clima de confiança em seu conteúdo. Assim, frisa-se que a segurança jurídica é importante para qualquer ordenamento jurídico, uma vez que tal princípio impede que surtam incertezas em todos os cenários em que o direito pode caminhar. Cabe ressaltar ainda, que nas palavras do jurista Alexandre Sormani (apud BRANDÃO, 2005, p. 23), a segurança jurídica é: [...] um princípio do Estado de direito, consistente na estabilidade da ordem jurídica constitucional, com a finalidade de refletir nas relações intersubjetivas o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurídicos futuros e pretéritos da regulação das condutas sociais.. A segurança jurídica necessita, porém, de instrumentos para ser efetivada em uma sociedade. Dentre estes instrumentos, o que se destaca é a coisa julgada. Nas palavras de BRANDÃO (2005) a coisa julgada, como o próprio nome já diz, significa algo que já foi julgado, tem a função de evitar que seja julgada uma mesma lide com o mesmo objeto duas ou mais vezes, tornando o que foi decidido imutável, indiscutível (princípio da segurança jurídica), e ainda evitar que surjam decisões contraditórias, aumentando a confiabilidade do sistema jurídico brasileiro. A coisa julgada está diretamente ligada à sentença, ou melhor, ao fim do processo. Isso ocorre, pois é exatamente tal instituto que, após a sentença ser prolatada e que não mais possua recursos cabíveis, faz com que a decisão se torne indiscutível e imutável, gerando estabilidade para os jurisdicionados. Segundo BRANDÃO (2005, p. 26):.

(5) 5. A autoridade da coisa julgada recai sobre os efeitos da sentença projetados fora do processo fazendo com que eles continuem a refletir no futuro sobre os litigantes. Dessa forma, numa demanda depois de decidida, transitada em julgado, o judiciário não poderá se manifestar novamente sobre as questões já decididas sob a pena de tornar o direito instável, ou seja, tal disciplina legal “recebe legitimidade política e social da capacidade que tem de conferir segurança às relações jurídicas atingidas pelos efeitos da sentença”.. A coisa julgada é mais que um instituto de direito processual. Segundo LIEBMAN (2007) ela pertence ao direito constitucional, ou ao direito processual material, para quem acata a existência desse plano bifronte do ordenamento jurídico. Resolve-se em uma situação de estabilidade, definida pela lei, instituída mediante o processo, garantida constitucionalmente e destinada a proporcionar segurança e paz de espírito às pessoas. A propósito, LIEBMAN (2007) considerava a coisa julgada, não como um efeito autônomo da sentença, mas uma qualidade especial – autoridade – de que se revestem os seus efeitos, tornando-os imutáveis, em benefício da estabilidade da tutela jurisdicional. A coisa julgada, como já referida anteriormente, é a imutabilidade da decisão, mas essa imutabilidade pode restringir-se aos limites do processo em que a decisão foi proferida ou projetar-se para além dele. Desta diferença essencial decorre a coisa jugada formal e material. Para DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012, p. 418-419) a coisa julgada formal é: A imutabilidade da decisão judicial dentro do processo em que foi proferida, porquanto não possa mais ser impugnada por recurso – seja pelo esgotamento das vias recursais, seja pelo decurso do prazo do recurso cabível. Trata-se de fenômeno endoprocessual, decorrente da irrecorribilidade da decisão judicial. Revela-se, em verdade, como uma espécie de preclusão, constituindo-se na perda do poder de impugnar a decisão judicial no processo em que foi proferida. Seria a preclusão máxima dentro de um processo jurisdicional. Também chamada de “trânsito em julgado”.. Já a coisa julgada material é, segundo DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012, p. 419):.

(6) 6. A indiscutibilidade da decisão judicial no processo em que foi produzida e em qualquer outro. Imutabilidade que se opera dentro e fora do processo. A decisão judicial (em seu dispositivo) cristaliza-se, tornando-se inalterável. Trata-se de fenômeno com eficácia endo/extraprocessual. Percebe-se, contudo, que a coisa julgada formal é um degrau necessário, para que se forme a coisa julgada material. Em outros termos, a coisa julgada material tem como pressuposto a coisa julgada formal.. Ao proferir a decisão judicial sobre a relação jurídica de direito material, o Estado torna pública a aplicação da lei ao caso concreto julgado, o que acaba por impedir que esta mesma relação seja novamente submetida à apreciação jurisdicional. Conclui-se que o Estado-Juiz decide e examina apenas uma única vez a relação jurídica de direito material. Deve-se destacar, porém, que a coisa julgada não é um instrumento de justiça, não assegurando a justiça das decisões, mas é sim, uma garantia de segurança, ao impor a definitividade da solução judicial acerca da situação jurídica que lhe foi submetida. Cabe salientar, porém, em que pese o status constitucional da coisa julgada, cabe ao legislador infraconstitucional traçar o perfil dogmático da coisa julgada. Segundo DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012) é possível que o legislador não atribua a certas decisões a aptidão de ficar imutável pela coisa julgada, ou, ainda, exija pressupostos para a sua ocorrência. O que não se admite em nosso sistema, é a proscrição total da coisa julgada ou a sua revisão por lei superveniente. O ordenamento jurídico prevê a possibilidade de a coisa julgada ser desconstituída mediante a propositura de ação rescisória. Sendo que nos últimos anos vem ganhando força a possibilidade de relativização da coisa julgada, que igualmente viabiliza a superação de decisão transitada em julgado. Diante de tal teoria, abre-se a discussão a respeito da possibilidade da relativização da coisa julgada pela existência de uma suposta injustiça em seu conteúdo. Não se nega que a imutabilidade da coisa julgada pode perpetuar, em alguns casos, decisões injustas. No entanto, foi com a intenção de atenuar esses riscos que o ordenamento ofereceu instrumento hábil a contorná-los, a ação rescisória..

(7) 7. 2. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA: AÇÃO RESCISÓRIA A autoridade da coisa julgada oferece estabilidade à decisão. Mas é importante ressaltar que nenhum princípio existe sozinho e que todos os princípios devem objetivar um melhor sistema processual. A flexibilização da coisa julgada traz certo risco, mas feita em casos específicos e bem regulamentados, não atrapalham a estabilidade da coisa julgada. Nas palavras de Luiz Dellore (2015, p. 1): A rescisória não existe com o intuito de afrontar ou enfraquecer a coisa julgada, mas exatamente o contrário, visto que sua finalidade é possibilitar a rescisão apenas acaso verificada determinadas situações previamente eleitas pelo legislador. Tal ação, de competência originária dos tribunais, é cabível apenas em algumas hipóteses específicas, numerus clausus, previstas na legislação (CPC/73, art. 485), No NCPC, há alterações, mas a base da rescisória é a mesma (NCPC, art. 966).. A desconstituição de um julgado através da ação rescisória se faz necessário, em virtude da proibição de novo julgamento a partir do trânsito em julgado de uma decisão, a qual se torna imutável e indiscutível. Nos ensinamentos de DIDIER JR. (2007, p. 276): Significa que a conclusão a que chegou o juiz, ao proferir uma sentença de mérito, não poderá mais ser discutida em outro processo que envolva as mesmas partes, com idêntica causa de pedir e com o mesmo pedido. Se, mesmo tendo o comando final da sentença adquirido imutabilidade e indiscutibilidade, ainda assim houver nova decisão sobre a questão, haverá ofensa à coisa julgada, cabendo ação rescisória.. Porém, a definitividade atribuída à coisa julgada pode, em determinados casos, produzir situações indesejáveis ao próprio sistema, porém não é correto pensar que, em razão disso, ela simplesmente possa ser desconsiderada, superada sem qualquer óbice. Assim, a lei processual civil traz a ação rescisória como meio hábil para desconstituir decisão já abarcada pela coisa julgada. A ação rescisória é instrumento processual autônomo (ação), cuja classificação pode-se definir como ação constitutiva negativa ou desconstitutiva, pela qual se busca a desconstituição (rescisão) de sentença de mérito transitada em julgado, que de alguma forma apresentou vício de.

(8) 8. tal ordem, que mantê-la apresenta inconveniente maior do que o da instabilidade gerada pela rescisão de um julgado. A rescisória somente pode ser ajuizada quando verificadas determinadas situações previamente eleitas pelo legislador. Assim, o Código de Processo Civil passou a elencar tais hipóteses, cuja ocorrência dá ensejo à rescindibilidade das sentenças transitadas em julgado, conforme se verifica no artigo 966 do CPC/15: Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. § 1o Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. § 2o Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente. § 3o A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão. § 4o Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. § 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. § 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica.. Tal medida é necessária, pois a sentença, como qualquer ato administrativo, é passível de vício que desvie sua finalidade, podendo ter resultados totalmente contrários inclusive à própria lei. A ação rescisória não se confunde com recurso, pois.

(9) 9. este serve para impugnar decisões ainda não transitadas em julgado. Nas palavras de Humberto Theodoro Junior (2002, p. 592): O recurso visa a evitar ou minimizar o risco de injustiça do julgamento único. Esgotada a possibilidade de impugnação recursal, a coisa julgada entra em cena para garantir a estabilidade das relações jurídicas, muito embora corra o risco de acobertar alguma injustiça latente no julgamento. Surge, por último, a ação rescisória que colima reparar a injustiça da sentença transitada em julgado, quando o seu grau de imperfeição é de tal grandeza que supere a necessidade de segurança tutelada pela res iudicata.. Ainda, segundo BRANDÃO (2005), o legislador numa tentativa vitoriosa de fazer com que a sentença rescindida fosse uma exceção evitou falar em vício, nulidade ou anulabilidade de sentença, para falar nos casos em que a sentença é suscetível de revogação em ação rescisória. No mesmo sentido, BRANDÃO (2005) afirma que a ação rescisória tem um prazo decadencial de dois anos para ser proposta, contados do trânsito em julgado da sentença/decisão que se busca rescindir. Assim, percebendo-se um vício, depois do prazo de interposição, ainda que seja um vício que cause grande comoção na sociedade, sendo contrário ao bom direito, a sentença/decisão, em tese, não poderá ser rescindida, tudo isso em nome da segurança jurídica. Os casos em que seria possível flexibilizar a coisa julgada não são pacíficos na doutrina. Parte entende que a decisão judicial não pode se cristalizar quando injusta ou inconstitucional. Nesses casos, não produziria coisa julgada material, podendo a decisão ser revisada a qualquer tempo. Porém, há outra parte da doutrina que entende que relativizar a coisa julgada com base na existência de injustiça, significa franquear o judiciário a uma cláusula geral de revisão da coisa julgada, que pode dar margem a interpretações das mais diversas, em prejuízo da segurança jurídica. Afirmam ainda, que também a relativização com base na inconstitucionalidade é problemática, pois a qualquer momento que a lei em que se fundou a decisão fosse reputada inconstitucional a decisão poderia ser desconstituída. Com isso, estar-se-ia atingindo frontalmente a garantia de segurança jurídica. Segundo DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012, p. 452-453):.

(10) 10. A coisa julgada material é atributo indispensável ao Estado Democrático de Direito e à efetividade do direito fundamental ao acesso ao Poder Judiciário. Em outras palavras, mais do que se garantir ao cidadão o acesso à justiça, deve lhe ser assegurada uma solução definitiva, imutável para sua quizila. Não se pode negar que a indiscutibilidade da coisa julgada pode perenizar, em alguns casos, situações indesejadas – com decisões injustas, ilegais, desafinadas com a realidade fática. E foi para abrandar esses riscos que se trouxe previsão de hipóteses em que se poderia desconstituí-la. Com isso, buscou-se harmonizar a garantia de segurança e estabilidade das situações jurídicas com a legalidade, justiça e coerência das decisões jurisdicionais.. Assim, toda e qualquer possibilidade da relativização da coisa julgada só pode ser efetivada/realizada verificando-se que não coloca em risco, não só o aludido princípio da segurança jurídica, mas como também não traria descrédito ao Poder Judiciário, muitas vezes reconhecido por sua morosidade em compor os litígios a ele dirigidos, em virtude da rediscussão de casos já julgados. Deve-se exigir um imperativo forte e imutável das decisões judiciais. Essa necessidade deriva da própria essência da origem do Direito e da própria necessidade de formação do Estado. Assim, é evidente que não havia um consenso doutrinário e jurisprudencial nas possibilidades de propositura da ação rescisória já na forma como era estabelecida no CPC/73, inclusive quando proposta para rescindir sentença baseada em lei declarada inconstitucional, sendo que isso ocorria em virtude da necessidade de garantir a segurança jurídica. Não bastasse tal situação, vem o legislador e inova no CPC/15, possibilitando que o prazo decadencial de dois anos da rescisória passe a contar do trânsito em julgado da decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou lei ou ato normativo inconstitucional. Tal dispositivo encontra-se no artigo 525, §15 deste novo Código e será demonstrado a seguir. 3. AÇÃO RESCISÓRIA BASEADA NOS ARTS. 525, § 15 E 535, § 8º DO NCPC Como dito anteriormente, qualquer possibilidade de relativização da coisa julgada deve ser vista com cautela, inclusive a baseada na inconstitucionalidade da lei ou ato normativo que ensejou a decisão, sob pena de afrontar o princípio constitucional da segurança jurídica. Dito isto, passa-se a analisar a inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil, Lei 13.105/2015, pois este diploma legal, em seu artigo 525, § 15, o qual encontra-se na parte do Código reservado para o cumprimento de sentença que.

(11) 11. reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, e que se repete no artigo 535, § 8º, mesmo procedimento, porém, contra a fazenda pública, possibilita que o prazo decadencial de dois anos para ajuizamento da ação rescisória passe a contar do trânsito em julgado da decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou a lei ou ato normativo inconstitucional, quando a decisão ocorrer após o trânsito em julgado da decisão exequenda, in verbis: “Se a decisão referida no parágrafo 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.”. Na realidade, está-se frente à revogação parcial da coisa julgada, pois a qualquer. momento. em. que. o. Supremo. Tribunal. Federal. decidir. pela. inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e tal lei servir (ou ter servido) de base para uma sentença, esta poderá ser objeto de ação rescisória, mesmo após os dois anos decadenciais que lhe davam a garantia constitucional de não ser mais alterada, uma vez que esses dois anos serão computados do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Para DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012), a qualidade específica da coisa julgada justifica-se no fato de a decisão jurisdicional precisar ser a última, aquela que prescreve a solução normativa para o caso concreto, evitando a perpetuação da insegurança jurídica. Ela é um limite ao exercício da função jurisdicional e, pois, uma garantia do cidadão. Se a decisão jurisdicional é a última e é inevitável, é preciso que haja um momento em que nem mesmo os órgãos jurisdicionais possam rever aquilo que foi decidido. Sendo que é a coisa julgada que impede o reexame da questão pela lei, por ato administrativo e, principalmente, pelo próprio Poder Judiciário. Deste modo, MARINONI (2016, p. 297) afirma que a disposição do Novo Código de Processo Civil que relativiza o prazo de dois anos para rescisória é inconstitucional: A norma do novo Código de Processo Civil merece muita atenção, pois ela é irremediavelmente inconstitucional. Note-se que, se o § 14 do art. 525 corretamente exclui a possibilidade de superveniente decisão de inconstitucionalidade obstaculizar a execução da sentença, o § 15 admite a sua invocação como sustentáculo de ação rescisória. Trata-se de duas normas claramente contraditórias, de modo que a segunda só pode ser.

(12) 12. compreendida como resultado de uma inserção descuidada, dessas que são feitas em uma lei de grande amplitude no apagar das luzes da discussão parlamentar.. A coisa julgada está ligada com a segurança jurídica, passando ao cidadão a segurança da estabilidade das decisões judiciais, não tendo estreita ligação com a justiça das decisões, podendo perenizar em alguns casos decisões indesejadas, até mesmo, porque quem defende que a justiça das decisões deve prevalecer sobre a coisa julgada, geralmente não define o que seja justiça, sendo que partem de uma noção de justiça, como senso comum captado por qualquer cidadão médio. Neste sentido, DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA (2012, p. 457), afirmam que o resultado do processo é mera expectativa, sendo que o processo nos garante certeza de meios e a incerteza do resultado. O direito líquido é pura incerteza. Afirmam que não há como saber qual será o resultado de um processo, embora possamos prever toda uma sequência de atos processuais que devem ser praticados. MARINONI (apud DIDIER JR, BRAGA e OLIVEIRA 2012, p. 453) mostra pouca disposição para teses que pregam a relativização da coisa julgada: Admitir que o Estado-Juiz errou no julgamento que se cristalizou, obviamente implica aceitar que o Estado-Juiz pode errar no segundo julgamento, quando a ideia de ‘relativizar’ a coisa julgada não traria qualquer benefício ou situação de Justiça. Enfim, quem garante que a segunda decisão será justa?. Este novo Código de Processo Civil na busca de tentar estabilizar e uniformizar a jurisprudência a qualquer custo criou em seu sistema um prazo de rescisória com termo inicial flutuante e que, definitivamente, coloca em risco a própria garantia constitucional da coisa julgada. Pois nesta nova sistemática, uma decisão de mérito pode agora ser rescindida em cinco anos, quinze anos ou até mais tempo após seu trânsito em julgado, bastando o advento de uma decisão do STF a reconhecer a inconstitucionalidade do ato normativo que lhe deu substrato. Fernando da Fonseca Gajardoni (2016) afirma que o sistema processual civil gravita entre os princípios da legalidade e da segurança jurídica (coisa julgada), motivo pelo qual admite, em circunstâncias excepcionais, o manejo da ação rescisória. Porém GAJARDONI (2016, p. 1) afirma ainda que:.

(13) 13. Permitir que jurisdicionado com posição jurídica consolidada possa, anos depois do trânsito em julgado, ser privado da estabilidade e segurança que ela propicia, abre espaço para a afirmação da própria aniquilação da garantia da coisa julgada pela novel situação de rescindibilidade dos artigos 525, § 15º e 535, § 8º, do CPC/2015.. Para MARINONI (2016) possibilitar a alegação de decisão inconstitucional posterior à formação da coisa julgada é uma exceção à sua intangibilidade, fazendo pouca importância se a alegação é para inibir a execução ou para fundamentar a ação rescisória. Ainda, segundo este autor, obstaculizar a executabilidade da sentença é negar o título executivo ou a coisa julgada que a sustenta. Salienta também, que a coisa julgada sempre foi considerada um fundamento lógico-jurídico da execução (definitiva). Da mesma forma, como ainda é mais evidente, uma ação rescisória com base em posterior declaração de inconstitucionalidade é uma macro exceção à intangibilidade da coisa julgada material. Para MARINONI (2016) só haveria racionalidade na admissão da alegação de posterior decisão de inconstitucionalidade apenas se isto não constituísse exceção à intangibilidade da coisa julgada material. MARINONI (2016, p. 297) afirma ainda que: Tanto a obstaculização da execução, quanto a rescindibilidade com base em ulterior decisão do STF obviamente constituem exceção à intangibilidade da coisa julgada material, exigiria-se outra resposta do legislador. Seria necessário argumentar, como única saída para a legitimação da norma do § 15, que a intangibilidade da coisa julgada se coloca apenas no plano processual, não estando garantida pela Constituição Federal.. Porém, tal justificativa para a redação dos artigos 525 e 535, parágrafos 15 e 8º, respectivamente, não se mostra viável, pois a coisa julgada está claramente garantida no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Sendo que nenhuma lei pode dar ao juiz poder para desconsiderar a coisa julgada, até porque nenhum juiz pode negar decisão de membro do Poder Judiciário. A intangibilidade da coisa julgada é essencial para a tutela da segurança jurídica, sem a qual não há Estado de Direito, ou melhor, sem a qual nenhuma pessoa pode se desenvolver e a economia não pode frutificar. MARINONI (2016, p. 298) estabelece que não se está garantindo a prevalência do constitucional sobre o inconstitucional:.

(14) 14. A alegação de decisão de inconstitucionalidade constituiria uma exceção constitucionalmente legítima à intangibilidade da coisa julgada, argumentando-se que a rescisão da coisa julgada fundada em lei posteriormente declarada inconstitucional seria uma afirmação da constitucionalidade sobre a inconstitucionalidade. É sempre importante advertir que a garantia da coisa julgada não resguarda os efeitos de uma lei inconstitucional, porém ressalva os efeitos de um juízo constitucional que aplicou uma lei posteriormente declarada inconstitucional pelo STF.. Para Jorge Amaury Maia Nunes e Guilherme Pupe da Nóbrega (2015, p. 1), deve prevalecer a segurança jurídica, pois afirmam que: Em defesa da segurança jurídica, entendemos, pois, que o termo inicial do prazo decadencial para aviamento da rescisória deve ser o do trânsito em julgado da decisão rescindenda, e não da decisão do STF. Proferida essa quando já exaurido o prazo para rescisória, conservar-se-á decisão inconstitucional. Isso porque o "risco político de haver sentença injusta ou inconstitucional no caso concreto parece ser menos grave do que o risco político de instaurar-se a insegurança geral com a relativização (‘rectius’: desconsideração) da coisa julgada”.. Deste modo, o disposto § 15 do art. 525 do Novo Código de Processo Civil deve ser visto com extrema cautela pelos operadores jurídicos, devendo sua inconstitucionalidade ser abordada especificamente e exaustivamente no STF, não devendo os juízes e tribunais aplicar tal dispositivo, até que o STF declare ou não sua inconstitucionalidade, ou até mesmo modele este prazo inicial flutuante estabelecido no novo Código Processual Civil. Uma interpretação alternativa para a redação dos artigos 525, § 15 e 535, § 8º do CPC/15 é defendida por Nelson Nery Junior e José Manoel de Arruda Alvim Netto. Para estes doutrinadores o novo texto legal possibilita, na verdade, um alargamento do prazo da ação rescisória. Em outras palavras, o prazo da ação rescisória somente poderia ser contado do trânsito em julgado da decisão do STF se esta foi proferida dentro do prazo decadencial de dois anos da pretensão rescisória da decisão exequenda. Segundo Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2015, p. 1374): Para que possa dar-se como constitucional, o dies a quo fixado no texto normativo sob comentário deve ser interpretado conforme a Constituição. Assim, somente pode ser iniciado o prazo da rescisória a partir do trânsito em julgado da decisão do STF, se ainda não tiver sido extinta a pretensão rescisória cujo prazo tenha-se iniciado do trânsito em julgado da decisão.

(15) 15. exequenda. Em outras palavras, o que o texto comentado autoriza é uma espécie de alargamento do prazo da rescisória que está em curso.. Deste modo, ter-se-ia mais dois anos contados do trânsito em julgado da decisão do STF que declarou inconstitucional lei ou ato normativo, se esta decisão for proferida dentro do prazo de dois anos do trânsito em julgado da decisão exequenda. Logo, teríamos um prazo máximo de quatro anos para rescisão de uma decisão transita em julgada exequenda. Com tal interpretação, acabar-se-ia com um prazo totalmente flutuante para a ação rescisória, pois ter um prazo flutuante é extremamente nocivo ao direito, em especial a segurança jurídica e a estabilidade das decisões, princípios que sustentam um Estado Democrático de Direito. 4. POSICIONAMENTO DO STF QUANTO A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA O posicionamento do STF quanto à relativização da coisa julgada não é unânime. Em 2011, o Anuário da Justiça da Revista Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) em pesquisa junto aos então Ministros do STF, buscava saber a opinião destes quanto à possibilidade de relativização da coisa julgada na fase executiva, quando a sentença exequenda se baseava em lei declarada inconstitucional pelo STF, sem necessidade de ajuizamento de Ação Rescisória. Naquela época, o posicionamento dos ministros era dividido, como se pode ver, segundo Alessandro Cristo (2011, p.1): Os Ministros Carlos Ayres Britto, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski estão entre os que aprovam a tese. "No Direito alemão existe uma previsão, que nós incorporamos de certa forma, de que, na execução, se possa alegar que o juiz se baseou em uma lei inconstitucional para lavrar a sentença", explica o ministro Gilmar Mendes. "Se já havia uma declaração de inconstitucionalidade da lei ou ela veio a ser declarada inconstitucional, por que esperar uma Ação Rescisória?", questiona. "A coisa julgada não pode ser encarada como um valor absoluto, pois às vezes deriva de decisões teratológicas ou encontra fundamento em falhas ou fraudes grosseiras, podendo sua implementação gerar graves prejuízos ao Erário público ou ao patrimônio jurídico de particulares", alerta o ministro Ricardo Lewandowski. Já o ministro Ayres Britto ressalva que a medida não deve ser regra. "Admito somente em casos excepcionalíssimos", afirma. Ele confirma que já há recursos na corte que devem resolver o embate em breve..

(16) 16. Opinião diametralmente oposta têm os ministros mais antigos da corte — Celso de Mello, decano, e Marco Aurélio —, e também o mais novo, Luiz Fux. "A coisa julgada não tem compromisso nem com a justiça nem com a verdade. Seu compromisso é com a pacificação, estabilidade e segurança sociais, em um dado momento em que é preciso ter a palavra definitiva", afirma Luiz Fux. Além disso, segundo ele, não há fundamento científico para a relativização. "A tese é absurda se aplicada no sentido da definição de direitos." Com a peculiar firmeza ao tratar de garantias constitucionais, o ministro Celso de Mello considera a coisa julgada garantia do direito fundamental à segurança jurídica. "Sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação, que é a Ação Rescisória", lembra, "ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que, em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional". Para o ministro Marco Aurélio, é preciso lembrar que é a Constituição Federal quem dá maior valor à segurança jurídica. "Se formos ao rol de garantias constitucionais, veremos que a lei não pode menosprezar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada", diz. Ele adverte ainda que a única medida para reverter o trânsito, que é a Ação Rescisória, tem prazo exíguo para ser ajuizada, de apenas dois anos. "E só é cabível a rescisória em determinadas hipóteses.". Tal questão foi pacificada no exame do RE 730.462 de São Paulo, no plenário do STF em 28/05/2015, em que foi decidido que a decisão do Supremo Tribunal Federal que declarar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de norma não produz a automática reforma ou rescisão de decisões anteriores transitadas em julgado. Para isso, o tribunal entendeu que será indispensável o ajuizamento de ação rescisória. Nota-se que tal discussão, não se refere propriamente ao discutido neste trabalho, pois, neste caso, discutia-se a possibilidade de sendo declarada inconstitucional lei, automaticamente refletir-se-ia nas execuções baseadas em tal lei. O STF entendeu que isto não ocorre, sendo necessário o ajuizamento da ação rescisória. Mas cabe ressaltar, que neste julgamento fica evidente que o STF demonstrou que as sentenças anteriores, estão abarcadas pelo ato jurídico perfeito, sendo que somente a ação rescisória pode desfazer a coisa julgada, e dentro dos prazos processuais estabelecidos em lei. Já na decisão do RE 590.809, em 22/10/2014, o Plenário do STF declarou a impossibilidade de ação rescisória baseada em ulterior precedente da sua lavra, exatamente sob o fundamento de que isso configuraria violação da garantia constitucional da coisa julgada material. Em relação a tal jugado, cita-se explanação de MARINONI (2016, p. 299):.

(17) 17. O precedente firmado neste recurso extraordinário revogou o entendimento que até então prevalecia no STF, declarando que decisão do STF, ulterior ao trânsito em julgado da decisão, não pode servir de fundamento para a ação rescisória. Declarou-se, ainda, que a Súmula 343 é aplicável em ação rescisória fundada em violação de norma constitucional, de modo que, quando há divergência interpretativa à época da prolação da decisão rescindenda, a ação rescisória não é viável. Decidiu-se, ademais, que a invocação de precedente constitucional ulterior à formação da coisa julgada, para o efeito de rescindi-la, é incompatível com a garantia constitucional da coisa julgada material. Ou seja, não só ressalvou-se a coisa julgada em face de precedente constitucional em sentido diverso, como ainda afirmou-se que a coisa julgada é garantida pela Constituição Federal. O recurso extraordinário foi provido por sete votos a dois. Os Ministros Marco Aurélio, Celso de Mello, Luiz Fux, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski adotaram o fundamento de que novo entendimento ou precedente do STF não pode constituir base para a rescisão de decisão que com ele confronta. A Min. Carmén Lúcia disse que a decisão rescindenda, por ter se pautado em entendimento que prevalecia no STF na época em que proferida, não poderia ser rescindida. O Min. Toffoli reconheceu a decadência da ação rescisória e não se manifestou sobre a questão da possibilidade da desconstituição de decisão com base em precedente ulterior do STF. Os Ministros Gilmar e Teori dissentiram do fundamento da maioria, reafirmando as suas antigas posições.. Neste sentido, a decisão mais recente se deu na apreciação da ADI nº 2.418, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, tendo por objeto dispositivo da Medida Provisória 2.102-27/2001: (a) o art. 4º, que acrescentou os Arts. 1º-B e 1º-C à Lei 9.494/97, (b) e o art. 10, que inseriu um parágrafo único ao art. 741 do Código de Processo Civil. Segundo o Relator Ministro Teori Zavascki (2016, p. 1), embora o CPC/73 tenha sido revogado recentemente pelo CPC/15, os dispositivos impugnados na ADI receberam tratamento semelhante no novo diploma legal, in verbis: A matéria nele disciplinada recebeu tratamento normativo semelhante, embora não igual, nos §§ 5º a 8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15 do art. 525 do novo CPC. A inconstitucionalidade – seja das leis ou atos normativos, bem como da interpretação que lhes tenha sido aplicada em juízo – manteve-se como hipótese autônoma de inexigibilidade de títulos judiciais, especificandose melhor, porém, (a) a natureza dos precedentes do Supremo Tribunal Federal elegíveis como paradigmas (acórdãos proferidos em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso; arts. 525, § 12; e 535, § 5º); (b) o momento em que eventual vício poderá ser invocável por impugnação (arts. 525, § 14º; e 535, § 7º, do CPC/15); e (c) a distinção havida entre esta causa de inexigibilidade e a hipótese de cabimento da ação rescisória (arts. 525, § 15; e 535, § 8º, do CPC/15). Apesar das alterações, não se configurou, no ponto, hipótese de prejuízo por perda de objeto. Isso porque as previsões do CPC/15 cuidaram apenas de “adjetivar” o instituto de inexigibilidade por atentado às decisões deste Supremo Tribunal Federal, mas não lhe comprometeram naquilo que ele tem de mais substancial, que é a capacidade de interferir na coercitividade de títulos judiciais. Ora, e é exatamente este o aspecto que é objeto de impugnação pelo requerente, ADI 2418/DF para quem o instituto frustra a garantia constitucional da coisa julgada..

(18) 18. Assim, foi mantida a ADI, não havendo perda de objeto, pois analisada sobre os atuais dispositivos do CPC. Neste sentido foi o voto do Ministro TEORI ZAVASCKI (2016, p. 10): O que se questiona, na presente ação, são os dispositivos Código de 1973. Todavia, dada a similitude de tratamento jurídico dispensado à matéria pelo Código atual (exceto no que se refere aos parágrafos 13 e 15 do art. 525, que aqui não estão em questão, já que tratam de matéria normativa inédita) as referências aos textos normativos questionados podem ser reproduzidas em relação aos correspondentes dispositivos do CPC de 2015, o mesmo podendo-se afirmar em relação aos fundamentos para justificar a sua validade ou invalidade.. Neste caso, e mais recente analisado pelo STF, foi considerado que a hipótese de rescisão de sentença baseada em norma declarada inconstitucional já existia, sendo que o Ministro Teori entendeu serem constitucionais o parágrafo único do art. 741 e o § 1º do art. 475-l do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos, do CPC/15 – parágrafos 5º do art. 535 e §§ 12 e 14 do art. 525. Afirmou ainda em seu voto, que a matéria é controvertida entre os doutrinadores, citando de um lado, os que simplesmente consideram tais dispositivos inconstitucionais por ofensa ao princípio da coisa julgada (v.g.: Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery), de outro lado, dando prevalência máxima ao princípio da supremacia da Constituição e, por isso mesmo, considerando insuscetível de execução qualquer sentença tida por inconstitucional, independentemente do modo como tal inconstitucionalidade se apresenta ou da existência de pronunciamento do STF a respeito, seja em controle difuso, seja em controle concentrado (v.g.: THEODORO JR., Humberto). Em seu voto o Ministro Teori Zavascki (2016, p. 14), reconhece a constitucionalidade dos dispositivos legais, afirmando que: A constitucionalidade do parágrafo único do art. 741 e do § 1º do art. 475-L do CPC/73 (semelhantes aos artigos 525, §§ 12 e 14, 535, § 5º do CPC/15) decorre do seu significado e da sua função. São preceitos normativos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição, vieram apenas agregar ao sistema processual um instrumento com eficácia rescisória de certas sentenças eivadas de especiais e qualificados vícios de inconstitucionalidade. Não se trata, portanto, de solução processual com a força ou com o desiderato de solucionar, por inteiro, todos os possíveis conflitos entre os princípios da supremacia da.

(19) 19. Constituição e o instituto da coisa julgada e muito menos para rescindir ou negar exequibilidade a todas as sentenças inconstitucionais.. Deste modo, foi reconhecida a constitucionalidade dos artigos 525, §§ 12 e 14, e 535, § 5º do CPC/15, mas não foi analisada especificamente a inovação do CPC/15 no 525, § 15 e 535, § 8º, pois não era objeto da ADI 2.418. Assim, como demonstrado, trata-se de matéria extremamente controvertida entre doutrinadores e juristas, devendo ser vista com cautela pelos operadores jurídicos. Ademais, deverá o STF ainda se manifestar expressamente sobre a constitucionalidade de tais dispositivos. E, mesmo que entendendo constitucional sua previsão, deverá o STF limitar em um prazo máximo o cabimento da rescisória baseada no art. 525, § 15 do CPC/15, ou modular na decisão de controle de constitucionalidade seu alcance. CONCLUSÃO Desenvolvido o tema escolhido, é possível concluir que a coisa julgada, junto com o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, são pilares do Estado Democrático de Direito, estando garantidos constitucionalmente, não podendo ser simplesmente desconsiderados pelos operadores jurídicos, em especial por nossos tribunais. A coisa julgada é o principal componente do princípio da segurança jurídica, sendo demonstrado que tem a função primordial de dar estabilidade às decisões jurídicas e, de certo modo, a todas as relações jurídicas, sem a qual nem a economia frutifica. Conclui-se que a rescindibilidade das decisões abarcadas pela autoridade da coisa julgada merece especial atenção, devendo suas possibilidades serem vistas com cautela, mesmo nas estritas possibilidades previstas no Código de Processo Civil, sob pena de afrontar diretamente o princípio constitucional da segurança jurídica. Estabeleceu-se que a única forma de se alterar a coisa julgada é por meio da ação rescisória, a qual é ação autônoma, pela qual se busca a desconstituição de.

(20) 20. decisão de mérito transitada em julgado, que de alguma forma apresentou vício de tal ordem, que apresenta inconveniente maior do que o da instabilidade do julgado, demonstrando-se, contudo, que as possibilidades de rescisão da coisa julgada não são unânimes entre doutrinadores e juristas. No meio desta situação existente, onde não havia posição unânime entre as que defendem uma maior relativização da coisa julgada e os que defendem sua imutabilidade rigorosamente, abordou-se a inovação trazida pelo Código de Processo Civil de 2015, que passou a possibilitar um prazo inicial flutuante para ajuizamento de ação rescisória, para rescindir sentença baseada em lei ou ato normativo posteriormente declarado inconstitucional pelo Superior Tribunal Federal. Juntaram-se decisões do Superior Tribunal Federal relativas ao tema, mostrando-se que as decisões/opiniões não são unânimes, mas que o órgão máximo de jurisdição brasileiro dá especial proteção ao instituto da coisa julgada, pois garantida constitucionalmente. Ademais, fica evidente que o Superior Tribunal Federal ainda não se manifestou expressamente sobre o disposto nos Artigos, 525, § 15 e 535, § 8º do CPC/15, lei 13.105/15. Assim, conclui-se, que a inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil nos artigos, 525, § 15 e 535, § 8º da forma que foi posta neste novo código, traz um enorme risco a estabilidade das decisões judiciais e ao próprio sistema judiciário Brasileiro, cabendo ao Superior Tribunal Federal declarar sua inconstitucionalidade, limitar em um prazo máximo o cabimento da rescisória baseada no art. 525, § 15 e art. 535, § 8º do CPC/15, ou modular na decisão de controle de constitucionalidade seu alcance. Tudo isso, para que se respeitem os princípios que sustentam nosso Estado Democrático de Direito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, Fabricio dos Reis. Coisa Julgada. São Paulo: MP Editora, 2005. CRISTO, Alessandro. Parte do STF admite relativização da coisa julgada. 2011. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-mar-29/tres-ministros-stf-admitemrelativizacao-coisa-julgada> Acessado em: 13/07/2016..

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