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Memórias do CELAZER : influências e contribuições para os estudos do lazer no Brasil

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

REGIANE CRISTINA GALANTE

MEMÓRIAS DO CELAZER: INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES

PARA OS ESTUDOS DO LAZER NO BRASIL

CAMPINAS 2018

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REGIANE CRISTINA GALANTE

MEMÓRIAS DO CELAZER: INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS DO LAZER NO BRASIL

Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Educação Física, na área de concentração Educação Física e Sociedade.

Orientadora: PROFA. DRA. SILVIA CRISTINA FRANCO AMARAL

CAMPINAS 2018

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA

PELA ALUNA REGIANE CRISTINA

GALANTE E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. SILVIA CRISTINA FRANCO AMARAL.

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Orientadora

Universidade Estadual de Campinas - Unicamp COMISSÃO EXAMINADORA

Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Universidade de São Paulo – EACH/USP

Universidade Estadual Paulista - UNESP

Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

A Ata da Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dedicatória

Ao meu pai, por nunca ter duvidado, e à minha mãe, que mesmo depois de partir deste plano esteve comigo todos os dias dizendo: Não desista!

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Agradecimentos

Agradeço a Deus pela vida e pelas oportunidades que tenho. Tudo o que conquistei foi por Suas mãos;

Agradeço ao Sesc São Paulo pelo investimento em meus estudos e pela confiança ao longo desses anos, especialmente e nominalmente ao Prof. Danilo, Joel e Maria Luiza, e também à Vilma pelo carinho e pelo respeito às minhas escolhas nesta reta final;

Agradeço aos colegas ex-funcionários do Sesc, que generosamente me concederam as entrevistas e compartilharam seus saberes, lembranças, agruras e emoções há tempos guardadas na memória, e em especial ao Battistelli, que mesmo com a atribulação da agenda da Assessoria Técnica de Planejamento me recebeu e me concedeu também seu depoimento;

Agradeço aos colegas do Sesc Memórias, principalmente ao David, que mergulhou comigo na busca pelos documentos e informações sobre o CELAZER;

Agradeço aos colegas de GDFE e do Sesc São Carlos, por compreenderem minhas ausências e pacientemente respeitarem minhas impaciências;

Agradeço também àqueles que me disseram: Você está perdendo seu tempo! Ou mesmo: Você não vai conseguir... O desafio de contrariá-los surtiu o mesmo efeito do incentivo positivo;

Agradeço aos muitos amigos que tive o prazer de conhecer no Sesc, e que hoje fazem parte da minha vida, dentro e fora do Sesc. Sem o apoio e incentivo de vocês nada disso teria ido adiante;

Agradeço aos melhores amigos e amigas que uma pessoa pode ter: Nane, Dani, Vivi Fausto, Fer, Dri, Ale Galvão, Vivi Paes, Cacá, Carolaine, Akira, Carlozandré, Maicoll, Vanessão, Carol, Pierin, Ivani, Itapema, Vagner, Gabriel, Céu, Cristine, Talita, Gláucia, Bel, Luizão, Danielzinho, Luciano, Everton, Artur, Diego, Ro Prando, Victor Lage, Alex, Glauber, Maurício, Celso, Luiz e ao casal Cris e Lê. Vocês aturaram meus piores momentos durante o processo com o mesmo amor de todos os bons momentos que sempre passamos juntos;

Agradeço à Lis, minha terapeuta-amiga, que esteve ali semanalmente para me apoiar no percurso. Sem você e o trabalho que realizamos não teria chegado ao final;

Agradeço aos meus compadres, Rose e Cris, e Ari e Didi, e aos meus afilhados Giovanna, Pedro e Amelie, por me perdoarem por ter sido uma madrinha ausente nesses últimos anos;

Agradeço à Cristina e à Olívia, pelos bed&breakfast sempre carinhosos em Campinas;

Plagiando um amigo, agradeço aos mestres, de vida ou de profissão: a ele próprio, Henrique, e ao Magnani, Simone Rechia, Glauco, Mário Fernandes, Zé Henrique, Celina Dias, Cae, Abel, Fábio d’Ângelo, Alcides Scaglia, Larissa, Robertão, Jorge Bento, Jocimar, Clerton, Hermes, Bebel, Helder, Chris, Bramante e tantos outros. Vocês são muito mais do que minhas referências bibliográficas;

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Agradeço imensamente aos amigos do GEEP3L, novos e antigos, por todos os debates, leituras, almoços, cafés, desabafos e aprendizados. Especialmente Olívia, Dirceu, Gisela, Ale, Carlos, Simone, Sandro, Paganella e, sem dúvida, Marília, Rafa e Bruno pelo auxílio imprescindível na reta final. Queria ter passado mais tempo com vocês;

Agradeço aos professores e funcionários da FEF/Unicamp, pelos auxílios, contribuições e orientações durante o processo do doutorado, principalmente à Simone;

Um agradecimento especial aos membros da Banca Examinadora: Juliana, Edivaldo, Luiz, Victor e Denise, não só por avaliarem formalmente o trabalho na Qualificação e na Defesa, mas por me apoiarem e orientarem com generosidade e compreensão, e aos suplentes Olívia e Ricardo Uvinha que, além do incentivo, me deram suporte e auxiliaram na indicação de leituras;

Agradeço à Silvia, minha orientadora, pela paciência com meu pouco tempo, por todos os ensinamentos, pelas orientações, pelo encantamento inicial e pelos puxões de orelha no final. Te admiro, te respeito e te desejo tudo de melhor que a vida pode oferecer;

Agradeço à minha família, a de perto, pelo apoio de perto, e a de longe, pela compreensão por estar longe, e especialmente ao meu irmão e minha cunhada, pelo acolhimento amoroso e por me deixarem compartilhar da companhia da criaturinha mais doce e esperta que esse mundo já conheceu, minha sobrinha Isis.

Por fim, agradeço à Ju Frâncica, minha amiga, meio-filha-meio-mãe. Leitora, interlocutora, incentivadora incondicional. Não tenho palavras pra dizer o quanto sou grata a você. Por tudo.

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RESUMO

Criado em 1946, o Serviço Social do Comércio – Sesc – tem como principal objetivo a promoção do bem-estar social, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento cultural dos trabalhadores no comércio e serviços e suas famílias. No início dos anos 1970, as Diretrizes Gerais de Ação do Sesc incorporam o lazer oficialmente na política institucional, tornando-o um campo de ação prioritário em todo o território nacional. Com isso, no intuito de sistematizar e fundamentar teoricamente as ações, além de ampliar a formação e a capacitação técnica dos funcionários que atuavam com os projetos de lazer nas Unidades Móveis de Orientação Social – UNIMOS, no ano de 1978 o Departamento Regional do Sesc em São Paulo criou o Centro de Estudos do Lazer – CELAZER. Inicialmente formado por quatro funcionários que realizavam estudos e pesquisas, os trabalhos do Centro foram orientados principalmente pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier. Favorável às ideias de Dumazedier, o Sesc assumiu o lazer enquanto vivência ligada ao tempo livre e passou a investir nos estudos e pesquisas sobre o caráter sócio-educativo do lazer. Assim, a partir de dados preliminares encontrados na literatura, estabeleceu-se como pressuposto inicial para esta Tese que os estudos do lazer no Brasil sofreram grande influência do pensamento de Dumazedier justamente devido à atuação do Sesc e do CELAZER. Definiu-se como problema norteador da pesquisa a compreensão do papel do CELAZER e suas contribuições para os estudos do lazer no Brasil, a partir das memórias dos principais pesquisadores deste Centro no período de seu funcionamento (1978-1983), assim como de alguns colaboradores que, mesmo não fazendo parte do CELAZER diretamente, igualmente contribuíram com as pesquisas e a produção teórica sobre lazer. De caráter qualitativo, a pesquisa explorou o acervo do Sesc Memórias – o Centro de Memória do Sesc São Paulo – e todo o material produzido pelo CELAZER, além dos documentos que comprovam sua criação e atuação, como Resoluções, Ordens de Serviço e Relatórios Anuais, a fim de compreender o contexto no qual o Centro foi criado e também seu funcionamento. Além disso, com inspiração na História Oral e nos Estudos da Memória, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete ex-funcionários do Sesc e um superintendente ainda em atividade, todos participantes do CELAZER, direta ou indiretamente, para identificar suas atuações e contribuições na produção de conhecimento sobre lazer no período. Após a leitura dos discursos e a identificação de categorias temáticas, foi elaborada a narrativa da constituição, atuação e produção de conhecimento do CELAZER, assim como a presença e a relação deste grupo de pesquisadores com seu orientador, Joffre Dumazedier. Ainda, foram identificadas as influências e contribuições do CELAZER para os estudos do lazer no Brasil, destacando-se a publicação dos livros da Biblioteca Científica do Sesc – série Lazer e o periódico Cadernos de Lazer, materiais que apoiaram as ações da instituição e que também circularam no meio acadêmico. A promoção de cursos, congressos, seminários e pesquisas sobre a temática foram apontadas como atividades relevantes do CELAZER, e envolveram tanto os funcionários da instituição quanto interessados de outras instituições e Universidades, influenciando não somente as ações do Sesc como também a construção de um pensamento sobre o Lazer no Brasil, pautado principalmente nos estudos de Joffre Dumazedier.

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ABSTRACT

Created in 1946, the Social Service of Commerce - Sesc - has as main objective the promotion of social welfare, the improvement of the quality of life and the cultural development of workers in commerce and services and their families. In the early 1970s, Sesc's General Guidelines of Action officially incorporated leisure into institutional politics, making it a priority field of action throughout the national territory. Therefore, in order to systematize and theoretically base the actions, in addition to expanding the technical training of the employees that worked with the leisure projects in the Social Orientation Mobile Units - UNIMOS, in 1978 the Sesc Regional Department in São Paulo created the Leisure Studies Center - CELAZER. Initially made up of four staff members carrying out studies and research, the Center's work was mainly led by the French sociologist Joffre Dumazedier. Favorable by Dumazedier's ideas, Sesc took up leisure as part of leisure time and began to invest in studies and research on the socio-educational character of leisure. Thus, from preliminary data found in the literature, it was established as an initial assumption for this Thesis that leisure studies in Brazil received a great influence of the thought of Dumazedier precisely due to the Sesc actions and CELAZER. It was defined as research problem the understanding of the role of CELAZER and its contributions to leisure studies in Brazil, from the memories of the main researchers of this Center during the period of its operation (1978-1983), as well as some collaborators which, even though had not worked of CELAZER directly, also contributed to research and theoretical production on leisure. Of a qualitative approach, the research explored the archive of Sesc Memórias - the Memory Center of Sesc São Paulo - and all the material produced by CELAZER, besides the documents that prove its creation and performance, such as Resolutions, Service Orders and Annual Reports, in order to understand the context in which the Center was created and also its operation. In addition, with inspiration in Oral History and Memory Studies, semi-structured interviews were conducted with seven former Sesc employees and one superintendent still active, all CELAZER participants, directly or indirectly, to identify their actions and contributions in the production of knowledge about leisure in the period. After reading the speeches and identifying thematic categories, the narrative of CELAZER's constitution, actuation and production of knowledge was elaborated, as well as the presence and the relationship of this group of researchers with its advisor, Joffre Dumazedier. Also, the influences and contributions of CELAZER for leisure studies in Brazil were identified, notably the publication of the books of the Scientific Library of Sesc - Lazer series and the journal Cadernos de Lazer, materials that supported the actions of the institution and also circulated in academic area. The promotion of courses, congresses, seminars and research on the subject were pointed out as relevant activities of the CELAZER, and involved both Sesc's employees and interested in other institutions and universities, influencing not only the actions of Sesc but also the construction of a thought on Leisure in Brazil, based mainly on the studies of Joffre Dumazedier.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...11

INTRODUÇÃO...14

1 - PERCURSO METODOLÓGICO...28

1.1- Identificando os entrevistados...35

2 - O CELAZER: Constituição, funcionamento e produção de conhecimento...47

3 - DUMAZEDIER NO CELAZER: presença, método e legado...73

CONSIDERAÇÕES FINAIS:Influências e Contribuições do CELAZER para os estudos do lazer no Brasil...82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...87

APÊNDICES...92

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APRESENTAÇÃO

Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – em 1997, o interesse em pesquisar a temática do lazer se deu com o início da minha trajetória profissional no Serviço Social do Comércio – Sesc – na cidade de São Carlos/SP, em 1998, quando ingressei na instituição como Instrutora de Atividades no Programa Curumim1.

Durante dois anos ministrei atividades de expressão corporal, jogos e brincadeiras para crianças de sete a doze anos. Neste período, face à função que exercia, interessei-me pela primeira vez pelos Estudos do Lazer2. Buscando, assim, conteúdos que fundamentassem minha prática pedagógica, cursei a Especialização em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, concluindo-a no ano 2000, cujo trabalho final consistiu numa pesquisa bibliográfica que versava sobre O Lazer e a Corporeidade no Sesc: tempo/espaço de desenvolvimento integral (GALANTE, 2000).

Alguns anos depois, em 2004, já ocupando o cargo de Monitor de Esportes3 em outra Unidade do Sesc, na cidade de Araraquara/SP, e atuando na coordenação do Programa Curumim na nova Unidade, ingressei no curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação da UFSCar, durante o qual procurei desvelar as relações entre o Lazer e a Educação, mais precisamente os processos de Educação pelo Lazer que ocorriam no Programa Curumim. Como resultado do curso de Mestrado, a dissertação Educação pelo Lazer: a perspectiva do Programa Curumim do Sesc Araraquara (GALANTE, 2006) foi defendida no ano de 2006, momento no qual já não mais coordenava o referido Programa, e sim ocupava o cargo de Coordenadora de Programação, sendo responsável pela gestão da equipe de programação do Sesc Araraquara, atuando na elaboração e execução dos projetos culturais e de lazer.

1

O Programa Curumim foi criado no Sesc São Paulo em 1986, e visa ao desenvolvimento integral de crianças entre 7 e 12 anos por meio da atuação de equipes multidisciplinares que ministram atividades esportivas e corporais, artes plásticas, música, dança, teatro, educação ambiental, cultura digital, literatura etc., sempre priorizando o caráter lúdico e formativo dessas práticas. Ser Instrutor de Atividades no Programa Curumim significa mediar essas atividades e atuar diretamente junto às crianças do Programa.

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O termo estudos do lazer é empregado e compreendido assim como em Bickel (2013), “para designar a produção de conhecimentos científicos que têm o lazer como objeto de estudo” (BICKEL 2013, p.10).

3 O cargo de Monitor de Esportes é o primeiro cargo de gestão no organograma institucional, que contempla somente profissionais da área da Educação Física, responsáveis por programar atividades e gerir projetos, pessoas e programas nas áreas de Desenvolvimento Físico-esportivo e Programas Sócio-educativos.

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No início de 2009 fui convidada a assumir o cargo de Assistente Técnico na Gerência de Desenvolvimento Físico-esportivo, na Administração Central do Sesc São Paulo, localizada na capital paulista, cuja função me proporcionou gerenciar projetos de esporte e lazer em todo o estado de São Paulo, nas mais de trinta unidades operacionais.

Durante esses anos trabalhando na Administração Central do Sesc em São Paulo, aproximei-me de pessoas que trabalham há trinta, quarenta anos no Sesc e que, por saberem do meu interesse nos estudos do lazer, frequentemente me relatavam passagens da ação da instituição neste campo, principalmente no período compreendido entre os anos de 1960 e 1970, com o trabalho das Unidades Móveis de Orientação Social – as UNIMOS, e no final de 1970 e início dos anos 1980 com a criação do Centro de Estudos do Lazer do Sesc São Paulo – o CELAZER.

Nesse sentido, provocada pelo contato com essas pessoas, e instigada pela possibilidade de registrar um momento da história institucional cujo investimento nos estudos e pesquisas sobre a temática do lazer era algo muito presente ou, mais que isso, definia em muitos pontos as ações não somente da entidade, mas de outras instituições neste campo, principalmente por meio do trabalho do CELAZER, busquei mais uma vez aprofundar meus conhecimentos sobre Lazer.

Desta forma, e pressupondo que os estudos do lazer no Brasil receberam grande influência da produção gerada pelo Sesc e, sobretudo, pelo CELAZER, e motivada pelo desejo de aprofundamento teórico sobre a questão, ingressei em 2013 no curso de Doutorado da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, durante o qual pude me aproximar de outras produções bibliográficas e estudiosos do lazer externos ao Sesc, que relatam em parte os acontecimentos que envolvem a participação da instituição nesta profícua fase dos estudos do lazer no Brasil, principalmente por meio do investimento na contratação da consultoria do sociólogo francês Joffre Dumazedier e na difusão do pensamento dele por meio das publicações.

Procurei, então, os documentos institucionais do período, atualmente organizados no Centro de Memória do Sesc São Paulo – o Sesc Memórias, e tive acesso a uma série de Atas de reuniões, Ordens de Serviço e Relatórios internos, que apresentam informações sobre a organização do Sesc e suas principais ações desde sua criação, em 1946. Tive acesso, ainda, às publicações do CELAZER – livros e periódicos –, de autoria de funcionários e consultores externos, além do próprio Dumazedier, e também estudos e registros de parte das ações do Departamento Regional de São Paulo no campo do lazer nas décadas de 1960, 1970 e 1980,

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que reforçaram as impressões iniciais sobre o lazer ocupar um lugar de destaque na agenda institucional, principalmente no estado de São Paulo, bem como as impressões de a própria Instituição ter influenciado a conformação dos estudos do lazer no Brasil.

Nos anos que corresponderam ao Doutorado permaneci no cargo de Assistente Técnico na Gerência de Desenvolvimento Físico-esportivo, exceto nesse último ano de 2017, quando fui transferida novamente para a cidade de São Carlos, agora desempenhando a função de Gerente Adjunto na mesma Unidade em que comecei minha carreira no Sesc.

Ressalto, contudo, dois pontos a meu ver fundamentais: o primeiro, enquanto funcionária do Sesc São Paulo, meu objetivo inicial era o de me aprofundar nos estudos do lazer e suprir uma dada lacuna nos registros da história institucional, de certa forma determinante para a ação do Sesc ainda hoje. Por outro lado, como segundo ponto, mas não menos importante, reitero que não pretendo que este trabalho limite-se apenas a relatar a história da instituição, sem a interlocução com os estudos acadêmicos do lazer. Ao contrário, o que pretendo é apresentar, de forma crítica, o que o Sesc e, mais precisamente o Sesc São Paulo – por meio do CELAZER –, teve como contribuição aos estudos e às ações no campo do lazer no Brasil, principalmente no período compreendido entre as décadas de 1970 e 1980, visando assim contribuir também para este campo de conhecimento.

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INTRODUÇÃO

Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais (DUARTE, 2002, p.140)

São recorrentes no Brasil as pesquisas sobre lazer que buscam situar cronologicamente seu surgimento, ou ainda conceituar tal fenômeno e analisar os significados por ele incorporados ao longo do tempo (SANT’ANNA, 1994; WERNECK, 2000; GOMES, C. L. e MELO, 2003; PEIXOTO, 2007; MARCASSA, 2009, BRETAS, 2010).

Ainda que não haja concordância entre os principais estudiosos da temática sobre o surgimento do termo lazer no cenário nacional, sobre seu conceito ou mesmo sobre sua relação ou delimitação a partir de outro fenômeno – o trabalho (CARVALHO e VARGAS, 2010; GALANTE, 2006; GOMES, C. L, 2003; MARCASSA, 2002), é consenso entre os pesquisadores da área que os anos 1970 correspondem a dos momentos mais importantes para a sistematização dos estudos do lazer no Brasil (SANT’ANNA, 1994; WERNECK, 2000; GOMES, C. L. e MELO, 2003; PEIXOTO, 2007; MARCASSA, 2009), não somente pela quantidade de publicações lançadas sobre o tema, mas também pelas crescentes discussões sobre “o (bom) uso das horas de lazer” (WERNECK, 2003, p.119), sobretudo considerando o contexto político e social no qual estava o país4.

Este estudo, no entanto, focaliza menos a questão do conceito, e mais a compreensão da constituição do campo de estudos do lazer no Brasil a partir das contribuições do Centro de Estudos do Lazer do Sesc São Paulo – CELAZER que, no período de 1978 a 1983, fortemente influenciado pelo pensamento do sociólogo francês Joffre Dumazedier, atuou efetivamente na produção e na disseminação do conhecimento sobre a temática no país, por meio de suas publicações, pela organização de cursos e seminários e pela realização de pesquisas sobre o tema. Contudo, não se estabeleceu como foco de pesquisa a análise da referida produção e sim a compreensão do papel do CELAZER e suas

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Refiro-me ao período da Ditadura Civil-Militar, regime político sob o qual o Brasil encontrava-se na época (1964-1985), e que será comentado e aprofundado mais adiante. A respeito da importância do período para os estudos do lazer no Brasil, Sant’Anna (1994) comenta que, entre os anos 1969 e 1979, houve um aumento significativo do número de pesquisas, debates e análises sobre os usos do tempo livre. Porém, no mesmo período houve um aumento considerável da jornada de trabalho, o que reduziu o tempo livre da maioria dos trabalhadores brasileiros, submetidos ainda a baixos salários e tendo que usar o pouco tempo livre que lhes restava para completar os vencimentos, o que a autora considera um contrassenso.

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contribuições para os estudos do lazer no Brasil, a partir da narrativa dos sujeitos que, direta ou indiretamente, fizeram parte do CELAZER.

Para tanto, e para situar historicamente o CELAZER no próprio Sesc São Paulo, faz-se necessário retornar a meados dos anos 1940, mais precisamente ao ano de 1946, quando foi criado o Serviço Social do Comércio – Sesc, “com a finalidade de planejar e executar medidas que contribuam para o bem estar e melhoria do padrão de vida dos comerciários e suas famílias e, bem assim, para o aperfeiçoamento moral e cívico da coletividade” (SESC-SP, 1996, p.12).

Naquele momento, o Brasil passava por um período de grande crescimento industrial estimulado, sobretudo, pelo regime do Estado Novo5, também marcado pelo aumento das preocupações do Estado com a política social (BICKEL, 2013). Com o êxodo rural causado pela esperança de vagas no mercado de trabalho devido à instalação das grandes indústrias nas cidades, surgem sérios problemas decorrentes da falta de condições de acolher a todos: pouca disponibilidade de moradias, falta de saneamento básico, ausência de escolas e transporte público, atendimento precário à saúde e dificuldades mesmo para com “o tão sonhado emprego” (ARANHA, 1989, p.252). Além disso, com a aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, em 1943, ampliavam-se os movimentos operários e sindicais e o controle do Estado sobre a relação capital e trabalho (JAMBEIRO et al, 2004).

Nesse contexto social e econômico, eram latentes as tensões entre empregados e empregadores. Todo esse cenário fez com que a classe empresarial se mobilizasse a fim de definir qual seria sua atuação frente ao quadro que se apresentava e colocava em risco o tão esperado desenvolvimento nacional estimulado pelo Estado. Assim, foi realizada em maio de 1945 a primeira Conferência das Classes Produtoras – I Conclap, na cidade de Teresópolis/RJ, cujos debates resultaram numa carta de intenções do empresariado, a chamada Carta da Paz Social, que trazia “recomendações propostas pelos empresários e definiam basicamente uma postura de justiça social, capaz de assegurar aos trabalhadores melhores condições de vida” (DIAS, 2013, p.32).

É um documento altamente expressivo do espírito de solidariedade e do realismo amadurecido dos homens de empresa brasileiros desta geração. Ela deverá contribuir

5

É chamado de Estado Novo o período ditatorial que vai de 1937 a 1945, quando Getúlio Vargas, apoiado principalmente pelos militares, tomou o poder e permaneceu como Presidente da República, instaurando uma nova Constituição Federal (Constituição de 1937). O Estado Novo marcou a vida política e administrativa brasileiras, com a supressão de direitos políticos e o fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais. Contudo, no período também ocorreu “o crescimento da urbanização, o desenvolvimento industrial e o florescimento de uma produção cultural nacional” (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2011, p.137).

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para harmonizar e pacificar o capital e o trabalho em nosso país, em um plano superior de entendimento recíproco. Com ela, nos apresentamos ante os empregados, convidando-os a fundar, sobre base sólida, uma política de mútua compreensão e de respeito recíproco6 (SESC, 2012, p.9).

Levando em conta as intenções colocadas na Carta da Paz Social, em 1946, o então Presidente da República Eurico Gaspar Dutra assinou o decreto lei nº 9853, cujo artigo 1º atribuía à Confederação Nacional do Comércio, presidida por João Daudt D’Oliveira, a tarefa de “criar o Serviço Social do Comércio – Sesc” (SESC-SP, 1996, p.12), marcando definitivamente uma nova forma de promoção, pelas classes patronais, da assistência social e da qualificação dos trabalhadores.

Desde a sua criação, a finalidade do Sesc eram o planejamento e a execução de ações que contribuíssem para o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores no comércio de bens, serviços e turismo, de suas famílias e da comunidade em geral. Em São Paulo, o primeiro Conselho Regional, assessorado por um grupo de consultores de diversos segmentos da sociedade – líderes sindicais, médicos, engenheiros etc. – estabeleceu as atividades prioritárias: os esforços institucionais se voltariam à assistência ao comerciário e sua família, principalmente nos setores médico, odontológico, sanitário e hospitalar, por meio da oferta desses serviços a custos reduzidos.

Como entidade de assistência social, o Sesc desenvolvia um trabalho complementar àquele das agências governamentais no campo da prestação de serviços sociais, em especial nas áreas da saúde e alimentação. Assim, foram implantadas as primeiras unidades na capital paulista, especializadas neste tipo de atuação: o Restaurante do Comerciário, na rua Riachuelo, que fornecia alimentação para os comerciários do centro a preços reduzidos, e a Clínica Central de Serviços Especializados, na rua Florêncio de Abreu, ambos inaugurados em 1947.

O leque de serviços era amplo, assim como os anseios da classe trabalhadora no comércio. Desta forma, já nos primeiros anos, a ação da entidade foi-se diversificando e passou a abranger áreas de interesses mais amplos, inclusive com a instalação dos primeiros Centros Sociais7, casas muitas vezes modestas, mas localizadas estrategicamente em bairros

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Excerto do discurso pronunciado por João Daut d’Oliveira, por ocasião da posse da diretoria da Confederação Nacional do Comércio, em janeiro de 1946, no qual se refere à Carta da Paz Social (SESC-DN, 2012, p.9).

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Os Centros Sociais eram os espaços/imóveis que o Sesc instalava, para se tornarem locais “físicos” de referência para os trabalhadores no comércio, nos quais era possível se cadastrar na entidade para usufruir dos serviços prestados, tais como reservar uma hospedagem na Colônia de Férias em Bertioga, ou se inscrever e participar de algum curso ou oficina, além de se tornarem espaços de convivência e de encontro de grupos diversificados.

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importantes da capital paulista, como Tatuapé, Bela Vista, Santana e Água Branca, e também em algumas cidades do interior, como Campinas e do litoral, como Santos (SESC-SP, 2013). Nos anos 1950, o Sesc já desenvolvia ações em vários estados, principalmente por meio da instalação das Colônias de Férias voltadas ao descanso do trabalhador. Foram instaladas colônias em Bertioga/SP, Caucaia/CE, Petrópolis e Macaé/RJ, Salvador/BA, Belo Horizonte/MG, Matinhos/PR e Garanhuns/PE (SESC-DN, 1972).

O período de expansão do trabalho do Sesc também corresponde a um momento de franco desenvolvimento para o país, principalmente entre os anos de 1955 e 1960, no governo Juscelino Kubitscheck, cujo Programa de Metas foi um projeto de dotação de infraestrutura básica para o país, ou seja, de grande industrialização, modificando os rumos da economia brasileira no contexto internacional.

Neste mesmo período, nos Centros Sociais da capital paulista, além dos trabalhos que inicialmente eram voltados ao atendimento das necessidades na área de saúde, aconteciam cursos de inglês, português, corte e costura e balé infantil e, nos anos que se seguiram, nasceram grupos de teatro, música, dança, cinema, fotografia, artes plásticas e os grêmios e clubes de funcionários de empresas comerciais (GALANTE, 2006; SESC-SP, 2013).

Esse processo levou a reflexões teóricas e técnicas quanto ao tipo de serviço social a ser desenvolvido pela entidade, resultando em propostas de diversificação e ampliação da ação institucional nas cidades nas quais não havia um Centro Social instalado. Assim, sob a perspectiva de disseminar o trabalho e a missão da instituição no interior do estado, o Sesc São Paulo inaugura seu trabalho de Ação Comunitária com as Unidades Móveis de Orientação Social, as UNIMOS, nos anos 1960.

Figura 1: Veraneio da UNIMOS – Unidade Móvel de Orientação Social

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Organizada em um furgão/veraneio, com dois ou três Orientadores Sociais8, alguns materiais esportivos, máquina de escrever, projetor de filmes 16mm, aparelho de som/vitrola e outros equipamentos, as UNIMOS instalavam-se em praças, parques e até mesmo em salões paroquiais e, nestes espaços, eram realizadas atividades de lazer e recreação para a comunidade, incluindo a organização de torneios esportivos, jogos de mesa como xadrez e carteado, exibições de cinema, concursos de beleza, palestras, oficinas de artes manuais etc., além da mobilização de lideranças locais e de voluntários para darem continuidade aos trabalhos por conta própria (DIAS, 2013; GALANTE, 2006).

Um desses orientadores era o sociólogo Renato Antonio Quadros de Souza Requixa9, que havia sido contratado em 1953 para atuar no Centro Social Florêncio de Abreu e, posteriormente, passou a compor a equipe das UNIMOS nos anos 1960

Eu estava assim muito entusiasmado com o Direito, e comecei a trabalhar no Serviço Social do Comércio, o Sesc, quando então comecei a me envolver com a área de recreação. (...) foi um trabalho que nós até chamávamos de ação comunitária. As pessoas eram interessadas em assumir certos problemas que tinham na comunidade, ativados por nós, os orientadores sociais. Faziam com que as próprias lideranças públicas que surgiam, elas tomassem consciência dos problemas, às vezes até problemas menores, que elas próprias poderiam solucionar (Informação verbal)10.

Nas incursões das UNIMOS pelo estado de São Paulo, as intervenções nas cidades eram realizadas em parceria com órgãos públicos, como prefeituras ou igrejas, e sempre com a apresentação do Sindicato do Comércio Varejista11 local

(...) fomos a cidades médias, depois fomos a cidades menores, e sempre marcado pela apresentação do presidente do sindicato local. O Sindicato do Comércio Varejista local. Então esse presidente de sindicato nos abria as portas da cidade. Então aí não, eles nos tranquilizavam, nos apoiavam e a gente desenvolvia trabalhos de educação física, também de artes e estudos sociais (Informação verbal)12.

No período de atuação das UNIMOS – que compreende as décadas de 1960 e 1970 –, a instituição assume fortemente o lazer como possibilidade de trabalho social e amplia

8

Orientador Social era o nome do cargo no qual os profissionais eram contratados pelo Sesc para ministrar as atividades e fazer a interlocução com a comunidade, fosse num Centro Social ou mesmo nas UNIMOS. Eram, em geral, cientistas sociais, assistentes sociais, professores de educação física ou pedagogos.

9 Renato Requixa infelizmente faleceu no decorrer desta pesquisa. Embora houvesse a intenção inicial de entrevistá-lo, fui desencorajada pelo seu cuidador e por amigos próximos, pois já se encontrava enfermo quando iniciei as incursões no campo. 10

Entrevista concedida por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.4.

11 Os Sindicatos do Comércio Varejista são os órgãos que mantêm e administram o Sesc. Os presidentes dos Sindicatos são eleitos pelos seus pares para a função de Conselheiros no Conselho Regional de cada estado.

12

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seu quadro de orientadores, mas ainda não demonstra preocupação em relação ao aprimoramento teórico-conceitual sobre o lazer em si. Além disso, esse mesmo período de intervenção das UNIMOS nas cidades corresponde a um período importante na conjuntura política brasileira

Esse grupo de orientadores sociais que foi prestigiado. Era muito importante na época, então trabalhou muito: trabalhou assim, com vontade para a redemocratização do país, com Juscelino Kubitscheck e essas coisas todas. O PSB, que era o grande partido na época, o presidente, ele era amigo do Juscelino, então, foi uma época muito gostosa, muito bonita, e depois surgiu a famosa revolução de (19)64 (Informação verbal)13.

A Revolução a que se refere Renato Requixa foi o Golpe Civil-Militar de 1964. Conforme aponta Ghiraldelli Junior (2006), falava-se em Revolução, mas não se tratou de “uma revolução propriamente dita e, sim, de golpe” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2006, p.105), momento da história nacional marcado pela repressão, pela censura, pela perda do poder de participação e crítica da população, e ainda por repressões violentas a qualquer oposição ao regime.

De acordo com Laniado (2014), o regime militar criou “uma política regressiva e essencialmente não democrática” (LANIADO, 2014, p.37). Por meio da reestruturação institucional e da ordem jurídica, o autoritarismo do Estado e a concentração do poder nas mãos das Forças Armadas ocasionaram o enfraquecimento da participação civil nas diretrizes econômicas e políticas brasileiras.

O período ditatorial iniciado em 1964 durou vinte e um anos, e serviu de palco para o revezamento de cinco generais na Presidência da República. Além disso, a política econômica continuou optando pelo aproveitamento do capital estrangeiro (GHIRALDELLI JUNIOR, 2006), e gerou um modelo que concentrava a renda numa pequena parcela da população e submetia a maior parte dos trabalhadores ao arrocho salarial14. A abertura ao capital internacional, a instalação de multinacionais e o grande desenvolvimento industrial marcaram esse período, conhecido como Milagre Econômico15.

13 Entrevista concedida por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.4.

14

Arrocho salarial é a consequência de uma política salarial cujos reajustes não acompanham a inflação, ocasionando a diminuição do poder de compra dos trabalhadores, por consequência aumentando o endividamento e piorando as condições de vida da população.

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“Expressão atribuída à política econômica empreendida pelo então Ministro da Fazenda Delfim Neto na década de 1970, na qual se fez acreditar que o Brasil estava tendo grande desenvolvimento” (GONÇALVES JUNIOR, 2002, p.35).

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Nesse contexto de Ditadura, e sob a proposta desenvolvimentista pautada na indústria, foram elevadas as jornadas de trabalho e, em algumas ocasiões, “chegou-se a ultrapassar o limite de quarenta e oito horas semanais de trabalho e as horas extras foram inúmeras vezes convertidas em horas ordinárias” (SANT’ANNA, 1994, p.27).

Em contrapartida, é possível verificar um aumento significativo das discussões sobre lazer, embora o tempo livre dos trabalhadores tenha diminuído consideravelmente, visto que o já citado arrocho salarial obrigava os trabalhadores a buscarem outras ocupações para completar seus rendimentos.

Sant’Anna (1994) pontua a esse respeito que

A primeira impressão que temos ao lançar nossas atenções sobre esta época é a de que vivíamos simultaneamente dois movimentos distintos e opostos: por um lado, a exaltação a uma série de conteúdos do tempo livre permeados de ludicidade e, por outro, a ênfase no trabalho preconizada pelo Governo Militar e fortalecida pela política do “Milagre Econômico”, que contribuiu para reduzir drasticamente o tempo livre da maior parte dos assalariados. Assim, poder-se-ia imaginar que a exaltação a determinados usos do tempo livre, a recomendação e a legitimação de certas atividades e espaços de diversão consistiam num lado a salvo do rosto pálido da ditadura militar. (...) percebeu-se que a preocupação com as questões do tempo livre, principalmente na cidade de São Paulo, não emergiu de posições descompromissadas com a manutenção dos valores econômicos vigentes, nem foi implementada em função de interesses contrários ao desenvolvimento da política institucional dominante (SANT’ANNA, 1994, p.9).

Corroborando tais apontamentos, Marcassa (2009) considera que neste momento iniciou-se no Brasil “uma preocupação com o lazer e um movimento de inspeção dos usos do tempo livre do trabalhador, especialmente nos grandes centros urbanos” (MARCASSA, 2009, p.248).

Nesse período o lazer passa, de acordo com Sant’Anna (1994), a ser amplamente utilizado para designar os usos do tempo livre que, de algum modo, pudessem ser úteis economicamente e aceitos pelos padrões e valores morais instituídos. Intervenções institucionais das mais diversas naturezas colaboraram para a retificação desse conceito, visando tornar as práticas lúdicas, de alguma maneira, úteis e valorosas aos bons costumes. Nesta mesma linha de raciocínio, Brunhs (1997) observa que desde o início das discussões a respeito do lazer, o que se nota é uma visão funcionalista, posicionando o ser humano em função do sistema vigente, buscando a manutenção da ordem social presente.

Com o inevitável aumento do chamado tempo livre, políticos e empresários se preocuparam com os usos que os trabalhadores poderiam fazer de suas horas de folga, sendo grande o receio de que elas fossem empregadas com atividades que pudessem degradar moralmente a sociedade. Ao invés de se entregarem ao

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alcoolismo, aos jogos de azar, ao ócio e a outros vícios, os trabalhadores deveriam fazer ‘bom uso’ do tempo liberado do trabalho, ocupando-o com atividades consideradas saudáveis, educativas e socialmente úteis (GOMES, C. L., 2003, p.80).

Voltemos, contudo, ao ano de 1964. Naquele momento, o Sesc elaborava seu Regulamento e o Plano Geral de Ação, não sem a preocupação de “produzir respostas precisas aos anseios de seus dirigentes, em vista das demandas da nova ordem econômica e política sobre a qual o país começava a tomar ciência” (BICKEL, 2013, p.67). Em São Paulo, Renato Requixa é convidado pelo então Presidente da Federação do Comércio Varejista, Dr. Brasílio Machado Neto, a ser diretor das UNIMOS no estado.

Em relação ao trabalho das Unidades Móveis, neste período

(...) nós sentimos que as autoridades locais começaram a nos temer, assim, como se nós fôssemos não uns animadores culturais, mas uns agitadores. E a coisa começou a ficar meio difícil pra nós. Tanto que, no último ano, nós estávamos atendendo umas duzentas cidades e então algumas autoridades chegaram a prender alguns orientadores sociais nossos, apesar de serem funcionários de uma entidade patronal. Você vê como a revolução foi forte naquele momento (Informação verbal)16.

Durante o tempo que se dedicou a coordenar o trabalho das UNIMOS, Renato Requixa recebeu, de um de seus assistentes17 que havia viajado à Suécia para fazer uma pesquisa sobre sociologia do trabalho, uma revista com um artigo assinado por Joffre Dumazedier:

E depois, mesmo em (19)64, um assistente meu pediu uma licença do Sesc e foi para a Suécia fazer um trabalho, um estudo sobre sociologia do trabalho (...). Então ele me mandou de lá um livro, aliás uma revista de sociologia onde havia um artigo do Joffre Dumazedier sobre o lazer, a importância do lazer. Quando eu li aquilo eu disse: ai meu Deus, era aquilo que a gente estava fazendo (...). Mas aí, eu, curioso a respeito do assunto, comecei a ler, a procurar, viajei pra Europa, procurei material sobre lazer (...) (Informação verbal)18.

Entusiasmado com o tema, Requixa procurou aprofundar seus estudos e tornou-se um conhecedor das propostas e teorias de Joffre Dumazedier, encontrando nos trabalhos do sociólogo francês o respaldo teórico necessário para desenvolver a ação institucional nas UNIMOS.

16

Entrevista concedida por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.4.

17 O assistente de Requixa era Otto Celso Domingues, que estava na Suécia estudando Sociologia do Trabalho pelo Sesc, conhece as teorias de Joffre Dumazedier e encaminha à Requixa o material.

18

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Mas foi em 1969 que um evento considerado um marco na história dos estudos do lazer no Brasil: o “Seminário sobre Lazer: Perspectivas para uma cidade que trabalha”, realizado pelo Sesc São Paulo, em conjunto com a Secretaria Municipal do Bem Estar Social, deflagra novas discussões e perspectivas sobre a temática

Em 1969, o Sesc de São Paulo e a Secretaria de Bem-estar do Município resolveram empreender um evento público para discussão do tema, um seminário de estudos aproximando universidade, planejadores e trabalhadores sociais.(...) A repercussão do Seminário (...) foi perto de catastrófica. (...) De um lado, a favor do tema, devem ser lembrados o Sesc e alguns setores públicos minoritários, sobretudo de urbanistas, que não se conformavam com a degradação dos espaços urbanos e com a morte do centro histórico. Havia, também, os professores de educação física e os recreadores escolares, que se sentiam marginalizados em face da tônica dominante na escola. De outro, contrários, havia os empresários, os ‘donos’ do trabalho, em parceria inusitada com a sociologia estabelecida, sobretudo da USP e da PUC, sem deixar de mencionar a parcela majoritária de assistentes sociais e profissionais que se dedicavam ao cuidado das populações carentes (CAMARGO, 2003, p.36-37).

Vários autores (SANT’ANNA, 1994; MARCASSA, 2002; PEIXOTO e PEREIRA, 2009; CAMARGO, 2003; WERNECK, 2003) relatam a dinâmica estabelecida nas discussões, entre as correntes favoráveis e contrárias à existência do lazer enquanto campo teórico e sua consideração como algo prioritário na vida social durante o referido evento. Nos debates, cada grupo defendeu suas opiniões e posições – contrárias ou a favor – da necessidade da garantia do lazer ao trabalhador, inclusive frente a outros aspectos, como trabalho, urbanização, desemprego, pobreza, e sempre à sombra do Regime Militar que presidia o Brasil na época

Os argumentos favoráveis eram bastante tímidos (...). As justificativas ao estudo do lazer, assim, eram apenas as instrumentais, aquelas que solicitavam que se passasse do primeiro ao segundo estágio na preocupação com o lazer, que se pensasse no lazer como solução para encaminhamento de outros problemas. Como viver apenas de trabalho? Como descansar, se não há lazer? Como lidar com populações carentes, a não ser através de atividades lúdicas? Já os argumentos contrários não eram nada tímidos. Refugiavam-se, às vezes, à sombra de bandeiras inatacáveis na época. Era o caso da primeira objeção que afrontava o tema do lazer como desviacionista dos graves problemas da nossa sociedade de então, como a tortura de opositores ao regime, a fome, o desemprego, etc. Era um argumento difícil de refutar (...). Curiosamente, outros assuntos eram livremente discutidos como o da urbanização, dos transportes, da saúde, da própria poluição, que incluíam ou deveriam incluir o lazer, mas o tema diretamente colocado do lazer parecia afrontar algo (CAMARGO, 2003, p.37).

A repercussão do Seminário acabou por motivar profissionais ligados aos estudos e à intervenção no campo do lazer a intensificarem as buscas por uma melhor fundamentação para o tema (GOMES, C. L., 2008), impulsionando os estudos do lazer no Brasil.

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Também motivado pelo Seminário, Renato Requixa publica, em formato de livreto, a Conferência de Abertura As Dimensões do Lazer, proferida por ele e cuja repercussão extrapolou, segundo o autor, as discussões no próprio evento

Eu abri o Congresso com uma palestra chamada As dimensões do lazer. Aí o lazer nessa palestra, o lazer entrou nos jornais. A palavra lazer entrou nos jornais. Não existia isso em 1969 (...) então foi o primeiro congresso que saiu, e a primeira vez que se falou em lazer no Brasil (Informação verbal)19.

Renato Requixa busca, também a partir do Seminário, uma aproximação com o próprio Dumazedier, vislumbrando futuras possibilidades no desenvolvimento do trabalho da instituição no campo do lazer

Em seguida eu estive na França com o Dumazedier, levei a minha publicação pra ele, todo orgulhoso, lógico, tinha um trabalho sobre lazer (...). E ele me mandou uma carta. Ele leu, gostou, se interessou muito pela coisa (Informação verbal)20.

Na esteira do que acontecia nas discussões institucionais e políticas brasileiras, o Conselho Nacional do Sesc aprova no início dos anos 1970 as Diretrizes Gerais de Ação, assumindo definitivamente o lazer como um de seus campos de atuação prioritários

(...) as Diretrizes definiam metas para a execução das ações institucionais que deveriam estar direcionadas à solução dos problemas dos trabalhadores no comércio e de suas famílias, nos seguintes aspectos: Educação, Saúde, Alimentação, Habitação, Vestuário, Transporte, Lazer e Orientação Profissional e Social (BICKEL, 2013, p.60).

Favorável às ideias de Dumazedier, o Sesc São Paulo assumiu, nas suas atividades, o entendimento do lazer enquanto vivência ligada ao tempo livre, “que é limitado pelo tempo de trabalho profissional, pela duração do tempo consagrado a outras atividades improdutivas, pelo tempo destinado às obrigações domésticas e familiares” (DUMAZEDIER, 1974, p.34), entendimento logo incorporado pelo Departamento Nacional e difundido para todos os departamentos regionais

(...) e o diretor-geral do Sesc no Brasil, que era o Moacir Lopes Meirelles, ele também começou a se interessar e disse ‘Ah não, então vamos fazer um seminário nacional! Vocês fizeram um seminário em São Paulo, então vamos fazer um

19 Entrevista concedida por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.9.

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seminário nacional’. Eu disse ‘vamos, mas precisamos chamar um bam bam bam internacional chamado Dumazedier’. Aí eu estive em Paris e eu convidei o Dumazedier. Ele veio fazer a palestra inicial (...) (Informação verbal)21.

Esse seminário concretiza-se no ano de 1975, no período de 24 a 29 de agosto, no 1º. Encontro Nacional sobre Lazer – Cultura, Recreação e Educação Física, que foi realizado pelo Departamento Nacional do Sesc, com o apoio da Fundação Van Clé22 e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em parceria com o Serviço Social da Indústria – Sesi e com o patrocínio do Ministério do Trabalho (SESC-DN, 1977), e do qual participaram técnicos do Sesc de todos os Departamentos Regionais. No evento, Dumazedier proferiu a conferência de abertura intitulada Lazer nas sociedades em desenvolvimento (BICKEL, 2013, p.136).

No ano seguinte, quando do falecimento do Dr. Brasílio Machado Neto e da eleição de José Papa Junior ao cargo de Presidente da Federação do Comércio do estado de São Paulo, Requixa torna-se Diretor do Departamento Regional do Sesc São Paulo.

Considerando sua aproximação com os estudos do lazer, e buscando sistematizar as reflexões a fim de definir as linhas de atuação institucional, Renato Requixa cria, dois anos depois de assumir a Diretoria Regional, o CELAZER – Centro de Estudos do Lazer, no Departamento Regional de São Paulo, voltado ao “(...) estudo, documentação e aperfeiçoamento de pessoal (...), favorecedor da sistematização e do aprofundamento do conhecimento (...) da sociologia do tempo livre” (SESC-SP, 1978b, p.3).

E eu fui convidado para assumir todo o regional do Sesc São Paulo e obviamente eu ia insistir na temática do lazer em São Paulo. Então aí eu consegui, com o Regional, criar um centro de estudos sobre lazer, o CELAZER. E sempre preocupado em fazer com que as pessoas estudassem lazer, se desenvolvessem (Informação verbal)23.

Composto por gestores e orientadores sociais que, durante alguns anos, pesquisaram a temática do lazer, debruçando-se sobre a produção científica de estudiosos de diferentes nacionalidades, bem como na própria ação institucional neste campo, o Centro possuía a estrutura de um grupo de estudos temático e registrava sua produção teórica na forma de relatórios, revistas e livros.

21

Ibid.p.5.

22 A Fundação Van Clé foi f

undada em 1968, em Bruxelas/Bélgica, em homenagem ao padre Antoon Van Clé, e seus objetivos eram contribuir para a humanização dos lazeres, promover a pesquisa científica no domínio do lazer, e auxiliar a realização de projetos que têm por fim melhorar a qualidade vida das pessoas (SESC-DN, 1977, p.26).

23

Entrevista concedida por por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.8.

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O CELAZER tinha um trabalho mais na linha da produção intelectual. Eu mesmo... escrevia muito pro CELAZER. O CELAZER publicava, publicava os Cadernos de Lazer (Informação verbal)24.

Já com grande aproximação com Joffre Dumazedier, o CELAZER o contrata como consultor para orientar os trabalhos e pesquisas do Centro, bem como a atuação do Sesc São Paulo nas áreas de lazer e recreação

Uma vez por ano ele vinha a São Paulo e fazia seminários conosco, todos os técnicos do Sesc mais ligados à área do lazer, da recreação, área dos esportes (Informação verbal)25.

Em alguns momentos, além desses seminários internos, o CELAZER promoveu encontros, eventos, congressos e seminários em parceria com Universidades e outras Instituições, também com a participação de Dumazedier. Além disso, os pesquisadores do CELAZER e alguns funcionários do Sesc realizaram pós-graduação na Universidade Sorbonne, em Paris, sob orientação direta deste sociólogo (SANT’ANNA, 1994).

Assim, partindo do pressuposto de que o CELAZER teve um papel preponderante para os estudos e ações no campo do lazer no país no período de seu funcionamento (1978-1983) e após, esta pesquisa buscou compreender quais as contribuições do CELAZER para os estudos do lazer no Brasil, a partir das memórias dos seus principais pesquisadores e de alguns colaboradores que, mesmo não fazendo parte do CELAZER diretamente, igualmente contribuíram com as pesquisas e a produção de conhecimentos sobre lazer.

Além disso, a partir da problematização apresentada, do levantamento do referencial bibliográfico e dos relatos dos entrevistados, defende-se a hipótese de que os estudos do lazer no Brasil sofreram grande influência do pensamento de Joffre Dumazedier justamente devido à atuação do Sesc e, mais especificamente, do CELAZER.

Para atingir os objetivos propostos pela pesquisa, foram explorados inicialmente o acervo do Sesc Memórias – o Centro de Memória do SESC São Paulo – e todo o material produzido pelo CELAZER, além dos documentos que comprovam sua criação e atuação, como Resoluções, Ordens de Serviço e Relatórios Anuais, a fim de compreender o contexto no qual o centro foi criado e também seu funcionamento. Além disso, com inspiração na

24 Entrevista concedida por por Renato Requixa à pesquisadora Christianne Luce Gomes, que posteriormente passou a integrar o acervo do Projeto Garimpando Memórias, do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRS. 2001. p.8.

25

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História Oral e nos Estudos da Memória (POLLAK, 1992; FERREIRA, 2002; LANG et al, 2010), foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete ex-funcionários do Sesc e um superintendente ainda em atividade, e que participaram das atividades do CELAZER, direta ou indiretamente, a fim de identificar suas atuações e contribuições na produção de conhecimento sobre lazer no período.

Todas as entrevistas foram gravadas em aparelho celular com recurso de gravação de voz, e posteriormente transcritas integralmente. Porém, conforme aponta Queiroz (1988), a entrevista semiestruturada é uma conversa contínua entre entrevistado e entrevistador, e que deve ser dirigida pelo pesquisador de acordo com seus objetivos. Assim, para a redação final deste trabalho, foram considerados apenas os trechos de maior relevância à discussão proposta e, quando contatados, todos os sujeitos foram informados dos procedimentos, objetivos e como iriam contribuir com a pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido26. Contudo, nem todos os entrevistados concordaram com a publicação das entrevistas na íntegra. As entrevistas daqueles que consentiram com a publicação encontram-se nos Apêndices27 do presente texto.

Desta forma, e uma vez que “o que interessa à história oral é a experiência individual, única e imediata de cada entrevistado” (CORRÊA, 1978, p.31), os relatos coletados constituem também documentação histórica, já que as experiências vivenciadas e apreendidas visam não somente lembrar ou rememorar o passado, mas também interpretar sua influência no presente, ou seja, as contribuições efetivas de cada sujeito e do próprio CELAZER para os estudos do lazer no Brasil.

Assim, além dos relatos propiciarem a aproximação necessária com as memórias e, portanto, com as histórias de vida dos componentes e colaboradores do CELAZER e suas trajetórias no campo do lazer, possibilitaram também detalhar as informações sobre a participação e o envolvimento de cada entrevistado nas atividades do CELAZER e a possível influência da produção teórica deste nos estudos do lazer no país.

Tal detalhamento originou as categorias temáticas que apoiam a elaboração do presente texto, cujos discursos foram agrupados de acordo com a similaridade ou divergência referente a uma mesma temática.

Nesse sentido, a construção da narrativa desta Tese se dá em três capítulos, além da introdução e das considerações finais.

26 Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 27

(27)

A trajetória metodológica utilizada no decorrer do trabalho, as incursões no campo, como se deu a coleta dos discursos e a caracterização de cada um dos entrevistados é apresentada no primeiro capítulo – Percurso Metodológico.

No segundo capítulo – CELAZER: constituição, funcionamento e produção de conhecimento –, apresento o contexto histórico-institucional da constituição do CELAZER, seu funcionamento e sua produção teórica, construindo a narrativa a partir dos dados coletados nas entrevistas e dos documentos institucionais pesquisados.

No terceiro capítulo – Dumazedier no CELAZER: Presença, Método e Legado, apresento os relatos dos entrevistados sobre a relação pessoal e profissional com o sociólogo francês Joffre Dumazedier, e o método proposto por ele, conhecido como Teoria da Decisão, e o legado de aprendizagem deixado pelo sociólogo ao grupo de pesquisadores do Sesc.

As considerações finais foram tecidas a partir da análise das Influências e Contribuições do CELAZER para os estudos do lazer no Brasil apresentadas pelo grupo de participantes do CELAZER, dialogando com autores que estudaram a temática e que apontam a influência do mesmo nessa produção, inclusive procurando refletir sobre a preponderância do pensamento de Joffre Dumazedier nesse cenário.

O presente trabalho conta com a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa, por meio do parecer de número 27368214.9.0000.5404, respeitando assim os aspectos éticos devidos, bem como com a anuência do Departamento Regional do Sesc São Paulo28.

28

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1 – PERCURSO METODOLÓGICO

A Pesquisa Qualitativa,“apesar dos riscos e dificuldades que impõe, revela-se sempre um empreendimento profundamente instigante, agradável e desafiador” (DUARTE, 2002, p.140)

Para compreender e analisar as contribuições do CELAZER para os estudos do lazer no Brasil, optou-se pela abordagem da Pesquisa Qualitativa (MINAYO, 1994), considerando que esta busca a compreensão de uma determinada realidade e suas questões na qual nós próprios, enquanto seres humanos, somos agentes (MINAYO, 1994). Assim, nesta modalidade de pesquisa, o pesquisador seleciona o que do objeto quer conhecer, atribui significados aos achados, interage com o conhecimento e se dispõe a comunicá-lo.

As pesquisas qualitativas implicam, ainda, no contato direto do pesquisador com o objeto em estudo, os dados coletados são predominantemente descritivos, o interesse fixa-se no processo e na perspectiva dos participantes, e a análise dos dados coletados tende a seguir um processo indutivo (LUDKE e ANDRÉ, 1986).

Além disso, todo objeto de pesquisa nas Ciências Sociais é histórico (MINAYO, 1994), ou seja, insere-se em um determinado contexto histórico-social. Nesse sentido, na escolha da metodologia para a aproximação do objeto em questão – o CELAZER –, levou-se em consideração a abordagem do Centro de Estudos Rurais e Urbanos – CERU, que compreende que

Todo trabalho de pesquisa é orientado por uma questão ou problema referido a um aspecto da realidade social que se busca compreender e explicar. O estudo da realidade social se faz mediante os pressupostos da Sociologia, embora possa incorporar reflexões e resultados provindos de outras ciências, especialmente da história, quando se trata do estudo de problemas em perspectiva diacrônica (LANG et al. 2010. p.37).

Destarte, foi necessário efetuar o delineamento do contexto histórico, social e político brasileiro no qual se inseriu o CELAZER, utilizando-se para isso da pesquisa bibliográfica e documental. Assim, foi explorado o processo de estruturação e funcionamento do Centro registrado nos documentos institucionais, como Resoluções e Relatórios Anuais, bem como o material produzido pelo Centro e publicado na época, armazenados no Sesc Memórias – o Centro de Memória do Sesc São Paulo, a fim de se

(29)

compreender o contexto institucional de criação do CELAZER, e ainda sua atuação no período de 1978 a 1983.

Entretanto, a escassez de registros oficiais sobre as ações realizadas pelo CELAZER e a não existência de um padrão editorial nas publicações e periódicos encontrados no acervo do Sesc Memórias resultou na necessidade de buscar, além dos documentos institucionais e pesquisas já realizadas por outros estudiosos do lazer sobre o objeto em questão, um diálogo com os próprios pesquisadores participantes do CELAZER para apreender, a partir do relato da vivência dos mesmos, as informações não supridas pelas outras fontes. Assim, foram também colhidos depoimentos orais29 por meio de entrevistas semiestruturadas com os sujeitos que poderiam fornecer elementos fundamentais para a pesquisa e compreensão do objeto investigado.

Para o encaminhamento da pesquisa, foi preciso identificar quem eram os funcionários envolvidos no trabalho do CELAZER por meio da produção escrita encontrada: livros, pesquisas, artigos e demais materiais publicados no período de funcionamento do Centro, para estabelecer quais participantes seriam entrevistados inicialmente. Concordando com Pais (2001), nas pesquisas qualitativas, os critérios de seleção dos sujeitos são de compreensão, de pertinência, e não de representatividade estatística. Sendo assim, busca-se ilustrar o objeto em estudo e, de modo algum, há a pretensão de generalização dos resultados, mas um aprofundamento no conhecimento dessa realidade, “cuja singularidade é, por si, significativa” (PAIS, 2001, p.110).

Tal procedimento também é compatível com a abordagem do CERU, “que procura incorporar diversas fontes para enriquecer o estudo e superar, de certa forma, as limitações de uma amostra reduzida, como é próprio da pesquisa qualitativa” (LANG et al, 2010, p.38). Ainda, de acordo com a mesma abordagem, o que se busca, com o depoimento oral é “obter informações e o testemunho do entrevistado sobre sua vivência em determinadas situações ou a participação em determinadas instituições que se quer estudar. A coleta de um depoimento é mais dirigida para um tópico específico” (LANG et al, 2010, p.45).

Conforme apontado por Duarte (2002), “a definição de critérios segundo os quais serão selecionados os sujeitos que vão compor o universo de investigação é algo primordial (...) assim como o seu grau de representatividade no grupo social em estudo” (DUARTE,

29

O depoimento oral é o termo utilizado pelo CERU para definir uma das modalidades de narrativa oral que se obtém com a entrevista, que depende do objetivo do projeto, das informações desejadas e do entrevistado escolhido. As outras duas formas são a história oral de vida e os relatos orais de vida (LANG et al, 2010, p.45). Nesta pesquisa, em coerência com a abordagem e metodologia adotadas, o termo depoimento será utilizado algumas vezes para se referir ao conteúdo coletado com as entrevistas. Outros termos, como entrevistas e narrativas, também serão utilizados no texto para esse mesmo fim.

(30)

2002, p.141). Com base nisso, o primeiro critério utilizado para seleção dos sujeitos foi o recorte temporal de funcionamento do CELAZER, ou seja, o aparecimento dos mesmos como autores das publicações datadas nos anos de 1978 a 1983, e ainda a repetição desse aparecimento. Além disso, e uma vez que o objetivo era ouvir os sujeitos que contribuíram com o CELAZER efetivamente, considerou-se o vínculo empregatício com a Instituição Sesc também como um critério. Assim, consultores esporádicos e colaboradores externos ao Sesc e, portanto, ao CELAZER, não foram selecionados.

Mesmo com a aplicação dos referidos critérios, nas análises preliminares dos documentos vários sujeitos foram identificados de maneira recorrente nas publicações e pesquisas no período estudado. Assim, para definir quais seriam aqueles que estiveram vinculados ao CELAZER e que fariam parte da pesquisa, levou-se em consideração o estudo de Duarte (2002), no qual

Optou-se pelo sistema de rede, no qual se busca um “ego” focal que disponha de informações a respeito do segmento social em estudo e que possa mapear o campo de investigação, “decodificar” suas regras, indicar pessoas com as quais se relaciona naquele meio e sugerir formas adequadas de abordagem. De um modo geral, as pessoas indicadas pelo “ego” sugerem que se procurem outras ou fazem referência a sujeitos importantes no setor e assim se vai, sucessivamente, se amealhando novos “informantes” (DUARTE, 2002, p.142-143).

Desta forma, nesta pesquisa de doutorado, uma entrevista com o Professor Luiz Wilson Pina, ex-funcionário do Sesc, identificado nos documentos encontrados nas incursões iniciais sobre a produção escrita do CELAZER, e reconhecido no campo do lazer por ter se tornado também um estudioso da área após deixar o Sesc, ajudou no mapeamento preliminar do grupo em estudo e permitiu iniciar uma rede que incorporou novos sujeitos a serem entrevistados.

A partir desta primeira entrevista, foram elencadas quatro pessoas como sendo prioritárias para a concessão de depoimentos orais, destacada a sua importância na formação inicial do CELAZER: Luiz Octávio de Lima Camargo, nominado como coordenador do CELAZER, Mário Daminelli, Dante Silvestre Neto e Paulo de Salles Oliveira, identificados como orientadores sociais/pesquisadores/autores mais importantes do centro. Contudo, foi possível entrevistar apenas três deles, pois o Professor Paulo de Salles Oliveira, não aceitou participar da pesquisa alegando motivos pessoais.

Nestas entrevistas iniciais, outros nomes foram revelados e posteriormente confirmados pelos documentos impressos: dois pesquisadores já falecidos – Jesus Vasquez

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