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Brizola vive (na) feliz?

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DELMAR BERTUOL ALVES DA SILVA

BRIZOLA VIVE (NA) FELIZ?

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DELMAR BERTUOL ALVES DA SILVA

BRIZOLA VIVE (NA) FELIZ?

Pesquisa para a Disciplina de Trabalho de Con-clusão de Curso. Este trabalho é parte integrante das atividades que visam à aprovação na referida disciplina e no curso de História.

Orientador: Professor Ivo Canabarro Ijuí, 2015

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RESUMO

Este trabalho é uma análise do exercício da vereança pelos vereadores pedetistas da 12ª legislatura (2009-2012) da cidade de Feliz/RS. O objetivo é comparar a atua-ção dos parlamentares pedetistas (foram dois) sob o prisma do chamado Brizolismo. Isso é, quer-se estabelecer paralelos, semelhanças e convergências das proposi-ções e posiproposi-ções parlamentares dos vereadores do PDT com a atuação política da-quele que é o principal fundador do partido a qual eles estão filiados e, portanto, re-presentando. Para tanto, foram consultadas, na primeira parte do trabalho, livros e outras fontes sobre a vida pessoal e pública/política de Leonel Brizola, para melhor conceituar, ainda que subjetivamente, o Brizolismo. Após, foram consultadas as atas das sessões plenárias do período, feita uma entrevista e consultados outros docu-mentos propositivos. Dialogando esses materiais foi possível estabelecer as rela-ções propostas.

PALAVRAS-CHAVES: BRIZOLISMO – BRIZOLA – PDT – DEMOCRACIA -

POLÍ-TICA

ABSTRACT

This paper is an analysis of the mandate of the pedetistas councilors of the 12th legis-lature (2009-2012) in the city of Feliz/RS. The aim is to compare the performance of the pedetistas councilors (there were two) through the prism of the so called Bri-zolismo. The idea is to establish parallels, similarities and convergences between the proposition and positions of the PDT councilors, and the political performance of the man who is the most important founder of the political party to which the councilors are affiliated and, therefore, representing. In order to do that, at first, books and other sources about the private and public/political life of Leonel Brizola were read to have a better concept, even subjectively, about Brizolismo. After that, the dates of the ple-nary session from the period were checked, an interview was made and other posi-tive documents were also read. After analyzing the material, the proposed relations could be established.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 4

1 CAPÍTULO I QUEM FOI LEONEL BRIZOLA ... 7

1.1 Vida pessoal (breve apanhado) ... 7

1.2 Governador do Rio Grande do Sul... 10

1.3 O Rio Grande do Sul pega em armas: a Campanha da Legalidade ... 13

1.4 O forçado amadurecimento reflexivo: o exílio ... 15

1.5 Ninguém mais o cala: a volta do exílio, a propagação de suas ideias, a fundação do PDT ... 17

CAPÍTULO II O PDT NA 12ª LEGISLATURA DA CÂMARA DE FELIZ/RS ... 22

2.1 A Câmara Municipal de Feliz ... 22

2.2 Os Vereadores pedetistas da 12ª Legislatura ... 23

CAPÍTULO III POSICIONAMENTOS, VOTAÇÕES E DISCURSOS ... 26

CAPÍTULO IV ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO DO VEREADOR PAULO HAHN .... 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 39

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INTRODUÇÃO

Acabaram-se as ideologias? Esquerda e direita viraram, tal quais os tijolos do Muro de Berlim, pó, um souvenir para os turistas da história política?

Os que se dizem de esquerda garantem que esquerda e direita nunca estive-ram tão em voga como agora, e acusam os “de direita” de propagarem a ideia do fim das ideologias.

Eu concordo com o pessoal da esquerda. Acho que as ideologias não acaba-ram e nem há previsão para que elas terminem. Sendo assim, me proponho, neste trabalho, a analisar como as ideologias influenciam os políticos e suas decisões, o que redundará, inevitavelmente, numa influência direta em nossas vidas.

Meu recorte, no entanto, não é dos maiores. Pelo contrário, é bem objetivo. Gostaria de saber como a personagem Leonel Brizola (sim, ele virou uma persona-gem) influenciou nas decisões políticas dos Vereadores pedetistas da 12ª Legislatu-ra (2009-2012) na cidade de Feliz/RS. Como Brizola, mesmo morto há mais de dez anos, influenciou (ou não) a vida dos felizenses? (uma vez influenciando algum mandando parlamentar, ele nos influencia diretamente)

É senso comum, mas nem por isso uma inverdade. Temos que conhecer nossos políticos. O que pensam? Que grupos defendem (fazer Política é, obrigatori-amente, defender um grupo em detrimento de outro)? Por que pertencem a determi-nado partido? Suas ideias estão em consonância com as do partido?

Leonel Brizola foi um dos fundadores - o principal deles, na verdade - do PDT. Tinha suas ideias bem definidas, as quais eram baseadas no trabalhismo e nos ideais de esquerda. Quando governador do Rio Grande do Sul encampou gran-des empresas, por exemplo.

Sendo assim, os candidatos pedetistas de hoje, não raro, evocam a figura de Brizola nas suas campanhas. Mas, uma vez eleitos, fazem jus ao uso da imagem de seu chamado líder, inspirador, etc?

Parte-se do princípio que os filiados a determinados partidos seguem a orien-tação ideológica do partido. Parte-se do princípio, então, que os filiados ao PDT se-guem a orientação ideológica do trabalhismo, do getulismo e, por que não dizer a esta altura, do brizolismo. Esse princípio mostrou-se na prática na 12ª legislatura em Feliz? Temos o direito de saber.

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Brizola antes de ser uma personagem política é um ser humano e, como tal, cheio de subjetividades e abstrações. Definir como efetivamente era o pensamento dele, mesmo o político, é algo que, talvez, somente seu analista saberia, e com al-guma dose de incerteza, dizer. No entanto, é indubitável seu legado ideológico e de ideais. Como homem público lutou pela Educação e pelos trabalhadores. Encampou empresas privadas aqui no Rio Grande do Sul, para dizer o mínimo.

Seu maior feito público, sem dúvidas, foi pegar (literalmente) em armas e ar-mar parte da população gaúcha para defender a Democracia. Há quem defenda, no entanto, que ele só defendeu a Democracia por tratar-se de um aliado político, pois ele, Brizola, teria, assim como seu colega Getúlio, um flerte com o poder ditatorial. Como disse, era um ser humano. Dúvidas, então, sempre haverá. Hipóteses tam-bém são livres. Mas os fatos passados são imutáveis. As interpretações e pontos de vista é que podem variar.

Políticos, no entanto, ainda hoje fazem questão de propagandear que inspi-ram seus mandatos (ou futuros mandatos, quando em campanha) no brizolismo. Mas o que seria brizolismo? Grosso modo, podemos afirmar que são ideais de es-querda (não a ponto de ser Socialista ou Comunista), voltados à classe trabalhado-ra. Há, também, uma verdadeira obsessão pela Educação plena e de qualidade a todos os “filhos de trabalhadores”. Defende, também, um estado forte, em contradi-tório com o neoliberalismo.

Talvez, se estivesse vivo, Brizola tivesse hoje mudado alguns conceitos seus. Mas falar em Brizola é (e mesmo que, esteja onde estiver, talvez ele discorde, mas os conceitos são formados à revelia dos envolvidos) falar, entre outros, de traba-lhismo, Educação, estado forte, e, como ele defendeu a causa e foi exilado, demo-cracia.

Falar em Brizola é falar na defesa dos direitos dos trabalhadores. É dar equa-nimidade aos termos, como surgiu na segunda parte deste trabalho, bem-estar da classe desfavorecida. Brizola lutou para que as pessoas, os mais pobres, sobretudo, não apenas sobrevivessem (estivessem), mas de fato vivessem “bem”. É como diz aquela música do Titãs: a gente não quer só comida. A gente quer comida diversão e arte.

Logo, temos o direito de saber: os Vereadores pedetistas da 12ª Legislatura da Câmara Municipal de Feliz/RS pautaram seu mandato (votos, posições, discur-sos, gestões presidenciais) nos preceitos pregados por Leonel Brizola?

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Esta pesquisa é baseada em leituras sobre a vida e obra de Brizola, buscan-do traçar um perfil político (ainda que isso seja muito subjetivo) dele. Conceitos polí-ticos indubitavelmente aparecerão, como esquerda, direita, ideologia, poder, traba-lhismo, socialismo, etc. Mas não é um trabalho que busque classificar ou significar esses conceitos. Quer-se, apenas, ligá-los ou não à vida política de Brizola.

Não será tarefa fácil essa de caracterizar uma pessoa. Ainda mais se tratando de um ser tão emblemático como foi o “ex-Itagiba” (explicar-se-á isso, depois). Por outro lado, contudo, as associações a pensamentos e ideias também não é impossí-vel. Algumas características e predicados se destacam em Brizola, como a Educa-ção, por exemplo.

Findada essa primeira parte, uma “caracterização” da figura de Leonel Brizo-la, passemos à 2ª parte, que é a interligação do mandato dos pedetistas de Feliz com as ideias de Brizola. Como votaram esses Vereadores? O que falaram na tribu-na? Uma vez o PDT ocupando a Presidência do Legislativo, quais paralelos se pode traçar entre a gestão presidencial e preceitos de Brizola?

Este autor, claro, tem suas conclusões. Que não são definitivas, no entanto. Aliás, qualquer e de quem quer que seja a conclusão, ela nunca vai ser um encerrar de assunto. Em Política, é muito perigoso fazer como amiúde fazem as bancadas partidárias e “fecham a questão”. Não sei se toda a unanimidade é burra, como quis Nelson Rodrigues. Se for unânime esse pensamento, burrice é assertiva. São as tocaias de quem conhece a nossa lusitana. Brizola não foi unânime. Escapou, por-tanto, da burrice de ser unânime. Mas foi, repito, emblemático e importante para a História Política do Século XX não só Brasileiro como do continente americano.

Além dos livros sobre Brizola, então, usei também as atas das sessões do pe-ríodo e um questionário com o Vereador Paulo Hahn. O Ex-vereador Décio Franzen não teve disponibilidade de me atender, infelizmente. Mas ressaltou que a principal fonte para concluir o trabalho, fazendo o comparativo, foi a consulta às atas, pois ali está documentado os posicionamentos oficiais e da época estudada. Temo que o questionário possa restar um pouco afetado pela falta de espontaneidade.

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1.1 Vida pessoal (breve apanhado)

Nasceu Itagiba na localidade de Cruzinha, em Carazinho (hoje cidade), então distrito de Passo Fundo. Naquele ano, acontecia uma revolução cultural no Brasil com a Semana de Arte Moderna. Anos mais tarde, saber-se-ia que em 1922 nascia, em meio às fervorosas revoluções gaúchas, um fervoroso revolucionário.

Itagiba, que não havia sido registrado – sequer batizado -, se autobatizou Le-onel, nome de um líder maragato, grupo com o qual o seu pai lutou ao lado, o que lhe ocasionou ser assassinado, mais tarde, por tropas do governo.

Desde criança já era um lutador. Munia-se de um pedaço de pau para fazer as vezes de espada e lutava contra os inimigos imaginários, gritando que era Leo-nel. E que viessem todos os inimigos. Que fizessem fila para o duelo.

Órfão de pai – José Brizola havia sido morto por opositores chimangos, em 1923 – e fugindo da pobreza, mudou-se, aos catorze anos, para Viamão, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, com a intenção de estudar na Escola Agrícola daquela cidade, mas seu ingresso não ocorreu facilmente, pois foi nesse momento que descobriu que não era registrado.

Foi nessa ocasião, então, que “nasceu” Brizola. O Diretor da Escola, compa-decido com a situação do rapaz, o ajudou a fazer sua documentação. Itagiba não titubeou e disse que queria virar, agora oficialmente, então, Leonel.

Em 1942, depois de passar por diversos ofícios e de prestar serviço militar na Base Aérea de Canoas – a qual, futuramente, teria emblemática participação na Campanha da Legalidade -, ingressou na Faculdade de Engenharia do Rio Grande do Sul (atual Ufrgs). Os ensinamentos desse curso também muito lhe ajudariam quando foi Secretário de Obras do Rio Grande do Sul e Governador do mesmo Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, situações em que fez diversas obras de infraes-trutura (BANDEIRA, 1979).

Em 1945 definitivamente segue o rumo do pai e se decide por participar ati-vamente da Política. Talvez devido a seus vários malfadados percalços, percebe que é ela, a Política, que muda – melhora ou piora – a vida das pessoas. E não se pode dizer que Brizola era um acomodado – o que ficou muito bem ilustrado no epi-sódio da Campanha da Legalidade -, mas quem o conhecia de pueris tempos, já o sabia, pois o então Itagiba – que teimava em ser Leonel – não folgava a sua espada

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(sarrafo) no expediente de combater os inimigos que, naquela época, eram ainda imaginários, mas não tardariam a se concretizar homens reais. Situações reais. Po-brezas e carências reais.

Pois em 1945 participou da fundação do PTB gaúcho, influenciado pelo mo-vimento queremista. Itagiba, ou, finalmente, Leonel não se limitou às burocracias da fundação do braço petebista no Rio Grande. Junto com sindicalistas andou pelo es-tado a propagar os ideais trabalhistas. Conta-se que o próprio Getúlio vislumbrou, desde aquelas remotas épocas de militância, na figura de Brizola uma iminente lide-rança política. Um sucessor, por que não pressupor.

Provavelmente influenciado pela intuição de seu líder máximo, Brizola é lan-çado candidato a deputado estadual pelo PTB, em 1946. Getúlio não se enganara. O ainda estudante de Engenharia Civil, logo esse curso, cujos acadêmicos tinham uma inclinação mais udenista, à direita, elege-se com expressiva votação para uma cadeira na Assembleia Legislativa gaúcha. Sua vida política inicia-se de fato. Daí, só ascende, e lhe faltará apenas a Presidência da República, a qual ele concorreu, mas, democraticamente (sistema que ele tanto defendia), foi preterido.

Em 1952, depois de ter vencido mais uma eleição ao legislativo gaúcho, as-sume seu primeiro cargo político executivo, ao ser convidado pelo Governador Er-nesto Dornelles para ser seu Secretário de Obras Públicas. Por essa época, já esta-va casado com a senhora Neusa Goulart, irmã de João Goulart – que Brizola havia conhecido em suas andanças pelo interior, propagando o Trabalhismo – e já havia concluído o curso de Engenharia Civil (ficando livre dos assuntos reacionários dos colegas).

Como Secretário de Obras do Rio Grande do Sul (1952/1954), Brizola execu-tou as seguintes obras: ponte sobre o Guaíba; ponte sobre o rio Pardo; reaparelha-mento do Departareaparelha-mento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER); mais de 100 projetos implantados de ampliação e construção de estradas; Estação Ferroviária Diretor Augusto Pestana, em Porto Alegre; implantação do trem diesel Minuano; me-lhorias no Aeroporto Salgado Filho; reequipamento do Departamento Aeroviário do Estado; reaparelhamento do Departamento de Portos, Rios e Canais; implantação de 23 portos lacustres e fluviais; construção de 40 hidráulicas no interior do Estado; início da construção de grande número de Escolas Públicas. Se as discussões sobre

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Politica pouco lhe agradavam, na faculdade, os ensinamentos e cálculos lhe foram úteis na gestão pública, como disse.

No pleito posterior, elege-se Deputado Federal. Na Câmara, parecia antever o porvir: travava discussões ferrenhas com o Deputado Carlos Lacerda, da UDN (que de democrática só tinha mesmo o D da sigla). Desde aquela época (ou antes) que Lacerda já tinha simpatia pelo golpismo. Provavelmente achasse que, uma vez der-rubado o Presidente (seja ele qual fosse), ele assumiria. Ledo engano. Os próprios militares, uma vez no poder, o colocaram pra correr (pdt.org.br, acesso em outubro 2015).

Por sorte de Lacerda e dos porto-alegrenses, Brizola abandona o parlamento federal em 1955, para assumir a Prefeitura de Porto Alegre – cujo pleito foi vencido com mais de cinquenta por cento dos votos -, ocasião em que pôde continuar muitas das ideias de quando era Secretário de Obras e não teve tempo ou autonomia para fazê-las. Mas sua obstinação – sim, era uma obstinação – pela Educação foi a mar-ca maior de sua administração. “Nenhuma criança sem escola” era mais que um slogan para Brizola, era um mantra. A falta de educação era uma inimiga não imagi-nária, apesar da abstração do termo, mas algo que ele queria combater mesmo sem enxergá-la concretamente. Talvez fosse como nos tempos de piazinho lá no distrito de Cruzinha, em que imaginava o inimigo gigantesco contra quem combatia com seu pedaço de pau incumpizado. E assim Brizola aparece no imaginário popular, um guerreiro que lutou incansavelmente contra a “deseducação” com qualquer que fos-se as armas que dispunha: os discursos, os cargos majoritários e, fosfos-se preciso, um pedaço de pau podre.

As suas principais obras como Prefeito de Porto Alegre (1955/58), foram as seguintes: implantação de sistema integrado de planejamento; reavaliação do Im-posto Predial; canalização de água em todas as Vilas Populares, de acordo com as prioridades estabelecidas pelas associações de moradores; implantação de 110 km de rede de água; construção da hidráulica São João e aumento das outras duas grandes hidráulicas, Moinhos de Vento e Cristo Redentor; implantação de mais de 80 km de rede esgoto; construção de 137 escolas primárias para 35 mil alunos, aca-bando com o déficit escolar; remodelação, alargamento e iluminação das avenidas Farrapos, Assis Brasil e Protásio Alves; urbanização do Passo da Cavalhada e asfal-tamento da estrada Cristal-Cavalhada; dragagem-aterro do rio Guaíba e implantação

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da continuação da Av. Borges de Medeiros; renovação da frota de ônibus públicos; implantação dos ônibus elétricos trolley bus; criação do maior parque da cidade até hoje, o Saint-Hilaire; remodelação e construção de grande número de parques e campos populares de futebol; criação do Programa Integrado de reaparelhamento de Equipamentos Rodoviários para todas as prefeituras gaúchas (pdt.org.br, acesso em outubro 2015).

Seu governo na capital convenceu os gaúchos de que Brizola merecia admi-nistrar o Estado também. Em 1958, vence a coligação PSD/UDN/PL e se torna Go-vernador do Rio Grande do Sul. Situação que o possibilitou atrasar o golpe militar brasileiro, na Legalidade, para insatisfação das Forças Armadas, quase três anos, num feito que, no meu ver, é equivocadamente pouco lembrado e celebrado, inclusi-ve nas escolas gaúchas.

1.2 Governador do Rio Grande do Sul

Desde os primeiros momentos, Brizola já mostrara a que veio. Iniciou o go-verno queimando os arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Brizola não queria qualquer tipo de perseguição política, embora fosse contundente em seus posicionamentos. Há quem diga que ele, no fundo, flertava com a possibili-dade de ser ditador, impondo as suas vontades. Mas isso fica só no plano do dizer, mesmo, pois nunca foi apresentado nenhum tipo de documento que passe um mí-nimo de credibilidade à tese.

Como mandatário maior do Rio Grande, Brizola continuou investindo em obras de infraestrutura e atraindo empresas, como a Refinaria Alberto Pasqualini, além de criar a já extinta Caixa Econômica Estadual.

As suas principais obras como Governador: implanta com recursos públicos a indústria Aços Finos Piratini, utilizando carvão gaúcho em projeto pioneiro no Esta-do; traz para o Rio Grande do Sul a Refinaria de Petróleo Alberto Pasqualini, decisi-va para a futura instalação de indústrias de adubos e do III Pólo Petroquímico; im-planta, com recursos públicos, a Açúcar Gaúcho S/A – AGASA, em região canaviei-ra pobre do Estado; incorpocanaviei-ra o Banco do Estado do Rio Gcanaviei-rande do Sul – BANRI-SUL – ao planejamento estadual e cria a Caixa Econômica Estadual; funda o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE; conclui a Termelétrica de

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Charqueadas, de grande porte para a época, próxima a Porto Alegre, e põe em ope-ração a de Candiota, localizada em Bagé, além de construir várias usinas de médio porte.

Mas um dos seus maiores feitos, ressaltados até hoje pelos setores da es-querda e visto com um forçoso desdém por grupos liberais, foi a encampação da Companhia Estadual de Energia Elétrica, subsidiária da Bond & Share canadense, ligada ao grupo americano American Foreign Power, que com a Light carioca carteli-zavam a produção de eletricidade nos maiores centros brasileiros (pdt.org.br, acesso em outubro de 2015).

Brizola tomou essa atitude depois de se cansar dos constantes (des)serviços precariamente oferecidos pela empresa. Os apagões eram cada vez mais frequen-tes e a elevação das taxas de serviço parecia acompanhar proporcional e ilogica-mente a piora dos serviços. O então Governador gaúcho tentou o diálogo diversas vezes (o tom dessas reuniões, não sabemos, claro), mas a cada dia os serviços fi-cavam mais precários, pondo a perigo o bem-estar da população. Como o Vereador Paulo citará em seu questionário, Brizola toma uma de suas ações firmes, a encam-pação. Palavra que soa como música a setores da esquerda e como zunido dolorido ao ouvido dos setores liberais, a favor da livre concorrência, mas não necessaria-mente da qualidade obrigatória.

Como não poderia deixar de ser, afinal, estávamos em plena Guerra Fria, tal fato quase gerou uma crise institucional entre o Brasil e os Estados Unidos. A isso Brizola deu de ombros. Firmemente, que ele era um homem de ações firmes. Dizia, em seus discursos, que se o Brasil não devia nada à URSS, também não precisava ser subserviente aos Estados Unidos. Embora ideologicamente flertasse com os so-viéticos, pregava a independência brasileira naquela bipolarização mundial. Só que, tal qual Bush proclamou em 2001, que quem não estava com os estadunidenses, estavam contra eles, a lógica dos Estados Unidos na Guerra Fria era parecida. Que não se declarava alinhado ao eixo capitalista, estava, automaticamente, com os so-viéticos. A isenção desejada por Brizola, portanto, não existia. As encampações que fez, a propósito, pareciam corroborar isso e depor contra a neutralidade por ele pró-prio requerida.

Brizola pareceu gostar de encampar empresas (e, conseguinte, provocar o bloco capitalista mundial. Os Estados Unidos, por óbvio e sobretudo) que estavam

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mais preocupadas com o superávit de suas planilhas de custos do que com a satis-fação dos consumidores. Não tardou e o Estado assumiu a Cia. Telefônica Nacional, subsidiária da International Telegraph & Telephone (ITT), após o insucesso de lon-gas gestões, para melhoria dos serviços telefônicos do Estado. Daí surgiu a Compa-nhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), novamente vendida ao setor priva-do no Governo de Antônio Brito (PMDB, 1995-1998).

Criou, também, o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária – IGRA, com a entrega de mais de 14.000 títulos a agricultores sem terra, destacando-se áreas de assen-tamento como Fazenda Sarandi, Banhado do Colégio, Caponé, Fazendas Itapoã, Taquari e Pangaré. Tal expediente, a Reforma Agrária, seria muito cara ao seu cu-nhado, num futuro próximo. Ao fazer as reformas de base (a agrária inclusive) Jango foi acusado (como se fosse um crime) de ser comunista, portanto, deveria sair – ou ser tirado! – do poder. Por aqui, Brizola não temia qualquer espécie de golpe. Ora, e não resistiu ao golpe nacional em 61?

Brizola era um aficionado por Reforma Agrária. Diferente de qualquer outro chefe de Executivo (não se tem notícia nem mesmo que João Goulart tenha feito isso), ele visitava os acampamentos e incitava os camponeses e não desistirem de sua luta por terras. Decerto que dava uma aula sobre História, apontando os motivos de se haver latifúndios no Brasil. Os assentados, ao discursos, levantavam suas foi-ces bradando palavras de ordem de referenciando Brizola.

Evidente que Brizola não poderia deixar de atuar na área que ficou marcada como sua marca registrada, a Educação.

Ele construiu quase seis mil escolas primárias, em regime de mutirão, as até hoje conhecidas (algumas ainda de pé e funcionando) brizoletas. As comunidades eram chamadas em força-tarefa para erguerem, algumas em menos de semana, os prédios em que as crianças iriam aprender o ABC, pelo menos. Os homens que não fizessem corpo mole. Todos eram postos ao serviço, num envolvimento salutar e progressista naquela obra em que seus filhos estudariam. Ao Governo caberia a bu-rocratização, contratando pessoal, sobretudo professores. Cerca de 42 mil professo-res, professoras em sua maioria, foram contratados.

As brizoletas estão no imaginário popular de muitas pessoas com mais de sessenta como sendo o local em que aprenderam a assinar o próprio nome, além de terem tomado as lições de álgebras, ciências, histórias e outras tantas lições.

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Algu-mas lembram com forçosa nostalgia as pancadas que levaram de palmatórias corre-toras (infelizmente, prática comum da época), defendendo que se hoje ela ainda zu-nisse nas mãos dos indisciplinados, o respeito voltaria às escolas. Como se naquela época não houvesse indisciplina (prova disso é que a palmatória tinha que funcionar quase diariamente) e como se a violência contra as crianças não existisse ainda ho-je (e com resultados antagônicos). Mas não se tem notícia de que Brizola defendes-se os castigos físicos nos alunos. Então, deixemos o assunto de lado.

Brizola, registre-se, também investiu em escolas técnicas (construiu 278) e em ginásios (parte final do Ensino Fundamental).

Por ironia do destino, agora, 2015, o atual governo gaúcho estuda a possibili-dade de, em caminhos opostos ao de Brizola, privatizar o que foi criado por ele em 1962, o primeiro Zoológico do Rio Grande do Sul, em Sapucaia do Sul. É um praze-roso exercício imaginar o que ele diria sobre. Talvez não dissesse nada, apenas ba-lançaria a cabeça dum lado a outro, em sinal de desprezo, pois já estaria velho, e os velhos trazem consigo a cômoda fraqueza do ceticismo.

1.3 O Rio Grande do Sul pega em armas: a Campanha da Legalidade

Foi 1961, porém, que Brizola surpreende a todos e insere definitivamente seu nome na História Política do Brasil. Talvez tenha sido sua ação mais firme, resoluta e corajosa.

Com a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado, alguns militares do Exército planejaram tomar o poder, já que o Vice-Presidente, acusado por setores da Força Militar de ser comunista, estava justamente em via-gem oficial à China Comunista.

Claro, essa é uma explicação simplista. Os planos de golpismo já estavam sendo articulados desde muito tempo. Os militares, que representavam a classe dominante, não engoliam as reformas de base propostas pelo Presidente Jango. A acusação de comunista era apenas um subterfúgio para a ascensão de um governo conservador ao Planalto. Em não conseguindo eleger um, a elite apoiou os militares. Logo que soube da renúncia, Brizola a recebeu com ceticismo. Depois, che-gou a pensar que se tratava de um golpe contra Jânio e se mostrou à disposição do

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(já ex-)Presidente para resistir. A sucessão dos fatos, no entanto, lhe mostrou um cenário pior. De fato Jânio renunciara por causa de forças ocultas (escancarada-mente influenciada pela Carta-Testamento de Getúlio as suas alegadas razões) e o Exército tinha intenção de assumir o Planalto. Quais eram essas forças ocultas foi algo que nunca soubemos. E, graças a Deus, digo, de Brizola, os militares não as-sumiram o Planalto. Pelo menos não em 61. Pelo menos não enquanto Brizola foi Governador do Rio Grande do Sul e tinha a seu comando a Brigada Militar.

Não de sarrafo, mas de metralhadora armou-se o então Governador gaúcho para lutar contra semelhante absurdo. E, dessa vez, não estava sozinho. Também juntou, para ir de encontro ao Exército Brasileiro, o “exército” gaúcho, a Brigada Mili-tar, que estava, como dito, a seu comando. E se “lá pra cima“ os golpistas contavam com o apoio (moral apenas) de uma camada elitista da sociedade, aqui nos pagos Brizola contou com o apoio maciço da sociedade. E não foi apenas um apoio moral. Voluntários fizeram alistamento e pegaram em armas, que o Palácio Piratini empres-tou, para defender a democracia. A camada elitista gaúcha passou ao largo das pro-ximidades do Palácio Piratini. É possível que nem tivesse saído de casa, preferindo acompanhar os acontecimentos pela Rádio Guaíba (SILVA, 2011).

Cigarro entre os lábios, cara de apreensão, semblante de coragem e uma me-tralhadora a tiracolo. Essa é uma das imagens de Brizola que se tornou emblemática na história recente do País. Da mesma forma que a frase igualmente famosa dita pelo resistente político: “não daremos o primeiro tiro, mas o segundo fizemos ques-tão que seja o nosso.” Nenhum tiro foi dado. Ninguém soube se Brizola seria bom de pontaria. Provavelmente parte dos milhares que tomaram revólveres Taurus empres-tados ficou decepcionada com a impossibilidade de fazer tiro ao alvo contra os ca-ças e tanques que hipoteticamente seriam enviados para combatê-los. As mães dos mais jovens e as esposas dos demais respiraram aliviadas.

Foi mais de semana encasernado, junto com companheiros próximos, nos po-rões do Palácio Piratini. Não passava frio e fome, como sói acontece com os solda-dos no campo, mas a iminência de uma guerra civil e, por conseguinte, a excitação do perigo, reproduzia uma situação real de guerra. O clima era de tensão e, muitas vezes, haviam discussões e hostilidades entre os “aquartelados”. Era um clima de guerra, enfim.

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Mas, como dito, não se soube da pontaria de Brizola. Mas ele mostrou-se, ainda mais, com um grande poder de articulação e persuasão. Para ficar na metáfo-ra bélica: mostrou-se um gmetáfo-rande estmetáfo-rategista pametáfo-ra avançar no campo do inimigo.

Brizola convenceu o Comandante do III Exército, General Machado Lopes, a ficar do lado dos legalistas. E como prova de confiança mútua, entregou o comando da Brigada Militar a ele. Foi mesmo dias de ineditismos. Brizola conseguiu a façanha de colocar o Exército contra o Exército. Juntou mais de cem mil civis dispostos a lu-tar contra as Forças Armadas de seu próprio país. Apareceu para seus governados armado de uma metralhadora e conclamando-os à luta. Fez tudo isso para defender a Democracia. Só podia mesmo, quatro anos depois, ser tachado de subversivo, o que, tenho convicção, lhe soava como uma mesura (SILVA, 2011).

O Movimento só não tomou mais vulto porque o Jango aceitou assumir o po-der submetido a um sistema parlamentarista. Assim, o Exército, po-derrotado por Brizo-la, voltou de onde nunca devia ter saído: à caserna.

Brizola, a isso, rompe com o cunhado. Não aceitava que João Goulart assu-misse sob tal condição. Queria – queria mais que o próprio Jango – que Jango as-sumisse nos conformes da Constituição, no sistema presidencialista. Mas Jango, dizem que para evitar um derramamento de sangue incalculável, foi resiliente e acei-tou o parlamentarismo, sistema que a população, posteriormente, refuacei-tou, dando a entender que Brizola estava certo.

Brizola, que começou sua batalha armado com um pedaço de pau podre lu-tando contra inimigos imaginários, chegou a Porto Alegre com pouca monta, se fez deputado estadual e federal, Prefeito, Governador e, agora, fez tamanho expediente, armou o Rio Grande para defender a legalidade, realmente não poderia aceitar essa subordinação do cunhado. Conta-se que Brizola não poupou o Presidente Parlamen-tarista do xingamento: és um Presidente de saias! (SILVA, 2011)

No pouco tempo que ainda lhe restava como Governador – o seria até o ano vindouro – as relações com o presidente/cunhado foram meramente protocolares. Quando muito.

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Ao final de seu mandato de Governador gaúcho, Brizola se transfere para o Rio de Janeiro, onde se elege deputado federal com nada menos do que um terço dos votos de todos os eleitores cariocas.

Logo, Brizola não era mais o Governador do Rio Grande do Sul na ocasião do golpe militar, no final de março de 1964. Tal situação, entretanto, não impediu que Brizola engolisse a antiga mágoa e novamente se colocasse à disposição de João Goulart para opor resistência, mas este, diz-se que para novamente evitar um der-ramamento de sangue civil, preferiu a resiliência derrotiva.

Coube a Brizola, então, a resiliência forçada, o exílio.

Ele escolheu o balneário Atlântida, no Uruguai. Lá se dedicou à pecuária, le-vando uma vida confortável, mas simples, como pequeno fazendeiro. Não deixou, entretanto, de manter seus contatos políticos aqui no Brasil, sendo simpático, quan-do quan-do bipartidarismo, ao MDB.

Em 1977, entretanto, o também governo ditatorial militar de nosso vizinho o expulsa, sem a carência de explicação, em plena Operação Condor, que perseguia os exilados políticos de toda a América Latina, dominada por ditaduras militares, na época. Evidentemente que tal expulsão se deu por pressão do governo brasileiro, já que tinham, o governo brasileiro e o uruguaio, convergências ideológicas. O governo brasileiro, provavelmente, desconfiava de influência de Brizola nas ações de resis-tência tanto oficiais, pelos políticos do MDB, quanto as possíveis informais, pelos diversos grupos de resistência clandestina, os quais, talvez eles supunham, Brizola era mentor. Os militares brasileiros, então, para garantir, pediram aos hermanos uruguaios que expulsassem o subversivo de seu território, que é limítrofe ao Brasil. Ocorre, contudo que “havia vários anos não atuava ostensivamente em relação à política brasileira, como fizera nos primeiros tempos do exílio. Soube-se, porém, de-pois, que o Governo do Uruguai expulsara Brizola sob pressão do Ministro de Guer-ra do BGuer-rasil, GeneGuer-ral Silvio Frota, que, articulando um golpe contGuer-ra o Governo do General Ernesto Geisel, temia complicações no Rio Grande do Sul, como aconteceu em 1961, e por isto queria vê-lo distante da fronteira, vivo ou morto (BANDEIRA, p.104, 1979)”. Eram os barulhos dos tiros não disparados da Campanha da Legali-dade ecoando ainda, três anos depois e a centenas de distância de Porto Alegre. Definitivamente, os militares não haviam engolido a derrota de 61. Perseguiram seu

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inimigo (que, a essa altura, nem era tão forte) mesmo em território estranho à sua jurisdição.

Brizola surpreende. Visando a testar (ou desafiar?) a política de direitos hu-manos implementada pelo Presidente Jimmy Carter, adentrou na Embaixada dos Estados Unidos no centro de Montevidéu e pediu asilo político aos “imperialistas”. Era mais uma artimanha do estrategista que Brizola havia se tornado e, ao passar dos tempos e dos acontecimentos, se aprimorando.

Dias depois, Brizola embarcaria com a família para Nova Iorque, com o aval do próprio presidente estadunidense, o qual, deixando as ideologias de lado – ou discutindo-as - se tornaria amigo pessoal. Lá, Brizola pôde voltar as suas rearticula-ções políticas, mantendo conversas e trocando ideias com partidos sociais-democratas da Europa. Uma aproximação que o levou, anos mais tarde, como pre-sidente do PDT, a ocupar a vice-presidência da Internacional Socialista e, posterior-mente, a se tornar um dos presidentes de honra da Internacional Socialista. Ou seja, “o tiro dos militares brasileiros saiu pela culatra” (Bandeira). Brizola voltaria mais for-te e embasado politicamenfor-te. Ou, anfor-tes disso, ainda no exílio, dianfor-te da progressiva abertura política no Brasil comandada pelo general Ernesto Geisel, Brizola se movi-menta e organiza em Lisboa em junho de 1979 – o Encontro dos Trabalhistas do Brasil com os Trabalhistas no Exílio, com o objetivo de reorganizar o PTB fundado por Getúlio Vargas em 1945 e extinto pela ditadura militar. Com integral apoio do então presidente Mario Soares, de Portugal, o evento é um sucesso e antes mesmo da decretação da anistia, em setembro de 1979, começa a ser reorganizado o Parti-do Trabalhista Brasileiro (PTB) sob a liderança de Brizola a partir da assinatura e Parti-do lançamento da "Carta de Lisboa". Brizola estava mesmo quieto em seu canto (ou recanto, para usar um termo camponês, já que estava numa pequena fazenda), os militares que o despertaram, na ânsia de o calá-lo (BANDEIRA, 1979).

1.5 Ninguém mais o cala: a volta do exílio, a propagação de suas ideias, a fun-dação do PDT

Em 1979, o governo brasileiro começou a sua abertura política, lenta, gradual e progressiva. Os militares preparavam-se para voltar à caserna, de onde nunca de-veriam ter saído, repito. Os exilados políticos começaram a ser aceitos de volta.

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De-pois de quase quinze anos, Brizola pôde retornar aos pagos gaúchos, a São Borja. Seu cunhado Jango não teve a mesma sorte. Já havia morrido no ano anterior, na Argentina, de ataque cardíaco (o que foi posteriormente questionado pela família, que desconfiava que ele pudesse ter sido envenenado. Em 2013, a Comissão Naci-onal da Verdade exumou seu corpo e o resultado foi inconclusivo).

Tão logo matou as saudades, Brizola reiniciou suas articulações para refundar o PTB (o início dos anos 80 foi marcado por refundações e fundações de diversos partidos). Mas, numa disputa na justiça eleitoral, perde o direito de usar a sigla para a deputada paulista Yvete Vargas, parente de sangue, mas não de ideias, do ex-presidente da qual usava o sobrenome, pois era considerada uma parlamentar ali-nhada à direita.

Brizola ficou muito abalado com a derrota, pois a sigla lhe tinha muita carga emocional. Mas não desistiu. A ele e seu grupo coube, então, mudarem de nome para não mudarem seus ideais. Funda rapidamente o PDT, que é, no meu entender o que tem a verdadeira herança trabalhista e getulista (embora nos dias atuais, de-vido a algumas posturas de seus membros, ele parece nem sempre fazer pleno jus às diretrizes ideológicas herdadas).

E é por esse PDT, fundado às pressas, que se elegeu Governador do Rio de Janeiro já em 1982. Brizola venceu as eleições, segundo ele, graças ao que definia como "a força do povo", numa histórica campanha que ele próprio avaliou que só sendo comparável a de Getúlio Vargas em 1950. Na época, embora o PDT pratica-mente não tivesse estrutura orgânica ou apoio financeiro, Brizola partiu do zero nas pesquisas pré-eleitorais - que davam ampla vitória para Sandra Cavalcanti, a candi-data, ironia, do PTB – para a vitória graças ao amplo acesso que teve a opinião pu-blica, via debates, que Brizola era bom de debates. O seu material de campanha restringia-se a um boné vermelho com o slogan "Brizola na cabeça", criado pelo jor-nalista Wagner Teixeira, e alguns poucos cartazes e panfletos (pdt.org.br, acesso em outubro de 2015).

À frente dos cariocas, Brizola retomou ideias de quando era governador do Rio Grande do Sul, sobretudo as voltadas à educação.

Se aqui no Rio Grande Brizola construiu as famosas “brizoletas”, no território fluminense ele construiu inúmeros Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), que ficaram famosas como “brizolões”. Tais educandários previam o que ainda hoje,

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2015, as prefeituras e os estados ainda patinam para colocarem em práticas: turno integral, com assistência médica e nutricional plena.

Brizola também se preocupou com o T do seu novo partido. Mesmo com pou-cos recursos, fez diversas melhorias no saneamento (o que não rende voto) e levou luz elétrica às favelas e à zona rural.

O Governo Brizola estancou a sangria dos dinheiros públicos representada pela organização do carnaval, com a construção da Passarela do Samba, obra exe-cutada no prazo recorde de quatro meses e que, em apenas dois anos, ensejou re-ceitas suficientes para cobrir com sobras todo o seu investimento. Além de ampliar o mosaico dos cartões-postais cariocas, na Passarela o professor Darcy Ribeiro, então vice-governador e um dos principais mentores do Programa Especial de Educação, desenvolveu um complexo escolar com 210 salas de aula para funcionar fora do pe-ríodo carnavalesco. Aliás, Darcy Ribeiro foi mentor de muitas das ideias a respeito da Educação propagadas por Brizola, que sempre reconheceu a influência do ami-go, registre-se.

Em 1984 faz jus ao D da sua sigla e lidera, no Rio, a campanha das Diretas Já. O comício da Candelária, o qual estava à frente, reuniu mais de um milhão pes-soas que exigiam o direito de votar para Presidente da República.A mobilização dos cariocas obrigou os meios de comunicação – especialmente a Rede Globo de Tele-visão – a levantar o boicote imposto ao movimento, numa tentativa vã de ocultar o que viria a se transformar numa das maiores campanhas cívicas do País. Depois desse comício, outras cidades, sobretudo capitais, aderiram mais fortemente ao mo-vimento pela redemocratização e eleição direta para o cargo máximo brasileiro.

Derrotada no Congresso pela maioria governista a emenda que restabelecia as eleições diretas, os líderes da campanha partiram para uma solução negociada para o fim do regime militar, via eleições indiretas. Brizola rejeitou o acordo, propôs às oposições que em vez de eleger indiretamente um presidente da República, seria melhor estender o mandato do general Figueiredo e fosse feita a transição em curto espaço de tempo, para em seguida eleger – diretamente – o presidente da Repúbli-ca já em 1986. Brizola foi execrado e logo depois se recusa a participar do governo Tancredo Neves, o da Nova República. Tancredo nem chega a assumir, o ex-presidente do PDS, o partido da ditadura militar, José Sarney, assume a Presidência da República.

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No fim, talvez Brizola tivesse tido certeza que agiu certo ao se negar a partici-par do Governo Tancredo, pois teria que integrar o Governo Sarney. Já no final do seu governo Brizola dá mais um aprova de coerência: em março de 1986, apenas seis dias após a edição do "Plano Cruzado", ele condena, como presidente nacional do PDT, em cadeia nacional de rádio e televisão, a política econômica de José Sar-ney, que pretendia acabar com a inflação por decreto lançando o "Plano Cruzado" que, na opinião de Brizola, não passava de uma estratégia eleitoral. "Tudo isso são votos, votos e mais votos", disse Brizola, explicando que a inflação "irá voltar com mais força, como volta uma mola que é comprimida contra a parede".

Brizola ainda seria candidato a Presidente em 1989, na primeira eleição direta para presidente realizada no Brasil depois da ditadura. Eleição essa que dividiu o país basicamente em duas correntes: de um lado a direita reunida em torno do "ca-çador de marajás", Fernando Collor de Mello, do outro os oposicionistas divididos entre PDT e PT. Apesar dos esforços de Brizola em buscar a unidade, os dois parti-dos marcharam por caminhos próprios. Brizola perdeu o segundo lugar por uma

dife-rença (muito contestada por ele, que Brizola era, afinal, um contestador) mínima de 0,5% de votos (400 mil, num universo de 86 milhões) – e uma vaga na disputa em 2º turno – para Lula, que seria derrotado pelo caçador de marajás, que só conseguiu capturar a poupança e a autoestima da população.

Em 1990 Brizola se elege Governador do Rio de Janeiro pela segunda vez com o extraordinário índice de 70% dos votos ainda no primeiro turno. Logo de iní-cio, se lança à tarefa de recuperação dos Cieps, abandonados por seu antecessor, Moreira Franco. E não só isso: além de concluir as obras que haviam sido paralisa-das e reimplantar a filosofia da escola de turno único, ampliou o Programa Especial de Educação com a criação dos ginásios públicos. Ao final do seu governo, 506 Ci-eps estavam funcionando, depois de um programa de obras 150 vezes maior do que a construção do Maracanã.

Apesar de um relativo ostracismo, lança-se candidato ao Planalto novamente em 1994, tendo como vice seu companheiro Darcy Ribeiro, mas de novo é preterido. Ele atacou ferozmente o Plano Real, desagradando grande parte do eleitorado, que via no Plano Real um eficaz mecanismo contra o assombro ainda recente da infla-ção. Quem venceu as eleições foi, justamente, o idealizador do Plano Real, o ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso.

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Desde então Brizola não ocupou nenhum cargo eletivo, pois foi derrotado em suas tentativas de eleição para o governo do Rio, o Senado e até como Vice-Presidente, na chapa de Lula. Mas sua militância política, mesmo afastado dos car-gos, continuou no partido que fundou, o PDT. Sua luta, como sempre, era pelo tra-balhismo, pelo nacionalismo e contra o neoliberalismo. Dedicou-se muito na luta contra a política neoliberal de privatizações do Governo Fernando Henrique. Sua preocupação maior era com a empresa fundada por seu padrinho político, a Petro-bras.

Em 2000 foi candidato à Prefeitura do Rio. Suas caminhadas e comícios reu-niam milhares de pessoas, mas as pesquisas de opinião sempre o colocavam num dos últimos lugares (e o posterior resultado das urnas confirmou). Isso fez com que Brizola contestasse, contestador que era, a confiabilidade do nosso sistema de vota-ção (hoje, alguns céticos evocam as suspeitas de Brizola para pôr em dúvida as ur-nas eletrônicas).

Foi ainda candidato ao Senado e apoiou outros candidatos a outros cargos. Não obtendo êxito, culpava a mídia por não lhe dar o devido espaço (pdt.org.br, acesso em outubro de 2015).

Morreu em 21 de junho de 2004, em decorrência de um infarto. Foi enterrado junto com os trabalhistas João Goulart e Getúlio Vargas, em São Borja. Decerto que os três se juntam, em horas madrugadinas, para discutir a sempre efervescente polí-tica brasileira e as sempre ruins condições dos trabalhadores, os quais eles morre-ram lutando em prol.

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CAPÍTULO II O PDT NA 12ª LEGISLATURA DA CÂMARA DE FELIZ/RS

2.1 A Câmara Municipal de Feliz

Feliz conquistou sua emancipação de São Sebastião do Caí, tornando-se município, em 17 de fevereiro de 1959, pela Lei Estadual 3.726/1959. Meses depois, no dia 31 de maio de 1959, foi oficialmente realizada a instalação do município de Feliz. No dia seguinte, Kurt Walter Graebin, assumiu como primeiro prefeito da cida-de, tendo como vice-prefeito Adalberto Weissheimer. A primeira composição da Câ-mara de Vereadores de Feliz teve os senhores Alípio Nienow, Avelino Haas, Ernesto Baumgarten, Fernando Haas Filho, Guiomar João Ruschel, Irineo Gustavo Buch-mann e Kuno Stoffels.

Inicialmente, os encontros dos vereadores eram realizados no prédio localiza-do na esquina entre as Ruas Pinheiro Machalocaliza-do e a Tomé de Souza. A Câmara de Vereadores ficou instalada neste prédio até o ano de 1981, quando ocorreu a inau-guração do novo prédio da Prefeitura Municipal. Neste novo endereço, a Câmara teve seu funcionamento sendo realizado no segundo pavimento (camarafe-liz.rs.gov.br, acesso em outubro 2015).

Embora este trabalho diga respeito à 12º Legislatura, as atas constam como sendo da 13ª Legislatura. No sítio da Câmara consta como 12ª Legislatura. E o As-sessor da Casa, senhor Marcelo Werkhausen, confirma que o correto é mesmo utili-zar a denominação 12ª Legislatura. A explicação para tal imbróglio é encontrada, por sugestão do próprio servidor, no livro Feliz Ontem e Hoje:

“No dia 02 de julho de 1969, a o prefeito municipal, Kurt Walter Graebin, te-ve seu mandato cassado por força do Ato Institucional Número 5 (AI-5), edi-tado pelo regime militar que tomou o poder no país em 1º de abril de 1964. Então, assume o poder o Vice-Prefeito Guilherme Benno Braun até a che-gada do Interventor Federal Max Willibaldo Krewer, em 30 de agosto de 1969, que ficou no poder até 31 de março de 1973”. (ASSMANN, p.45,2009)

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Consta nesse livro que Feliz ficou sem vereadores de 02.07-1969 até 01.04-1973. Daí decorre a confusão que eu não consegui entender de pleno, já que tam-bém não foi possível localizar as atas do período.

Mas isso em nada interfere no trabalho em si. Mas a curiosidade serve para ilustrar ainda mais os transtornos da Ditadura Militar (ainda que esse não envolva torturas, foi só uma confusão de ordem administrativa).

Em 2007, o então presidente da Casa Legislativa, Gilberto Rauber deu início ao processo das obras da nova Câmara de Vereadores, no subsolo da Prefeitura Municipal. No dia 13 de dezembro de 2007, ocorreu a solenidade de inauguração da nova Câmara de Vereadores com a presença de inúmeros convidados. O novo pré-dio, mais amplo, contempla uma sala de reuniões de comissões, sala do presidente e sala do assessor jurídico, além do plenário onde se realizam as sessões ordinárias nas noites de segunda-feira. Eventualmente, a Câmara de Vereadores recebe en-contros de partidos e reuniões de grupos e associações.

Este prédio localiza-se no Centro na cidade, na parte debaixo do prédio da Prefeitura, como disse, na Rua Marcos José de Leão, número 50. Seu prédio é mui-to requisitado como pano de fundo de fomui-tos pelos visitantes que vêm conhecer a Capital Gaúcha da Cerveja Artesanal.

2.2 Os Vereadores pedetistas da 12ª Legislatura

Foram dois os Vereadores efetivos pedetistas na 12ª Legislatura da Feliz (na condição de suplente, ocasionalmente, assumiram outros Vereadores, sobretudo por cedência do Vereador Décio Franzen, mas optei por deixá-los de fora da análise, já que as continuidades de seus trabalhos legislativos ficaram comprometidas, uma vez que, na suplência, não assumiam a cadeira por mais de trinta dias consecuti-vos): Paulo Alberto Hann e Décio Luiz Franzen.

Como expliquei, é muito abstrato o trabalho de comparar pessoas, ainda que acredito mesmo que Leonel Brizola nos tenha deixado um legado político, uma ideo-logia talvez, o chamado Brizolismo. Ainda que cada pessoa seja diferente e interpre-te os problemas por resolver de maneira pessoal e subjetiva, os dois Vereadores pedetistas em análise representam um partido político. Partido esse fundado princi-palmente pelo próprio Brizola e que, apesar de algumas mudanças, representam

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uma história e defendem bandeiras que lhe são muito caras, sobretudo o trabalhis-mo (entendido, de maneira simplista, mas não equivocada, cotrabalhis-mo a defesa árdua dos direitos dos trabalhadores) e a Educação, sobretudo a Educação Básica.

Mas não só da preocupação com os trabalhadores se ocupou Brizola, como demonstrado nos capítulos anteriores. Os trabalhadores de campo e o próprio sis-tema democrático também foram motivos de sua dedicação.

E é sobre esses temas que analisaremos (o verbo na primeira pessoa do plu-ral convida o leitor a participar) se os Vereadores se dedicaram a ponto de poder levar o láureo título de brizolistas (percebam, aqui, uma leve frase tendenciosa).

Apesar de em nenhum momento de suas falas (pelo menos no que constou em atas) algum dos dois vereadores terem citado Leonel Brizola, ou mesmo a “dou-trina” trabalhista, pode-se afirmar, com base nas interpretações das atas do período, que ambos fizeram um mandato “à esquerda”, mostrando-se preocupados com os trabalhadores e com as crianças munícipes (o que, por conseguinte, redunda numa preocupação com a escolarização delas). Percebeu-se, como se verá a seguir, tam-bém uma clara preocupação com a Educação e com os trabalhadores do campo.

Há que se ressaltar que o Município de Feliz tinha, na época analisada, pouco mais de doze mil habitantes, segundo o Censo do IBGE de 2010. Sendo que seus debates políticos não são os mesmos dos grandes centros, em que a orientação ideológica e partidária tem um maior protagonismo. Não quero dizer, com isso, que a questão ideológica é menos importante, o que refuto com convicção e desde o início deste trabalho quis deixar claro. O que advogo é que as discussões assumidamente (ou propriamente) ideológicas ficam num segundo plano. O que não impede de dizer que as ideologias estão intrínsecas e subentendias nos discursos, posições e propo-sições. O que se sobressai, contudo, são as urgências da comunidade. Demandas essas que estão na zona urbana como no meio rural, pois, segundo o mesmo censo, mais de 23% da população vive na área rural. A agricultura correspondeu, segundo a Secretaria da Fazenda do Município, a 35% da riqueza do Município em 2013 (acesso no dia 02.11.2015).

Devido às características do Município, é aceitável, eu diria, que questões mais emergenciais se sobressaiam às de cunho filosófico e teórico, por assim dizer. Percebe-se, entretanto, que mesmo nas posições dessas emergências, os dois

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ve-readores pedetistas não deixavam de se deixar influenciar pela agenda trabalhista, educativa e camponesa.

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CAPÍTULO III POSICIONAMENTOS, VOTAÇÕES E DISCURSOS

A seguir, ressalto algumas posições e preposições de ambos, que, em tese, embasam o que defendo. Não é uma tentativa de encerrar o assunto, pois, como venho me preocupando em ressaltar, é uma análise comparativa de pessoas (ainda que o Brizolismo seja algo quase palpável), de subjetividades, a partir de fatos e acontecimentos diferentes no tempo (2009 a 2012) e espaço (uma pequena cidade).

Quero explicar que quando me refiro à pessoa Brizola, o faço porque o Brizo-lismo não é uma ideologia academicamente oficial, por assim dizer, como temos o Socialismo, o Capitalismo, o Anarquismo entre outras. Diria que o Brizolismo asse-melha-se, não necessariamente em mérito, mas em possibilidade de definição, ao Peronismo argentino (em que, não raro, a esquerda e a direita o requerem) ou, mais recentemente, ao Lulismo brasileiro, por exemplo.

Essas ideologias, ressalte-se, surgem justamente devido à força e carisma das pessoas que levam seu nome. O próprio Getulismo, o qual Brizola evocava, é de difícil definição. A esquerda idolatra, se não me equivoco no termo, Getúlio Var-gas, mas não esquece suas tendências fascistas do Estado Novo, por exemplo.

O chamado Lulismo surgiu há pouco, e é muito mais uma criação de seus oponentes do que de seus admiradores. Ele é tão recente que nem me atrevo a co-mentá-lo. Até porque, enquanto escrevo estas linhas, o próprio Lula concede entre-vistas deixando em aberto a possibilidade de vir a concorrer à Presidência novamen-te. Se ele se eleger, a definição de Lulismo, que eu desconheço, sofrerá variações.

Mas o que há de comum nesses “imos” personificados, é o caráter dito popu-listas de seus governos. De Vargas a Lula, passando por Perón, Brizola, a família Kirchner e o Lula, todos eles fizeram um governo que, segundo os críticos, atendeu aos mais pobres com assistencialismos e programas sociais meramente paliativos. Ocorre que, historicamente, no Brasil e na Argentina nunca houve mudanças estru-turais significativas. Aqueles que criticam os paliativos, quando no governo, nem isso fizeram.

Aos Vereadores, então.

O Vereador Paulo, na primeira sessão ordinária da legislatura, já demonstrou uma preocupação que lhe seria corriqueira durante o mandato, a Educação. No dia 02 de março de 2009, ocupou a Tribuna Livre (destinada a entidades diversas para

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exposição de assuntos de interesses comunitários, conforme art. 94 do Regimento Interno da Casa), o senhor Edson Pedrotti, Diretor do Colégio Estadual Professor Jacob Milton Bennemann. O Diretor explanou sobre a problemática da manutenção da turma de 1º ano do curso Normal Habilitação em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental no ano de 2009, do Colégio. Ouvido o professor, os Verea-dores se manifestaram. Um pedetista foi o primeiro a pedir a palavra:

“O Vereador Paulo destacou que caso semelhante ocorreu na Escola de Pi-cada Cará, tendo a comunidade se mobilizado, juntamente com o apoio de pessoas ligadas a Governadora, prevalecendo à vontade da comunidade. Ressaltou que deve haver o envolvimento de cada Vereador e lançou a idéia de que o próximo orçamento contemple valores para o município autorizar o transporte gratuito dos alunos do magistério e, ainda, uma ajuda de custo para as despesas do material utilizado nos estágios.”

O Vereador Décio, que é também Advogado, lembrou da legislação:

“O Vereador Décio ressaltou que existe amparo na Lei, obrigando que 25% do orçamento seja destinado a educação, sendo que parte destes recursos poderiam ser destinados a Escola de 2ª grau que formou tantos alunos, in-clusive muitos dos Vereadores”.

O debate era acerca de melhorias nas condições dos alunos, sobretudo no que tange ao transporte deles, da até então única escola de ensino médio da cidade (hoje há um campus do IFRS), que oferece também o Curso Normal para formar professoras para dar aula nos primeiros anos do ensino fundamental.

Nessa data, ressalte-se, outros Vereadores se manifestaram. Todos, por seus pontos de vista, demonstraram alguma preocupação com os problemas enfrentados pelo curso que forma Professores. Professores esses (ou essas, mais comumente, sobretudo na época em que Brizola era nosso Governador) que foram dar aulas nas brizoletas gaúchas. Mas, nosso foco aqui são os Vereadores pedetistas, sendo por isso, dispensável apresentar as corroborações dos colegas de outros partidos. As contrariedades deles, entretanto, podem nos ser úteis nesse comparativo.

No dia 24 de agosto de 2009, os únicos Vereadores que se lembraram (e lembraram aos demais) dos 55 anos da morte de Getúlio Vargas foi justamente os dois pedetistas da Casa.

“O Vereador Paulo fez referência aos 55 anos de morte do ex-presidente Getúlio Vargas, relembrando as conquistas de seu governo”.

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“O Vereador Décio referiu-se a Getúlio Vargas como o maior estadista que o Brasil já teve, conquistando vários benefícios aos trabalhadores”.

Vargas, como dito, foi o primeiro grande nome a apostar em Brizola. Vislum-brou no então rapaz uma iminência na Política brasileira. Brizola, por sua vez, se-guiu sua carreira inspirado nos ideais propagado por aquele que foi nosso mais im-portante presidente. Em sua volta do exílio, ele tentou manter a sigla do PTB, mas, por manobra jurídica, não conseguiu, aliás (vide capítulo 1).

Curiosamente, no dia 22 de agosto de 2011, foi o Vereador Jorge Zimmer, do PT, quem ocupou a Tribuna para fazer uma explanação sobre os 50 anos da Cam-panha da Legalidade. Após a sua fala, o então Deputado Estadual pelo PDT, senhor Paulo Azeredo, convidado para a sessão, discorreu sobre a campanha que pelo menos postergou em quase três anos o golpe militar. É possível (e provável) que os dois vereadores pedetistas tenham se manifestado, mas as eventuais falas deles, assim como dos demais, se houve, não foram registradas na ata daquela sessão.

“Após a leitura e votação da ata, o Presidente Valdecir Kronitzky convidou o Vereador Jorge para fazer algumas considerações sobre os 50 anos da Campanha da Legalidade. A seguir, convidou o Sr. Paulo Azeredo, Coorde-nador da Bancada Estadual do PDT, para fazer uso da palavra, tendo ele realizado um histórico a respeito da Legalidade no Rio Grande do sul.”

É praxe prefeituras contratarem, visando ao excepcional interesse público, profissionais das mais diversas áreas em regime de contrato emergencial por prazo determinado. Ocorre que, não raro, o excepcional vira regra, banalizando as rela-ções de trabalho entre os municípios e os trabalhadores a um contrato sem maiores garantidas trabalhistas a estes últimos. Além disso, não priorizam o que determina a legislação, a contratação via concurso público. Uma garantia de segurança jurídica, aliás, a todos: trabalhador, estado e população. Os vereadores Décio e Paulo sem-pre votaram a favor desses projetos, mas nunca deixaram de ressaltar a importância do concurso. Ocorre que, como citei, as urgências dos Municípios acabam sobre-pondo-se às convicções políticas, muitas vezes. E não se condena isso, aliás. Foi o que ocorreu com o Projeto de Lei nº 74/2009, que “Autoriza o poder executivo muni-cipal a contratar por tempo determinado, oito monitores, visando a continuidade de serviços essenciais junto as escolas de educação infantil da municipalidade e dá outras providencias”, tendo como relator o Vereador Décio, que se manifestou a

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fa-vor do Projeto. O Vereador Paulo complementou “que se não fosse pelo alcance, as crianças sendo beneficiadas, esse projeto não seria aprovado”. O Vereador Paulo ficou entre sua convicção no concurso público como garantia de segurança aos oito monitores, às crianças atendidas e de um serviço em tese de melhor qualidade para a própria municipalidade e pelas crianças que seriam beneficiadas. Sua veia brizolis-ta de educação falou mais alto. O projeto foi aprovado.

No primeiro ano de mandato, em 2009, o Vereador Décio se mostrou muito preocupado com o problema da drogadição entre os jovens, na cidade. Mais tarde, propôs e integrou uma comissão parlamentar para analisar o problema (no que, pos-teriormente, quando assumiu uma cadeira na Assembleia gaúcha, foi homenageado pela dedicação a esse tema). Em diversas oportunidades subiu à Tribuna para aler-tar sobre o caso. Em minhas pesquisas sobre Brizola, confesso não lembrar de ter encontrado algo sobre o assunto. Supõe-se, contudo, que, em se tratando de um problema da juventude brasileira, Brizola pediria um aparte ao Vereador Décio quando esse citasse o tema em seu discurso. O líder trabalhista era, definitivamente, um preocupado com o futuro dos jovens brasileiros. E decerto que as drogas não podem contribuir para um promissor porvir.

O PDT, nesta legislatura ora analisada, era oposição ao Prefeito. E, há que se salientar, uma forte e qualificada oposição (a oposição contava com cinco das nove cadeiras). O Vereador Paulo Hahn é Contador concursado da própria Prefeitura e, à época, presidia o sindicato dos servidores municipais de Feliz (cargo que ainda exerce, inclusive, desde 2006). O Vereador Décio Franzen, por sua vez, é advogado reconhecido na cidade, além de ser um militante político de longa data. Foi o verea-dor mais votado do pleito que elegeu esta legislatura.

O Vereador Paulo, inclusive, na sessão do dia 10.05.2010 entrelaçou seus cargos (em 2010 era Presidente da Casa) e entregou um requerimento do Sindicato dos Servidores Municipais à Câmara de Vereadores. Isso é, ele assinou o documen-to como Presidente do Sindicadocumen-to. Como Presidente da Câmara, recebeu e o pôs na pauta. E como Vereador, defendeu a posição do sindicato:

“O Vereador Paulo Alberto Hahn agradecendo o espaço cedido pelo Verea-dor Valdecir Kronitzky, explicou o Requerimento protocolado pelo Sindicato, dizendo que o menor padrão de vencimentos no Município é inferior ao sa-lário mínimo nacional, o que pode ser considerado humilhante. O Vereador parabenizou o Município de Vale Real, onde a Câmara Municipal se negou

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a dar a reposição salarial, porque lá o menor salário dos servidores era para ser de R$ 480,00, então, os Vereadores falaram com o Prefeito, que pron-tamente atendeu ao pedido dos Vereadores, passando para R$ 580,00 o menor vencimento dos servidores de Vale Real. O Vereador Paulo ressaltou que gostaria que aqui na Feliz também fosse seguido esse mesmo enten-dimento. Primeiro elevar todos os vencimentos em valores iguais aos de Vale Real, e, posteriormente fosse feita a reposição salarial em índice igual para todos os servidores.”

Se esse fato – o de ter remetido um documento do Sindicato assinado por ele para a Câmara, na qual era Presidente – constitui uma ilegalidade, por uma eventu-al suspeição, não nos importa aqui -. Cito a passagem, no entanto, por julgá-la opor-tuna e útil à construção desta análise. Mesmo considerando a hipótese de impedi-mento do Presidente em defender os interesses do Sindicato (que são os interesses dos servidores) por ser ele, o Presidente, um servidor, o que importa aqui é o empe-nho demonstrado pelo pedetista na busca de melhores condições de salários à ca-tegoria. Ademais, o assunto em tela diz respeito à classe mais baixa de servidores. Aqueles que tinham como salário base um valor menor que o salário mínimo nacio-nal. O que é, convenhamos, realmente humilhante.

Cabe ressaltar, sobre isso, que depois da manifestação, o Prefeito se reuniu com os Vereadores e prometeu de fato aumentar para o valor de um salário mínimo nacional o menor padrão de vencimento do quadro funcional da Prefeitura, segundo consta na ata da sessão seguinte à de cima.

“O Vereador Paulo Alberto Hahn, ressaltou a reunião do dia 12/05/2010 feita pelos Vereadores e com o Prefeito Municipal, onde foram discutidas, acor-dadas e asseguradas algumas recuperações de alguns quadros de servido-res. Parte do acordado já chegou a esta Casa, através de Projeto de lei re-ferente a reposição salarial anual, no percentual de 5,26%. Acordaram ain-da que seriam elevados os vencimentos que estão abaixo do mínimo na-cional, de seis categorias de servidores, (operário, merendeira, etc. ) para que passem a receber vencimento no patamar de R$ 545,00, que seria o menor salário do Município. Espera que para a próxima seção legislativa seja encaminhado para a Câmara respectivo Projeto de Lei de origem do Executivo, pois foi isto que ficou verbalmente acordado.”

Ambos faziam uma oposição muito combativa aos projetos com os quais não concordavam. E como a oposição era a maioria da Câmara, não raro, convenciam os colegas de outros partidos oposicionistas a lhe acompanharem em seus votos. Como esta “EMENDA MODIFICATIVA AO PROJETO DE LEI Nº 100/2009:

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“O inciso I do artigo 5º passa a vigorar com a seguinte redação: I- abrir, du-rante o exercício, até o limite de 10% (dez por cento) do somatório da Re-ceita Total Projetada para o exercício, inclusive a previsão adicional, crédi-tos suplementares para suprir as dotações que resultarem insuficientes”.

Essa emenda, de autoria do Vereador Paulo, visava à diminuição de 25% pa-ra 10% do limite da receita do orçamento municipal que o Prefeito poderia modificar a alocação sem a prévia autorização do legislativo. O proponente a defendeu:

“O Vereador Paulo justificou que 25% (vinte e cinco por cento) numa esti-mativa de receita de R$ 19.952.840,00 (dezenove milhões, novecentos e cinqüenta e dois mil e oitocentos e quarenta reais) corresponde a R$ 4.988.210,00 (quatro milhões, novecentos e oitenta e oito mil e duzentos e dez reais), uma quantia superior ao orçamento de muitos municípios. Não é recomendável e nem admissível que após a Câmara de Vereadores anali-sar e aprovar o Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias que define as metas, os programas e ações do município para o exercício de 2010, com recursos alocados para suprir os investimentos, dê-se liberdade ao Prefeito para anular, alterar substancia1mentete as decisões tomadas por esta Casa Legislativa. Não apreciamos e votamos a matéria apenas para dar legalida-de ao ato e permitir para que o Executivo faço o que quiser, mas sim apre-ciamos e votamos, com emenda, para que seja executado como fora apro-vado. Pode-se admitir uma pequena modificação em seu conteúdo, mas não superior a 10%, que é considerável, em termos de números. A emenda que reduz de 25% para 10% os deslocamentos de recursos, soma a impor-tância de R$ 1.995.284,00 (hum milhão, novecentos e noventa e cinco mil e duzentos e oitenta e quatro reais)”.

Seu colega de partido lhe corroborou: “O Vereador Décio concorda com a proposta de emenda, entendendo que 25% é um percentual elevado e se o Executi-vo tiver que fazer algum ajuste no Orçamento e for em prol da comunidade, esta Ca-sa irá aprovar”.

À situação cabia a rejeição do projeto: “O Vereador Leonardo salientou que a redução para 10% é muita diferença, visto que nos anos de 2008 e 2009 o índice era de 25%.” Mas não teve jeito. Posta em votação, a emenda foi aprovada por seis vo-tos favoráveis e dois contrários. E o Prefeito teve que pedir autorização da Câmara de Vereadores toda a vez que quisesse modificar alguma rubrica em mais de 10%. Guardadas as proporções e eventuais diferenças ideológicas, era Brizola e Lacerda trocando farpas no Parlamento Federal.

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Aliás, dificilmente encontrei alguma ata do período em que não conste uma fala dos dois Vereadores. Nem sempre criticavam, evidentemente, mas apresenta-vam alguma demanda ou pendência da municipalidade. Não raro, o Vereador Paulo era o primeiro a pedir a palavra, numa salutar ansiedade de parlar. Isso corrobora o caráter participativo de ambos. Característica essa que era de Brizola também (ain-da que densi(ain-dade de participação, que reste claro, não necessariamente está liga(ain-da à ideologia. É que, a esta altura, comparações desse tipo são tentadoras).

“O Vereador Décio falou sobre seu pedido de providências sobre a inclusão digital, para a população em geral, mas especialmente, para a população menos favorecida e de difícil acesso a esta tecnologia, e pouco ou nada se vê em nosso Município sendo feito neste sentido, o pedido para a Adminis-tração Municipal. Disse também, que está sendo muito cobrado nas ruas, e por esses motivos resolveu fazer o pedido, esperando a colaboração de to-dos os colegas para a sua aprovação.”

Essa fala é da sessão do dia 12.03.2012, e essa preocupação de acesso por parte dos mais carentes, me fez lembrar a época em que, Governador do Rio de Ja-neiro, Brizola criou uma linha de ônibus que levava a população mais pobre à Copa-cabana, então destinada somente aos mais abastados. Nesse caso, o Vereador Dé-cio propôs que se democratizasse não o acesso a uma bela praia (o que não seria nada mal, mas Feliz não tem praia, só o poluído Rio Caí) aos mais pobres, mas a uma ferramenta que desde aquela época está cada vez mais fundamental. Na mes-ma sessão, o Vereador Paulo corroborou a proposição do colega. Na discussão da proposição, o Vereador Décio disse que se preocupava com a distribuição gratuita da internet como, na verdade, uma inclusão social. E que sabia que há internet nas escolas, mas ainda não bastava.

O assunto gerou debate:

“O vereador Paulo Hahn se solidarizou com o colega Décio, dizendo que para quem paga o acesso a internet terá uma vantagem, pois com a implan-tação da inclusão digital, aliviará das redes e o acesso à internet ficará mais rápido. Também é de extrema importância, porque nas escolas estão intro-duzindo, devagarzinho, o acesso à internet, e ela veio para ficar, sendo uma peça ferramental no trabalho impressionante, lembra também que este acesso terá senha e limitação de matérias acessíveis, não sendo possível acessar qualquer matéria.”

Referências

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