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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO PAULO FRANZ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO

PAULO FRANZ

SUCESSO ELEITORAL NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO NORDESTE E SUAS VARIÁVEIS CONDICIONANTES

CURITIBA 2014

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PAULO FRANZ

SUCESSO ELEITORAL NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO NORDESTE E SUAS VARIÁVEIS CONDICIONANTES

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado no Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Adriano Codato

CURITIBA 2014

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PAULO FRANZ

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharelado no curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Paraná pela seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. Dr. Adriano Nervo Codato

Lucas Massimo Tonial Antunes de Souza

Luiz Domingos Costa

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RESUMO

O trabalho analisa as chances políticas dos candidatos às prefeituras do Nordeste nas eleições municipais de 2012. Consiste em realizar uma série de testes estatísticos para verificar quais foram os fatores mais importantes para ser eleito prefeito na região: o sexo do candidato, ser empresário, já ser político profissional, possuir um grande patrimônio pessoal, ter escolaridade superior, gastar muito na campanha? Ao todo, foram testadas onze variáveis que, em nossa concepção, tem o poder de influir significativamente na eleição de um candidato. Resultados obtidos indicam que a receita de campanha, além de já estar inserido no campo político, são fatores de facilitam o sucesso eleitoral. O alto patrimônio do candidato por si só não aumentou suas chances de vitória nas últimas eleições, ao passo que variáveis políticas, como ser prefeito, concorrer por um partido coligado, e com alto desempenho eleitoral, foram de fundamental importância para o indivíduo conquistar a prefeitura. Além disso, resultados indicam que partidos da base do governo federal têm tomado a dianteira nos municípios do Nordeste.

Palavras chave: Candidatos a prefeito. Eleições municipais de 2012. Nordeste. Profissionalização política. Competição eleitoral.

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ABSTRACT

This research analyzes the chances of election for candidates running for mayor of the cities at Brazil's northeastern region at the 2012 elections The study is constituted on performing a serie of statistical tests, to verify which were the most important factors to be elected mayor in region: candidates' gender, being an entrepreneur, being already a professional politician, owning a great personal wealth, having college education, having high expenses on electoral campaign? In all, eleven variables were tested, those that in our conception, have power to influence significantly the election of a candidate. Results indicate that revenues' campaigns, as well as being already previously inserted into the political field, are facilitating factors for electoral success. Candidate's high patrimony, as a factor by itself, did not increase its chances of victory in the last election, while political variables, like running for re-election, competing on elections with a related party which has what we call a "high electoral performance”, were of fundamental importance to individual winning on its municipality . Furthermore, results indicate that parties on the base of federal government have taken the lead in the Northeast.

Key words: Mayoral candidates. Municipal elections of 2012. Brazilian Northeast. Political professionalization. Electoral competition.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 7

2. PROBLEMAS CONCEITUAIS ... 8

3. TRANSFORMAÇÕES DA CLASSE POLÍTICA BRASILEIRA ... 10

4. ELITES MUNICIPAIS ... 13

5. VARIAVÉIS E MÉTODO ... 17

6. RESULTADOS ... 19

6.1. CONCENTRAÇÃO DE CASOS ... 20

6.2. SCORE ROA E IMPACTO INDIVIDUAL ... 24

6.3. REGRESSÃO LOGÍSTICA ... 26 7. O QUE IMPORTA? ... 29 7.1. VARIÁVEIS ECONÔMICAS... 29 7.2. VARIÁVEIS SOCIAIS ... 31 7.3. VARIÁVEIS POLÍTICAS... 33 8. CONCLUSÃO ... 37 9. REFERÊNCIAS ... 41

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1. INTRODUÇÃO

Buscamos neste trabalho comprovar, ou não, a intuição comum de que a oportunidade política para se eleger administrador municipal no Brasil aumenta em razão de seu patrimônio, de sua origem social superior, do fato de ser homem com alta escolaridade, já estar inserido no campo político, fazer parte de uma agremiação partidária de tradição, etc. Além disso, procuraremos identificar algumas nuances entre os resultados obtidos a nível nacional e os resultados obtidos especificamente no Nordeste. Ou seja, todos os testes que serão rodados para os candidatos do Brasil, também rodaremos só entre os candidatos da região nordeste. Nossa hipótese é que, variáveis políticas são mais explicativas que as variáveis sociais, sem ignorar o fato que as receitas de campanhas também possuem papel decisivo para o sucesso eleitoral do candidato.

Tal análise se dará através da medição do efeito individual de cada variável explicativa (a serem apresentadas no capítulo 6) sobre a variável dependente, que é a condição de “eleito” ou “não eleito”. Todos os candidatos do banco de dados foram classificados em uma variável binária onde “1” representa candidato eleito (em primeiro ou segundo turno) e “0” representa candidato derrotado (também em primeiro ou segundo turno).

Isolaremos o impacto de cada variável independente sobre a chance de ser eleito ou não, e assim identificar quais delas ajudariam a explicar o perfil dos candidatos vitoriosos nas eleições para prefeito em 2012.

Nesse sentido, este trabalho está estruturado da seguinte forma: a) primeiro, uma breve revisão sobre os estudos que tiveram o Nordeste como objeto, atentando para o uso de conceitos frequentemente presentes para a análise da região; b) depois, faremos um percurso através da recente produção acadêmica que aborda as características da classe política brasileira, principalmente no que concerne à sua transformação. Esse percurso partirá dos estudos sobre a elite política nacional, para depois abordar as supostas transformações na classe dirigente local; c) apresentaremos os resultados obtidos através da tabulação dos dados referentes aos candidatos a prefeitos no Brasil e no Nordeste, seguidos de uma breve descrição; d) posteriormente faremos reflexões sobre os resultados, auxiliados por outras pesquisas realizadas recentemente, com o mesmo banco de dados disponibilizado pelo TSE; e) finalmente, a conclusão.

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2. PROBLEMAS CONCEITUAIS

A preocupação desse projeto com as elites municipais nordestinas deve-se ao fato de elas serem constituídas por indivíduos chaves na sociedade e nas instituições do nordeste, chefiando a administração e comandando os serviços públicos da cidade. Partimos, portanto, do pressuposto de que a esfera municipal tem poder decisório o suficiente para alterar sensivelmente o padrão de vida local. Logo, as diferentes condições de vida observadas nos diferentes municípios podem, em parte, ser explicadas pelos agentes que nelas tomam determinadas decisões políticas entre tantas decisões possíveis. Estudá-los pode nos ajudar a compreender suas escolhas (CARVALHO apud CODATO, 2011).

Mesmo que os efeitos das decisões tomadas pela elite política não correspondam às intenções originais dos seus membros, a natureza da elite governante (seus perfis sociais, atributos profissionais) pode vir a ser um fator importante para a explicação dos fenômenos políticos. Daí a importância de combinar análises prosopográficas e levantamentos convencionais de perfis sociais com estudos históricos de grupos determinados e investigações em profundidade de agentes socialmente relevantes etc. (PERISSINOTTO; CODATO, 2009).

O objeto em questão (representação política no nordeste) possui as suas especificidades, e a literatura tem surgido recentemente: Paulo Fábio Dantas Neto (2009), aponta como um estudo sobre a classe política baiana não pode ignorar a presença histórica e constante do “carlismo”1

no estado baiano. Fenômeno que não deve ser tratado como um espaço à parte, como costuma ser quando o termo “oligarquia” vem à tona em estudos sociais. Nestes, os fenômenos políticos costumam ser explicados por meras decisões, vontades e interesses de um grupo coletivo substancializado: a oligarquia, ignorando todos os possíveis condicionantes históricos e institucionais que possam facilitar o surgimento desse grupo. O mais certo, talvez, seria adotar um enfoque relacional, concebendo as instituições e as ações políticas como produtos das cadeias de interdependências, do caráter simbólico da dominação e dos processos coletivos (DANTAS NETO, 2009).

1 No Brasil, “carlismo” é a designação dada ao movimento político nascido na Bahia a partir do poder criado no

estado pelo político Antônio Carlos Magalhães durante a ditadura militar. ACM, como era conhecido, morreu em 2007, e é considerado um dos mais influentes caciques políticos da história do nordeste.

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O mesmo vale para alguns conceitos que remetem às políticas ditas tradicionais, como “clientelismo”, “mandonismo” e “coronelismo”. Esses termos foram costumamente usados na literatura acadêmica durante o século passado de forma muito ampla e frouxa, e empregados muitas vezes em sentido distinto, o que resultou na banalização conceitual e na retirada do seu valor heurístico. Foi a partir dessa imprecisão, que José Murilo de Carvalho (1997) resolveu os definir rigorosamente, a partir do clássico trabalho de Victor Nunes Leal “Coronelismo, enxada e voto”, a partir do qual, também vamos analisar a produção científica sobre as elites municipais, no capítulo 4.

Mandonismo pode ser considerado uma característica da política nacional atemporal, ou seja, sempre existiu. No entanto, é um fenômeno que percorre uma trajetória decrescente ao longo da história, seja pelas melhorias na qualidade de vida da população que vive nos bolsões de pobreza do país, seja pela modernização e urbanização de várias cidades distantes das grandes megalópoles da região litorânea2. Daí sua diferença com o que chamamos de clientelismo: não há registro de diminuição dessa característica política. No máximo, houve a troca dos agentes políticos em questão: chefes políticos locais têm perdido a capacidade de controlar os votos, forçando o governo a tratar diretamente com os eleitores (CARVALHO, 1997). É nesta relação em que se dá o clientelismo hoje. Os atores mudam, as práticas são as mesmas.

O coronelismo, por sua vez, não deve ser visto como uma prática de dominação entre agentes políticos, eleitores e donos de terras, mas como um complexo sistema político nacional, estabelecido e baseado em barganhas entre o governo e os coronéis, e condicionado pela implantação do federalismo na Primeira República. Coronelismo é resultado da decadência dos senhores de terras no Nordeste do país, forçados a recorrer sistematicamente à elite política estadual, para manter os recursos locais sob os seus domínios. Dessa forma, o fenômeno torna-se datado, tendo o seu fim com a instauração do Estado Novo e do centralismo varguista, perdendo sua aplicação atemporal e fora do contexto agrário, como o próprio autor alerta3 (CARVALHO, 1997).

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Sobre aspectos econômicos relativos à região Nordeste no periodo recente ver Sobel, Gonçalves e Costa (2010), Cacciamali e Camillo (2009), Lima e Lima (2010), Barros e Athias (2013), e Silva e Silveira Neto (2009).

3 “Alguns autores encontraram mesmo um coronelismo urbano (Reis, 1971), ou um coronelismo sem coronéis

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3. TRANSFORMAÇÕES NA CLASSE POLÍTICA BRASILEIRA

Mas o que tem chamado muito a atenção na literatura contemporânea acerca da classe política brasileira em geral, não é a permanência dessas oligarquias e de outros agentes políticos “carimbados”, mas a constante renovação do campo político4

que estaria, nos últimos tempos, conduzindo a uma “popularização” 5

de uma das principais instituições da democracia no país: a Câmara dos Deputados. (RODRIGUES, 2006; MARENCO DOS SANTOS, 1997; LEONI; PEREIRA; RENNÓ, 2003).

Igor Gastal Grill (2008), por exemplo, afirma que o estudo longitudinal, ou seja, fazer uma análise historicamente comparada, dos ocupantes do Congresso Nacional, permite nuançar padrões de carreira e de perfil e identificar uma incipiente diversificação social nas composições das bancadas e transformações nos padrões de carreiras políticas.

Ainda em relação aos parlamentares da Câmara, Rodrigues (2002) mostra que a proporção dos que entram ricos na política é relativamente baixa e que, conseqüentemente, as portas do sistema político não estão inteiramente fechadas para os que vieram das classes populares ou das classes médias. Outros trunfos, como sabemos, ajudam na ascensão política: redes familiares, associações e sindicatos, popularidade alcançada em outros setores de atividade, apoio da estrutura partidária, etc.

Rodrigues (2006) vai ainda mais longe, ao comparar o corpo político da Câmara dos Deputados da 51ª (1999-2003) e da 52ª (2003-2006) legislaturas. Segundo o autor, a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2002 levou a um crescimento das legendas de esquerda nas cadeiras do Congresso Nacional, principalmente do PT, partido do presidente eleito. Consequentemente, a Câmara foi ocupada pela classe média assalariada, grupo que até então era sub-representado na elite política. Para Rodrigues, essa tendência configura o que ele chama de popularização da classe política brasileira. O que não significa que os escalões mais baixos da estrutura social acabaram por tomar um dos órgãos mais importantes da democracia representativa. Segundo o autor,

4 Por campo político, entendemos “um pequeno mundo social relativamente autônomo no interior do grande mundo

social, que tem sua própria lei, seu próprio nomos, que tem em si próprio o princípio e a regra de seu funcionamento”. (BOURIDEU, 1999).

5 Popularização pressupõe um deslocamento para baixo, não necessariamente uma tomada do poder pelas classes

baixas, mas uma redução das camadas de origens sociais mais elevadas, a favor de políticos de camadas médias de alguns segmentos, sobretudo os de alta sociedade. (RODRIGUES, 2006).

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Mais exatamente, a popularização da classe dos que fazem da política a sua profissão indica, por um lado, a redução do espaço ocupado pelos políticos das classes mais altas em termos de renda, educação e status e, por outro, a ascensão dos políticos das classes médias, mais corretamente, de alguns de seus estratos, majoritariamente os de escolaridade relativamente elevada. Não se trata, portanto, dos pequenos proprietários do meio urbano ou rural. (RODRIGUES, 2006).

André Marenco dos Santos (1997) apresenta um trabalho empírico no qual se pode afirmar que a grande porcentagem de parlamentares em primeiro mandato na Câmara dos Deputados (cerca de 50%, em média), não consiste apenas “na substituição ou no revezamento entre quadros políticos já experimentados”, então não se trata de agentes políticos com larga experiência prévia na ocupação de cargos em instituições representativas, mas de verdadeiros outsiders, indivíduos estranhos ao campo político (MARENCO DOS SANTOS, 1997).

Com perfil menos oligárquico e maior representação da classe média urbana na elite política brasileira, podemos dizer que temos nos afastado de um suposto antigo regime plutocrático. Entretanto, isso não implica necessariamente numa popularização, mas pode ser resultado de um processo que vai ao sentido inverso: no recrutamento de elites em outras esferas do campo político, que por sua vez, é restrito a determinados padrões de agentes. Nesse sentido, as recentes mudanças ocorridas na elite política brasileira indicam um processo que pode ser visto como “profissionalização da classe política”.

a noção designa a ascensãoe a predominância, nos aparelhos políticos, de uma gente – o político profissional – que deve exibir quatro características distintivas: vocação precoce para a atividade política; carreira política extensa; recursos extraídos tão somente das posições políticas ocupadas; e qualidades políticas ordinárias: boa figura, domínio da retórica, capacidade de negociação etc. (DOGAN apud CODATO, 2008, p. 90).

Segundo essa tese, defendida por Adriano Codato e Luiz Domingos Costa (2011), há de fato uma diminuição de agentes políticos pertencentes à classe alta, principalmente de empresários, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Entretanto, isso representa mais a ascensão a cargos eletivos de indivíduos que desde muito cedo se dedicaram às atividades políticas, do que uma tomada de poder de completos outsiders do campo político. Ao contrário, esses “novos” agentes acumularam capital político em outras fontes que não na ocupação de

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cargos eletivos: militância estudantil, sindical e outras representações de classe; associativismos de grupos profissionais liberais; sindicalismo patronal; ocupação de quadros partidários; cargos na alta administração pública; reitorias; etc. A semelhança entre todos esses está no desenvolvimento pessoal em representar interesses corporativos, através do domínio e da aderência às regras do jogo, o que os torna profissionais (e não debutantes) da política.

As pesquisas citadas até aqui provam, por si só, o quanto os estudos em torno das elites têm sido fecundos, enriquecendo debates através da análise de dados que abordam a prosopografia da realidade política brasileira. Estudos de carreira da classe política brasileira se mostram avançados, e deles já podemos tirar algumas conclusões, principalmente sobre os deputados federais dos anos 1990 em diante.

Contudo, desses estudos feitos sobre agentes políticos a nível nacional pode-se deduzir muito pouco sobre formação e características das elites regionais e da política local. Partimos do princípio de que a realidade de municípios e regiões pode seguir uma lógica própria, longe de ser um mero reflexo das disposições políticas nacionais.

O calendário de eleições, após a redemocratização, no país pode também ter promovido certa autonomia às competições políticas locais. Isso porque há dois ciclos eleitorais diferentes no Brasil: a escolha de representantes políticos federais e estaduais (Presidente, Senadores, Deputados Federais, Governadores, Deputados Estaduais) ocorre em anos distintos ao das eleições municipais (para prefeitos e vereadores). Logo, os debates e resultados teriam uma dinâmica menos subordinada à lógica das esferas nacional e estadual (MARENCO DOS SANTOS, 2013, p. 8).

Não significa que as eleições em âmbito municipal tenham completa independência do que ocorre em instâncias superiores. Ao contrário, defendemos que estudos de caráter local podem elucidar a forma como se dá as relações no campo político entre os planos municipal, estadual e federal. Aqui, pouco nos importa a informalidade nas relações políticas da esfera municipal, mas as suas inevitáveis relações com as políticas das esferas estaduais e nacionais (GRILL, 2009): há maior cooperação ou competição? Quais os efeitos de uma mudança drástica no desenho político nacional nas estratégias das elites locais? A política paroquial poderia também estar passando por transformações?

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4. ELITES MUNICIPAIS

Nos últimos anos, a Ciência Política pouco tem se preocupado com as configurações de poder na esfera municipal, o que dava a impressão de que prefeitos e vereadores tinham poder muito restrito e estudos sobre esses agentes pouco teriam a esclarecer e agregar conhecimento para as Ciências Sociais.

Ironicamente, a primeira obra da ciência politica moderna brasileira, que se tornou um marco na sociologia do país, tratou justamente dos embates e das configurações políticas no âmbito local. Apesar de datado, “Coronelismo, enxada e voto”, de Vitor Nunes Leal, serve de ótimo ponto de partida para nossa discussão sobre chefes executivos municipais, a partir dos conceitos “mandonismo”, “coronelismo” e “clientelismo”, já problematizados no capítulo 2, e dos esquemas de reciprocidade estabelecidos entre diferentes esferas de poder, em regiões predominantemente rurais, onde a maioria da população brasileira habitava na época.

Para Leal (2012), os problemas sociais que municípios brasileiros apresentavam nas primeiras décadas do século XX, tinham origens no caráter patrimonialista das instituições políticas da época, onde “coronéis”, proprietários de grandes extensões de terras, dotados de prestígio e manejo político, direcionavam benefícios (em forma de empregos no funcionalismo

público, passagens, alimentação, estadias e outros serviços) a amigos e infortúnios a desafetos.

Esse controle dos “coronéis” sobre os serviços públicos locais eram garantidos pelo governo estadual, através de um sistema de reciprocidade estabelecido entre ambas as partes: os “coronéis” recebiam recursos e permissão do governo para o exercício de poder público, e governador recebia votos da povo local. A relação positiva entre esses senhores de terras e o governador era de interesse mútuo, pois com ela o “coronel” garantia o seu poder de influência sobre a população local, através da qual ele garantia ao governador o bom desempenho eleitoral das eleições seguintes (LEAL, 2012).

Para Leal, esse sistema de reciprocidade entre o poder “privado” e o poder “público” era fruto não de uma ausência de sentimento público ou mero capricho do chefe local, mas de uma estrutura econômica agrária, baseada fundamentalmente em latifúndios, em que os grandes proprietários de terras estavam em situação de plena decadência. Dessa forma, para que o

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domínio local dos fazendeiros se perpetuasse, foram estabelecidos conchavos entre eles e o poder público estadual.

Outro aspecto da República Velha, que proporcionou o fenômeno do “coronelismo” no interior do Brasil, diz respeito às atribuições administrativas dos municípios e o seu poder orçamentário no início do século XX. Para Leal, o exercício do poder executivo local dependia diretamente de vontades e interesses do governo estadual, que, conforme posicionamento político do chefe local, dava carta branca (ou não) para os mandos e desmandos deste. Isso porque, legalmente, o Estado tinha forte controle administrativo sobre as esferas locais, em detrimento da autonomia legal dos municípios. Assim, a ampliação ou redução do poder de mando dos prefeitos dependia muito das suas posições políticas em relação ao governador. O município era, dessa forma, marcado pelos poucos recursos disponíveis, e pouca autonomia política e administrativa (LEAL, 2012).

Assim, o município passou a ser reconhecido como um problema. As constituições nacionais instauradas na primeira metade do século XX, visavam, com exceção do Estado Novo, aperfeiçoar a autonomia política e financeira dos municípios e a sua relação com as demais esferas de governo. A formulação desse desenho institucional passou, ao longo do século, por uma série de reformas, regidas por democracias e ditaduras, ampliando ou restringindo o poder dos prefeitos, culminando no atual sistema político firmado na Constituição de 1988.

Segundo Maria Hermínia Tavares de Almeida e Leandro Piquet Carneiro, as cidades, que até meados dos anos 1970 eram tidas como palcos de mandos e desmandos de poucas famílias influentes, passaram, a partir do processo de redemocratização, a ser pensadas como espaços fundamentais para a renovação da política nacional e para a descentralização das decisões de poder. Essa descentralização, por sua vez, estimularia a participação popular e controle dos cidadãos sobre os atos dos governantes (MDB apud ALMEIDA; CARNEIRO, 2003, p.126). Uma clara reação institucional ao regime militar que vigorava até então.

A partir dessas ideias, em 1988, a Assembleia Nacional Constituente, juntamente com as lideranças locais (já acostumadas com a competição eleitoral, que teve continuidade na esfera municipal, mesmo durante os 20 anos de autoritarismo no Brasil), buscou garantir aos municípios maior autonomia administrativa, legislativa e financeira, dotando-os de competências

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e atribuições na área social. Nessa linha, Almeida e Carneiro buscam comprovar que prefeitos, e não governadores, foram os sujeitos centrais do federalismo pós-88.

De qualquer forma, o debate sobre as já mencionadas transformações da classe política brasileira não parece se restringir na esfera federal, como o debate aludido no capítulo anterior pode sugerir. Alguns autores têm publicado estudos que confirmam as tendências de alterações na configuração das elites do poder, suas origens e carreiras partidárias, também no âmbito local. É o caso de Bruna Karoline Vasconcelos Oliveira e Jean Lucas Macedo Fernandes em sua pesquisa justamente sobre o Nordeste, segundo a qual há uma “significativa perda de espaço do DEM para outros partidos de esquerda, além do então recém-criado PSD” (OLIVEIRA et al., 2013, p. 76).

Em “Lentas mudanças: o voto e a política tradicional”, Lúcia Avelar e Maria Inez Machado Telles Walter mostram que as eleições municipais no Brasil, nos pleitos de 1996, 2000 e 2004, indicam que o perfil ideológico de chefes de executivo municipais tem passado por modificações.

sobretudo, as mudanças decorrentes da urbanização e da consequente “crise urbana”, se não foram suficientes para ameaçaram o poder da política tradicional nos municípios brasileiros, ainda sim, lentamente favoreceram seu enfraquecimento diante de forças de esquerda, consideradas como as que representam adeptos de políticas de caráter redistributivo. (AVELAR; WALTER, 2008, p. 97).

O que significa que o desenvolvimento econômico, juntamente com a participação política de associações de minorias e camadas menos favorecidas da população, tem direcionado a dinâmica da política local para configurações inéditas até então no Brasil. As variáveis independentes do estudo de Avelar e Walter, que explicam as transformações do campo político na esfera municipal, são, justamente, os processos associativos e a interferência de programas de transferência de renda (AVELAR; WALTER, 2008), caso do Bolsa Família.

Ainda segundo as autoras, essas transformações seriam ainda mais latentes em municípios mais urbanizados e com índices de desenvolvimento humano mais elevados, onde partidos de esquerda têm aumento seu poder de influência, com uma clara concentração nos grandes centros urbanos, de qualidade média e, principalmente, alta. Os mesmo dados mostram que pequenas cidades, essencialmente agrárias e caracterizadas pela baixa qualidade de vida da população, ainda estariam sob o poder de partidos políticos conservadores, principalmente o PFL (hoje DEM).

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André Marenco dos Santos reforça a tese de que municípios com renda per capita baixa e com pequeno percentual de população urbana ainda sofrem o controle do que pode ser compreendido como mandonismo local. Segundo Marenco, dos municípios localizados em Estados governados por partidos da coalizão do governo federal, 33,1% ainda se mantiveram sob a tutela de partidos de direita tradicionais. Não por coincidência,

Estes são também municípios em que os percentuais de população urbana (48,2%) e renda per capita média (R$ 95) estão entre os mais baixos no país, reforçando a hipótese de que sua feição politicamente autárquica em relação a alinhamentos estaduais e federais seja potencializada por uma demografia mais tradicional. (MARENCO DOS SANTOS, 2013, p. 17).

Disso, seria tentador concluir que a direita é forte em áreas mais atrasadas (eleitorado menos informado e politizado, predominância de oligarquias locais, de mandonismo, etc.) e que a esquerda e o centro saem-se melhor nas áreas mais desenvolvidas, para parafrasear Rodrigues (2002) em sua pesquisa sobre a elite legislativa nacional. Porém, há teses que vão ao sentido oposto, lançando mão, para isto, de pesquisas que abordam o federalismo brasileiro e as competições (ou cooperações) verticais estimuladas por ele.

André Borges, por exemplo, mostra que o impacto eleitoral das políticas sociais, implementadas nos governos Lula, foi maior em regiões pobres e de baixo desenvolvimento social, e com menos efeitos em cidades mais urbanizadas e com maiores índices de desenvolvimento. Ou seja, as vitórias de partidos de esquerda sobre grupos políticos tradicionais ocorreriam justamente em bolsões de pobreza, e de economia predominantemente agrária. Em termos práticos, a vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais em 2002, favoreceu a intensificação da competição eleitoral em lugares que antes eram dominados por poucas famílias e partidos de direita. Com isso, novos agentes se beneficiaram do acesso ao governo federal e melhoraram seu desempenho eleitoral em regiões mais atrasadas economicamente (BORGES, 2010).

Sendo assim, o autor faz um contraponto ao que o “bom senso” nos permitiria lançar como hipótese sobre as disposições políticas em geral nos municípios brasileiros: partidos de esquerda não teriam mais dificuldade de obter sucesso eleitoral em espaços caracterizados pela pobreza (e predominância de oligarquias), do que em espaços urbanos com eleições impessoalizadas e com debates de caráter universalista. Ao contrário, os programas sociais implementados pelo governo

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do PT, deram vantagem e retorno eleitoral a aliados de esquerda, principalmente nos locais mais necessitados de políticas de caráter distributivista (BORGES, 2010).

De acordo com André Marenco, em texto já citado, o alinhamento partidário com o governo federal – fazer parte do governo de coalizão, ou, de outra forma, ter cargo dentro de algum dos Ministérios – aumenta significativamente as chances de sucesso eleitoral nos municípios, não havendo relação entre a quantidade de votos recebidos e o viés ideológico do partido do candidato (MARENCO DOS SANTOS, 2013). Em outras palavras, o que interessa é o acesso aos recursos provenientes do governo federal, este responsável pela elaboração de políticas públicas eficientes, também do ponto de vista eleitoral. Partindo desse princípio, consideramos o programa Bolsa Família, por sua continuidade e extensão, uma boa justificativa para este trabalho.

Em suma, podemos afirmar que a questão a ser tratada em nossa pesquisa, apesar de se restringir à esfera municipal, não é meramente paroquial, mas é também de articulação. Se há mudanças ou continuidades no padrão de comportamento do eleitor, a explicação pode estar no controle de verbas por agentes políticos, conquistadas através do monopólio de acesso aos recursos federais.

A consolidação do presidencialismo de coalizão, como estrutura institucional a moldar as relações entre Executivo e Legislativo no plano federal, termina por comprometer o monopólio de acesso a cargos e verbas federais controlados por um único cacique local, criando condições mais propicias a competição local entre diferentes candidatos ou partidos com acesso aos governos estadual e federal. (MARENCO DOS SANTOS, 2013, p. 8).

Para pôr fim à justificativa de nosso objeto (chefes locais no Nordeste), defendemos que o estudo comparativo (no nosso caso Brasil e a região Nordeste) e sincrônico (em 2012) da seleção de elites podem nos esclarecer muito sobre padrões e diferenças na estrutura de oportunidades socialmente legitimadas para fazer parte da classe política (CODATO; COSTA, 2011).

5. VARIÁVEIS E MÉTODO

Nesta parte do trabalho iremos apresentar pormenorizadamente as variáveis que possam vir a explicar a eleição de certos candidatos à prefeitura das cidades no país, e em especial no

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nordeste. São ao todo onze variáveis independentes que podem ser classificadas em econômicas, sociais e políticas.

As variáveis econômicas consistem em “patrimônio do candidato” e “receitas de campanha”. Para evitar o impacto da heterogeneidade dos valores, as variáveis inseridas nos modelos são, na verdade, uma transformação da unidade original, que está em Reais. A transformação faz com que a medida seja em termos de desvios da média. Assim se o patrimônio ou a receita do candidato estiver na média de todos os concorrentes, o seu valor será “1”. Se estiver abaixo da média será negativo, e acima da média positivo. Todos os candidatos com desvio negativo são representados por “0”, e todos com desvio positivo com “1”. O efeito testado é de “candidato rico” ou com “muita receita de campanha” para sucesso eleitoral.

Como existe muita diferença entre os gastos de campanha a depender da região no Brasil e do tamanho do município, optou-se por controlar os cálculos por essas duas características. Assim, foram computados, nos testes de todo o país, os desvios em relação à média para municípios de cada uma das mesorregiões brasileiras: a) Norte; b) Nordeste; c) Sudeste; d) Centro-oeste; e e) Sul. E também foram calculado desvios, nos testes do país e do nordeste, em relação à média de receitas informadas por candidatos de municípios com a) até 5 mil eleitores; b) de 5 a 10 mil eleitores; c) de 10 mil a 50 mil eleitores; d) de 50 mil a 200 mil eleitores; e e) acima de 200 mil eleitores.

As variáveis sociais consistem em: “idade”, na qual se dividiu a série pela mediana, que ficou em 47 anos, o que significa que metade dos concorrentes a prefeituras tinha até essa idade (classificados em nosso teste com “0”), e a outra metade estava com 48 anos ou mais (classificados nos teste com “1”); “sexo”, na qual a codificação da variável binária ficou com “1” para mulher e “0” para homem; “escolaridade”, em que os candidatos com escolaridade superior (completa ou incompleta) ficaram representados por “1” e todos demais candidatos foram representados por “0”; e “empresário”, pela qual nosso objetivo específico é testar o impacto dessa ocupação para a eleição de prefeito no Brasil. Assim, as informações foram transformadas da seguinte forma: código “1” para os candidatos (as) que se declararam empresários (as), e código “0” para todos demais candidatos com outras ocupações profissionais.

Por fim as variáveis políticas. Aqui verificaremos se os políticos profissionais (vereadores, prefeitos, deputados e senadores) têm ou não mais chances de se elegerem. Eles são

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representados pelo código “1” e o código “0” representam as demais ocupações. Dentro da categoria “político profissional”, destacamos os que já eram “prefeitos”, com o objetivo de medir o impacto da candidatura à reeleição para o sucesso eleitoral. Para tanto, usamos o código “1” para o que já indicavam já ser prefeitos e “0” para os demais políticos profissionais.

Também usamos código “1” para os partidos que participavam de alguma coligação nas eleições municipais de 2012, e “0” para os partidos que não participavam de qualquer coligação, a fim de medir o impacto que o fator “partido coligado” tem sobre o candidato ser eleito, ou não. O grau de sucesso de um partido a que pertence o candidato também foi utilizado como efeito para a eleição ou não do aspirante a prefeito. O sucesso foi medido em consideração a proporção de candidatos eleitos por partido pela proporção de concorrentes apresentados às disputas. Usamos “1” para partidos de alto desempenho e “0” para partido de médio e baixo desempenho.

Além disso, testamos o efeito da presença em partido que se concentram no centro da distribuição do espectro ideológico para a eleição de prefeito. Foram considerados “partidos de centro”, seguindo a literatura da área, o PMDB e o PSDB. Candidatos dessas duas siglas foram codificados com “1” na variável binária, enquanto que todos os demais candidatos receberam o código “0”.

Nosso percurso analítico será o seguinte: rodaremos testes de resíduos padronizados, a fim de encontrarmos possíveis concentrações de casos. Posteriormente, aplicaremos uma série de verificações prévias para tirarmos qualquer tipo de conclusão parcial: a primeira serve para indicar se há alguma(s) colinearidade(s) entre as variáveis explicativas que possa inflar e desviar os resultados; a segunda consiste na medição do efeito individual de cada variável explicativa sobre a variável dependente (ser eleito), com as variáveis que podem distorcer os dados já excluídos do modelo; também será apresentada uma tabela de regressão logística, a qual avalia o peso de cada variável caso esta fosse excluída dos testes (Wald), ou seja, seu impacto em todo o modelo explicativo; por último, queremos mostrar, através do índice de chance, se há vantagem ou desvantagem na disputa eleitoral, para o candidato que possuir cada um dos atributos aqui analisado.

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6.1. Concentração de Casos

Os quadros seguintes são testes de resíduos padronizados, que indicam se há ou não concentração de casos das variáveis testadas em nossa pesquisa. Os números não devem ser visto de forma absoluta, mas em graus: quanto maior o valor, maior é a concentração de casos de candidatos, divididos entre “eleitos” e “não eleitos”. Qui quadrado (q²) é o coeficiente de dependência, que explica o nível de correspondência entre variável dependente e variável explicativa. Começamos pelo quadro nacional, resultado da pesquisa de Codato, Cervi e Perissinotto (2013).

QUADRO 1– TESTES RESÍDUOS PADRONIZADOS– BRASIL (CODATO; CERVI; PERISSINOTTO, 2013)

eleitos em 2012 eleitos em 2012

Não Sim Não Sim

Patrimônio Alto Não 1,4 -1,7 Receitas de Campanha

Alta

não 4,5 -5,7

Sim -3,1 3,9 sim -9,1 11,6

q2=29,424 (0,000) N = 14.203 q2=270,460 (0,000) N = 12.551

eleitos em 2012 eleitos em 2012

Não Sim não Sim

Idade acima de 47 anos

Não -0,5 0,7 É mulher não -1 1,3

Sim 0,5 -0,6 sim 2,6 -3,3

q2=1,312 (0,252) N = 14.146 q2= 20,811 (0,000) N = 15.621

eleitos em 2012 eleitos em 2012

Não Sim não Sim

Escolaridade superior Não -1,1 1,4 É empresário não 0,8 -1

Sim 1 -1,2 sim -1,9 2,4

q2= 5,544 (0,019) N = 15.621 q2= 11,069 (0,001) N = 15.621

eleitos em 2012 eleitos em 2012

Não Sim não Sim

É político profissional Não 0,8 -1 É prefeito não 7,6 -7,9

Sim -1,9 2,4 sim -5,1 5,3

q2= 11,069 (0,000) N = 15.621 q2=175,895 (0,000) N = 15.621

eleitos em 2012 eleitos em 2012

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FONTE: Núcleo de Sociologia Política Brasileira - UFPR

No teste acima, no nível nacional, todas as variáveis se mostraram significativas, com maior intensidade nas variáveis políticas, além da receita de campanha. Nesta, mostra-se que há grande quantidade de casos de candidatos que tinham alta receita de campanha e foram eleitos. Ainda nas variáveis econômicas, também há concentração de casos de candidatos com mais patrimônio que a média e que tiveram sucesso eleitoral, porém em grau bem mais modesto, com um q² (29, 424) quase dez vezes menor.

Das variáveis sociais, a idade se mostrou de menor relevância, enquanto “ser mulher” apresentou resíduos negativos com a variável eleita (-3,3) e com o coeficiente de dependência significativo (q²= 20,811(0,000)), indicando o desfavorecimento do sexo feminino na corrida eleitoral no Brasil.

Como já dito, as variáveis políticas foram as que apresentaram maior correspondência com a variável dependente “ser eleito”. Destaque para o resíduo positivo dos candidatos que não foram eleitos com partido “solteiro”, sem coligação. Esse dado revela a grande proporção de derrotas nas eleições para prefeitos de agentes que se candidatam por partidos que não estabelecem alianças com outras legendas. Ser político profissional, prefeito, candidato por partidos de alto desempenho, candidato por partidos de centro no espectro ideológico e por partidos coligados apresentam resíduos positivos com a variável “eleito”.

O quadro a seguir diz respeito somente aos candidatos a prefeito pelos municípios do Nordeste:

Partido coligado Não 18,3 -23,3 Partido com alto

desempenho não 7,7 -9,8 Sim -7,3 9,2 sim -8,2 10,4 q2= 1014,111 (0,000) N = 15.621 q2= 332,722 (0,000) N = 15.621 eleitos em 2012 Não Sim

Partido de centro Não 3,7 -4,7

Sim -6,2 7,9 q2= 136,909 (0,000) N = 15.621

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QUADRO 2 – TESTES DE RESÍDUOS PADRONIZADOS - NORDESTE

Eleitos em

2012

Eleitos em

2012

Não Sim Não Sim

Patrimônio Alto Não 0,3 -0,4 Receitas de Campanha

Alta não 3,5 -4,7 Sim -0,8 1,1 sim -6,8 9,0 q2=2,132 (0,155) N = 4.372 q2=161,138 (0,000) N = 4.969 Eleitos em 2012 Eleitos em 2012

Não Sim Não Sim

Idade acima de 47 anos Não -0,8 1,0 É mulher não -0,2 0,2

Sim 0,8 -1,0 sim 0,4 -0,5 q2=3,345 (0,068) N = 4.520 q2=0,479 (0,517) N = 4.969 Eleitos em 2012 Eleitos em 2012

Não Sim Não Sim

Escolaridade superior Não 0,0 0,0 É empresário não 0,7 -0,9

Sim 0,0 0,0 sim -1,7 2,3 q2= 0,006 (0,953) N = 4.969 q2= 9,502 (0,002) N = 4.969 Eleitos em 2012 Eleitos em 2012

não Sim Não Sim

É politico professional Não 0,7 -0,9 É prefeito não 3,8 -4,0

Sim -1,7 2,3 sim -2,5 2,6 q2= 9,502 (0,002) N = 4.969 q2=43,536 (0,000) N = 816 Eleitosem 2012 Eleitosem 2012

não Sim Não Sim

Partido coligado Não 10,8

-14,3

Partido com alto desempenho não 4,5 -6,0 Sim -4,2 5,6 Si m -5,1 6,8 q2= 369,175 (0,000) N = 4.969 q2= 129,683 (0,000) N = 4.969 Eleitosem 2012 não Sim

Partido de centro Não 1,5 -1,9

Sim -3,1 4,1 q2= 31,967 (0,000) N = 4.969

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Podemos notar que a nível nacional, os testes rodados mostram mais significância e maior impacto no fato de o candidato ser ou não eleito prefeito que os testes rodados em relação ao Nordeste. Neste último quadro, duas variáveis sociais não foram significativas (“é mulher” e “escolaridade superior”), os coeficientes de dependência são menores em todos os testes, com a exceção de “idade acima de 47 anos”, e, em geral, baixo grau de concentração de casos.

Os resultados das variáveis de tipo econômico já ilustram o nosso ponto, afinal, “alto patrimônio” apresentou pouquíssima relevância (q²=2,132) com o fato de o candidato ser eleito, ou não, prefeito no nordeste, ao passo que se testamos isso ao Brasil em geral, o patrimônio se mostra muito significativo. Porém a variável econômica que apresentou maior coeficiente de dependência foi a “receita de campanha alta”, ou seja, candidatos que possuem muitos recursos para aplicar à disputa eleitoral tiveram mais sucesso nas eleições municipais de 2012 do que os candidatos com patrimônio alto. No caso nordestino, aliás, o patrimônio nem pode ser considerado muito significativo para a obtenção do sucesso eleitoral (0,155).

As variáveis sociais, como já aludido acima, ou não se mostraram significativas, ou apresentaram baixa correspondência com os candidatos eleitos e não eleitos. O que significa que há pouca diferença entre os dois grupos de candidatos, quanto aos aspectos sociais. Delas, a que apresenta maior concentração é a variável “empresário”, com resíduo positivo com a variável “eleito”. Interessante é observar que, ao passo que no Brasil, ser mulher parece um impasse para a candidata se eleger prefeita, os testes para o Nordeste do país não nos permite tomar essa conclusão. O mesmo acontece em relação à escolaridade do candidato. Com sig. de 0,953 (lembrando que quanto mais perto de 1, menor a significância), os testes mostram que candidatos nordestinos a prefeituras no Nordeste não tem menos chances de serem eleitos caso não tenham entrado na faculdade. No país em geral, o Quadro 1 aponta a tendência de candidatos com diploma se elegerem, mas de forma sensível.

Assim como no caso nacional, as variáveis políticas apresentam resíduos positivos em teste que indicam forte correspondência com a eleição dos candidatos. Como já se esperava, tentar reeleição para prefeito tem um coeficiente de dependência muito forte com o sucesso eleitoral do candidato. Tanto no nordeste quanto em todo o país, as chances de ele se reeleger para um segundo mandato no executivo municipal são muito grandes, como indica o resultado da variável “prefeito”. “Partido coligado”, a exemplo do caso nacional, é a que apresenta maior nível de

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dependência com o sucesso ou fracasso eleitoral do candidato, seguida por “partido de alto desempenho”. A menor correspondência é com a variável “político profissional” (q²=9,502). 6.2. Score ROA e impacto individual

Antes de analisar o peso individual das variáveis, precisamos observar a possibilidade de colinearidade entre elas, o que inflaria e distorceria os resultados obtidos. Também vamos testar a adequação do modelo através do índice de tolerância. Quando este índice estiver acima de 0,100, denota que a variável não apresenta colinearidade, e o índice VIF6, caso menor que 10, indicaria que o modelo é adequado e confiável para análise.

TABELA 1 – TESTE DE COLINEARIDADE DAS VARIÁVEIS (CASO NACIONAL E NORDESTINO)

FONTE: Núcleo de Sociologia Política Brasileira – NUSP/UFPR

6

VIF é a sigla em inglês para o termo “Fator de Inflação da Variância” e indica o quanto a presença de uma variável no modelo tem de impacto sobre as demais. Se o fator ficar abaixo de 10 significa que a variável não está inflacionando artificialmente os resultados, portanto, pode ser mantida no modelo. (CODATO; CERVI; PERISSINOTTO, 2013).

CASO NACIONAL (CODATO; CERVI; PERISSINOTTO, 2013) CASO NORDESTINO variáveis explicativas binárias estatísticas de colinearidade Tolerância VIF Patrimônio alto 0,939 1,065 Receitas positivas 0,939 1,065 Idade acima de 47 anos 0,934 1,071 Ser mulher 0,983 1,017 Escolaridade superior 0,956 1,045 Ser prefeito 0,921 1,085 Partido coligado 0,970 1,030 Partido com alto

desempenho 0,646 1,549 Partido de centro 0,656 1,525 variável dependente: eleitos em 2012 variáveis explicativas binárias estatísticas de colinearidade Tolerância VIF Patrimônio alto ,948 1,055 Receitas positivas ,946 1,057 Idade acima de 47 anos ,934 1,070 Ser mulher ,954 1,049 Escolaridade superior ,946 1,058 Ser prefeito ,922 1,084 Partido coligado ,959 1,043 Partido com alto

desempenho ,735 1,360 Partido de centro ,737 1,357

variável dependente: eleitos em 2012

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Ao rodar o teste colinearidade percebemos a exclusão de duas variáveis: tanto para o caso nacional como para o caso nordestino “É empresário” foi excluída por apresentar colinearidade com a variável “Ensino superior”, uma vez que a relação desta formação com a ocupação profissional foi muito próxima. A variável “Político profissional”, por sua vez, foi excluída dos dois modelos pela alta proporção de políticos profissionais que já eram prefeitos. As demais variáveis se apresentaram adequadas ao modelo de testes apresentados e continuarão a ser consideradas nas análises a seguir.

O teste seguinte procura entender a correlação das variáveis presentes no modelo, com a variável dependente, determinando a sua relevância geral (overall statistics). O Score ROA indica o peso individual de cada variável, ou seja, o impacto específico da variável independente, sobre o modelo explicativo. Para ser considerada, a variável deve ter o sig. menor que 0,050, caso o contrário é estatisticamente irrelevante. Os valores devem ser pensados em graus: quanto maior o valor, maior o seu impacto.

TABELA 2 – IMPACTO INDIVIDUAL DA VARIÁVEL SOBRE OS MODELOS (CASOS NAC. E NORD.)

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira – NUSP/UFPR CASO NACIONAL (CODATO; CERVI;

PERISSINOTTO, 2013)

CASO NORDESTINO

Variável excluída do modelo Score

ROA Sig.

Patrimônio alto 0,041 0,839 Receitas positivas 6,379 0,012 Idade acima dos 47 anos 0,722 0,396 Ser mulher 1,924 0,165 Escolaridade superior 0,326 0,568 Ser prefeito 170,930 0,000 Partido coligado 24,596 0,000 Partido de alto desempenho 12,532 0,000 Partido de centro 1,880 0,170

Overall Statistics 208,320 0,000

Variável excluída do modelo Score

ROA Sig.

Patrimônio alto 0,071 ,790 Receitas positivas 10,247 ,001 Idade acima dos 47 anos 1,961 ,161

Ser mulher 1,872 ,171 Escolaridade superior 0,291 ,589 Ser prefeito 150,735 ,000 Partido coligado 24,788 ,000

Partido de alto desempenho 12,698 ,000 Partido de centro 1,339 ,247

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Em geral, os scores das variáveis no nível nacional são maiores que a nível nordestino, o que pode indicar que outros fatores, fora de nosso modelo, mas presentes na política local (comícios, por exemplo), podem ter impacto mais determinante, quando analisados individualmente.

No caso nacional, “patrimônio”, “idade”, “sexo”, “escolaridade”, e “partido de centro” não apresentariam efeito significativo caso estivessem fora do modelo (Codato, Cervi e Perissinotto, 2013). “Ser prefeito” é, de longe, a variável que possui mais influência sobre os valores presentes na tabela acima, seguida por “partido coligado” e “partido de alto desempenho”, revelando a importância de cada variável política sobre o modelo. Além delas, a “receita de campanha” apresentou coeficiente significativo.

As tendências se repetiram no caso nordestino. Ou seja, mesmo que “patrimônio” e “partido de centro”, além das variáveis sociais, fossem retiradas do modelo, pouco interferiria nos resultados apresentados acima e no impacto das demais variáveis aqui estudadas, tanto para o caso nacional, quanto para a região Nordeste.

6.3. Regressão logística e o índice de chance

A última tabela deste trabalho é da regressão logística, onde finalmente, depois de uma série de testes que comprovam a viabilidade do poder explicativo das variáveis presentes em nosso estudo, podemos concluir qual o impacto de cada uma dos fatores analisados sobre a chance de o candidato ter ou não sucesso nas eleições municipais em 2012, no Brasil e, especificamente, nos pequenos municípios do Nordeste. As duas apresentam um nível de correspondência elevado entre as variáveis explicativas e dependentes (-2 log likelihood= 2.935,861 e 3.096,661 para Brasil e Nordeste, respectivamente), embora os coeficientes de determinação não sejam altos (Cox & Snell r² e Nagerlkerke r²), o que não impede nossas análises, já que elas são descritivas, sem a pretensão de estender os resultados a um modelo explicativo geral (LORENCETTI, 2013).

O grau de impacto de cada variável pode ser observado na coluna wald, na qual se indica o impacto da variável explicativa sobre a variável dependente em termos de grau: quanto maior a distância de zero, maior é a influência desse fator sobre a eleição pra prefeito. O sinal presente

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nos valores da coluna B indica se a relação entre a variável explicativa e a eleição do candidato é positiva ou negativa. E a coluna Exp(B) serve de base para o cálculo de índice de chance de eleição do candidato para prefeito em 2012 a partir das variáveis analisadas em nosso trabalho. Comecemos pelo caso nacional:

TABELA 3 –REGRESSÃO LOGÍSTICA - CASO NACIONAL (CODATO; CERVI; PERISSINOTTO, 2013)

Tipo Variáveis no modelo B Wald Sig. Exp (B) Chance

Econômicas Patrimônio alto -0,112 0,743 0,389 0,894 -10,6

Receita positiva 0,330 10,502 0,001 1,391 39,1

Sociais Idade acima de 47 -0,328 12,614 0,000 0,720 -28,0

Ser mulher -0,240 3,154 0,076 0,786 -21,4 Escolaridade superior 0,012 0,016 0,898 1,012 1,2

Políticas Ser prefeito 1,290 156,366 0,000 3,632 263,2

Partido coligado 0,887 9,365 0,002 2,429 142,9

Partido alto desempenho 0,245 5,022 0,025 1,278 27,8

Partido de centro -0,122 1,045 0,307 0,885 -11,5 Constante -1,815 37,173 0,000 0,163 -83,7

Índices Cox & Snell r2 ,019

Nagelkerke r2 ,122

-2 log likelihood 2935,861

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira – NUSP/UFPR

Três fatores não foram significativos para a eleição de prefeitos no Brasil em 2012, um econômico, um social e um político: “patrimônio”, “escolaridade”, e “partido de centro”. Candidatos com mais receita de campanha que os concorrentes tiveram quase 40 vezes mais chances de se eleger a chefe do executivo municipal. Candidatos mais velhos, com idade superior a 47 anos, e candidatas mulheres tiveram chances reduzidas de sucesso eleitoral em 2012. Com a exceção de “partido de centro”, todas as variáveis políticas apresentam impacto

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positivo sobre a chance de o candidato sair vitorioso nas últimas eleições municipais, com destaque para os candidatos que estavam tentando a reeleição (com 263 vezes mais chance de se elegerem do que os concorrentes) e para os candidatos com partidos coligados. Em nível nacional, candidatos homens, com boa receita de campanha, até 47 anos, que tentaram a reeleição por partido que estava coligado com outras legendas, muito provavelmente teve sucesso no pleito.

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - NUSP/UFPR.

A exemplo do caso nacional, as eleições municipais nos municípios nordestinos pouco foram impactadas pelas variáveis “patrimônio”, “escolaridade” e “partido de centro”. O dinheiro e o diploma parecem definitivamente não serem os fatores que agregam positivamente às

TABELA 4 – REGRESSÃO LOGÍSTICA – CASO NORDESTINO

Tipo Variáveis no

modelo B Wald Sig. Exp (B) Chance

Econômicas Patrimônio alto -,108 ,731 ,393 ,897 -10.3

Receita positiva ,389 15,295 ,000 1,475 47.5

Sociais Idade acima de 47 -,357 15,798 ,000 ,700 -30

Ser mulher -,238 3,272 ,070 ,788 -21.2 Escolaridade

superior ,005 ,004 ,951 1,005 0.5

Políticas Ser prefeito 1,209 140,906 ,000 3,350 235

Partido coligado ,890 9,711 ,002 2,435 143.5 Partido alto

desempenho ,261 5,988 ,014 1,298 29.8 Partido de centro -,151 1,693 ,193 ,859 -14.1 Constante -1,815 37,173 0,000 0,163 -83,7

Índices Cox & Snell r2 ,083 Nagelkerke r2 ,111 -2 log likelihood 3.096,661

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campanhas dos candidatos a prefeito. Das variáveis econômicas, apenas a receita de campanha se mostrou significativa e com impacto ainda maior no Nordeste do que no resto do país.

O sinal invertido nos valores referentes às variáveis sociais mostram o impacto negativo de ser candidata, ou candidato com mais de 47 anos. Concorrer a prefeito no nordeste com idade acima da média diminui em 30 vezes a chance de sair vitorioso na disputa eleitoral. A tabela também mostra que a mulher que consegue se candidatar a prefeita, dificilmente consegue superar concorrentes do sexo masculino no pleito.

Por último, as variáveis políticas, que durante toda a pesquisa se mostraram as mais influentes na corrida eleitoral. De qualquer forma, vale ressaltar os enormes valores relativos aos candidatos que já eram prefeitos. Estes, ao tentarem a reeleição parecem já sair na frente, com chances 235 vezes maiores das chances dos rivais de saírem vitoriosos. A tabela acima também indica o prejuízo de o indivíduo se candidatar a prefeito por um partido “solteiro”, quer dizer, sem coligação. Contudo, ao tentar se eleger por um partido membro de uma aliança, o candidato pode ver suas chances de virar prefeito aumentarem 143 vezes. Logo, “ser prefeito” e se candidatar por “partido coligado” foram as duas variáveis de maior impacto sobre as chances de eleição dos candidatos a prefeitos pelos municípios do Nordeste.

7. O QUE IMPORTA?

Nesta seção, abordaremos os resultados descritos acima, procurando o significado deles também a partir de outras pesquisas recentes, algumas delas realizadas com o mesmo banco de dados aqui utilizado, disponibilizado pelo TSE.

7.1. Variáveis econômicas

O primeiro aspecto que nos chama atenção é o fato de que candidatos ricos não se elegem apenas pelo patrimônio. A última tabela apresentada neste trabalho deixa claro o volume de bens declarados pelo candidato tem pouco impacto na eleição a prefeito, e esse impacto é negativo, ou seja, os resultados indicam que os postulantes a cargo de prefeito, que declararam patrimônio acima da média, tiveram suas chances de sucesso eleitoral, consideravelmente diminuídas. Seria o caso, portanto, de afirmar que dinheiro não importou nas eleições municipais de 2012?

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Importam, e muito, se considerarmos os resultados referentes às receitas de campanhas declaradas pelos candidatos. Além de ter se mostrado uma variável fundamental para a eleição de 2012 em todos os testes aplicados neste trabalho (e com a confirmação de seu impacto positivo na tabela de regressão logística), a receita de campanha também já foi objeto de trabalho dentro da ciência política, em estudos que ratificam a importância do dinheiro aplicado à campanha política, sem o qual o candidato vê suas chances de vitória muito reduzidas (CORADINI, 2012; FELISBINO; BERNABEL; KERBAUY, 2012; CERVI, 2013; SPECK; MANCUSO, 2013).

Segundo Emerson Cervi, as receitas de campanha nas últimas eleições municipais aumentaram mais de 60%, se comparadas em relação às eleições de 2008, quando analisadas somente as 26 capitais federativas. Mas o que nos faz trazer esse estudo à tona é o fato de as receitas das campanhas às prefeituras das capitais nordestinas praticamente terem dobrado, com um aumento real (acima da inflação) de 96,95%. Uma diferença tão drástica de valor pode ser o resultado de maior rigor da justiça eleitoral com a declaração de gastos dos candidatos, a fim de evitar a prática de “caixa dois”, o que acarretaria numa representação mais realista dos dados financeiros das campanhas. Não se descarta, entretanto, a possibilidade dessa diferença de valores ser efeito também do acirramento da competição eleitoral nas capitais nordestinas, uma vez que houve maior ocorrência de segundo turno nessas cidades (CERVI, 2013).

A despeito desse crescimento no financiamento eleitoral, o autor ainda observa a paradoxal diminuição de doações de campanha por CPF e CNPJ, o que significa que empresas e indivíduos têm contribuído menos financeiramente com os candidatos a prefeito. A explicação de Cervi é que os doadores deixaram de repassar os recursos diretamente para os candidatos e, como resultado da maior fiscalização eleitoral, passaram a doar aos comitês partidários municipais.

A mudança de destinação das doações pode ser entendida como uma redução do vínculo direto entre empresas/setores e candidatos, que deixam de aparecer como doadores nas prestações de contas dos candidatos, mas também como um indicativo de fortalecimento do papel dos partidos políticos da organização das campanhas eleitorais, ou seja, uma despersonalização das finanças políticas (CERVI, 2013, p.50).

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Lembrando que além dessas, a outra fonte de financiamento eleitoral é o próprio Fundo Partidário7, podemos concluir que os partidos são os principais agentes de financiamento de campanha no Brasil, com destaque ao crescimento de 16% desse tipo de ajuda nas capitais do Nordeste. Segundo Cervi, quanto maior o volume de recursos de partidos políticos, melhor o desempenho eleitoral do candidato. O mesmo não valeria para doações diretas de empresas e pessoas físicas (CERVI, 2013).

Com essa constatação, a única variável econômica que se mostrou significativa em nossos testes, sofre um filtro de caráter político. Os recursos de campanha não são importantes por si só, mas adquirem importância na medida em que são apropriados pelos partidos políticos, que assumem o papel de distribuidores de recursos obtidos, principalmente por causa do maior controle sobre sistema financeiro pela justiça eleitoral.

7.2. Variáveis sociais

Das variáveis sociais, a escolaridade foi a única que não apresentou impacto significativo. Enquanto no caso nordestino a variável não foi significativa em nenhum dos testes aplicados, no caso nacional apenas os resíduos padronizados apresentaram uma leve correspondência da escolaridade com o grupo de candidatos eleitos e não eleitos. A (baixa) concentração positiva de casos em que os candidatos com ensino superior foram eleitos no Brasil indicaria uma pequena tendência do bacharelado ser um trunfo importante para as eleições municipais no Brasil. Entretanto essa tendência não se confirmou, a julgarmos pelos números da tabela de regressão logística, em que a variável apresenta, tanto no país quanto na região Nordeste, um sig. próximo de 1.

Portanto, os testes apresentados neste trabalho indicam que, quanto à escolaridade, não há diferenças significativas entre o grupo de candidatos eleitos e não eleitos. Logo, o diploma de graduação não garante vantagem ao candidato que anseia pelo cargo de chefe de executivo nos municípios brasileiros. O que significa que muitos foram os que se elegeram prefeitos e não possuem escolaridade superior.

7O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, denominado Fundo Partidário, é o valor

repassado aos partidos políticos, constituído por dotações orçamentárias da União, multas, penalidades, doações e outros recursos financeiros (Fonte: http://www.tse.jus.br/partidos/fundo-partidario).

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Ao analisarmos os dados relativos à idade dos candidatos, notamos um ponto interessante: ao passo que os testes de resíduos padronizados, os primeiros apresentados neste trabalho, indicam pouca correspondência entre a idade e a eleição ou não do candidato, as tabelas de regressão logística apresentam índices de chance muito significativos para aspirantes a prefeito que possuem mais de 47 anos, com a ressalva de que esse índice é negativo (-28 no Brasil, e -30 na região Nordeste). Logo, podemos concluir que a juventude é um trunfo nas eleições majoritárias nos municípios do país, talvez porque candidatos mais experientes optem por disputar eleições legislativas estaduais ou federais (CODATO; PERISSINOTTO; CERVI, 2013).

Quanto ao sexo dos (as) candidatos (as), os testes indicam que as mulheres, assim como os candidatos jovens, estão em número menor entre os candidatos, principalmente no caso nordestino. Um dos motivos seria a falta de tempo, um dos principais recursos para quem anseia por uma carreira política, já que as mulheres costumam cumprir dupla ou tripla jornada de trabalho, dentro e fora de casa. Mesmo candidatas, elas saem atrás na corrida eleitoral, e suas chances de sucesso eleitoral são muito menores em relação aos concorrentes do sexo masculino, e essa observação se aplica tanto no caso nacional quanto regional.

Poderia se pressupor que mulheres teriam ainda menos chances em espaços menos desenvolvidos e urbanizados, e que as condições para as mulheres se lançarem à vida política seriam mais propícias, onde modernização e a impessoalidade das relações fossem mais presentes. Disso, resultaria que as mulheres teriam menos espaço ainda na política nordestina do que na política nacional, o que não se confirmou nos dados apresentados: mulheres são igualmente discriminadas eleitoralmente a nível nacional e regional. Estudo de Bruno Speck e Wagner Mancuso (2013) confirmam nossa tese.

Também contrariando o senso comum, Luis Felipe Miguel e Cristina Monteiro de Queiroz (2006) mostram que a proporção de mulheres eleitas para as prefeituras é maior nas grandes regiões Norte e Nordeste, tidas como menos urbanizadas e mais atrasadas economicamente, do que nas regiões Sul e Sudeste, entre as eleições de 1992 e 2004. Os motivos para essa diferença, segundo os autores, seria o nível de concorrência nas respectivas regiões: quanto menor, maior as chances de sucesso eleitoral das mulheres.

Lembramos ainda da implementação de medidas afirmativas que buscassem resolver o déficit de mulheres nos cargos eletivos no Brasil. A política de cotas eleitorais de gênero, embora

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implementada desde 1995, não era de caráter obrigatório até as eleições de 2012, quando, finalmente, os partidos passaram a ser passíveis de punição caso não cumprissem a norma de destinar, no mínimo, 30% de suas candidaturas para as mulheres, nas eleições legislativas.

De maneira otimista, poderíamos supor que o estabelecimento de cotas de gênero nas eleições proporcionais surtisse efeito nas candidaturas das eleições majoritárias, através do ganho de capital político pelas mulheres que se elegessem vereadoras ou deputadas nos pleitos anteriores.

Mas pesquisas mostram que, mesmo nas eleições proporcionais, os avanços na igualdade de gênero são muito tímidos, ainda que maiores do que nas eleições majoritárias. Segundo Teresa Sacchet (2013), o que coloca as mulheres em situação de desvantagem nas eleições municipais é o modelo de financiamento de campanha brasileiro, no qual as mulheres saem desfavorecidas por tenderem a arrecadar quantias substancialmente menores, e a investirem menos recursos próprios nas eleições (SACCHET, 2013). Indo mais longe, aproveitando nossas conclusões acima sobre as receitas de campanha, diríamos que os partidos, através de seus repasses de recursos aos candidatos, seriam os agentes primordiais da conservação do caráter majoritariamente masculino das instituições políticas.

7.3. Variáveis Políticas

Das variáveis analisadas neste trabalho, as que ofereceram maior poder explicativo em relação ao sucesso eleitoral dos candidatos nas eleições municipais de 2012 foram as variáveis políticas. Delas, a única que os dados negam impacto é “partido de centro”. Ainda que os testes de resíduos padronizados apresentem correspondência da variável com a eleição de prefeitos, a tabela de regressão logística apresenta um sig. relativamente alto (0,307 no caso nacional e 0,193 no caso nordestino). De qualquer forma, os resíduos apresentados são negativos para os candidatos eleitos, ou seja, há uma concentração de casos negativa de indivíduos que se elegem prefeitos por partidos de centro no espectro ideológico. O que significa que os partidos PMDB e PSDB não tiveram uma taxa de sucesso eleitoral maior que a proporção de candidaturas lançadas por essas legendas, tanto nacionalmente, quanto regionalmente falando. Algo que pode ser explicado pelo sucesso de partidos de esquerda, presentes na coalizão do governo federal e liderados pelo crescimento do PT, tais como PC do B, PSB e PDT.

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