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Resenha: Landscape, de John Wylie

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Geografares 

29 | 2019

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Resenha: Landscape, de John Wylie

Jaciel Gustavo Kunz

Edição electrónica

URL: https://journals.openedition.org/geografares/618 ISSN: 2175-3709

Editora

Universidade Federal do Espirito Santo Refêrencia eletrónica 

Jaciel Gustavo Kunz, «Resenha: Landscape, de John Wylie », Geografares [Online], 29 | 2019, posto online no dia 17 outubro 2019, consultado o 03 agosto 2021. URL: http://journals.openedition.org/ geografares/618

Este documento foi criado de forma automática no dia 3 agosto 2021.

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Resenha: Landscape, de John Wylie

Jaciel Gustavo Kunz

REFERÊNCIA

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1 Este livro faz parte da série Key Ideas in

Geography (Ideias-Chave em Geografia), da editora britânica Routledge. Segundo esta, a série oferece textos acessíveis, porém completos, acerca de conceitos-chave do espaço, voltando-se não somente à Geografia, mas também às Ciências Humanas e Sociais correlatas. Para tal, as obras situam o conceito-chave dentro de suas tradições de pensamento, possibilitam a compreensão dos usos e significados diversos, e oferecem discussão crítica da contribuição de autores relevantes. No que compete à abordagem da paisagem pela Geografia Humanista-Cultural, este intento foi atingindo pela obra do jovem professor John Wylie, de origem irlandesa.

2 Landscape é o único livro completo por ele

publicado até o momento, segundo o currículo divulgado pela Universidade;

logo, é uma de suas principais publicações. Embora publicada já há alguns anos, a obra ainda conta com atualidade no tratamento dos temas e correntes a que se propõe. Bastante citada no exterior, a obra possui pouca difusão no Brasil até o momento. Diante disso, esta resenha se propõe a convidar os estudiosos do assunto do país a conhecerem mais a obra e o autor, a fim de considerarem a inclusão desse em seus acervos pessoal ou institucional, bem como em suas referências.

3 Ao lado da boa diagramação, a convidativa capa ilustra uma das séries de telas que o

impressionista Cézanne pintou do Mont Sainte-Victoire (Monte Santa Vitória), na França, onde viveu durante alguns anos (no final século XIX e início do XX), a fim estudar essa paisagem e pintá-la em mais de sessenta versões.

4 Apesar de o pintor escolhido para a capa ser francês, poucos autores desse país são

citados no livro: quando o são, tratam-se de versões traduzidas ao Inglês. Ou seja, o autor acaba por transitar muito bem entre as teorias e conceituações, sem, contudo, afastar-se do mundo Anglo-Saxão. Francês, Italiano e Alemão praticamente não aparecem entre as referências. Isso não é necessariamente uma crítica, na medida em que por meio da obra é possível se ter uma síntese exaustiva do que vem sendo produzido em língua inglesa, em especial, no Reino Unido e nos Estados Unidos.

5 Na obra, o autor vai além das tradicionais divisões temporais da epistemologia da

Geografia (Teórico-Quantitativa, Humanista-Cultural, Crítica, etc.), para dar ênfase ao passado recente, um diferencial do livro. Aparecem as correntes modernistas e pós-estruturalistas, o modo como evoluíram e criticaram as escolas que as precederam, bem como a influência decisiva de pensadores (geógrafos, filósofos, sociólogos, antropólogos, etc.) em direção às novas guinadas ou novos giros, suas rupturas e continuidades, ressurgimentos, etc.

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6 Trata-se de um manual bem-estruturado. Apresenta praticamente um boxe (quadro) de

contextualização dos temas a cada capítulo. A intenção é aprofundar e ilustrar o tópico por meio de estudos de caso realizados por eminentes pesquisadores; alguns. por ele próprio. O livro conta com índice remissivo para facilitar a localização dos tópicos de interesse.

7 Para se ter uma noção do conteúdo, é necessário percorrer, ainda que brevemente, seus

capítulos.

8 No capítulo 1, de introdução, Wylie é categórico ao afirmar que paisagem é

inescapavelmente, tensão, o que acaba sendo a tônica do livro. E que tensões seriam essas? Ele enuncia, sem esgotá-las, as seguintes: proximidade/distância, observação/ habitação, olho/terra (solo), cultura/natureza. Tais tensões e dilemas, que trariam fertilidade aos estudos da paisagem, são correntes no seu estudo, bem como presentes em alguns trabalhos de arte (pintura). Nesse capítulo é apresentada a estrutura das seções em que se dividem o livro.

9 O capítulo 2 trata das tradições do estudo de paisagem. Embora o foco temporal do livro

seja a partir dos anos 1970, Wylie retrocede um pouco, para falar especialmente do período entre 1950 e 19751. Nesta parte é dado destaque a três "tradições" da paisagem cultural: Sauer e J. B. Jackson (Estados Unidos), e o menos conhecido Hoskins (Reino Unido). São aqui traçadas as bases da Geografia Cultural, que, sobretudo a partir de Carl

Sauer, passou a reconhecer a indissociabilidade entre cultura e natureza nos processos de formação das paisagens. Destacam-se as pesquisas desse autor, que, sob influência da concepção de landschaft alemã, buscava combinar trabalho de campo e pesquisa de gabinete. A obra de Sauer, contudo, ressoa diferentemente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Formou-se, posteriormente, uma crítica à concepção Sauer, em especial ao seu conceito de cultura, o que fez culminar na formação da Escola de Berkeley (Estados Unidos) e na chamada nova Geografia Cultural nesse país. Dessa tradição desponta o norteamericano J. B. Jackson2, que, ao contrário dos outros dois estudiosos, é reconhecido como um insider no estudo das paisagens vernaculares de sua nação, por vezes, em contraste com as do México. Cruzava os territórios por rodovia, e a partir dessa imersão na paisagem, a uma escala distinta, renovou o interesse dos estudos dessa área. Jackson não seguiu uma carreira acadêmica tradicional. Contudo, ainda nos anos 1950, fundou Landscapes3. Há influências de Sauer e Hoskins sobre Jackson, que, por sua vez, influenciou toda uma geração de pesquisadores. Vale lembrar que ele é citado por Meinig, Cosgrove, entre outros. O trabalho de J. B. Jackson hoje influencia novas perspectivas no estudo das paisagens, como a fenomenológica (como morada) e a da paisagem sob paradigma das novas mobilidades. William George Hoskins, por sua vez, estudou a paisagem associada à nostalgia e à melancolia (a paisagem passada era melhor). Desse modo, nota-se um legado romântico na sua concepção histórica de paisagem, que seria, mais histórica que geográfica. Além disso, a tradição de Hoskins mostra-se localista e rural.

10 O capítulo 3, "maneiras de ver"4, avança no tempo, ao se situar entre os anos 1985 e

1995. Além da introdução e sumarização, é sub-dividido em outras partes, que tratam a paisagem como estética e ideologia visual (propriedade das terras e capitalismo), aliada à perspectiva linear - artifícios da profundidade e do ponto de fuga, na confluência entre História da Arte, Geometria e Óptica. A paisagem também é/foi abordada como texto, concepção que uniu a Geografia à Semiótica, na busca pelos significados culturais construídos em torno das paisagens. Ainda, discorre-se sobre a paisagem no âmbito das

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geografias feministas e de gênero, ao abordar a paisagem como olhar/contemplação ainda masculina, voyeurística e narcisista. Há aproximações e distanciamentos entre essas linhas de trabalho. Os principais teóricos citados são Cosgrove, e Duncan e Duncan.

11 O capítulo 4, que contextualiza os anos 1990 em diante, procura agrupar alguns temas e

vertentes recentes sob o título de "culturas de paisagem"5. Primeiramente, trata das materialidades da paisagem, tanto no sentido legal e/ou de substância, quanto no de produção a partir do trabalho, a partir da crítica materialista de processos de (re)produção. Posteriormente, são as informadas as influências de Foucault, por meio de suas noções de discurso, poder e sujeito. Ainda, são considerados aspectos de ação, conduta e cidadania, em um contexto cultural. Sob o giro pós-colonial, a paisagem é (re)discutida: há um olhar imperial, a partir da observação, ciência e autoridade. O olhar da Psicinálise também é apreciado, e nesse contexto, a paisagem, as viagens (de todo tipo) e o self são (re)aproximados. Os autores-chave no capítulo são Olwig, D. Mitchell e Matless.

12 O capítulo 5 trata da Fenomenologia da Paisagem, abordagem que o autor, a essa altura,

revela adotar. Contudo, ao longo do livro ele considera vantagens e desvantagens inerentes a toda teoria e a todo método. Wylie parte, sobretudo, da fenomenologia existencial de Heidegger e de Merleau-Ponty6. O antropólogo britânico Ingold é aqui bastante citado. Buscando distanciar-se da divisão cartesiana entre olho e corpo, vê as práticas e performances como corporificações do ser-estar-no-mundo7. Aqui, intervém questões da percepção e da (in)separabilidade entre eu interno e o ambiente externo, na experiência. Aqui, a concepção da paisagem como morada é indispensável, bem como as teorias não representacionais (ou mais-que-representacionais), as quais, por vezes se opõem à ideia de paisagem como maneira de ver.

13 No capítulo 6, sobre prospectos para a paisagem, Wylie, ao admitir que qualquer

previsão sobre o futuro do tratamento teórico desta está fadada a falhar, suplementa com as novas abordagens, as mais recentes, em vez de propriamente traçar um rumo provável das pesquisas.

14 O principal mérito da obra é a síntese competente das ideias e do pensamento corrente,

e do imediatamente anterior a esse. É escrito de modo direto e preciso, obedecendo ao gênero acadêmico-científico, embora ofereça leitura prazerosa.

15 Para finalizar, considero que a obra contribui ao estado do conhecimento da paisagem

pela Geografia, no Ocidente, desde os anos 1970, ao início dos anos 2000. Isso se dá a partir do cotejo com outras ciências e com a Filosofia, dentro dos marcos da corrente Humanista e Cultural desse período. A obra também traz o contexto intelectual e as vertentes de pensamento que o antecederam e o influenciaram. É recomendado para estudantes e pesquisadores que dominem o Inglês, especialmente ao ingressarem na pós-graduação, e que necessitam esclarecer seus recortes epistemológicos sobre esse objeto/conceito em crescente complexificação.

Sobre o autor

16 John Wylie, geógrafo, é professor-doutor da área de Geografia Cultural, e diretor de

pesquisa da área de Geografia Humana na Universidade de Exeter, Reino Unido. Atualmente, é editor do periódico Cultural Geographies (Geografias Culturais). Orienta

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teses de doutorado. Assina artigos e capítulos de livro citados em várias partes do mundo. Faz parte de um círculo de eminentes geógrafos culturais do Reino Unido.

Fonte

17 <https://www.routledge.com/Landscape/Wylie-Wylie/p/book/9780415341448>. Acesso

em: 23 jul. 2019.

NOTAS

1. Embora uma das obras de referências, A Morfologia da Paisagem, tenha sido publicada, por Sauer, em 1925.

2. Abreviatura de John Brinckerdoff Jackson. Costuma-se mantê-la ao se referir ao autor, uma vez que há outros atores na área de estudo de mesmo sobrenome. Nascido na França, de pais norteamericanos. Foi escritor e artista em design da paisagem, entre outros.

3. Período que não se inseria propriamente no gênero acadêmico, mas sim em um gênero mais descritivo, analítico e narrativo.

4. O termo, de Raymond Williams, faz parte da concepção de paisagem de Cosgrove nos marcos da Nova Geografia Cultural inglesa.

5. Termo do geógrafo britânico David Matless. O termo designa estudos focados em movimentos culturais, debates e práticas mais multifacetados que os dos períodos imediatamente anteriores.

6. Conhecido como "filósofo do corpo".

7. Note que não aparece o termo "geograficidade" de Eric Dardel, amplamente utilizado no Brasil.

AUTORES

JACIEL GUSTAVO KUNZ

Bacharel em Turismo (PUC-RS), Mestre em Turismo (UCS) e Doutorando em Geografia (UFRGS). Docente na FURG, na área de Turismo. Realizou doutorado-sanduíche em Western Michigan University, Estados Unidos, por meio de bolsa da CAPES para esse fim (processo

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