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Pronunciamentos contábeis: um estudo dos relatórios de auditoria das companhias negociadas na BM&FBOVESPA.

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 77

Pronunciamentos contábeis: um estudo dos relatórios de auditoria das companhias negociadas na BM&FBOVESPA.

AUTORES

MARCELO ANTONIO PIERRI JUNIOR; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA;

marcelopierrijr@gmail.com

RITA DE CÁSSIA CORREA PEPINELLI CAMARGO; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA;

rita.camargo@ufsc.br

RAPHAEL VINICIUS WEIGERT CAMARGO; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA;

raphael.camargo@ufsc.br

NATALIA KIRCHNER DE AZEVEDO; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA;

kirchner.natalia@gmail.com

LUIZ ALBERTON; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA;

luiz.alberton@ufsc.br

Artigo recebido em 06/11/2015 Artigo aprovado em: 08/12/2015

Resumo

O objetivo deste estudo foi identificar os motivos relacionados aos pronunciamentos contábeis que resultaram em modificação de opinião, parágrafos de ênfases e/ou de outros assuntos nos relatórios de auditoria das empresas negociadas na BM&FBovespa. Foi realizada uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa, na qual foram analisados 344 relatórios de auditoria das empresas listadas na BM&FBovespa referentes ao ano de 2012. Os Pronunciamentos Contábeis mais mencionados nos parágrafos de base para opinião modificada foram o CPC 26, CPC 32 e CPC 14, sobre questões de continuidade, tributos a recuperar e operações com instrumentos financeiros, respectivamente. Nos parágrafos de ênfases, além do CPC 26, entre os motivos mais frequentes estavam, reapresentação das demonstrações (CPC 23), características especiais de reconhecimento de receitas das entidades de incorporação imobiliária (ICPC 02), e transações entre a empresa auditada e suas partes relacionadas (CPC 05).

Palavras-Chave: Relatório de auditoria; Auditoria contábil; Pronunciamentos contábeis. Accounting pronouncements: an study of audit reports of companies traded on the São

Paulo Stock Abstract

The aim of this study was to verify the information contained in the audit reports, with respect to the subjects covered in basis for opinion paragraphs, emphasis of matter paragraphs and/or other matter paragraphs in relation to the subjects addressed in accounting pronouncements. A descriptive study with a qualitative approach, in which 344 audit reports of companies listed on the São Paulo Stock Exchange pertaining to the fiscal year 2012 were analyzed. The most reported Accounting Pronouncements in paragraphs basis for modified opinion were the CPC 26, CPC 32 and CPC 14, about going-concern opinions, tax credits and transactions with financial instruments, respectively. In emphasis of matter paragraphs, besides the CPC 26,

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 78 among the most frequent reasons were restatement of financial statements (CPC 23), special features for the recognition of revenue among real estate developers (ICPC 02), and transactions between the audited company and related parties (CPC 05).

Keywords: Audit Report; External Auditing; Accounting Pronouncements. 1 INTRODUÇÃO

A contabilidade brasileira passou por alterações significativas nos últimos anos promovidas pelas novas normas de contabilidade convergidas às IFRS (International

Financial Reporting Standards). A adoção destas normas no Brasil foi realizada em duas

fases, a primeira ocorreu com a adoção de alguns Pronunciamentos Técnicos (CPC’s) pelas empresas nos anos de 2008 e 2009, e a segunda contemplou a adoção completa dos CPC’s pelas companhias abertas a partir do ano de 2010. Até o ano de 2012 haviam sido emitidos 43 CPC’s, 17 Interpretações Técnicas (ICPC), seis Orientações (OCPC) e a Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro.

Além disto, novas normas de Auditoria Independente baseadas nas ISA’s (International Standards on Auditing), denominadas Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de Auditoria Independente de Informações Contábeis Históricas (NBC TA’s) que impactaram tanto no processo de auditoria como na emissão do relatório do auditor (parecer) foram adotadas desde 2010. Esse processo proporcionou a convergência da contabilidade brasileira à internacional, objetivando uma maior credibilidade e confiabilidade na divulgação das informações pelas empresas.

As principais mudanças no Parecer de Auditoria, estabelecidas pelas NBC TA’s, foram quanto à sua denominação, passando a ser chamado de Relatório de Auditoria, e quanto à sua estrutura, incluindo entre outros aspectos a definição da responsabilidade da administração e da auditoria em parágrafos distintos e a inclusão dos parágrafos de outros assuntos.

Para Pasiouras, Gaganis e Zopounidis (2007), o Parecer de Auditoria (doravante denominado Relatório de Auditoria) consiste em um documento no qual o auditor expressa sua opinião sobre os relatórios contábeis da empresa auditada, indicando se estas foram elaboradas segundo as normas e princípios contábeis, a legislação vigente e se estão livres de erros ou distorções relevantes.

Apesar das mudanças oriundas da adoção das novas normas de auditoria, o relatório permanece padronizado, ou seja, segue um modelo normativo de estruturação padrão, inclusive de conteúdo, que em muitos aspectos é comum a todas as empresas. Com exceção de seus parágrafos iniciais que são similares, o relatório pode apresentar diferenças em sua estrutura, de acordo com a opinião emitida pelo auditor, como é o caso de uma opinião modificada (com ressalva, adversa ou com abstenção de opinião) em que o auditor deve relatar no parágrafo de base para opinião, quais os motivos de sua emissão. Esta modificação pode ser decorrente, dentre outros motivos, da falta de aderência a alguma(s) norma(s) específica(s). O mesmo se aplica ao caso dos parágrafos de ênfases e outros assuntos.

Desta forma, alguns estudos dedicaram-se a verificar quais eram as questões mais recorrentes nos parágrafos de ênfases e outros assuntos dos Relatórios de Auditoria, dos quais pode-se mencionar Mota, Tavares e Machado (2012), Almeida, Silva e Aires (2012) e Souza (2012), que destacam como motivos mais recorrentes as diferenças entre as Normas Brasileiras e Internacionais de Contabilidade no que diz respeito à avaliação de investimentos societários.

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 79 Carlos, Vasconcellos e Dantas (2015) verificaram os impactos da adoção das normas internacionais de auditoria nos relatórios de auditoria das empresas financeiras. Os autores observaram que o conteúdo mais abordado nos relatórios refere-se às Demonstrações de Valor Adicionado e que as firmas não Big-Four tem uma maior tendência a modificar a opinião.

Além da importância das normas internacionais, é observada também a influência do relatório de auditoria no comportamento de investidores. Ianniello e Galloppo (2015) encontraram efeitos da opinião modificada no relatório de auditoria na variação dos preços das ações das companhias listadas na bolsa australiana. Nesta linha, Ricci (2014) recomenda a realização de pesquisas que abordem as normas internacionais de auditoria e os relatórios de auditoria para o entendimento da contribuição deste novo relatório de auditoria.

Considerando as mudanças ocorridas nas normas de contabilidade, e que os estudos anteriores se preocuparam em identificar os principais motivos contidos nos parágrafos de ênfase e outros assuntos, contudo sem relacioná-los aos conteúdos dos CPC’s, têm-se a seguinte questão de pesquisa: Quais os motivos relacionados aos pronunciamentos

contábeis que resultaram em modificação de opinião, parágrafos de ênfases e/ou de outros assuntos nos relatórios de auditoria das empresas negociadas na BM&FBovespa?

O objetivo deste estudo consiste em identificar os motivos relacionados aos pronunciamentos contábeis que resultaram em modificação de opinião, parágrafos de ênfases e/ou de outros assuntos nos relatórios de auditoria das empresas negociadas na BM&FBovespa.

Justifica-se o desenvolvimento desta pesquisa pela verificação de aspectos relacionados à aderência aos novos pronunciamentos contábeis oriundos do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade sob o ponto de vista do auditor, profissional responsável pela avaliação da adequação das demonstrações contábeis das empresas auditadas. Esta abordagem, alternativamente aos estudos que investigaram a conformidade da aplicação dos pronunciamentos contábeis nas demonstrações contábeis, aborda a questão sobre a perspectiva do auditor, identificando assuntos relativos aos pronunciamentos contábeis nos relatórios de auditoria.

Além desta introdução, o presente trabalho é composto dos seguintes tópicos: revisão teórica sobre o relatório de auditoria e os pronunciamentos contábeis; metodologia adotada; a análise dos dados; e, por fim, a conclusão do estudo e as referências utilizadas.

2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Relatório de Auditoria

De acordo com Attie (2010), o objetivo da auditoria independente é expressar uma opinião sobre a propriedade das demonstrações contábeis e o meio pela qual ela é expressa é através do Relatório de Auditoria.

Dutra (2011) corrobora com a visão, da qual, o Relatório de Auditoria é o fim maior dos serviços de auditoria independente e o modelo pré-estabelecido de relatório remete a auditoria a observar um padrão de verificação, baseado em conformidade ou não das regras definidas para a escrituração e indiferente de quem seja o auditor, emitirá uma posição exclusiva. A NBC TA 200 define expressamente que um dos objetivos da auditoria, é emitir o relatório sobre as demonstrações contábeis em harmonia com o exigido pelas NBC TA’s e em conformidade com as constatações do auditor (CFC, 2009a).

Em 2009, juntamente com o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, as normas de auditoria independente também foram alteradas conforme o padrão internacional das ISA’s emitidas pela International Federation of Accountants (IFAC) (CAMARGO, 2012). Assim, com o processo de convergência houve mudanças na forma de

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 80 emissão do relatório de auditoria. As normas que influenciam, de maneira mais específica, na emissão do relatório de auditoria são as NBC TA 700, 705 e 706 que abordam, respectivamente, a formação da opinião do auditor e a estrutura do relatório de auditoria sobre as demonstrações contábeis, às modificações na opinião do auditor independente, e a utilização de parágrafos de ênfases e outros assuntos (CFC, 2009b, 2009c, 2009d).

A NBC TA 700, além de abordar a responsabilidade do auditor no momento da formação da opinião, o escopo do relatório de auditoria, também define as divisões do relatório de auditoria, seguindo a seguinte disposição: Título; destinatário; parágrafo introdutório; responsabilidade da administração sobre as demonstrações; responsabilidade do auditor; opinião da auditoria e a assinatura do auditor.

Vale ressaltar que a opinião contida no relatório de auditoria pode ser enquadrada em duas categorias: (i) relatório sem modificação; e (ii) relatório modificado (que compreende o relatório com ressalva, com abstenção de opinião e com opinião adversa). Ademais, nas duas categorias os relatórios podem apresentar parágrafos de ênfases e/ou de outros assuntos. No Quadro 1 é possível visualizar um resumo sobre as situações em que o auditor deve emitir um relatório com opinião modificada ou não.

Quadro 1 – Tipos de Opiniões contidas nos Relatórios de Auditoria

Tipo de Relatório Constatações sobre as Demonstrações Contábeis Forma de Apresentação

Relatório sem

ressalvas Sem distorções relevantes e sem necessidade de comunicação adicional. Parágrafo de opinião padrão. Relatório com

parágrafos de ênfases

Sem distorções relevantes e com necessidade de

comunicação adicional (assunto apropriadamente apresentado ou divulgado nas demonstrações contábeis, de tal importância, que é fundamental para o entendimento dos usuários).

Após o parágrafo de opinião são inseridos os parágrafos de ênfases, precedidos do título “Ênfase”.

Relatório com parágrafos de outros assuntos

Sem distorções relevantes e com necessidade de

comunicação adicional (assunto não apresentado ou

não divulgado nas demonstrações contábeis, de tal

importância, que é fundamental para o entendimento pelos usuários sobre a auditoria realizada, a responsabilidade do auditor ou o relatório de auditoria).

Após o parágrafo de opinião e os parágrafos de ênfases (se houver), precedidos do título “Outros assuntos”.

Relatório com

ressalvas Distorções relevantes não generalizadas. É apresentado no parágrafo de opinião e é caracterizado pelos termos “...exceto por..., ...com exceção de..., etc.”.

Relatório com

opinião adversa Distorções relevantes e generalizadas (com obtenção de evidência apropriada e suficiente). É apresentado no parágrafo de opinião e é caracterizado pelos termos “...não representam adequadamente...”

Relatório com abstenção de opinião

Distorções relevantes e generalizadas (sem obtenção de evidência apropriada e suficiente).

É apresentado no parágrafo de opinião e é caracterizado pelos termos “...não expressamos uma opinião...”

Fonte: Adaptado de Camargo (2012) e CFC (2009c; 2009d)   

Como é possível observar no Quadro 1, a emissão pelo auditor de um relatório com opinião modificada, irá depender da extensão das distorções encontradas nas demonstrações contábeis e da generalização destas distorções, além do fato, de o auditor ter obtido evidências apropriadas e suficientes para basear sua opinião (CFC, 2009c). Por sua vez, a presença de parágrafos de ênfase no relatório serve para que o auditor chame a atenção dos usuários sobre algum fato que foi retratado nas demonstrações contábeis, mas que julgue essencial para o entendimento das mesmas (CFC, 2009d). Quanto aos parágrafos de outros assuntos, são

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 81 incluídos para chamar atenção a algum fato relacionado aos trabalhos de auditoria (CFC, 2009d).

2.2 Convergência Contábil e a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis

As normas para regulação da atividade de contabilidade no Brasil até pouco tempo não apresentavam similaridade com as utilizadas no restante do mundo, porém com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e a convergência as normas internacionais de contabilidade, teve-se a oportunidade de possuir uma contabilidade mais próxima da praticada por empresas de países que também adotaram as referidas normas. O CPC emite seus pronunciamentos com base nas normas emitidas pelo órgão internacional de convergência, o

Internacional Accounting Standards Board (IASB).

Costa, Theóphilo e Yamamoto (2012) verificaram as diferenças entre os pronunciamentos contábeis emitidos pelo CPC e as normas internacionais emitidas pelo IASB no que tange as demonstrações consolidadas. Os resultados evidenciaram que existem diferenças entre o CPC e as IFRS em virtude de particularidades da legislação brasileira, como é o caso da não permissão no Brasil para reavaliação de ativos imobilizados e intangíveis, permitido pelas IFRS. Contudo, mesmo com as diferenças constatadas, os autores concluíram que pode-se afirmar que as demonstrações contábeis brasileiras estão sendo preparadas de acordo com as IFRS, pelo fato de que as exigências contidas nas IFRS foram contempladas nos Pronunciamentos Contábeis.

Até 2015 foram emitidos 45 pronunciamentos, no entanto, para esta pesquisa destacam-se 12 CPC’s e duas Interpretações Técnicas observados nos relatórios de auditoria, conforme o Quadro 2.

Quadro 2 - Pronunciamentos Contábeis e Interpretações técnicas utilizadas na pesquisa Nº do CPC Descrição

CPC 01 (R1) Redução ao Valor Recuperável de ativos CPC 05 (R1) Divulgação sobre Partes Relacionadas CPC 09 Demonstração do Valor Adicionado

CPC 14 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação CPC 23 Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativa e Retificação de Erro CPC 24 Evento Subsequente

CPC 25 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes CPC 26 (R1) Apresentação das Demonstrações Contábeis

CPC 27 Ativo Imobilizado CPC 32 Tributos sobre o Lucro CPC 33 (R1) Benefícios a Empregados CPC 36 (R3) Demonstrações Consolidadas ICPC 01 Contratos de concessão

ICPC 02 Contratos de construção do setor imobiliário Fonte: CPC (2015)

2.2 Estudos Anteriores

O conteúdo dos relatórios de auditoria foi objeto de investigação de várias pesquisas da área contábil, especificamente, entre os estudos que se dedicaram a investigar os motivos para que as empresas recebessem relatórios com ressalvas, parágrafos de ênfases e outros assuntos estão Damascena, Paulo e Cavalcante (2011), Mota, Tavares e Machado (2012), Almeida, Silva e Aires (2012), Souza (2012) e Souza e Silva (2013).

Damascena, Paulo e Cavalcante (2011) verificaram as situações que serviam de justificativa para a emissão de um relatório modificado ou não modificado e com parágrafo de

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 82 ênfase, averiguando as diferenças de opiniões nos relatórios das companhias abertas entre os anos de 2006 e 2008. Constataram que existem conteúdos que são abordados em alguns casos como ressalva e em outros casos como ênfase, nos quais destacam-se os créditos tributários e a falta do exame de auditoria nas demonstrações contábeis de períodos anteriores.

Mota, Tavares e Machado (2012) investigaram as principais questões tratadas nos parágrafos de ênfases e de outros assuntos das empresas listadas na BM&FBOVESPA no ano de 2010. Encontraram como assunto mais recorrente nos parágrafos de ênfase das empresas analisadas as diferenças entre as Normas Brasileiras de Contabilidade e as Internacionais sobre a avaliação dos investimentos societários, e nos parágrafos de outros assuntos questões relativas a auditoria da Demonstração de Valor Adicionado (DVA).

Souza (2012) verificou os conteúdos abordados nos relatórios de auditoria das companhias abertas pertencentes ao Novo Mercado no ano de 2011. Das 127 empresas analisadas, a autora destacou que a maioria foi auditada por firmas Big-Four (aproximadamente 97%), que os relatórios possuíam apenas duas ressalvas e que em quase todos os relatórios ocorreu a inclusão de parágrafos de ênfase e outros assuntos. Entre os assuntos mencionados nos parágrafos de ênfase destacaram-se: diferenças na avaliação de investimentos conforme determinado pela legislação brasileira e as IFRS (cerca de 80%); reconhecimento das receitas das empresas de incorporação imobiliária (cerca de 15%); e incerteza quanto à capacidade de continuidade da companhia e/ou controladas (cerca de 5%). Quanto às questões mencionadas nos parágrafos de outros assuntos destacou-se o exame da DVA.

Outro estudo, realizado por Almeida, Silva e Aires (2012) com 32 empresas de capital aberto entre os anos de 2010 e 2011 apresentou resultados similares aos de Mota, Tavares e Machado (2012) e Souza (2012), mesmo tendo como foco períodos e amostras diferentes. Da mesma forma que demonstrado nos estudos citados, Almeida, Silva e Aires (2012) constataram que o assunto mais abordado nos parágrafos de ênfase foi a diferença na avaliação de investimentos pelas normas brasileiras e internacionais, e a questão mais abordada em parágrafos de outros assuntos foi o exame da DVA.

Anjos, Frey e Frey (2013) constataram que os relatórios de auditoria das empresas do setor financeiro no ano de 2011 atendem de maneira geral, aos aspectos regulatórios emitidos pelo Conselho Federal de Contabilidade. Já, Ricci (2014), em outro contexto, investigou os relatórios de auditoria das empresas do setor de tecnologia da informação entre 2010 e 2012. De acordo com a autora houve 12 relatórios de auditoria que deveriam ter sido ressalvados, porém, as empresas apenas receberam parágrafos de ênfases.

Souza e Silva (2013) investigaram os relatórios de auditoria das empresas listadas no Novo Mercado a partir da análise do conteúdo destes. Os autores encontraram a presença de parágrafos de ênfases e outros assuntos em quase todos os relatórios de auditoria e a predominância das firmas Big-Four nas auditorias das empresas brasileiras.

Muraro, Rota e Machado (2015) observaram uma taxa de 15% de modificação dos relatórios de auditoria das demonstrações contábeis publicadas no Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul. Este percentual pode ser considerado elevado se comparado às empresas da BM&FBovespa. Os autores também constataram a emissão de parágrafos de ênfases em casos em que os auditores deveriam ter emitido relatórios modificados.

A partir dos estudos anteriores, é possível perceber a ocorrência de modificações, bem como de parágrafos de ênfases e/ou outros assuntos, e quando avaliados os motivos relacionados aos Pronunciamentos Contábeis que resultaram em tais alterações, os assuntos mais mencionados nos parágrafos de ênfase são as diferenças entre as Normas Brasileiras e Internacionais de Contabilidade, sobretudo em relação à avaliação dos investimentos em

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 83 outras companhias, e nos parágrafos de outros assuntos questões relativas à verificação da DVA. Na próxima seção são apresentados os procedimentos metodológicos do estudo.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Procedimentos para coleta e análise dos dados

A coleta de dados foi realizada durante os meses de Setembro e Outubro de 2013 para as empresas listadas na BM&FBovespa. Os dados referentes ao ano de 2012 foram coletados por meio das Demonstrações Financeiras Padronizadas e dos Formulários de Referência do portal da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Das 512 empresas listadas na BM&FBovespa, 145 que pertenciam ao setor financeiro foram excluídas da amostra, uma vez que as empresas deste setor apresentam apenas adotaram 8 pronunciamentos contábeis até a data da pesquisa. Outras 23 empresas que não apresentaram os dados referentes ao ano de 2012 também foram excluídas da amostra.

Desta forma, os relatórios de auditoria das 344 empresas que permaneceram na amostra foram analisados, para que fosse possível identificar quais eram os pronunciamentos relacionados às informações prestadas nos parágrafos de base para modificação, de ênfases e/ou de outros assuntos.

Para isto, os relatórios de auditoria foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo, em que a partir da leitura destes relatórios foram identificados os motivos de base para opinião modificada e das divulgações efetuadas nos parágrafos de ênfase e/ou de outros assuntos. Estes motivos e divulgações foram classificados nas seguintes categorias: i) base para opinião com ressalva; ii) base para opinião adversa; iii) base para abstenção de opinião; iv) parágrafo de ênfase; e, v) parágrafo de outros assuntos. Para cada uma destas categorias, foram atribuídos os CPC’s relacionados às modificações, ênfases e/ou outros assuntos constantes nos relatórios analisados.

Além desta classificação do conteúdo dos relatórios de auditoria em categorias, foram também mapeadas nesta base de dados as seguintes variáveis para realização de uma análise categórica de agrupamento: i) setor de atuação; ii) nível de governança corporativa; e, iii) tipo de firma de auditoria. Com base nestes dados, foi possível a identificação de um panorama dos relatórios de auditoria recebidos pelas empresas de acordo com a categoria de agrupamento pertencente.

3.2 Enquadramento Metodológico

A pesquisa pode ser definida, quanto aos objetivos, como de natureza descritiva. De acordo com Gil (2002, p. 42), a pesquisa descritiva tem como “objetivo primordial a descrição das características de uma determinada população ou fenômeno ou, o estabelecimento de relações entre as variáveis”. Nesse estudo, o objetivo é descrever os fenômenos ocorridos em relação aos relatórios de auditoria e suas variáveis para a determinação de suas modificações.

Quanto à abordagem ao problema, a pesquisa é predominantemente qualitativa. De acordo com Diehl e Tatim (2004), os estudos qualitativos podem delinear a complexidade do problema e a interação entre as variáveis, compreender e classificar os processos e possibilitar um maior juízo sobre os comportamentos particulares dos indivíduos ou das variáveis analisadas. No presente trabalho, para compreensão dos relatórios de auditoria, os dados coletados foram tabulados de modo a obter uma visão das características individuais e do conteúdo global dos relatórios.

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 84 Quantos aos procedimentos técnicos utilizados, a pesquisa tem caráter documental, pois os dados foram coletados por meio dos documentos públicos disponibilizados pelas empresas que compõe a amostra, constituindo-se da fonte principal da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2003), que nesse estudo referem-se aos relatórios de auditoria publicados na BM&FBovespa.

4 RESULTADOS DA PESQUISA 4.1 Características da Amostra

A Tabela 1 apresenta as firmas de auditoria responsáveis pela emissão do relatório de auditoria das empresas analisadas. Observou-se que os relatórios de auditoria foram predominantemente emitidos pelas firmas pertencentes ao grupo das Big-Four, responsáveis por 73,80% dos relatórios emitidos para as empresas integrantes da amostra. Situação semelhante encontrada no estudo de Camargo (2012), no qual verificou no ano de 2010 em uma amostra de 279 entidades não financeiras da BM&FBOVESPA um percentual de cerca de 70% dos relatórios emitidos por empresas do grupo Big-Four.

  Tabela 1 ‐ Firmas de auditoria responsáveis pelos relatórios analisados  Firmas responsáveis  Qtde.      % Deloitte Touche Tohmatsu     64  18,6 Ernst & Young     77  22,4 KPMG auditores independentes     46  13,4 PricewaterhouseCoopers     67  19,5 Outras firmas1     90  26,2 Total de relatórios de auditoria  344  100,0 Nota1: Este grupo é composto por 42 firmas de auditoria não pertencentes ao grupo das Big‐Four.  Fonte: Elaborada pelos autores.   

Do total de empresas auditadas pelo grupo Big-Four, 6 empresas receberam relatórios modificados, o que representa aproximadamente 2,36% das empresas auditadas por este grupo. Nas empresas auditadas por firmas pertencentes ao grupo das não Big-Four foram encontrados 17 relatórios modificados, representando em torno de 19% das empresas auditadas por este grupo. Este resultado é similar ao encontrado na pesquisa de Damascena, Paulo e Cavalcante (2011), na qual, ao analisar os relatórios das companhias abertas brasileiras entre 2006 e 2008, observaram que as firmas de auditoria Big-Four, mesmo possuindo maior participação no mercado, emitiam menos relatórios com ressalvas. Ireland (2003) aponta que as empresas que optam por grandes firmas de auditoria tem menor probabilidade de receber relatórios modificados, uma vez que, em geral, possuem controles internos mais eficazes, uma estrutura organizacional mais sólida e maior qualidade em seus sistemas de informação.

Na Tabela 2 é apresentada a predominância constatada das firmas de auditoria por setor das empresas da amostra.

     

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 85 Tabela 2 – Predominância das firmas de auditoria nos setores das empresas da amostra

Setor

Qtde. Empresas

Analisadas % Firma de Auditoria

Qtde. Empresas Auditadas % Empresas Auditadas pela Firma no Setor

Bens Industriais 33 9,6 Ernst & Young Terco 9 27,3 Construção e Transporte 65 18,9 Deloitte Touche Tohmatsu 17 26,2 Consumo Cíclico 65 18,9 Ernst & Young Terco 17 26,2 Consumo não Cíclico 42 12,2 PricewaterhouseCoopers 11 26,2 Materiais básicos 41 11,9 PricewaterhouseCoopers Ernst & Young Terco 12 11 29,3 26,8

Petróleo 6 1,7 Ernst & Young Terco 3 50,0

Tecnologia da Informação 9 2,6 PricewaterhouseCoopers 3 33,3

Telecomunicações 9 2,6 KPMG 6 66,7

Utilidade Pública 74 21,5 Deloitte Touche Tohmatsu 23 31,1

Total 344

Fonte: Elaborada pelos autores

 

A Tabela 2 mostra que a maior parte das empresas que compõem a amostra pertence aos setores de Utilidade Pública, Construção e Transporte e Consumo Cíclico. Pode-se notar a predominância da Ernst & Young Terco e da PricewaterhouseCoopers em quatro e três, respectivamente, dos nove setores de atuação das empresas da amostra. É perceptível também que nenhuma firma do grupo das não Big-Four aparece na Tabela 2 entre as de maior predominância nos setores, contudo, vale ressaltar que a BDO RCS Auditores Independentes foi responsável pela auditoria de cinco empresas do setor de consumo não cíclico, o que representa cerca de 12% das empresas do setor, percentual que pode ser comparado a duas firmas Big-Four, Deloitte Touche Tohmatsu e KPMG, as quais auditaram cerca de 14% das empresas do mesmo setor.

A partir da Tabela 2, também é possível verificar que nos setores de Telecomunicações e de Petróleo, a KPMG e a Ernst & Young Terco, respectivamente, apresentam um percentual de predominância acima de 50%, enquanto nos demais setores o percentual de predominância das firmas de auditoria não passa de 35%. Um dos motivos para predominância no setor de Petróleo pela Ernst & Young é que as empresas do mesmo grupo listadas neste setor acabam contratando a mesma firma de auditoria.

Na Tabela 3 são apresentados os tipos de opinião contida no relatório de auditoria das empresas da amostra.

 

Tabela 3 - Ocorrências dos tipos de relatórios de auditoria observados na amostra

Tipo de relatório Qtde. %

Não modificado 321 93,3 Tradicional 173 53,9 Nível 1 22 6,9 Nível 2 13 4,0 Novo Mercado 109 34,0 BovespaMais 4 1,2

Modificado com ressalva 19 5,5

Tradicional 15 78,9

Novo Mercado 2 10,5

Nível 1 2 10,5

Modificado com abstenção de opinião 4 1,2

Tradicional 4 100,0

Total 344 100,0

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 86 Dos 344 relatórios de auditoria analisados, observou-se que aproximadamente 7% apresentaram modificações, entre elas, 4 abstenções de opinião e 19 opiniões com ressalva. Percentual este próximo ao encontrado por Camargo (2012) em 2010 que foi de aproximadamente 9% e por Damascena, Paulo e Cavalcante (2011) em 2006, 2007 e 2008, que foi de 8,9%, 6,4% e 8,9%, respectivamente. Apesar de aproximadamente 93% dos relatórios serem do tipo não modificados ou padrão, cerca de 99,4% destes apresentaram parágrafos de ênfase e de outros assuntos, o que não descaracteriza a opinião recebida, apenas acrescenta informações complementares.

Verificou-se que das empresas da amostra, 99,42% apresentaram em seus relatórios parágrafos de outros assuntos, porém, ao retirar os parágrafos definidos como padrões, como realizado por Camargo (2012), constatou-se que apenas 13,08% dos relatórios continham algum parágrafo de outros assuntos. No estudo de Camargo (2012), o autor desconsidera os parágrafos sobre a divulgação da DVA, por ser uma especificidade da legislação brasileira e não representar uma informação relativa a irregularidades nas demonstrações contábeis.

A partir da Tabela 3 é possível verificar que 192 empresas (55,8%) da amostra não pertencem aos níveis diferenciados de Governança Corporativa e que destas, 19 receberam relatórios modificados. Outras 111 empresas (32,3%) pertencem ao Novo Mercado, e entre estas apenas duas receberam relatórios com modificações. Outras duas modificações foram recebidas por empresas do Nível 1, grupo que totaliza 24 companhias, e no grupo do Nível 2 que totaliza 13 empresas, nenhuma recebeu modificação.

4.2 Pronunciamentos Contábeis mencionados nos relatórios de auditoria

O Quadro 3 apresenta os principais comentários encontrados nos relatórios de auditoria relacionados aos pronunciamentos contábeis.

 

Quadro 3 – Menções relacionadas aos Pronunciamentos Contábeis nos Relatórios de Auditoria CPC Parágrafo Tipo de Empresas Nº de Descrição das modificações

CPC 26

Ênfase 57

Foram observadas referências a continuidade que é um dos pressupostos para a apresentação das demonstrações contábeis.

Ressalvas 6

Outros Assuntos 7

Total 70

CPC 14

Ênfase 2

Pagamentos de debêntures em atraso, partes beneficiárias, aplicações financeiras pelo valor futuro, atualizações de empréstimos a taxas acima das contratuais e reestruturação de dívidas.

Ressalvas 4

Outros Assuntos 0

Total 6

CPC 32

Ênfase 7 Ressalvas com relação aos impostos a recuperar de IRPJ e CSLL que dependem de aprovação das autoridades competentes e também sobre a possível não utilização desses créditos devido à chance de

descontinuidade operacional.

Ressalvas 4

Outros Assuntos 0

Total 11

CPC 05

Ênfase 11 Excesso de operações com empresas em processo de recuperação judicial, possível não recebimento dessas transações entre partes relacionadas, e não possibilidade da estimativa da conta partes relacionadas devido a não revisão do saldo das investidas.

Ressalvas 3

Outros Assuntos 0

Total 14

CPC 01

Ênfase 1

Ausência de trabalho técnico que permitisse concluir se os valores de ativos imobilizados, intangíveis e biológicos eram recuperáveis.

Ressalvas 2

Outros Assuntos 0

Total 3

CPC 25

Ênfase 6

Falta de informações obtidas pelos assessores jurídicos com relação aos processos e a possível necessidade de contas provisionadas.

Ressalvas 2

Outros Assuntos 0

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Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 87 CPC Parágrafo Tipo de Empresas Nº de Descrição das modificações

CPC 27

Ênfase 6 Não contabilização dos encargos de depreciação referentes a 2012, o que pode acarretar em efeitos nas contas de resultado e patrimoniais, e a firma de auditoria considera o método de depreciação escolhido pela auditada diferente do correto devido aos atos legais e regulatórios do setor.

Ressalvas 2

Outros Assuntos 0

Total 8

CPC 23

Ênfase 17 Erros de períodos anteriores na qual não foi possível retomar posse de documentos importantes sobre investimentos que modificaram as demonstrações devido à antiga administração estar inacessível para dispor as informações. Ressalvas 1 Outros Assuntos 0 Total 18 CPC 33 Ênfase 1

Não apresentação dos passivos atuariais relacionados ao plano de benefícios contabilizados. Ressalvas 1 Outros Assuntos 0 Total 2 CPC 36 Ênfase 0

Falta de cumprimento das diretrizes para elaboração das demonstrações consolidadas. Ressalvas 1 Outros Assuntos 0 Total 1 CPC 09 Ênfase 5

Não foi observada referência ao assunto deste pronunciamento contábil nas modificações (apenas em ênfases e outros assuntos).

Ressalvas 0

Outros Assuntos 335

Total 340

CPC 24

Ênfase 1

Não foi observada referência ao assunto deste pronunciamento contábil nas modificações (apenas em ênfases).

Ressalvas 0

Outros Assuntos 0

Total 1

ICPC 01

Ênfase 4

Não foi observada referência ao assunto deste pronunciamento contábil nas modificações (apenas em ênfases).

Ressalvas 0

Outros Assuntos 0

Total 4

ICPC 02

Ênfase 16

Não foi observada referência ao assunto deste pronunciamento contábil nas modificações (apenas em ênfases).

Ressalvas 0

Outros Assuntos 0

Total 16

Fonte: Elaborado pelos autores

 

O Quadro 3 está ordenado pelo número de ressalvas encontradas nos relatórios de auditoria analisados, relacionadas a cada Pronunciamento. Na última coluna foram destacados os principais motivos mencionados nos parágrafos de opinião dos relatórios de auditoria modificados. Um dos motivos que apareceu com maior frequência nas opiniões com ressalva foi o relacionado ao CPC 26. Destacaram-se nas ressalvas relativas a este pronunciamento menções a possível descontinuidade da empresa. Dentre as seis ressalvas por este motivo, três empresas apresentaram ressalva devido aos prejuízos sucessivos, além de deficiência de capital de giro (duas destas) e patrimônio líquido negativo (uma destas). Outras duas empresas obtiveram menções em seus relatórios sobre a paralisação de suas atividades operacionais e uma devido ao fato de estar para ratificar um plano de recuperação judicial e estar sofrendo intervenção administrativa.

Além dos relatórios com ressalvas sobre continuidade operacional, outras 57 empresas receberam em seus relatórios, parágrafos de ênfases sobre esta questão. Entre os motivos para os parágrafos de ênfases sobre continuidade operacional foi relatado o excesso de passivo circulante sobre o ativo circulante e falta de capital de giro (13 empresas), excesso de endividamento (seis empresas), excessivos prejuízos, prejuízos líquidos no exercício ou prejuízo operacional (23 empresas), passivo a descoberto no período ou em períodos

(12)

Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 88 sucessivos (12 empresas), recuperação judicial e fase pré-operacional (oito empresas). Outros motivos para esse parágrafo ainda incluíram atividades paralisadas, índices financeiros adversos, término de concessões, e projetos de reestruturação. Vale ressaltar que algumas empresas receberam parágrafos de ênfase para mais de um dos motivos apresentados.

Comparando com estudos realizados em outros períodos, Camargo (2012) apontou que para o ano de 2010, 15% dos relatórios de auditoria analisados possuíam menções sobre continuidade e Mota, Tavares e Machado (2012) encontraram referência à continuidade em 92 empresas, ou seja, 17,8% da amostra, percentuais similares ao encontrado neste estudo para o ano de 2013 que foi de 16,6% considerando apenas as ênfases e de 20,3% considerando ressalvas, ênfases e parágrafos de outros assuntos.

Apesar de as firmas de auditoria não Big-Four auditarem apenas 26,2% das empresas da amostra, elas emitiram 54,39% (31) dos relatórios com parágrafos de ênfase sobre continuidade operacional, enquanto as Big-Four emitiram os outros 45,61% (26). Quanto aos seis relatórios emitidos com ressalvas por motivo de continuidade, estes foram emitidos por firmas não Big-Four.

Quando analisado por setor, as empresas que mais obtiveram em seus relatórios a referência à continuidade nos parágrafos de ênfase foram às classificadas no setor de Petróleo, Gás e Combustíveis (50%), Utilidade Pública (18,9%), Consumo Cíclico (18,5%) e Bens industriais (18,2%). As empresas classificadas no setor de Tecnologia da Informação não receberam nenhuma menção à continuidade.

Outros Pronunciamentos Contábeis que obtiveram destaque nos relatórios modificados foram o CPC 14 e o CPC 32, motivo de quatro ressalvas cada um. O CPC 14 aborda a contabilização e a evidenciação de operações com instrumentos financeiros e apareceu em relatórios que destacaram a contabilização de aplicações financeiras a valores futuros, sem a respectiva provisão, o tratamento dado às debêntures e a reestruturação de dívidas. O CPC 32 que trata dos tributos sobre o lucro foi mencionado em relatórios que chamavam atenção acerca da apuração dos tributos a recuperar e a possível chance de a empresa não recuperar estes montantes. Cabe destacar que das quatro empresas que receberam opiniões modificadas referentes ao CPC 32, três delas pertenciam ao setor de consumo cíclico.

Além dos já destacados, entre os Pronunciamentos e Interpretações que mais apareceram entre os motivos destacados nos parágrafos de ênfase está o CPC 23, a ICPC 02 e o CPC 05. O CPC 05 foi mencionado em 11 parágrafos de ênfases que destacavam as transações entre a empresa e partes relacionadas. Das empresas que receberam ênfases por este motivo, aproximadamente 91% não pertenciam a níveis diferenciados de Governança Corporativa, e aproximadamente 64% dos relatórios foram emitidos por firmas Big-Four. Das empresas que receberam ênfases referentes ao CPC 23 mencionando a reapresentação de suas demonstrações, 35,3% pertencem ao setor de Utilidade Pública, cerca de 60% não possuem nível diferenciado de governança e 88,2% dos relatórios foram emitidos por firmas

Big-Four.

Receberam menções sobre o ICPC 02 em suas ênfases, em geral, empresas do setor de construção e transporte, sobre as características especiais de reconhecimento de receitas das entidades de incorporação imobiliária. Em 2010, Mota, Tavares e Machado (2012) verificaram que 24 empresas tinham ênfases relativas à OCPC 04, que trata sobre como aplicar a ICPC 02. Percebeu-se que há pronunciamentos e interpretações técnicas não citados nos parágrafos de base para opinião modificada, apenas nos parágrafos de ênfases e de outros assuntos. O CPC 09, referente à Demonstração do Valor Adicionado (DVA), foi relatado em praticamente todos os relatórios nos parágrafos de outros assuntos, divulgando a elaboração da referida demonstração e a realização de sua auditoria. Vale destacar, que a DVA não é obrigatória para fins das IFRS, apenas pela legislação brasileira, contudo, chamou atenção o

(13)

Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 89 fato de que para quatro empresas esta informação não foi mencionada no relatório de auditoria. As empresas estrangeiras Cosan Limited e Wilson Sons LTD não publicaram a DVA e assim não apresentaram parágrafos de outros assuntos. Já a Brasmotor S.A e a Springer S.A publicaram a DVA, mas não obtiveram menção dos auditores sobre a divulgação da mesma em seus parágrafos de outros assuntos e sim no parágrafo introdutório do relatório.

5 CONCLUSÕES

Esta pesquisa teve como objetivo identificar os motivos relacionados aos pronunciamentos contábeis que resultaram em modificação de opinião, parágrafos de ênfases e/ou de outros assuntos nos relatórios de auditoria das empresas negociadas na BM&FBovespa. Para atingir este objetivo foram coletados e analisados os relatórios de auditoria referente ao ano de 2012 das empresas listadas na BM&FBovespa.

Verificou-se no estudo que das 344 empresas da amostra analisada, apenas 23 (6,7%) receberam relatórios com opinião modificada. Os motivos mais frequentes para as modificações relacionados aos Pronunciamentos Contábeis foram os relativos ao CPC 26, CPC 32 e CPC 14. Dos relatórios modificados, 17 foram emitidos por firmas não Big-Four e seis por firmas Big-Four, o que indica que mesmo auditando uma parcela menor das empresas da amostra, as firmas não Big-Four emitiram mais relatórios modificados. Além das modificações, nos parágrafos de ênfase sobre continuidade, 54% foram emitidos por firmas não Big-Four. Vale ressaltar, que se trata de uma pequena diferença entre grupos e que, de qualquer modo, este fato não significa diferença na qualidade da auditoria realizada por estes dois grupos de firmas de auditoria, uma vez que seria necessário analisar a qualidade dos relatórios apresentados pelas empresas auditadas. Adicionalmente, segundo Ireland (2003) firmas maiores de auditoria tendem a atrair clientes maiores, que possuem, consequentemente, maior qualidade em seus controles internos, uma estrutura organizacional bem definida e sistemas de informação eficazes o que reduz a probabilidade de estas empresas apresentarem não conformidades e receberem um relatório modificado.

Entre as questões mais abordadas nos parágrafos de ênfase destacaram-se as relativas a questões de continuidade (CPC 26), republicação de demonstrações (CPC 23), reconhecimento de receita nas entidades de incorporação imobiliária (ICPC 02) e às transações com partes relacionadas (CPC 05). Nos parágrafos de ênfases e outros assuntos, foram encontradas, referências a características de determinados setores, como por exemplo, é o caso do ICPC 02 destacado anteriormente, específico para as entidades de incorporação imobiliária, presente nos relatórios das empresas classificadas no setor de Construção e Transporte.

Para futuras pesquisas, sugere-se ampliar a amostra utilizada no estudo para outros períodos, como forma de avaliar a permanência ou mudanças nos assuntos citados nos relatórios de auditoria referente aos Pronunciamentos Contábeis e observar a tendência dos Pronunciamentos serem foco nos parágrafos de base para opinião, ênfase e/ou outros assuntos.

(14)

Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 2, n. 2, Jul/Dez – 2015 Página 90

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