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Palavras-chave: infecções; antibioticoterapia; educação e saúde.

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Academic year: 2021

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¹ Estudante do 6° período do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix – Campus Praça da Liberdade. E-mail: luaraujo97@hotmail.com

² Professor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix – Campus Praça da Liberdade. Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: ricardo.latini@izabelahendrix.edu.br

ABUSIVO DE ANTIBIÓTICOS: informações relevantes

para elaboração de programas educativos voltados

para profissionais da saúde e para a comunidade.

Luciana Araújo Barbosa¹

Ricardo Oliveira Latini²

Resumo

A resistência bacteriana é um processo biológico natural que surgiu com a utilização de antibióticos no tratamento de infecções e que, devido ao uso irracional e indiscriminado desses, tem aumentado cada vez mais, se tornando um grande problema de saúde pública. Dentre as consequências do uso abusivo de antibióticos destacam-se, além da seleção de cepas de bactérias resistentes, a exposição do usuário desse medicamento aos efeitos colaterais e a diminuição do estoque de antibióticos disponíveis para o tratamento de doenças infecciosas. Diante da necessidade de conscientização da sociedade quanto a essa questão, o objetivo desse estudo foi identificar informações relevantes que subsidiem a elaboração e execução de programas educativos voltados para a minimização da resistência bacteriana decorrente do uso abusivo de antibióticos. Os resultados apontam para a necessidade de adoção de novos critérios de prescrição, dispensação e uso adequado de antibióticos como forma de minimizar a resistência bacteriana. Além disso, demonstram a importância da educação continuada, por médicos e farmacêuticos e divulgação da regulamentação da venda de antibióticos pela ANVISA.

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a descoberta de antibióticos eficientes no tratamento de infecções bacterianas proporcionou um grande avanço na medicina reduzindo consideravelmente o número de mortes causadas por doenças infecciosas. Entretanto, o aumento crescente do uso de antibióticos tem potencializado a seleção de cepas de bactérias resistentes a esses medicamentos (SILVEIRA et al., 2006).

A resistência bacteriana refere-se à capacidade das bactérias multiplicarem-se na presença de concentrações de antibióticos mais altas que as que contêm em doses ministradas em pacientes. Trata-se de um processo biológico natural que surgiu com a utilização desses fármacos no tratamento de infecções (WANNMACHER, 2004) e, que devido ao uso irracional e indiscriminado desses em humanos e animais, tem aumentado cada vez mais (SANTOS, 2004).

Os mecanismos de defesa das bactérias são baseados em modificações nas suas estruturas bioquímicas, como alteração na permeabilidade da membrana, síntese de enzimas capazes de inativar os antibióticos e extinção ou alteração dos sítios de ação dos mesmos, impedindo seus efeitos inibidores sobre a síntese de macromoléculas, tais como, DNA, RNA, proteínas e mureína (FREITAS, 1989).

A resistência bacteriana a antibióticos tornou-se um grande problema de saúde pública em escala mundial, representando uma ameaça para a humanidade (SANTOS, 2004). As infecções provocam 25% das mortes no mundo e 45% nos países menos desenvolvidos, o que, em parte, deve estar refletindo a inadequação das prescrições de antibióticos (NICOLINI et al., 2013).

O homem, geralmente, não consegue neutralizar o desenvolvimento desses mecanismos de resistência de maneira eficaz e efetiva, devido à necessidade de racionalizar o uso de antibióticos para evitar seus efeitos colaterais e a seleção de bactérias resistentes (FREITAS, 1989). A grande oferta desses antimicrobianos, juntamente com as campanhas publicitárias, reforça o uso inconsequente destes e cria a necessidade de elaboração de

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programas sociais educativos sobre as consequências negativas da resistência bacteriana, como a mortalidade, morbidade e gastos com a saúde pública. (WANNMACHER, 2004).

No entanto, a orientação da sociedade para essa questão somente é possível se houver a divulgação de informações técnicas e científicas relacionadas com os problemas em questão por meio de atividades de educação que incluam a racionalização do uso de antibióticos. Com isso, esse trabalho objetiva identificar informações técnicas e científicas relevantes que subsidiem a elaboração e execução de programas educativos voltados para a minimização da resistência bacteriana decorrente do uso abusivo de antibióticos.

Para identificar tais informações foram realizadas buscas bibliográficas de artigos científicos na biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO) e no Google Acadêmico no período entre os meses fevereiro e abril de 2014. Durante as buscas realizadas na SciELO foram utilizados os filtros “idioma português”, “coleções brasileiras” e “publicações feitas a partir do ano 2000”. Já nas buscas no Google Acadêmico foram utilizados os filtros “páginas em português”, “período entre 2000 e 2013”, “classificar por relevância” e “não inclusão de patentes e citações”.

Para direcionar as buscas na SciELO foram utilizados os descritores, “resistência bacteriana”, “uso de antibiótico” e “combate à resistência bacteriana”. Enquanto no Google acadêmico o descritor utilizado foi “uso racional de antibióticos”.

Os critérios de seleção dos artigos encontrados durante todas as buscas bibliográficas realizadas foram: a relação do título com o tema pesquisado e a relevância do assunto abordado pelos autores para esse trabalho. Além disso, todos os artigos que enfatizavam a resistência/infecção bacteriana em ambiente hospitalar foram descartados, uma vez que o foco do estudo é o impacto das infecções comunitárias.

2 DESENVOLVIMENTO

Uma das buscas realizadas na SciELO cujo descritor utilizado foi “resistência bacteriana”, resultou em 45 artigos dos quais quatro foram

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selecionados. Já o descritor “uso de antibiótico” resultou em 121 artigos, dos quais três foram selecionados. Por fim, o descritor “combate à resistência bacteriana”, resultou no encontro de três artigos, sendo apenas um selecionado.

No Google acadêmico, a busca com o descritor “uso racional de antibióticos”, resultou em 167 artigos. Desses, foram selecionados apenas dois. Ainda no Google Acadêmico, outras buscas foram realizadas de maneira não sistematizadas resultando no encontro de vários artigos, dos quais três foram utilizados (FREITAS, 1989; FENAFAR, 2013 e BALBINO & AMADIO, 2013). Além desses, outros quatro artigos foram encontrados através das referências bibliográficas dos artigos selecionados (HAUSER, 2009; SANTOS & LOYOLA, 2006; WANMACHER, 2004 e MINISTÉRIO DA SAÚDE/ ANVISA, 2001).

Considerando os 17 trabalhos utilizados para a elaboração desse estudo, foram selecionadas oito informações relevantes referentes à redução da resistência bacteriana decorrente do uso indiscriminado de antibióticos para a elaboração de programas de conscientização de profissionais da saúde e da comunidade (Quadro 1) .

Quadro 1: Síntese das informações consideradas relevantes para serem utilizadas em programas de conscientização, algumas de suas aplicações e o público alvo das atividades de educação.

INFORMAÇÕES RELEVANTES CITAÇÃO APLICAÇÃO EM PROGRAMAS DE CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICO ALVO Procedimentos de diagnóstico de infecções e indicação de antibióticos. MINISTÉRIO DA SAÚDE & ANVISA, 2001; WANMACHER, 2004 Apresentação da necessidade de educação continuada. Médicos e farmacêuticos Utilização equivocada de antibióticos no tratamento de infecções virais. SANTOS, 2004; SILVEIRA et al.,2006;

DEL FIOL et al., 2010

Meios de distinção entre infecções virais e bacterianas. Médicos e comunidade Uso indiscriminado de antibióticos. BRICKS, 2003; OLIVEIRA & MUNARETTO, 2010

Entendimento das causas do problema pelo público

alvo. Médicos, farmacêuticos e comunidade Falta de informações, ao paciente, no momento da consulta médica e/ou de orientações no ato da

compra do medicamento.

DEL FIOL et al., 2010; NICOLINI et

al.,2013

Apresentação dos direitos dos pacientes e deveres dos profissionais da saúde.

Médicos, farmacêuticos e

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Quadro 1 (continuação): Síntese das informações consideradas relevantes para serem utilizadas em programas de conscientização, algumas de suas aplicações e o público alvo das atividades de educação.

INFORMAÇÕES RELEVANTES CITAÇÃO APLICAÇÃO EM PROGRAMAS DE CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICO ALVO Proibição, pela ANVISA, da venda de antibióticos sem receita médica. BRITO & CORDEIRO, 2012; CAMARGO, 2012 & FEDERAÇÃO NACIONAL DOS FARMACCÊUTICOS, 2013 Divulgação da regulamentação. Farmacêuticos e comunidade Efeitos adversos ao uso de antibióticos. HAUSER, 2009; SANTOS & LOYOLA,

2006

Redução da exposição dos usuários/pacientes aos efeitos colaterais.

Médicos, farmacêuticos e comunidade Dispensação de antibióticos por profissional habilitado. BALBINO & AMADIO, 2011; NICOLINI et al.,2013; OLIVEIRA & MUNARETTO, 2010 Importância da assistência farmacêutica. Farmacêuticos e comunidade Controle de infecções bacterianas. CAIERÃO et al., 2004 Importância do conhecimento do perfil de resistência. Médicos

O diagnóstico de uma infecção baseia-se em resultados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Estes últimos garantem a certeza do diagnóstico e justificam o tratamento. O paciente com quadro infeccioso apresenta queda do estado geral, febre e sinais de localização. Causas infecciosas não bacterianas, como infecções virais, não requerem antibioticoterapia. Isto é, o tratamento de pacientes com sinais e sintomas clínicos de infecção pela administração de antibióticos. A antibioticoterapia tem a finalidade de curar uma doença infecciosa ou de combater um agente infeccioso situado em um determinado foco de infecção (MINISTÉRIO DA SAÚDE & AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA).

Os programas de conscientização poderão apresentar a importância da realização da educação continuada pelos médicos e farmacêuticos, com o objetivo de reforçar o conhecimento desses profissionais sobre a aplicação da antibioticoterapia, visto que, segundo Wanmacher (2004), a prevalência das infecções e, consequentemente, a utilização de antibióticos para tratá-las,

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desencadeiam muitos erros de prescrição associados à incerteza do diagnóstico e ao desconhecimento farmacológico.

Segundo Silveira e colaboradores (2006), o emprego de antibióticos no tratamento de infecções virais, tais como, caxumba, gripe, sarampo e febres com etiologia desconhecida, além de ineficaz, proporciona o aumento da resistência bacteriana, pois a antibioticoterapia é uma técnica especifica para o tratamento de infecções causadas por bactérias.

A seleção de bactérias resistentes leva à diminuição do estoque de antibióticos disponíveis, pois estes vão se tornando ineficazes no tratamento de infecções, muitas das quais não serão mais controladas, no caso de uma reinfecção (SANTOS, 2004). Portanto, há o risco de antibióticos atualmente eficazes contra esses agentes infecciosos se tornarem obsoletos em consequência da resistência bacteriana (SILVEIRA, 2006).

Para que haja sucesso terapêutico no tratamento de infecções bacterianas, é necessário que se faça o diagnóstico adequado, seja pela presunção ou confirmação do agente causal. Uma vez estabelecido o diagnóstico, o antibiótico deve ser escolhido considerando a sensibilidade do agente etiológico, além do perfil farmacocinético (absorção, distribuição, metabolismo e excreção). Em seguida, deve-se escolher um esquema adequado de posologia que inclua a dose, intervalos entre as administrações e a duração do tratamento (DEL FIOL et al., 2010). Assim, é importante que o médico seja capaz de diferenciar infecções virais das bacterianas através de sinais e sintomas apresentados pelo paciente ou, por meio de exames laboratoriais, e que a população receba informações básicas que contribuam com a identificação dessas diferenças.

A prática do uso indiscriminado de antibióticos para o tratamento de infecções causadas por vírus, muito comum em países desenvolvidos e em desenvolvimento, é decorrente de fatores, tais como, dificuldade em diferenciar clinicamente infecções virais das bacterianas; a ilusão de que o uso preventivo de antibióticos evitaria a ocorrência de complicações no quadro clínico do paciente; falta de controle na venda desses medicamentos; e falta de informação sobre as consequências do uso inadequado de antibióticos, inclusive, o aumento da resistência bacteriana (BRICKS, 2003).

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Segundo Oliveira & Munaretto (2010), a oferta de educação continuada aos prescritores e dispensadores, bem como, propiciar a interlocução entre eles, e o fornecimento de informações aos usuários de antibióticos sobre os riscos causados pelo uso abusivo destes, são medidas que podem reduzir o surgimento de cepas de bactérias resistentes e preservar a eficácia dos antibióticos disponíveis.

Assim, presume-se que o entendimento das causas e consequências do uso indiscriminado de antibióticos pode contribuir para mudanças de hábito de médicos, farmacêuticos e pacientes/usuários. Para isso, os programas de conscientização terão que, além de fornecer à população informações básicas que propiciem o uso consciente de antibióticos, apresentarem a importância e necessidade de educação continuada de profissionais da saúde visando à diminuição dos erros de prescrição de antibióticos e a melhoria da assistência ao paciente/usuário no que tange a orientações sobre o tratamento.

Uma causa do uso irracional dos antibióticos refere-se à qualidade das

informações que o paciente/usuário possui para o uso adequado desses medicamentos. A falta de informações no momento da consulta médica e a

falta de orientações sobre a posologia do antibiótico pode levá-lo a parar o tratamento logo no início, deixar de administrar o remédio nos intervalos corretos ou usá-lo de maneira inadequada (DEL FIOL et al., 2010). Portanto o paciente/usuário deve estar ciente do tempo de duração do tratamento e do intervalo entre as administrações, garantindo que ocorra adesão total ao tratamento, para não haver redução da concentração plasmática do fármaco, ou até mesmo a sua ineficácia e à seleção de bactérias resistentes (NICOLINI et al., 2013).

Os médicos são responsáveis pela prescrição correta do antibiótico e por dar devidas orientações ao paciente sobre o tratamento. E é competência do farmacêutico avaliar as prescrições, propor o uso racional de medicamentos e prestar informação e orientação imparcial sobre o uso desses. A falta de informação do paciente sobre o tratamento leva ao comprometimento da melhora do quadro clínico. O paciente deve ser informado sobre todos os passos do tratamento, do diagnóstico ao término, para cooperar com o tratamento, evitando assim a reincidência de doenças e o aumento da resistência bacteriana (NICOLINI et al., 2013).

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Assim, enfatizar o direito de solicitação de esclarecimentos pelos pacientes/usuários aos médicos e farmacêuticos em programas de conscientização, bem como o dever desses profissionais de fornecer tais esclarecimentos, pode contribuir com o aperfeiçoamento da assistência desses profissionais no que se refere a orientações e informações concernentes ao tratamento, e a consequente adesão dos pacientes/usuários ao mesmo.

Os antibióticos de uso comunitário, isto é, comercializados em drogarias e farmácias, sempre foram sujeitos à prescrição médica, porém até recentemente não havia obrigatoriedade de retenção da receita. Isso dificultava a execução de medidas de controle e análise sobre padrões prescritivos ou de consumo de antibióticos e suas implicações (CAMARGO, 2012). A venda desse medicamento passou a ser controlada no Brasil desde a aprovação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 44/2010 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Essa medida visa diminuir o consumo irracional de antibióticos e também a resistência bacteriana (BRITO & CORDEIRO, 2012).

Com a nova lei a dispensação desses fármacos em farmácias e drogarias deverá ser feita mediante a apresentação de receita médica em duas vias pelo consumidor. Assim, a primeira via será retida na farmácia e a segunda será devolvida ao paciente/usuário com carimbo do estabelecimento, como forma de comprovação do atendimento. As receitas devem ser redigidas de forma legível e sem rasuras. As embalagens e bulas deverão conter os dizeres “Venda sob prescrição médica - só pode ser vendido com receita”. O novo prazo de validade para as receitas passa a ser de dez dias, devido aos mecanismos de ação dos antibióticos, e as movimentações destas deverão ser registradas pelas farmácias no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados. As medidas valem para todos os antimicrobianos registrados no Brasil, excetuando aqueles de uso exclusivo em hospitais. Com isso, a ANVISA pretende ter maior controle dessas substâncias (FEDERAÇÃO NACIONAL DOS FARMACÊUTICOS, 2013).

No Brasil, a RDC nº 44/2010, que controla a venda de antibióticos, tende a contribuir tanto para a diminuição do consumo irracional desses medicamentos quanto para a redução da resistência bacteriana (BRITO & CORDEIRO, 2012). Isso reforça a necessidade dos programas de

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conscientização divulgar, para farmacêuticos e paciente/usuários, a regulamentação da venda de antibióticos pela ANVISA, bem como, sua importância na redução do uso indiscriminado de antibióticos e da consequente diminuição da resistência bacteriana. Além disso; é desejável estimular a contribuição da comunidade na “fiscalização” de drogarias e farmácias, por meio de denúncias junto à ANVISA, visando coibir a venda de antibióticos sem receita.

O uso indiscriminado de antibióticos provoca, além da seleção de cepas de bactérias resistentes, maior incidência de efeitos colaterais (SANTOS 2004). Esses efeitos adversos incluem interação medicamentosa com anticoncepcionais, podendo ocasionar a redução dos efeitos contraceptivos dos mesmos (SANTOS e LOYOLA, 2006), e a maioria pode causar reações alérgicas, náuseas, vômitos e diarreia (HAUSER, 2009).

A redução da exposição de usuários/pacientes às reações adversas ao uso de antibióticos pode ser alcançada pela divulgação desses efeitos por médicos e farmacêuticos. Com essa divulgação, os programas de conscientização contribuem para o conhecimento da comunidade sobre os efeitos colaterais do uso de antibióticos e riscos das interações medicamentosas, como o de uma gravidez indesejada. Com isso, espera-se uma redução da automedicação com antibióticos, pois apesar da proibição da venda desse medicamento sem receituário médico, não se pode descartar a possibilidade da inobservância dessa lei, nem deixar de considerar o velho hábito das pessoas fazerem uso de sobra de antibióticos prescritos para parentes e amigos, que erroneamente, param de administrar o remédio com o desaparecimento dos sintomas da infecção.

No ato da dispensação de qualquer antibiótico, o farmacêutico deve explicar de forma clara e detalhada, ao paciente/usuário, o benefício do tratamento e certificar-se de que este não apresente dúvidas a respeito de aspectos, como: motivos da prescrição, contraindicações e precauções; posologia (dosagem, dose, forma farmacêutica, técnica, via e horários de administração); modo de ação; reações adversas e interações; duração do tratamento; condição de conservação guarda e descarte (BALBINO & AMADIO, 2011).

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A RDC nº 44/2010 permite que o farmacêutico delegue funções aos técnicos e auxiliares, mas exige treinamento e supervisão na execução das tarefas. Entretanto, a dispensação de medicamentos é uma atividade privativa do farmacêutico, segundo a RDC 357/2001 do Conselho Federal de Farmácia. Sendo assim, propõe-se que o farmacêutico, além de prestar assistência aos usuários/pacientes, ofereça treinamento aos seus auxiliares visando atuação profissional ética e a contribuição na promoção do uso consciente de antibióticos (OLIVEIRA & MUNARETTO, 2010).

Considera-se necessário, que os programas de conscientização abordem a obrigatoriedade da dispensação de antibióticos somente pelo farmacêutico. Uma vez que, a eficiência das ações de assistência farmacêutica é, muitas vezes, comprometida pelos baixos índices de compreensão dos pacientes sobre como administrar o medicamento de maneira adequada e segura (NICOLINI, et al., 2013). É possível que o contrário também possa ocorrer, ou seja, uma assistência farmacêutica deficiente não pode contribuir para prestação da completa orientação do paciente sobre o tratamento. Assim, tanto farmacêuticos quanto a comunidade, podem se conscientizar de que um profissional habilitado, no caso farmacêutico, está melhor preparado para prestar a devida assistência ao paciente/usuário no que se refere às orientações sobre o uso adequado de antibióticos.

O conhecimento dos perfis de resistência bacteriana na região é importante para que as prescrições de antibióticos não sejam baseadas em padrões de resistência descritos na literatura, mas que podem não refletir a realidade do local. Assim, aumentam as possibilidades de desenvolvimento de práticas de controle de infecções, específicas para cada localidade, fazendo uso consciente e moderado dos antibióticos disponíveis no mercado (CAIERÃO, et al.,2004).

Portanto, considera-se interessante que os programas de conscientização abordem a importância dos médicos conhecerem a epidemiologia dos agentes mais comuns para determinado foco infeccioso, o que além de contribuir para o controle de infecções, tende a reduzir as falhas no tratamento das mesmas.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Informações referentes ao impacto da resistência bacteriana e o uso indiscriminado de antibióticos são indispensáveis na elaboração de programas educativos, voltados para médicos; farmacêuticos e comunidade, sobre a importância e necessidade do uso consciente desses medicamentos. A orientação desses públicos alvo quanto a essas questões deve representar uma boa forma de minimizar o surgimento de bactérias resistentes, de diminuir a exposição de usuários às reações adversas ao uso de antibióticos e de evitar que ocorra indisponibilidade de medicamentos eficazes no combate às infecções.

Diante a necessidade de adoção de melhores critérios na prescrição, dispensação e uso desses fármacos, as orientações e informações relacionadas com essa temática apresentadas nesse estudo – como a importância da adequação de indicações de antibióticos, da assistência farmacêutica e do uso consciente desses medicamentos - devem atingir prescritores, dispensadores e a população em geral para que todos contribuam para o combate à resistência bacteriana.

Uma possível estratégia de realização desses programas educativos, para a comunidade, é a distribuição de panfletos que contemplem orientações sobre a importância do uso adequado de antibióticos. Essa ação poderia acontecer em postos de saúde, por serem espaços onde se concentram grande número de usuários, muitas vezes, com pouca instrução sobre o uso adequado de antibióticos, seja pelo baixo nível de escolaridade ou pelo atendimento médico deficiente.

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