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Processo n. 505/89 - Autos de recurso de despacho- 2." Secção (cópia da decisão a fls. 23, 24 e 25).

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Cópias da sentença do 6." Juízo Cível da Comarca de Lisboa e dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 211 679. Processo n.° 505/89 - Autos de recurso de despacho-

2." Secção (cópia da decisão a fls. 23, 24 e 25). Caminhos de Ferro Portugueses, E. P., com sede na Calçada do Duque, 20, em Lisboa, interpôs o presente re- curso nos termos do disposto nos artigos 203." e seguintes do Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n." 30 679, de 24 de Agosto de 1940, do despacho proferido pelo Sr. Director do Serviço de Marcas de 12 de Dezembro de 1988, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 12, de 1988, distribuído em 30 de Junho de 1989, no qual foi negada à recorrente a protecção da marca e respectivo registo, com o n.° 211 679- T-(Fig.), que se destinava a assinalar «self-service, snack- bar, restaurante e refeições» da classe 42." da tabela oficial anexa ao Código da Propriedade Industrial, com os seguintes fundamentos:

Que o despacho recorrido se fundamentou na confundibilidade com as marcas internacionais n.os 426 665 - Air France-(Fig.) e 426 666-(Fig.), da Compagnie Nationale Air France, Société Nacionale, francesa, industrial e comercial, com sede em Paris, e devidamente protegidas em Portugal;

Que pelo confronto dos vistos indicados no título das marcas em análise facilmente se verifica que têm quase o mesmo destino, à excepção da rubrica «Exposições», para a qual não há igualmente afins nas marcas citadas;

Que as marcas citadas no despacho recorrido contêm elementos nominativos, enquanto a sua é desprovida de qualquer expressão nominativa;

Que a marca da recorrente apresenta seis bandas de igual largura dispostas obliquamente e espaçadas por intervalos iguais;

Que três bandas se apresentam cortadas no mesmo nível por um espaço em branco, o que permite vislumbrar um T, de Terminal, nome de fantasia do Centro Comercial do Rossio, sua propriedade;

Que as marcas citadas apresentam cinco bandas em que as duas das extremidades são iguais e largas, que enquadram da esquerda para a direita e que é exactamente o emblema da Compagnie Nacionale Air France, noto- riamente conhecida e por isso identificável pelo público em geral.

Conclui pela procedência do recurso e pela consequente revogação do despacho recorrido, concedendo-lhe o registo da marca n." 211 679.

Juntou três documentos, substabelecimento e posterior- mente procuração.

Recebido o recurso, foi dado cumprimento ao disposto no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial.

Foi remetido e apensado o processo de marca n.° 21 179, tendo o director da Direcção do Serviço de Marcas respon- dido nos termos constantes de tl. 19, alegando que no caso em apreço só a confusão no n." 9 das alegações do recurso mostra que afinal as marcas são diferentes, e, atentando-se bem no artigo 94.°, também leva ao indeferimento.

Apreciando o recurso interposto consigna-se ter sido atempadamente interposto, com legitimidade e pelo processo próprio, inexistindo quaisquer questões prévias que obstem ao seu conhecimento.

Conhecendo do objecto do recurso:

Por despacho publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 12, de 1988, o Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, recusou à recorrente o registo da marca n." 211 679-T- (Fig.) com o fundamento de que se confunde com as marcas n.os 426 665 - Air France-(Fig.) e 426 666.

O despacho recorrido fundamentou-se, pois, no artigo 93.°, n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial, nos termos do qual será recusado o registo das marcas que constituam «reprodução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produtos semelhantes, que possam induzir em erro ou confusão no mercado».

Nos termos do artigo 94.° do mesmo diploma, considera- -se imitada ou usurpada no todo ou em parte a marca que tenha qualquer semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada, que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo ser distinguidas senão depois de um exame atento ou confronto.

Conforme a própria recorrente alega, a marca recusada destina-se aos mesmos produtos que as já registadas, salvo quanto às «exposições», que aquelas não integram.

Não é o facto de integrarem mais um «produto» que distingue as marcas.

No aspecto figurativo, não podemos deixar de concluir pela semelhança, tal como o fez a entidade recorrida. Com efeito, não é também o facto de a marca da recor- rente ter mais uma barra, ou os quase irreconhecíveis traços, em forma de T, que estabelece a diferença que possa não obrigar a um exame atento.

É que até a própria recorrente quase não consegue estabelecer diferenças. Mais barra, menos barra, não constitui qualquer diferença.

O observador normal olha para as duas marcas figurativas e não olha sequer para os invocados espaços entre as barras.

Vê, sim, a marca figurativa no seu todo. E esta, não pode negar-se, é quase a mesma que nas duas marcas já existentes.

Nem colhe o argumento de que a proprietária das marcas já registadas não apresentou qualquer reclamação.

Primeiro, porque não se sabe sequer se aquela teve co- nhecimento do pedido feito pela recorrente e, segundo, porque com o seu despacho a entidade recorrida evitou por certo o recurso que viria a ser interposto pela proprietária das marcas já registadas.

Face ao exposto, e por ser patente a semelhança entre a marca figurativa da recorrente com as marcas já registadas, nos termos dos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do Código da Propriedade Industrial, nega-se provimento ao recurso, confirmando-se assim o despacho recorrido.

(2)

Custas pela recorrente, fixando-se em 2 000 001$ o va- lor do recurso para o efeito das custas [artigo 8.°, n.° 1, alínea b), do Código das Custas Judiciais].

Transitado, cumpra o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial, com cópia dactilografada.

Registe e notifique.

12 de Janeiro de 1990. - Lino Pinto. Está conforme.

Lisboa, 26 de Junho de 1992.-O Escriturário, (Assinatura ilegível.)

Apelação n." 3719/90-45/90:

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

Caminhos de Ferro Portugueses, E. P., interpôs recurso nos termos do disposto nos artigos 203." e seguintes do Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto- Lei n." 30 679, de 24 de Agosto de 1940, do despacho proferido pelo Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, de 12 de Dezembro de 1988, publicado no Boletin da Propriedade Industrial, n.° 12, de 1988, que negou à recorrente a protecção da marca e respectivo registo com o n." 211 679, que se destinava a assinalar «self-service. snack-bar, restaurante e refeições» da classe 42.ª da tabela oficial anexa ao Código da Propriedade Industrial com o funda- mento de que se confundia com as marcas internacionais n.os 426 665 e 426 666, protegidas para produtos análogos ou afins.

Instruído o processo, foi proferida sentença negando pro- vimento ao recurso.

Daí o presente recurso interposto por Caminhos de Ferro Portugueses, em cujas alegações formulou as seguintes conclusões:

1.ª A revogação do despacho não viola nenhum dos pre- ceitos legais invocados, nomeadamente os artigos 93.°, n." 12.°, 94.° e 187.°, n.° 4.°. todos do Código da Propriedade Industrial, pois que as marcas são suficientemente diferen- ciadas, as marcas coexistem no mercado sem nunca se ter verificado qualquer confusão ou troca e nem sequer se toma possível a concorrência desleal;

2.ª É legítima a pretensão da apelante em ver protegida esta marca por ser já detentora dos registos da mesma marca sob os n.os 211 674. 211 675, 211 676 e 211 677, concedidos pelo Serviço de Marcas, e sob o n.° 211 678, concedido por sentença de 19 de Janeiro de 1990.

Não houve contra-alegações e, na vista que lhe foi feita ao abrigo do disposto o artigo 707.°, n.° 1, do Código de Processo Civil, o Ex.mo Magistrado do Ministério Público emitiu parecer no sentido de ser negado provimento ao recurso.

Colhidos os vistos legais, há que apreciar e decidir. Entendeu-se na decisão recorrida que é patente a seme- lhança entre a marca figurativa recusada n.° 211 679 e as marcas internacionais n.os 426 665 e 426 666, protegidas para os mesmos produtos a que aquela se destina, salvo quanto a «exposições», que esta não integra, pelo que não se entendeu ter sido bem recusada a protecção da marca.

Cra vejamos.

Segundo se mostra dos autos e aproveitando o próprio descritivo da recorrente feito a fl. 4 v.°, a marca recusada n.° 211 679 apresenta seis bandas de igual largura dispostas obliquamente e espaçadas por intervalos iguais e três bandas apresentam-se cortadas no mesmo nível por um espaço branco que permite vislumbrar um T, inicial de

Terminal, nome de fantasia do Centro Comercial do Rossio, propriedade da recorrente, e destina-se às rubricas da classe 42.ª «self-service, snack-bar, restaurante e exposições», conforme tudo consta do Boletim da Propriedade Indus- trial (doc. de fl. 7).

As marcas internacionais protegidas n.os 426 665 - Air France e 426 666 apresentam cinco bandas em que as duas das extremidades são iguais e largas, que enquadram três bandas de largura decrescente da esquerda para a direita, a primeira lem aposta por baixo a expressão «Air France», pertencem ambas à Compagnie Nationale Air France e des- tinam-se, entre outras, às rubricas da classe 42.ª «Services diversos: hôteierie, restauration, casétéries», conforme tudo resulta melhor do Boletim da Propriedade Industrial (doc. de fl. 10).

Com efeito, a marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais nominativos (marca nominativa), fi- gurativos ou emblemáticos (marca figurativa ou emblemá- tica), ou por uma ou outra coisa conjuntamente (marca mista) (artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial), Ora será recusado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham reprodução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou contusão no mercado (artigo 93°, n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial).

E considera-se imitada ou usurpada no todo ou em parte a marca destinada a objectos ou produtos inscritos no repertório sob o mesmo número, ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou contusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto (artigo 94.°).

Também é fundamento da recusa do registo o reconheci- mento de que a requerente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível, independentemente da sua intenção (artigo 187°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial).

Acontece que o registo das marcas será feito por produtos e serviços, competindo à respectiva divisão da Direcção do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, fazer a classificação dos produtos e serviços, indicando as respectivas classes (artigo 90.° e seu § 1.° do Código da Propriedade Industrial, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.° 27/84, de 18 d e Janeiro).

Consoante o Acórdão desta Relação de 10 de Maio de 1961, JR, 7.°, p. 543, na análise do conceito legal de imi- tação de marcas distinguem-se três regras de capital impor- tância para que a imitação se torne possível: 1.° quando se destina a objectos inscritos no repertório sob o mesmo número ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta; 2." quando haja semelhança gráfica, figurativa ou fonética; 3." que tal semelhança induza facilmente em erro ou contusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

Conforme se decidiu no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 3 de Janeiro de 1981. Boletim do Ministério da Justiça. 311.°, p. 401, a imitação da marca deve ser apreciada menos pelas dissemelhanças que ofereçam os diversos pormenores isoladamente do que pela semelhança que resulta do conjunto dos elementos que constituem a marca, e p o r intuição sintética e não por dissecação analítica que deve proceder-se à comparação das marcas. Numa marca figurativa será naturalmente a figura o elemento predominante a ter em conta para averiguar a semelhança ou dissemelhança das marcas.

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No caso, a marca recusada destina-se aos mesmos produtos ou serviços que as marcas registadas, excepto quanto a «exposições», que aquela abrangeria também, e estas não. Tal não exclui, porém, que se verifique o requisito de que as marcas registadas abranjam os mesmos produtos ou serviços que a marca recusada, já que «exposições» é algo de acessório em relação a «.çelf- service», «snack-bar» e «restaurante».

Confrontando os aspectos figurativos das marcas em causa com o descritivo atrás exposto e mesmo com o colo- rido constante de tl. 38, temos de concluir que há muita facilidade de confusão, por parte do consumidor médio dos produtos ou serviços abrangidos por essas marcas, entre a marca recusada (exclusivamente figurativa, segundo a recorrente) e, pelo menos, a marca internacional registada n.° 426 666 (também exclusivamente figurativa), excluindo tal semelhança com a marca internacional registada n." 426 665 (mista), devido ao seu elemento nominativo.

E isso acontece, salvo o devido respeito por opinião em contrário, não obstante a marca da recorrente se compor de cinco barras com a mesma largura e com três das barras cortadas na mesma altura e as marcas que motivaram a recusa serem compostas de cinco barras não só com larguras diferentes entre si e particularmente, porque largura idêntica tão-só a possuem as barras das extremidades. E não tem relevo o facto de estas, as barras iguais, terem largura superior à das barras que integram a marca da recorrente e de também terem todas as barras altura supe- rior à verificada na marca da recorrente e ainda ser o comprimento das linhas diferente nas marcas em questão. Tudo isso são pormenores que marcam dissemelhanças às quais se sobrepõem as semelhanças do conjunto e são estas semelhanças do conjunto que permitem uma fácil confusão, mais perceptível à vista.

Daí, pois, que as marcas em causa não são suficiente- mente diferenciadas, e antes são muito semelhantes e con- fundíveis, e, se coexistem no mercado sem nunca se ter verificado qualquer confusão ou troca, isso deve-se a mero acaso, e, a deferir-se o pedido da recorrente, é possível a concorrência da recorrente, independentemente da sua intenção.

Diz a recorrente que foi concedida protecção às suas marcas n.os 211 674 - T-(Fig.), 211 675-(Fig.), 211 676- T-(Fig.) e 211 677-T-(Fig.), representadas pelo mesmo símbolo, não tendo sido suscitada a susceptibilidade de con- fusão com o símbolo da Compagnie Nationale Air France. Só que isso, independentemente de se saber se os produtos ou serviços a que tais marcas se destinam serão os mesmos a que se destinam as marcas n.os 426 665 e 426 666, não implica que o Serviço Nacional de Marcas, porque se trata de poder administrativo vinculado, e não de poder discricionário, devesse proteger a marca só porque também a protegeu naqueles outros casos.

Por todo o exposto, julga-se improcedente o recurso e confirma-se a douta sentença recorrida. Custas pela recor- rente.

Lisboa, 15 de Janeiro de 1991. - (Assinaturas ilegíveis.)

Cópia do acórdão de fls. 74 e seguintes proferido na revista n.° 81 002 da 2.a Secção.

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Caminhos de Ferro Portugueses, E. P., também designados por CP, requereu em Maio de 1981 (fl. 16) ao

Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, para protecção em Portugal da sua marca de serviços, somente figurativa, moldada nos termos de fl. 16, que se destinava as rubricas «self-ser- vice», «snack-bar», «restaurante» e «exposições», todas da classe 42.a, que se dignasse ordenar a feitura do respectivo registo, o que deu origem ao processo do registo de marca n.° 211 679-T-(Fig.).

Porém, aquele Ex.mo Director, por despacho de 12 de Dezembro de 1988, recusou o pretendido registo, por- quanto, em seu entender, a dita marca da requerente confundia-se com as marcas internacionais n.os 426 665 e 426 666, protegidas para produtos análogos, com base no n.° 12.° do artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial. Não satisfeito com tal decisão, interpôs recurso do mesmo, de acordo com o preceituado no artigo 203.° da- quele Código, para o Ex.mo Juiz competente do Tribunal Cível de Lisboa, a requerente.

Este recurso foi julgado improcedente pelo Ex.mo Magistrado mencionado, conforme consta da sentença de tl. 23 a fl. 25, que assim confirmou o despacho recorrido. Discordando, mais uma vez, do ora decidido, recorreu para a Relação de Lisboa da sentença proferida a dita CP, que, pelo seu Acórdão de 15 de Janeiro de 1991 (tls. 45 a 51), não deu procedência a este recurso, mantendo, deste modo, o conteúdo daquela sentença.

Vem agora, mais uma vez, a recorrente Caminhos de Ferro Portugueses recorrer de revista para este Supremo Tribunal do referido aresto, que admitido foi.

No seguimento, somente a recorrente ofertou alegações que constam de tl. 64 a fl. 71.

Concluiu-as da seguinte forma:

A) Na marca da recorrente não se verifica, cumulativa- mente, o disposto no artigo 94." do Código da Propriedade Industrial: a) o mesmo destino; b) «Tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética [...] que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de um exame atento ou confronto»; B) A marca da recorrente goza de verdade e novidade, atributos que lhe conferem a singularidade, e, por isso, é legítima a pretensão de ver revogado o despacho;

C) Em consequência, a revogação da sentença não viola, pois, nenhum dos preceitos legais invocados e nomeada- mente os artigos 93.", n." 12.", e 187.°, n.° 4.°, uma vez que as marcas são suficientemente distintas;

D) O douto acórdão considerou prevalente a analogia da visualização das marcas, menosprezando o elemento «T», de primordial importância na marca da recorrente, e remetendo o essencial para o «nada», e ao deliberar assim violou os preceitos dos artigos 93.°, n.° 12.°, 94.° e 187.°, n." 4.", do Código da Propriedade Industrial.

Terminou a CP pedindo a concessão da sua revista. Colhidos os vistos legais, durante os quais o Ex.mo Magistrado do Ministério Público emitiu parecer no sen- tido da improcedência do recurso em foco, cumpre apreciar e decidir.

Para tanto, comecemos por dizer que constitui jurispru- dência largamente dominante (praticamente unânime) deste Supremo Tribunal a que consagra que o problema da imita- ção de marcas envolve duas questões, sendo uma, «de facto», relativa à existência de semelhanças ou dissemelhanças entre duas ou mais marcas e que é da exclusiva competência das instâncias, e a outra, «de direito», que consiste em apurar se, em face dessas semelhanças e dissemelhanças, uma das marcas deve ou não considerar-se imitada pela outra (neste sentido podem ver-se os Acórdãos deste Supremo Tribunal de Justiça de

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4 de Fevereiro de 1982 e 3 de Julho de 1986, respectivamente publicados a pp. 335 e 726 do Boletim do Ministério da Justiça, n.os 314 e 359).

Significa isto que este Supremo Tribunal, em face do disposto nos artigos 729.", n.os 1 e 2 (1.a parte), e 722.", n." 2 (1.a parte), tem de aceitar o que as instâncias interve- nientes neste processo decidiram sobre a existência de semelhanças e dissemelhanças havidas entre as marcas dos autos, já que se trata de matéria de facto, e não nos encontramos perante as hipóteses figuradas nas últimas partes dos n.°s 2 dos artigos 729." e 722." (referidos) do Código de Processo Civil.

Desta maneira, vejamos qual a matéria de facto dada por assente pelas instâncias.

Assim:

Por despacho publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 12, de 1988, o Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, recusou à recorrente CP o registo por ela pedido da marca n." 211 679-T-(Fig.), com o fundamento de que se confundia com as marcas n.os 426 665-Air France e 426 666.

Estas duas últimas marcas são pertença da Compagnie Nationale Air France e já se encontravam registadas quando a CP veio com a sua pretensão de registo, em causa.

A marca recusada destinava-se aos mesmos produtos e serviços que aquelas duas anteriormente registadas (self- service, snack-bar e restaurante), acrescentando a recorrente CP também o vocábulo «exposições» (este sem autonomia em relação àqueles outros três, dado ser um simples acessório em relação a eles).

A classe 42.a da tabela oficial anexa ao Código da Propriedade Industrial abarca os serviços a que tais aludidas marcas se destinavam.

A marca recusada n." 211 679-T-(Fig.) da CP apresenta seis bandas desenhadas de igual largura, dispostas obliqua- mente e espaçadas por intervalos iguais, e três delas apre- sentam-se cortadas ao mesmo nível por um espaço em branco.

A recorrente diz que tal corte de três bandas, nas condi- ções indicadas, permite vislumbrar um T, que se diz ser a inicial de Terminal, nome de fantasia do seu Centro Comercial do Rossio.

As referidas marcas internacionais protegidas n.os 426 665-Air France e 426 666 apresentam cinco bandas, em que as duas das extremidades são iguais e largas, que enquadram três bandas de largura decrescente da esquerda para a direita, tendo a primeira daquelas aposta por baixo a expressão «Air France».

Nas três marcas indicadas são utilizadas as mesmas cores, ou seja, o azul e o vermelho.

Sabidos os factos provados e estando já fixadas as seme- lhanças e dissemeihanças havidas entre as três marcas em causa, temos agora de apurar se há ou não imitação de marcas (pelo menos parcial), o fundamento de direito para a recusa feita pelo Ex.mo Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, e pelas instâncias, de dar protecção através do registo à marca da recorrente com o n.° 211 679-T-(Fig.).

E desde já dizemos que em relação à marca da Compagnie Air France com o n." 426 665, protegida, por não ser meramente figurativa, mas mista, já que tem por baixo do figurativo a expressão «Air France», entendemos que não há por banda da marca recusada qualquer imitação (atendendo ao respectivo conceito) em relação àquela, já

que a da CP é simplesmente figurativa (neste sentido, aliás, já se pronunciou o Ex.mo Procurador-Geral da República junto do Tribunal da Relação de Lisboa, a fl. 43).

Contudo, como vamos ver, já o mesmo não se passa em relação à marca da CP recusada e as marca registada n." 426 666.

Para justificar esta nossa afirmação, olhemos agora ao direito aplicável, não olvidando também as conclusões das alegações da recorrente CP.

Neste campo, diremos:

O artigo 93.°, n." 12.", do Código da Propriedade In- dustrial diz-nos que o registo das marcas será recusado, além do mais, quando todos ou alguns dos seus elementos contenham reprodução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produtos semelhantes, que possa induzir em erro ou confusão, no mercado.

Por seu turno, o artigo 94." do mesmo Código revela- nos o seguinte:

Considera-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, a marca destinada a objectos ou produtos inscri- tos no repertório sob o mesmo número, ou sob nú- meros diferentes, mas de afinidade manifesta, que te- nha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto. Estes são os dois preceitos legais básicos para a decisão do presente recurso.

Igualmente, no campo do direito, mencionamos, desde já, que no caso vertente não opera o disposto no n.° 4.° do artigo 187.° do Código da Propriedade Industrial (concorrência desleal), pois nada está provado neste sentido, acrescendo que esta causa de recusa do registo de uma marca é outra, a acrescer as indicadas no artigo 93." (entre as quais a referida no seu n." 12.", em conexão com o artigo 94.°) daquele diploma.

Aliás, no despacho recusante do Sr. Director do Serviço de Marcas, do Instituto Nacional da Propriedade Indus- trial, o fundamento jurídico que invocou para recusa do registo da marca pretendido pela CP foi o constante do n." 12." do artigo 93.", conexionado com o artigo 94." do Código da Propriedade Industrial.

Salienta-se, ainda, que este Supremo Tribunal, em matéria de registo de marcas, tem entendido que a imitação de uma marca deve ser apreciada menos pelas disseme- lhanças que oferecem os seus pormenores, isoladamente, do que pelas semelhanças que resultam do conjunto dos elementos que constituem a marca, e é pela intuição sintética e não por dissecação analítica que deve proceder- se à comparação das marcas. (Isto se diz a certo passo do acórdão recorrido.)

Após fixadas as semelhanças e dissemelhanças entre a marca recusada n." 211 679-T-(Fig.) e a marca protegida registada sob o n." 426 666-(Fig.), e tendo em conta o direito acima indicado, poder-se-á dizer que, na verdade, aquela primeira marca é imitação (pelo menos parcial) da indicada em segundo lugar?

Respondemos que sim.

Como mero esclarecimento, devemos referir que o facto de a recorrente CP ter dito que se vislumbra um T no corte ao mesmo nível de três das bandas que compunham a figura constitutiva da sua marca n.° 221 679, sendo o

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corte composto por um espaço em branco, e que tal T era a inicial de Terminal, nome de fantasia do seu Centro Comercial do Rossio, não tem qualquer influência na decisão deste recurso, dado que as três bandas cortadas não são seguidas, pois entre a primeira delas e as duas seguintes interpõe-se uma banda não cortada, que sempre interrompia o traço cimeiro do T, pelo que não se pode falar em vislumbrar tal letra (v. fl. 38) e muito menos que esta fosse a inicial de Terminal.

Prosseguindo, agora:

Como vimos a marca recusada (n.° 211 679) e a já registada (n." 426 666) são simplesmente figurativas, nelas se vendo as cores azul e vermelha, e são compostas por barras inclinadas da esquerda para a direita, paralelas e com obliquidade igual, intervaladas por espaços em branco. Estas as coincidências havidas entre as duas marcas. Quais as diferenças?

As seguintes:

Enquanto as barras ou bandas da marca requerida (a da CP) são em número de seis e têm todas a mesma largura, as da marca registada são cinco e têm espaços diferentes, acrescendo que o tamanho daquelas barras ou bandas também não é igual nas duas marcas em causa.

Todavia, estas diferenças constituem pormenores, às quais se sobrepõem as referidas semelhanças, pois a visão, em síntese, que se tem ao olhar para as duas marcas em foco (n.os 211 679-T e 426 666, ambas unicamente figurativas) - e não há lugar, como vimos, para uma visão analítica - é a de ver-se, somente, haver bandas paralelas, dispostas obliquamente e com as mesmas cores, vermelha e azul.

As duas marcas, sem, pois, um exame atento ou con- fronto directo, confundem-se facilmente.

Tais marcas apresentam-se, assim, como susceptíveis de induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor médio.

Eis porque bem recusado foi o registo da marca da recorrente n.° 211 679-T-(Fig.), dado que esta era, e é, uma imitação da marca anteriormente registada com o n.° 426 666.

O disposto nos artigos 93.°, n.° 12.", e 94." do Código da Propriedade Industrial foi respeitado, e não violado. Observando de seguida as conclusões das alegações da recorrente:

Quanto à A), alíneas a) e b) - fenece em face do que expusemos;

Quanto à B) - não há qualquer singularidade da marca da recorrente, em virtude do que dissemos, pois a diferença em ponnenor não cria tal saliência em relação à marca registada, pelo que aquela clau- dica;

Quanto à C) - pelo que explanámos, as duas marcas referidas não são suficientemente distintas, pelo que não há que revogar o acórdão recorrido nem a sentença que a este deu origem, daí que, também, esta conclusão naufrague;

Quanto à D) - não houve qualquer menosprezo do elemento «T», vislumbrado pela recorrente em re- lação à sua marca recusada, em face do que acima referimos, não havendo desprezo do essencial no acórdão posto em crise, nem qualquer violação dos preceitos legais nele indicados, demais que quanto ao n.° 4.° do artigo 187." do Código da Propriedade Industrial nem sequer entrou na liça, pelo que, igualmente, tal conclusão cai pela base.

Concluindo, decide-se não conceder a pretendida revista, consequentemente se confirmando a decisão recorrida.

Custas pela recorrente.

Lisboa, 19 de Dezembro de 1991. - António Máximo da Silva Guimarães - José Maria Sampaio da Silva - Roger Benett da Cunha Lopes.

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